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O DEUS DESCONHECIDO

‘Pois nele vivemos, nos movemos e existimos’, como disseram alguns dos poetas de vocês:
‘Também somos descendência dele’. (Atos 17:28).

Há duas citações aqui:

- A 1ª é do poeta cretense Epimênides (ca. 600 a.C.) em sua Cretica: ‘Pois nele vivemos, nos
movemos e existimos’;

- A 2ª é do poeta ciliciano Arato (ca. 315-240 a.C.) em seu Phaenomena (Fenômenos) e


também de Cleanto (ca. 331-233 a.C.) em um poema remanescente do “Hino a Zeus”:
‘Também somos descendência dele’.

Cleanto, líder da escola dos estoicos de 263 a 232 a.C., havia infundido fervor religioso no
estoicismo de Zeno, ensinando que o Universo é um ser vivo e que Deus era sua alma,
defendendo certo desprendimento na ética (sustentava que fazer o bem para obter vantagem
é como alimentar o gado com carne!) e afirmando que os pensamentos maus eram piores que
as atitudes más. Paulo cita aqui.

Paulo também cita poetas gregos em outros lugares:

- Comédia Thais, de Menandro: Não se deixem enganar: "as más companhias corrompem os
bons costumes". (1 Coríntios 15:33).

- Epimênides: Um dos seus próprios profetas chegou a dizer: "Cretenses, sempre mentirosos,
feras malignas, glutões preguiçosos". (Tito 1:12).

- “pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até
um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de
não conhecerem, eu lhes anuncio.” (Atos 17:23).

Epimênides era um dos poucos da sua época e região que criam em apenas um Deus e,
segundo conta Diógenes Laertius, quando houve a praga em Atenas fizeram-se muitos
holocaustos para “apaziguar a fúria dos deuses”, que passavam de 30.000, ou seja, havia mais
deuses em estátuas nas ruas do que pessoas vivendo em Atenas, onde foram até chamados
sacerdotes egípcios e babilônicos para tentarem resolver aquela praga, mas sem sucesso.
Quando então lembraram o Deus único de Epimênides, o chamaram. Ele mostrou-os o erro de
adorarem deuses que não poderiam os ajudar em nada e mandou que colocassem ovelhas no
alto do Areópago que estas iriam lhes mostrar o local onde esse Deus queria ser adorado.
Então, num ato “místico” as ovelhas desceram o Areópago e andaram até um local onde não
havia nenhum tipo de idolatria. E ali os artífices construíram um altar e como não sabiam o
“nome” desse Deus, a mando de Epimênides talharam como “o Deus desconhecido” (assim
como descrito em Atos 17:23), e assim conseguiram resolver o problema da praga.

Por que Paulo citou autores pagãos em suas pregações e epístolas? Será que isso compromete
a inspiração e infalibilidade das Sagradas Escrituras? Ou será que as Escrituras não são tão
Sagradas assim?
Estas questões são levantadas por céticos como razão para atacar a fé cristã e a Bíblia, mas a
verdade é que tais citações não geram problema alguma para a infalibilidade e inspiração
divina das Escrituras, pois Paulo as usou como ponto de conexão em sua comunicação com os
povos helenizados, os quais estavam familiarizados com a cultura grega. Quando os discípulos
discursavam a um público judeu, utilizavam elementos da história e cultura judaicas como
Estêvão em Atos 7.1-53, mas quando se dirigiam aos gentios, utilizavam os elementos culturais
desses povos como ponto de conexão com seus interlocutores.

Outro exemplo inclui a citação dos jogos olímpicos praticados naquela época (1 Coríntios 9:24;
Filipenses 3:14; 1 Timóteo 6:12; 2 Timóteo 4:7), e também as armas e trajes de guerra
romanos (Romanos 13:12; 2 Coríntios 6:7; 2 Coríntios 10:4; Efésios 6:11-17).

Os ouvintes e destinatários de Paulo conheciam os elementos utilizados por ele, de modo que
a comunicação se tornava mais fácil. Imagine se o Novo Testamento estivesse sendo escrito no
Brasil do século XXI. Não seria difícil ver os autores utilizando elementos culturais brasileiros
como o futebol, Carlos Drummond de Andrade ou Roberto Carlos. Desta forma, a integridade,
inspiração e infalibilidade das Escrituras permanecem intactas.

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