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O aplicativo Mandic Magic registra senhas de redes públicas de wi-fi em todo o mundo /
Sekihan/Creative Commons
A história de Aleksandar Mandic se confunde com a própria história da internet brasileira.
Antes mesmo da estreia comercial da rede no Brasil, ele criou a Mandic BBS, serviço online
de maior sucesso do País.
A BBS transformou-se em provedor, que Mandic vendeu. Em seguida, ele foi um dos
fundadores do iG, que liderou a onda de acesso discado grátis no Brasil, antes da transição
para a banda larga.
Mandic pode ser considerado um empreendedor em série. Depois de deixar o iG, criou o
Mandic Mail, um serviço de email corporativo, que também foi vendido.
Atualmente, ele está à frente do Mandic Magic, aplicativo para compartilhamento de senhas
de redes públicas de wi-fi, que, em breve, vai mudar o nome para WiFi Magic (para facilitar
a sua promoção fora do Brasil).
Segundo Mandic, para ter sucesso, o empreendedor deve ser persistente. “O mais
importante do que ter a ideia é terminá-la. Muita gente desiste no processo. O mundo atual
é de quem tem paciência”, explica.
Foi há três anos e aconteceu meio que sem querer. Não falo inglês e isso era uma
dificuldade, porque toda vez que ia aos Estados Unidos não conseguia entender direito
quando me falavam as senhas do wi-fi. Decidi então criar uma base de dados para senhas.
Conversando com um amigo meu, ele disse que faria um aplicativo para solucionar
o problema. O amigo, Eduardo Mauro, é meu sócio agora.
No primeiro dia em que colocamos no ar, houve 10 downloads. Nos outros dias, essa média
continuou. Quando chegou o quinto dia, o Eduardo me ligou às 8h da manhã, dizendo que
tínhamos 40 novos downloads até aquele horário. Às 12h, ele me ligou de novo e disse:
‘Mandic na última hora foram 100 downloads’. Quando foi às 15h, ele me avisou: ‘Vamos
chegar aos mil downloads hoje’. Pensei: ‘Vamos festejar!’ E saímos para tomar champanhe.
Quando acabamos a bebida, tínhamos 3 mil downloads. E desde então não parou mais.
Temos cerca de 30 mil downloads por dia, orgânicos, sem fazermos nada. Temos
aproximadamente 14 milhões de cadastros e 1,5 milhão de senhas. Só trabalhamos com
senhas públicas, de bares, salões de beleza, shopping centers, hotéis.
O aplicativo trabalha com patrocínio. Quem entra no Mandic Magic do zero vê que o app
é patrocinado pela Localiza. O menu mostra uma chamada para alugar carro e onde tem
uma Localiza mais próxima. Temos outros patrocínio para entrar também.
Teve a BBS, o Mandic Internet, o iG e o Mandic Mail. Esta é a quinta empresa. São quatro
fracassos, porque eu podia ter me aposentado quatro vezes e fracassei (risos).
Isto aqui, como eu falei, foi meio sem querer. E aí que está o gostoso das coisas. Quando
alguém pensa em dinheiro, acha que precisa muito dar certo. Quando não pensa, tudo o que
a empresa der é lucro.
Tenho. O que não tenho são recursos suficientes. Como a área de atuação é o mundo,
é preciso uma quantia significativa de dinheiro para divulgar o Mandic Magic. O negócio é
fazer global.
Sim. O que gastamos na verdade foi ficar pensando. A gente economizou fazendo as coisas
certas. É claro que a gente errou também. Quem erra pouco perde pouco tempo.
Esse negócio de sócio é muito delicado. Não estou atrás de sócio, mas se alguém vier
conversar comigo será muito bem recebido, como sempre foi.
Antes não existiam recursos ou eles eram caros. Para fazer a BBS, eu tinha de ter
computadores em casa, linhas telefônicas, e hoje é cloud. Essa é uma vantagem. A
desvantagem é que o mercado já está popular. Antes, alguém vinha sozinho e fazia. Mas
acho a concorrência sadia, porque é o reconhecimento do mercado que seu produto é bom.
Ninguém vai copiar porcaria. Se aparecer concorrência exatamente no que você faz, não
fique triste, é um bom sinal. Só que quem ganha é o melhor.
A ideia é algo importante, o empreendedor tem de saber o que quer fazer, mas o mais
importante é terminar a ideia. Porque qualquer ideia não terminada é como um número
multiplicado por zero. Pode ser até um número grande, mas multiplicado por zero vira zero.
Eu falo: ‘Pessoal, vai lá e faz. Faz até o final’. É a parte mais importante, e quase todo
mundo desiste.
Olha, quanto pior, melhor. As boas ideias sempre surgiram em época de guerras. Porque no
conforto o ser humano não pensa, ele faz isso no aperto. Quem sabe, se eu soubesse falar
inglês, não teria feito o app.
O que você aprendeu com suas outras empresas que permite evitar erros
agora?
O mundo pertence a quem é paciente. Quem é impaciente acaba perdendo para si mesmo.
Aprendi a esperar as coisas acontecerem, porque existe um tempo de maturação. Mas é
importante não confundir: ser paciente é diferente de ser lerdo.
As lições de 5 empreendedores
seriais
O que aprender com cinco empreendedores brasileiros que
ganham dinheiro ao criar negócios em série
Por Christian Miguel
Cristiana Arcangeli, empreendedora serial que já teve três empresas de cosméticos (Daniela
Toviansky/)
O começo
“O gasto com ligações internas e viagens era alto”, diz Mandic. (O sistema,
precursor da internet comercial e hoje em desuso, era o BBS, que armazena e-
mails e outros dados que podiam ser acessados com uma única ligação
telefônica.) “Deu muito certo na Siemens e resolvi abrir uma empresa para
vender um serviço como aquele”, diz.
O negócio
Começou em casa. Mandic usou um modem para ligar seu computador ao
único telefone da casa. “Foi difícil convencer minha mulher a abrir mão da
linha”, diz. Depois, ele começou a cobrar de amigos que conectassem seus
computadores a uma rede que dava acesso ao sistema.
Primeira venda
A lição
Em certas ocasiões, Mandic tomou decisões que iam contra a corrente. Foi
assim em 2001, quando lançou os serviços pagos de e-mail corporativo.
O começo
Não pergunte à empreendedora Cristiana Arcangeli a sua idade. Ela não diz.
As revistas de fofoca chutam entre 47 e 51. Disfarçar a idade é, de certa
forma, o mercado em que ela atua. Cristiana, formada em odontologia, já teve
três empresas de cosméticos.
A primeira delas foi a Phytoervas, criada em 1986 para fabricar xampus que
não levassem sal na fórmula. “No Brasil não havia muitas opções de xampus
com fórmulas livres de ingredientes menos agressivos”, afirma Cristiana.
Primeira venda
Oustros negócios
Nos anos seguintes, Cristiana cuidou de duas empresas fundadas por ela no
começo dos anos 90 — a PH Arcangeli, distribuidora de produtos de beleza de
marcas como Chanel e Carolina Herrera, e a Phytá, uma rede de lojas de
cosméticos importados.
A lição
O começo
Aos 19 anos, o engenheiro Cassio Spina, hoje com 44, fundou sua primeira
empresa, a desenvolvedora de softwares de comunicação InterSys. Seus
principais clientes eram empresas que utilizavam o software para acessar
informações remotas — o sistema funcionava mais ou menos como um
navegador de internet, como o Internet Explorer ou o Mozilla Firefox.
No começo da década de 90, Spina decidiu fechar a InterSys e criar uma nova
empresa, a Trellis, para fabricar equipamentos de conexão. “A Trellis já
nasceu com 15 funcionários, egressos da InterSys”, diz Spina.
Primeira venda
“Um dos donos era tio de um amigo, e a parceria durou alguns anos”, diz
Spina. Em 1995, com a chegada da internet comercial, ele comprou a paulista
Listic, uma fabricante de conectores que permitiu à Trellis começar a vender
para o consumidor final. Em 2004, Spina foi procurado por um fundo que
investia em empresas de tecnologia, o SPTec.
Outros negócios
“Cerca de três aportes são feitos por mês”, diz. No ano passado, criou sua
própria empresa de participações, a Altivia. Por meio dela, Spina oferece a
empreendedores uma espécie de aconselhamento para atrair investimentos.
“Nesse tempo não fizemos investimentos para a Trellis crescer”, diz Spina.
“Estávamos empenhados em fazer a Virtus começar a operar.”
O começo
“Muitas pessoas não tinham dinheiro nem para tratamentos básicos.” Chicani,
então, resolveu criar o plano odontológico DentalCorp, numa época em que
esse mercado era bem incipiente.
Outros negócios
Em 1997, a DentalCorp quase faliu depois que Chicani investiu algo em torno
de 30 000 dólares em equipamentos e na abertura de novos consultórios e
escritórios. “Eu estava empolgado”, diz ele. “Achei que conquistaria grandes
clientes.”
A lição
O começo
A primeira venda
A Saga foi vendida para um grupo francês em 1987, dois anos depois de ser
fundada, por 500.000 dólares. Desse total, 400.000 foram investidos na
empresa e o restante foi dividido entre os fundadores. Em 1989, depois de se
desentender com os sócios, Wettreich saiu da empresa com mais 17.000
dólares.
Outros negócios
No começo dos anos 90, Wettreich criou a Mantel, que organizava eventos
sobre tecnologia para atender ao incipiente mercado brasileiro de TI. Segundo
estimativas de mercado, a Mantel chegou a faturar 8 milhões de dólares ao
ano e gerar um lucro de 45% das receitas.
Em 1995, Wettreich fundou o prêmio iBest, que reconhecia os melhores sites
e se tornou uma referência na recém-lançada internet comercial. Em 2001,
quando o iBest virou provedor de acesso e de conteúdo gratuito, a Brasil
Telecom comprou 13% de seu capital. A empresa acabou assumindo o
controle do iBest em 2002 numa negociação estimada em 50 milhões de
reais.
Wettreich não deu entrevista para esta reportagem, justificando estar “em
meio a um processo que não permite exposição”. A Brasil C/T tem como
sócio o Santander, e fontes próximas a Wettreich revelaram a Exame PME
que o banco deve fazer um novo aporte — o que pode significar assumir o
controle.
A lição
As empresas de Wettreich estão sempre prontas para ser vendidas. Essa é uma
característica de quem mantém uma gestão transparente e consegue diminuir
os riscos que depreciam o valor de uma empresa, como a dependência
exagerada de um só cliente ou fornecedor, alta inadimplência ou enroscos
tributários e trabalhistas.
“São cuidados que deveriam ser seguidos por qualquer empreendedor, mesmo
que não esteja nos planos vender a empresa ou receber aportes de fundos de
investimento”, afirma o consultor Reinaldo Grasson de Oliveira, da Deloitte.
https://exame.abril.com.br/pme/uma-empresa-atras-da-outra/