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Éramos eu e o mar, frente a frente de novo.

Já tinha mais de onze anos desde


a primeira vez, mas a sensação que eu senti foi a mesma. Nada agradável, o
desfecho foi triste da primeira vez e uma sensação de impotência e medo à flor
da pele. A própria inconseqüência da idade fez com que eu ficasse agarrado ao
saveiro e ao medo, fazendo com que eu não aproveitasse o passeio como eu
gostaria. E o tempo foi impiedoso, fazendo a soma de todos os medos,
incluindo o de nadar.

Nunca fui daqueles caras totalmente corajosos, mas sim daqueles que se
empenhavam em superar os obstáculos. Até bem pouco tempo, eu não me
deixava abalar por quase nada e superava o que tinha pela frente. No entanto,
também não costumava ousar muito. Foi quando eu comecei a perder a
capacidade de superação e comecei a ver que eu havia me tornado tudo o que
eu mais temia: um cara sem superação. Embora aquilo me incomodasse, nada
fiz para reverter. Pelo contrário, só deixei escapar as oportunidades que
poderiam me confrontar com os medos.

Logo veio outra chance, outra oportunidade de redenção sob as águas


cristalinas de ilha Grande. Dessa vez não estava sozinho, tinha um grande
amigo do lado, mas do que adianta a companhia alheia se só a própria vontade
resolve qualquer problema? Não pensei nisso na hora em que topei o passeio,
mas os pensamentos vieram à tona enquanto eu estava dentro do saveiro. Só
então eu me dei conta do que eu tinha me metido. Eu queria ter desistido, eu
poderia ter desistido. Mas não quis, já passara da hora de completar o que eu
não tinha feito anos antes...

O dia estava tão bonito como eu nunca tinha visto antes. Nunca tinha visto o
céu tão azul como naquele dia, as ilhas tão verdes. A água parecia um tapete
de cristal, de tão limpa que estava. O vento parecia abafar o calor de verão
abrasador que assola o RJ. Estávamos muito animados por que aquele
passeio tinha tudo para dar errado ou muito certo. Ele não sabia da minha
história em Ilha Grande, preferi não contar até que eu achasse que era o
momento certo. Ele pulou na minha frente e já tinha caído na água. Foi quando
eu me vi pendurado no saveiro. Tinha duas escolhas. Uma eu já sabia qual era.
A outra eu poderia descobrir se eu pulasse.

E descobri. Minutos depois eu estava dentro d’água, não acreditando na


manobra que eu havia feito. Mais ainda, eu estava no mar. No meio do mar.
Sem bóia, macarrão ou nada que me sustentasse. Tudo bem que o início foi
meio no desespero, mas quando eu vi, já me sustentava pelas águas
cristalinas como quem era craque em nadar em mar aberto. Quando não
estava nadando com a cabeça fora d’agua, eu olhava por dentro da lagoa.
Realmente, foi uma sensação muito boa! Mas ainda não tinha acabado.

Eu ainda não tinha superado o medo de mergulhar e nadar. O dia já estava


quase terminando

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