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AS CONTRIBUIÇÕES DE JOHN LOCKE E KARL MARX SOBRE “ESTADO”

Profª Mestre Solange Apª de O. Collares/ FASF

Profª Dra. e Vice Coordenadora do Programa de Pós-graduação: Gisele


Masson/UEPG

Introdução:

John Locke nasceu em 1632, em Wrington nas proximidades de Bristol. Foi um


homem simples, de vida reservada que, por meio de seus escritos, influenciou tanto nos
aspectos políticos como nos filosóficos da Europa. Aos vinte anos foi para Oxford e
tornou-se membro efetivo de sua faculdade, até ser expulso, pois a originalidade de seus
pensamentos e seus posicionamentos passaram a ameaçar o currículo universitário.
(LOCKE,1998).

Locke assistiu pessoalmente a queima de vários de seus livros e obras, pois os


seus manuscritos iam de encontro com os interesses políticos vigentes. Aos cinquenta
e sete anos, as suas obras renomadas foram impressas pela primeira vez. Locke
escreveu acerca do governo, deixando para a biblioteca de Oxford , dois tratados sobre
o governo, que vieram integrar o cânone dos clássicos da teoria política.

Segundo o próprio Locke (1998, p.46), a linha de pensamento que deu origem
aos Dois Tratados sobre o governo teve início com a seguinte citação: É com grande
alegria que leio o livro do Sr. Hobs, De Cive, bem como seu Leviatã, sobre os direitos
da soberania, tema sobre o qual o homem algum que conheci até hoje tratou de forma
mais abrangente e judiciosa.

Para ele, escrever sobre o governo, era algo constrangedor, tanto que procurou
manter seus registros e obras no anonimato, embora eles fossem lidos e comentados por
Montesquieu, Rosseau, Burke e outros mais.
Em 1689 formou-se a Junta Comercial, mas foi somente em 1696, que fizeram
dele um membro dela, remunerado.

Em 1672 Locke tornou-se secretário do lorde Ashely Cooper, chanceler da


Inglaterra e conde de Shaftesbury, passando a se ocupar dos aspectos políticos.

John Locke passou boa parte de sua vida na companhia do conde de


Shaftesbury, o qual exerceu influência política em sua vida, por meio dele escreveu
inúmeros manuscritos e obras que refletem sobre o Governo.

Locke (1998, p.26) salienta que a sua primeira preocupação foi com a autoridade
do Estado na religião e, em seguida, com a lei natural que sancionava tal autoridade, e
com o funcionamento da lei natural na experiência. Ele proclamou firmemente sua
submissão à autoridade.

Locke escreveu “Cartas sobre tolerância”, Dois Tratados sobre o governo, além
do Ensaio sobre o intelecto humano, A racionalidade do cristianismo, em 1695, e
Pensamento sobre a educação, em 1693.

Foi um dos pensadores que mais se preocupou com a educação da nobreza.


Larroyo (1970, p.439) ressalta que:

“Em seu tratado pedagógico Pensamento sobre a Educação não


somente justifica o caráter realista que se vinha opondo à educação
nobiliária; depura, igualmente, este novo ideal de formação e lhe
proporciona um sólido fundamento psicológico.” Ainda afirma que
parte do princípio de que nada há na inteligência que não tenha
passado pelos sentidos, opõe-se à doutrina das idéias inatas.

É contundente a crítica que faz ao inatismo, pois para ele todo aquele que sustenta que
o conhecimento do conteúdo vem anteriormente à experiência, está equivocado.

Segundo Reale ( 2004, p.95), Locke defende a seguinte tese:

“não existem idéias nem princípios inatos; nenhum intelecto humano,


por mais forte e vigoroso que seja, é capaz de forjar ou inventar idéias
(...), consequentemente, a experiência constitui a fonte e, ao mesmo
tempo, o limite, ou seja, o horizonte, ao qual o intelecto permanece
vinculado.”
Portanto, para Locke, o conhecimento advém da experiência, esta vivenciada por
meio dos sentidos, e somente assim, ocorre a aprendizagem. Foi responsável pela
modificação do modelo educacional, propondo uma educação integral, que compreendia
três vertentes e fins, entre elas: a educação física, intelectual e moral, isto é, vigor físico,
saber e virtude. Por isso, a ênfase na utilização dos jogo, como um meio atrativo e
espontâneo de aprendizagem. Faleceu em 29 de outubro de 1704, em seu gabinete em
Otes.

Dois Tratados sobre o Governo:

Locke ( 1998) procurou escrever um discurso completo sobre o Governo,


apresentando-o em dois volumes, em função de seus próprios objetivos literários.
Convoca o leitor, desde o início da sua obra até o fim de um discurso que diz respeito ao
governo: o destino imposto pela fortuna, e o direito à propriedade.

Ele acreditava que o homem tem o conhecimento de si mesmo que os animais


não têm, conhecimento este que lhe foi outorgado para que tenha algum uso e alguma
finalidade. No segundo tratado, no capítulo V , e no §26, afirma que : “Deus, que deu o
mundo a todos os homens, também lhes deu a razão para que dele se servissem para
maior proveito da vida e da própria conveniência”. À postura assumida de Locke é
diante da lei natural, “ a lei da natureza (...) é a lei da razão “. (I,§101). É nossa razão,
portanto, que promulga para nós a lei da natureza e é nossa razão que nos faz livres
(LOCKE, 1998,p.138). Considera o homem , no estado natural, como livre, mas este
sente a necessidade de colocar limites à sua própria liberdade.

Embora o ser humano natural exerça tal liberdade, é necessário que haja,
conforme o Segundo Tratado do Governo (o capítulo IV, p. 35), uma ferramenta, que
possa licenciar tal liberdade.

A liberdade não é, pois, como afirma Sir Robert Filmer, “uma


liberdade para qualquer homem fazer o que apraz, viver como lhe
convém sem ser refreado por quaisquer leis, a liberdade dos homens
sob governo importa em ter regra permanente a lhe pautar a vida,
comum aos demais membros da sociedade e feita pelo poder
legislativo estabelecido em seu seio (....)”.
Locke (1998, p.50-51) discute a liberdade como sendo “ para cada um agir
como lhe aprouver”, porém salienta à necessidade de :

Se concluir que Deus fez a ele e a todos os homens numa condição na


qual não podem subsistir sem a sociedade, e dotou-os de raciocínio
para discenir o que é capaz de perseverar e manter tal sociedade, resta-
lhe outra alternativa senão concluir que ele está obrigado,e que Deus
exige que obedeça às normas que conduzem à perseveração da
sociedade?”

Mostra, assim, à necessidade de se constituir um Estado que garanta o


exercício da liberdade e a segurança da propriedade.

Nesse sentido, a autoridade do Estado é legítima e não arbitrária pois, por meio
do contrato, estabelece “um corpo de leis tão primorosamente composto” como se sua
preservação “fosse a única garantia do equilíbrio desta nação” ( LOCKE, 1998).

É, por meio, de um Governo que se assegura a possibilidade de ocorrer o


impedimento de alguns homens que tentam, alguns homens que tentam,

Invandir os direitos alheios e que mutuamente se molestem,e para que


seja observada a lei da natureza, que importa na paz e na preservação
de toda a Humanidade, põe-se, naquele estado, a execução da lei da
natureza nas mãos de todos os homens, por virtude da qual todos os
homens, por virtude da qual todos tem o direito de castigar os
transgressores dessa lei a ponto de impedir sua violação, pois a lei da
natureza seria vã, como quaisquer outras leis humanas, se não
houvesse alguém nesse estado de natureza que não tivesse poder de
executá-la, e assim preservasse o inocente e restringisse os ofensores
(LOCKE, 2006, p.25).

Dessa maneira, Locke, mostra a necessidade de um governo que estabeleça um


contrato a ser seguido pela humanidade, que venha garantir, não só o direito da
liberdade de natureza , mas também, de propriedade.

Locke compreende a lei da natureza, como a lei que:

[...] ensina a todos os homens que a consultem, por serem iguais e


independentes, que nenhum deles deva prejudicar a outrem na vida, na
saúde, na liberdade (....) E como todos os homens são obra de um
Artífice onipotente e infinitamente sábio, todos servos de um único
soberano (....)”.( LOCKE, 2006,p.24)
É importante afirmar que a criação do Estado não é a criação de Deus, mais sim
da necessidade que o sujeito natural cria, de ter um governo civil , seja este como o
remédio correto para os inconvenientes do estado de natureza, que devem, certamente,
ser grandes, isto é, os homens têm de ser juízes em causa própria( LOCKE , 2006,
p.28).

Locke nega que a autoridade real tenha sido concedida a Adão por Deus, e que
fosse transmitida por sucessão aos seus filhos.

Ele rejeita o absolutismo, que coloca o soberano acima das leis, e logo, fora da
sociedade civil.

Há necessidade de que haja um soberano que governe, que estabeleça as normas


e leis a serem seguidas pela humanidade, somente assim se preserva o direito natural
de cada sujeito, tendo em vista que cada um tem o que lhe aprouver.

Mas não somente o governo será comum a todos; há, também,

[...] a terra, os frutos ou seja a propriedade, onde cada homem tem


uma propriedade particular em sua própria pessoa; a esta ninguém tem
qualquer direito senão ele mesmo.(...) Seja o que for que ele retire da
natureza no estado em que lho forneceu e no qual o deixou, mistura-se
e superpõe-se ao próprio trabalho, acrescentando –lhe algo que
pertence ao homem e, por isso mesmo, tornando-o propriedade dele.
(LOCKE , 2006,p 38)

Assim, a propriedade fundamenta-se no trabalho, e é por meio dele que lhe


garante o direito de posse, somente por mérito individual , daquele que compra, produz
e colhe os frutos produzidos.

Locke ( 2006,p.40) explicita melhor essa questão ao afirmar que

[...] a propriedade diz respeito principalmente não aos frutos da terra e


aos animais que a habitam, mas à terra em si mesma, que tudo abrange
e suporta,e parece-me evidente que também nesse caso a propriedade
se adquire como nos casos anteriores. Pelo trabalho, digamos, destaca-
se do que é comum.

Para ele, o homem natural é livre, tem o direito à propriedade desde que ele
conquiste este direito, por meio do trabalho. Assim, nenhum homem tem o direito de
privá-lo da sua propriedade, nem causar dano, nem podendo tirá-la dele.

Para Beaud ( 2004,p.50),

[...]os homens livres, são aqueles que passam o contrato social, são os
membros da nobreza, do clero, da gentruy, da burguesia comerciante e
financeiro; especialmente os proprietários esclarecidos, esses
burgueses que mostraram sua capacidade na administração de seus
bens; é a eles que cabe a responsabilidade dos cargos governamentais.

Dessa forma, podemos concluir que Locke faz menção à origem da sociedade
civil, e considera que a origem do poder político origina-se na mão de um soberano, o
qual representa o governo, que procura estabelecer a ordem entre os sujeitos por meio
de um contrato, garantindo a liberdade natural do homem.

Os limites passam a ser estabelecidos por meios de leis, as quais garantem que
nenhum sujeito tenha os seus direitos, quanto à propriedade e à segurança pessoal,
violados.

Assim, Locke determina (2006, p.31) que

[...] pela lei fundamental da natureza, deve-se preservar o homem


tanto quanto possível, quando nem tudo se pode preservar, devendo
dar-se preferência à segurança do inocente; e pode destruir-se alguém
que nos mova a fazer a guerra ou que manifeste inimizade à nossa
existência, pelo mesmo motivo que se pode matar um lobo ou um leão
[...]

Reale (2004, p.108) afirma que cabe ao Estado fazer as leis e impô-las, isto é,
fazer com que sejam cumpridas. “Os limites do poder do estado são estabelecidos por
aqueles mesmos direitos dos cidadãos”.
Portanto, caso o Estado não garanta os direitos dos cidadãos, cabe a eles se
oporem ao Soberano. Costa ( 2006,p.28) destaca que O Estado Moderno defendido por
Locke,destaca

[...] o poder do soberano dentro de uma delimitação territorial e com


referência a uma população que constitui a nação, definindo as esferas
pública e privada como esferas diferenciadas e com atribuições
específicas, porém em íntima relação. O estado constitui-se na esfera
pública, com a defesa dos interesses gerais e do bem comum, e a
sociedade civil,a esfera privada, como espaço dos interesses privados
e individuais. (...) O Estado Moderno, organizado em bases nacionais,
seguindo a explicação apresentada pelo contratualismo, tem a
legitimidade do seu poder justificada pela necessidade de manter a paz
e a liberdade individual.

Para confrontar as ideias defendidas pelo contratualista Jonh Locke,


utilizaremos os escritos propostos por Karl Marx para contrapor a ideia de Estado,
explicitando o conceito de Estado utilizado por ele , bem como a mais valia.

Karl Marx :

Nasceu em 5 de maio de 1818 em Treves, filho de Hirschel, advogado e da


dona de casa Enriqueta Pressburg. Conclui o curso secundário em Treves e, depois, foi
para Bonn, estudar jurisprudência. Viveu em uma época, na qual sua cidade natal
passava por um movimento entre o liberalismo revolucionário de origem francesa e a
reação do Antigo Regime da Prússia (MARX, 1818-1883).

Marx ( 1818-1883) ressalta que, “o movimento liberal alemão, influenciado


pela Revolução Francesa, esperava conquistar o Estado prussiano, pondo a nu a
contradição entre o seu desejo de racionalidade e sua política retrograda.”

Em 1836, Marx ficou noivo de Jenny Von Westphalen, sua amiga de infância e
com quem, mais tarde, casou-se e teve seis filhos. Neste mesmo ano, Marx matriculou-
se, em julho de 1836, na Universidade de Berlim.

Estudou Direito, Filosofia e História em Berlim. No ano de 1841, doutorou-se


em Filosofia, na Universidade de Iena.
Foi em 1844, na sua Estada em Paris, que ocorreu o encontro de Marx e
Engels, o que oportunizou que, juntos, redigissem a Ideologia Alemã, na qual buscam
uma melhor compreensão do homem na sociedade.

Entre 1846/47, Marx escreveu Miséria da Filosofia, tendo como foco a


sociedade capitalista no controle sobre o lucro e os juros. Os seus escritos foram
rejeitados , levando ele e a sua família a condições degradantes , passando a serem
sustentados economicamente pelo seu amigo Engels.

Na década de 50 e seguintes, Marx escreveu “Introdução à crítica da economia,


política, o 1° Volume do Capital ( 1867) e extensas anotações, as quais foram
publicadas posteriormente.

Em setembro de 1864, Marx realizou uma assembléia com os trabalhadores,


apresentando um projeto de uma Associação Internacional de Trabalhadores.

A Associação Internacional foi fundada no dia 28 de setembro de 1864, numa


grande assembléia pública internacional de operários em Londres. Essa associação tem
o intuito de estabelecer um centro de comunicação e de cooperação entre as Sociedades
Operárias existentes em diferentes países e voltada para o mesmo objetivo, ou seja, a
proteção, o progresso e a completa emancipação da classe operária. ( MARX; ENGELS,
2007, p.323).

Marx foi, de fato, dirigente e organizador desse Conselho e, como tal, redigiu
numerosas mensagens, resoluções e documentos que eram emanados pela Associação
Internacional.

Num trecho do relatório oficial do congresso de Genebra- Associação


Internacional dos Trabalhadores – setembro de 1866, Marx faz algumas recomendações
sobre a educação da classe operária: há necessidades de medidas para evitar a
exploração da mão de obra infantil; é dever da sociedade defender os direitos das
crianças; seria desejável que as escolas elementares começassem a instrução das
crianças antes da idade de 9 anos.

Para Marx, o trabalhador, o operário, necessita de seu espaço digno na


sociedade, um espaço que sempre lhe foi negado por todos os regimes políticos.
Em 1867, Marx publicou “ O Capital “, um livro que relata a relação de poder
e outros aspectos relacionados aos aspectos políticos e econômicos.

Somente em 1872 saiu à primeira tradução, na Rússia, do primeiro volume de


O Capital e, em 1885, apareceu o 2° volume e o 3° volume, nos quais Marx discute o
processo capitalista em sua totalidade. Em 1932, Marx escreveu uma série de textos,
intitulados “Manuscritos Econômicos Filosóficos”.

. Outro fator marcante na biografia de Marx , ocorreu em 1845, quando Marx


foi expulso do território francês, refugiando-se em Bruxelas. O motivo de tal
acontecimento, foi um dos seus artigos escritos e publicado em uma Revista em Paris.

Em 1905 foi publicado História da Teoria da Mais Valia, livro IV de O Capital,


publicado por Karl Kautski. Todas as suas obras tiverem uma forte influência nas áreas
da Sociologia, Política, Filosofia, História e Economia.

Em 14 de março de 1883, morre Marx, em Londres.

Karl Marx e suas obras referentes ao Estado:

As ideias de Marx foram transformadas numa teoria capaz de analisar e criticar


a sociedade capitalista. Nos volumes de “O Capital” , Marx utiliza-se de alguns
conceitos, tais como: Estado, trabalho, burguesia, proletariado e outros conceitos a
serem trabalhados e explicitados no escopo deste trabalho. Devido à amplitude do
contexto, faremos um recorte, pois Marx mostra que a significação de uma teoria não
pode ser compreendida independentemente da prática histórica e social à qual
corresponde, e na qual ela se prolonga ou que serve para a encobrir.

A origem do seu pensamento se materializa com a questão da propriedade,


referindo-se ao sistema feudal e sua transição para a sociedade capitalista. No sistema
feudal, os “agrupamentos de terras de uma certa extensão em reinos feudais era tanto
uma necessidade para a nobreza da terra como para as cidades. É por esta razão que a
organização da classe dominante, isto é, da nobreza, teve sempre um monarca à cabeça”
( MARX; ENGELS, 2007, p.24).
Esse pensamento era o esteio que caracterizava a sociedade baseada no poder, na
violência e na política, fundamentada por proprietários dos meios de produção, de um
lado, e proprietários da força de trabalho, de outro.

Para Marx e Engels (2007, p.22- 23) , o sistema feudal consiste em

[...] uma propriedade fundiária à qual estava submetido o trabalho dos


servos, por um lado e, por outro, o trabalho pessoal apoiado num
pequeno capital e regendo o trabalho dos oficiais. A estrutura de cada
uma destas duas formas era condicionada pelas limitadas relações de
produção, agricultura rudimentar e restrita e a indústria artesanal. A
quando do apogeu do feudalismo, a divisão do trabalho foi muito
pouco impulsionada; cada país continha em si mesmo a oposição
cidade-campo.

Dessa forma, a divisão de trabalho numa nação obriga em primeiro lugar a


separação entre o trabalho industrial e comercial e o trabalho agrícola, e, como
consequência, a separação entre a cidade e o campo.

Assim, para Marx, fica evidente que as relações entre as diferentes nações
dependem do estágio do desenvolvimento das forças produtivas, da divisão de trabalho
e das relações entre cada uma delas. Este sistema de manufatura se mantém porque o
trabalhador é incapaz de fazer algo independente, e depende do subemprego oferecido,
causando a alienação do sujeito. Efetivamente com o trabalho, ocorre a divisão entre
trabalho intelectual e manual.

Assim, para Marx e Engels (2007, p.38), esta divisão de trabalho,

[...] implica todas estas contradições: repousa por sua vez sob a
divisão natural do trabalho na família e sobre a divisão da sociedade
em famílias isoladas e opostas, implica simultaneamente a repartição
do trabalho e dos seus produtos, distribuição desigual tanto em
qualidade como em quantidade; dá portanto origem à propriedade,
cuja primeira forma, o seu germe, reside na família, onde a mulher e
as crianças são escravas do homem.

Se no sistema feudal, os filhos aprendiam com os seus progenitores, no sistema


capitalista, se desfaz o núcleo familiar, uma vez que as mulheres e as crianças saem de
suas casas para trabalharem no sistema fabril, tendo em vista que a mão de obra
feminina é mais barata.

Para Marx e Engels (2007, p.39) é esta contradição entre o interesse particular
e interesse coletivo que faz com que

[...] o interesse coletivo adquira, na qualidade de Estado, uma forma


independente, separada dos interesses reais do individuo e do conjunto
e tome simultaneamente a aparência de comunidade ilusória, mas
sempre sobre a base concreta dos laços existentes em cada
conglomerado familiar e tribal, tais como laços de sangue, língua,
divisão do trabalho em larga escala e outros interesses; e entre esses
interesses ressaltam particularmente os interesses das classes já
condicionadas pela divisão de trabalho, que se diferenciam em
qualquer agrupamento deste tipo e entre as quais existe uma que
domina as restantes.

Marx e Engels consideram que ocorre uma mistura entre os interesses


individuais e coletivos, dando ao sujeito a falsa consciência de que seus interesses estão
sendo atendidos pelo Estado, mas que, na realidade, este não tem como finalidade o
atendimento dos interesses individuais de cada sujeito, como por exemplo: o direito à
moradia, à alimentação, ao lazer e ao trabalho.

Eles acabam enfatizando a questão do poder do Estado, principalmente no que se


refere às vinculações com a estrutura de classes e com as forças e instrumentos de
coerção política, pois a representação dos interesses não está isenta de atos de forças
ou coerção; tampouco está isenta das relações sociais de dominação e exploração.

Assim, para Marx ( 1998), a manufatura foi tomada pela indústria gigantesca
moderna; o lugar da classe média industrial, pelos milionários da indústria.

Coutinho ( 1995) comenta que os impactos causados pela Revolução Industrial


são muitos, sendo possível citar, entre eles: as modificações na organização dos
processos fabris; altera-se completamente o perfil de habilidades, educação e
qualificação dos trabalhadores; enfraquece-se a base sindical organizada; aprofunda-se
o capital de giro; enxugam-se os sistemas de administração de empresas.

As armas utilizadas pela burguesia para combater o feudalismo, voltaram-se


mais tarde contra a própria burguesia. Principalmente porque, com o estabelecimento da
indústria e do mercado mundial, o Estado representativo moderno conquistou para si
próprio, autoridade política exclusiva.

Segundo Marx, o poder Executivo do Estado Moderno não passa de um comitê


para gerenciar os assuntos comuns de toda a burguesia.

Contrapontos entre Locke e Marx:

O liberalismo surge durante o Iluminismo, movimento que se opõe à monarquia


absoluta, mercantilismo, e diversas formas de ortodoxia religiosa. A luta de Locke
contra o absolutismo do poder, é a liberdade, que é fundamentada na propriedade que
todo indivíduo tem da própria vida.Para Locke, portanto, “os homens nascem pura e
simplesmente livres, da mesma forma como haviam nascido pura e simplesmente
cativos no sistema de Filmer e segundo a tradição patriarcal”( LOCKE,1998,p.137).

Marx faz uma crítica ao capitalismo, pois acredita que os homens entram em
determinadas relações necessárias, independente de suas vontades; relações de produção
que correspondem a um grau de desenvolvimento determinado de suas forças
produtivas materiais. O conjunto dessas relações de produção constitui-se a estrutura
econômica da sociedade, a base concreta sobre a qual se ergueu uma superestrutura
jurídica e política e à qual correspondem formas de consciência sociais
determinadas.(MARX,1998).

Enquanto que, para Locke, a autoridade do Estado é legítima e não arbitrária,


pois, por meio do contrato, estabelece as leis a serem seguidas pelos homens, Marx
considera o Estado como a instituição que, acima de todas as outras, tem como função
assegurar e conservar a dominação e a exploração de classe. A concepção clássica de
Estado está expressa na famosa frase formulada por Marx e Engels, no Manifesto
Comunista: “ o executivo do Estado Moderno nada mais é do que um comitê para a
administração dos assuntos comuns de toda a burguesia.”

Locke tem uma visão um tanto quanto diferenciada de Marx, pois, para ele, o
ideal do liberalismo é que todos os sujeitos tenham condições de vida, e que tenham os
seus direitos garantidos.
Marx mostra que é humanamente impossível todas as pessoas terem os
mesmos direitos, pois quem determina as condições da propriedade é a burguesia. Para
ele, o modelo de produção determina a produção da vida material e condiciona o
processo de vida social, política e intelectual em geral. É a burguesia que coloca
obstáculos cada vez maiores à dispersão da população, dos meios de produção e da
propriedade. A conseqüência disso foi a centralização política e a criação de um
governo, um código de leis, um interesse nacional de classe, uma fronteira e uma tarifa
alfandegária. Os trabalhadores que compõem esse cenário precisam vender a si próprios
e, aos poucos, tornam-se mercadoria como qualquer outro artigo de comércio e são, por
conseqüência, expostos a todas as vicissitudes da competição, a todas as flutuações do
mercado.

Em Locke devemos enfatizar que, no seu sistema, é o poder dos homens sobre
os outros e não o poder sobre si mesmo que dá origem à autoridade política.

Para Marx, o homem perde a sua essência à medida que produz a mercadoria,
pois a alienação do sujeito consiste antes de tudo no fato de que o trabalho é externo ao
operário, ou seja, não pertence a seu ser e, portanto, em seu trabalho, ele não se afirma,
mas se nega; não pode se satisfazer e por isso, sente-se mais infeliz; não desenvolve
livre energia física e espiritual, mas desgasta seu corpo e destrói seu espírito.

Locke ( 1998,p.151) defende que, a propriedade, seja em sua acepção restrita ou mais
ampla, é insuficientemente protegida e inadequadamente regulamentada no estado de
natureza, e é essa inconveniência crítica que induz os homens a “ ingressar na
sociedade, para formar um povo, um corpo político sob um único governo supremo(...),
estabelecendo um juiz na Terra, investido de autoridade para resolver todas as
controvérsias.”

Encerramos aqui com alguns contrapontos, propostos por Locke e Marx que
influenciaram tanto os aspectos políticos, filosóficos e econômicos.

Considerações finais:
Marx (1998) afirma que o sistema feudal, sob o qual a produção industrial era
monopolizada, já não bastava mais para a demanda do crescimento do mercado,
portanto, o sistema de manufatura ocupou este ponto.

Na Inglaterra houve a expansão ao mesmo tempo da Revolução Francesa e da


Revolução Industrial, que constituem as duas faces de um mesmo processo e a
consolidação do sistema capitalista. Por fim, a Revolução Industrial, iniciada na
Inglaterra, se estendera a toda a Europa, e isso transformou a produção, ou seja, a
transformação da atividade artesanal em manufatura e, por último, em atividade fabril
que conduzirá à criação do proletariado urbano e do empresário capitalista.

O liberalismo econômico surge como reação frente ao Mercantilismo que não é


tanto uma corrente de pensamento mas uma prática econômica que se dá nos países
europeus no início do sistema capitalista. Jonh Locke, incorpora na sua teoria os ideais
liberais, salientando que o Estado não deve gerenciar os aspectos religiosos, pois a fé
não é uma coisa que possa ser imposta.

Locke enfatiza, ainda, que o Estado tem o poder de fazer as leis ( poder
legislativo) e de impô-las, e fazer com seja cumpridas.

Embora, reforce que todos nós possuímos uma política natural, pelo fato de
vivermos em sociedade e acredita que é no amor e na sociabilidade que construímos a
base da vida social.

Para ele é o poder dos homens sobre os outros e, não o poder sobre si mesmo
que dá a origem à autoridade política.

Para Marx, a sociedade civil só se desenvolve com a burguesia; todavia a


organização é resultante da produção e do comércio, e que constitui sempre a base do
Estado.

O Estado, nesta perspectiva teórica, passa a ser um órgão de dominação da


classe dominante, um órgão de submissão de uma classe por outra, os direitos humanos
não são preservados, tornando os seres humanos vulneráveis quanto à sua condição de
vida social e econômica.
Concluímos que, tanto os aspectos presentes no liberalismo e no marxismo se
fazem presente na história da humanidade. Marx aponta que as armas utilizadas pela
burguesia para combater o feudalismo, voltaram se contra a própria burguesia.

Referências:

BEAUD, Michel . História do capitalismo: de 1500 até os nossos dias. Michel Beaud; trad. Maria
Ermantina Galvão Gomes Pereira. S.P: Brasiliense, 2004.

DURKHEIM, [ET all]. Introdução ao Pensamento Sociológico. Coletânea de Textos organizada por
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LARROYO, Francisco. História geral da Pedagogia. Trad. Luiz Aparecido Caruso. São Paulo : Editora
Mestre Jou., Tomo I.

LÊNIN. V.I. O Estado e a Revolução. São Paulo: Expressão Popular, 2007.

LOCKE, Jonh. Dois Tratados sobre o governo/ Jonh Locke: tradução Julio Fischer. São Paulo: Martins
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MARX, Karl, 1818- 1883. A ideologia alemã/ Karl Marx e Friedrich Engels: trad. Luis Claudio de
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_________________O manifesto comunista/ Karl Marx e Friedrich Engels; trad. Maria Lucia Como,
Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998.

REALE, G. História da Filosofia.5. do romantismo ao empiriocriticismo. G Reale., D. Antiseri; trad.


Ivo Storniolo. São Paulo. Paulus, 2005.

______________História da filosofia: de Spinoza a Kant./G. Reale, D. Antiseri. São Paulo, 2004.

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