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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ VARA

CRIMINAL DA COMARCA DE POUSO ALEGRE – MINAS GERAIS

PROCESSO Nº...

DANIELA, já qualificada nos autos da ação penal em


epígrafe, que lhe move a Justiça Pública, vem, respeitosamente,
à presença de Vossa Excelência, apresentar MEMORIAIS ESCRITOS,
com fulcro no artigo 411, § 4º, combinado com o artigo 403, §
3º, ambos do Código de Processo Penal, nos termos abaixo
delineados.

I – DOS FATOS

Segundo consta, no dia 21/10/2017, na cidade de Pouso


Alegre – MG, a acusada Daniela conduzia seu veículo Ford Ranger
em via urbana de mão dupla rumo a uma cerimônia de casamento
civil, na qual seria madrinha.

Ocorre que, em dado momento, apesar de seguir na


sobredita via com respeito aos limites de velocidade, resolveu
ultrapassar o veículo que trafegava à sua frente em baixa
velocidade, inclusive muito abaixo do permitido para o local dos
fatos.
Nesse instante, por lapso da motorista, Daniela se
esqueceu de ligar a seta indicativa de que faria a manobra de
ultrapassagem e, ao efetuá-la, foi surpreendida, logo de frente
com seu carro, pela motocicleta da vítima Raoni, que a conduzia
em alta velocidade, desprovido de acessório obrigatório de
segurança, no caso, o capacete. Não obstante, em seguida houve o
choque frontal entre o carro e a motocicleta.

No mesmo contexto, Daniela prontamente deixou seu


veículo e seguiu até o corpo lesionado da vítima para prestar os
cuidados necessários para seu socorro, apesar de que Raoni foi a
óbito já no interior da viatura do resgate e a caminho do
hospital.

Instaurado inquérito policial e colhidas as provas


testemunhas e periciais, o Ministério Público teve vista dos
autos e Daniela foi denunciada e está sendo processada como
incursa no artigo 121 combinado com o artigo 18, inciso I, parte
final, ambos do Código Penal. Além disso, finda a instrução
probatória, o órgão acusatório pediu, em memoriais escritos, que
ocorra a pronúncia, para que Daniela seja submetida ao
julgamento perante o Tribunal do Júri.

II – DO DIREITO

A. DO DOLO

Como já descrito, a acusada foi denunciada como


incursa no delito de homicídio doloso, praticado com dolo
eventual, na direção de veículo automotor. Todavia, iniciada a
etapa de instrução, cabia tão somente à acusação trazer à tona
provas efetivas que reafirmasse o constante da denúncia.

Porém, como bem se pôde analisar durante todo o curso


da colheita de provas em juízo, a conclusão lógica, mais
acertada e plausível para o caso em apreço é o da IMPRONÚNCIA da
acusada, senão vejamos.

Cumpre-nos frisar que o Código Penal é conciso ao


trazer em seu artigo 18 que se considera doloso o crime quando o
agente quis o resultado ou assumiu o risco de produzi-lo. Trata-
se de uma maneira encontrada pelo legislador de tipificar as
formas de dolo direto e eventual.

Partindo-se do citado preceito, é impossível dizer


que a acusada Daniela matou a vítima Raoni dolosamente, pois,
além de não restar provada tal intenção em qualquer momento do
processo, a conduta dela é plenamente desprovida do chamado
"animus necandi" ou "vontade de matar".

Acerca do citado elemento subjetivo, pondera Júlio


Fabbrini Mirabete que

O dolo de homicídio é a vontade de eliminar uma vida


humana (animus necandi ou occidendi), não se exigindo um
fim especial, que poderá constituir, conforme o caso,
uma circunstância qualificadora ou causa de diminuição
de pena. (MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal
Interpretado. 1. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 644).

A doutrina penal brasileira, em grande maioria,


entende que para que se considere doloso o crime, é necessário
que o agente tenha plena consciência do comportamento positivo
ou negativo que está realizando e do resultado típico que
provocará ou poderá provocar.

É também condição imprescindível que a mente do


agente perceba que de sua conduta há grandes chances, senão
certas, de ocasionar o resultado, visto que há ligação de causa
e efeito entre eles. Por fim, é preciso que haja vontade clara e
desimpedida de concretizar o comportamento delitivo e causar o
resultado.
Portanto, é evidente que inexistiu dolo na conduta da
acusada, ainda que minimamente considerado. Nota-se que todo o
desencadeamento fático se deu unicamente por conta de um
descuido de Daniela, que, em momento de lapso, olvidou-se de
acionar a seta indicativa e acabou colidindo frontalmente com a
vítima.

Os indícios acima transcritos torna implausível a


versão ministerial de que a acusada teria agido com dolo
eventual e assumiu o risco de ocasionar o evento danoso que
resultou na morte da vítima.

É impossível creditar à autora o presente delito,


ainda mais a título de dolo eventual, visto que ela não possuía
plena consciência de que sua simples conduta de ultrapassar um
veículo sem indicar a manobra causaria o óbito de agente que
conduzia sua motocicleta em pleno desrespeito às normas de
trânsito em vigência.

Inclusive, cumpre-se ressaltar que o Egrégio Superior


Tribunal de Justiça possui em seu repertório de julgados
diversas decisões versando sobre a impossibilidade de remeter ao
Tribunal do Júri casos como o que está em lume.

Nesse sentido, pede-se vênia para colacionar o


seguinte precedente da citada Corte:

PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL.


ACIDENTE DE TRÂNSITO. HOMICÍDIO. DOLO EVENTUAL OU CULPA
CONSCIENTE. APRECIAÇÃO PELO TRIBUNAL DO JURI. IN DUBIO
PRO SOCIETA. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO.

1. De acordo com a jurisprudência desta Corte Superior


"havendo elementos nos autos que, a princípio, podem
configurar o dolo eventual, como in casu (presença de
embriaguez ao volante, direção em zigue-zague e na
contramão, em rodovia federal de intenso movimento), o
julgamento acerca da sua ocorrência ou da culpa
consciente pertence à Corte Popular, juiz natural da
causa, de acordo com a narrativa dos fatos constantes da
denúncia e com o auxílio do conjunto fático-probatório
produzido no âmbito do devido processo legal (AgRG no
AREsp 965.572, Rel. Min. Jorge Mussi, 5ª Turma, DJe
19/5/2017).

A partir do acórdão acima descrito, nota-se que se


trata de situação inversa à que ocorreu no presente caso, já que
Daniela não se encontrava embriagada ou em momento em que
realizava peripécias pela via pública.

A partir de detida análise do fluente caso, é


inescusável que a conduta perpetrada é desprovida de qualquer
dolo, independentemente de seu caráter, e resta incabível a
atribuição do crime à acusada, requerendo a defesa, para tanto,
seja Daniela IMPRONUNCIADA.

B. DA INEXIGIBILIDADE DE CONDUTA DIVERSA

Como é cediço, a conduta perpetrada por Daniela no


que diz respeito ao ato de ultrapassagem sem ligar a respectiva
seta indicativa é penalmente atípica, pois não se subsume a
qualquer dos tipos penais previstos no Código Penal ou na
legislação esparsa.

Na verdade, o ato de não indicar antecipadamente a


realização de manobra constitui tão somente infração de trânsito
grave, punível com multa simples. É o que se extrai do teor do
artigo 196 da Lei nº 9.503/97, o Código de Trânsito Brasileiro:

Art. 196. Deixar de indicar com antecedência, mediante


gesto regulamentar de braço ou luz indicadora de direção
do veículo, o início da marcha, a realização da manobra
de parar o veículo, a mudança de direção ou de faixa de
circulação:
Infração – grave;

Penalidade – multa.

Ou seja, resta evidente que a conduta por ela


perpetrada não pode ser considerada indicativa de dolo eventual
e muito menos passível de punição criminal, sem prejuízo do que
dispõe a esfera administrativa.

Portanto, ante a atipicidade penal do fato, é preciso


que Vossa Excelência, se assim entender, reconheça, desde logo,
causa que enseje a absolvição sumária de Daniela, nos termos do
artigo 415, inciso III, do Código de Processo Penal.

Na mesma corrente, a doutrina criminal contemporânea


compreende crime como um fato típico, ilícito e culpável,
conforme uma análise tripartida. Em relação aos elementos
constituintes do conceito, tem-se que a culpabilidade nada mais
é senão a reprovabilidade do ato criminoso e a censura social
que ele dá ensejo. Não menos, a culpabilidade é formada pela
imputabilidade, pela potencial consciência da ilicitude e pela
exigibilidade de conduta diversa e, nesta senda, todos os
elementos possuem causas legais de exclusão.

É necessário que, ao menos por ora, se dê destaque à


inexigibilidade de conduta diversa, que ocorre quando, em
determinadas circunstâncias do caso concreto, não é exigível que
o agente atue de acordo com o que é firmado pelo direito e,
muito embora o Código Penal traga somente a coação moral
irresistível e a obediência hierárquica como causas excludentes,
a doutrina e jurisprudência atuais permitem outras hipóteses.

Portanto, é de se concluir que Daniela está amparada


pelo instituto da inexigibilidade de conduta diversa, pois
naquela situação – lembrando que Raoni conduzia sua motocicleta
em alta velocidade e desprovido dos equipamentos obrigatórios de
segurança – a autora não pôde evitar danos ou causar menores
danos frente à desídia da vítima.

Nesse sentido, importante a lição de Fernando Almeida


Pedroso, que entende o que segue:

O cometimento de fato típico e antijurídico, por agente


imputável que procedeu com dolo ou culpa, de nada vale
em termos penais se dele não era exigível, nas
circunstâncias em que atuou, comportamento diferente.
Não se pode formular um juízo de censura ou reprovação,
destarte, se do sujeito ativo era inviável requestar
outra conduta (PEDROSO, Fernando Almeida. Direito Penal
– Parte Geral. 1. ed. São Paulo: Editora Método, 2008.
p. 569).

Ante a inexistência de possibilidade fática e


plausível de a acusada evitar o óbito da vítima Raoni, que
impunha velocidade altíssima em seu veículo na via pública, é de
rigor a absolvição sumária da acusada, senão pela atipicidade do
fato já alegada, pela causa de isenção de culpa, conforme
preleciona o artigo 415, inciso IV, do Código de Processo Penal.

C. DA CULPA

Ao contrário do que acontece nos crimes dolosos, nos


quais estão ínsitas a consciência (elemento intelectivo) e a
vontade (elemento volitivo) de realizar os elementos do tipo
objetivo, os delitos de natureza culposa não apresentam o
aspecto subjetivo e são tratados sempre como tipos penais
abertos, passíveis de valoração caso a caso.

Nesse ínterim, apesar das várias e duras críticas


comparativas recebidas em virtude de a doutrina e jurisprudência
europeias tratarem tão somente de "crime imprudente", o Código
Penal brasileiro trouxe em seu artigo 18, inciso II, três
conteúdos distintos de culpa. A conceituação não foi feita pelo
legislador penal justamente por se tratar de conceitos abertos
que dependem da intervenção doutrinária e jurisprudencial para
limitarem o âmbito de incidência.

É possível dizer que a imprudência consistente numa


atividade positiva descuidada ou uma atuação abrupta sem
cuidado, impensada, sem cautela. Por seu turno, a negligência
consiste na omissão da devida cautela, na ausência do devido
cuidado. E, por fim, a imperícia nada mais é senão a falta de
habilidade ou aptidão técnica para praticar determinada
atividade, geralmente relativa à arte, ofício ou profissão, ou
seja, a ausência de conhecimento adequado para o exercício de
uma atividade.

O núcleo do tipo no delito culposo consiste


justamente na divergência entre a ação realmente realizada e a
que deveria ter sido feita em razão do dever de cuidado
objetivo, de crucial observância. Não menos, é preciso que se
saiba qual o fim perseguido pela autora, a fim de que possa
graduar o dever de cuidado exigido para a situação, mas sempre
tomando como conduta modelo o indivíduo diligente e cuidadoso no
trato das atividades perigosas em sociedade.

Juarez Tavares já se pronunciou sobre os crimes


culposos:

O dever de cuidado tem características exclusivamente


normativas e se impõe de modo concreto, como já vimos, a
todos os que vivem em sociedade e desenvolvem atividades
que não se dirijam finalisticamente à realização de um
tipo de delito ou a um resultado típico (TAVARES,
Juarez. Direito Penal da negligência. 1. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 1985. p. 138).

Nesta senda, nas condições em que se deu o presente


caso não é exigível da acusada o dever de cuidado objetivo que
deve pautar as relações sociais, visto que se tratava de pessoa
razoável ("homo medius"), prudente e cujo resultado era
imprevisível.

A conduta de Daniela foi realizada em conformidade


com as normas de trânsito e o aparecimento repentino da vítima,
nas condições já expostas, não podiam ser previstas ou evitadas
pela acusada.

Cabe afirmar peremptoriamente, ainda, que o presente


caso não se trata de situação de negligência, uma vez que não
resta comprovado que Daniela agiu sem adoção da cautela devida
no trânsito, tampouco é caso de imperícia, pois a acusada não
praticava ato relacionado à profissão ou ofício e sequer
conduzia o seu veículo durante seu trabalho.

Poder-se-ia argumentar que a denunciada incorreu na


modalidade culposa de imprudência. Porém, Excelência, pensamos
que quem imprime velocidade normal às exigências da via, sem ter
ingerido bebidas alcoólicas e mantendo todas as cautelas
necessárias, não age com imprudência e a mera desatenção de
Daniela não pode ser utilizada unicamente como fato originador
do resultado morte.

Acerca da impossibilidade de se imputar crime a quem


atua com as devidas cautelas no trânsito, escreve Fernando
Fukassawa:

Se por um lado é absolutamente impossível suprimir o


tráfego de veículo, por outro é absolutamente necessário
para a convivência social que aí todos se hajam com a
chamada obligatio ad diligentiam. Conquanto perigosa a
atividade no tráfego, haverá dela ser desenvolvida com o
necessário cuidado para não produzir resultado que for
previsível (FUKASSAWA, Fernando. Crimes de Trânsito. 3.
ed. São Paulo: APMP – Associação Paulista do Ministério
Público, 2015. p. 191). (grifos nossos)
A atividade do trânsito é naturalmente e por si só
perigosa e, sendo assim, afirma-se categoricamente que a acusada
observou os limites de velocidade na via pública que serviu de
palco para a tragédia e não estava embriagada quando dos fatos,
o que leva à conclusão de que ela não incorreu em qualquer
modalidade de culpa, nem mesmo na imprudência. Ou seja, Daniela
desenvolveu a condução de seu veículo automotor com o necessário
cuidado e, mesmo assim, acabou causando resultado IMPREVISÍVEL.

Não destoa do entendimento doutrinário acima


colacionado aquele que é erigido da jurisprudência brasileira:

HOMICÍDIO CULPOSO E LESÃO CORPORAL CULPOSA. ACIDENTE DE


TRÂNSITO. ABSOLVIÇÃO. POSSIBILIDADE. CULPA EXCLUSIVA DA
VÍTIMA. OBSERVÂNCIA DO DEVER DE CUIDADO PELO ACUSADO.
RECURSO PROVIDO. O agente só poderia ser punido a título
de culpa se, no caso concreto, pudesse ter previsto o
resultado e não se comportasse de maneira a evita-lo.
Mister se faz que o juízo incriminatório tenha suporte
em uma cadeia lógica de graves indícios, ligados pelo
vínculo da causa e efeito, excludentes de qualquer
hipótese favorável ao condenado (TJMG, Apelação Criminal
2.0000.00.361665-9/000, Rel. Des. Maria Celeste Porto,
DJe 11/6/2002).

Portanto, é de rigor que a acusada Daniela seja


absolvida sumariamente ante a inexistência de dolo em sua
conduta, o que restou explícito no tópico anterior. Porém, caso
Vossa Excelência compreenda de maneira distinta, requer a defesa
a desclassificação do crime para homicídio culposo na direção de
veículo automotor, nos termos do artigo 302 da Lei nº 9.503/97,
a fim de retirar a competência do Tribunal do Júri e seguir o
processo nos trâmites comuns, conforme teor do artigo 419 do
Código de Processo Penal.
4. DA PRESTAÇÃO DE SOCORRO À VÍTIMA

Não obstante todo o cenário caótico em que se


sucederam os fatos, notadamente pelo fato de a vítima Raoni não
portar os mínimos instrumentos obrigatórios de segurança no
trânsito, deve-se ter em mente que a acusada ainda teve a
possibilidade de deixar seu veículo na via pública, abalroado, e
ir até o encontro da vítima para lhe prestar os primeiros
socorros, como o fez.

Nota-se que restou harmônico o entendimento segundo o


qual realmente houve a prestação de socorro ao ofendido logo
após a colisão entre carro e motocicleta, quando a vítima ainda
estava viva.

Ou seja, muito embora a acusada pudesse se evadir do


local para lhe fugir a responsabilidade criminal e civil ou
comunicar às autoridades competentes a ocorrência do acidente
para que os primeiros socorros fossem prestados, ela não fez
nada disso. Na verdade, ela própria se dispôs a tentar salvar a
vida da vítima, sem saber que todo o esforço seria em vão
posteriormente.

E mais! Daniela prestou socorro ao ofendido sem medo


de que a população que assistia ao sinistro se revoltasse com a
cena e fosse ao seu encontro com claros propósitos de agressão,
como comumente ocorre e se alega em delitos de tal calibre.

Constata-se, portanto, que Daniela agiu em


conformidade com o dever de solidariedade para com o próximo
previsto em diversas normas jurídicas, inclusive em sede de
Constituição Federal, a qual traz em seus artigos iniciais, como
objetivo da República Federativa do Brasil, a construção de uma
sociedade solidária.
O Tribunal de Justiça de Santa Catarina já decidiu
caso semelhante, conforme a seguinte ementa:

CRIME DE TRÂNSITO – HOMICÍDIO CULPOSO E OMISSÃO DE


SOCORRO (ART. 302, PAR. ÚNICO, INC. III, DO CTB) –
ATROPELAMENTO DE CICLISTA EM VIA DE TRÁFEGO RÁPIDO
(RODOVIA SC – 280) – AUSÊNCIA DE PROVA SEGURA ACERCA DA
CULPABILIDADE DO MOTORISTA CONDUTOR DO VEÍCULO
ATROPELANTE (IMPRUDÊNCIA, NEGLIGÊNCIA E IMPERÍCIA) –
INCIDÊNCIA, NA HIPÓTESE, DO PRINCÍPIO IN DUBIO PRO REO –
MORTE INSTANTÂNEA DA VÍTIMA – OMISSÃO DE SOCORRO
INOCORRENTE – ABSOLVIÇÃO MANTIDA – RECURSO ACUSATÓRIO
DESPROVIDO (TJSC, Apelação Criminal 2003.006328-5, 1ª
Câmara Criminal, Rel. Des. José Gaspar Rubick, DJe
18/10/2005).

Não menos, a prestação de socorro à vítima corrobora o todo


exposto até o presente momento, fazendo nossas as palavras de
Fernando da Costa Tourinho Filho:

Uma condenação é coisa séria; deixa vestígios indeléveis


na pessoa do condenado, que os carregará pelo resto da
vida como um anátema. Conscientizados os Juízes desse
fato, não podem eles, ainda que, intimamente, considerem
o réu culpado, condená-lo, sem a presença de uma prova
séria, seja a respeito da autoria, seja sobre a
materialidade delitiva (FILHO, Fernando da Costa
Tourinho. Código de Processo Penal Comentado – Vol. V.
2. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. p. 583).

Portanto, a prestação de socorro à vítima por parte de Daniela


deve ser levada em consideração para o fim de retirar a
competência da Corte Popular, conforme afirmado acima, e, caso
Vossa Excelência entenda de modo diverso, para atenuar eventual
pena da acusada, tendo em vista as circunstâncias do caso.
III – DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) A prolação da sentença na forma do artigo 414 do


Código de Processo Penal, a fim de que seja IMPRONUNCIADA a
acusada da imputação que lhe é feita pela Justiça Pública, ante
a inexistência de dolo homicida, seja direto ou eventual.

b) Em hipótese de não ocorrência da pronúncia, a


prolação da sentença para reconhecer a absolvição sumária, com
fulcro no artigo 415, incisos III e IV, do Código de Processo
Penal.

c) Ainda, imaginando a possibilidade de não se acatar


o que fora requerido nos itens anteriores, opere-se a
desclassificação, nos termos do artigo 419 do Código de Processo
Penal, para remeter os autos ao juízo competente.

Termos em que pede e espera deferimento.

Local..., data...

____________________

Advogado...

OAB nº...

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