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LIÇÃO 12

SUBSÍDIO PARA O ESTUDO DA 12ª LIÇÃO DO 1º TRIMESTRE DE


2018 – DOMINGO, 25 DE MARÇO DE 2018

EXORTAÇÕES FINAIS NA GRANDE


MARATONA DA FÉ

Texto áureo

“Portanto, nós também, pois,


que estamos rodeados de uma
tão grande nuvem de
testemunhas, deixemos todo
embaraço e o pecado que tão
perto nos rodeia e corramos,
com paciência, a carreira que
nos está proposta.” (Hb 12.1)
LEITURA BÍBLICA EM
CLASSE – Hb 12. 1-8; 13.15-18.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO
Meus diletos e distintos amigos leitores, chegamos pela graça de Deus ao
final de nosso 1º trimestre, cujo tema geral foi a Supremacia de Cristo – Fé,
esperança e ânimo na Carta aos Hebreus. Desta feita, estudaremos a nossa ultima
lição, a 12ª lição, isto é, nosso último encontro no que diz respeito a esta tão
importante missiva. Assim, abordaremos, conforme os ditames do comentário da
Lição, temas como a maratona da fé na qual nos foi proposta por Deus; a
necessidade de sermos corredores bem treinados e sabermos que estamos em reta
final da nossa corrida da fé.

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Destarte, não estamos participando de uma maratona qualquer, mas a
Maratona da fé. Na lição anterior estudamos a respeito da fé que gera confiança em
Deus e que nos faz ver o impossível; por conseguinte, o que vem a ser fé?, qual é a
sua natureza, neste contexto da carta?

Pois bem, no capítulo 11 e versículos 1° e 2º, assim está escrito: “Ora, a fé é


a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem. Pois,
pela fé, os antigos obtiveram bom testemunho” (Hb 11.1,2 ARA). Na tradução
Almeida Revista e Corrigida, ler-se: “Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que
se esperam e a prova das coisas que se não veem. Porque, por ela, os antigos
alcançaram testemunho”. Já na versão inglesa Revised Standard Version (RSV),
lemos: “A fé é a certeza de coisas esperadas, a convicção de coisas não vistas. Pois
por ela os antigos receberam aprovação divina”.

Mas, talvez você, dileto leitor, esteja a perguntar-se: por que existem essas
variantes textuais? Pois bem, o fato é que as principais palavras são usadas em
diferentes sentidos na literatura grega do Novo Testamento. Assim que, a palavra
traduzida como certeza (ARA) ou fundamento (ARC) é hupostasis, podendo
significar “base ou firme alicerce”; “certeza”, “firme confiança ou confiança
firmemente fundamentada”. No que diz respeito à palavra traduzida como
“convicção”, no grego lemos: elegchos, que significa “evidência, demonstração, pôr à
prova, prova real, e até documento de propriedade ou escritura”. Neste ponto, cabe
salientar, que o escritor aos Hebreus não apenas apresenta a fé como regra de vida
dos homens, mas que também a define, com clareza, o que se entende por fé. Logo,
vejamos o que diz Orton H. Wiley, sobre este aspecto:

Ela é necessariamente subjetiva, como o são os termos usados para


expressá-la, confiança e convicção; no entanto, essas palavras implicam um
aspecto objetivo. A fé, em sua forma mais simples, é um ato de confiança
em alguém ou em alguma coisa. Não confia em si mesma, mas no seu
objeto. Ela não é um esforço mental; só se manifesta quando estes cessam.
Cristo, o objeto de nossa fé, é, quem nos salva; e isto Ele faz pela graça
mediante a fé. A graça opera no plano do desamparo humano, e é somente
quando a alma se despoja de toda a confiança própria e entrega-se
inteiramente à graça de Deus que nasce a fé.

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Destarte, é importante pensar que Cristo enviou o Espírito Santo para
convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8), e é o Espírito Santo,
por Sua graça preveniente (“antecedente”, “que previne”), que toma a “iniciativa e
desperta a alma para o conhecimento da verdade”; contudo, se, evidentemente, nos
submetermos a Ele e não o rejeitarmos, a fé irá tornar-se ativa e conduzirá à
realização manifesta das coisas invisíveis e eternas; e, tendo-se aproximado estas, o
não visto torna-se poder ativo na vida cristã. Andrew Murray, em seu The holiest of
all, tem a seguinte admoestação prática e devocional sobre a fé:

A fé é aquele ato incessante de procurar atingir, em direção ao celestial,


aquele sentido espiritual ao qual as coisas futuras e não-vistas se revelam
como próximas e presentes, como vivas e poderosas. A fé, na vida
espiritual, tem de ser tão natural, tão incessante, como o nosso respirar e
ver, quando executamos as nossas tarefas comuns [...], um contacto
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incessante com o mundo invisível que nos cerca.

Logo, se depreende que a fé, para o cristão, deveria ser o seu modus vivendi
diário, algo tão natural quanto respirar – Viver.

I – A CORRIDA PROPOSTA

1. O exemplo dos antigos.

Assim lemos em Hb 12.1(ARA): “Portanto, também nós, visto que temos a


rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas, desembaraçando-nos de todo peso e
do pecado que tenazmente nos assedia, corramos, com perseverança, a carreira
que nos está proposta.”

Aqui, neste versículo, a palavra traduzida como testemunha é marturon, que


segundo os estudiosos do grego bíblico, se originou o termo mártires (que dá a sua
vida como testemunha da verdade – ver atos 7). Portanto, ela significa os que

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(Murray, The holiest of all, p. 423)

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testificam com a sua própria vida, e, indubitavelmente, refere-se ao tão grande
número de heróis da fé cujas vitórias foram relatadas no capítulo anterior.

Já o termo traduzido como nuvem não é nephele, uma única nuvem, mas
nephos, uma grande massa de nuvem que cobre o céu, sendo usado pelos gregos e
latinos como o símbolo de uma multidão.

Seguindo este raciocínio, temos que o verbo traduzido como rodeados ou


cercados tem o sentido de que estas testemunhas estão de perto cercando-nos, ou
espalhadas diante de nós. Portanto, como já destacado antes, a palavra martus
tinha para os antigos gregos, como tem para nós, dois significados: (1) pessoas que
testificam uma verdade ou um fato anteriormente conhecido e (2) pessoas que
estiveram presentes à cena, quer tenham testificado, quer não. Deste modo, eis o
que pensa Horton H. Wiley sobre isto:

De acordo com o primeiro sentido, a palavra se referiria aos antigos crentes,


que deram testemunho da fidelidade de Deus por sua vida e pelas não raras
mortes violentas que sofreram. Contudo, a palavra usada no versículo
acima é testemunhas, e não theatai, espectadores, nem mesmo epoptes,
testemunhas oculares. Segundo esta última interpretação, o sentido do
texto é que aqueles que venceram os seus próprios conflitos estão agora
presentes para contemplar os que ainda se acham na corrida.

Ao lermos a última parte deste versículo — Corramos, com perseverança, a


carreira que nos está proposta (Hb 12.1 ARA), temos aqui o verbo trechomen,
correr, no imperativo presente, cuja ideia é manter-se correndo. Neste caso,
provavelmente, o autor desta Epístola tinha em mente uma maratona2, cujo longo e
difícil percurso exigia do atleta muito esforço e resistência, para completá-la.
Contudo, a competição não implica necessariamente outros competidores, como se
sugeriu, a menos que o antagonista seja o pecado, contra o qual temos de lutar e
vencer (Rm 12.4). Este tipo de corrida tem de ser feito com perseverança,
hupomones, que também significa paciência.

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Maratona é um nome próprio que designa uma planície e uma cidade cerca de 35 km de Atenas, na
Grécia. Em 490 a.C., ali se travou uma batalha cujo resultado foi decisivo para os atenienses e
gregos.Segundo Heródoto (Livro 6, 105-106), o “pai” dos historiadores, o general Milcíades teria
despachado um soldado de nome Fidípedes para avisar os espartanos do desembarque dos persas
em terras gregas Para isso, o mensageiro atravessou correndo os cerca de 240 km que separam
Atenas de Esparta, durante dois dias, deu sua mensagem e morreu do coração.
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2. O exemplo de Jesus.

Em Hebreus 12.2 (ARA), assim está escrito: “Olhando firmemente para o


Autor e Consumador da fé, Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava
proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à
destra do trono de Deus”.

Neste versículo, o escritor da missiva aos Hebreus chama a atenção dos seus
leitores para que direcionem o seus olhar para Jesus, exaltado acima de todos e
assentado à destra do trono de Deus. Ora o verbo olhar — na expressão olhando
firmemente — é aphorontes , que significa “tirar a vista das coisas que estão perto e
desviam a nossa atenção” e, conscientemente, fixar os olhos em Jesus como o
nosso grande alvo. Significa ainda “interesse que absorve por completo”, claramente
expresso pelas palavras com “olhos só para Jesus”

Já a expressão autor e consumador da nossa fé têm sido interpretada de


várias maneiras. A palavra traduzida como autor, no grego, é archegon, líder,
pioneiro, sendo o mesmo vocábulo traduzido como capitão (da nossa salvação) em
Hebreus 2.10 (King James). No que diz respeito à palavra consumador no grego é
teleioten, aperfeiçoador, que completa ( Hb 10.14). No caso da expressão “olhando
firmemente para Jesus, o Autor e Consumador da nossa fé”, o possessivo nossa
[que aparece nas versões KJ e na NVI], mas não na [ARA e na ARC], antes de fé,
está em itálico ou entre parêntesis, pois no grego temos apenas a fé. No entanto,
não significa a fé no sentido objetivo, como o fundamento cristão, mas subjetivo,
como o princípio que rege o coração e a vida do ser humano.

Na frase “não fazendo caso da ignomínia ou desprezando a afronta”


(ARC), esta foi chamada de o grande paradoxo. Desprezar a afronta não significa
que Cristo a tinha por desprezível, mas por pequena, comparada com a alegria que
Ihe foi proposta. Portanto, como bem escreveu o comentarista desta lição, à página
92: “o autor apela então para o exemplo de Jesus, que mesmo suportando a afronta,
a vergonha e a ignomínia, não abandonou a carreira que lhe fora proposta”.

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3. O exemplo da Igreja.

Aqui é patente, nos versículos 5 e 6a, que o escritor inicia com uma
recomendação e uma citação: “Já vos esquecestes da exortação que argumenta
convosco como filhos: Filho meu, não desprezes a correção do Senhor e não
desmaies quando, por ele, fores repreendido; porque o Senhor corrige o que ama e
açoita a qualquer que recebe por filho”.

É bem interessante perceber que estes supracitados versículos lembrem as


palavras de Salomão a seu filho (Pv 3.11,12) ou de alguém que se dirige
paternalmente a uma pessoa em aflição —, mas a vê como na realidade é, em seu
significado último, as próprias palavras de Deus aos Seus filhos em tempos de
angústia e perseguição presentes.

Aqui, a palavra traduzida como exortação é parakleseos, “paracleto”, título


aplicado no Novo Testamento ao Espírito Santo como Consolador. Nesse versículo,
o Paracleto está personificado e discorre com o filho de maneira exortativa ou
persuasiva. É expresso que todas as aflições, angústias e mesmo as perseguições
devem ser consideradas como correções vindas da mão de Deus, visando
unicamente ao treinamento prático dos Seus filhos na vida de intensa santidade. A
advertência é contra dois perigos: a indiferença e o desânimo. Logo, tais perigos não
devem nos demover desta maratona de fé na qual estamos correndo, pois foi dada a
Igreja – a nós –, as armas espirituais para que possamos com elas vencer no dia
mal (Ef. 6.10 – 18).

II – CORREDORES BEM TREINADOS

1. Respeitam limites.

Todo Cristão bem treinado na fé, certamente não terá dificuldades em


respeitar limites, e alguns dos princípios espirituais conservadores da Igreja são a
Paz e a Santificação, “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém
verá o Senhor” (Hb 12.14).

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Neste versículo, O verbo diokete, “seguir”, não denota apenas o desejo de
paz, mas tem a conotação da disposição de ir longe para obtê-la. Já o substantivo
hagiasmon, “santificação”, é uma advertência implícita de que não devemos buscar
a paz a ponto de comprometer a santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor”.
Assim, Westcott observou: “O cristão busca a paz com todos igualmente, mas busca
a santidade também, e esta não pode ser sacrificada por aquela” e ainda, a
Santificação é “a preparação para a presença de Deus". Destarte, este verbo, seguir,
se refere a um curso de ação a ser seguido ou a um padrão de vida a ser adotado, e
isto com toda a diligência ou cuidado redobrado.

A palavra santidade, neste versículo, é hagiasmon, como já foi


supramencionada, e, expressa uma ação que, junto ao artigo ton (tòv), significa a
santificação, conforme algumas versões bíblicas. Do mesmo modo que a justificação
é um ato que resulta em paz, da mesma maneira a santificação é um ato que
introduz um estado de santidade. Assim, desta maneira, pensa Horton H. Wiley:

A palavra hagiasmos, que indica antes um ato que um estado ou uma


qualidade, difere nisto das duas outras formas: hagiotes, um agente ou uma
fonte de santidade (v. 2), e hagiosune, a qualidade, o estado ou a condição
de santidade resultante do ato da santificação. O escritor de Hebreus quer
dizer, pois, que, tanto quanto dependa de nós, devemos viver em paz com
todos os homens; com relação a Deus, nossa vida deve conformar-se com
essa santidade operada dentro de nós pelo ato da santificação, e participar
dela.

Logo, como escreve o Pr. José Gonçalves: “Corredores bem treinados


respeitam limites”.

2. Mantêm a mente limpa.

O texto de Hebreus 12.15 (ARA), assim está escrito: “Atentando,


diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem
haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos
sejam contaminados”.

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A expressão atentando diligentemente (ARA) ou tendo cuidado (ARC) no
grego desta missiva é episkopountes de onde veio a palavra bispo ou
superintendente, ou ainda administrador, mas aqui utilizada no sentido geral de
cuidado fraternal e contínuo uns pelos outros. Logo, são mencionados dois perigos a
serem evitados:

Em primeiro lugar, “o perigo de que cada cristão individualmente seja faltoso,


separando-se da graça de Deus”. Segundo Vaughan, “a palavra husteron, com apo,
“de”, não pode significar ser faltoso no sentido de deixar de conseguir, falhar ou ser
faltoso em algo que já foi conseguido”. O mesmo pensa Westcott no que diz respeito
ao uso da preposição apo com o particípio, descrevendo este último “um estado
contínuo, e não um simples ato de abjuração ou desvio. Impõe-se à Igreja, pois,
diligente cuidado para que estejamos bem vigilantes, no sentido de que nem um
único indivíduo, que tenha recebido a graça de Deus, desvie-se dela”.

Em segundo lugar, “o perigo de que os outros cristãos sejam contaminados”.


Portanto, eis a recomendação: “nem haja alguma raiz de amargura que, brotando,
vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados”. Neste caso o pecado
do coração, que não foi purificado, manifesta-se na vida dos que querem introduzir
desavenças, querelas, contendas, confusões, alienações, dentre outros.

Portanto, o melhor é ter em mente o que está escrito em Filipenses capítulo


quatro e versículo oito: “Finalmente, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é
respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é
de boa fama, se alguma virtude há e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o
vosso pensamento” (ARA). Assim, “Corredores bem treinados mantêm a mente
limpa”.

3. Valorizam as coisas espirituais.

O texto de Hebreus 12.16,17 (ARA), assim está escrito: “E ninguém seja


fornicador ou profano, como Esaú, que, por um manjar, vendeu o seu direito de
primogenitura. Porque bem sabeis que, querendo ele ainda depois herdar a bênção,
foi rejeitado, porque não achou lugar de arrependimento, ainda que, com lágrimas, o
buscou”.
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No grego desta epístola, segundo os estudiosos desta língua, a palavra
bebelos, “profano”, ipse literis quer dizer franqueado à passagem, em contraste com
a expressão: consagrado a Deus. Nesta acepção, expressa o significado de “ter as
coisas santas por comuns ou irreligiosas”. Pornos, “fornicador”, traz o significado
daquele que “viola a santidade das relações matrimoniais e, assim, torna-se símbolo
da infidelidade a Deus”.

É interessante que Horton H. Wiley, nesta passagem, sugere que:

Esaú não era um impuro ou um fornicador no sentido físico, mas somente


no sentido espiritual do adultério com relação ao Deus mantenedor da
aliança com a sua família. Era profano porque deixava de fazer justa
apreciação das coisas sagradas. Ele buscou apenas alimento saboroso
para satisfazer o apetite físico, e seu pecado consistiu em colocar a
satisfação carnal acima das bênçãos espirituais da aliança, preferindo a
primeira às últimas. Depois, Esaú apercebeu-se do que perdera - e que
grande perda fora!

Destarte, a tradição judaica diz que no mesmo dia em que Jacó ganhou por
seu subterfúgio a bênção de Isaque, Esaú, já tinha cometido cinco pecados: “tinha
rendido um culto estranho, tinha derramado sangue inocente, tinha açoitado a uma
jovem comprometida, tinha negado a vida do mundo vindouro, e tinha desprezado
seu direito de primogenitura”. Logo, a interpretação hebreia considerava Esaú, como
o homem do corpo, o homem sensual, o homem que não encontra prazeres mais
além dos deste mundo. Segundo William Barclay, em The Letter to The Hebrews,
assim ele escreve:

O autor de nossa Carta diz que Esaú não teve oportunidade para o
arrependimento. Usa-se a palavra metanoia que literalmente significa
mudança de mente. É melhor dizer que a Esaú foi impossível a mudança de
mente. Não é que se achasse proscrito para sempre do perdão de Deus; é
algo muito mais simples. É o triste fato de que há certas opções que não
podem desfazer-se e certas consequências que nem sequer Deus pode
evitar. Para aduzir um exemplo simples: se um jovem perder sua pureza ou
uma jovem sua virgindade, não há nada que possa restituir o estado
anterior. A escolha foi feita e subsiste. Deus pode e quer perdoar, mas Deus
mesmo não pode fazer com que o relógio do tempo volte atrás para suprimir
a escolha e eliminar as consequências. Lembremos que a vida tem certa
finalidade. Se como Esaú seguimos o caminho do mundo, nosso bem último
serão as coisas sensuais e corporais; se escolhemos os prazeres do tempo,
preferindo-os às alegrias da eternidade, Deus pode e quer ainda perdoar,
mas sucedeu algo que não pode ser desfeito. Há certas coisas nas quais o
homem não pode mudar de mente; seu desejo de mudança sobreveio muito
tarde; deve permanecer para sempre na escolha que fez.

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No que diz respeito à palavra grega “vendeu” é apédoto ou apédeto e, sendo
usada no segundo aoristo médio, indica que aquilo que foi vendido era realmente de
Esaú. Ele não fingiu nem foi enganado. A ele coube, exclusivamente, a culpa. A
atitude de irresponsabilidade de Esaú deixa evidente que ele fora indigno e incapaz
de corresponder à confiança nele depositada; por isso Deus o rejeitou. Assim,
“Corredores bem treinados valorizam as coisas espirituais”.

III – A CORRIDA FINAL, EXORTAÇÕES FINAIS

1. Valorizar a liderança.

O texto de Hebreus 13.17(ARA), assim está escrito: “Obedecei aos vossos


guias e sede submissos para com eles; pois velam por vossa alma, como quem
deve prestar contas, para que façam isto com alegria e não gemendo; porque isto
não aproveita a vós outros”.

Cabe, aqui, ressaltar que a palavra guias neste versículo, na ARC, consta
pastores e se referia, principalmente, aos primeiros líderes dos cristãos judeus. Em
Hebreus 13.17,24, denota os pastores dos nossos dias. Porém vale ressaltar que,
fazendo um paralelo com dois versículos desta missiva (Hb 13.7 e Hb 13.17), vemos
que existe um importante conjunto de ideias aqui relacionados.

O autor desta Epístola começa trazendo à memória, de seus leitores, os


antigos dirigentes da comunidade judaica, já falecidos (v.7), como exemplos de fé;
depois, passa a falar propriamente da fé e exorta contra as doutrinas heréticas; a
seguir, enfatiza a salvação pela graça, e não por sacrifícios e ritos religiosos, e,
finalmente, aborda o sacrifício supremo de Cristo fora das portas da cidade e as
obrigações do culto a Deus que se seguem. Isso o leva a falar da necessidade de
ordem na Igreja, mediante o dom de pastores (v.17), ordenados por Deus para
cuidar do povo.

O verbo grego bupekeite, segundo especialistas desta língua, traduzido como


sede submissos, é usado, frequentemente, na literatura clássica grega, porém, no
Novo Testamento, aparece somente aqui. Como diz Vaughan: “Parece expressar

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aquela entrega da própria vontade ao julgamento de outrem que reconhece a
autoridade constituída ao mesmo tempo em que mantém independência pessoal”.

Já o verbo peithesthe, seguindo a mesma linha de pensamento dos


estudiosos do grego, traduzido como obedecei, vem do radical que significa
“persuadir”, sendo, pois, mais uma obediência por convicção do que por ordem, ou
imposição cega. Como bem escreveu Wiley: “O Espírito, que derrama no coração
aquela fé e aquele amor que conduzem à generosidade, cria também nos que se
acham fora do arraial [do mundo] o espírito de humildade e submissão, obediência e
confiança.” E ainda acrescenta:

A palavra autoi é enfática no que se refere aos líderes. Eles não se


designam por si mesmos, mas são divinamente eleitos, como vigias;
eles são pastores do rebanho, submissos ao Sumo Pastor, Jesus (1
Pe 5-4). Logo, os cristãos devem submeter-se a seus líderes,
sabendo que todos prestarão contas a Deus quanto àquilo que o
Senhor lhes confiou como função no Corpo de Cristo. E o autor da
Epístola espera que essa missão seja cumprida com alegria, e não
com pesar; pois do contrário, de nada lhes aproveitaria.

Portanto, valorizar e respeitar as lideranças constituídas por Deus é respeitar


um mandamento bíblico, que certamente só trará bênçãos àqueles que lhes forem
obedientes em amor.

2. Valorizar a doutrina.

O texto de Hebreus 13.9 (ARA), assim está escrito: “Não vos deixeis envolver
por doutrinas várias e estranhas”.

Aqui, me valho das palavras do eminente escritor Horton H. Wiley, ao citá-la:

Que pensais vós do Cristo? De quem é filho? (Mt 22.42) foram as perguntas
que nosso Senhor fez para testar os fariseus. Um Cristo imutável requer
uma doutrina imutável, pois, como Cristo vivo, Ele é a substância de todo
verdadeiro ensino. Por isso, Paulo estava resolvido a nada saber entre vós,
senão a Jesus Cristo e este crucificado (1 Co 2.2). O termo traduzido como
várias provém de poikilais e significa multicolorido ou variado; estranhas é
xenais, estranho ou forasteiro. Daí, a admoestação para não nos
desviarmos da verdade pelas doutrinas “multicoloridas”, pois a verdade é
uma só e imutável, e acautelarmo-nos contra o que é alheio e estranho —
que, como os estranhos e forasteiros, não apresentam as velhas faces
conhecidas, mas despertam suspeita desde o início.

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Deste modo, devemos prezar pela sã doutrina bíblica, a qual nos capacitará
em nossa jornada cristã, nos fortalecendo para os embates da vida, sempre
convictos que a Palavra de Deus é poderosa em si para nos direcionar rumo a
Canaã Celestial.

3. Valorizar a adoração.

O texto de Hebreus 13.15 (ARA), assim está escrito: “Por meio de Jesus,
pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que
confessam o seu nome”.

A palavra thusian, traduzida como “sacrifício”, pode conter a carga semântica


de sacrifício de sangue ou de frutos. Aqui, nesse contexto, usa-se no segundo
sentido, pois o autor da Epístola se valeu da Septuaginta. No texto original hebraico,
a expressão os sacrifícios dos nossos lábios (Os 14.2 – ARA) era considerada
idiomática, mas os tradutores da Septuaginta substituíram-na por finito de lábios,
para melhor compreensão pelos leitores do grego naqueles idos.

Pois bem, a expressão por meio de Jesus torna-se enfática por sua colocação
no início da frase. Assim, não cabe a nós cristãos simplesmente sofrer por Cristo
fora do acampamento; devemos, a Ele, também o sacrifício de louvor — as
expressões de ação de graças a Deus e a beneficência aos homens. Semelhantes
sacrifícios já não são administrados pelos sacerdotes levitas em épocas
estabelecidas, mas continuamente e por intermédio de Cristo, visto que só Ele,
mediante o Espírito, pode tornar o nosso culto e serviço aceitáveis no altar de Deus.

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Segundo Horton H. Wiley, citando (2 Cr 29.27b,28), tem-se duas coisas
importantes a considerar concernente o louvor:

1ª. Ele era oferecido continuamente e, portanto, com uma atitude íntima de
louvor a Deus. Sendo assim, os que vão até Jesus fora do arraial lamentam
a perda da cidade com suas riquezas e prazeres mundanos e temporais?
Não, a alma que se achega a Cristo, em real e profunda experiência, une-se
ao grupo sobre o qual o profeta Isaías escreveu: Saireis com alegria e em
paz sereis guiados (Is 55.12a ara). Em Cristo, o coração transborda de
alegria, e tão constante é esse gozo interior do Espírito, que, no meio das
mais profundas provações, a alma pode dizer: [fomos] Entristecidos, mas
[estando] sempre alegres (2 Co 6.10ª - ARA); 2ª. Esse sacrifício é o fruto de
lábios que confessam o seu nome (Hb 13.15). A alegria do coração precisa
de expressão exterior antes de completar-se o sacrifício de louvor. Deus
deu aos homens o poder da palavra, e os lábios a Cristo consagrados
devem alegremente expressar louvores a Ele. O autor da Epístola já
descreveu Cristo, o Santificador, como o Chantre, o Mestre do Coro,
regendo os corais do céu e da terra e cantando louvores no meio da
congregação, a Igreja (Hb 2.11,12).

Assim, temos que, “a alegria do SENHOR é a vossa força” (Ne 8.10) e, sem
ela, a Igreja torna-se débil e sem atrativos. Também, além de tudo disso, lemos que
a função máxima do louvor é “a exaltação do nome de Deus, porque é um ato de fé”.

CONCLUSÃO

Portanto, digníssimos amigos leitores, corramos com confiança a carreira que


nos foi proposta, não por torpe ganância, mas com o coração singelo de prazer em
louvar ao Senhor, tendo a fé como escudo e proteção; respeitando as nossas
lideranças em amor, seguindo a sã doutrina, tendo Jesus como supremo líder e
Senhor. Assim fazendo, seremos bem sucedidos em nossa vida diária e seremos
exemplos para outros também.

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Meditemos, nesta linda estrofe extraída do Hino 25 da Harpa Cristã:

Meu Jesus, tu és bom;

Tu és tudo p´ra mim!

Foste morto, mas vives em mim;

Tu mereces louvor,

Ó Cordeiro de Deus!

Tu és tudo, sim, tudo p´ra mim!

[Professor. Teólogo. Tradutor. Jairo Vinicius da Silva Rocha – Presbítero,


Superintendente e Professor da E.B.D da Assembleia de Deus no Pinheiro.]
Maceió, 24 de março de 2018.

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