Mario Monicelli nasceu em Roma, passando grande parte de sua infância e adolescência na região de Viareggio, pequena província da região da Toscana. Formado em História e Filosofia, já em 1934 o diretor italiano dirige o seu primeiro curta-metragem, em colaboração com o também diretor Alberto Mondadori. Em 1949, inicia oficialmente os seus trabalhos, dirigindo filmes de extrema importância e representatividade para o cenário de comédia italiana, principalmente após o término da Segunda Guerra Mundial, como Os Companheiros, A Mortadela, entre diversos outros.
O filme Os Companheiros, produzido em 1963, tem como grande pano de fundo a
classe operária italiana de finais do século XIX, mais precisamente da cidade de Turim, e suas ações perante o contexto de avanço da industrialização na Itália recém- unificada politicamente. Devido às condições degradantes de trabalho, as jornadas extensas de trabalho nas fábricas, e principalmente a um acidente ocorrido com um operário, os trabalhadores se organizam, mesmo que ainda de forma incipiente, para reivindicar melhores condições de trabalho. Será nesse contexto que surgirá o Professor Sinigaglia, representado por Marcelo Mastroianni, e responsável direto por dar corpo e principalmente organização a reivindicação dos trabalhadores, tornando-se a liderança intelectual do movimento. Ao enxergar as contradições sociais inerentes da sociedade capitalista, onde os patrões exploram a mão de obra humana e lucram em cima da mesma, o professor vê naqueles operários as ferramentas certas para promover a revolução através da luta de classes. Nesse contexto, Sinigaglia organiza assembleias para orientar os trabalhadores a fazer greves, piquetes e diversas outras medidas para que fique claro que a classe operária está insatisfeita com sua condição atual de trabalho, e exige mudanças imediatas.
Com o desenrolar dos acontecimentos, ao invés da liderança de Sinigaglia organizar um
movimento operário organizado, ciente da luta que está travando, o mesmo cria uma situação caótica, e com os sucessivos fracassos dos trabalhadores pelas reivindicações, o movimento começa a perder força e objetivo, principalmente também pela divergência de opiniões dentro do movimento, mesmo que o professor tente convencer a todos do contrário. O ponto chave de fracasso da luta do movimento operário ocorre quando é organizada uma manifestação para a ocupação da fábrica pelos trabalhadores, rechaçada fortemente pelas forças policiais do governo, com desfecho trágico, e o consequente assassinato de um trabalhador. Com o ocorrido, a organização dos trabalhadores se desfaz, e a resignação acaba tomando conta de todos. Entre os diversos questionamentos que o filme traz e mostra de forma clara, pode-se dar destaque ao papel do professor na liderança do movimento operário, representando o intelectual que lidera as grandes massas, e até onde o alcance dessa liderança pode ter resultados verdadeiramente efetivos.
Ao analisar o filme, juntamente com a obra de Phillipe Ariés O Tempo da História,
percebemos que a história de vida particular de cada trabalhador é tomada pelo curso da história pública e coletiva. Sem perceber, ao reivindicarem por melhores condições de trabalho, e lutarem por seus direitos, esses trabalhadores são envoltos pelos caminhos da História, e a vida particular de cada um se mistura de uma vez por todas com a vida pública, saindo do oásis em que se encontram, que Ariès menciona em seu texto, e portanto cientes de uma consciência histórica de seu tempo, ao participarem ativamente desse processo histórico.