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Eni P. Orlandi ANALISE DE ~ DISCURSO * Principios Procedimentos Pontes INDICE Prefiicio. 9 1.0 Discurso A linguagemem Questao.. 15 Um Novo Terreno e Estudos Preliminares 17 Filiagdes Teéricas. 19 Discurso. 20 IL. Sujeito, Histéria Linguagem A Conjuntura Intelectual da Anilise de Discurso 25 Dispositivo de Interpretagio... ‘Um Caso Exemplar. Condigdes de Produgao e Interdiscurs 30 Ideologia e Sujeito.. 5 0 Sujeito e sua Forma Histéric Incompletude: Movimento, Deslocamento ¢ Ruptura... IIL. Dispositivo de Andlise O Lugar da Interpretacio....... ie Ae OD 50 As Bases da Anilise 62 ‘Uma Questo de Mét 65 Textualidade e Discursividade. 68 Autor e Sujeito: O Imaginario e 0 Real 2B Fungiio-Autor. 14 A Anillise: Dispositivo e Procedimentos.. O Dito € 0 Nao-Dit = Tipologias ¢ Relagdes entre Discursos.. Marcas, Propriedades e Caracteristicas: 0 formal, © discursivo e 0 conteudista, BIBLIOGRAFIA. 7 82 85 89 o1 95 PREFACIO [Nao penso que exista realmente uma introdugo para a andlise de discurso. Por outro lado, trata-se, em geral, para as introdugdes, de supor-se uma unidade, ou uma homogeneidade, para um texto cientifico, 0 que também € enganoso. Haver sempre, por mais estabelecida que jé seja a disciplina, muitas maneiras de apresenti-la e sempre a partir de perspectivas que mostram menos a variedade da ciéncia que a presenca da ideologia. Entdo, diante da insisténcia de solicitagdes, tanto de alunos, como de editores, de que eu deveria fazer uma introdugi0 2 andlise de discurso, resolvi escrever outra coisa. Inspirei-me em meus cursos de introdugaio ~ que mesmo que tenham no programa mais ou menos os mesmos itens so a cada ano um, enfatizando diferentes t6picos, explorando diregdes diversas — para escrever o que eu diria que é um percurso que pode compor uma série de pequenas “aulas” de andlise de discurso, sobre pontos variados que julgo interessantes na constituigio desse campo de conhecimentos, ou nesse campo de questdes sobre a linguagem, que é a anilise de discurso. Problematizar as maneiras de ler, levar 0 sujeito falante ou 0 leitor a se colocarem questdes sobre o que produzem e o que ouvem nas diferentes manifestagdes da linguagem. Perceber que ‘no poclemos niio estar sujeitos a linguagem, a seus equivocos, sua opacidade, Saber que ndo ha neutralidade nem mesmo no uso mais aparentemente cotidiano dos signos. A entrada no simbélico € irremedivel e permanente: estamos comprometidos ‘com 0s sentidos ¢ 0 politico. Nao temos como nao interpretar. Isso, que é contribuicdo da andlise de discurso, nos coloca em estado de reflexdo e, sem cairmos na ilusdo de sermos conscientes de tudo, permite-nos a0 menos sermos capazes de ‘uma relagiio menos ingénua com a linguagem. ‘Com as novas tecnologias de linguagem, & memsria carnal das Iinguas “naturais” juntam-se as varias modalidades da meméria metélica, os multi-meios, a informatica, a automagio. Apagam-se os efeitos da hist6ria, da ideologia, mas nem por isso elas esto menos presentes. Saber como os discursos funcionam é colocar-se na encruzilhada de um duplo jogo da meméria: 0 da memsria institucional que estabiliza, cristaliza, ‘€, a0 mesmo tempo, o da meméria constituida pelo esquecimento que € 0 que torna possivel o diferente, a ruptura, 0 outro. Movimento dos sentidos, errancia dos sujeitos, lugares provisérios de conjungao e dispersio, de unidade e de diversidade, de indistingao, de incerteza, de trajetos, de ancoragem ¢ de vestigios: isto € discurso, isto € o ritual da palavra. Mesmo o das que nao se dizem. De um lado, € na movéncia, na provisoriedade, que os sujeitos e os sentidos se estabelecem, de outro, eles se estabilizam, se cristalizam, permanecem. Paralelamente, se, de um lado, ha imprevisibilidade na relagdo do sujeito com o sentido, da Jinguagem com o mundo, toda formagao social, no entanto, tem. formas de controle da interpretacdo, que so historicamente determinadas: hé modos de se interpretar, nfo é todo mundo que pode interpretar de acordo com sua vontade, hi especialistas, hd um corpo social a quem se delegam poderes de interpretar (logo de “atribuir” sentidos), tais como 0 juiz, 0 professor, 0 advogado, 0 padre, etc. Os sentidos estio sempre “administrados”, nao estio soltos, Diante de qualquer fato, de qualquer objeto simbélico somos instados a interpretar, havendo uma injunco a interpretar. Ao falar, interpretamos. Mas, ao mesmo tempo, os sentidos parecem jé estar sempre Id. Cabe entdo perguntarmos como nos relacionamos com a linguagem em nosso cotidiano, enquanto sujeitos falantes que somos (pai, mie, amigo, colega, cidadaos etc), enquanto profissionais, enquanto professores, enquanto autores e leitores. E sobre isso que pretendemos falar nos capitulos que formam este livro. Que, como todo discurso, fica ineompleto, sem inicio 10 absoluto nem ponto final definitivo, Uma proposta de reflexaio. Sobrea linguagem, sobre osujeito, sobre ahistériac a ideologia. Que tampouco tem a pretensdo de fazer de todo mundo especialistas em andlise de discurso, mas que, através do contato com os principios e os procedimentos analiticos que aqui expomos, podertio se situar melhor quando confrontados com a linguagem ¢, por ela, com 0 mundo, com os outros sujeitos, com os sentidos, com a histéria. I I. 0 DISCURSO A Linguagem em Questo Ha muitas maneiras de se estudar a linguagem: concentrando nossa atengio sobre a lingua enquanto sistema de signos ou como sistema de regras formais, e temos entio a Lingifstica; ‘oucomo normas de bem dizer, por exemplo, e temos a Gramética normativa, Além disso, a propria palavra gramética como a palavra lingua podem significar coisas muito diferentes, por isso as graméticas e a maneira de se estudar a lingua sio diferentes em diferentes épocas, em distintas tendéncias e em autores diversos. Pois & justamente pensando que hé muitas maneiras de se significar que os estudiosos comegaram a se interessar pela linguagem de uma maneira particular que é a que deu origem & Anilise de Discurso. A Anilise de Discurso, como seu préprio nome indica, nao trata da lingua, nfo trata da gramatica, embora tadasessas coisas Ihe interessem. Ela trata do discurso. E a palavra discurso, etimologicamente, tem em si a idéia de curso, de percurso, de correr por, de movimento. O discurso é assim palavra em movimento, prética de linguagem: com 0 estudo do discurso observa-se © homem falando. Na anilise de discurso, procura-se compreencer a lingua fazendo sentido, enquanto trabalho simb6lico, parte do trabalho social geral, constitutivo do homem e da sua histéria. Por esse tipo de estudo se pode conhecer melho: aquilo que faz do homem um ser especial com sua capacidade de significar € significarse. A Andlise de Discurso concebe a linguagem ia entre o homem e a realidade natural e social. Essa mediagao, que € 0 discurso, torna possivel tanto a permanéncia e a continuidade quanto o deslocamento e a transformagio do homem e da realidade em que ele vive. O trabalho simbélico do discurso est na base da produgao da existéncia humana. Assim, a primeira coisa a se observar & que a Andlise de Discurso nio trabalha com a lingua enquanto um sistema 15 abstrato, mas com a lingua no mundo, com maneiras de significar, com homens falando, considerando a produgao de sentidos enquanto parte de suas vidas, seja enquanto sujeitos seja enquanto membros de uma determinada forma de sociedade. Levando em conta 0 homem na sua hist6ria, considera os Processos e as condigdes de produciio da linguagem, pela andlis da relagdo estabelecida pela lingua com ca eujeltos a0 A fn € as sitagdes em que se produz o dizer. Desse modo, para encontrar as regularidades da linguagem em sua produgao, 0 analista de discurso relaciona a linguagem a sua exterioridade. Tendo em vista esta finalidade, ele articula de modo particular conhecimentos do campo das Ciencias Sociais e do dominio da Lingiistica. Fundando-se em uma reflexiio sobre a histéria da epistemologia e da filosofia do conhecimento empitico, essa articulagéo objetiva a transformagio da prética das ciéncias sociais e também a dos estudos da linguagem, Em uma proposta em que 0 politico € o simbélico se confrontam, essa nova forma de conhecimento coloca questies para a LingUifstica, interpelando-a pela historicidade que ela apaga, do mesmo modo que coloca questdes para as Cigncias Sociais, interrogando a transparéncia da linguagem sobre a qual elas se assentam. Dessa maneira, os estudos discursivos visam pensar o sentido dimensionado no tempo e no espago das priticas do homem, descentrando a nogio de sujeito e relativizando a autonomia do objeto da Lingiifstica. Em conseqiiéncia, ndo se trabalha, como na Lingiifstica, com a lingua fechada nela mesma mas com o discurso, ae um objeto s6cio-hist6rico em que o lingiistico intervém como pressuposto, Neme trabalha, por outro lado, com a hist6ria ea sociedade como se elas fossem independentes do fato de que elas significam, Nessa confluéncia, a Anilise de Discurso critica a pratica das Ciencias Sociais ¢ a da Lingiifstica, refletindo sobre a maneira como a linguagem est materializada na ideologia e como a ideologia se manifesta na lingua. 16 Partindo da idéia de que a materialidade especifica da ideologia € 0 discurso e a materialidade especifica do discurso éa lingua, trabalha a relagio Iingua-discurso-ideologia. Essa relagao se complementa com o fato de que, como diz M. Pécheux (1975), néo ha discurso sem sujeito e nao hé sujeito sem ideologia: o individuo € interpelado em sujeito pela ideologia ¢ € assim que a lingua faz sentido. Conseqiientemente, o discurso € 0 lugar em que se pode observar essa relagio entre lingua ¢ idcologia, compreendendo-se como a lingua produz sentidos por! para os sujeitos. Um Novo Terreno e Estudos Preliminares Embora a Anilise de Discurso, que toma o discurso como seu objeto préprio, tenha seu inicio nos anos 60 do século XX, Oestudo do que interessa a ela - 0 da lingua funcionando para a produgdo de sentidos e que permite analisar unidades além da frase, ou seja, o texto - jd se apresentara de forma nfo sistematica em diferentes épocas e segundo diferentes perspectivas. ‘Sem pensarmos na Antigiiidade e nos estudos retéricos, temos estudos do texto, em sua materialidade lingiistica, em M.Bréal, por exemplo, no século XIX, com sua semantica hist6rica. Situando-nos no século XX, temos os estudos dos formalistas russos (anos 20/30), que j4 pressentiam no texto uma estrutura, Embora 0 interesse dos formalistas fosse sobretudo literdrio, os seus trabalhos, buscando uma I6gica interna do texto, prenunciavam uma anélise que nao era a anéilise de contetido, maneira tradicional de abordagem. A aniilise de contetido, como sabemos, procura extrair sentidos dos textos, respondendo a questio: o que este texto quer dizer? Diferentemente da andlise de contetido, a Andlise de Discurso considera que a linguagem nao é transparente. Desse modo ela no procura atravessar o texto para encontrar um sentido do outro lado. ‘A questo que ela coloca é: como este texto significa? 1 Ha af um deslocamento, jé prenunciado pelos formalistas Tussos, onde a questo a ser respondida nao é 0 “o qué” mas 0 “como”. Para responder, ela nao trabalha comos textos apenas como ilustragdo ou como documento de alge que ja esta sabido em outro lugar € que o texto exemplifica. Ela produz um ‘conhecimento a partir do proprio texto, porque o vé como tendo uma materialidade simbélica propria e significativa, como tendo ‘uma espessura semantica: ela o concebe em sua discursividade. Ainda em termos de precursores, outra forma de andlise bem sucedida, que ja pesquisava o texto, é a do estruturalista americano Z. Harris (anos 50). Com seu método distribucional, ele consegue livrar a anélise do texto do vigs conteudista mas, para fazé-lo, reduz.o texto a uma frase longa. Isto é, caracteriza sua prética te6rica no interior do que chamamos isomorfismo: estende 0 mesmo método de anilise de unidades menores (morfemas, frases) para unidades maiores (texto) e procede a ‘uma analise lingiistica do texto como o faz na instdncia da frase, perdendo dele aquilo que ele tem de especifico. Como sabemos, © texto ndo é apenas uma frase longa ou uma soma de frases, Ele € uma totalidade com sua qualidade particular, com sua natureza especifica, Considerando 0 texto como unidade fundamental na andlise da linguagem, temos no estruturalismo europeu 0 inglés M.A.K.Halliday. Ele considera 0 texto como uma Passagem de qualquer comprimento que forma um todo unificado, pensando a linguagem em uso. Segundo sua Proposta, que trata 0 texto como unidade semantica, o texto do € constitufdo de sentengas, cle é realizado por sentengas, © que, de certo modo, inverte a perspectiva lingilistica. Suas Contribuigdes so valiosas mas, & diferenca da Anilise de Discurso, ele nao trabalha com a forma material, ou com a ideologia como constitutiva ¢ estaciona na descrigao, Filiagdes Teéricas Nos anos 60, a Anilise de Discurso se constitui no espago de questdes criadas pela relagdo entre trés dominios disciplinares que so ao mesmo tempo uma ruptura com o século XIX: a Lingiifstica, o Marxismo e a Psicanilise. AA Lingtistica consttui-se pela afirmagzio da nfo-transparéncia da linguagem: ela tem seu objeto préprio, a lingua, e esta tem sua ordem propria. Esta afirmagao ¢ fundamental para a Anélise de Discurso, que procura mostrar que a relagio linguagem/ pensamento/mundo nio é univoca, no é uma relagdo direta que se faz termo-a-termo, isto €, ndo se passa diretamente de tum a outro. Cada um tem sua especificidade. Por outro lado, a Anélise de Discurso pressupde 0 legado do materialismo hist6rico, isto é, o de que hé um real da hist6ria de tal forma que 0 homem faz histéria mas esta também nio Ihe é transparente. Dai, conjugando a lingua com a histéria na producdo de sentidos, esses estudos do discurso trabalham 0 que vai-se chamar a forma material (nfo abstrata como a da Lingiistica) que é a forma encamada na histéria para produzir sentidos: esta forma € portanto lingiiistico-histérica, Nos estudos discursivos, ndo se separam forma e contetido e procura-se compreender a lingua no s6 como uma estrutura mas sobretudo como acontecimento. Reunindo estrutura e acontecimento a forma material € vista como 0 acontecimento do significante (lingua) em um sujeito afetado pela historia. Ai entra entio a contribuigdo da Psicandlise, com 0 deslocamento da nogdo de homem para a de sujeito. Este, por sua vez, se constitui na relagao com o simbélico, na hist6ria, Assim, para a Andlise de Discurso: a. a lingua tem sua ordem propria mas s6 é relativamente aut6noma (distinguindo-se da LingUfstica, ela reintroduz.a nogo de sujeito e de situagiio na andlise da linguagem); b. a histéria tem seu real afetado pelo simbélico (os fatos reclamam sentidos); 19 . 0 sujeito de linguagem é descentrado pois é afetado pelo real da lingua e também pelo real da hist6ria, ndo tendo o controle sobre 0 modo como elas 0 afetam, Isso redunda em dizer que o sujeito discursivo funciona pelo inconsciente e pela ideologia As palavras simples do nosso cotidiano ja chegam até nés carregadas de sentidos que nao sabemos como se constitufram € que no entanto significam em nés e para nds. Desse modo, se a Andlise do Discurso é herdeira das trés regides de conhecimento - Psicandlise, Lingiiistica, Marxismo - noo é de modo servil e trabalha uma nogio - a de discurso - que nao se reduz ao objeto da Lingiifstica, nem se deixa absorver pela Teoria Marxista e tampouco corresponde ao que teoriza a Psicandlise. Interroga a Lingiiistica pela historicidade que ela deixa de lado, questiona © Materialismo perguntando pelo simbélico e se demarca da Psicandlise pelo modo como, considerando a historicidade, trabalha a ideologia como materialmente relacionada a0 inconsciente sem ser absorvida por ele. As nogdes de sujeito e de linguagem que esto na base das, Cigneias Humanas ¢ Sociais no século XIX ja nao tém atualidade ap6s a contribuicao da Lingiiistica e da Psicanélise. Por outro Jado, tampouco a nogdo de lingua (como sistema abstrato) pode ser a mesma com a contribuigio do Materialismo, A anilise de discurso, trabalhando na confluéncia desses ‘campos de conhecimento, irrompe em suas fronteiras e produz um novo recorte de disciplinas, constituindo um novo objeto gue vai afetar essa formas de conhecimento em seu conjunto: este novo objeto € 0 discurso. Discurso A nogio de discurso, em sua definigdo, distancia-se do modo como 0 esquema elementar da comunicagio dispGe seus elementos, definindo 0 que € mensagem. Como sabemos esse esquema 20 elementar se constitui de: emissor, receptor, cOdigo, referente € ‘mensagem. Temos entio que: 0 emissor transmite uma mensagem (nformagao) ao receptor, mensagem essa formulada em um e6digo referindo a algum elemento da realidade ~ o referente. Cujo esquema é: Mensagem ig0 Bi= = GR Referente dlise de Discurso, ndo se trata apenas de transmissio, deinformagio, ‘nem hi essa linearidade na disposigao dos elementos dda comunicagio, como se a mensagem resultasse de um processo assim serializado: alguém fala, refere alguma coisa, baseando-se em um cédigo, ¢ 0 receptor capta a mensagem, decodificando-a. ‘Na realidade, a lingua nao é s6 um cédigo entre outros, nic hé essa separagiio entre emissor e receptor, nem tampouco eles atuam numa seqiiéncia em que primeiro um fala e depois 0 outro decodifica etc. Eles estiio realizando ao mesmo tempo o processo de significagdo e nao esto separados de forma estanque. Além disso, a0 invés de mensagem, 0 que propomos é justamente pensar af 0 iscurso. Desse modo, diremos que niio se trata de transmissiio de informacao apenas, pois, no funcionamento da linguagem, que poe ‘em relagio sujeitos e sentidos afetados pela lingua e pela hist6ria, temos um complexo processo de constituigao desses sujeitos € producio de sentidos endo meramente transmissfio de informagao. Sio processos de identificagzio do sujeito, de argumentagio, ig subjetivago, de construgdo da realidade ete, Por outro lado, tampouco assentamos esse esquema na idéia de comunicagio. linguagem serve pra comunicareparanio comunicar. As relapses de Tinguagem so relagGes de sujeitos ede sentidose seus efeitos io miiltiplos e variados, Daf a definigdio de discurso: 0 discurso| ‘feito de sentidos entre locutores. Também nao se deve confundir discurso com “fala” na continuidade da dicotomia (lingua/fala) proposta por F. de a Saussure. O discurso nai corresponde & nog de fala pois nao se trata de opd-lo a lingua como sendo esta um sistema, onde tudo se mantém, com sua natureza social e suas constantes, Sendo 0 discurso, como a fala, apenas uma sua ocorréncia casual, individual, realizagao do sistema, fato hist6rico, a-sistematico, com suas varidveis etc. © discurso tem sua regularidade, tem seu funcionamento que é possivel aprender se no opomos 0 Social € 0 hist6rico, 0 sistema e a realizagao, o subjetivo a0 objetivo, o processo ao produto, A Andlise de Discurso faz um outro recorte teérico relacionando lingua e discurso. Em seu quadro teérico, nemo discurso € visto como uma liberdade em ato, totalmente sem condicionantes lingifsticos ou determinagées hist6ricas, nem a Iingua como totalmente fechada em si mesma, sem falhas ou equivocos. As sistematicidades lingiifsticas — que nessa Perspectiva nio afastam 0 semantico como se fosse externo — So as condi¢des materiais de base sobre as quais se desenvolvem os processos discursivos. A lingua é assim condigao de possibilidade do discurso. No entanto a fronteira entre Itngua e discurso € posta em causa sistematicamente em cada prética discursiva, pois as sistematicidades acima referidas, ndo existem, como diz M. Pécheux (1975), sob a forma de um bloco homogéneo de regras organizado 8 maneira de uma maquina légica. A relagdo € de recobrimento, nao havendo Portanto uma separaciio estivel entre eles, 22 SUJEITO, HISTORIA, LINGUAGEM 23 Hermenéutica. A Anilise do Discurso visa fazer compreender como os objetos simbélicos produzem sentidos, analisando assim os proprios gestos de_interpretagio que cla considera como atos no dominio simbélico, pois eles intervém no real do sentido, A Andlise do Discurso nfo estaciona na interpretagio, trabalha seus limites, seus mecanismos, como parte dos Processos de significagio. Também nao procura um sentido verdadeiro através de uma “chave” de interpretago, Nao hé esta chave, hi método, ha construgio de um dispositivo teérico, Nao hi uma verdade oculta atras do texto. Ha gestos de imerpretago que 0 constituem e que o analista, com seu dispositivo, deve ser capaz de compreender. Dat termos proposto que se distinga a inteligibilidade, a interpretago e a compreensao. A inteligibilidade refere o sentido 8 lingua: “ele disse isso” ¢ inteligivel. Basta se saber portugues Para que esse enunciado seja inteligivel; no entanto nao é interpretavel pois nd se sabe quem é ele e o que ele disse. A interpretagio € 0 sentido pensando-se 0 co-texto (as outtas frases do texto) o contexto imediato. Em uma situagao “x” Maria diz que Antonio vai ao cinema. Jofo pergunta como ela sabe e cla responde: “Ele disse isso”. Interpretando: “ele” é Antonioe “oque” ele disse € que vai ao cinema. No entanto, acompreensdo & muito mais do que isso. Compreender € saber como um objeto simbGlico (enunciado, texto, pintura, misica etc) produz sentidos. E saber como as interpretagdes funcionam. Quando Se interpreta jd se estd preso em um sentido. A compreensio Procura a explicitagto dos processos de significacao presentes RO texto € permite que se possam “escutar” outros sentidos que all estio, compreendendo como eles se constituem. Porexemplo, nas palavras de Maria, pode-se compreender que ela nio quer it, ou que Antonio é quem decide tudo, ou que ele esté indo em outro lugar etc, Em suma, a Andlise de Discurso visa acompreensio de como um objeto simb6lico produz sentidos, como ele esté investide de significdncia para e por sujeitos. Essa compreensio, por sua vez, implica em explicitar como o texto organiza os gestos de 26 IT I-Se interpretagdo que relacionam sujeito e sentido. Produzem- assim novas priticas de leitura. i ante Face ao dispositivo tesrco da interpretago, hi uma parte ue da responsabilidade do analistae uma parte que deriva da sui sustentagao no rigor do méiodo e no aleance te re ‘Analise de Discurso. O que € de sua responsabilidade formulagdo da questo que desencadeia a andlise. a lo Cada material de andlise exige que seu analista, de acordo com a questio que formula, mobilize coneeitos que outro analista no mobilizara, face a suas (outras) questoes, Uma analise no igual a outra porque mobiliza coneitos diferentes isso ia a descri¢io dos materi tem resultados cruciais na ea mesmo analista, als, formolando uma apenio alters; também poderia mobilizar conceitos diversos, fazendo di recortes conceituais. ‘ i ja Por isso distinguimos entre o dispositivo te6rico da interpretacio, tal como otematizamos,¢0 dispositive analiticg “eonstruido pelo analista a cada andlise. Embora 0 aoa te6rico encampe o dispositivo analitico, oinclua, quando nos teferimos ao dispositivo analitico, estamos pensando no Aispositivo te6rico ja “individualizado” pelo analista em uma aniliseespetfica, Da dizermos que 0 dispesitivo tesrco € 0 smo analiticos, nao. O que ‘mas 0s dispositivos anal ; = Bo cispo itivo analitico € a questo posta pelo analista, a naturezs do material que analisa e a finalidade da andlise. Gostarfamos de aereseentar que como a pergunta ie responsabilidade do pesquisador, éessa responsabilidade ‘que organiza sua relagio com 0 cease Taba ae dio de “seu” dispositive analitico, nstrugiio de “seu” disposit | mnobilizagto desses ou aqueles conceitos, esse oa aac i is ele se compro rocedimento, com os quai pmpromele 8 i Yio. Portanto, sua prética de ; solugiio de sua questio. r us feu trabalho com a interpretagiio, tem a forma de sitivo analitico. Por seu lado, como dissemos, o dispositivo teérico, que objetiva mediar o movimento entre a descrigio¢ a interpretacio, Sustenta-se em principios gerais da Anélise de Discurso enquanto uma forma de conhecimento com seus conceitos e método. Ele se mantém inalterado, segundo a teoria do discurso, na construgdo dos diferentes dispositivos analiticos. Feita a andlise, e tendo compreendido 0 processo discursivo, os resultados vao estar disponiveis para que o analista os interprete de acordo com os diferentes instrumentais teéricos dos campos disciplinares nos quais se inscreve e de que partiu. Nesse momento € crucial a maneira como ele construiu seu dispositivo analitico, pois depende muito dele o aleance de suas conclusdes. Desfeita a ilustio da transparéneia da linguagem, e exposto & materialidade do processo de significago ¢ da constituigdo do Sujeito, o analista retorna sobre sua questo inicial. Ela esta assim no inicio, como elemento desencadeador da anilise e da construgao do dispositive analitico correspondente, e, no final, ela retorna, gerindo a maneira como o analista deve referir os resultados da anilise 4 compreensio tedrica do seu dominio disciplinar especifico: 0 da propria Andlise de Discurso, se for © caso, ou da Lingiiistica, mas também o da Politica, da Sociologia, da Antropologia, etc, dependendo da disciplina a que se filia 0 analista. Todos esses elementos — a natureza dos materiais analisados, a questao colocada, as diferentes tcorias dos distintos campos disciplinares — tudo isso constitui 0 dispositivo analitico construfdo pelo analista. Dai deriva, penso eu, a riqueza da Anilise de Discurso ao permitir explorar de muitas maneiras essa relagio trabalhada com o simbélico, sem apagar as diferengas, significando-as teoricamente, no jogo que se estabelece na distingdo entre o dispositive tedrico da interpretag2o e os dispositivos analiticos que Ihe correspondem. ‘Um caso exemplar Epoca de eleigdes no campus universititio. Logo naentrada, vé-se uma grande faixa preta com o seguinte enunciado em 28 eee ma largas letras brancas: “vote sem medo!”, acess Aoi explicagiio sobre o fato de que 0s votos niio seriam iden 4 Logo abaixo, 0 nome de entidades de representagio de funcionérios ¢ professores. A faixa negra tra em si una meméria, Sea obserwamos do node vista da cromatograia pola, negrotem sido a cor do Fyscismo, dos conservadores, da“direta” em sua expresso po ten Sado, as palavras “sem medo”, que pafecem apoiar tro lado, as palavras “sem e oi ttre sua pongo, tazem doiseeitosaelasapensos 1 Langa a suspeita sobre algum dos candidatos (que esti oe ee Fala “medo”, sug io votassem nele... ¢ 2. Falam em sugetindo Fico, unaaneara Outoetio de segue tandsmtanciona ea niie modo mais indireto, 60 de que, se ess sen san procz os acima, signfic ue produ os dois efeitos acima, a 2 fan posyocontalgum doseandaos que as zm so gue amezartosleitoes. Logo las dexam de er neti é um prinef 1. O que resumi ue € um prinefpio ético eleitoral i eiixanegra mobilizaos sentidos do medo. Argumenta contra, no entanto faz presente a questo do medo. Rest dizer que exlicitamente as poses em jog0 nes cia las todas de esquerda, igdes universitdrias eram ¢) i Ganvem. Desse modo, 20 fazermos essa ea rocurando ir além do estamos propondo, estamos procurando ir além do gus se ; na superticie das evidéncias, Ou se} diz, do que fica na super Ou see: ode : ais © que a mobilizagao des undo & de esquerda, mas 0 q so des daquclas palaveas pode mostrar além das aparéncias z difrase dessa_ Parase perceber iso, basta que produzaros uma parse dessa feixa, Seria ent0 uma fuixa brancaeserita em vermelo: “vote com coragem!”. Ness outromado de diz outas alavise es in i las produzindo outros efeitos de sentidos. ‘cores seriam mobilizadas p efeitos desetios A ligada his ante a posigGes revoluci . cor vermelhaestéligada historicamer : s transformadoras, Sobre fundo branco, as palavras “com coragemt fazem apelo a vida, ao futuro, & disposigdio de luta. Contrapondo agora as duas faixas, podemos ver (ler) su ferentes filiagdes de sentidos remetendo-as a memséri 29 cil rials ue mostram que 05 sentidos no estio s6 nas S, fos, mas na relago com a idad ean * exterioridade, nas Gancigdes em que cles sio produzidos e que nio dependem s6 Gielen dos sujeitos. Mesmo que se autodenominassem pekauerda 0s sujeitos que produziram o enunciado da faixa arate Vote sem Medo!o faziam de uma posiglo na hst6ria que ‘inha sentidos da direita e da rey ai pressio da liberdade de votos i a ; votos (queles mobilizando o moralismo embutido nessas acusagdes aurbufam a “alguém” do outro lado, que seriam os Perendomaeres. enquanto eles se colocavam na posigdo de S...). Sem que isto estives j salvadore se em suas intengées, m: teterminados pelo modo como eram afetados pela gan pela ist6ria, seu gesto de interpretago produzia todos esses efeitos. Os dizeres nao so, como diss 20 0, Ssemos, apenas mens decodificadas. Sifts de sends que sto produes rece digtes rare us esto delgums fermapresentes no modo comose liz, deixando vestigios que 0 analista de discurso Si pas qe pede asi pa compen se uzidos, pondo em relago o dizer com sua i ae er dizer ¢ exterioridade, suas Gondor de produ. Eses sents tém a ver como que € dito ali nas Smuts Iga. sim ‘como com o que no é dito, e poderit lito € nao foi. Desse_ S marget ize db texto amin five pare dle. eS TINBENS odie, Condigdes de Produgio e Interdiscurso que so pois as condigées di f digdes de produgio? Elas compre fundamenaimente 08 sujeitos e a situagio. Também cacadns arte da produgio do discurso. A maneira como a meméria “aciona”, faz valer, as condigd é oo igdes de produgio é fundamental, como ! Poses considerar as condigdes de produgio em sentido saul ¢ femos as cicunstinias da enunciagdo: & 0 contexto de rstoce As consideramos em sentido amplo, as condigdes incluem 0 contexto sécio-hist6rico, ideoldgico, 30 No exemplo acima, 0 contexto imediato € 0 campus onde a faixa foi colocada, os sujeitos que a “assinam"” (entidades de funciondrios e docentes), o momento das eleigdes ¢ 0 fato do texto ter sido escrito em uma faixa e niio em outro suporte material qualquer. O contexto amplo é 0 que traz para a considerago dos efeitos de sentidos elementos que derivam da forma de nossa sociedade, com suas Instituigdes, entre elas a Universidade, no modo como elege representantes, como organiza o poder, distribuindo posigdes de mando e obediéncia. E, finalmente, entra a hist6ria, a produgdo de acontecimentos que significam na maneira como cores como o negro esti elacionado ao fascismo, a direita, ¢ 0 vermelho ao comunismo, 2 esquerda, segundo um imaginério que afeta os sujeitos em suas posigdes politicas. ‘A meméria, por sua vez, tem suas caracteristicas, quando pensada em relagdo ao discurso. E, nessa perspectiva, ela € tratada como interdiscurso. Este é definido como aquilo que fala antes, em outro lugar, independentemente. Ou seja, € 0 “que chamamos meméria discursiva: o saber discursive que torna possivel todo dizer e que retorna sob a forma do pre- construfdo, 0 jé-dito que est na base do dizivel, sustentando ‘cada tomada da palavra, O interdiscurso disponibiliza dizeres que afetam 0 modo como o sujeito significa em uma situactio discursiva dada. No caso que analisamos, tudo 0 que jé se disse sobre voto, sobre eleigdes, sobre cleitores e também todos os dizeres politicos que significaram, em diferentes ‘candidatos, os sentidos da politica universitaria estdo, de certo modo, significando ali. Todos esses sentidos ja ditos por alguém, em algum lugar, em outros momentos, mesmo ‘muito distantes, tém um efeito sobre o que aquela faixa diz. ‘Sao sentidos convocados pela formulagio: vote sem medo! ‘Que pressupde, entre outras coisas, na experiéncia politica ue temos, que as pessoas tem medo de votar, no yotam livremente, etc. Experigncias passadas, de ditaduras, de governos autoritérios sao presentificadas por esse enunciado. 'S6 que, como ele proprio vem escrito em uma faixa negra, 31 acaba por trazer, ele também, essa meméria, ao invés de rompé-la colocando-se fora dela, falando com “outras” palavras, H4 uma forte contradico trabalhando esse texto. Apesar da alegada consciéncia politica de esquerda, alguma coisa mais forte - que vem pela hist6ria, que nao pede licenga, que vem pela memsria, pelas filiagdes de sentidos constituidos em outros dizeres, em muitas outras vozes, no jogo da lingua que vai-se historicizando aqui e ali, indiferentemente, mas marcada pela ideologia e pelas posigGes relativas ao poder - traz em sua materialidade os efeitos que atingem esses sujeitos apesar de suas vontades. O dizer nao é propriedade Particular. As palavras no so s6 nossas. Elas significam Pela histéria © pela lingua. O que € dito em outro lugar também significa nas “nossas” palavras. O sujeito diz, pensa Que sabe 0 que diz, mas nao tem acesso ou controle sobre o modo pelo qual os sentidos se constituem nele. Por isso é indtil, do ponto de vista discursivo, perguntar para o sujeito © que ele quis dizer quando disse “x” (ilusio da entrevista in loco). O que ele sabe nao é suficiente para compreendermos Que efeitos de sentidos estio ali presentificados. O fato de que hi um jé-dito que sustenta a possibilidade mesma de todo dizer, é fundamental para se compreender 0 funcionamento do discurso, a sua relagao com os sujeitos ¢ com a ideologia. A observa do interdiscurso nos permite, no exemplo, remeter o dizer da faixa a toda a uma filiagio de dizeres, a uma meméria, e a identificé-lo em sua historicidade, em sua significancia, mostrando seus compromissos politicos e ideolégicos. Disso se deduz que hé uma relagdo entre 0 jé-dito € 0 que se est dizendo que € a que existe entre o interdiscurso ¢ 0 intradiscurso ou, em outras palavras, entre a constituiggo do sentido € sua formulagao, Courtine (1984) explicita essa renga considerando a constituigdio ~o que estamos chamando de interdiscurso — representada como um eixo vertical onde terfamos todos os dizeres jé ditos - ¢ esquecidos — em uma 32 ; ; es eszatiiag de emunciados qu, em sen cojunto, represent F oe 0 dizfvel. E terfamos o eixo horizontal > seria o eixo da formulagio, isto €, aquilo que estamos dizendo naquele momento dado, em condigdes dadas. A formulagdo,entio, est determinada pela relagfo que estabelecemos com 0 interdiscurso: no exemplo dado, 0 “Vote sem Medo” seria composto pela sua formulae também s cidade, o saber discursivo que foi-se constitu aantonae da hstia& foi prodozindo dizeres, a meméria que ao long da hist efi produzindo dizeres, a memria que ou possivel esse dizer para esses sujeitos num determina Mhomento © que representa 0 eixo de sua consituigdo (interdiscurso).. 1 2 A consigd determina a formula, pois 6 podemos dizer Gformular) se nos colocamos na perspectiva do dizivel CGterscurso, meméra). Todo dae, na elias enconte ia is eixOs: Gria (constituic confluéncia dos dois eixos: 0 da meméria (constituigao) a atualidade (formulagio). E € desse jogo que tiram seus sentidos. Parafelamente, também o inerdscuso,ahistoricidade, que eterna agit que, da situago, das eondigbes de produto, scursi Pelo funcionam Jevante para a discursividade. | 2 BP tscursc suprime-e, porassimdizr aexterioiade come insereve i lidade. Isso faz. c inscrevé-la no interior da textual een a relagdo da historicidade (do dic) ist6ri s \d0), 0 interdiscurso storia (tal como se da no mun discus pectin coms diz M Pchoux (1983), as condigdes nas quis ‘um acontecimento hist6rico (elemento hist6rico descontt ioe exterior) é suscetivel de vir a inscrever-se na continuidade interna, no espago potencial de coeréncia proprio a uma ‘meméria. a ei i interdiscurso e © qu reciso no confundir o que € inter e texto. © interdiscuso € todo 0 conjunto de formulagoes tas ej esquecids que determinam oque dizemos. Para inhaspalavrastenham sentido € preciso que els fagam sentido. E isto 6 efeito do interdiscurso: € preciso que 0 que foi 33 dito por um sujeito especifico, em um momento particular S¢ @pague na meméria para que, passando para o “anonimato”, possa fazer sentido em “minhas” palavras. No interdiscurso, diz Courtine (1984), fala uma voz sem nome. Ao falarmos nos filiamos a redes de sentidos mas no aprendemos como fazé-lo, ficando ao sabor da ideologia e do inconsciente. Por que somos afetados por certos sentidos £ ndo outros? Fica por conta da historia e do acaso, do jogo da lingua e do equivoco que constitui nossa relagao com eles, Mas certamente 0 fazemos determinados por nossa relagao com a lingua ¢ a historia, por nossa experiéncia simbdlica e de mundo, através da ideologia, Por isso a Andlise de Discurso se propde construir escutas que permitam levar em Conta esses efeitos ¢ explicitar a relagdo com esse “saber” due nao se aprende, ndo se ensina mas que produz seus efeitos. Essa nova prética de leitura, que é a discursiva, Gonsiste em considerar o que é dito em um discurso e 0 que € dito em outro, o que dito de um modo e o que é dito de Outro, procurando escutar o nao-dito naquilo que é dito, como tuma presenca de uma auséncia necesséria. Isso porque, come vimos pelo exemplo acima, s6 uma parte do dizivel é acessfvel ao sujeito pois mesmo o que ele no diz. (e que Imuitas vezes ele desconhece) significa em suas palavras Se tanto 0 interdiscurso como o intertexto mobilizam 0 que chamamos relagdes de sentido, que explicitaremos i frente, no entanto 0 interdiscurso é da ordem do saber discursivo, meméria afetada pelo esquecimento, ao longo do dizer, enquanto o intertexto restringe-se a relago de um texto com outros textos. Nessa relagdo, aimtertextual, oesquecimento nd estruturante, ‘como 0 € para o interdiscurso, Esquecimentos Segundo M. Pécheux (1975), podemos distinguir duas formas de esquecimento no discurso 34 © esqueimento miro dois que ¢ a ode da enuci: to falaos faznos de uma ancien de ou, 2 longo de oso dizer. oman se fais paaistes qu dea ae 0 ner sempre pot ser outro. Ad falamos “sem meds por exemplo,peamos dizer “com corage” ob Tivvement te Io signifeaem aoso dizrenem sempre temosconsccia dis, Exe "“esuocimento” produz em nos aimpressto da realidad do pensamento, Esa impress, qu €denominaa isso referencia nos fz credit que hums rela deta ene opesament. 2 Neer aecom aqelpalnas alo pum. ueco pois lito com aquela s ci felis Elcsbeere ca eloa0 “tee places Mees amos sre ele, recoremes seta marge de fansis paraffstioas, para melhor especifcar oque dizemos. Eochamado na ‘enunciativo e que alesta que a sintaxe significa: 0 nado de dizer nio ¢ indiferente aos sentidos. ti também O outro esquecimentoé esquecimentonimero um, tam bea chamado esquecimento ideoldgico: ele & da instinci neo onsciene¢ resulta do modo pelo qual somes af bee Jdeologia. Por esse esquecimento temos ails de seraorigem so que dizemos quando, na reaidade,retomamos sentidospre~ : imico: istentes. cimento reflete 0 sonho a ‘existentes. Esse esque: i rae estar n nical absolut da linguagem, sexo primeiro homem, izendo as primeiras palavras que pnlficria a pease tame! Na realidade, embora snte © que queremos. se realize sm nds, os sentidos apenas se representam como erigiani de s A inados pela maneira nos: eles so determinados om nserevemos na lingua e na hist6ra e€ por isto que significam niio pela nossa vontade. . > - a Quando naseemos os iscursos j esto em processo ends ¢ eniramos nesse processo. Eles nfo se orginam em n6s, ira c dio haja singularidade na mane no significa que nao r ee lingua e a hist6ria nos afetam. Mas no somos 0 en las se realizam em nés em sua materialidade. Essa 35

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