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Acadêmicos
I I
unesc
Universidade
do Extremo
Sul Catarinense
I I
ISSN 1678-5665
UNESC
Universidade do Extremo Sul Catarinense
Tempos Acadêmicos
Criciúma, 2005
unesc
UNESC - Universidade do Extremo Sul Catarinense
Editor: Comitê Científico:
Unesc Prof. Carlos Renato Carola
Prof. Nivaldo Aníbal Goularte
Reitor: Prof. Paulo Sérgio Osório
Prof. Antônio MIlioli Filho
Conselho Editorial Universitário:
Vice-Reitor: Prof. Ademir Damazio
Prof. Gildo Volpato Prof. Alcides Goularti Filho
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Profa Neide Inez Ghelere de Luca Prof. Gladir S. Cabral (presidente)
Prof. Ricardo Aurino Pinho
Pró-Reitora de Pós-Graduação, Profa. Vanilde Citadini-Zanette
Pesquisa e Extensão:
'Profa. Roseli Jenoveva Neto Capa: Olmar da Silva Vieira Júnior
Gravura de Otávia Gaidizinski. Criciúma no
Diretor de Graduação: início do Século XX, Acervo do Arquivo
^roi. Ricardo Luiz cíe Bittencourt Histórico de Criciúma Pedro Milanez.
2003, n. 1
2004, n. 2
2005, n. 3
Anual
ISSN 1678-5665
CDD.2Ped. 301
Bibliotecária: Rosângela Westrup
Biblioteca Central Prof. Eurico Back - UNESC
Universidade do Extremo Sul Catarinense
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Sumário
Apresentação 7
É quase impossível falar do curso de História da UNESC,sem dizer que ele tem suas
raízes no curso de Estudos Sociais. O curso de Estudos Sociais teve duas etapas, uma
entre 1974 e 1981 e outra entre 1986 e 1996.
Quando teve início o curso de História,em 1995,foi suspenso o vestibular do
curso de Estudos Sociais. Durante três anos conviveram as três últimas turmas de
Estudos Sociais e as primeiras três turmas de História. As coordenações ocupavam a
mesma sala, e algumas atividades foram feitas em conjunto.
Apesar da crítica que recebia o curso de Estudos Sociais, por ser fruto da
reforma universitária do período militar e da ditadura, pedimos a reabertura do curso
em 1986. As vagas foram preenchidas e soubemos dar uma identidade progressista ao
curso. Elaboramos uma grade com cinco fases de História do Brasil, cinco fases de
geografia do Brasil, cinco fases de Geografia Geral e cinco fases de História Geral. O
curso tinha boa base nas disciplinas de Economia, Sociologia, Filosofia e outras
disciplinas que trabalhavam a questão da politização e da cidadania.
Também foi criado o TCC, na disciplina de Metodologia Científica III, com
oito créditos na 8® fase. Naquela épocajá havia a preocupação com a pesquisa. Muitos
trabalhos, mesmo sem defesa em banca, tiveram espaço de discussão nas rádios locais
e convites para palestras em colégios. A carga horária das disciplinas era uma preocu
pação primordial. Se o campo de atuação do futuro professor era na Geografia e na
História Geral, bem como na Geografia e História do Brasil, era necessário garantir o
domínio dos conteúdos que seriam ministrados para uma educação de qualidade. Nos
concursos públicos,os ex-alunos e ex-alunas se saíam bem e,como professores, deram
início a um ensino de História que não trabalhava verdades acabadas, mas questionava
o sentido de datas-fe personagens da nossa História. As lideranças mais conbativas da
então FUCRI saíam normalmente do curso de Estudos Sociais.
No período em que o curso de História e o de Estudos Sociais existiam simul
taneamente,houve a iniciativa de se promover um evento internacional com professores
do Mercosul. Uma professora da Argentina apresentou história daquele país sob a ótica
deles,na relação com o Brasil. O mesmo fez um professor do Uruguai e uma professora
do Paraguai. A professora paraguaia era uma índia guarani,que cantou e tocou músicas
guaranis. Os espectadores, que jamais haviam ouvido canções guaranis ao vivo,
deliraram. Muito positiva foi a participação de uruguaios, argentinos, paraguaios e
chilenos residentes na cidade, que ocuparam bom espaço na platéia. Infelizmente, o
palestrante brasileiro ficou doente e nós perdemos a oportunidade de ter conosco o
professor Décio Freitas, citado nas nossas aulas como pesquisador das rebeliões
escravas.O tema foi"Mercosul,integração e resistência". Outro momento memorável,
ainda em conjunto foi a vinda de Fernando Gabeira, de Carlos Valter, do cônsul da
Costa Rica e do escritor Raimundo Caruso. Gabeira e Carlos Valter trataram de temas
relacionados à conferência Rio — 92 um ano depois. O cônsul da Costa Rica discorreu
spbre a história^de seu país e o escritor Caruso, sobre o início do Brasil República.
Depois vieram novos tempos, mas com a mesma dinâmica. A FUCRI se
transformou em Universidade e hoje tem o orgulho de mostrar,além de um belo compus,
o orgulho e a coragem de ter criado uma estrutura democrática, com eleição direta e
universal de seus dirigentes. Os coordenadores de curso, o reitor e o vice-reitor são
eleitos pelo voto universal e direto, e isso não foi uma concesão de momento,foi uma
dura conquista e uma história contra as tendências mais conservadoras e as práticas
comuns de nomear os dirigentes em gabinetes.
Nas viagens de estudo, o curso de História tem uma trajetória memorável.
Visitamos as cidades históricas de Minas, com passagens pelo museu Imperial de
Petrópolis e visitas a museus e pontos históricos do Rio de Janeiro,já na quarta edição
em 2005. Estamos na terceira edição das visitas aos museus e monumentos de Porto
Alegre,e em 2004 editamos a primeira viagem de estudos específica ao Rio de Janeiro,
outras virão. Outros lugares históricos preencheram e preenchem nosso calendário,
como a região das Missões Jesuíticas no Rio Grande do Sul,os fortes de Florianópolis,
a cidade de Laguna, São Francisco, Curitiba e a região do Contestado. Cabe ênfase a
essas viagens porque elas permitem,além da experiência com outras paisagens humanas
e naturais, o contato direto com o patrimônio natural e construído, com a arte, com a
arquitetura e outras manifestações do gênio criativo do homem. É, sem dúvida, uma
forma eficiente de trazer a história, dos livros, para mais perto de nós, tomando-a viva
e mais atraente.
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Em 2000 visitamos a exposição dos 500 anos do Brasil, no Ibirapuera. Foi
talvez a viagem mais memorável até então, porque não se repetirá tão cedo a reunião,
em um só lugar, de um acervo que trouxe para São Paulo e levou a alguns pontos do
país o que há de mais representativo em todo território nacional em termos de escultura,
fotografia, pintura,documentos,arte e objetos em geral da memória da nação brasileira.
Como complemento, visitamos o MASP, a Pinacoteca, o Museu da Independência, o
museu de Arte Sacra e o Memorial da América Latina.
Quanto aprendizado, principalmente para muitos que não haviam ainda pisado
fora do estado de Santa Catarina, oportunidades como essa são raras. Em 10 anos de
Históriajá se pode olhar para trás e dizer que temos tradição e temos nosso rumo claro,
e nosso passado deve ser motivo de orgulho e alegria para quem, como sujeito e de
forma coletiva, participa dessa caminhada.
Ao curso de Estudos Sociais se deve o início do museu Augusto Casagrande,e
ao curso de História se deve a formação do vasto acervo na área de arqueologia, etno-
grafia e documentação,hoje fazendo parte do Museu Universitário. O patrimônio cultural
está se tomando cada vez mais estudado, com pesquisas agora instituciona-lizadas
pelos TCCs,livros, revista do curso, artigos em jornais, presença em debates nas rádios
locais e na televisão, que têm sido uma constante.
As viagens de estudo ao Rio de Janeiro, em 2004, e as viagens às cidades
históricas de Minas Gerais, nas quatro edições, e a última em particular, em 2005, por
estar presente na nossa memória, permitiram contato direto com a arte, a arquitetura e
os lugares que foram palco da nossa história, como a Biblioteca Nacional, o Arquivo
Histórico Nacional,o Museu Nacional de Belas Artes,o Museu da República,os locais
onde se deram a proclamação da República, as passeatas de 1968, a remodelação do
Rio de Janeiro em 1902,o obelisco onde,dizem,os gaúchos amarraram seus pingos em
1930.
Em Minas, pode-se ver e sentir toda a força e a beleza do nosso Barroco, nas
obras do mestre Ataíde,de Manoel e Francisco Lisboa e tantos artistas menos famosos.
Em Ouro Preto, pode-se conhecer as igrejas por dentro e por fora, os sobrados
e ladeiras levantados e calçadas por escravos.
Essas ações, com as de sala de aula, as semanas de debates e as palestras, nos
dão a tranqüilidade de estarmos fazendo nossa parte na formação e na construção de
uma consciência cidadã.
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^ LAUPIES, Frédéric. Leçon philosophique sur Ia sensibílité. Paris: PUF, 1998, p. 13.
'Ibidem, p. 14-15.
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^ BARTHES, Roland. La chambre claire. Note sur Ia photographie. Paris: Gailimard, Seuil,
1980.
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JUNG, Carl Gustav. T^pes psychologiques. Tr. Y. Le Play. Genève, 1958, p. 486.
^ LAUPIES apud, op. cit., p. 9.
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como uma tarefa hermenêutica, debate esse que remonta ao século XIX, com os
culturalistas alemães, como Gustav Droysen, Wilhelm Dilthey e que, no século XX,
atingiu a sua maior expressão com o pensador Paul Ricoeur.
A grande questão que se colocaria ao historiador seria; como compreender um
texto do passado? Ao tratar a inteligibilidade daquilo que se teria passado um dia,seria
preciso enfrentar o desafio de pensar a temporalidade do passado em termos do princípio
instaurador da hermenêutica, que é o de ultrapassar a distância temporal e cultural do
passado, compreendendo esse outro no tempo, verdadeira finalidade da história.
Entretanto, se a hermenêutica, na sua relação com a história, busca interpretar
a experiência humana em sua dimensão temporal, já escoada, tal postura reservaria
poucas certezas e muitas dúvidas, nesse século XIX,tão impregnado pelo cientificismo
e o racionalismo, e também no século XX que se seguiu, com a sua complexidade de
acontecimentos e manifestações culturais. A não ser, evidentemente, que toda a
experiência do passado seja enquadrada em uma trajetória evolutiva fatal e inexorável,
em que o futuro seja uma realização prevista e assegurada. Diante de interpretações
finalistas da história, os sentidos conferidos ao passado são fixados no tempo porque
conferem certezas diante de uma causa a ser demonstrada. Mas, bem o sabemos, a
segunda metade do século XX assistiu à decantada crise dos paradigmas explicativos
da realidade,que puseram em xeque as explicações assentes, particularmente no âmbito
das ciências humanas, instaurando uma era de dúvidas e suspeitas.
Uma das respostas possíveis para resolver esse impasse seria dada pela História
Cultural, que estabeleceu o primado das versões e da verossimilhança para a narrativa
histórica, em detrimento de uma veracidade inalcançável. O resultado da ação do
historiador na recuperação de uma temporalidade escoada seria uma representação,
uma versão,plausível e verossímil,e aproximada,o mais possível,do que teria acontecido
um dia.
Havendo uma descontinuidade entre o presente e o passado,capturar as unidades
de sentido de uma determinada época seria o grande desafio, pois implicaria captar
uma expressão da vida,essa enargheia própria do ser humano,pelo resgate da psicologia
de um outro tempo. Caberia ao historiador, por seu turno,representar ojá representado,
inscrito nas fontes deixadas pelos homens de um outro tempo,como pegadas ou registros
da sensibilidade de um outro tempo.
E, neste ponto, as reflexões dos hermeneutas parecem encontrar-se com os
enunciados de Barthes, por sua vez leitor de Proust e conhecedor de Jung e Rousseau,
sobre as duas formas de conhecimento do mundo: o studium e o pimctum. O que me
toca,o que me fere e me desperta na contemplação do mundo do passado,o que realiza
em mim,espectador e leitor, um despertar e uma espécie de revelação benjaminiana,é
o encontro de uma bagagem de studium com a carga emotiva/evocativa/relacional do
punctum.
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que não são mais os nossos. O olhar do historiador da cultura,detentor de uma bagagem
específica de saber acumulado - ele, também, possuidor de studium e punctum -
interpretará tais sinais, estabelecendo nexos e relações para tentar chegar ao tal mundo
do passado onde os homens,falavam,amavam e morriam por outras razões e sentimentos.
É nesse procedimento que o método detetivesco de Carlos Ginzburg, tão divulgado
entre os historiadores, encontra-se com a proposta de Walter Benjamin,® da técnica da
montagem para a análise das imagens que nos chegam do passado: construir uma rede
de superposição e contraposição dos traços, em relações de analogia, contraste e com
binação.
Ora,sensibilidades se exprimem em atos,em ritos,em palavras e imagens,em
objetos da vida material,em materialidades do espaço construído. Falam, por sua vez,
do real e do não-real, do sabido e do desconhecido, do intuído, do pressentido ou do
inventado. Sensibilidades remetem ao mundo do imaginário, da cultura e seu conjunto
de significações construído sobre o mundo. Mesmo que tais representações sensíveis
se refiram a algo que não tenha existência real ou comprovada,o que se coloca na pau
ta de análise é a realidade do sentimento, a experiência sensível de viver e enfrentar
aquela representação. Sonhos e medos,por exemplo,são realidades enquanto sentimento,
mesmo que suas razões ou motivações, no caso, não tenham consistência real.
Traço de união entre o corpo e a alma,a sensibilidade é uma presença enquanto
valor,dificilmente será número... Com isso,chegamos à questão proposta inicialmente:
é possível mensurá-la? Talvez, a única forma de medir sensibilidades se dê por uma
avaliação de sua capacidade mobilizadora.Tal como as imagens,como diz Louis Marin,'
as sensibilidades demonstrariam a sua presença ou eficácia pela reação que são capazes
de provocar.
Dessa forma, podemos aproximar as sensibilidades do campo do político, no
qual podem ser medidas ações e reações, mobilizações e tomadas de iniciativa. Da
mesma maneira,o estudo das sensibilidades remete ao campo da estética, não somente
pelos pressupostos que,de forma canônica,associam-na com o belo, mas na concepção
que entende a estética como aquilo que provoca emoção, que perturba, que mexe e
altera os padrões estabelecidos e as formas de sentir.
Recuperar sensibilidades não é sentir da mesma forma,é tentar explicar como
poderia ter sido a experiência sensível de um outro tempo pelos rastros que deixou. O
passado encerra uma experiência singular de percepção e representação do mundo,
mas os registros que ficaram,e que é preciso saber ler, permitem-nos ir além da lacuna,
do vazio, do silêncio.
'BENJAMIN, Walter. Paris, capitale du XIXe siècle. Le livre des passages. Paris: CERF, 1989.
'MARIN, Louis. Les pouvoirs de 1'image. Paris; Seuil, 1989.
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Referências
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