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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA E DE COMPUTAÇÃO


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA BIOMÉDICA

TRANSDUÇÃO DE GRANDEZAS
BIOMÉDICAS

MEDIÇÃO DE FLUXO

Autores:
Prof. Dr. Antônio A. F. Quevedo
Prof. Dr. Eduardo Tavares Costa
MEDIÇÃO DE FLUXO

INTRODUÇÃO

Os transdutores de fluxo são utilizados em várias aplicações biomédicas. Dentre muitas,


podemos citar:
• Fluxo de gases:
§ Monitoração de respiração
§ Sistemas de ventilação artificial (ventiladores, carrinhos de anestesia)
§ Linhas de gases em ambiente clínico
• Fluxo sangüíneo:
§ Fluxo periférico
§ Débito Cardíaco
§ Hemodiálise / coração-pulmão

A definição padrão de fluxo de um fluido é o volume de fluido que passa por uma dada
seção transversal do vaso em um dado período de tempo. Ou seja:

Fluxo = Volume / tempo Em unidades do SI: m3 / s

A maior parte dos sistemas de medição de fluxo determina o valor do fluxo por meio da
medida da velocidade de escoamento do líquido ou da variação de energia cinética do mesmo. A
velocidade depende da pressão diferencial, que força a passagem do fluido pela tubulação. Como a
seção transversal é geralmente conhecida e constante, o fluxo médio pode ser aferido a partir da
velocidade média pela relação:

Q = ∫ VdA ⇒ Q = V . A
A
Onde: Q = fluxo (m3 /s)
A = área da seção transversal do tubo (m2 )
V = velocidade de escoamento do fluido (m/s)

Outros fatores que afetam o fluxo são a viscosidade e a densidade do líquido, e o atrito do
líquido com as paredes da tubulação.

Fluxos laminar e turbulento; Número de Reynolds

Um fluxo laminar é aquele no qual a velocidade do fluido apresenta apenas a componente


paralela ao eixo do vaso. Em um fluxo turbulento, existem componentes de velocidade

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perpendiculares ao eixo do vaso (no plano da seção transversal). A medição de fluxos turbulentos é
mais propensa a erros.

O perfil do fluxo é determinado por um número adimensional denominado número de


Reynolds. Ele é definido pela razão entre as forças de inércia e forças de arraste.

ρ .Vm .D
Re =
γ
onde: Re = Número de Reynolds
ρ = densidade
Vm = velocidade média
D = diâmetro interno
γ = viscosidade

Considera-se fluxo laminar quando Re < 2000, e fluxo turbulento quando Re > 3000. Para
valores entre 2000 e 3000, considera-se um caso intermediário.

Figura 1: Fluxos laminares e turbulento.

CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE OS MEDIDORES

Para uma medição correta de fluxo, alguns fatores devem ser levados em conta na decisão
do tipo a ser usado. Abaixo seguem alguns dos fatores principais:
§ O medidor irá medir fluxo instantâneo (controle de processo) ou irá fazer uma totalização de
volume?
§ A indicação será local ou remota ao transdutor?

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§ Qual a perda de carga (pressão) admissível?
§ A saída do transdutor deve ser proporcional, quadrática, etc?
§ O fluido é viscoso, incolor, opaco, particulado, corrosivo, etc?
§ O fluido é condutivo?
§ Densidade e compressibilidade do fluido
§ Faixa de variação do fluxo
§ Temperaturas e pressões de operação
§ Exatidão, precisão, linearidade, repetibilidade

TIPOS DE MEDIDORES

Existem vários métodos para se medir o fluxo, cada um mais adequado a determinadas
situações. Aqui apresentamos uma lista dos principais tipos, utilizados nas mais diversas aplicações,
inclusive biomédicas.

Medidores de pressão diferencial

Estes medidores utilizam como princípios a equação de Bernoulli e a equação da


continuidade do fluxo.

Equação de Bernoulli: A soma da energia estática (pressão), energia cinética (velocidade) e


energia potencial (elevação) se conserva para um fluido passando por uma obstrução.

P1 V12 P2 V22
+ + z1 = + + z2
γ 2g γ 2g
Onde P significa pressão, V significa velocidade e z significa a altura. γ é a densidade do
fluido e g é a aceleração da gravidade.

Equação da continuidade do fluxo: O fluxo ao longo de um vaso de paredes rígidas deve


permanecer constante, independentemente do diâmetro.

Q = A1 .V1 = A2 .V2
Juntando ambas, temos:

∆P
Q = K. + ∆z
γ
onde K é uma constante dependente da razão entre as áreas do tubo.

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Mede-se a diferença de pressão entre duas regiões do tubo com diâmetros diferentes e
calcula-se o fluxo. A figura 2 mostra variantes do método, usando variações de diâmetro, placas
perfuradas (reduzindo a seção transversal) e restrições de fluxo.

Figura 2: Medidores de pressão diferencial.

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Figura 3: Técnica de medição por pressão diferencial.

Medidores de área variável (rotâmetros)

Consiste de um tubo vertical cuja área de seção transversal aumenta progressivamente com a
altura. O fluxo entra pela extremidade inferior e sai pela superior.A velocidade cai com a altura.
Uma pequena bóia é colocada no interior. O equilíbrio é atingido quando a diferença de pressão ao
longo da bóia e o empuxo compensam a força gravitacional. Essa diferença de pressão depende da
velocidade do fluido. Assim, quanto maior a velocidade do fluido na entrada, mais acima no tubo o
fluido atingirá a velocidade crítica, abaixo da qual a bóia não se sustenta. A altura da bóia determina
o fluxo na entrada, e utiliza-se uma escala graduada no tubo. Este medidor é muito comum em
carrinhos de anestesia e linhas de gases no ambiente ho spitalar.

Figura 4: Medidor de área variável.

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Medidor de pistão excêntrico

Há um volume fixo delimitado pela câmara de medida e o pistão, de forma que cada giro
completo do pistão corresponde à passagem de um determinado volume fixo de fluido. O
movimento do pistão é registrado por um contador, medindo o número de giros.

Figura 5: Medidor por pistão excêntrico.

Medidor com turbina

Apresenta um rotor com várias pás, com o eixo posicionado na direção do fluxo. O
movimento do fluido faz girar o motor, de forma que a freqüência de giro é proporcional à
velocidade de escoamento do fluido.

Figura 6: Medidor de turbina.

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Medidor com espalhador de vórtices

Contém uma obstrução não-aerodinâmica posicionada perpendicularmente à direção do


fluxo gerando vó rtices ou áreas bem localizadas de baixa pressão e instabilidade. A freqüência com
que os vórtices são criados é proporcional à velocidade do fluxo. Detectam-se os vórtices com
detectores ópticos.

Figura 7: Medidor por espalhamento de vórtices.

Medidor eletromagnético

Baseia-se na lei de indução de Faraday. Com a passagem de um fluido condutivo através de


um campo eletromagnético (B), é gerada uma força eletromotriz (fem), a qual é medida por
eletrodos posicionados nas paredes do tubo.

Figura 8: Fl uxômetro eletromagnético.

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Velocímetro laser

Mede-se o Efeito Doppler causado em um feixe de laser ao ser refletido por partículas em
movimento.

Figura 9: Velocímetro laser

Medidor térmico

Injeta-se calor no fluido e mede-se a diferença de temperatura antes e após a injeção.


Existem três formas mais comuns de medição de fluxo com este dispositivo:
1. Através do aquecimento, fornecendo uma potência constante à resistência e medido a
diferença de temperatura entre os dois pontos.
2. Através da medida da potência necessária para manter uma diferença de temperatura
constante entre os dois sensores térmicos.
3. Através do aquecimento de forma senoidal, medindo a diferença de fase no sinal medido
pelos dois sensores.

Figura 10: Medição por variação térmica.

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Ultra-som

Usa ondas acústicas imperceptíveis ao ouvido humano (freqüência > 20kHz). Permite a
medição de parâmetros estáticos e dinâmicos (anatomia e fisiologia). Tem a vantagem de ser inócuo
à saúde do paciente (ultra-som diagnóstico).
Há duas técnicas para o uso de ultra-som para medição de fluxo:

Por tempo de propagação:


Baseia-se no princípio de que a velocidade do som que se propaga em um fluido em
movimento é igual à velocidade que o som teria caso o fluido estivesse parado somada à velocidade
do fluido. Assim, o som que se propaga no mesmo sentido do fluido tem sua velocidade aumentada
e o som que se propaga no sentido oposto ao do fluido tem sua velocidade diminuída.
Usamos dois transdutores posicionados em posições diametralmente opostas do vaso, em
uma linha diagonal ao eixo do tubo. Mede-se o tempo de propagação de um pulso ultrassônico do
transdutor A para o B (tAB ) e depois o tempo de B para A (tBA).

Figura 11: Medição por tempo de propagação.

A componente de velocidade na linha de propagação do som é Vcosθ. As diferenças nos


tempos de propagação são devidas a esta componente de velocidade. Consideramos a diferença dos
tempos de propagação:

∆t = t AB − t BA
O maior tempo depende do sentido do fluxo. Temos que (c é a velocidade de propagação do
som no fluido imóvel):

2.L.V .cosθ
∆t =
c2
e assim:
9
∆t.c 2
V =
2.L. cosθ

Por Efeito Doppler:


Faremos uma análise mais detalhada quando falarmos do uso do ultra-som na medição de
fluxo sanguíneo.

Tabela comparativa

A tabela 1 mostra uma comparação dos vários métodos de medição, e sua aplicabilidade em
vários tipos de fluidos.

Tabela 1: Comparação entre diversos métodos de medição de fluxo.

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MEDIDA DE FLUXO SANGÜÍNEO

Introdução

É de grande importância para o médico o conhecimento da concentração de oxigênio e


outros nutrientes nas células do paciente. Como estas medidas são impossíveis de serem feitas, o
médico se contenta com a medida do fluxo sangüíneo, que usualmente se correlaciona bem com as
concentrações desses nutrientes.
Não pretendemos cobrir todos os princípios de transdução e medida de fluxo sangüíneo. Em
vez disto, nos concentraremos nos métodos usuais para se medir o fluxo total médio (débito
cardíaco) e o fluxômetro eletromagnético que nos fornece o fluxo instantâneo, ambos métodos
invasivos.
Finalmente, estudaremos a aplicação de métodos pletismográficos (métodos não invasivos)
para a determinação de fluxo sangüíneo nos membros.

Medida do débito cardíaco (DC)

O que é o débito cardíaco? Chama-se DC o volume de sangue injetado por qualquer uma das
duas câmaras ventriculares, em um determinado intervalo de tempo, geralmente de duração de 1
minuto.
Assim: DC = FC x VS, onde FC (freqüência cardíaca) = número de batimentos por minuto;
VS (volume sistólico) = volume de sangue ejetado por um ventrículo em cada batimento.
Chama-se retorno venoso (RV) o volume de sangue que volta a qualquer um dos átrios por
minuto.
Evidentemente, em condições normais, DC dir = DC esq = RVdir = RVesq
Os valores típicos do débito cardíaco em adultos são de 6 l/min para homens e 5 l/min para
mulheres. Os valores típicos decrescem com a idade e dependem da superfície corpórea (peso do
indivíduo). Por isto é preferível calcular o índice cardíaco (IC), definido como a razão entre o débito
cardíaco e a superfície corpórea.
Na medição do débito cardíaco em clínica médica e monitoração de pacientes, desejam-se as
seguintes características:
§ Execução simples e rápida (que permita a análise dinâmica e contínua)
§ Fornecimento de resultados confiáveis e reproduzíveis
§ Que não sejam prejudiciais ao paciente
§ Sem complicações de ordem cirúrgica e anestésica
§ Não devem provocar reações indesejáveis

Os métodos mais usados são o Fick direto, a diluição de corante e a termodiluição.

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Método de Fick direto

Este método baseia-se no princípio de Fick enunciado em 1870. Segundo este princípio, a
vazão (V) de um líquido em um dado intervalo de tempo é igual à quantidade de uma substância
(S), dita indicadora, que penetra ou é retirada da corrente líquida, no mesmo intervalo de tempo,
dividida pela diferença de concentração desta substância depois (C 2S) e antes (C 1S) do ponto de
entrada ou saída.
Portanto:

∆S dV dS dt
V= ⇒ =Q=
C 2 S − C1S dt C 2 S − C1S

Figura 12: Princípio de Fick.

Explicação do princípio de Fick


Imagine inicialmente um recipiente com tendo um certo volume (V) de um líquido. Se
adicionarmos uma pequena quantidade (∆So ) de uma outra substância, chamada indicador, e
medirmos sua concentração (C), podemos determinar o volume, pois:

∆S o ∆S
C= ⇒V = o
V C
Agora imagine que adicionamos mais uma pequena quantidade do indicador (∆S). Agora
podemos dizer que:

∆S ∆S
∆C = ⇒V =
V ∆C
Quando o líquido flui continuamente, então para manter constante a variação de
concentração do indicador, deve-se adicionar continuamente uma quantidade fixa do indicador por
unidade de tempo:

12
∆S dV dS dt
V= ⇒ =
∆C dt ∆C
E assim temos a equação final do método de Fick.

Para o cálculo do débito cardíaco, o indicador utilizado é o oxigênio. Precisamos medir o


fluxo do indicador, ou seja, o consumo de oxigênio, bem como as concentrações arterial e venosa
de oxigênio no sangue. Assim:

ConsumoO2 ( ml / min)
DC (l / min) =
CartO2 (ml / l ) − CvenO2 (ml / l )
A figura 13 mostra as medidas necessárias. O consumo de oxigênio é determinado através
do uso de um espirômetro. A concentração de oxigênio nas artérias pode ser determinada a partir de
uma amostra de sangue colhida em qualquer artéria (geralmente uma artéria de um braço ou perna).
A concentração venosa de oxigênio deve ser determinada a partir de uma amostra de sangue colhida
na artéria pulmonar, o que requer a introdução de um cateter através de uma veia. Esta exigência
decorre do fato de que a concentração de oxigênio no sangue venoso proveniente da parte superior
do corpo (cérebro) é diferente da concentração de oxigênio no sangue venoso proveniente da parte
inferior do corpo (rins, músculos, etc).

Figura 13: Medição do DC por Fick.


A grande vantagem do método de Fick é a confiabilidade e exatidão dos resultados. Como
desvantagens, temos:
§ O método requer condições fisiológicas relativamente constantes. Os maiores erros na sua
aplicação ocorrem nas situações de alterações rápidas das condições circulatórias (por
exemplo, mudança brusca na ventilação pulmonar).
§ O método requer vários minutos para sua execução, pois a assertiva fundamental do método
é baseada no fato de que o volume de oxigênio tomado pela respiração é igual ou volume de
oxigênio usado pelos tecidos.
§ É um método invasivo, pois requer a introdução de um cateter na circulação sanguínea
§ Não fornece o débito cardíaco de imediato

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Método de diluição de corante por injeção única

Neste método, uma quantidade conhecida (I ) de uma substância indicadora (corante) é


injetada no sangue venoso (artéria pulmonar) e sua concentração no sangue é continuamente
medida em um ponto do sistema arterial. A curva que expressa a variação da concentração do
indicador em função do tempo chama-se curva de diluição, representada pela função C(t). A partir
desta curva, podemos calcular o débito cardíaco através da seguinte fórmula:

I
DC = t1

∫ C (t )dt
0
Para entendermos esta equação, imaginemos um tubo por onde flui um líquido. Em um
ponto (A), é injetado rapidamente o indicador (I) e em um outro ponto (B) distal de (A) é medida
sua concentração (C), bem como o intervalo de tempo (∆t) necessário para que o líquido corado
atravesse o ponto B. A figura 14 ilustra esta situação de uma maneira simplificada.

Figura 14: Princípio da diluição de corante.

É fácil concluir que:

I V I
V = ⇒ =Q=
C ∆t C .∆t

É de se esperar que a concentração não seja constante e varie com o tempo, como mostra a
figura abaixo. Neste caso:

I
Q= t1

∫ C (t )dt
0
Na circulação humana a situação torna-se mais complicada. Decorridos alguns segundos
após a injeção rápida do indicador no segmento venoso da circulação, a concentração no segmento
arterial sobe abruptamente para o máximo e então declina. Próximo ao fim da fase de declínio da
concentração ocorre nova subida, quando a chegada das partículas que se movem mais lentamente
14
coincide com a chegada das partículas que se movem mais rapidamente, as quais estão chegando à
periferia pela segunda vez. Portanto, ocorre recirculação das partículas antes que se complete a
curva primária. A concentração do indicador é medida na curva primária e, portanto, o problema é
eliminar dessa curva as partículas que recirculam rapidamente.

Figura 15: Curva de diluição com recirculação.

A dificuldade representada pela recirculação é removida pelo fato de que a queda de


concentração no segmento arterial, antes da recirculação, é exponencial em natureza. Quando o
logaritmo da concentração do indicador é projetado contra o tempo, o ramo descendente da
concentração é uma linha reta até o início da recirculação; a extrapolação do ramo descendente
permite definir a curva primária que seria obtida se não houvesse recirculação.

Figura 16: Extrapolação da curva logarítmica de diluição.

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Qualquer ponto do sistema arterial pode ser usado satisfatoriamente como local de
amostragem, sendo os locais preferidos para a retirada de sangue nas artérias femoral (coxa) ou
radial (braço). A escolha do local da injeção é muito importante, uma vez que ele determina a forma
da curva de diluição. Os locais preferidos para tal ação são: veias periféricas, átrio direito,
ventrículo direito, artéria pulmonar e ventrículo esquerdo. A passagem do indicador pelas veias
acarreta dispersão da curva de diluição, devido às pequenas velocidades de fluxo nas veias
periféricas, e pode tornar difícil a determinação da curva primária. A injeção nos demais locais
citados implica na cateterização do coração. Em resumo, é importante lembrar que, quanto maior
for o percurso entre os locais de injeção e o de amostragem, maior será a duração da curva de
diluição, e conseqüentemente maior será a dificuldade para eliminar os efeitos da recirculação do
corante.
Em relação ao corante, o mesmo deve ser inócuo para o paciente, não deve alterar a
dinâmica circulatória, deve permanecer no fluxo sangüíneo entre os locais de injeção e de
amostragem, e sua concentração no sangue deve ser mensurável. Os dois corantes mais usados são:
Evans Blue: não é tóxico e combina-se prontamente com as proteínas do plasma. Entretanto,
não pode ser usado muitas vezes no mesmo paciente, pois provoca descoloração da pele (máximo
de oito injeções). Além disso, o comprimento de onda de máxima absorção de luz para este corante
e 620 nm. Neste comprimento de onda, a hemoglobina também absorve uma grande quantidade de
luz, e o grau de absorção depende da quantidade de hemoglobina oxigenada. Portanto, a
hemoglobina interfere no processo de medida da concentração do corante e pode causar erro
significativo no cálculo do débito cardíaco.
Cardiogreen: também não é tóxico e combina-se com as proteínas do plasma. A vantagem
em relação ao corante anterior é que o comprimento de onda de máxima absorção de luz para este
corante é 805 nm. Neste comprimento de onda, a hemoglobina absorve uma quantidade de luz
muito menor e independente do grau de oxigenação. Entretanto, este corante é eliminado do
organismo lentamente, tendo uma meia-vida de cerca de 10 minutos.
Para a obtenção da curva de diluição, usa-se um densitômetro ou um cateter com fibras
ópticas. Para a determinação da curva primária e sua integral, utilizam-se computadores, o que
possibilita a obtenção do valor do débito cardíaco quase que de imediato.
A principal vantagem do método de diluição de corante reside no fato de que sua execução é
mais simples e rápida que a do método de Fick, mantendo o mesmo grau de exatidão. Como
desvantagem, temos o fenômeno de recirculação do corante

Método de termodiluição proposto por Fegler em 1954

Este método é uma variante do método de diluição de corante por injeção única, onde o
indicador é uma solução fria (soro fisiológico). Assim, o débito cardíaco (DC) pode ser calculado
pela seguinte fórmula:

V I .(TB − TI ).K
DC = t1

∫ ∆T
0
B (t )dt

Onde: VI = volume do soro injetado


TB = temperatura inicial do sangue
TI = temperatura inicial do soro injetado no local de sua entrada na circulação
16
K = constante de computação ou correção
∆TB(t) = variação da temperatura do sangue, no local de detecção, em função do
tempo. A sua integral no tempo é a Curva de Termodiluição.
O procedimento mais usual para este método consiste no uso de um cateter de quatro lumens
introduzido na circulação sanguínea através de uma veia até chegar à artéria pulmonar. O primeiro
lúmen está ligado a um pequeno balão, localizado na ponta do cateter, que pode ser inflado durante
o processo de posicionamento. O segundo lúmen possui um orifício para que a solução fria possa
ser injetada no átrio direito. O terceiro lúmen contém um termistor (e seus fios) que faz parte do
circuito de detecção da curva de termodiluição na artéria pulmonar, e o quarto lúmen pode ser
ligado a um transdutor de pressão para garantir o posicionamento correto do cateter.

Considerações sobre os parâmetros da termodiluição


Volume do soro injetado (V I):
Normalmente se usa 5 ou 10 cc em adultos e 2 ou 3 cc em crianças. Para uma mesma
temperatura, quanto menor for o volume de soro injetado, maior terá que ser a sensibilidade do
transdutor, pois a relação sinal/ruído decresce com a redução de VI. Para se ter o volume real do
soro injetado, é necessário descontar o espaço morto introduzido pelo cateter.

Temperatura inicial do sangue (TB):


Quando se considera TB igual à temperatura retal ou axilar, subestima-se o débito cardíaco.
Como a temperatura inicial do sangue no local de detecção varia ciclicamente devido à respiração
(oscilação da linha de base), costuma-se considerar como TB a média das temperaturas durante um
certo intervalo de tempo imediatamente anterior à injeção do indicador.

Temperatura inicial do soro injetado (TI):


Em clínica médica, introduz-se soro a 0 °C ou na temperatura ambiente. Quando se trabalha
como a temperatura de 0 °C, cuidados especiais devem ser tomados no que diz respeito ao
manuseio e ao tempo durante o qual o soro fisiológico fica em contato com o banho a 0 °C.

A curva de termodiluição:
A curva de termodiluição é semelhante à de diluição de corante, porém não apresenta o
segundo pico, pois no método de termodiluição não há recirculação do indicador. A curva é obtida
através de um termistor, geralmente em configuração ponte de Wheatstone. Para as pequenas
variações de temperatura que ocorrem, a característica resistência-temperatura do termistor pode ser
considerada linear. Cuidados especiais devem ser tomados para que a corrente que atravessa o
termistor não seja maior que 10 µA, para proteger o paciente de possíveis choques elétricos e para
evitar aquecimento do sangue.

17
Figura 17: Curva de termodiluição.

Entre os métodos utilizados para integrar a curva de termodiluição, podemos destacar dois: a
integração da curva inteira e integração de parte da curva com compensação. Como exemplo do
segundo método, temos o equipamento do Edwards Laboratory para a integração no ponto da fase
descendente da curva que é igual a 30% do valor de pico.
A forma típica da curva pode ser alterada por vários fatores:
§ Mistura inadequada do soro com o sangue
§ Mudanças bruscas da freqüência cardíaca e pressão sanguínea
§ contato entre as paredes do vaso sanguíneo e o termistor
§ Padrões anormais de respiração
§ Diferença inadequada entre a temperatura do sangue e a do indicador
§ Pequeno volume de soro injetado
Como formas atípicas podem levar ao cálculo incorreto do débito cardíaco, torna-se
importante mostrar a curva em um "display" para inspeção visual.

Constante de correção K:
É necessário para fazer ajustes de unidades, compensar o espaço morto do cateter e as trocas
de calor entre o soro frio e o sangue, através das paredes do cateter. A constante de correção
depende sobretudo das dimensões do cateter e do volume e temperatura do indicador. É específica
para cada instrumento.

Vantagens e desvantagens do método


Vantagens:
§ Não requer a retirada de sangue e perfuração de uma artéria
§ Possibilita medidas simultâneas dos débitos cardíacos esquerdo e direito

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§ Permite medidas freqüentes, pois o indicador é inócuo
§ Apresenta reprodutibilidade e exatidão comparáveis aos métodos de Fick e diluição
de corante
§ Apresenta recirculação do indicador negligenciável
§ É de execução simples e rápida (resposta em 30 segundos)
§ Requer um procedimento de calibração fácil e permanente
§ Não introduz substâncias estranhas na circulação sanguínea
§ Possibilita a repetição da medida em intervalos curtos (menor que 90 segundos)
§ Necessita de instrumento de medida relativamente simples e barato

Desvantagem: requer cateterismo do coração

FLUXÔMETRO ELETROMAGNÉTICO

Este equipamento mede o fluxo sangüíneo instantâneo em um vaso qualquer. É


principalmente usado em cirurgias cardíacas e vasculares.

Princípio de funcionamento:

Os fluxômetros eletromagnéticos baseiam-se no fato de que a tensão elétrica induzida em


um condutor que se move dentro de um campo magnético uniforme é proporcional à velocidade do
condutor. Pela lei de indução de Faraday sabemos que:

r r r
L1

V = ∫ v × B.dL
0
Onde:
V = força eletromotriz induzida
B = densidade de fluxo magnético
v = velocidade instantânea do condutor (sangue)
L = distância entre os eletrodos E e E', que é igual ao diâmetro do vaso sangüíneo
Quando B e v são invariantes no tempo, então:
V = v.B.2a , onde a é o raio do vaso.
Se a for expresso em cm, v em cm/s , B em Gauss (Weber/cm2 ) e V em microvolts, então a
equação acima torna-se:

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v.B.2a
V=
100

Figura 18: Princípio de funcionamento do fluxômetro eletromagnético.

Através das equações de Maxwell é possível provar que se a velocidade do fluido não é
uniforme em seções transversais (por exemplo, fluxo laminar), porém é simétrica em relação ao
eixo longitudinal do vaso, então:

v .B.2a
V=
100
onde v agora é a velocidade média, podendo ser calculada pela seguinte equação:

1 a
2 ∫0
v= . 2π .v.rdr
π .a
Como o fluxo (Q) é, por definição, igual ao produto da velocidade média pela área da seção
transversal [Q = v.(πa2 )], então:

Q B.2a Q.B
V= . ⇒V =
π .a 100
2
50.π .a
Para demonstrarmos as ordens de grandeza das tensões obtidas, vamos apresentar dois
exemplos.
Exemplo 1: Imagine que queremos saber o valor da tensão induzida no instante em que o
fluxo é máximo na aorta de um cão. Dados: a = 0,8cm; Qmax = 200 cm3 /s; B=300G
20
200 .300
V= = 477 µV ≈ 500 µV
50 .π .0,8
Exemplo 2: Imagine que queremos saber o valor médio da tensão induzida pelo fluxo na
artéria coronária circunflexa esquerda de um cão. Dados: a = 0,15cm; Qmédio = 0,9 cm3 /s; B=300G
0,9.300
V= = 11,5µV
50 .π .0,15
Pode-se notar que os valores obtidos são de pequena amplitude. Cuidados especiais devem
ser tomados para evitar interferências de ruídos elétricos (principalmente os 60Hz da rede). Para
tanto, utilizam-se fios com blindagem (malha de terra), bem como pré-amplificadores diferenciais.

Fluxômetros reais:
Sensibilidade do transdutor:
Na prática, vários fatores fazem com que o funcionamento dos fluxômetros reais seja
diferente do idealizado. A tensão obtida nos eletrodos na prática é menor do que o valor teórico
esperado. Para quantificarmos esta diferença, definimos a sensibilidade do transdutor (S), que é a
razão entre o valor de tensão obtido e o valor teórico esperado:

Vreal Vreal 100.Vreal 50.Vreal


S= = = =
Vteórico 2 a.B.v 100 2.a.B.v a.B.v
Portanto, para o fluxômetro idealizado, S=1 e para os fluxômetros reais, S<1. Quanto mais
próxima da unidade for o valor da sensibilidade de um transdutor, mais próximo do ideal será seu
funcionamento. Esta sensibilidade pode ser usada na compensação dos valores lidos nos
fluxômetros em função da sonda utilizada.

Efeitos da parede do vaso e do hematócrito:


Os eletrodos (E e E’) fazem contato com o vaso através de sua parede, como mostra a figura
19. A tensão induzida no sangue é conduzida pela espessura da parede do vaso até os eletrodos.

Figura 19: Contato dos eletrodos com o vaso.

Estudos teóricos e verificações experimentais mostraram que se a condutividade da parede


do vaso (σ2 ) for maior que a condutividade do sangue (σ1 ), então a sensibilidade do transdutor
21
diminui. Em conclusão, pode-se afirmar que o decréscimo de S depende da relação entre σ2 e σ1
(σ2 /σ1 ) (figura 19a).
Geralmente, entre os eletrodos e a parede do vaso existe uma fina camada de fluido (fluidos
corporais e/ou soro fisiológico), geralmente de condutividade σ3 maior que σ2 , e a sensibilidade do
transdutor decresce ainda mais (figura 19b). Deve-se salientar que a sensibilidade reduz ainda mais
se o comprimento do transdutor na direção do fluxo é pequeno em relação ao diâmetro do vaso. Por
isto, o comprimento do transdutor é sempre maior que 2 vezes o diâmetro do vaso.
A condutividade do sangue (σ1 ) depende de sua composição (plasma e hematócrito).
Quando o hematócrito aumenta, a condutividade do sangue decresce, alterando as relações de
condutividade e acarretando uma redução de sensibilidade. Entretanto, vários pesquisadores
chegaram à conclusão que a variação de S com o hematócrito é pequena (<5%), e pode ser
ignorada.

Tipos de sondas:
Sondas perivasculares:
Para funcionarem satisfatoriamente as sondas devem estabelecer um bom contato com o
vaso tanto durante a sístole como durante a diástole. Isso implica em uma constrição do vaso
arterial durante a sístole, quando seu diâmetro é cerca de 7% maior. Assim, como o vaso dilata
(aumento de 7% no diâmetro) durante a sístole, deve-se escolher a sonda com o diâmetro adequado
para manter o contato também durante a diástole. Já foi demonstrado que esta redução de diâmetro
durante a sístole modifica os valores de pressão nas proximidades do transdutor, mas não altera
significativamente o fluxo (redução da área da seção transversal aumenta proporcionalmente a
velocidade, e portanto o fluxo não se altera, pela equação da continuidade do fluxo).
Como o diâmetro das artérias varia, torna-se necessária a aquisição de um conjunto de
sondas, que em geral são fabricadas com incrementos de diâmetro de 1mm, cobrindo o intervalo de
1 até 24mm. Como cada sonda custa cerca de 300 dólares, pode-se perceber o alto custo envolvido
com um equipamento deste tipo, bem como a necessidade de as sondas não serem descartáveis, o
que exige esterilização entre uma utilização e outra.
Inúmeros tipos de sondas foram desenvolvidos para diversas aplicações, tais como:
pesquisa, uso em pacientes durante cirurgia e monitoração de pacientes no período pós-operatório.
Alguns tipos, por questão de tamanho, não possuem núcleo magnético em seu eletroimã, e portanto
apresentam menor sensibilidade.

Figura 20: Sonda tipo pinça (Cannon)

22
A figura 20 mostra um tipo de sonda de fácil adaptação ao vaso, e que por esta razão é muito
usado em pacientes durante cirurgias cardíacas e vasculares. Através de uma pequena alavanca,
pode-se abrir o laço que envolve o vaso para colocá- lo dentro da sonda, sem necessidade de
compressão.
Para a monitoração do débito cardíaco durante o período pós-operatório, é necessário um
tipo de sonda que possa ser aplicada durante a cirurgia e que possa ser retirada após o período pós-
operatório sem oferecer riscos e desconforto ao paciente (da mesma forma que um dreno). A figura
21 ilustra uma sonda deste tipo. O trabalho original de pesquisa consistiu na monitoração dinâmica
do fluxo aórtico durante 8 dias, em 28 pacientes submetidos à cirurgia cardíaca.

Figura 21: Sonda para pós-operatório.

Sondas intravasculares:
Sondas intravasculares podem ser montadas em cateteres ou introduzidas diretamente em
vasos pequenos. Como primeiro exemplo temos a sonda intravascular de C. J. Mills (1966).

Figura 22: Sonda intravascular de Mills

23
Esta sonda é colocada na ponta de um cateter e serve para medir, na aorta, o fluxo de sangue
em volta do cateter e simultaneamente a pressão sangüínea. A sonda é de pequenas dimensões
(diâmetro externo de 3mm). Para uma freqüência de excitação de campo magnético de 975Hz, a
resposta em freqüência da forma de onda do fluxo é plana até 35Hz. O resultado é dependente da
posição da sonda no vaso, se central (mede maior velocidade) ou encostada na parede (mede menor
velocidade). Como não é fácil determinar a posição exata da sonda, os resultados têm uma exatidão
de 20%. Mesmo assim, esta sonda é útil para avaliar o grau de regurgitação através de uma válvula
aórtica defeituosa, uma vez que a sonda detecta reversão de fluxo (reversão do sinal da tensão
induzida).
Como segundo exemplo temos a sonda intravascular de Kolin (figura 23). Esta sonda
consiste de um tubo flexível contendo dois eletrodos de platina. Quando inserida em um vaso, os
eletrodos fazem contato com pontos da parede diametralmente opostos. O campo magnético AC é
gerado externamente ao paciente. Assim, a sonda possui dimensões extremamente reduzidas
(diâmetro de 0,5mm), podendo ser introduzida no vaso através de uma agulha hipodérmica.

Figura 23: Sonda intravascular de Kolin.

Tipos de excitação para o campo magnético:


Excitação DC:
Na excitação DC, o campo magnético (e conseqüentemente o fluxo magnético B) não varia
com o tempo. Apesar dos primeiros fluxômetros usarem a excitação DC, eles foram substituídos
pelos com excitação AC por apresentarem as seguintes desvantagens:
• As flutuações das tensões nas interfaces eletrodo-contato com o vaso, que estão em série
com o sinal e que variam de maneira imprevisível, não podem ser separadas do sinal.
• As interferências devido aos sinais de ECG e EMG, por apresentarem espectro de freqüência
semelhante ao do fluxo, também não podem ser separadas do sinal.

24
• O ruído do sistema de amplificação (do tipo 1/f) torna-se relevante na banda de passagem de
interesse (0 até 30Hz), acarretando uma baixa razão sinal/ruído.

Excitação AC:
Se a utilização de excitação AC resolve as dificuldades acima apresentadas, ela introduz um
novo problema, que é o aparecimento de uma tensão de transformador.

Figura 24: Tensão de transformador.

Se o campo magnético não for rigorosamente paralelo ao plano da malha fechada formada
pela linha entre os eletrodos e os fios (área hachurada), aparecerá uma força eletromotriz (f.e.m.) VT
entre os eletrodos, proporcional à derivada da componente do fluxo magnético perpendicular à
malha.
Assim, se a corrente de excitação i for (freqüência entre 200 e 1000Hz):
i = I sen(ωt )
A tensão de transformador será:

dφ di
V T = K1 . = K 1 .K 2 . = K
{ 3 .ω . cos( ωt )
dt dt V t

e:

V = V f .sen(ωt ) + Vt .cos(ωt )
Geralmente a f.e.m. de transformador é muito maior que a f.e.m. relacionada ao fluxo
sangüíneo,e portanto é necessário usar um sistema de detecção que separe o sinal em fase (VF) do
sinal defasado (VT ). Um dos esquemas comumente utilizados é mostrado na figura 25, e suas
formas de onda são mostradas na figura 26.
Neste sistema, o sinal de excitação da bobina de campo é defasado em 90 graus, de maneira
que seus cruzamentos de zero ocorram nos mesmos instantes que os cruzamentos de zero da tensão
de transformador. Através de um detector de cruzamento de zero, o sistema gera pulsos de
25
amostragem. Estes pulsos ocorrem quando VT é zero e VF é máximo. Desta forma, podemos
amplificar apenas os sinais referentes ao fluxo sangüíneo.

Figura 25: Sistema de discriminação de sinal em quadratura por amostragem.

Figura 26: Sinais presentes no sistema da figura 25.

26
O problema com este sistema é que qualquer desvio de freqüência do oscilador faz com que
a amostragem seja feita em instantes incorretos, o que leva a resultados errôneos. O melhor método
para eliminar a tensão de transformador é usar o sistema com supressão automática de quadratura,
mostrado na figura 27.
O demodulador em quadratura mede a amplitude da tensão de transformador na saída do
amplificador e envia a informação necessária para o circuito de supressão, que gera o sinal em
quadratura para alimentar a bobina de supressão localizada no primário do transformador de
acoplamento. A realimentação negativa leva o sistema a obter o sinal de menor amplitude possível
na saída, o que acontece quando a tensão de transformador é suprimida.

Figura 27: Sistema com supressão automática de quadratura.


O grau de supressão alcançado depende do ganho da malha de realimentação, normalmente
0,5. Com este nível de sinal, o demodulador em fase não é sobrecarregado e extrai o sinal que
corresponde ao fluxo.

Sistemas pulsados:
A grande maioria dos fluxômetros eletromagnéticos modernos usam como sinal de excitação
uma onda quadrada, pulsos retangulares, uma onda trapezoidal ou pulsos trapezoidais (figura 28).
Com o uso de ondas quadraras, geram-se impulsos de grande amplitude na tensão de transformador
(alto valor de derivada), que saturam momentaneamente o sistema de amplificação. A tensão de
transformador quando se usa onda trapezoidal é uma série de pulsos, cuja amplitude em geral não
satura o sistema de amplificação. Para se obter o sinal referente ao fluxo, basta amostrar o sinal
durante o período de “platô” da onda de excitação, durante o qual a tensão de transformador é nula.
Normalmente, usa-se um pulso de sincronismo para a amostragem e outro pulso de sincronismo (na
variação do sinal de excitação) para controlar o ganho do amplificador (figuras 29 e 30).

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Figura 28: Excitação pulsada.

Figura 29: Sistema de demodulação com excitação pulsada.

Figura 30: Formas de onda do sistema da figura 29.

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MÉTODOS PLETISMOGRÁFICOS

São métodos usados para medir variações de volume no tempo (e conseqüentemente o fluxo
arterial) em um membro. Existem três tipos principais:
1) Pletismografia de oclusão venosa.
2) Pletismografia de capacitância.
3) Pletismografia de impedância elétrica.

Pletismografia de oclusão venosa:


Princípio de funcionamento:
Na verdade, todos os métodos acima citados são de oclusão venosa. O que muda é o método
de detecção da variação volumétrica do membro, que no caso mais comum é feito por um sistema
mecânico. O princípio para todos é o seguinte:
Se o retorno venoso é anulado, o aumento de volume (V) do membro corresponde ao
volume de sangue arterial que chega àquele membro. Assim, podemos calcular o fluxo (F), uma vez
que F=dV/dt.

Equipamento:
A figura 31 mostra o esquema geral.

Figura 31: Esquema geral da pletismografia de oclusão venosa.


O equipamento é composto por:
• Uma câmara cilíndrica que envolve perfeitamente o membro ou um segmento dele;
• Um sistema para provocar a oclusão venosa (manguito a 50mmHg)
• Um sistema de oclusão arterial (manguito a 180mmHg), no caso de o cilindro
envolver somente um segmento do membro, para que todo o sangue arterial que
chega ao membro fique acumulado entre os manguitos.
• Uma bexiga cheia de água ou ar para permitir o aumento de volume do membro, à
qual está ligada o sistema de calibração e transdução.
O método de medida consiste em (figura 32):

29
Figura 32: Medição por pletismografia
1) Calibração pela introdução de um volume conhecido de fluido na bexiga.
2) Oclusão venosa.
3) Oclusão arterial quando necessário.
4) Registro do aumento do volume do membro com o tempo.
5) Quando a pressão venosa, devido ao acúmulo de sangue, chega a 50mmHg, começa a
existir retorno venoso e o volume torna-se constante.
6) Quando o sistema de oclusão venosa é liberado, o volume de sangue no segmento
analisado volta rapidamente ao seu valor normal.

Aplicações do método:
• Medida não- invasiva de fluxo sangüíneo em membros.
• Detecção de trombose venosa, a qual provoca um retorno mais lento ao volume
normal (curva B na figura 32).

Pletismografia de capacitância:
Princípio de funcionamento:
O sistema é o mesmo usado no primeiro caso. O que muda é a forma de detecção da
variação volumétrica. O aumento de volume de um segmento de membro perfeitamente envolvido
por um cilindro rígido (mas sem entrar em contato com o mesmo) reduz a distância entre a
superfície da pele e a parede do cilindro, aumentando a capacitância entre estas superfícies. Esta
variação capacitiva é detectada através de um circuito ponte de Wheatstone com excitação AC.

Pletismografia de impedância elétrica:


Princípio de funcionamento:
Variações de volume de um membro devidas ao fluxo de sangue implicam em variações da
impedância elétrica associada. Com o aumento de volume (∆V) ocorre um aumento da área de
seção transversal (∆A) proporcional, já que o comprimento não varia significativamente.Este
aumento da área se deve totalmente à dilatação dos vasos, e portanto a variação de impedância que

30
aparece se deve à adição de uma resistência com área ∆A, comprimento L e resistividade igual à do
sangue (ρb). Esta resistência Zb aparece paralela à resistência inicial Z.
As equações que relacionam a mudança de volume com a mudança do valor da impedância
são baseadas em três premissas:
1) A expansão das artérias no segmento considerado é uniforme (válido em
condições normais).
2) A resistividade do sangue não varia (na prática, a resistividade decresce um pouco
com a velocidade do sangue no vaso).
3) As linhas de corrente são paralelas às artérias (suposição válida nos membros, com
exceção do joelho).

Figura 33: Pletismografia de impedância elétrica.

Como a impedância Zb representa a variação de resistência devido a ∆V e portanto a ∆A,


temos:

ρ .L ρ b .L2
Zb = b e ∆V = L.∆A =
∆A Zb (1)

Isto equivale ao circuito da figura 33b. Normalmente se mede a variação série de resistência,
∆Z, negativa com o aumento de volume. Para relacionar ∆Z com Zb, temos:

Z2
∆Z = (Z b // Z ) − Z ⇒ ∆Z =
Z .Z b
−Z =−
Z + Zb Z + Zb
Como Z<<Zb (∆A pequeno), então:

Z2
∆Z ≈ −
Zb (2)

31
Finalmente, substituindo a equação (2) em (1):

ρ b .L2 .(− ∆Z )
∆V =
Z2
Considerações sobre a freqüência de excitação:
Em geral, recomenda-se o uso de freqüências altas (da ordem de 100kHz), a qual é um
compromisso entre limites inferior e superior:
• Para se obter uma boa relação sinal/ruído, é necessário o uso de correntes
maiores que 1mA. Em freqüências baixas (inferiores a 20kHz), isto causaria uma
sensação desagradável de choque.
• A impedância das interfaces eletrodos-pele decresce com o aumento da
freqüência. Em 100kHz, ela é cerca de 100 vezes menor que em baixas
freqüências.
• Por outro lado, para freqüências acima de 100kHz, o efeito de capacitâncias
parasitas deteriora o funcionamento do equipamento de medida.

Vantagem e desvantagem do método:


Vantagem: É não- invasivo.
Desvantagem: Pouca exatidão.

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