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eee R188 13h ALBERTO GUERREIRO RAMOS ANOVA CIENCIA DAS ORGANIZACOES Uma reconceituacao da riqueza das nagdes Tradugdo de MARY CARDOSO (UL. MiG. - BIBLIOTECA UNIVERSITARIA NAO. DANIFIQUE ESTA ETIQUETA FGV-Instituto de Documentagao Editora da Fundagdo Getulio Vargas Rio de Janeiro, RJ — 1981 56 5. POLITICA COGNITIVA — A PSICOLOGIA DA SOCIEDADE CENTRADA NO MERCADO Enquanto permanecer alheia priada de conceitos dos como éreas sep: ‘memoria um period zagfo reivindicavam um: . rare em ol ‘ : eeareiae das enruuras eeagas das oganizagSes formas, ester 86 dendose agora & sociedade como um todo. Mesmo no presente mo- ‘mento, uma apreciagio sistematica da polftica como uma dimensfo ~cognitiva ainda é ignorada pelos teoristas da organizacao. A idéia de politica cognitiva continua situada fora do interesse mesmo daqueles que, jf hd multo tempo, abandonaram a velha dicotomia entre admi- nistragao ¢ politica. Politica cognitiva, para oferecer uma definigSo preliminar, con- siste no uso consciente ou inconsciente de uma linguagem distorcida, cuja finalidade € levar as pessoas a interpretarem a realidade em termos adequados aos interesses dos agentes diretos e/ou indiretos de tal distorgéo. 96.1 Politica cognitive, uma digresslo histortea ‘A politica cognitiva 6 um fendmeno histérico perene. & uma questo exposta por Plato, em muitos de seus didlogos sobre a natureza © 0 uso da retbrica. E bem sabido que Plato manifestou aversio pela retérica, tal como a praticavam of sofistas, pela simples azo de que ela visava producir apenas crengas, no conliecimentos. Contudo, tentou ele salvar o fendmeno da retérica ou da persuasz0 Politica reclamando, em diversos.dilogos, mais especificamente porém no Fedo, uma ret6rica dialética, uma retérica a servigo da filosofia, E no Gérgias, um dos seus primeizos dislogos, Patio mestza, através de Sécrates, que o retbrico tfpico “no tem necessidade de 2 verdade das coisas, mas de descobrir uma técnica de 8 comparay (. 456, isto 6, a ret6rica constitui uma téonica para adular a multi- {fo ea ser usada perante aqueles que nfo tém o habito de pensar, uma |Lye2 que 0 retbrico sofistico nfo pode ser convincente entre os que ;possuem sabedoria. Num ponto de seu didlogo, Sécrates refere-se & ret6rica como “a semelhanga de uma parte da politica” (p. 463d), relagdo sobre a qual Arist6teles elabora em sua Retérica. Admite, contudo, a possibilidade de uma ret6rica emanada do conhecimento, que se preocupe em “tomar os cidadiéos os melhores possiveis? (P. 513c), ou seja, formar uma cidadania esclarecida, nfo constitufda de indivfduos que, politicamente, ou so simplérios ou impostores. esse modo, o proprio uso que Socrates faz da retrca, nos didlogos, 6 demonstracio de que ela pode estar a servico do v (0 ator politico, isto é, da arte da polft Como foi jé mencionado, Plato também sugere que a maneira de salvar a retérica esti em toméla parte da dialética, tal como ele a entendia, Conviria salientar que Platfo, no fim de contas, nfo tral a pré- pila condenapfo do retbrico sofistico, porque nas Leis sugere ele que 87 sistema politico dos agentes e das agGes de destruigao. Plato concebe scars ‘ossdas em nome de leptitagte palin 0 een a esse credo como uma destilaggo das normas minimas comuns a todas ; ret jes, normas cuja validade se toma evidente através do debate da |. Uma palavra sobre a natureza da teologia civil pode ajudar a 4 soft esclarecer 0 funcionamento da politica cognit F Auavés de toda a uma teologia civil deveria acompanhar a legislagSo, protegendo o sadio aguda porcepglo da relaglo entre © poder da palavra e a8 muitas & compativel com o projeto de Platfo de purificar a retérica reo sofistica, assinalando que que distingue 0 ret6rico do © prop6sito moral do indivfduo no uso da ret6rica. O setérico é um orador treinado na pritica da arte da persuaséo. a ‘A moralidade ‘substantiva é uma qualidade das pessoas e reside no | orador. Ao violar essa orientagdo o individuo incorte numa espécie de conduta que se desvia da tensio constitutiva da razio substantiva © 4 critérios instrumen.ais de avaliago. le expediéncia (0 que, afinal, eq so 08 Gnicos freios capazes de cont jos oradores para usarem seu poder de enganar, de emitirem julgamentos errados, ou de se permitirem com- morals. O reconhecimento do cariter ambiguo da lin- ‘guagem 6, pelo menos, to antigo quanto os gregos. O orador respon sivel pode esforgar-se por usar a habilidade que adquiriu de superar ambighidades de motivo ou propésito, Embora Aristteles cedesse, de vez.em quando, & tentagdo sofistica de compilar receitas lingistiess, 0 intuito geral de sua Retdrica ¢ subordinar a arte da persuasio a paudes éticos, eexplicar seus nuumerosos usos politicos legitimos. ‘teologia civil_ndo. deveria-ser.erroneamente cognitiva. Uma teologia civil ¢ expresss- chraa poss as tes arate termos imagens acessves & compre- vl fos. A distingdo identificada, como. pol imiente formulads nfo um tipo de ordem si ° ensGo ¢ a0 nivel educacional do conjunto “tes do fendmeno da politica cognitiva. Mas na Grécia o-alcance ¢ 0 : impacto sociais dessa polftica puderam ser mantidos sob 0 contol a sublimi. is politica puderam ser sob o controle validar as teologias cli, as ee een ele polttica : dos usos ¢ costumes predominantes, e do processo educativo ocorrido ae ee a canals objeto de debate entre suas vita. ‘Ros grupos formais ¢ informais, em que os gregos aprendiam os deve. ‘cognitiva, no con: serewraies ama tes da cidadania, A filosofia e a educapdo sistemética também serviram Em sus dogo, Pato ompreende a tarefa de desenolver una | como forgas de compensaeSo, contra a proiferacd da copni- arte de debate racional, que € mais além refinada e codificeda por tiva, Em outras sociedades antigas, em que nfo existiu propriamente et6rica, em rela- stoteles, em sua Revdrica, Aristoteles considera a ret fae outrisdsciplinas, como um “amo de extudos dlls eta. bm éticos”. labora el, ainds, sobre ess relapo quando adverts § Ieitor de que “estudos éticos podem bem ser chamados de pol & No contexto de suas bases culturais especificas, os individuos Puderam desenvolver um sentido de vida comunitiria live da influen: i politea Comite. No repostrio de trades da malora das to avai crt am ca ogs tli sociedades da era pré-industrial, podemos encontrar exposta na termi. nowt de (ele io de conjunto desta nogi0, nologia dos provérbios a percep¢o comum do mereado como o local ‘Geimino, Dante (1967, p. 29), Uma de pritica da politica cognitiva e da linguagem enganadora. Em tuitas nl ee ‘Geiedades arcaicase antigss,o mercado tinha uma fungdo determina. ein alee ona do saber la dentré de rigorosos limites geogrificos,longe da corrente maior da i ompanivo dx nog que Rawlt ten 4 eee sc wnipa, em titina eB vida social, para que nfo solapasse as bases da comunidade e distor. ‘Ripe refs um svaliagso mfope do ext atal da socedae instal de- cesse a natureza da comunicagdo. Esse ordenamento histérico fol Savana media em qu reconaade inert 2 toma de prepo do | conscientemente elevado a condigio de um princlpio diferenciado de dio explcitamente acta por Rawls como press bisca de sua ooo Ai Planejamento social pelos pensadores politicos clissicos, tais como 89. Plato, Arist6teles © Santo Tomas, os quais concordaram todos em ue, para preservar o bom caréter da comunidade, 20 mercado ¢ a seus peculiares pads6es cognitivos ¢ linglisticos nunca deveria ser permiti- da a expansfo para além do local que Ihes fosse circunscrito, 5.2 A politica cognitiva e a sociedade centrada no mercado A politica cognitiva 6 a moeda corrente psicologica da sociedade entrada no mercado. Nao constitui mero incidente o fato de que, em toda sociedade em que 0 mercedo se transformou em agéncia céntrica da influéncia social, os lagos comunitérios e os tragos culturais especf- ficos so solapados ou mesmo destruidos. Diante do consistente padrdo de conseqiéncias que acompanhou a difusfo da mentalidade de mercado através de todo 0 mundo contemporaneo, & dificil com- preender como \émeno escapou a uma investigagao sistemética. ‘Aqui estou eu simplesmente chamando'a atenglo para o 6bvio, mas é precisamente o Obvio que constitui propésito da politica cognitiva obscurecer. Esse evento praticamente universal, resultante do expan- + sionismo politico das sociedades hegeménicas centradas no mercado, & legitimado como principio bésico da ciéncia social contémporinea. essa forma, o fim da sociedade tradicional (Lemer, 1958), @ homoge- neizagao do comportamento humano em escala mundial (Alex Inkeles, ‘arcabougo de padrées mercado. ™ Conseqlientemente, 6 Iicito indagar as razées pelas quais 0 estu- do da cognigso como uma forga impulsionadora da politica ~ ov, melhor, a poiftica como uma dimensfo da cogni¢l0 — ndo se transfor ‘mou em assunto académico. Pode-se compreender facilmente o signi- flcado de expressGes como politica do peiréleo, politica de transporte politica da poluigao, sem uma longa Maso significado de juma expresso como “politica cognitiva” nfo se toma evidente sem maior clarificagdo. Talvez uma razo que, logo de inicio, faga a expres- sao soar como desconcertante, seja a de que esté na propria natureza da ‘cognitiva a condiglo de ser obscura. Néo hé razbes de onveniéncia, para aqueles que esto envolvidos na politica do petré- feo, do transporte e assim por diante, em negarem o fato, mas essa hipdtese ndo vale para aqueles que, consciente ou inconscientemente, esto envolvidos na politica cognitiva, cujo objetivo afetar a mente 2 Veja também MoClelland & Winter (1969). do povo. Se eles admitistem a intencionalidede das atividades ECS. «mre yas politicos cognitivos, mas também graves i i Tevantadas quanto sous objetivos Tn “ones Poderam ser 0 fenémeno da politica cognitiva requer explicit investigagio académica se se pretende que a elaboracao tebrica nas ciéncias de gla, nejamento de sistemas socials ¢-da administrapdo organizacional se Uberte da deformagSo decorrente da aceitagso ingénua dos pressipos. tos de sociedade centrada no mercado. O estudo desse fenémeno deve Yalerse dos recunos exstentes na soclogla do coeciment, na nna psicologia cognitiva, na antropologia cognitiva ¢ na” teoria da comunicagdo. Matéria ponto central deste tipo de estudo, 60 conjunto de regras epistemologicas inerentes & estrutura politica pre- dominante nas sociedades industrials desenvolvidas,regras que fo tbsoriss em nenhuma clea pelo cdado comb, através da ssi. izapfo e/ou mediante a exposi¢o desse cidadfo, homem 4 influéncias planejadas sistematicamente, aan enciar a interpre- ue a ink 6 dada, quanto seu padro lingitico,¢elaborado sites pus ereens do que para esclarecer o pblico. Umia hora de televsio € suficientes para que qualquer ue a politica de cognigo é um fato Preponderante da vida contempordnea. A bem-sucedida venda de um Produto é, hoje em dia, nfo tanto o resultado da exata compreensdo de suas verdadeiras propriedades, por parte dos consumidores, mas de preferéncia desfecho de uma batalha politica velada contra o bom senso, De fato, a presente estrutura de consumo neste pats, onde ‘asses enormes de pessoas sfo induzidas a acreditar que desejam (c, Portanto, devem comprar) aqulo de que nfo predisam, tomov-st ‘vel ~ gracis & pritica da polftica cognitiva. O procest de educagao Oral, igvalmente, est grandemente condicionado por ese tipo de politics. As vezes, individuos e grupos dose conta da politica de cognicéo © ¢ assim, por exemplo, que as ne che iplo, que as mulheres, os negros e os » de todas as categorias¢ de todos os tamanhos, zagfo formal tem seu jargio especifico, que constitui Aispositivo de protepto e estabilizapfo, ¢ que contém um Cada. organiz importante 2 ciedade centrada no mercado; b) a definigfo do homem como um de- tentor de emprego; c) a identificagfo da comunicaggo humana com a Essa explicagdo retrospectiva do desenvolvimento da sociedade de mercado traz nova luz A interpretagdo de acontecimentos caracte- risticos da historia econdmica contemporinea. Podese argumentar, por exemplo, que a Grande Depressdo, nos EUA, foi uma indicagéo capacidade_para_produzir bens pr Gidadaos, mas resultou do baixo poder Jos. Exatamente quando a depressao ‘dente Hoover disse: “Em breve, com a ajuda de Ds ‘© dia em que a pobreza serd banida desta nagéo.”!* Em outras pala- vas, o mercado deste pais desenvolvera uma disponibilidade de capital ¢ uma logistica tecnologica eapazes de produzir uma quantidade de bens ¢ servigos primaciais equivalentes as necessidades bésicas da populagio, Além disso, podia chegar a esse resultado sem exigir que cada individuo se transformasse no detentor de um emprego. Mas a mentalidade dos empresérios ¢ dos elaboradores da politica econdmica oficial os impediu de compreender o conceito de emprego em outro ue nfo fosse 0 de um mecanismo para a distribuigo de Por sua vez, os levou a crenga de que ndo havia maneira a economia de bens primaciais proporcionasse ocupaglo para todos. Os economisas clésscos estavam conceptualmente desprepars- dos para compreender e superar esa crise. A revolugfo Keynesians sistiu em socomer a econdmica em resolver 0 impasse do mercado, pela atualizacdo através do dispéndi, da, polencial do ‘mercado para produzir bens e servigas de-natusrza demonstrative. Sob ‘essa nova condi¢go, péde o mercado proporcionar, outra vez, erpre- fos para todos, 0 que, por au ver, aumentaria 0 poder de compra. Bevese notar porém que Keynes concebeu o emprego como o crtério ssencial de distribuigdo de mlo-de-obra, sendo sua mente prisioneira do desenho social estrutural implicito nesse princfpio de organizagio. Por essa razdo, continuou ele jo um economista clissico, ¢ falhou nna tarefa de produzit uma verdadeira “‘teoria geral de emprego”, se entendemos por emprego uma condigdo.em que o individuo pode 1s politicas econémicas de Keynes salvaram de fato mercado e de fato reestimularam suas atividades, mas 0 keynesianismo fol apenas ‘um adiamento temporirio da crise, que prenunciava o fim da validade ica da categoria de emprego como um prine{pio organizacional odugao. ‘Nav sociedades de mercado, atualmente,apsar do fato de que a ugio de bens e servigos demonstrativos equivale, se 6 que nfo fc, a produgdo dos bens e servigos primaciais, o mercado esté de ‘Apud Heibroner (1 i : Fe [novo ficando incapaz de proporcionar empregos para todos os que | dosejam trabalhar. Isso se transformou numa tendéncia estrutural \ secular, que desafia qualquer sistema de poltticas econdmaicas,incluin- do aqueles de natureza keynesiana. Assim, por exemplo, no livro Work \ in America, pode-se ler: “... a propria economia nfo foi (capaz) ... de absorver 0 aumento espetacular verificado no nivel educacional da forga de trabalho. A expansio nos empregos nas éreas de ‘técnica e de servigos de escrit6rio absorveu apenas 15% dos novos trabalhadores instrusdos; 0s restantes 85% aceitaram trabalhos anteriormente executados por pessoas portadoras de menores cre : Se as coisas continuarem como a disparidade entre a oferta fe a procura de trabalhadores instrufdos provavelmente estard exacer- ada na proxima década. Cerca de 10 milhoes de diplomados de nivel superior estio previstos para entrar no mercado de trabalho nesse perfodo, enquanto apenas 4 milhdes de diplomados deixarfo a forga de trabalho, por aposentadoria ou morte. Isso quer dizer que hhaverd 2% diplomados competindo em torno de cada um dos “bons” cempregos, pera nfo mencionar os outros 350 mil doutorados que estarfo procurando trabalho” (O"Toole et alii, 1973, p. 135-6). Afirmar que 0 caréter psicologicamente disfuncional da estni- tura de emprego dominante nas situayGes industrials avancadas passou despercebido dos estudiosos de organiza¢do néo é inteiramente exato, mas a teoria fundamental de semelhante disfuncionalidade ¢ 0 cchoque que produz sobre a vida da totalidade dos cidadios tém sido lamentavelmente negligenciados. E fato que um anseio de personaliza- ‘fo constitui, agora, uma ceracteristica preponderante do perfil psico- ogico dos cidados'e, a0 darem noticia dos resultados de um levanta- mento de ambit nacional, empreendido nos primeiros anos da presen- te década, os autores de Work in America afirmam: { Comparado com as geragSes anteriores, o jovem de hoje quer me- dir seu aperfeigoamento segundo um padro que ele proprio esta- belece para si. (E claro que existe muito maior grau de diregdo interior do que David Riessman teria predito duas décadas atris.) O problema, ‘com a forma segundo a qual 0 trabalho esté hoje organizado, est4 em | que ela no permitira ao trabalhador a consecugio de suas metas pes- ‘-yoais” (O'Toole et ali, 1973, p. 51). ‘A. disciplina organizacional existénte, ao que parece, também & sensivel a essa tendéncia, mas focaliza erradamente sua ateng&0 sobre © atendimento da necessidade de personalizag2o dos cidadios no los ] Wa TVYURYYLECL EL SMUUULLUUT Laas 0 processo de or ‘tinha que usar o homem como um fator 4 roto dpmonatiato, A dfomasfo da peoot unas, imposta por esa tranigo, tem sido o prego psicogico pago pela ciapfo da loginica da abundincie de bens primordiais para todos. Essa 6 2 gnde tansformazio, asx creditada ao sistema de mercado. Mais que qualquer outra coisa, um incidente hist6rco iolado prova aque essa grande tiansformagio foi conseguida. Tal incidente comega Gom a Guerra Mundial ¢ desdobrase através dos 30 anos subse- sentes. se angumento 6 desenvlvido por HF Wiliam Perk. A TI Guerra Mani avon ume capaci de produ em rset no ste “H6 sazdo para so acreditar quo a Grande Depressto que precedeu a Ti Guerra Mundial foi tH0 grave porque a possbilidade téenica da abundancia j& ere iminente, ¢ aqueles que detinham 0 controle do sistema industrial nfo sabiam como lidar com essa condigfo” (Peck, 1966, p- 362). Ge © racioetnio de Perk fornece tama referéneia nova para uma reavallago das politicas econémicas, em geral keynesianas, que foram formuladas e implementadas para superar a Grande Depressdo e que 107 constituem, ainda mesmo em nossos dias, grande parte da sabedoria convencional do economista. Aparentemente, os formuladores de tais politicas econémicas nfo puderam compreender que, num estégio em ‘que 2 abundancia de bens e servigos primaciais pode ser produzida a ‘uma taxa inferior de envolvimento dos individuos na estrutura formal de emprego, passe a ser necéssria uma reinterpreta¢ao do papel hist6- rico do mercado ~ isto é, uma reinterpretagio pressupondo sua deli- ‘mitagdo, através de novas normas politicas, como um enclave incumbi- do das atividades de natureza econdmice, por exceléncia. Ao invés disso, as polfticas de Keynes e de outros economistas com orientago semeihante retardaram a delimitaeo do mercado, mediante a expan- so de suas linhas de produgfo ¢ de suas ativid ‘maneira a apossar-se da direc da propria estrutura social, ‘A politica cognitiva é uma dimensfo inevit do mercado, ¢ a teoria administrativa, aceitando a presente estrutura de emprego como um ‘rago permanente da economia, falha em \_compreender'a dificil situa¢o organizacional dos cidadios americanos. 5.5 A psicologia da comunicapio instrumental A disciplina administrativa dominante deixa de perceber que no te instrumental, no sentido de que 6 planejada, de modo sistomstico, para maximizar @ capacidade produtiva. Em tais organizag6es, 0 pr6- prio individuo é um recurso que deve ser empregado eficientemente. ‘A psicologia transformase clogia de {ar a produtividade. Culpar as organizages de natureza econdmica por serentincapazed de atender as necessidades do indivfduo como um ser ‘0 lefo por ser carnivoro. Elas nfo = das drganizagBes econdmicas a comunicagdo é essencialmen- nicagdo substantiva, isto 6, aquela que visa desvendar a subjetividade de pessoas engajadas em permutas autogratificantes, é pouco tolerével fem organizagées econdmicas, Nessa conformidade, admitir que a auto- atualizagio pode ser estimulada nios contextos econdmicos, como 0 fazem o8 humanistas organizacionais, &incorter em politica cognitiva. De fato, semelhante pressuposto conduz. pritica de técnicas ilusbrias de aperfeigoamento de pestoal, destinadas a faciitar a exposigdo com pleta da subjetividade das pessoas, fora de contexto, isto é, no desem- ppenho de papéis de natureza instrumental. "No dominio da teoria organizacional, uma das raras tentativas para enftentar 0 conceito da comunicagio fol feita por Herbert simon, em seu livro Administrative behavior, publicado em 1947. ‘Afirma Simon: “+4, comunicagfo pode ser formalmente definida como qualquer pro- a onto bromisis docs sf tanantidas de un membro Ge organizapdo para outro” (Simon, 1965, p. 154). % — Considerando-se que Simon esté sobretudo interessado nas orga- sizagdes esndrmcas, tl afirmagto ¢ realmente comea, Nas organize iependen? “através de sia submissio a metas organizacionalmente estabeleci- das e através da absorgdo gradual dessas metas em suas proprias atitu- es, aguele que participa da organizago adquire uma personalida- de de organizagao, bastante diferente de sua personalidade como indi- ‘viduo. A organizago destina-Ihe um papel: especifica os valores parti- culares, os fatos, 2s alternativas, segundo os quais devera ser tomadas, suas decisdes na organizagdo” (Simon, 1965, p. 198). B clara a razfo pela qual Simon nege, com proprieda bilidade de auto-atualizagio no contexto das organizagSes form: Contudo, embora sua descrigao das realidades organizacionais seja ‘mais realista 1 que fazem seus oponentes humanistas, tal des- aM Guerra Mundial, quando uma visto es da organizarao predominava. Assim, a0 relacionamentos entre 0 individuo ¢ a organizagio, s inclina-se favor da organizacao. Por exemplo, admite ele que “o empregado sina um cheque em branco, no entrar na onganizasso” (Simon, 1965, p. 116). E certo, ad aceita a autoridade da organizagio p. 117). Mas sua compreensio de tais. . Bamard, ele vé 0 detontor do emprego como uma personalidade divi- ida, simultaneamente portador de uma “personalidade de organiza- .¢f0” o uma “personalidade particular” (Simon, 1965, p. 204). Diz ele: C'Quando as exigéncias organizacionais ultrapassam [seus limites), 05 15 Veja a discussdoentie Simon (1973) ¢ Argysis (1973). 109 de existir”* (Simon, 1965, p. 204), ‘Contudo, a concepefo de Barnard ¢ de ‘Simon, relativamente & dupla personalidade do’ detentor de emprego, est insuficientemente caracterizada, apresentada em tormos exageradamente mecanicstas ¢ "falar sobre niveis profundos de sua psique, que resistem a expresso mediante signos mecanomérficos.\ - Herbert Simon no veria nada de extraordinésio na presente submissdo passiva do individuo a0 ambiente social. Argumentando que existe apenas uma diferenga de gran entre uma formiga e um hhomem, diria ele que, quanto a0 individuo, seu “ambiente interior pode ser muito irelevante para (seu) comportamento, relativamente a0 ambiente exterior” (Simon, 1969, p. 25), Na ealidade, afinma elo: ‘Uma formiga, encarada como um sistema de comportamento, é bem simples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... 6 em, grande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ela se encontra Eu gostaria de explorar esta hip6tese, mas com a palavra ‘homem? substituindo ‘formiga’... ‘Um homem, encarado como um sistema de comportamento, é bem simples. A aparente complexidade de seu comportamento, ... 6 em srande parte um reflexo da complexidade do ambiente em que ele se encontra. ‘apenas umas poucas propriedades limitativas de seu ambiente interior” (Simon, 1969, p. 24.6), Essa afirmagio 6 altamente representativa da concepsao de ‘homem infiltrada na psicologia behaviorista, sendo formulada em dois Passos nfo articulados. Primeiro, define o homem como um sistema de ret s© opdem, de outro lado, pela simples razBo de. que os iltiinos dei- xam de compreender que as referidas necessidades n&o podem set atendidas dentro dé ambientes mecanomérficos, nos quais se sentem a vontade para exercer sua perfcia clinica. Os humart ft plo, acreditam que a confianca, a autenticidade, o amor 22% podem. ser. estimulados na cultuia inferpessoal bes de natureza econdmica pelo engajamento de seus membros em. seisbes de realimentagio — feedback —, em que sfo enco a apenas a produzir informac6 seus sentimentos, mas informagoes sobre si mesmo: tipo de dinémica de grupo que do grupo Te a do treinamento da idade, 6 mecariomérfica e, auspiciada pelas organizagbes de natureza econdmica, impropria para ratar de t6picos de desenvolvimento pessoal. Na realidade, o desenvolvimento pessoal e a solidio pessoal sf0 também suas limitada razdo temas instrumentais de comunjca- do a rejitar,sistematicamente, sua experién- ta observapio foi articulada com lucidez por Josep Weizenbaum, em seu livro The Computer and human reason, onde ele corretamente aventua que a presente rejeigdo da experiéncia direta 6 uma habilidade que 0 individuo aprende através de sua socia- lizagio, um “novo sentido” para que “encontre seu caminho”, num mundo’ projetado de acordg. com requisitos funcionais de eficécia (Weizenbaum, 1976, p. 25). |Nesse tipo de mundo, o homem aprende 4 reprimir espontancamente sentimentos e maneiras de ver que desvia- iam seu comportamento dos respectivos propésitos instrumentals. Assim, ele come quando o rel6gio diz que & hora, nfo quando esté com fome, e satisfaz suas outras necessidades da mesma maneira.) No dominio da disciplina organizacional, elogio de Barnard & tele- fonista que permanece em sua mesa de ligagSes, em vez de tentar socorrer a mfo doente dentro de uma casa que se incendeia, é uni psicologia, que € apresentada no capftulo 3 deste livro. Basta dizer aqui que © comportamento 6, essencialmente, uma categoria da vida exterior do individuo, E natural que uma psicologia que encara 0 homem como um animal que s6 é capzz de comportamento se incline ‘ser centrada no grupo, ou gire em tomo de processos de realimenta- 40. Mas essa é uma visio muito parcial da vida psfquica do homem. Comportamento ¢ uma dimensGo superficial de sua vida. © homem, essencialmente, nfo se comporta ~ cor ortador da razdo, essen cialmente age, Mas a psicologia behaviorista esté fadada a neglgenciar ‘a ago como uma categoria da vide in homem, porque 6 uma psicologia sem razdo, isto é, uma psicologia na qual a razdo é interpre- tada erroneamente como sindnimo da mera avaliago de consequén- cias, Essa errada compreensio, baseada numa teoria pretensioss, expli ca porque é que os humanistas alegam um choque entre 0 homem emt cauto-atualizagéo ¢.0 homem racional. 16 Sélido conhecimento de pricologia devia jstificar esta afirmagio. No ve eves soqucee uno pov Piva foe, nolo A Chile eset de vale “igualmente, para ‘um protesto pelos dire uuma delegago da Assosiaeao Nacio- nal do Rifle ciation) e uma greve da UAW (Unio Americana de Trabalhadores)” (Wolin, 1969, p. 1.078). No mesmo sentido, argumenta Wolin que essa orientagio meca- nomérfica, que denomina de metodismo, tem alicerces éticos e teori- 0s que, finalmente, conduzem a “grotescos resultados educacionais” (Wolin, 1969, p. 1.078). Constitui estruturas politicas e de tudo que elas. envolvem” (Wolin, 1969, U3 P. 1.064), Muito frequentemente ensina uma “falsa racionalidade © uma pseudo-exceléncia”, como jé assinalou outro analista.!? Quando 52 Preparam sob a influéncia desse tipo de abordagem, os alunos das. -g3eolas de administrago de empresas e de administragdo publica sfo Cavorajados a concordar com uma viséo prévellxiva das realiddes ©, portanto, a se tom: i ima pena esctituis seademicon nN” MOH SPI 5.6 Conelustio ‘iedade, no passado, esteve jamais la centrada no mercado de nosso: ‘agem sem nenhum controle, Em sociedade alguma do passado, j ot teios fram ges sei daa ‘as comune: Soment sociedades de hoje o mefeada * forya central, modeladora dam adn terre ca mentalidade de mercado nfo 0s cidade, em seu conjunto de, mas também poucos sf alangadoras, destingdas desaze ess nclinas, poss exeridas servos de umn sistema ds communica duos tendem a perder a capac nal. Cedendo a influéncias p capicidade do € que ele se protege do debate racional, através de imposigao de ‘um consenso profissional opiniético como uma condigfo de aceitago ' académica. s problemas humanos contemporineos podem ser apenss per- petuados, engo resolvidos, pela polftica cognitiva. As fronteiras da teo- ria organizacional formal precisam ser definidas com im lugar de por a organizagio econ nal, da aprendizagem dos meios capazes de facltar miltiplos tipos de ricrossistemas sociais, no contexto da tessitura geral da sociedade, ‘ransformando @ organizaeao econdtnica formal num enclave restrito e incidental, no espago vital da vida humana, assim deixando margem para relacionamentos interpessoais livres das pressOes projetadas © or ganizadas, O delineamento de uma abordagem substantiva da teoria da ‘organizagéo, abordagem bésica para a delimitagéo organizacional, 6 0 que constitui o tema do capitulo seguinte. BIBLIOGRAFIA ‘Argytis, Chris. Organization man and self-ectualizing. 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