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Original em inglês: páginas 117 a 143

Pequenos Produtores e o Desmatamento na Amazônia


Eduardo S. Brondizio,¹ Anthony Cak,² Marcellus M. Caldas,³ Carlos Mena,⁴,⁵
Richard Bilsborrow,⁶ Celia Futemma,⁷ Thomas Ludewigs,⁸
Emilio F. Moran,¹ e Mateus Batistella⁹

Este capítulo discute a relação entre o uso da terra por pequenos


agricultores e o desmatamento, com uma atenção especial aos últimos 30
anos da colonização amazônica no Brasil e Equador. Nossa análise chama
a atenção para aspectos comuns que unem diferentes grupos sociais,
como os pequenos produtores (ex. identidade social, acesso à terra e
recursos, tecnologia, mercado e crédito), assim como para a variabilidade
entre pequenos produtores em termos de tempo de permanência na
região (das populações nativas aos recentes colonizadores), contribuição
para o desmatamento regional, tipos de sistemas de uso da terra. No
plano regional, os pequenos produtores são responsáveis pela maioria dos
eventos de desmatamento, mas por apenas uma fração do total da área
desmatada na Amazônia. Discutimos três conceitos errôneos que vêm
sendo usados para definir pequenos produtores e suas contribuições para
a economia regional, desenvolvimento e desmatamento: (1) pequenos
produtores praticam sistemas de uso da terra tradicionais associados à
baixa e extensiva produtividade, ao desmatamento extenso e à produção
para subsistência, (2) pequenos produtores contribuem para o
desmatamento amazônico tanto quanto os grandes produtores e (3)
pequenos produtores, especialmente os agricultores colonizadores,
seguem um caminho inexorável do desmatamento, exceto quando
controlados por ações do governo. Concluímos o capítulo discutindo a
crescente importância regional dos pequenos produtores e a necessidade
de mais políticas públicas relacionadas à infraestrutura, serviços e
valorização de recursos produzidos em áreas rurais da Amazônia.

____________________________
1 3
Department of Anthropology and Department of Geography, Kansas State University,
Anthropological Center for Training and Manhattan, Kansas, USA.
4
Research on Global Environmental Change, Colegio de Ciencias Biologicas y Ambientales,
Indiana University, Bloomington, Indiana, USA. Universidad San Francisco de Quito, Quito, Ecuador.
2 5
School of Public and Environmental Affairs Também no Department of Geography, University
and Anthropological Center for Training and of North Carolina, Chapel Hill, North Carolina, USA.
6
Research on Global Environmental Change, Biostatistics Department and Carolina Population
Indiana University, Bloomington, Indiana, USA. Center, University of North Carolina, Chapel Hill, North
Carolina, USA.
7
Universidade Federal de São Carlos,Campus de
Sorocaba, São Paulo, Brasil.
8
Amazonia and Global Change Centro de Desenvolvimento Sustentável,
Geophysical Monograph Series 186 Universidade de Brasília, Brasil.
Copyright 2009 by the American Geophysical Union. 9
Embrapa Monitoramento por Satélite, Campinas,
10.1029/2008GM000716 Brasil.
1. INTRODUÇÃO

Pequenos produtores representam diversos região triplicou entre 1994 e 2002, com mais de
grupos sociais na Amazônia (o nosso uso do 500.000 famílias assentadas durante esse
termo “pequenos produtores” neste capítulo período [Barreto et al., 2005; INCRA, 2000, 2002].
também inclui grupos sociais frequentemente Na Região Norte do Brasil, que engloba a
agrupados em categorias como extrativistas, área definida como Amazônia Legal, as fazendas
colonizadores, agroextrativistas, quilombolas, familiares representam 85,4% de todas as
“populações tradicionais”, agricultura familiar, propriedades rurais e cobrem cerca de 37,5% da
coletores, pescadores que praticam agricultura e área total (ha) [Guanziroli et al., 2001]. Isso é
outras denominações regionais e culturais. Em comparável a outras áreas do Brasil onde, de
alguns casos, essas categorias envolvem uma acordo com dados preliminares do Censo
combinação de usos individuais e coletivos de Agropecuário Brasileiro de 2006 [IBGE, 1998,
recursos. Isso também inclui aqueles que, há 2009a], há no Brasil cerca de 5.204.130
muito ou pouco tempo na região, podem não ter propriedades rurais que cobrem uma área de 354,9
escrituras formais ou prova de direitos de uso da milhões de ha, dos quais, cerca de 85% representam
terra, mas que estão diretamente envolvidos no pequenos produtores (estabelecimentos rurais
uso da terra e no gerenciamento dos recursos. familiares) e ocupam 107,8 milhões de ha (30,5%
Por essas razões, em alguns casos usamos os da área de todas as propriedades rurais).
termos “pequenos proprietários” e “pequenos Por outro lado, em outras regiões da Bacia
produtores” indistintamente). Deste modo, esse Amazônica fora do Brasil, colonizações feitas por
termo amplo foi amplamente usado por pequenos agricultores têm sido, em grande parte,
pesquisadores e formuladores de políticas espontâneas. Esse é o caso, por exemplo, da
públicas para descrever diversas populações com Amazônia Setentrional Equatoriana (NEA), onde
variações culturais, históricas, demográficas e somente três pequenos projetos de colonização
econômicas. De modos diferentes, eles têm sido foram executados com pouco sucesso [Uquillas,
significativos para o entendimento da dinâmica 1984; Tamariz e Villaverde, 1997; Pichon e
do uso da terra e desmatamento, manejo de Bilsborrow, 1999]. Portanto, quase todas as
recursos, governança e urbanização da região. A colonizações agrícolas na Amazônia Setentrional
história desses pequenos produtores na Equatoriana têm sido desestruturadas, sendo que
Amazônia abrange desde as populações o papel do governo está limitado à concessão
históricas (ex. classe camponesa histórica), em passiva de propriedades de terras temporárias e
geral agrupadas grosseiramente sob os termos provisórias às pré-cooperativas de colonos após
“caboclo” ou “ribeirinho”, e migrantes uma ocupação inicial da terra em uma certa área,
colonizadores que datam das práticas de com posteriores concessões de escrituras de
colonização do final do século dezenove (ex. a propriedade permanentes [Barsky, 1984].)
região perto da Bragantina, no nordeste do (Famílias de colonos pagam pequenas quantias
Estado do Pará, Brasil) às sucessivas migrações de para cada propriedade, mas quase a metade das
colonizadores durante todo o século vinte que famílias que estabeleceu propriedades rurais
seguiam projetos patrocinados pelo governo, e iniciais ou fincas nos anos 70 e 80 nunca fizeram
migrações espontâneas que se iniciaram no final os pagamentos finais antes da extinção do
dos anos 60. Cada uma dessas sucessivas ondas instituto de serviços cartorários para registro de
de colonizadores chegou à Amazônia vinda de propriedade de terras (Instituto Equatoriano de
diferentes áreas, com diferentes conhecimentos Reforma Agrária e Colonização (IERAC)) em 1993,
e diferentes razões para se instalar na região. como parte das políticas neoliberais de
Mesmo hoje, pequenos agricultores continuam a enxugamento do setor público).
chegar e a migrar dentro da região. Por exemplo, Grande parte do debate atual sobre o
há relatos de que o número de assentamentos de desmatamento da Amazônia o define pelo
colonização (para projetos de reforma agrária) na contraste que se observa no uso da terra e nas

2
mudanças da cobertura da terra resultantes de al., 1999, 2002; Brondizio et al., 2002; Moran et
atividades agrícolas de pequena e larga escalas al., 2002; Walsh et al., 2002; Futemma e
[Walker et al., 2000; Aldrich et al., 2006; OESP, Brondizio, 2003; Caldas et al., 2007; Caldas, 2008;
2008a, 2008b]. No entanto, em termos agregados Tura e Costa, 2000; Murphy, 2001; Walker, 2003;
(ex. em escala estadual), os pequenos produtores Perz, 2001; Perz e Walker, 2002; Pichon et al.,
contribuem com uma pequena porção da 2002; Castallenet e Jordan, 2002; Costa et al.,
extensão da área de desmatamento regional, 2006; Browder et al., 2008, entre outros].
mesmo que essas áreas menores de Entretanto, proporcional à sua importância
desmatamento representem a maior parte dos demográfica e econômica, a contribuição dos
eventos de desmatamento na região. A pequenos produtores para o uso da terra e
ambiguidade na definição de pequenos produção regional de alimento continua invisível
produtores, especialmente quando considerados e estigmatizada aos olhos dos formuladores de
seus diversos backgrounds e motivações, e políticas públicas e de alguns setores da
estereótipos sobre sistemas de produção de população regional. Enquanto os produtores em
pequena escala como sendo destruidores e larga escala continuam sendo os responsáveis por
retrógrados, tem sido de vital importância para a impulsionar o desmatamento regional, os
interpretação de suas contribuições ao pequenos produtores desempenham um papel
desmatamento regional. Por essas razões, esta é ainda maior na região por meio da formação de
uma discussão que requer uma análise dos um complexo mosaico sócio-ecológico na região.
números e taxas relativos à mudança do uso da Eles conectam as áreas rurais e urbanas por meio
terra e considerações sobre a ecologia política de de redes sociais e econômicas [Padoch et al.,
desenvolvimento regional. Sistemas de produção 2008]; estão presentes em praticamente todas as
em pequena escala em geral são grosseiramente reservas não indígenas e estão cada vez mais
agrupados em uma única categoria e envolvidos em questões regionais de conservação
considerados desprovidos de tecnologia, com [Campos e Nepstad, 2006]; estão presentes por
aparência de campos abandonados, ao mesmo meio de áreas novas e consolidadas de expansão
tempo em que desconsiderados em termos de agropastoril [Costa, 2008; Moran et al., 2008]; são
sua produtividade, contribuição para a produção a base de uma ampla economia envolvendo os
de alimentos e agrodiversidade. Além disso, a recursos fluviais e florestais (Smith et al., 2007;
falta de dados sobre a contribuição dos sistemas Brondizio, 2008]; seus sistemas de produção
de produção em pequena escala para a economia, incluem um gradiente que compreende desde
a exportação, e para o fornecimento de alimento sistemas muito intensos, diversos e
para os centros urbanos, reforçou ainda mais a agronomicamente sofisticados a sistemas
falta de conhecimento sobre sua importância extensivos, oportunistas e não produtivos
regional. Neste contexto, alguns aspectos sobre [Pinedo-Vasquez et al., 2002, 2003; Silva-Forsberg
pequenos produtores têm visibilidade, enquanto e Fearnside, 1997; Marquardt, 2008; Brondizio e
outros permanecem invisíveis, dependendo dos Siqueira, 1997; Peroni et al., 2007; Smith et al.,
interlocutores [Brondizio, 2004; Costa, 2006]. 1996]; eles vivenciam violência e conflitos
Embora ainda haja muito o que aprender associados à terra e recursos [Simons, 2005];
sobre os sistemas de uso da terra em pequena representam movimentos políticos regionais em
escala na Amazônia, desde os anos 80 tem havido expansão [Campos, 2006]; e são como um
um aumento crescente de pesquisa que vem símbolo dos desafios da região diante das
esclarecendo alguns segmentos relacionados aos mudanças climáticas e perspectivas de
pequenos produtores, e em especial aos colonos, desenvolvimento sustentável [Ozório de Almeida
que representam um grupo importante que e Campari, 1995; Zarin et al., 2004; Brondizio e
impulsiona as mudanças no uso da terra da região Moran, 2008].
[ex. Moran, 1981, 1990; Smith, 1982; Fearnside, Este capítulo discute a relação entre
1986; Lena e Oliveira, 1992; Araujo, 1993; pequenos produtores (e pequenos proprietários
Caviglia, 1999; Jones et al., 1995; McCracken et em geral) e o uso da terra e desmatamento, com

3
foco maior nos últimos 30 anos de colonização colonização no Estados do Pará, Acre e Rondônia
amazônica. Nossa análise chama a atenção para no Brasil e áreas de colonização na Amazônia
os aspectos comuns que unem diferentes grupos Equatoriana (Figura 1).
sociais, como os pequenos produtores (ex.,
identidade social, acesso à terra e recursos, Figura 1. Densidade de população rural (pessoas*km–
2
tecnologia, mercado e crédito), assim como para ), conforme IBGE (Censo de 2000, disponível em:
a variabilidade entre pequenos produtores em http://www.sidra.ibge.gov.br/defaulted2000.asp?o+2
termos de tempo de permanência na região &+P) para os estados fronteiriços da Amazônia Legal;
(desde as populações nativas até os colonizadores localização de áreas de estudo na Amazônia
equatoriana e brasileira; e localização de
recentes) e outras variáveis. Esses aspectos são
assentamentos rurais, áreas protegidas, rios, rodovias,
fatores importantes que têm influenciado
capitais e cidades.
comportamentos de uso da terra e
desmatamento na região. Iniciamos com a
(Nossa cobertura restrita ao Brasil e Equador,
discussão das diferentes definições daquilo que
baseada em projetos relacionados ao LBA, não
constitui os pequenos produtores na região, com
inclui dinâmicas importantes associadas aos
base em categorias tais como grupos históricos,
pequenos produtores da Bolívia, Peru, Colômbia e
renda e tamanho da propriedade rural. (Embora
Venezuela, as quais envolvem processos
nossa análise considere na definição de pequenos
similares, mas também muitos outros diferentes
produtores aqueles que podem não ser
processos associados às mudanças em políticas
proprietários de terra e trabalhem como
públicas, economia e demografia; produção de
arrendatários, não examinamos os movimentos
cultivos e drogas ilegais e várias formas de
dos sem-terra na região, uma vez que a
conflitos gerados pelas concessões para atividade
complexidade desse tópico requereria um artigo
madeireira em grande escala, produtores em
completo voltado para essa questão.) Seguindo
larga escala, empresas de petróleo e programas
um exame das trajetórias do desmatamento no
governamentais. Entretanto, acreditamos que a
plano regional, de assentamento (grupos de lotes
maior parte das questões discutidas aqui a partir
de propriedades rurais) e lotes individuais de
de perspectivas do Brasil e do Equador também
propriedades rurais, focamos nossa discussão em
são relevantes a outros países amazônicos.)
três conceitos errôneos que vêm sendo usados
Dados de apoio e análises estatísticas, muitos dos
para definir pequenos produtores e suas
quais publicados em outros meios, envolvem
contribuições para a economia regional,
levantamentos de domicílios e propriedades
desenvolvimento e desmatamento: (1) os
rurais, investigações etnográficas de longo prazo,
pequenos produtores aplicam sistemas de uso da
assim como sensoriamento remoto multitemporal
terra tradicionais associados à baixa e extensiva
e análise espacial usada para avaliar a
produtividade, ao desmatamento extensivo e à
contribuição dos produtores em diferentes
produção para subsistência, (2) pequenos
escalas para o desmatamento regional.
produtores contribuem para o desmatamento
amazônico tanto quanto os grandes produtores e
(3) pequenos produtores, especialmente os
2. DEFININDO PEQUENOS PRODUTORES NA
produtores colonos, seguem um caminho
AMAZÔNIA
inexorável de desmatamento, exceto quando
controlados por ações governamentais. Baseamos
Embora os pequenos produtores continuem
nossa discussão em sítios de pesquisa de longo
analiticamente mal definidos, tem havido
prazo, nos quais os coautores deste capítulo
interesse crescente para o entendimento das
trabalharam como parte do programa mais
diferenças e similaridades socioculturais e
amplo, o Large-Scale Biosphere-Atmosphere (LBA)
políticas entre os diferentes grupos sociais e
Experiment in Amazonia Program [Batistella e
categorias agrupadas como camponeses
Moran, 2005; Costa et al., 2007; Batistella et al.,
amazônicos [Brondizio, 2004]; Adams et al.,
2008], em que incluem assentamentos de
2008]. O uso desses termos tem variado
4
enormemente de acordo com o interlocutor, 2.1. Categorias Históricas
objetivo e contexto político, ou região de
interesse. Três definições tipológicas comuns de As categorias históricas e sociais em geral têm
pequenos produtores e pequenos proprietários sido usadas para diferenciar grupos relacionados
têm sido empregadas na região, baseadas (1) nas à história colonial da região de migrantes
categorias históricas e sociais, (2) nas classes recentes, mas não tem sido claras com relação
econômicas e renda, ou (3) em classes baseadas aos grupos intermediários. Por exemplo, diversos
na terra, tais como o tamanho da propriedade. grupos sociais têm sido classificados sob a
denominação Caboclo, termo que tem sido usado
Tabela 1. Categorias de classe por tamanho da para descrever populações indígenas históricas ou
propriedade por renda e área do Fundo Constitucional “tradicionais” as quais, até recentemente,
de Financiamento do Programa Norte (FNO), Instituto carregavam um forte estigma e conotação
Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), e negativa [Brondizio, 2004, 2008; Adams et al.,
Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE) 2008; Hiraoka, 1992]. Durante a década passada,
para o Brasil e norte da Amazônia equatoriana.*
o conceito de “população tradicional” para se
________
referir a grupos históricos de camponeses que
*Dados do norte da Amazônia equatoriana são de
Bilsborrow et al., [2004]. Note que as colunas são
praticavam sistemas de uso da terra de base
independentes umas das outras. florestal em pequena escala e que
frequentemente ocupavam áreas de interesse
A Tabela 1 apresenta uma ilustração comparativa para conservação florestal tornou-se um
de diferentes tipologias para caracterizar grupos instrumento legal cada vez mais popular e
de propriedades ou produtores com base em significativo para garantir o direito à terra a
critérios econômicos e tamanhos das inúmeras comunidades e famílias de pequenos
propriedades. Uma categorização alternativa, proprietários, caracterizados como pequenos
baseada na organização de mão de obra da produtores, extrativistas, quilombolas,
propriedade e estrutura de classe mais ampla, foi pescadores e/ou muitas outras denominações
proposta pelo Instituto Nacional de Colonização e históricas e regionais. Esse conceito, por sua vez,
reforma Agrária (INCRA) [INCRA/FAO, 2000] e tornou-se um marcador de identidade da
define as operações de base familiar em ascendência cultural em toda a região.
contraposição às operações agrícolas de base Entretanto, passível de discussão, o uso
patronal (ou seja, indicador de grandes acadêmico-político do termo “populações
produtores) e da fazenda. A agricultura familiar, tradicionais”, quando associado a sistemas de uso
neste caso, é definida (1) quando o principal da terra em pequena escala tem criado mais
tomador de decisão é o produtor, (2) o número ambiguidade e problemas do que tem resolvido;
de trabalhadores remunerados equivale ao esse tópico, embora relevante à discussão sobre
número de trabalhadores familiares, e (3) a pequenos produtores amazônicos e
propriedade é pequena ou equivalente ao padrão desmatamento, vai além do escopo deste
regional [Guanziroli et al., 2001]. (A mão de obra trabalho [DeCastro et al., 2006; Barreto-Filho,
familiar inclui indivíduos com 14 anos de idade ou 2006].
mais; indivíduos com menos de 14 anos são Talvez ainda mais abrangente seja o termo
considerados, mas para trabalhar em regime colono, ou fazendeiro migrante, que tem sido
parcial (50%). Cada região do Brasil mantém um comumente usado na literatura sobre uso da
critério de tamanho máximo de propriedade terra para descrever grupos mais recentes de
estabelecido pelo governo federal; portanto, as migrantes, cuja chegada em geral é espontânea
propriedades familiares não podem exceder as ou se dá por meio de projetos de assentamento
exigências regionais. No caso da região norte, a planejados pelo governo [Brondizio, 2004; Caldas
área máxima de uma propriedade são 1.122 ha et al., 2007]. Na Amazônia brasileira, por
[Guanziroli et al., 2001]. exemplo, a história de assentamento planejado e
de colonização patrocinada pelo governo data do

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final do século dezenove com a formação de começou a declinar em razão da competição com
assentamentos ao longo da ferrovia Belém- produtores asiáticos [Gentil, 1988; Winkerprins,
Bragantina, projetada para servir como áreas de 2008]. Após o declínio na produção, a maior parte
produção de alimento em uma região dedicada à das famílias japonesas deixou a região da baixa
expansão da economia extrativista da borracha. Amazônia e migrou para outras regiões do Brasil,
Seguindo o declínio da borracha como uma principalmente para as capitais, embora a juta
commodity de exportação significativa por volta ainda continue a ser cultivada pelas populações
de 1910, pequenas ondas de migração locais.
influenciaram a ocupação da região em cidades Embora algumas regiões como a de Santarém,
no entorno da região como Santarém e Belém, e na baixa Amazônia, tenham vivenciado ondas
em menor extensão, em alguns estados da região, migratórias significativas durante os anos de 1950
embora essa migração tenha sido amplamente e 1960, particularmente oriundas do nordeste do
esparsa, em comparação com fluxos migratórios Brasil, a taxa de migração de pequenos
posteriores. fazendeiros subiu drasticamente após 1970 como
Com início na década de 1930, os resultado de programas patrocinados pelo
colonizadores japoneses no Estado do Pará governo, os quais selecionaram famílias com base
lideraram uma nova onda de sistemas de uso da em sua origem, idade e composição para serem
terra em pequena escala e, subsequentemente, assentadas em várias partes da Amazônia [Moran,
os japoneses assentados e seus descendentes 1981]. Esse processo concentrou-se
experimentaram novas formas de sistemas de uso particularmente ao longo de sistemas viários
da terra em pequena escala. Essa experimentação construídos como parte de diferentes esquemas
com várias culturas e diferentes formas de cultivo de integração nacional e de colonização, incluindo
permitiu que se tornassem um dos maiores áreas ao longo da Rodovia Transamazônica no
produtores mundiais de pimenta do reino na Estado do Pará, Estado de Rondônia, e mais tarde,
década de 1960. Mesmo com um acentuado no Estado do Acre; essas mudanças foram
declínio da produção de pimenta do reino no final expressivas, em alguns casos, dobrando a cada
dessa década como resultado da doença Fusarium ano o número de pessoas que migrava para áreas
e da queda dos preços praticados no mercado rurais. Entretanto, uma parte significativa desse
mundial, os colonos japoneses, como os da movimento migratório para as áreas rurais e
comunidade de Tomé-Açu, continuaram a inovar, assentamentos de colonização na década de 1970
introduzindo novas formas de sistemas logo foi desconsiderada e abandonada sem apoio
agroflorestais intensivos que priorizaram a adequado, rodovias trafegáveis e serviços de
produção de frutas de alto valor, associada ao infraestrutura em áreas rurais. Muitos acabaram
processamento de plantas para exportação. se mudando para áreas urbanas e centros
Cooperativas tais como a Cooperativa Agrícola urbanos emergentes nas proximidades [Browder e
Mista de Tomé Açu (CAMTA) mostraram o Godfrey, 1997], resultando eventualmente na
potencial de produção intensiva em pequena intensificação do processo de turnover de lotes de
escala associado às indústrias e redes de terra que caracterizou o insucesso e o
exportação para agregar valor à produção local desinteresse por áreas de colonização na região e
[Yamada, 1999]. Além da pimenta do reino e o paradoxo de agregação de terra em áreas de
frutas nativas produzidas na baixa Amazônia, a reforma agrária [Ludewigs et al., 2009; Campari,
comunidade japonesa também cultivou juta 2002].
(Corchorus capsularis), uma fibra vegetal que foi Assim como em áreas de fronteira da
introduzida na Amazônia por um agrônomo Amazônia brasileira, mencionadas a seguir, na
japonês. A produção de juta desenvolveu-se NEA, o desmatamento e a mudança no uso da
rapidamente, e a Amazônia tornou-se um dos terra por agricultores migrantes, em geral foram
principais produtores internacionais dessa espécie seguidos pela construção de infraestrutura
por mais de 40 anos, até o final da década de (especialmente estradas) para extração de
1970, quando a produção de juta no Brasil petróleo. Companhias petrolíferas no início da

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década de 1970 construíram estradas para a organização de pequenos proprietários em
instalação de oleodutos para a extração de cooperativas e associações de produtores. A
petróleo. Famílias em busca de terra se região atualmente abriga uma variedade de
espalharam na região, principalmente oriundas associações de produtores e confederações que
das regiões de Sierra ou Highlands, caracterizadas buscam unir diferentes setores de populações
por considerável concentração de sem terra e de rurais). De modo geral, 72,3% das fazendas na
propriedades ao longo das estradas. Propriedades Amazônia brasileira têm renda total abaixo de
de aproximadamente 50 ha (250 por 2.000 m) US$ 1,500, 22% estão entre US$ 1.500 e US$
foram estabelecidos ao longo das estradas. 4.000 e menos de 2% estão acima de US$ 7.500
Quando a disponibilidade de terra se esgotava em [INCRA/FAO, 2000], (com base na taxa cambial de
uma área ou setor ao longo das principais US$ 1/R$2). Na Amazônia equatoriana, a renda
estradas, a próxima onda de famílias então se média varia de US$ 482 (lotes de fazenda <2ha) a
assentava atrás dos primeiros assentados, em US$ 4.000 (propriedades de 60 a 90 ha).
terrenos paralelos aos das estradas, nas Em particular, os programas de crédito em
chamadas linhas (geralmente de 2 km) atrás das geral definem os produtores com base na renda
propriedades ao longo das estradas. como o indicador de diferenciação que permite o
Eventualmente, as propriedades eram acesso de produtores individuais e em grupos a
estabelecidas e ratificadas pelo IERAC, em geral diferentes programas de crédito (Tabela 1). Por
até a quinta ou sexta linha, embora algumas exemplo, o programa Fundo Constitucional de
tenham atingido a 14ª linha. Até hoje, a indústria Financiamento do Norte (FNO), controlado pelo
petrolífera e serviços relacionados permanece Banco da Amazônia (BASA), define categorias de
como um fator de atração de migrantes para a produtores de acordo com suas rendas, apesar de
NEA. utilizar uma variação questionável de grupos de
renda para representar ou, potencialmente, mal
2.2. Categorias Econômicas representar a realidade dos produtores rurais da
região e o modo como diferentes grupos se
Categorias econômicas e de renda têm beneficiam do crédito. A renda, especificamente a
também sido usadas para diferenciar pequenos e produção bruta anual (PBA), é usada para
grandes proprietários de terra envolvidos nas classificar os produtores em quatro categorias: (1)
economias agropecuárias. (É importante notar mini produtores, (2) produtores em pequena
que os movimentos sociais, tais como aqueles escala, (3) produtores em média escala, e (4)
representados pelo Pesagri, sindicatos de grandes produtores. Entretanto, o PBA usado
trabalhadores rurais, “Grito da Terra”, e várias para definir cada categoria parece distante da
outras organizações locais e regionais, tendem a realidade da maioria das famílias de áreas rurais.
usar a classe histórica para estabelecer a distinção Produtores em mini escala, por exemplo, têm um
entre patronal (grandes proprietários de terra, PBA correspondente a menos de US$ 13,800 por
elites locais) e força de trabalho rural (incluindo ano, enquanto os pequenos ficam entre US$
pequenos proprietários). Alguns dos movimentos 13,800 a US$ 27,600 por ano. Produtores em
sociais mais fortes, entretanto, estão associados à média escala estão incluídos entre US$ 27.600 a
linhagem e aos sistemas históricos de uso da US$ 172.400 por ano, e acima dessa renda
terra, como é o caso do movimento de extratores incluem-se os grandes produtores [BASA, 2002,
de borracha, que emergiu sob a liderança do líder 2004]. De acordo com dados do INCRA
sindical rural Chico Mendes, mas se transformou [INCRA/FAO, 2000) e do Instituto Brasileiro de
na representação de um modo de vida e em uma Geografia e Estatística (IBGE), a renda média
economia baseada na associação histórica entre o familiar (renda total) da região norte é em torno
produtor, ou extrativista, e a floresta. A igreja, de R$ 2.904,00 (aproximadamente US$ 1,540),
particularmente por meio de movimentos enquanto do estabelecimento tem é, em média,
associados aos comitês pastorais da terra, teve de RS$ 1.935 (aproximadamente US$ 1.025). A
um papel importante, contribuindo para a renda dos “grandes” proprietários (patronagem) é

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entre RS$ 11.883,00 e RS$ 9.691 Embora os lotes da periferia urbana e áreas com
(aproximadamente US$ 6,300 e US$ 5,137), longa história de assentamento tenham mostrado
respectivamente. Não é de se surpreender, tendência a agrupar lotes que variam de 1 a 50
portanto, que o BASA tenha caracterizado a ha, os lotes alocados em áreas de colonização
distribuição de crédito do FNO como geralmente variam de 50 a 150 ha, embora em
extremamente benéfica para minis e pequenos alguns casos sejam incluídos lotes acima de 400
produtores (62% dessas categorias recebem ha, usualmente designados “glebas”. De modo
fundos), embora na prática, os grupos que geral, a área média de propriedades familiares na
recebem crédito também incluem os médios e Amazônia é de 57 ha, enquanto a área média de
grandes produtores. grandes propriedades é de 1.009 hectares (em
Levantamentos de campo [Brondízio, 2004) comparação com a média brasileira de 26 e 433
indicam que a taxa de obtenção de crédito por ha, respectivamente) [Guanziroli et al., 2001]. Em
colonos varia significativamente de acordo com a alguns casos, entretanto, famílias assentadas em
disponibilidade e condições de programas de reservas extrativistas podem ter acesso à áreas
crédito do governo. Entretanto, no período de 30 significativamente maiores, usualmente mediante
anos de assentamento ao longo da Rodovia a combinação de áreas particulares e
Transamazônica, constatamos que 56% das comunitárias.
famílias entrevistadas receberam crédito pelo Tamanhos de clareiras agrícolas, derivadas de
menos uma vez. A taxa anual de obtenção, avaliações espaciais de desmatamento, tais como
entretanto, é menos de 10%. Esses números são formuladas pelo Programa de Cálculo do
significativamente mais baixos na região de Departamento da Amazônia (PRODES) do
Santarém-Belterra. Levantamento recente (2007- Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, São
2008) de produtores ribeirinhos no estuário do Paulo (INPE), Brasil, têm sido usados como
Amazonas mostra que mais de 90% dos indicadores para definir categorias de produtores
produtores nunca receberam crédito para rurais. Embora dados sintetizados pelo INPE-
atividades de uso da terra, embora representem PRODES incluam áreas desmatadas de 1 a 15 ha e
o setor mais importante da produção de açaí do de 15 a 50 ha, esses intervalos têm sido usados
mercado regional e externo [Brondízio, 2009]. pela mídia, por exemplo, para descrever
Em todas essas regiões, entretanto, desde 2006 desmatamento feito por “pequenos produtores”.
tem havido um leve aumento de pequenos Dados de campo, entretanto, têm indicado que a
empréstimos, tipicamente abaixo de US$ 500.00, maioria de pequenas propriedades rurais que
do programa FNO. Esses empréstimos têm sido tende a desmatar áreas (isto é, eventos anuais de
concedidos para atividades de semeadura ou desmatamento) menores que 5 ha, em média,
manutenção de campos existentes. Entretanto, não dispõem de recursos (isto é, mão de obra e
esses programas não oferecem qualquer tipo de capital) para desmatar áreas maiores, e
assistência ou monitoramento e têm funcionado geralmente desmatam de 0,5 a 3 ha por ano
mais como pequenas doações do que como [Brondizio et al., 2002]. No entanto, para o
crédito agrícola envolvendo monitoramento e objetivo de nossa análise, particularmente em
assistência. nível regional e agregado, o tamanho das clareiras
fornece um indicador comparativo aceitável para
2.3. Propriedade da Terra e Categorias de entender a composição de eventos que compõem
Desmatamento o desmatamento regional. Na ausência de
melhores dados, essas avaliações fornecem um
Categorias de tamanhos de propriedade indicador para comparar a contribuição de
foram usadas de vários modos para representar “pequenos” e “grandes” produtores ao
grupos de produtores. Para a categorização de desmatamento regional.
pequenos produtores, a escala de tamanho varia
amplamente nas diferentes partes da região e
deve, portanto, ser vista em termos relativos. 3. MÉTODOS

8
Nossa análise baseia-se em observações de 1999; Deadman et al., 2004; Siqueira et al., 2007;
campo e dados bibliográficos de diferentes áreas Lim et al., 2002; Evans et al., 2001]. No sítio de
da Bacia Amazônica, inclusive de assentamentos estudo de Uruará, desenvolvemos um estudo de
de colonização ao longo da BR-230, rodovia pequenas propriedades, tipicamente lotes de um
Transamazônica (Altamira, Brasil Novo, a mais de 100 ha (tamanho médio das
Medicilândia, Uruará) e a BR-163 (Santarém, propriedades da amostragem é de 113 ha),
Belterra); comunidades rurais no estuário do localizadas em distância considerável
Amazonas (Ponta de Pedras) no Estado do Pará; (aproximadamente 18 km) da Rodovia
áreas de colonização nos estados brasileiros do Transamazônica. Este estudo utilizou
Acre (Porto Acre) e Rondônia (Machadinho, levantamentos de domicílios para analisar o
Anari); e áreas de colonização na NEA. Além da acesso ao mercado e processo fundiário (isto é, a
variação na qualidade do solo e tipos de floresta, distância da principal rodovia), dependência
esses sítios têm diferentes histórias demográficas domiciliar (ou seja, o número de indivíduos não
e de colonização. Nossa análise também inclui engajados em trabalho agrícola como crianças,
observações de campo e bibliografia referentes mulheres e idosos), estrutura familiar do
aos pequenos proprietários que vivem em domicílio (isto é, contagem de indivíduos em
reservas extrativistas [tais como a Floresta coortes de faixa etária e gênero), quantidade de
Nacional do Tapajós (Flona Tapajós) próximo a mão de obra empregada (diárias por pessoa),
Santarém] e proprietários na periferia urbana, tais idade do chefe de família, acesso e uso de crédito
como no entorno de Altamira e Santarém, onde agrícola para as atividades da propriedade, e
desenvolvemos pesquisa de campo. tempo (em anos) de residência na propriedade.
Os sítios de estudo em Altamira, Brasil Novo, Em geral, os sistemas de culturas anuais são
Medicilância e Uruará eram parte de um grande altamente diversificados (53% das propriedades
programa de colonização e assentamento estudadas adotaram algum tipo de sistema anual,
regulamentado pelo INCRA, iniciado na década de tais como arroz, feijão e milho), culturas perenes
1970 com a abertura da Rodovia Transamazônica. (72% das propriedades estudadas adotaram
Nos sítios de estudo de Altamira, Brasil Novo, e algum tipo de sistema perene, incluindo café,
Medicilância, desenvolvemos estudos que cacau e pimenta) e pastagem (95% das
compreenderam 3.718 lotes de fazenda ao longo propriedades estudadas criavam gado). Pastagem
da Rodovia Transamazônica e travessões usando é o uso da terra dominante e cada propriedade
uma amostra aleatória estratificada de 402 e 399 tem em média cerca de 23 ha, o que é comum
fazendas durante 1997 e 2004, respectivamente, para os colonos amazônicos [ver Walter, 2003].
com uma subamostragem de 171 em 2001. Esses Nos sítios de Santarém e Belterra, foram
estudos incluem levantamentos estudados 5.953 lotes de fazenda com
sociodemográficos e econômicos de amostragem aleatória estratificada de 244 e 401
proprietários, estratificados por tempo na região. em 2001 e 2003, respectivamente, e estudos no
O grupo de pesquisa coletou um conjunto de âmbito das comunidades (n = 409) [D’Antona et
dados relacionados à alocação de uso da terra ao al., 2008; Vanwey et al., 2007]. A região de
longo do tempo, tecnologia, mercado, crédito, e Santarém apresentava, até recentemente, a
uso dos recursos florestais,e um conjunto maior proporção de vegetação secundária, e a
relacionado às histórias de reprodução familiar e menor adoção de cultivos perenes (36%) e
migratórias, e arranjos socioeconômicos e de mão pecuária (46%), mas 77% das propriedades
de obra. Em média, as atividades da propriedade produziam cultivos anuais.
são bem diversas em Altamira, com produtores Localizados a aproximadamente 400 km da
produzindo cultivos anuais (50% das propriedades capital do estado, Porto Velho, os sítios de
estudadas), cacau e outros perenes (35%), gado pesquisa de Machadinho e vale do Anari têm
(95%) e atividades horticulturais (40%) [Siqueira diferentes histórias e desenhos de assentamento.
et al., 2003; Moran et al., 2005; Vanwey et al., Estudos comparativos desses sítios incluíram
2007; Brondizio et al., 2002; McCracken et al., levantamentos socioeconômicos longitudinais,

9
análise institucional no nível do assentamento, implantado em 1981 com o objetivo de subdividir
estudos ecológicos de campo e inventários de a extração da borracha em 948 lotes. O
vegetação, sensoriamento remoto, análise de levantamento desse sítio foi realizado em 2003 e
fragmentação de paisagem [Batistella, 2001]. O 2004 (n = 98 fazendas) [Ludewigs, 2006]. O sítio
assentamento de Machadinho começou em uma do Acre reflete a região de estudo da Rodovia
área de 2.090 km2 com 2.934 locais designados Transamazônica, que experimentou alta taxa de
para receber pequenos produtores colonos de uso de pastagem (95%), mas baixas taxas de
outros estados. Em 1989, a população rural cultivos perenes (42%) e anuais (48%).
representava dois terços da população de O sítio de estudo da NEA localiza-se em uma
Machadinho. Quase dez anos mais tarde, a área de assentamento que também tem sido
população rural caiu para um terço do total. Vale considerada uma área de alta diversidade
do Anari começou um assentamento espontâneo, biológica e cultural [Myers, 1990; Orme et al.,
mas mais tarde estabeleceu-se como área de 2005]. Similares a muitos assentamentos na
colonização planejada pelo INCRA no início da Amazônia brasileira, as fazendas equatorianas
década de 1980 e, em 1994, tornou-se município. aprovadas pelo IERAC eram, em sua maioria,
Assim como em outras áreas de colonização, homogêneas em tamanho, cada uma com
faltou assistência, infraestrutura urbana e aproximadamente 50 ha, as quais foram
autonomia administrativa. Essas dinâmicas rapidamente adquiridas, em parte para ludibriar a
levaram os dois assentamentos a terem criação de dois parques nacionais e áreas
diferentes arranjos institucionais, regras de uso protegidas na região e a demarcação de terras
florestal, e resultados em termos das interações destinadas às comunidades indígenas, muitas
entre os colonos e o meio ambiente [Batistella et delas vivendo em situação seminomádica há
al., 2003]. A maioria dos colonos dessa área é séculos na região. Isso significou que a
originária do sul do Brasil, principalmente do continuação migratória após 1990, quando a
Estado do Paraná, e traz consigo sistemas de maioria das áreas sem título de propriedade tinha
produção específicos. O resultado, em termos de sido ocupada por famílias de colonos, levou a um
organização de áreas de fazenda, é um mosaico processo de subdivisão de fazendas de fincas
de áreas de pastagem, cultivos perenes, originais, resultando em fazendas até menores.
principalmente de café e cacau, e cultivos anuais Desse modo, o tamanho médio de fazenda
(milho, arroz e café). As características da diminuiu de 46,5 ha em 1990 para apenas 25,5 ha
cobertura vegetal são também definidas por em 1999 [Bilsborrow et al., 2004]. Utilizamos
diferentes estágios de ocupação da terra e pela dados de levantamentos longitudinais de
sucessão secundária que se contrasta com a domicílios administrados em 1990 e 1999. O
floresta chuvosa nativa [Batistella et al., 2003]. levantamento baseou-se em uma amostra de
No sítio do estuário do Amazonas, município probabilidade estatisticamente representativa de
de Ponta de Pedras (Estado do Pará), foi realizada 470 áreas de fazenda selecionadas em 1990
etnografia longitudinal e levantamentos de usando amostragem em dois estágios, com listas
domicílios (n = 143) e de comunidades (n = 6) de áreas de assentamento com o número de
diferenciados por histórias econômicas e fazendas e a área total de cada uma constituindo
institucionais e título de propriedade da terra o quadro de amostra. No primeiro estágio, 64
[Brondizio, 2008]. Comunidades estuarinas dessa cooperativas, ou áreas de colonização (setores),
área adotam mais de 95% de agroflorestamento foram selecionadas com probabilidades
de açaí e mostram taxa decrescente de cultivos proporcionais ao tamanho. No segundo estágio, o
anuais como mandioca, e abandono de áreas de número de fazendas selecionadas aleatoriamente
pastagem e agricultura mecanizada implantada de cada setor amostrado baseou-se no tamanho
durante as décadas de 1970 e 1980 por projetos do setor (chamado in-sampling, probabilidades
de desenvolvimento externos. proporcionais ao tamanho estimado). Foram
O sítio de estudo de Humaitá foi parte do aplicados questionários para cada chefe de
assentamento de Humaitá no Estado do Acre, família e esposa, que compunham, juntos, a

10
situação econômica de residência anterior, título 4.1. Tamanho de Clareiras como Indicador de
de propriedade da terra e de aquisição na NEA, Desmatamentos no Âmbito Estadual e
uso da terra, tecnologia e produção agrícola, Regional
trabalho dentro e fora da fazenda, crédito,
composição domiciliar, migração, fertilidade, Comparando-se o desmatamento em escala
saúde, qualidade de moradia, bens de família, estadual no Brasil relativo a 2003 usando dados
contatos com comunidades locais para serviços, sobre tamanho de clareiras [INPE-PRODES, 2003],
etc. O número de domicílios aumentou observamos que nos Estados do Pará, Acre e
grandemente entre 1990 e 1999, devido a ambas Rondônia, as pequenas clareiras (até 20 ha, por
as subdivisões entre rebanhos e vendas a novos exemplo) são as classes de tamanho mais
migrantes que continuam a chegar à região em frequentes de desmatamento, compreendendo
busca de terra. aproximadamente 88,1% do número total de
Para derivar estimativas de desmatamento clareiras em florestas no Acre, 74,0% do total de
em níveis estaduais, regionais e no âmbito das clareiras no Pará, e 73,2% do total de clareiras em
fazendas de cada uma dessas áreas, foram usados Rondônia. Entretanto, quando se considera a área
dados e análises de sensoriamento remoto. Para desmatada, observamos que essas mesmas
análises das fazendas e assentamentos, grupos de clareiras contribuíram com apenas 7,6%, 3,2% e
pesquisa forneceram estimativas de suas 2,1%, respectivamente, do total de
respectivas áreas de estudo. Dados da Amazônia desmatamento nesses estados (Tabela 2).
brasileira foram baseados nos dados do PRODES
2003 do INPE e coletados nos Estados do Acre, Tabela 2. Frequência e porcentagem de polígonos de
Pará e Rondônia [INPE/PRODES, 2003], todos eles desmatamento e tamanhos de polígonos de
desmatamento em 2003, Dados para o Acre, Pará e
com populações relativamente grandes de
Rondônia do PRODES, 2003.
pequenos produtores. Dados do PRODES foram
agregados em quatro classes: desmatamento,
As maiores clareiras (acima de 2.000 ha)
floresta, água e outros (ex., nuvens e áreas
compreenderam apenas cerca de 0,10%, 0,47% e
desmatadas mais antigas) e analisados usando o
0,40% do número total de eventos de derrubada
ArcGIS (Environmental Systems Research Institute
no Acre, Pará e Rondônia, respectivamente, mas
(ESRI), Redlands, CA) para avaliar o número e
responderam por 86,0%, 91,2% e 94,5% da área
tamanho de clareiras (isto é, polígonos de
total desmatada, respectivamente. Esse resultado
desmatamento nos dados do PRODES) e
indica que as grandes clareiras são os traços mais
quantidade e percentual de área desmatada (isto
predominantes de desmatamento em cada
é, área de cada evento de desmatamento).
estado. A inclusão do Estado de Mato Grosso
Cada um desses casos relatados neste
certamente reforçaria esse padrão. Essas grandes
capítulo se beneficia de uma longa lista de
clareiras compõem-se de desmatamento de
publicações, parte dela citada aqui. Não é nossa
grandes áreas ou de várias propriedades
intenção desenvolver novas análises estatísticas
adjacentes que formam uma grande área de
de dados primários, mas nos referir a trabalhos
desmatamento. Ao longo desses três estados
publicados à medida que buscamos entender
brasileiros, verificamos que o número total de
similaridades e diferenças entre pequenos
clareiras abaixo de 20 ha contribuiu para uma
produtores ao longo da região.
pequena proporção da área total desmatada. O
Acre teve maior número de pequenas clareiras
(ex., clareiras menores que 20 ha), que
4. EXAMINANDO FATORES E PADRÕES
contribuíram com uma maior quantidade de áreas
TEMPORAIS ASSOCIADOS AO
desmatadas em comparação com o Pará e
DESMATAMENTO DE PEQUENOS
Rondônia em termos de classes de de tamanho
PRODUTORES NA AMAZÔNIA
similar de clareira. Entretanto, o tanto o Pará
quanto Rondônia tiveram um maior número de
grandes clareiras (acima de 2.000 ha), o que
11
contribuiu para uma maior área total desmatada processo principal de alteração florestal, o
do que o Acre. impacto de outros processos nos ecossistemas
Embora a contribuição de pequenos florestais não deveria ser descartado; por
produtores para o total de desmatamento exemplo, dois grandes projetos agroindustriais,
regional seja relativamente menor, sua que tiveram início em 1973 quando foram
contribuição varia ao longo dos estados e dentro outorgados títulos de posse da terra a duas
deles e, como tal, apresenta diferentes empresas para o estabelecimento de plantações
consequências ambientais. O grande número de de palmito africano, desmataram uma área
eventos de derrubada, apesar de relativamente conjugada de aproximadamente 20.000 ha
pequenos em termos de área total, tem [Santos e Messina, 2008], o equivalente a 400
importantes implicações para mudanças fazendas ou cerca de 1,8% da área de colonização
ambientais, dependendo de seu contexto na [área de colonização calculada de áreas de pré-
paisagem. Em áreas de colonização, por exemplo, cooperativas de assentamento na Zona de
o desenho do assentamento e o arranjo Aguarico e Coca do Instituto Ecuatoriana de
institucional contribuem para o padrão espacial Reforma Agraria y Colonización (IERAC)] na NEA.
cumulativo de cobertura florestal e distribuição Quando se compara o desmatamento ao
de desmatamento [Batistella, 2001; Batistella et longo de assentamentos de colonização em
al., 2003]. Dependendo do desenho da diferentes partes da região, observa-se que
propriedade de determinados assentamentos, diferenças inter-regionais nas taxas de
pequenas clareiras isoladas podem ser somadas desmatamento florestal estão intimamente
para representar mudança ambiental de grande relacionadas à idade e à história do assentamento
escala. Além disso, a diversidade de sistemas de (Figura 2). Por exemplo, a região de Santarém-
uso da terra e o papel e intensidade de pressões Belterra já experimentou desmatamento antes de
externas tornam difícil generalizar a contribuição 1970, mas ocorreram altas taxas de conversão de
de pequenos produtores ao meio ambiente florestas em usos agropastoris entre 1973 e 1979,
regional como um todo. Em muitos casos, seguidas de regeneração secundária em ampla
encontram-se interações produtivas entre a escala. Após esse período, a migração
agroecologia e os arranjos espaciais e temporais permaneceu relativamente mais baixa até a
de sistemas de produção locais e suas paisagens. recente expansão da soja iniciada em 1999.
Justamente por isso, em contextos específicos,
eles podem causar impacto ao habitat da vida Figura 2. Porcentagem de terra desmatada por lotes
selvagem e à população, contribuir para a de fazenda em assentamentos agrícolas em Porto
diminuição de recursos e erosão do solo, e para a Acre, Santarém, e Altamira, Brasil (quadrados
propagação de fogos acidentais na floresta correspondem aos valores médios, incluídos dentro do
[Toniolo, 2004; Sorrensen, 2004]. quartil de cada período de tempo.
De acordo com a FAO, o Equador teve a taxa
mais alta de desmatamento da América do Sul Em Altamira, foram observados pulsos de
nas duas últimas décadas [FAO, 2001, 2005], e desmatamento coincidindo com taxas de
dentro do Equador, a NEA é a segunda frente migração e ocupação da terra (1973-1979),
mais ativa de desmatamento, depois da região de seguidos por declínios (1985 – 1993) e
Chocó na província costeira de Esmeraldas [Sierra, subsequente expansão da pecuária e
2000]. Embora as taxas de desmatamento desmatamento, tais como durante o período de
estejam diminuindo na NEA, de 2,5% de 1997 – 2003. O sítio do Acre experimentou picos
derrubada ao ano entre 1986 e 1996 e 1,8% ao de desmatamento no final da década de 1980 e
ano entre 1996 e 2002, essas taxas ainda são na segunda metade dos anos 1990. Em todos
comparativamente altas [Mena et al., 2006b]. esses casos é importante observar a variabilidade
Apesar de o pequeno produtor ser o agente mais das taxas de desmatamento entre áreas de
importante de desmatamento na Amazônia fazenda dentro do mesmo assentamento. No
equatoriana e de a agricultura familiar ser o estuário do Amazonas, entretanto, observa-se
tendência oposta no desmatamento, associada
12
com a intensificação de sistemas agroflorestais de A taxa estimada de desmatamento e os
pequena escala desenvolvidos por produtores fatores que podem explicar essa taxa são
ribeirinhos e a existência de uma floresta sensíveis à unidade de medição, particularmente
diversificada e de economias com recursos quando avaliados em relação ao tamanho da
baseados no rio, fortemente engajadas nos propriedade.
mercados regionais e globais [Pinedo-Vasquez e
Padoch, 2009; Pinedo-Vasquez et al., 2001; Smith Figura 3. Mudança da cobertura da terra (área em
et al., 2007; Bondizio, 2008]. Por mais de duas porcentagem de lotes de fazenda) de acordo com as
décadas, o estuário tem passado por uma classes de tamanho do lote da fazenda na BR-163
“transição de floresta” associada ao declínio de Santarém-Região de Belterra (Estado do Pará), entre
cultivos anuais e aumento de produtos florestais, 1986 e 1999. A cobertura da terra inclui área mantida
em uso, áreas desmatadas de vegetação de sucessão
um processo que, quase simultaneamente, tem
secundária (SS), e áreas desmatadas de florestas
levado à intensificação do uso da terra e ao
primárias.
aumento de populações de áreas urbanas e rurais
[Winklerprins, 2002; Padoch et al., 2008; Costa e
A Figura 3 ilustra essas relações na região de
Brondizio, 2009].
Santarém, na Amazônia brasileira. Enquanto
pequenas fazendas (ex., propriedades agrícolas de
4.2. O tamanho da Fazenda como Variável
200 ha ou menos) tendem a ter proporções mais
altas de áreas utilizadas, o tamanho absoluto de
O tamanho da fazenda, em particular, tem
área desmatada é menor em comparação com
tido um papel importante nas estratégias de
grandes fazendas (ex., fazendas com áreas acima
alocação do uso da terra por produtores e na
de 200 ha), apesar de a área desmatada
distribuição de eventos de desmatamento ao
representar uma menor porcentagem da
longo do tempo. (Classes de tamanho de
propriedade do grande produtor. Analisando-se
propriedade privada são tratadas de modo
as propriedades privadas de diferentes tamanhos
controverso na literatura e por agências e
na região de Santarém-Belterra, observamos que,
programas governamentais. Vários níveis de
em termos absolutos, enquanto os eventos de
detalhes e tipologias estão disponíveis para a
desmatamento de pequenos produtores não
organização do tamanho e categorias.
excedem 5 ha, os grandes produtores desmatam
Consultamos sites e publicações de agências
áreas entre 10 a 500 ha. De 1986 a 1999, na
governamentais, tais como o IBGE e INCRA,
região examinada, pequenos produtores, juntos,
programas de governo como o FNO e programas
desmataram aproximadamente 1.641 ha de terra,
de organizações brasileiras não governamentais
enquanto os grandes produtores, juntos,
como o IMAZON). Embora a porcentagem de
desmataram 6.064 ha. Padrões similares podem
desmatamento corresponda negativamente com
também ser encontrados em termos de áreas
o tamanho da fazenda (ou seja, quanto maior a
mantidas em uso e desmatamento de sucessão
fazenda, menor a porcentagem desmatada), o
secundária. Pequenos produtores mantiveram até
desmatamento absoluto (isto é, a área total
82% de suas propriedades em uso, enquanto os
desmatada em hectares) é positivamente
grandes produtores tinham menos de 5% em uso.
relacionado com o tamanho da fazenda. Em
Em termos absolutos, os pequenos produtores
termos absolutos, a contribuição de pequenos
tinham entre 0 e 50 ha de área em atividade
produtores para o desmatamento regional perde
produtiva, enquanto os grandes produtores
a importância em relação à contribuição de
tinham até 100 ha de área, o que não significava
grandes produtores (Tabela 2). Entretanto, essa
uma quantidade absoluta substancialmente
relação varia em diferentes partes da região.
diferente de terra em produção, relativamente ao
tamanho da propriedade. Entretanto, essa
relação está mudando com a consolidação e
4.2.1. O Exemplo de Santarém.
expansão da produção de soja e de outras

13
culturas mecanizadas em grande escala [D’Antona duração (por exemplo, anos de assentamento) e
et al., 2006]. tamanho da fazenda (Figura 4) [Barbieri et al.,
2005]. O grupo de pesquisa, que inclui alguns dos
4.2.2. O Exemplo de Uruará. coautores deste capítulo, observou uma
diminuição da floresta através do tempo ao longo
A Tabela 3 ilustra o desmatamento por ano e de todos os tamanhos de fazenda, embora entre
por classes de tamanho de propriedades as fazendas menores (0- 25 ha), a diminuição da
agregadas. Dada a distribuição das propriedades, cobertura florestal tenha sido mais alta nos anos
nesse sítio, em particular, o grupo de pesquisa fez iniciais de assentamento e desmatamento. Este
uma distinção apenas entre grandes glebas de último refere-se principalmente à onda
3.000 ha (n = 9) e todos os outros tipos de secundária de desmatamento que ocorreu na
propriedade, cuja vasta maioria é de 100 ha. região de estudo na década de 1990, associada à
subdivisão de propriedades. Entretanto, a
Tabela 3. Área desmatada e taxas anuais de proporção de área desmatada em pastagem
desmatamento em Uruará, Pará, de 1986 a 1998, por aumenta com a duração do assentamento,
classe de tamanho e ano. enquanto a área desmatada em cultivos perenes
e anuais juntos mostra um leve aumento ao longo
As poucas glebas intermediárias, com do tempo para então decrescer levemente,
aproximadamente 400 ha, estão incluídas na refletindo algumas substituições de cultivos por
contagem dos pequenos proprietários, uma vez pastagem em médias e grandes fazendas.
que há casos em que uma família possui múltiplos
lotes adjacentes de 100 ha. Observou-se que, em Figura 4. Padrões de uso da terra, de acordo com a
geral, a quantidade de área desmatada nas duas duração (anos de assentamento) por tamanho de
classes de tamanho aumentou ao longo do fazenda na Amazônia equatoriana. Reimpresso de
tempo. O grau de incremento, entretanto, foi Barbieri et al., [2005], por cortesia da Springer Science
diferente, com grandes glebas acrescendo 5 km2 and Business Media.
de área desmatada a cada período de 13 anos, de
33,7 km2 para 38,6 km2. O desmatamento Conforme mencionado anteriormente, a
associado a esses interesses altamente subdivisão extensiva das fazendas originais ou
capitalizados ocorreu no início do período de fincas madres desde 1990 têm levado a uma
colonização durante a década de 1970 e tem sido segunda onda de desmatamento [Bilsborrow et
bem estático desde então. Desmatamento por al., 2004; Barbieri et al., 2005; Pan e Bilsborrow,
pequeno produtor mostrou crescimento 2005]. Desse modo, as fazendas originais sem
contínuo, chegando a ultrapassar o dobro de área subdivisões ainda tinham, em média, 56,1% da
desmatada, de 447,1 km2 para 1.048 km2, no área total coberta por florestas em 1999,
mesmo período. Essa diferença, entretanto, enquanto as fazendas com duas, três ou mais
representa o número desproporcional de subdivisões tinham somente 47% e 32% de
pequenos produtores analisados (n = 3.263) em florestas, respectivamente [Pan e Bilsborrow,
relação aos grandes proprietários de terra (n =9). 2005]. Devido aos processos de assentamento
Devido a recente migração e assentamento de que ocorreram na Amazônia equatoriana,
pequenos proprietários não ser significativa na praticamente todas as parcelas de desmatamento
área de estudo dentro dos limites do mapa são pequenas em comparação com as da
cadastral usado nesta análise, tem-se que os Amazônia brasileira e, com o processo de
grandes volumes de desmatamento não foram subdivisão desde 1990, os fragmentos
causados por assentamento adicional. desmatados são até menores. A Figura 5 mostra
como a maior parte do desmatamento na NEA
4.2.3. O Exemplo Equatoriano. ocorreu em fragmentos muito pequenos de 1 a 5
ha.
Na Amazônia equatoriana, os padrões de uso
da terra eram claramente visíveis em função da
14
Figura 5. Frequência de tamanho de fragmentos de ilustra a importância de diferentes variáveis
floresta (a) e porcentagem de desmatamento total (%) explicativas do desmatamento entre pequenos
(b) com fazendas amostradas. produtores, particularmente aquelas em áreas de
colonização, e os estudos que examinam a
importância dessas variáveis.
4.3. Resumindo as Variáveis Explicativas do
Desmatamento entre Pequenos Tabela 4. Resumo de variáveis que influenciam o
Produtores desmatamento por pequenos produtores.
_____________
A complexidade de fatores subjacente às *O sinal (+) indica correlação positiva, e o (-) indica
decisões sobre o uso da terra entre produtores correlação negativa.
desafia qualquer explicação simplista ou linear de
desmatamento, o que, infelizmente, é comum Em suma, uma análise simplista de causalidade
quando se trata desse tópico. Embora fornece um quadro distorcido dessas relações.
ressaltemos a importância de variáveis Dessa forma, não queremos passar a ideia de que
específicas, devemos lembrar que pequenos uma única variável consegue explicar o
produtores tomam decisões sobre o uso da terra desmatamento, mas ilustrar o papel relativo dos
de maneira multidimensional. Em outras fatores específicos que influenciam o processo.
palavras, uma decisão de desmatar pode Por exemplo, de acordo com diferentes
representar ao mesmo tempo uma reação à estudos, além da idade da fazenda e tempo de
oportunidade de mercado (como, por exemplo, o assentamento, a distância ao mercado
preço da carne bovina ou de um produto representa uma das variáveis mais importantes
agrícola), uma forma de aumentar o valor da para a explicação do desmatamento entre
terra e a legitimidade da propriedade (ex., pequenos produtores, particularmente os
desmatamento como uma prova de “uso”), e/ou assentados em áreas de colonização. Vários
um passo para a formação de uma fazenda. A estudos têm mostrado que a distância aos
taxa, período de tempo, e modo de mercados tem um impacto negativo no
desmatamento serão, então, influenciados por desmatamento [Pichón, 1997; Walker et al.,
diferentes condições e necessidades das famílias 2002; Caldas et al., 2007]. Em muitos estudos, os
das fazendas, tais como suas expectativas fatores de mercado são usados como indicadores
econômicas e sociais, tamanho e composição do da distância ao mercado para explicar o
domicílio, conhecimento dos recursos florestais, desmatamento; entretanto, esses estudos, na
experiências e preferências anteriores, tecnologia tentativa de modelar agentes individuais, deixam
e capital disponíveis, e localização da fazenda em de capturar o uso de recursos naturais da
termos de distância e acessibilidade. Diferentes paisagem e o papel dos mercados locais (ex.,
processos – demográfico, socioeconômico, comercialização de gado entre vizinhos). O
cultural e ambiental – estão a serviço e interagem mercado fundiário é também um fator chave
em diferentes escalas espaciais e temporais para para explicar o desmatamento, em alguns casos,
promover diferentes estratégias de uso da terra independentemente da distância e localização.
[Kaimowitz e Angelsen, 1998; Wood e Porro, Dado que a terra desmatada tem maior valor de
2002; Perz, 2001; Brondizio, 2006]. mercado (por razões legais e econômicas), os
Os determinantes de desmatamento incluem fazendeiros, grandes e pequenos, podem optar
tanto os fatores domiciliares quanto os exógenos, por investir na limpeza e no desmatamento da
muitos dos quais são específicos da região e do terra para aumentar o valor de sua propriedade
país, inclusive a pressão dos mercados de ou especular em áreas com expectativa de que
commodities e políticas nacionais, tais como serão alvo da expansão agropecuária. No
incentivos para a expansão agropecuária visando processo, eles podem adotar uma combinação de
à exportação, investimento relacionado ao cultivos seguidos por pastagem, os quais podem
petróleo, e esforços de conservação. A Tabela 4 ajudar a maximizar o retorno de curto prazo e
minimizar os riscos (ou seja, obter retorno dos
15
cultivos, abrir novas oportunidades com Ao incorporar as variáveis demográficas para
pastagem, e aumentar o valor de mercado da explicar o desmatamento na região, observamos
fazenda) [Vosti et al., 2003]. Por exemplo, há que o tamanho da família [Pichón, 1997; Pichón
mais de duas décadas, a criação de gado tem sido et al., 2002], número de homens no domicílio
adotada por pequenos produtores no Brasil como [Walker et al., 2002; Pan e Bilsborrow, 2005;
estratégia para assegurar retornos rápidos, Caldas et al., 2007; Sydenstricker Neto e Vosti,
facilitar a cooperação com vizinhos que criam e 1993] e o nível de dependência [Walker et al.,
expandem seus rebanhos, minimar riscos 2002] têm um impacto seja nos sistemas
associados com o armazenamento e dependência agrícolas ou na quantidade de terra a ser
de transporte (de cultivos perecíveis), e melhorar desmatada. Marquette [1998] e Barbieri et al.
sua capacidade de negociar e vender seus [2005] também mencionam os efeitos
rebanhos para um amplo e diversificado grupo de importantes do ciclo de vida da família e o tipo de
compradores [Hecht, 1993]. domicílio na mudança do uso da terra,
Outros atributos são também importantes, particularmente de acordo com o consumidor
tais como o nível de riqueza [Pichón, 1997; Alston “chayoviano”/taxa de mão de obra, que foram
et al., 2000; Walker et al., 2002; Alston et al., considerados importantes na área de colonização
1993] e o tempo de residência na propriedade [Marquette, 1998], incluindo a área tampão da
[Pichón, 1997; Walker et al., 2002; Vanwey et al., Cuyabeno Wildlife Reserve [Mena et al.,m
2007]. O tempo de assentamento na NEA, assim 2006a].
como na Amazônia brasileira, é um fator Pan e Bilsborrow [2005] estudaram os
importante de desmatamento, com menos áreas determinantes do uso da terra em 1999
desmatadas em assentamentos mais recentes (parcelamento de cada fazenda em quatro modos
[Pan et al., 2004, 2007]. Pan et al. [2007] e diferentes de uso da terra – florestas, cultivos
Barbieri et al. [2005] salientam que a relação perenes como café, cultivos anuais, e pastagem)
entre o tempo desde o assentamento e o em nível domiciliar, baseados em modelo linear
desmatamento não é uma relação estritamente multiresponsivo. Os resultados revelam que os
causal, uma vez que ela também indica a determinantes mais poderosos são o tamanho da
localização no tempo e espaço de diferentes parcela, acesso da parcela à estrada e à
coortes de colonos migrantes. Dessa forma, as comunidade mais próxima, tempo de residência
coortes mais recentes têm que se assentar mais na parcela, disponibilidade de mão de obra
distante de rodovias e cidades. Na NEA, por familiar, especialmente masculina, e densidade
exemplo, fazendas mais antigas, próximas às da população na parcela. É surpreendente que a
estradas e cidades, apresentaram maior densidade da população seja um fator poderoso
crescimento populacional entre 1990 e 1999 mesmo quando o tamanho da parcela e todas as
(Figura 6), mas menos desmatamento do que nas variáveis demográficas são incluídas, as quais dão
coortes mais recentes, refletindo um ritmo mais suporte aos efeitos independentes e importantes
rápido de desmatamento em fazendas da pressão populacional.
assentadas mais recentemente, uma vez que Entretanto, dados do estuário do Amazonas
estão nos estágios iniciais do assentamento. mostram que pode ocorrer aflorestamento
simultaneamente como aumento populacional
em áreas urbanas e rurais. A região estuarina
(acima de 20 municípios no Brasil) testemunhou
Figura 6. População em 1990, população finca em uma transição florestal e taxas de desmatamento
1990; População de 1999, população finca em 1999; próximas de zero, devido à expansão de
Floresta em 1990, a porcentagem de cobertura agroflorestamento baseado na produção de açaí
florestal em uma finca, em 1999; cidade mais próxima e uma economia florestal que envolve uma
(km), distância Euclidiana da finda à comunidade mais variedade de recursos madeiros e não
próxima das quatro maiores comunidades, em 1999.
madeireiros. Além de expandir os mercados
Reimpresso de Pan et al. [2007], por cortesia e
permissão da Springer Science and Business Media.
nacionais e globais desses produtos, os

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produtores estuarinos estão familiarizados com a florestadas na paisagem têm fortes conexões
cultura e têm conhecimento de manejo e com processos socioeconômicos em mudança. A
recursos florestais, que permitem que eles qualidade do solo também afeta diretamente a
aproveitem as oportunidades do mercado usando alocação de terra [Moran et al.,m 2002] e,
tecnologias de manejo local e sistemas de combinados com outros fatores tais como a
agroflorestamento de multiculturas [Brondizio, topografia e a água, podem influenciar a adoção
2008; Jarvis et al., 2007; Rerkasem e Pinedo- do tipo de cultura e desmatamento de diferentes
Vasquez, 2007; Pinedo-Vasquez e Padoch, 2009; formas [McCracken et al., 1999). Pan et al.
Brookfield, 2001; Padoch e Pinedo-Vasquez, [2004], por exemplo, afirmam que a superfície
2006]. Ironicamente, esses mesmos sistemas são plana é importante para cultivos anuais e
frequentemente referidos como ultrapassados e pastagens e podem ser preferidas para a
improdutivos. derrubada. Caldas et al. [2007] mostram que
Alguns estudos têm observado que grandes solos adequados para pastagem e com água
áreas desmatadas frequentemente aparecem em podem afetar positivamente o total de área
propriedades de famílias com recursos desmatada . Entretanto, seus resultados não se
substanciais de mão de obra familiar, incluindo sustentam quando se aplicam análises de
mão de obra contratada [Pichón, 1997; Walker et autocorrelação espacial. Em resumo, vários
al., 2002; Pan e Bilsborrow, 2005]. No Equador, fatores relacionados ao rápido aumento
assim como no Brasil, o desmatamento dentro de populacional, subdivisão do terreno, localização e
áreas de colonização também está associado à acessibilidade do terreno, e disponibilidade de
duração da residência na propriedade, nível de recursos, todos têm contribuído para a conversão
escolaridade, e idade do chefe da família [Pichón, de floresta em cultivos e pastagem para gado, os
1997; Alston et al., apresentação de trabalho, quais, por sua vez, criaram uma paisagem mais
1993]. Famílias com períodos mais longos de complexa e fragmentada.
residência têm áreas desmatadas maiores; Muito embora os fatores demográficos e
entretanto, o tipo de floresta usada também ambientais estejam entre os determinantes de
varia com a duração da residência, de modo que desmatamento, o crédito e a segurança da terra
as famílias com histórias mais longas de são também importantes. Ou seja, a conservação
assentamento tendem eventualmente a usar e florestal está positivamente associada com a
derrubar florestas secundárias, em comparação segurança da terra [Pichón, 1997; Alston et al.,
com os assentados mais recentes, os quais 2000]; Fearnside, 2001]. Entretanto, há
derrubam áreas remanescentes de floresta discordância com relação a essa perspectiva.
primária [Brondizio et al., 2002; Perz e Walker, Walker et al. [2000] sustentam que a segurança
2002]. da terra pode ser um facilitador para a aquisição
Limitações ambientais e de recursos também do crédito e, consequentemente, podem ser
estruturam a quantidade e tipo de usados para a formação de pastagem.
desmatamento, particularmente quando Por fim, cada vez mais se reconhece, embora
combinados entre si. Por exemplo, Pan et al., pouco estudada, que a rápida urbanização
[2004] mostram que a complexidade da paisagem associada aos processos adjacentes de turnover
e a fragmentação, duas importantes medidas de lotes e especulação imobiliária nos
dentro da Ecologia de Paisagem que têm assentamentos agrários irá moldar o padrão
implicações para o fluxo de matéria e energia em espacial e a taxa de desmatamento dos próximos
ecossistemas, estão associadas com o tamanho e anos. Por exemplo, os principais centros urbanos
composição do domicílio, expansão da estrada e no atêm mostrado altas taxas de crescimento
redes elétricas (aumentando o acesso aos populacional e constituem pontos centrais chave,
proprietários de fazendas), ano de assentamento ou polos de desenvolvimento. Vários estudos
na parcela, e topografia. Isso indica que na mostraram que a proximidade às cidades e aos
Amazônia do norte equatoriano, o arranjo fatores importantes de mercado contribui para o
espacial de parcelas agrícolas e parcelas desmatamento que tem como objetivo aumentar

17
o valor da terra [Mena, 2001; Bilsborrow et al., economicamente úteis, com apenas um número
2004; Pan et al., 2004; Barbieri e Carr, 2005; Pan limitado de madeiras de lei; e (6) direitos de
e Bilsborrow, 2005]. Entretanto, como ilustra o propriedade da comunidade são antitéticos
exemplo acima sobre o estuário, essa relação (contraditórios) em relação à propriedade
depende do valor identificado (proteção da água, privada. Tais paradigmas de desenvolvimento
recreação, significado simbólico, e estoques de criam barreiras inerentes à proteção do meio
recursos) e mercado dos recursos florestais. Em ambiente, à preservação das fronteiras de terras
alguns casos, as forças de mercado podem indígenas e à defesa dos direitos de pequenos
promover uma relação inversa entre fazendeiros produtores [Schmink e Wood, 1992:6]. Nesse
e florestas àquela descrita acima sobre o caso contexto, um entendimento/interpretação dos
equatoriano, ou outras áreas de colonização no pequenos produtores e do desmatamento na
Brasil [Brondizio, 2008, 2009]. É também Amazônia deveria se basear nas políticas de
importante notar que os colonos fazendeiros desenvolvimento regional, nos grupos de
entendem melhor a importância das florestas ao interesse e incentivos econômicos, no papel de
longo do tempo. A maioria deles tende a deixar forças externas e, não menos, nas visões de
áreas reservadas de floresta para proteger as desenvolvimento e daquilo que constitui a
fontes hídricas e áreas de caça e para terem “modernização” promovida por diferentes setores
acesso às várias matérias-primas necessárias para da sociedade. Abaixo, discutimos três percepções
as operações diárias da fazenda, tais como equivocadas comuns, associadas aos sistemas de
madeira, fibras e materiais para coberturas uso da terra em pequenas propriedades e ao
[Muchagata, 1997; Brondizio et al., 2002; desmatamento na Amazônia.
Campos, 2006]. Além disso, estudos recentes
chamaram a atenção para a crescente 5.1. PERCEÇÃO EQUIVOCADA 1:
interdependência entre as populações rurais e Pequenos produtores têm sistemas
urbanas que dependem de recursos florestais retrógrados de uso da terra com baixa
para suas necessidades de produção e consumo, produtividade e desmatamento
e também dependem de serviços urbanos de extensivo, e produção de subsistência.
saúde, educação e comércio. Esse padrão de
conexões e a interdependência rural-urbana O uso da terra em pequenas fazendas varia de
representa uma realidade crescente na métodos intensivos a extensivos, incluindo
Amazônia, na qual os pequenos produtores têm sistemas agrícolas sofisticados que combinam
um papel vital [Padoch et al., 2008]. tecnologia indígena e sistemas de produção com
alto insumo [Brondizio, 2004; Costa et al., 2006].
Em áreas de colonização, o uso da terra evolui
5. PEQUENOS PRODUTORES, USO DA TERRA E com a idade e experiências dos produtores da
DESMATAMENTO: ULTRAPASSANDO região. Usos da terra em pequenas fazendas
PERCEPÇÕES EQUIVOCADAS incluem várias formas de cultivo temporário,
horticultura e policultura, agroflorestamento
intensivo, manejo florestal e extrativismo, e
Conforme discutimos no início deste pecuária. O acesso à tecnologia é um problema
capítulo, pequenos produtores formam grupos recorrente entre pequenos produtores os quais,
sociais diversos na Amazônia, os quais com frequência dependem do uso de fogo e
compartilham muitos conceitos mal formulados a ferramentas manuais que limitam sua capacidade
respeito deles próprios e da região, mostrado por de mudar estratégias de uso da terra, mesmo em
Schmink e Wood [1991, p. 6]: (1) pequenos meio a problemas identificados, tais como secas
produtores não são eficientes; (2) trabalhadores prolongadas [Brondizio, 2004; Brondizio e Moran,
rurais são culturalmente retrógrados; (3) 2008; Costa, 2006]. Dados do INCRA e IBGE
atividades extrativas são ultrapassadas; (4) [Guanziroli et al., 2001] mostram que pequenos
conhecimento tradicional não tem valor; (5) produtores, especialmente na Amazônia
florestas tropicais fornecem poucos produtos brasileira, têm acesso mínimo a serviços de
18
extensão (educacionais e de assistência técnica) e agroflorestamento de Tomé-Açu, produtores de
à tecnologia: 5,7% dos pequenos produtores se cacau da Transamazônica, produtores de açaí ao
utilizam de serviços de extensão, 9,3% têm longo do estuário do Amazonas, produtores de
energia elétrica, 3,7 usam implementos horticulturas no entorno de grandes centros
mecanizados e outras formas de tecnologias urbanos, e produtores de mandioca em muitas
(como tração animal), e 87,1% dependem de mão áreas que usam multiculturas e sistemas
de obra braçal para atividades da terra. Esses multivariados.
números regionais corroboram levantamentos Pequenos produtores em toda a região são
domiciliares realizados nos sítios ilustrados aqui. altamente envolvidos na dinâmica de mercado,
Além disso, o desaparelhamento da Empresa de respondendo às mudanças de preço e às novas
Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) no oportunidades de mercado, combinando
Brasil após 1990 contribuiu para a falta de consumo doméstico e comercialização. Embora
assistência e apoio aos pequenos produtores. muitos cultivos sejam produzidos para consumo
Embora esse suporte varie entre os estados, e doméstico, como mandioca, feijão, arroz, milho e
apesar do esforço de muitos agentes de extensão açaí, dependendo da região esses cultivos
agrícola, na maior parte da Amazônia, eles não também têm sido produzidos exclusivamente
têm condições de até mesmo visitar fazendeiros para comercialização. Importantes commodities
locais ou, como relatou um agente de extensão de pequenos produtores incluem não apenas
no Pará, “a EMATER hoje em dia é um “vivo mandioca, arroz, feijão e milho, mas também
morto” que está aqui, mas sem uma linha pimenta do reino, café, cacau e uma grande
telefônica que funcione, gasolina e transporte, e diversidade de frutas e sementes, produtos
técnicos para atender às solicitações dos horticulturais, produtos florestais madeireiros e
fazendeiros” [Brondizio, 2004, notas de campo]. não madeireiros, produtos hortigranjeiros, e a
Entretanto, é comum entre os pequenos piscicultura. Entretanto, no Brasil, e de acordo
produtores encontrarmos as soluções mais com alguns estudos, embora os pequenos
criativas para o uso da terra, como as plantações produtores recebam 25% de todo o crédito
consorciadas, métodos mais aprimorados de agrícola, as propriedades familiares são
preparação da terra, diversificação do uso da responsáveis por aproximadamente 37,9% da
terra, e alto grau de agrobiodiversidade. produção total nacional e pelo menos parte dela é
Pequenos colonos proprietários tendem a exportada. Por exemplo, quase 20% de pequenos
experimentar diferentes métodos de manejo de produtores no Brasil vendem mais de 90% de sua
uso da terra, em geral combinando técnicas produção total, enquanto outros quase 40%
trazidas de outras regiões. vendem mais de 50% de sua produção. No plano
Apesar de terem propriedades menores e nacional, os pequenos produtores são
acesso limitado à tecnologia e à assistência responsáveis pela produção de 52% de leite de
técnica, os pequenos proprietários são avaliados vaca, 58% de carne de porco, 40% de frango e
positivamente na comparação com os grandes ovos, e a maioria dos produtos vegetais frescos
proprietários. De acordo com alguns estudos, na usados para consumo diário [Guanziroli et al.,
Amazônia, os pequenos proprietários têm renda 2001]. Entretanto, pequenos produtores e grupos
média anual de R$ 52/ha (aproximadamente US$ de pequenos produtores enfrentam limitações
29), quase cinco vezes mais do que os grandes significativas de transporte e capacidade de
proprietários, enquanto no sul do Brasil, os negociar preços, apesar do envolvimento em
pequenos proprietários tem renda média anual sistemas de mercados globais e na organização de
de R$ 241/ha (aproximadamente US$ 128) e várias formas de cooperativas e associações. Eles
grandes proprietários têm renda média anual de tendem a pagar preços mais altos de transporte
R$ 99/ha (aproximadamente US$ 53) [Guanziroli para possibilitar o fornecimento de alimentos aos
et al., 2001]. Diferentes exemplos de pequena mercados urbanos locais e, na maioria dos casos,
escala, sistemas altamente produtivos existem na em viagens de caminhão, mulas ou bicicletas.
região, como o de produtores de Muitos, senão a maioria, dependem de

19
negociações com atravessadores para vender propulsores de desmatamento global e as
seus produtos, o que reduz o retorno econômico principais ameaças à biodiversidade [Primack e
por unidade produzida, independentemente do Corlett, 2005; Palm et al., 2005; Hartshorn, 2006].
sucesso e da produtividade enquanto produtores Embora a contribuição do cultivo em rotação para
[Brondizio et al., 2003]. Programas locais bem o desmatamento varie enormemente em todo o
sucedidos que visam a facilitar a venda direta mundo, pequenos produtores na Amazônia em
pelos produtores em áreas urbanas, como é o geral são considerados, em seu conjunto, como
caso de Altamira e Santarém, a falta de indústrias parte dessa categoria global [Netting, 1993]. Esse
de transformação para processar produtos tipo de análise, embora levante algumas questões
agrícolas e recursos naturais da região faz com importantes que podem ser relevantes para
que os produtores tenham que vender seus regiões específicas do mundo, baseia-se em
produtos como matéria prima não processada ou estereótipos gerais aplicados aos sistemas de
semiprocessada, perpetuando a concentração do cultivo em rotação [Dav1983], em vez de
valor agregado fora da sua região. examinar o modo como eles variam no tempo e
espaço e, em alguns casos, contribuindo para o
5.2. PERCEPÇÃO EQUIVOCADA 2: aumento de habitats e biodiversidade [Pinedo-
Pequenos produtores contribuem para o Vasquez et al., 2002]. Outro exemplo comum
desmatamento amazônico tanto quanto desse tipo de discurso foi ilustrado em
os grandes produtores declarações de pesquisadores e técnicos de
agências federais de pesquisa, os quais
Embora a contribuição de pequenos argumentam que a falta de tecnologia faz com
produtores para o desmatamento amazônico que os pequenos produtores sejam os principais
varie entre países, estados, sub-regiões e agentes de desmatamento em razão da baixa
períodos, em termos agregados, os pequenos produtividade. Por exemplo, “pequenos
produtores contribuem com uma pequena proprietários desmatam para comer, ou seja,
proporção para o desmatamento regional em cultivam milho, arroz e feijão e depois convertem
comparação com suas contra partidas em grande a terra em pastagem”, embora reconheçam que
escala (Tabela 2). Durante a década de 1990, as “é errado” dizer que grandes produtores são
avaliações de desmatamento produzidas pelo responsáveis pelo desmatamento porque
INPE, que incluíram a frequência de derrubadas dispõem de tecnologia que permite maior
classificadas por tamanho, foram frequentemente produtividade em menor área. Eles salientam que
utilizadas pela mídia para apontar os pequenos tecnologia mais baixa significa baixo nível de
produtores como causadores de desmatamento. ocupação, em termos do número de cabeças de
Ainda hoje isso continua, embora os pequenos gado por hectare (1,2 cabeça/ha com baixa
produtores atualmente venham sendo tratados produção e acima de 2 cabeças/ha com
como parte de uma categoria agregada sob o tecnologia mais alta), mas deixam de considerar a
INCRA [ver, entre muitos exemplos, OESP, 2008a, variabilidade do nível de produtividade, a
2008b; Folha Online, 2008]. Vários autores diversidade dos sistemas de uso da terra
destacam os pequenos produtores como os empregados por pequenos produtores, o nível de
principais causadores de desmatamento, embora apoio que recebem, a história dos conflitos
não considerem sua contribuição relativa em associada a essas regiões, e o papel do
oposição a outros setores e às unidades de desmatamento especulativo entre grandes
análise usadas nas comparações. Um problema produtores e madeireiros [Costa, 2004].
comum é a associação geral de pequenos Alguns estudos trataram do papel relativo do
produtores à agricultura em regimes de rotação a tamanho da propriedade e escala econômica do
qual, por sua vez, é considerada, por natureza, desmatamento regional, e demonstraram um
igualmente destrutiva e improdutiva. É comum papel menor dos pequenos proprietários nas
encontrar interpretações de sistemas de atividades de desmatamento na Amazônia em
produção em rotação como os principais relação aos grandes proprietários, contrariando

20
as generalizações usuais sobre pequenos conhecimentos de sistemas de multicultivos para
proprietários. Por exemplo, em um estudo da atingir níveis mais altos de intensificação do que
porção brasileira da Bacia Amazônica, Fearnside qualquer outro sistema de produção regional e
[1993] estimou que os grandes proprietários têm transformado o sistema de
foram responsáveis por 70% de todo o agroflorestamento do açaí no sistema de uso da
desmatamento em 1990 e 1991, embora Walter terra e atividade econômica mais importante da
et al. [2000] tenham mostrado que o grau relativo região sem qualquer ajuda de agências
de responsabilidade é espacialmente variável. Em governamentais e de pesquisa [Brondizio e
uma microrregião do sul do Pará, onde a Siqueira, 1997; Brondizio, 2008].
influência da Superintendência de Apesar de suas desvantagens econômicas e
Desenvolvimento da Amazônia (SUDAM) era forte tecnológicas, que limitam a capacidade de
nas décadas de 1970 e 1980, grandes empresas intensificação da produção, os pequenos
foram responsáveis por quase todas as terras produtores têm conseguido manter uma parte da
desmatadas (1986), enquanto que ao longo da floresta primária de suas propriedades (em vez de
Rodovia Transamazônica, nas proximidades da desmatar as propriedades para aumentar a área
área de Uruará, a proporção foi de apenas de 8% de produção). Pesquisas relatadas sobre
(1992). A localização e a organização espacial das Santarém mostram que em pequenas
áreas de assentamento são também significativas propriedades com tamanhos que variam de 0,9 ha
para explicar padrões de desmatamento. Para a a 200 ha, a cobertura florestal é de
análise de desmatamento em relação ao tamanho aproximadamente 41,89 ha e, em média, os
da fazenda é necessário, portanto, contabilizar as pequenos produtores mantêm aproximadamente
medições do desmatamento em medidas 60% de suas propriedades em floresta.
absolutas (por exemplo, em hectare) e relativas Entretanto, ao agrupar os pequenos produtores,
(por exemplo, em % ). Em geral, vemos uma observamos que 85% de suas terras são mantidas
relação inversa entre essas duas medidas em em floresta, diferentemente dos grandes
relação ao tamanho da propriedade, embora produtores que mantêm apenas 70,7 de suas
essas relações também variem com a localização terras em floresta (Tabela 5). Este último índice
e contexto histórico de ocupação e grupo social. resulta de taxas mais altas de desmatamento
Uma grande divisão tecnológica e econômica entre grandes produtores, o que torna a
existe entre grupos de pequenos e grandes contribuição relativa ao total de desmatamento
produtores na Amazônia. Dados de campo significativamente mais alta na região.
coletados de famílias rurais na região de
Santarém em 2001 e 2002 indicam que mais de Tabela 5. Distribuição absoluta e relativa das
90% das fazendas dependem de machados, pás e mudanças na cobertura da terra na região de
machetes para sua produção, enquanto os Santarém-Belterra, Pará, de 1986 a 1999, de acordo
produtores em grande escala usam máquinas, com os diferentes tamanhos das propriedades:
fertilizantes químicos e pesticidas, a maioria pequenas e grandes.
subsidiada por empréstimos bancários. A
porcentagem de pequenos produtores que 5.3. PERCEPÇÃO EQUIVOCADA 3:
conseguiu obter crédito (solicitado e recebido) de Pequenos produtores, particularmente
1998 a 2002 foi menos de 5%, comparada a 80% colonos fazendeiros, seguem um
entre os grandes produtores nessa área de caminho inexorável de desmatamento a
estudo. Dados do INCRA confirmam a observação não ser que sejam coibidos por ações
de que os pequenos produtores em todo o Brasil governamentais
têm acesso limitado à tecnologia, assistência
técnica, e apoio financeiro, principalmente no A extensão, a quantidade e a trajetória de
norte e regiões do nordeste [Guanziroli et al., desmatamento variam significativamente ao nível
2001]. Por outro lado, produtores ribeirinhos do do terreno da fazenda, dependendo de
estuário do Amazonas têm conseguido usar seus características como o período de tempo na
região, conhecimento dos recursos florestais e
21
entendimento da floresta como terra produtiva, conhecimento dos serviços econômicos e do
estágio de formação em que se encontra a ecossistema e com a conservação da floresta.
fazenda, demografia do domicílio, capital, Entretanto, as oportunidades de mercado podem
objetivos de curto e longo prazo, e oportunidade ser suficientemente fortes para motivar o
de mercado para as diferentes culturas (Tabela 4 desmatamento ou o reflorestamento,
para lista mais detalhada de variáveis). A alta taxa independentemente do tempo na propriedade e
de adoção de criação de gado entre pequenos tecnologia disponível. Durante a década de 1990,
proprietários está correlacionada com estratégias por exemplo, proprietários ao longo da
de minimização de risco, valor agregado da terra Transamazônica aumentaram o desmatamento
e incentivos fiscais para a adoção de estratégias para a formação de áreas de pastagem durante
para usos da terra como pastagem e criação de um período de altos preços da carne bovina e
gado. Ao mesmo tempo, pequenos produtores declínio dos preços de cacau. Por outro lado,
adotam estratégias diversas de uso da terra, produtores no estuário do Amazonas
inclusive cultivos anuais e perenes, diferentes praticamente abandonaram o desmatamento e os
formas de criação de animais e agricultura, cultivos anuais durante as duas últimas décadas
piscicultura e caça, e uma variedade de arranjos em favor dos sistemas agroflorestais e de manejo
externos à fazenda e mão de obra compartilhada para os mercados regionais, nacionais e
para cultivo. internacionais. No entanto, ao longo da
Áreas de floresta secundária são amplamente Transamazônica, além da alteração de preços da
usadas em sistemas agrícolas entre pequenos carne bovina e cacau, as taxa da expansão de
produtores. Dados da região de Altamira- pastagens foi influenciada por um mercado
Medicilândia, Transamazônica, e da BR-163 na fundiário formal ou informalmente sancionado
região de Santarém-Belterra indicam que entre os pelo INCRA. Em resumo, pequenos produtores
colonos, as fases de formação do lote levam ao tendem a decidir suas estratégias de
aumento do uso de áreas de pousio, enquanto os desmatamento com base nas condições externas
produtores já assentados, mais antigos, tendem a e internas durante as diferentes fases de seu ciclo
usar mais as florestas secundárias do que operacional e de vida familiar, mas
florestas primárias (maduras) [Brondízio et al., particularmente nas oportunidades de negócio
2002). Esses resultados também mostram que, fundiário e de commodities.
entre 1986 e 1999, os produtores mais antigos,
assentados há mais tempo, derrubaram mais 6. CONCLUSÃO
florestas secundárias do que florestas primárias
(maduras) em comparação com pequenos e É importante entender os pequenos
grandes produtores recentemente (Figura 3). produtores no contexto da ecologia política de
Mesmo os pequenos produtores com menos de desmatamento e de conservação da Amazônia e
10 ha ainda conseguiram manter áreas de assim romper com velhos pressupostos de que as
floresta, apesar de as áreas serem menores do comunidades rurais são homogêneas e
que áreas de vegetação secundária. A maioria dos adaptadas, ou que são mal sucedidas em suas
pequenos produtores com lotes até 10 ha adaptações aos ambientes externos. Essa é uma
mantém pelo menos 25% de área de floresta, discussão antiga, mas recorrente na América
enquanto aqueles com áreas de 10 a 20 ha Latina [Durham, 1988; Roseberry, 1993]. O
mantêm aproximadamente 40% ou mais, e a paradigma de desenvolvimento que orienta as
maioria dos produtores com lotes de 20 a 50 ha políticas públicas desde a década de 1960 tem
mantêm mais de 50% de floresta. Entretanto, levado os formuladores de políticas públicas a
conforme salientado acima, ocorrem variações condenar os sistemas de produção em pequena
significativas dentro dos assentamentos e entre escala como transitórios e ineficientes sem,
as sub-regiões da Amazônia brasileira. entretanto, tratar dos problemas enfrentados
O período de tempo na região também está pelas populações rurais. A maioria dos programas
relacionado com a grande valorização e de políticas públicas mostra tendência a

22
enquadrar a produção em pequena escala como principais problemas relacionados ao
apenas relacionada às necessidades de consumo desmatamento [Nepstad, 2002]. A negligência
familiar, e deixam de considerar sua contribuição com os pequenos produtores em relação ao
e potencial econômico mais amplo, e desse modo crédito, serviços de extensão, tecnologia,
perdem a oportunidade de propiciar apoio por transporte e acesso aos mercados tende a criar e
meio de formas mais inclusivas de promover a especulação fundiária e um ciclo
desenvolvimento regional. Apesar do discurso vicioso de venda de pequenos lotes aos grandes
político e de inúmeros programas de políticas proprietários, e a mudança para novas terras de
públicas, esse é ainda o caso na Amazônia. floresta em fronteiras e áreas urbanas. Essa é
A Amazônia se assemelha a outras regiões da uma situação ativa e contínua em toda a
América Latina onde um modelo de Amazônia. Políticas públicas mais integradas são
desenvolvimento se sobrepõe ao necessárias para incorporar programas agrários
empobrecimento rural, aos problemas efetivos (ex., tecnologia, serviços de extensão,
ambientais, e à desigualdade na distribuição de crédito e apoio à comercialização), infraestrutura
terra, além da falta de acesso a serviços como legal e institucional (ex., título de propriedade,
educação e saúde, e falta de apoio ao definição legal de direitos de uso de recursos, e
empreendedorismo regional. Todos esses fatores monitoramento e sanções ao desmatamento
levam a uma alta taxa de turnover da terra e ao florestal) e reconhecimento sociocultural (ex.,
aumento do empobrecimento de produtores em valorização das florestas como terra produtiva;
pequena escala. Um dos estudos comparativos valorização dos sistemas de produção em
envolvendo três assentamentos nos Estados do pequena escala). Do mesmo modo, as políticas de
Pará e Acre indica uma taxa de turnover de lote conservação deveriam incluir e promover
de terra em torno de 75% sobre a vida desses sistemas diversificados de produção local sem
assentamentos, o que ilustra não apenas o tentar “congelar” e “essencialisar” os pequenos
mercado ativo de terra dentro dos assentamentos produtores como “populações tradicionais” das
agrários no Brasil, que retornou à concentração quais se espera que protejam as florestas sem
de terra sob os olhos de agências como o INCRA, que suas necessidades econômicas sejam
mas também a escala de desafios – econômicos, consideradas. Talvez, o mais importante é que os
culturais e sociais, e de infraestrutura – pequenos produtores e a região como um todo
enfrentados pelos pequenos produtores fossem beneficiados com políticas voltadas para a
[Ludewigs et al., 2009]. Pequenos produtores promoção da agregação de valores de recursos
foram desconsiderados já bem no início do agrícolas e florestais, que pudessem facilitar a
projeto de desenvolvimento da Amazônia comercialização para benefício dos produtores,
[Moran, 1981; Wood e Schmink, 1979] e gerar emprego em áreas urbanas e rurais e gerar
continuam a ser hoje, em meio a novos projetos lucro para ser reinvestido em escala municipal.
de assentamento, até mesmo por políticas Em outras palavras, os pequenos produtores se
públicas que têm como alvo os sistemas de beneficiariam de políticas que fomentassem o
produção em pequena escala. Talvez, a atual desenvolvimento de indústrias de transformação
situação precária dos escritórios da EMATER em na região e que envolvessem a participação de
toda a Amazônia ilustre também a situação da produtores. Subsídios externos para a promoção
população à qual tem como objetivo servir. de programas na região, na melhor das hipóteses,
Mesmo em áreas de economia ativa mostraram-se transitórios no passado. Créditos
envolvendo pequenos produtores, como a de carbono ou subsídios para proteção de
economia do açaí no estuário do Amazonas, serviços ambientais incidirão em problemas
proprietários rurais dependem grandemente de semelhantes se não contemplarem mecanismos
renda de aposentadoria de membros da família e de participação econômica e valorização de
da ajuda do governo, como o programa Bolsa recursos regionais.
Família [Brondizio, 2009]. A falta de governança Pequenos produtores formam uma população
na fronteira amazônica foi citada como um dos razoável na Amazônia e representam uma forma

23
importante de emprego de um grande pesquisa do Center for Training and Research on
contingente de pessoas que, caso contrário, teria Global Environmental Change (ACT) da Indiana
pouca ou nenhuma opção na região com University, EUA. Agradecemos também ao LBA-
limitadas indústrias de transformação e pouco ECO/NASA pelo apoio aos projetos (NNG06GD96A)
“Spatially Explicit Land Cover Econometrics and
emprego fora da economia informal. A
Integration with Climate Prediction: Scenarios of
contribuição de pequenos produtores para a Future Landscapes and Land-Climate Interactions” e
produção de alimentos para consumo regional e projeto (NCC5-694) “A Basin-Scale Econometric Model
exportação é inegável e crescente. A presença do for Projecting Amazonian Landscapes, “ e à National
pequeno produtor em áreas rurais e urbanas por Science Foundation pelo apoio ao projeto “Patterns
meio de várias formas de redes sociais e and Processes of Landscape Change in the Brazilian
econômicas e em praticamente todas as reservas Amazon: A Longitudinal, Comparative analysis of
não indígenas da Amazônia brasileira indica seu Smallholder Land Use Decision-Making-BCS137020,
papel central no desenvolvimento e governança ambos da Michigan State University, pelo apoio a
de toda a região. A qualidade e a seriedade de Marcellus M. Caldas. O Ecuador Project agradece à
NASA (grants NCC5-295 e a Earth Science Fellowship
políticas públicas relativas às necessidades
NNG04GR12H, ao National Institutes of Health (R01-
econômicas e sociais de pequenos produtores HD38777-01), e Carolina Population Center, da
continuarão a influenciar o seu papel e os seus University of North Carolina em Chapel Hill, assim
sistemas de uso da terra e desmatamento como a colaboração e apoio dos Ministérios do Meio
regional. Mais atenção e menos estereótipos irão Ambiente e Agricultura da antiga National Planning
contribuir para melhorar suas condições e Agency (CONADE). O programa GTZ Profors e as
conciliar sua contribuição econômica com a sua fundações Compton e Summit também apoiaram o
área natural produtiva necessária na Amazônia. levantamento de campo de 1999. Agradecemos à
FAPESP por conceder a Bolsa de Estudo de Programa
de Pós-Doutorado (no. 01/02578-2 e 03/01933-9) e
Notas acrescentadas à prova. No momento em pelo apoio à pesquisa (n. 01/11473-0) concedido à
que este artigo saia para impressão, o IBGE Célia Futemma. Agradecemos à EMBRAPA-CPATU em
[2009b] divulgava um relatório (2 de outubro de Belém, EMBRAPA-NMA em Campinas, e à EMBRAPA
Santarém, Altamira e Belterra, ao Programa LBA,
2009), confirmando a importância extraordinária
particularmnete ao Escritório do LBA em Santarém,
de pequenos produtores para a produção de Estado do Pará, Brasil, aos Escritórios da EMATER em
alimento e segurança no Brasil (ex., 70% de grãos, diferentes partes da região, ao IPAM, Belém, Pará.
87%de mandioca e 58% de leite consumido Agradecemos também aos colegas do Center for
nacionalmente) e emprego rural (empregando Training and Research on Global Environmental
75% da mão de obra rural). Conformando a Change (ACT) da Indiana University, particularmnete
análise apresentada neste artigo, o relatório Andrea S. Siqueira, Vonnie Peischl, Scott Hetrick, Linda
mostra que pequenos produtores produzem mais Barchet, e a todos os alunos de pós-graduação da ACT
em menos área. Coletados pela primeira vez e entrevistadores envolvidos nesses projetos. Um
como parte de um censo em nível nacional agradecimento especial a todos os produtores
amazônicos que gentilmente nos receberam em
(2006), esses dados confirmam nossos
muitas ocasiões. Por fim, agradecemos aos editores
argumentos em favor da importância social e deste volume e a dois revisores externos pelos
econômica dos sistemas de produção em comentários e sugestões significativas deste volume.
pequena escala nos planos locais e nacional e
reafirma o nosso apelo para superar os
pressupostos errôneos e a invisibilidade dos
pequenos produtores do Brasil. REFERÊNCIAS

Agradecimentos: Agradecemos ao Programa LBA- Adams, C., R. S. S Murrieta, W. A. Neves, M. Harris


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