Você está na página 1de 3

Comentário do Filme

Os Companheiros- Mario Monicelli

Nome: Thiago Boamorte Lima

Disciplina: Epistemologia da História

Professor: Guilherme Pereira das Neves


Mario Monicelli nasceu em Roma, passando grande parte de sua infância e adolescência
na região de Viareggio, pequena província da região da Toscana. Formado em História
e Filosofia, já em 1934 o diretor italiano dirige o seu primeiro curta-metragem, em
colaboração com o também diretor Alberto Mondadori. Em 1949, inicia oficialmente os
seus trabalhos, dirigindo filmes de extrema importância e representatividade para o
cenário de comédia italiana, principalmente após o término da Segunda Guerra
Mundial, como Os Companheiros, A Mortadela, entre diversos outros.

O filme Os Companheiros, produzido em 1963, tem como grande pano de fundo a


classe operária italiana de finais do século XIX, mais precisamente da cidade de Turim,
e suas ações perante o contexto de avanço da industrialização na Itália recém- unificada
politicamente. Devido às condições degradantes de trabalho, as jornadas extensas de
trabalho nas fábricas, e principalmente a um acidente ocorrido com um operário, os
trabalhadores se organizam, mesmo que ainda de forma incipiente, para reivindicar
melhores condições de trabalho. Será nesse contexto que surgirá o Professor Sinigaglia,
representado por Marcelo Mastroianni, e responsável direto por dar corpo e
principalmente organização a reivindicação dos trabalhadores, tornando-se a liderança
intelectual do movimento. Ao enxergar as contradições sociais inerentes da sociedade
capitalista, onde os patrões exploram a mão de obra humana e lucram em cima da
mesma, o professor vê naqueles operários as ferramentas certas para promover a
revolução através da luta de classes. Nesse contexto, Sinigaglia organiza assembleias
para orientar os trabalhadores a fazer greves, piquetes e diversas outras medidas para
que fique claro que a classe operária está insatisfeita com sua condição atual de
trabalho, e exige mudanças imediatas.

Com o desenrolar dos acontecimentos, ao invés da liderança de Sinigaglia organizar um


movimento operário organizado, ciente da luta que está travando, o mesmo cria uma
situação caótica, e com os sucessivos fracassos dos trabalhadores pelas reivindicações, o
movimento começa a perder força e objetivo, principalmente também pela divergência
de opiniões dentro do movimento, mesmo que o professor tente convencer a todos do
contrário. O ponto chave de fracasso da luta do movimento operário ocorre quando é
organizada uma manifestação para a ocupação da fábrica pelos trabalhadores, rechaçada
fortemente pelas forças policiais do governo, com desfecho trágico, e o consequente
assassinato de um trabalhador. Com o ocorrido, a organização dos trabalhadores se
desfaz, e a resignação acaba tomando conta de todos. Entre os diversos questionamentos
que o filme traz e mostra de forma clara, pode-se dar destaque ao papel do professor na
liderança do movimento operário, representando o intelectual que lidera as grandes
massas, e até onde o alcance dessa liderança pode ter resultados verdadeiramente
efetivos.

Ao analisar o filme, juntamente com a obra de Phillipe Ariés O Tempo da História,


percebemos que a história de vida particular de cada trabalhador é tomada pelo curso da
história pública e coletiva. Sem perceber, ao reivindicarem por melhores condições de
trabalho, e lutarem por seus direitos, esses trabalhadores são envoltos pelos caminhos da
História, e a vida particular de cada um se mistura de uma vez por todas com a vida
pública, saindo do oásis em que se encontram, que Ariès menciona em seu texto, e
portanto cientes de uma consciência histórica de seu tempo, ao participarem ativamente
desse processo histórico.

Você também pode gostar