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XII – NAÇÃO

1 NAÇÃO:

Devemos entender por Nação um conjunto homogêneo de pessoas


ligadas entre si por vínculos permanentes de sangue, idioma, religião, cultura e
ideais. Sendo assim, podemos dizer que o Estado é a realidade distinta e
inconfundível.
O professor Sahid Maluf (in Teoria Geral do Estado), sobre o tema,
observa: “... Como se vê, sobre os fatores objetivos concorrentes preponderam,
no conceito de Nação, os fatores subjetivos mais ou menos ponderáveis”. Com
efeito, a humanidade compõe-se de um conjunto de grupos distintos, os quais
se localizam em certas e determinadas regiões do globo terrestre. Fatores éticos,
étnicos, históricos, geográficos, políticos, econômicos etc., determinam esses
agrupamentos e lhe dão continuidade.
A sua permanência demorada em determinada região acaba por imprimir
nos indivíduos particulares somáticas e psíquicas que os distinguem dos outros
grupos humanos.
O clima, a alimentação, a água, o próprio cenário geográfico no seu
conjunto, se encarregam de esculpir a alma e o corpo dos elementos humanos,
imprimindo-lhes esses caracteres psicofísicos comuns que identificam uma raça
e configuram uma personalidade coletiva.
A homogeneidade do grupo cria aquela solidariedade dos semelhantes a
que alude Spencer, estabelece um parentesco espiritual, na expressão de
Hauriou, determinando uma sólida comunhão de idéias, de sentimentos e de
aspirações, a par do apego ao torrão natal.
Comentando o fenômeno sociológico da formação das nacionalidades,
referiu-se Joseph de Maistre que, viajando pelo mundo, não encontrou em parte
alguma o homem, indistinto, incaracterístico, universal, comum a todas as
latitudes; mas em cada região encontrou, o homem nacional, isto é, o chinês, o
japonês, o inglês, o beduíno, o elemento humano típico de uma nacionalidade,
ou seja, o indivíduo característico de uma unidade étnico-social”.

OBSERVAÇÕES:

(1ª) Que a nação é uma realidade sociológica e o Estado, uma realidade jurídica;

(2ª) Que a nação é essencialmente (quanto ao conceito) de ordem subjetiva,


enquanto que o conceito de Estado é necessariamente objetivo;

(3ª) Que a nação é uma entidade de direito natural e histórico;


(4ª) Que a nação é anterior ao Estado (substância humana), podendo
perfeitamente existir sem Estado.

A distinção entre as duas realidades, mais se evidência, quando se tem


em vista que várias nações podem reunir-se em um só Estado, assim como,
também, uma só nação pode dividir-se em vários Estados.

2 CONCEITOS:

O conceito de nação está quase sempre relacionado com a organização


política do povo e assim com sua personalidade jurídica.

Vários são os autores e vários são os conceitos (até divergentes =


povo/população). Por esta razão, selecionamos, para melhor entendimento,
alguns conceitos e destaques de alguns escritos.

Vejamos:

Para o professor Marcello Caetano (in Direito Constitucional) “Embora a


nação tenda a ser um Estado, não há necessariamente coincidência entre nação e
Estado: há nações que ainda não são Estados, e Estados pela sua pequenez, por
exemplo, ou que estão repartidas por vários Estados, e Estados que não
correspondem a nações, como geralmente acontece nos países novos, aonde
acorrem todos os dias imigrantes provenientes dos mais diversos cantos do
globo, cada qual com a sua fácies nacional próprio. É que, em muitos casos, em
vez de ser nação que dá origem ao Estado, é o Estado que, depois de fundado,
vai, pelo convívio dos indivíduos e pela unidade de governo, criando a
comunidade nacional”.

O professor Paulo Bonavides (in Ciência Política) assim escreveu: “Na


terminologia do Direito Constitucional brasileiro, ao invés da palavra
cidadania, que tem uma acepção maior restrita, emprega-se com o mesmo
sentido o vocábulo nacionalidade. A matéria se acha regulada no artigo 12 da
Constituição Federal, que define quem é brasileiro e, por conseguinte, face às
nossas leis, quem constitui nosso povo”.

Ainda do mesmo autor e obra já citada: “Só o direito pode explicar


plenamente o conceito de povo. Se há um traço que o caracteriza, esse traço é,
sobretudo jurídico e onde ele estiver presente, as objeções não prevalecerão.
Com efeito, o povo exprime o conjunto de pessoas vinculadas, de forma
institucional, e estável a um determinado ordenamento jurídico, ou, segundo
Ranelletti”, o conjunto de indivíduos que pertencem ao Estado, isto é, “conjunto
de cidadãos”.

Para Raul Pederneiras (in Direito Internacional Compendiado) “A nação


não figura virtualmente no Direito Internacional, é um organismo natural
formado pelos laços de sangue, de idioma, de tradição, de tendências, que
estabelecem certa unidade de caráter moral, sem precisar do elemento
coercitivo do governo”.

Ainda do mesmo autor e obra já citada: “A definição do Estado como


nação politicamente organizada não é admissível. Uma nação pode
eventualmente formar um Estado, mas o Estado não precisa nunca de uma
nação para se estabelecer. Basta o exemplo da Suíça. A nação nasce do instinto,
constrói-se naturalmente com os elos que formam uma família e famílias, tendo
a origem comum por principal elemento”.

3 FATORES:

Por fim, também é necessário analisar sobre o tema sobre os fatores que
entram na formação nacional: O fator natural, o fator histórico, e o fator
psicológico.

1º Fator (es) NATURAL (IS) = Territórios, unidade étnica e idioma comum.

2º Fator (es) HISTÓRICO (S) = Tradições, costumes, religião e leis.

3º Fator (es) PSICOLÓGICO (S) = Aspirações comuns e consciência nacional.

OBSERVAÇÕES:

(1ª) Povo é o conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado. Se o território


é o elemento material do Estado, o povo é o seu substrato humano. Não pode,
obviamente, haver Estado sem povo. O que determina se alguém faz ou não
parte do povo de um Estado é o direito. Daí por que ser a nacionalidade um
vínculo jurídico. É por ela que o Estado considera alguém como seu membro.
Também se pode conceituar povo como sendo o conjunto de pessoas unidas por
um sentimento de nacionalidade, em virtude do parentesco, da religião, da
língua, da cultura, ou até mesmos dos ideais políticos. O que confere qualidade
de “povo” ao agrupamento humano é o próprio Estado (texto transcrito do
Curso de Teoria do Estado e Ciência Política do professor Celso Seixas Ribeiro
Bastos).

(2ª)O termo população para o professor Marcello Caetano (in Direito


Constitucional) “tem significado econômico, que corresponde ao sentido
vulgar, e que abrange o conjunto de pessoas residentes num território, quer se
trate de nacionais quer de estrangeiros. Ora, o elemento humano do Estado é
constituído unicamente pelos que a ele estão ligados pelo vínculo jurídico que
hoje chamamos nacionalidade. Prossegue. A palavra povo designa a
coletividade humana que, a fim de realizar um ideal próprio de justiça,
segurança e bem-estar, reivindica a instituição de um poder político privativo
que lhe garanta o direito adequado às suas necessidades e aspirações.
Prossegue. O povo é constituído apenas pelos nacionais, resulta que só estes
podem intervir no exercício do poder constituinte (originário) e que só estes em
princípio gozam em geral dos direitos políticos (embora nem todos eles, pois os
menores, os dementes...), isto é, podem ser cidadãos ativos”.

(3ª)A cidadania, para o professor Celso Seixas Ribeiro Bastos (in Curso de
Direito Constitucional), consiste na manifestação das prerrogativas políticas que
um indivíduo tem dentro de um Estado democrático. Em outras palavras, a
cidadania é um estatuto jurídico que contém os direitos e as obrigações da
pessoa em relação ao Estado. Já a palavra “cidadão” é voltada a designar o
indivíduo na posse dos seus direitos políticos. A cidadania, portanto, consiste
na expressão dessa qualidade de cidadão, no direito de fazer valer as
prerrogativas que defluem de um Estado democrático. O exercício da cidadania
é fundamental, pois sem ela não se pode falar em participação política do
indivíduo nos negócios do Estado e mesmo em outras áreas do interesse
público, portanto não há que se falar em democracia.

(4ª) O professor Paulo Bonavides (in Ciência Política), no item três sobre o título
nação, apresenta o conceito voluntarístico de nação: “é o que decorre de todas
as reflexões anteriores. Resulta da intervenção convergente daqueles fatores
morais, culturais e psicológicos, frisados sistematicamente por Mancini e
Ernesto Renan. A presença de tais fatores constitui o tecido de que se forma a
chamada consciência nacional. O pensamento político francês e italiano
exprimiu essa concepção nos melhores tempos, emprestando-lhe do mesmo
passo um teor de idealismo que resultou por igual no conceito de pátria “aquele
conceito mediador”que, segundo D’Entrèves une a nação ao Estado. A nação
aparece nessa concepção como ato de vontade coletiva, inspirado em
sentimentos históricos, que trazem a lembrança tanto das épocas felizes como
das provações nas guerras, em revoluções e calamidades. Suscita também a
comunicação de interesses econômicos e aviva os laços de parentesco espiritual,
formando aquela plataforma de união e solidariedade onde a consciência do
povo toma um traço irrevogável de permanência e destinação comum. Essa
continuidade, cujas bases se estão renovando a cada passo, no acordo tácito da
convivência, foi bem expressa com a imagem de Renan quando disse que a
nação é um “plebiscito de todos os dias”, e continua...”“.

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