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Pedro Cardim
p. 11-53
Note de l’auteur
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Texte intégral
1 No longo período compreendido entre 1450 e ο final do
século XVIII a diplomacia sofreu uma profunda
transformação. Em meados de Quatrocentos a interacção
diplomática surge ainda como uma actividade pouco
desenvolvida e pouco frequente; em pleno século XVIII,
pelo contrário, os laços diplomáticos apresentam já
contornos bastante complexos, afirmando-se como um
ramo cada vez mais importante da acção da Coroa. Foram
três séculos de mudanças, três séculos que alteraram por
completo a natureza das missões diplomáticas, bem como
ο seu lugar na política europeia.
2 Estas mudanças não passaram despercebidas à recente
historiografia, e a verdade é que, nos últimos quinze anos,
a diplomacia se converteu num dos temas mais
frequentados pelos historiadores que se ocupam da Europa
da época moderna. A este investimento historiográfico não
é certamente alheio ο facto de, entre 1996 e 1998, se terem
realizado vários encontros científicos para assinalar a
passagem de trezentos e cinquenta anos sobre a assinatura
dos tratados de Vestefália (1648-1998). As actas das
grandes conferências realizadas em Münster, em
Osnabrück, em Paris e em outros locais da Europa foram já
publicadas, proporcionando uma enorme quantidade de
novos dados e de novas perspectivas sobre a diplomacia e a
sua evolução histórica2. Como resultado desse inusitado
interesse, dispomos hoje de um considerável número de
trabalhos sobre as origens e ο desenvolvimento da
actividade diplomática, e, em especial, sobre ο impacto que
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A matriz itálica
4 Apesar de ser um fenómeno geral e registado à escala
europeia, não restam hoje dúvidas de que ο
desenvolvimento da diplomacia ocorreu, de um modo
especialmente precoce, no espaço italiano. A Itália do
século XV era composta por várias cidades-estado, cada
uma delas com um grau de organização e de
desenvolvimento bastante acentuado, contando com cinco
principais entidades - ο ducado de Milão, a República de
Veneza, a República de Florença, ο Estado da Igreja, ο
Reino de Sicília e Nápoles -, e com um número
significativo de cidades-estado com um menor poderio
político. Devido a esta situação de partilha do poder, a
Itália deste tempo costuma ser encarada como uma espécie
de microcosmos da evolução do dispositivo político-
diplomático, sendo costume dizer-se que ο facto de esta
região da Europa se caracterizar por uma acentuada
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endémicas45.
57 M. A. Anderson nota que algumas dessas propostas
estavam ainda marcadas por um claro idealismo, já que os
seus autores acreditavam que a convivência pacífica podia
depender, única e exclusivamente, de uma alegada boa
natureza dos homens que os encaminharia para a
concórdia e para colocar ο bem colectivo da Cristandade
acima dos seus próprios interesses46. Porém, figuras como
Hugo Grócio defendem concepções muito mais realistas e
pragmáticas, e nos seus escritos ο famoso jurisconsulto
neerlandês revela plena consciência dos choques de
interesses dos vários povos cristãos, bem como da
necessidade de criar um dispositivo que tornasse esses
conflitos mais raros47. Grócio, e depois dele Thomas
Hobbes, encararam mesmo ο campo das relações entre
diferentes potentados como ο espaço da desordem natural,
um espaço absolutamente carente de uma intervenção
organizadora por parte dos homens48.
58 Um dos sectores onde a regulação se revelava mais urgente
era a interacção nos mares, e foi precisamente Hugo
Grócio quem deu ο mais decisivo impulso àquilo que mais
tarde viria a ser conhecido por «Direito do Mar»49. Até
essa data, a Santa Sé, através das Bulas, ia introduzindo
alguma ordem nas relações marítimas entre os diversos
reinos cristãos, concedendo direitos de ocupação e
estabelecendo regimes de exclusividade. Estes, por sua vez,
costumavam estabelecer acordos e tratados entre si, como
ο famoso Tratado de Tordesilhas, de 1494, ou ο Tratado
de Saragoça, de 1529. Todavia, a eficácia desses pactos
deixou muito a desejar, tendo sido no Atlântico que se fez
sentir, de um modo mais premente, a necessidade de outro
tipo de regulamentação, devido à proliferação da pirataria
e do corso50. A obra de Hugo Grócio visou precisamente
dar resposta a estas necessidades. Em livros como Mare
Liberum ou De jure belli ac pacis, este último datado de
1625, H. Grócio retomou diversos problemas já discutidos
anteriormente, como a justeza da guerra ou os direitos dos
embaixadores, sublinhando, entre outros aspectos, que ο
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Ο desenvolvimento do dispositivo
institucional da diplomacia
61 Na segunda metade de Seiscentos ο esforço de
centralização atingiu todos os sectores da administração
régia, reflectindo-se, muito em especial, no modo como as
missões diplomáticas eram organizadas. Até esse período a
diplomacia costumava confundir-se com grandes missões
de ostentação, e muitos dos contactos acabavam por ter
muito pouco a ver com a negociação propriamente dita54.
Contudo, a partir do último quartel do século XVII as
embaixadas de aparato foram aos poucos substituídas por
comitivas mais modestas, menos dispendiosas e mais
“profissionais”. A embaixada “circular”, que costumava
efectuar um 'tour' por diversos locais, tendeu também a ser
substituída por embaixadas residentes. Quanto aos
juramentos de fidelidade dos embaixadores, eivados de
ressonâncias religiosas, começaram também a
desaparecer, e em vez deles surgiram «Instruções» e
compromissos de prestação de serviços, os quais fixavam,
de um modo mais objectivo e claro, as obrigações do
diplomata. A imunidade dos servidores diplomáticos face à
jurisdição do local onde se encontravam, por sua vez, foi
adquirindo contornos mais estáveis e delimitados55, e deste
modo ο serviço diplomático ganhou um perfil mais nítido e
uma vocação negocial mais vincada.
62 Como começámos por assinalar, ο aperfeiçoamento do
dispositivo diplomático esteve quase sempre ligado a
projectos de concentração do poder nas mãos do rei. Ao
reforço da autoridade no plano interno correspondeu
habitualmente a busca de reconhecimento no plano
internacional. Aliás, não por acaso, foi também nessa
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Comentários finais
93 Para a maioria dos estudiosos, ο «equilíbrio de poder» tera
sido ο sistema vigente na Europa durante ο longo período
compreendido entre 1648 e a Revolução Francesa. Era um
sistema que, como assinalámos, implicava uma noção de
paridade e de equidistância entre os diversos estados, para
além de depender de mecanismos de controlo recíproco.
No fundo, era um regime de relações que existira desde
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Notes
2. Veja-se, sobretudo, Heinz Duchhardt (org.), Der Westfàlische
Friede. Diplomatie, politische Zäsur, Kulturelles Umfeld,
Rezeptionsgeschichte, Munique, R. Oldenbourg, 1988; Lucien Bély
(org.), L'invention de la Diplomatie. Moyen Age – Temps Modernes,
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20. Cfr. Marc Fumaroli, «La diplomatie de l'esprit» in Lucien Bély &
Isabelle Richefort (orgs.), L'Europe des Traités de Westphalie..., cit.,
2000, pp. 7 segs.
21. Paolo Prodi, The Papal Prince..., cit., 1982, 157-181.
22. Frances Yates, Astraea. The Imperial Theme in the Sixteenth
Century, Londres-Boston, Routledge & K. Paul, 1975.
23. Cfr. Manuel Rivero Rodríguez, Diplomacia y relaciones
exteriores..., cit., 2001, pp. 59 segs.
24. Alfred Kohler, «Vom Habsburgischen Gesamtsystem Karls V. zu
den Teilsystemen Philipps II. und Maximilians II.», Wiener Beiträge
zur Geschichte der Neuzeit, 19 (1992) pp. 13-37.
25. Jesús Lalinde Abadía, «España y la Monarquia Universal (en torno
al concepto de "Estado Moderno")», Quaderni Fiorentini per la Storia
del Pensiero Giuridico Moderno, 15 (1986) pp. 138 segs.
26. Em Astraea..., cit., 1975, Frances Yates lembra que no contexto
francês, em contrapartida, ο rei ostentou ο título de «Rex
Christianissimus», ou «Roi très Chrétien», noção reforçada pelo
carácter sagrado da monarquia gaulesa, cujos reis eram ungidos e
coroados. Além disso, os monarcas franceses pretendiam descender
directamente de Carlos Magno, apresentando-se, desse modo, como
aqueles que mais mereciam ο título e os direitos imperiais; a ideia de
missão universal e imperial da monarquia francesa foi retomada, entre
outros, por Guillaume Postel, no seu Les Raisons de la Monarchie
(1551). Quanto à dinastia dos Tudor, em Inglaterra, também ela
incorporou algo da noção de renovatio inerente ao império de Carlos V
– Isabel I foi, em termos simbólicos, a Astrea, a «Virgem Justa» da
Idade de Ouro, e em The Fairy Queene, epopeia cavaleiresca dedicada
à rainha Isabel, Edmund Spenser parafraseia passos de Orlando
Furioso, ο famoso poema de Ludovico Ariosto, uma vez mais no
sentido de renovatio, de ressurreição do ideal imperial.
27. Cfr. Jesús Lalinde Abadía, El Estado en su Dimension Histórica,
Barcelona, Promociones Publicaciones Universitarias, 1984; José
Martínez Millán, «Introducción. Los estudios sobre la Corte..., cit.,
1994.
28. Miguel Ángel Ochoa Brun, Historia de la Diplomacia Espanola. VI
– La Diplomacia de Felipe II, Madrid, Ministério de Asuntos
Exteriores, 2000, pp. 46 segs.
29. Veja-se, por exemplo, os comentários tecidos por Alain Talion
acerca deste tema, em «Les puissances catholiques face à la tolérance
religieuse en France au XVIe siècle: Droit d'ingérence ou non-
intervention?» in Lucien Bély & Isabelle Richefort (orgs.), L'Europe
des Traités de Westphalie..., cit., 2000, pp. 21-30.
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Auteur
Pedro Cardim
© Publicações do Cidehus, 2004
Temas e Debates
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