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“LIVRO VIII“ Capitulo I Ninguém constestaré que a educacao dos jovens requer uma aten¢ao especial do legislador, pois a negligéncia das cidades a este respeito é nociva aos respectivos governos; a educacio deve ser adequada a cada. forma de governo, porquanto ‘0 cardter especifico de cada constituicio a Fesguarda e mesmo Ihe da bases firmes desde o principio — por exemplo, © carater democratico ¢ria a democracia e 0 carater oligarquico a oligarquia, € 0 melhor carter sempre origina uma constitui¢ao melhor, ‘Ademais, para o exercicio de todas as faculdades e artes sao necessarias certas formas de educaco preliminar e a criacao de habitos em suas varias manifestacées; logo, é evidente que deve acontecer 0 mesmo com a pratica das qualidades morais, Mas como _hé um fim Gnico para a _cidade toda, € dbvio que a educagio deve ser necessariamente uma 36 € a ment pais todos todos, € que Sua supervisao deve ser um encargo publi ira de hoje (atualmente, cada homem supervisiona a “seus proprios filhos, ensinando-lhes em cardter privado aie prised qualquer_ramo especial de conhecimento que lhe pareca convenience). - devemos pensar tampouco que qualquer cidadao pertence a si mesmo, mas que todos pertencem & cidade, pois cada um é parte da cidade, e € natural que a superintendénciade, cada parte deve ser exercida em harmonia com ‘0 todo. JQuanto a este aspecto, deve-se louvar os facedeménios, pow eles dio 2 méxima atencio 4 educacao das.criangas (fazem dela um encargo publico. F claro, portanto, que tem de haver uma “Jegistacio pertinente & educacao e que ela deve ser um encargo piblico; nao se deve, porém, ignorar o que é a educacio e como se deve educar, Na atualidade ha divergéncia de opinido quanto aos préprios fatos, pois nem todos estio de acordo a réspeito das matérias que os jovens devem aprendet,‘seja com vistas as qualidades morais, seja com vistas @ vida perfeita, endo € clar is doi do. cardter. 1337.b A ptatica presente gera duividas embaracosas, € nao é claro, tampouco, se devem ser ensinadas as matérias iiteis & vida ou os conhecimentos mais elevados; na verdade, todos estes pontos de vista tm seus adeptos, e nao se chegou a um acordo quanto ao que é titil 4s qualidades morais, pois para comegar nem todos os homens dao preferéncia & mesma qualidade moral, € portanto tém boas raz6es para sustentar opinides diferentes a propésito da educagao para as qualidades morais. Capitulo Il Nao é dificil de ver, entao, que devem ser ensinados aos jovens os conhecimentos tteis realmente indispenséveis, mas é dbvio que nao se Ihes deve ensinar todos eles, distinguindo-se as atividades Jiberais das_ servis; deve-se transmitir aos jovens, entao, apenas os conhecimentos titeis “que no tornam vulgares as pessoas qu’.os adquirem. Uma atividade, tanto quanto uma ciéncia ou arte, deve ser considerada vulgar se seu conheci mento torna 0 corpo, aalma ou o intelecto de um homem livre intiteis para 2 posse ea pratica das qualidades miorais. Eis por que chamamos vulgares todas as artes que pioram as condicoes naturais do corpo, ¢ as atividades pelas quais se recebem salarios; elas absorvem ¢ degradam o espirito. Ha também algumas ciéncias que podem ser tidas como liberais, mas somente até.o ponto em que élas nao levam & vulgaridade, pois uma dedicagao .excessiva. e uma -obstinacao que pode induzir alguém a consideré-las um fim em si mesmas. resultario nos inconvenientes mencionados pouco antes. Faz também muita diferenca a natureza do objetivo visado em certa atividade ou em certo estudo; se alguém segue uma atividade ou um estudo para seu beneficio ou para beneficio de seus amigos, ou visando as qualidade morais, eles nada tém de vulgar, mas aquele que se dedica a eles por causa de terceiros parece muitas vezes estar Jagindo mercenaria ou servilmente. Os ramos de estudo atualmente em yoga tém entéo esta dupla tendéncia, como ja foi dito antés". Pode-se dizer que ha quatro ramos de educacio atualmente: a gramética, a gindstica, a miisica, e 0 quarto segundo alguns € 0 desenho; a gramatica e 0 desenho sao considerados dteis na vida’e com muitas aplicacdes, € se pensa que a gindstica contribui para a bravura; quanto 2 misica, todavia, levantam-se algumas divides. Com efeito, atualmente a maioria das pessoas a cultiva por prazer, mas aqueles que a incluiram na educagio agiram assim porque, como jé foi dito muitas vezes, a propria natureza atua no seatido de sermos nao somente capazes de ocupar-nos eficientemente de negécios, mas também de nos dedicarmibs nobremente 1338 a a0 lazer, pois — voltando mais uma vez ao assunto"” — este 6 0 principio de todas as coisas. De fato, se ambos"* sio necessarios, o lazer € mais desejavel que os negécios, ¢ é 0. objetivo destes; temos’ portanto de” perguntar: como devemos fruif nosso lazer? Certamente nao sera jogando, pois se assim fosse os jogos seriam 0 objetivo de nossa vida: como isto é impossivel ¢ as diversGes séo mais iteis no tempo em que nos dedicamos 20s negocios (quando se esté fatigado tem-se-necessidade de relaxar, ¢ o relaxamento € 0 objetivo dos jogos, 20 passo que os negécios séo acompanhados de fadiga e concentracad), ao introduzir as diversées na cidade _devemos discernir os momentos favoraveis para as usarmos, pois as empregamos, como se fossem remédios; a sensacéo que elas criam na alma € relaxante para a mesma, ¢ € relaxante por ser agradavel. ‘Mas o lazer parece conter em si mesmo 0 prazer, a felicidade €a bem- aventuranca de viver, € isto nao esté ao alcance dos homens ocupados, € sim dos que usufruem o lazer; o homem de negocios se ocupa ha busca de algum objetivo ainda nao alcancado, as a felicidade € um objetivo alcancado, que todos o8 homens. consideram acompanhado nao pelo sofrimento, ¢ sim pelo prazer; nem todos os homens, porém, definem este prazer da mesma forma; cada um o concebe segundo sua propria natureza € seu préprio carater, e 0 prazer que o melhor dos homens considera ligado a felicidade é 0 melhor prazer e provém das mais nobres fontes. E claro, portanto, que ha ramos do conhecimento e da educaczo que devemos cultivar apenas com vistas ao lazer dedicado 2 atividade intelectual, e tais ramos devem ser apreciados por si mesmos, enquanto as formas de conhecimento relacionadas com os negocios séo cul-ivadas como necessirias e como meios para atingir outros fins. Por esta razio os antigos incluiram a miisica na educacéo, nao ‘por ser necessaria (nada ha de necessirio nela), nem util no sentido em que escrever € ler séo iteis aos “negécios € & economia doméstica e A aquisicao de conhecimentos ¢ as varias atividades da vida em uma cidade, ou como o desenho também parece util no sentido de tornar-nos melhores juizes das obras dos artistas, nem como nos dedicamos & gindstica, por causa da satide e da forca (nao vemos qualquer destas duas resultarem da musica); resta, portarito, que ela seja util como uma diversao-no tempo de lazer; parece que sua introducéo, na educacio se deve a esta circunstancia, pois ela é classificada entre as. diversdes consideradas préprias para os homens livres. Por esta razio Homero disse ém seus poemas: z “Mas ele, que éntre todos é chamado a festa alegre" **. Depois destas palavras ele fala'de outras pessoas, dizendo que chama & festa “um bardo cuja voz encantaré todos os héspedes” Em outros. versos Odisseus diz que esta é a melhor diversio quando, no momento em que os homens se entregam & alegria, “os comensais, sentados no saléo, todos em ordem, ouvem o menestrel cantar” *' Capitulo II E evidente agora a existéncia de um ramo da educaco que deve ser transmitido as criangas nao por sua utilidade ou necessidade, mas por ser liberal e dignificance; mais tarde investigaremos se este ramo é um s6, ou se ha varios do mesmo género, ¢ quais sao eles, e como devem ser ensinados; por enquanto j4 avancamos em nosso caminho o suficiente para dizer que temos alguns testemunhos neste, sentido, mesmo entre os antigos, deduzidos do sistema educacional por eles instituido — a musica € a evidéncia ‘para este ponto. E igualmente claro que alguns conhecimentos titeis também devem ser estudados pelos jovens, nao somente’por seus préstimos — como o estudo da gramética, mas também porque eles podem levar a muitos outros ramos do conhecimento} os jovens devem estudar ainda o'desenho, nao com o objetivo de evitar enganos em seus negocios particulares Ou para no serem ludibriados em suas compras e yendas de méveis, mas porque til estudo leva o homem a prestar maior atencao & beleza corporal (buscar a utilidade em qualquer circunstancia-é incompativel com os homens magninimos ¢ livres).(Como € dbvio que a ‘educacao pelo habito deve vir antes da educacao pela razao, € 0 exercicio do corpo antes do exercicio do espirito, evidentemente, de conformidade com estas consideragdes, as criangas devem ser-entregues aos cuidados do instrutor de -gindstica e do treinador de. criangas, a um deles para apefeigoar os habitos do.corpo e ao outrd para os exercicios. ! ‘Atualmente algumas cidades que gozam da fama de dedicar a méxima atencao as criancas dao-Ihes uma compleicao atlética em detrimento-das proporcées e-do desenvolvimento do corpo; os lacedeménios, embora nao tenham incidido neste erro, tornam as criancas brutais por causa de. exercicios penosos, como: se estes Ihes infundissem mais coragem. Mas como j4 foi dito varias vezes, nao se deve dirigir a educagio num sentido inico, ou mais num sentido que nos outros; na verdade, mesmo que os lacedeménios estejam certos em seu objetivo eles nao 0 atingem, pois nos outros animais ¢ no caso de povos estrangeiros vemos que a. coragem m0 1338 b se encontra nos mais brutais ¢ sim nos mais calmos ¢ nos de temperamento semelhante ao dos ledes"®. Ha muitos povos afeitos ao assassinio & antropofagia — por exemplo 08 acaios € os eniocos do Pontos “*, é outros povos do interior da mesma regio, alguns to cruéis quanto os mencionados € outros ainda piores, que embora pratique a pirataria nfo tém coragem. Sabemos também que os, proprios lacedemdnios, apesar de-durante todo o tempo em que perseve- raram em seus penosos exercicios haverem sido superiores a todos os outros povos, agora séo deixados para trés canto nas,competicdes a:léticas quanto nos embates-da guerra; cles nfo deviam sua superioridade & migneira de exercitar os jovens, e sim ao fato de atacarem, devidemente preparados, adversarios que nfo se preparavam Logo, a primazia esté com o sentimento de nobreza, e no com a brutalidace animalesca, pois nao é um lobo ou qualquer outra fera que enfrenta perigos nobilitantes, e sim um homem de cardter nobre. Aqueles que impdem as criancas a pratica exagerada de exercicios penosos € as deixam ignorantes em relacao a outras partes indispensaveis da educacao, na realidade fazem das criancas meros trabalhadores bracais, porque pretendem torné-los titéis 4 sociedade'em uma tinica tarefa, e mesmo para esta as preparam pior qué os outros, como demonstram nossos argumen- tos. Nao devemos julgar os lacedeménios por seus feitos anteriores, mas pelos fatos de hoje, pois agora eles tém rivais em seu sistema de educacio, mas antes nao os tinham. Capitulo IV Que se deve usar a gindstica, e como se deve usi-la, s4o pontos pacificos; até a puberdade convém prescrever as criancas exercicios leves, proibindo-lhes dietas e exercicios forcados, para que nada lhes prejudique o-crescimento; ha mesmo uma prova nada desprezivel de que o treinamen- to rigoroso pode levar a tal resultado: na lista de vencedores dos jogos olimpicos encontram-se apenas duas ou trés pessoas vitoriosas como homens e como meninos, isto porque o treinamento desde a infancia e os exercicios exagerados lhes tiram as forcas. - Quando, porém, apés a puberdade, os jovens tiverem dedicado trés anos a outros estudos, entio conviré consagrar 0 perfodo seguinte a exercicios pesados e uma dieta rigida; nao se deve fatigar ao mesmo tempo © corpo e a mente, pois. as duas espécies de fadiga-produzem efeitos antagénicos: a fadiga do corpo prejudica 0 espirito, e a deste prejudica 0 corpo. Levantamos anteriormente, ao longo de nossa exposi¢ao, algumas diividas a propésito da miisica; sera. bom rétomé-las agora e leva-las adiante, para fornecer subsidios.e quem quiser tratar deste assunto. Nao é facil determinar qual é a influéncia da misica, nem a razdo pela qual devemos dedicar-nos a ela — se para passatempo ou relaxamento, como alguém se entrega a0 sono ou & bebida (ambos nada tém de sérios em si mesmos, ‘mas sao agradaveis e fazem cessar as preocupacées, como diz Euripides"; por esta razZo 2 miisica é classificada juntamente com eles, € todos — sono, bebida e musica —.sio usados de maneira idéntica, e juntamente com eles se pde a danca) Ou devemos indagar se a misica leva de algum modo &s qualidades morais, sendo ela capaz de dar certas qualidades ao cardter (da mesma forma que a gindstica pode dar certas qualidades ao corpo), € acostumando as pessoas a deleitar-se de maneira conveniente? Ou ainda se ela contribui de algum modo para 0, entretenimento intelectual e para o cultivo do espirito, ja que isto deve constituir ‘uma terceira alternativa entre as 1339 a 1339 b mencionadas? Nao € dificil de ver-que nao se deve fazer do entretenimen- to © objetivo da educacio dos jovens, pois nio se aprende com entretenimentos — ao contrario, o aprendizado requer esforco. Ademais, nao é conveniente proporcionar o entretenimento intelectual as criancas até certa idade, pois um fim em si nao convém ao que é imperfeito. Talvez se possa imaginar que o entretenimento sério dos meninos se destina apenas a diverti-los quando eles forem homens e chegarem & maturidade, mas se for assim, por que eles mesmos necessitarao deste aprendizado, em vez de parciciparem dos prazeres e do estudo da muisica, & maneira dos reis dos persas ¢ dos medos, através da execucao por outros? De fato, aqueles que fazem da misica uma profissio € uma arte devem necessariamente execura-la melhor que os que se dedicam a ela somente pelo tempo suficiente para apreadé-la. Se os meninos tém de fazer por si meésmos os estudos de miisica, ento eles deveriam aprender também a a-te de Preparar 0s pratos ‘requintados de sua mesa, € isto seria um absurdo. A mesma dificuldade se apresenta quando se quer saber sé o aprendizado da musica pode melhorar os costumes dos meninos: por que deveriam eles mesmos aprender a executar a musica, em ver de aprender a aprecid-la devidamente € a poder julgi-la quando executada por outros, como fazem os espartanos? Estes, embora nao aprendam a executé-la, podem julgar corretamente a boa misica e a ma, segundo dizem. O mesmo argumento se aplica no caso de @ musica destinar-se a servir de diverso ¢ entretenimento refinados para adultos: por que os préprios ouvintes teriam de aprender a executar a mtisica, em vez de aprecié-la quando executada por outros? Devemos levar em conta, a propésito, a concepgao que temos a respeito cos deuses: os poetas nfo nos apresentam o préprio Zeus cantando ou tocando a citara. Podemos até chamar os misicos profissio- nais de vulgares, e dizer que a execucéo musical no € propria para o homem livre, a no ser que ele esteja embriagado ou queira divertir-se. Talvez tenhamos de examinar este assunto mais tarde. Capitulo V Nossa primeira indagacio € se a musica nao deve ser incluida na educacao, ou se deve, e em qual dos trés tépicds que ja discutimos sua eficdcia é maior: na educagdo, na diversio ou no entretenimento. E necessério inclui-la nos trés, e ela parece participar da natureza de todos eles. A diversao visa ao relaxamento, € o relaxamento deve ser forcosa~ mente agradavel, pois ele é um remédio para as penas resultanres do esforco; ha consenso quanto ao fato de o:entretenimento dever ser nao somente elevado, mas também agradavel, pois estas sao duas condicgdes para a felicidade. Ora: todos nés afirmamos que a musica é uma das coisas mais agtadaveis, seja ela apenas instrumental, seja. acompanhada.de canto (pelo menos Musaios“* diz que cantar é 0 maior prazer dos mortais, € € com boas razdes qiie se inclui a musica nas festas e entretenimentos, por seu poder de alegrar os homéns),.de tal forma que também por este motivo se deve supor que a misica tem de ser incluida na educacao dos jovens. Todos os prazeres indcuos, com efeito, sao convenientes nao somente como um fim, mas também como um relaxamento; acontece, porém, que os homens raramente: atingem o fim que se propdem, enquanto eles fregiientemente relaxam e tém necessidade de diversées,, nao tanto com vistas a um objetivo quanto por causa do prazer-que elas proporcionam; seria’ titil, portanto, deixé-los relaxar em certas ocasioes com os prazeres resultantes da musica. Mas os homens fazem da recreacao um fim, pois o fim contém em si algum prazer, embora nao um prazer qualquer, encontradico a cada instante; quando alguém procura este Ultimo prazer pode confundi-lo com o outro, porque o fim dos atos isolados tem alguma semelhanca com o fim geral que se contempla. O fim é desejavel no por causa de algo que resultara dele, € também os prazeres da espécie sob exame nfo séo desejéveis por causa de algum resultado ulterior, mas por causa de coisas j4 acontecidas — por exemplo, o esforco as penas. Talvez se possa entao presumir que esta é a razio pela qual os homens procuram encontrar a felicidade através daqueles prazeres. Quanto: questéo de nos dedicarmos & misica, no fazemos isto 1340 a somente por ela mesma; fazemos porque ela € util 20 relaxamento, segundo parece. De qualquer modo é necessirio indagar se nao se trata simplesmente de um acidente, e se a natureza desta arte nao é algo mais importante do que a aparéncia resultante do uso que se faz dela; independentemente do prazer comunicativo que eld nos faz sentir, perceptivel a todos (hé na misica um prazer inerente & sua propria natureza, em conseqiiéncia do qual sua audicao é agradvel as pessoas de todas as idades e de qualquer cardter), deve-se considerar a influéncia que ela pode exercer ‘sobreo carater a alma. Esta influéncia seria incontesta- vel se existisse realmente na miisica o poder de afetar de certo modo nosso carater. E claro que somos afétados de certo modo por muitos géneros de misica, éntre os quais as melodias de Olimpos"* nao sao as que nos afetam menos; estas, no consenso geral, nos enchem realmente a alma de entusiasmo, € 0 entusiasmo € uma emocao da parte ética da alma. Ademais, quando estamos ouvindo imitacoes"” somos todos levados a um estado emocional equivalente 4 realidade, mesmo sem considerar os ritmos e as melodias. Como a mtsica é realmente uma das coisas agradaveis, e as qualidades morais pressupdem sentimentos de deleite, de amor e de ddio apropriados, é obviamente necessario que aprendamos € nos habituemos a julgar apropriadamente e a deleitar-nos com as boas disposigdes de cardter, € com as acdes nobilitantes. Ora: os ritmes e as melodias contém representacdes de célera e de docura, ¢ também de coragem ¢ de moderacéo e de todos os sentimentos antagénicos e de qualidades morais, correspondentes com’ mais aproximacao a verdadeira natureza destas qualidades (a evidéncia disto esté nos prdprios fatos, pois quando ouvimos tais representagdes nossa alma sofre mudancas); a tendéncia para sofrer € deleitar-se com representacées ‘da realidade é estreitimente relacionada com o sentimento diante dos préprios fatos (por exemplo, se um homem se deleita na contemplacao da estafua de aiguém por nada mais que sua beleza, a visao real-da pessoa cuja estdtua ele contemplou deve ser-lhe igualmente agradavel); acontece que os objetos atuantes sobre outros sentidos nao transmitem qualquer sensacio seme- Ihante as cualidades do carater, como por exemplo os que afetam 0 tato.e © paladar (embora os objetos que afetam a viséo tenliam uma ligeira acdo deste tipo, pois ha formas que representam um caréter, mas somente em Pequena escala, e nem todos os homens so capazes de provar esta espécie de sensacio); as obias de arte visuais no sao representacdes de emocdes do carater, pois as formas e cores so meras indicacdes de tais emocoes, € estas indicagdes so apenas sensagdes corpéreas simultineas com: as emog6es; sua relacao com a moral é diminuta, mas uma vez que ha alguma 08 jovens devem ser instruidos para olhar no as obras de Pauson, mas as de Polignotos, ou de qualquer outro pinror ou escultor que reproduza seatimentos de ordem moral. A misica, 20 contrario, contém realmente em si mesma imitagdes de afecgdes do carater; isto € evidente, pois ha diferencas na propria natureza

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