1. Introdução.
1
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Patos. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2011. p. 143
3. Não tomarás o nome de Deus em 3. Lembra-te do dia do sábado
vão
4. Lembra-te do dia do sábado 4. Honra teus pais
5. Honra teus pais 5. Não matarás
6. Não matarás 6. Não adulterarás
7. Não adulterarás 7. Não furtarás
8. Não furtarás 8 Não dirás falso testemunho
9. Não dirás falso testemunho 9. Não cobiçarás a casa de teu
próximo
10. Não cobiçarás a casa de teu 10. Nem sua mulher, nem seu servo,
próximo, nem sua mulher, sem seu nem seu animal
servo, nem seu animal
2
CARSON, D. A. O Deus Amordaçado. São Paulo: Shedd Publicações, 2013. p. 42
3
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.12
4
Para o dispensacionalismo clássico, todo o Antigo Testamento a partir de Gn 12 pertence ao Israel
natural, assim como, no Novo Testamento, os evangelhos, as epístolas de Tiago, Pedro, João e Judas e a
maior parte de Apocalipse. Textos como Rm 15:4, I Co 10:6, 11 e II Tm 3:16 17 são completamente
ignorados ou mal interpretados.
Para os que defendem a Teologia da Nova Aliança, a lei do Antigo
Testamento serve como um tutor que nos convence de nossa pecaminosidade
e da necessidade que temos do Redentor. Entretanto, a lei em vigor aos
cristãos é somente a ensinada no Novo Testamento, uma vez que Cristo é
visto como o novo doador da lei, em contraposição a Moisés, o antigo doador
da lei. A nova aliança é vista como abolidora da aliança mosaica, a antiga.
Assim, o “não matarás” vigente aos crentes neotestamentários, embora de
mesmíssimo conteúdo, não é o “não matarás” da antiga aliança, do decálogo.
5
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 40
3. O Novo Testamento revela o alto respeito do Senhor Jesus e dos
apóstolos pelo decálogo, deixando claro que os mandamentos citados não são
outros novos, ainda que de mesmo teor, mas os ensinados por Deus ao Seu
povo através de Moisés.
Deve ser pontuado que não pode haver dúvida quanto à salvação
pela graça mediante a fé somente. Entretanto, as boas e as más obras dos
cristãos certamente afetarão o julgamento, o que assegura “a relevância
permanente na vida do cristão” 7 do decálogo.
6
Op. Cit. p. 153
7
Ibdem
Para solvermos a suposta dicotomia entre lei e graça ou evangelho,
destacaremos os pontos a seguir.
9
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 16
As lei civis dizem respeito às regras que disciplinavam o
comportamento dos israelenses enquanto sociedade politicamente organizada,
uma vez que a Igreja do Antigo Testamento organizava-se como um povo-
nação. Tais leis, por exemplo, definiam condutas danosas à propriedade e suas
sanções. Se as leis cerimoniais prefiguravam Cristo como o grande Sumo
Sacerdote, as civis O apontavam como o grande Rei, que detém, Ele só, a
prerrogativa de legislar e regular os mais variados aspectos da vida social do
Seu povo. Entretanto, como a Igreja neotestamentária é um povo internacional,
ligado somente pelos laços da fé, não há que se desejar uma nova teocracia
para os nossos dias, uma vez que o Cristo já reina em Seu povo e já expande
a manifestação do Seu reinado através do evangelho.
Por fim, temos a lei moral, cujo núcleo essencial é o decálogo. Esse
aspecto da lei é perene, de validade permanente. Os cristãos foram redimidos
da maldição da lei (Gl 3:13) e da necessidade de manter a lei como condição
da justificação (Rm 5:19), mas não do dever de observar a lei moral, pautando
a sua conduta conforme os ditames dos dez mandamentos.
Nas palavras de Mauro Fernando Meister 10, nós estamos sob a lei
moral de Deus em dois sentidos. Primeiro, porque ela “continua representando
a soma de nossos deveres e obrigações para com Deus e para com o nosso
semelhante”; segundo, porque ela, “resumida nos Dez Mandamentos,
representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado
pelo Espírito Santo em nossa pessoa (Jo14:15)”.
Porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei, e
sim da graça.
Por ouro lado, a palavra “graça”, aqui, ensina Murray, “sumaria tudo
quanto está envolvido nas provisões da redenção, em contraste com a lei” 12.
“Graça” corresponde a tudo quanto Deus fez em Cristo para nos resgatar da
escravidão do pecado, servidão essa que a lei tinha somente acentuado. Por
isso, o apóstolo diz que o pecado não mais domina sobre quem está “debaixo
da graça”.
1. Porventura, ignorais, irmãos (pois falo aos que conhecem a lei), que a lei tem
domínio sobre o homem toda a sua vida? 2. Ora, a mulher casada está ligada
pela lei ao marido, enquanto ele vive; mas, se o mesmo morrer, desobrigada
ficará da lei conjugal. 3. De sorte que será considerada adúltera se, vivendo
ainda o marido, unir-se com outro homem; porém, se morrer o marido, estará
livre da lei e não será adúltera se contrair novas núpcias. 4. Assim, meus
irmãos, também vós morrestes relativamente à lei, por meio do corpo de Cristo,
para pertencerdes a outro, a saber, aquele que ressuscitou dentre os mortos, a
fim de que frutifiquemos para Deus. 5. Porque, quando vivíamos segundo a
carne, as paixões pecaminosas postas em realce pela lei operavam em nossos
membros, a fim de frutificarem para a morte. 6. Agora, porém, libertados da lei,
estamos mortos para aquilo a que estávamos sujeitos, de modo que servimos
em novidade de espírito e não na caducidade da letra.
12
Ibdem. p. 256
lei do casamento (vs. 2, 3). Uma mulher casada só está livre para contrair
novas núpcias com a morte do marido.
Mais uma vez, é bom salientar que o que está em jogo aqui não é o
abandono do decálogo como guia ético de uma vida que agrada a Deus. O que
Paulo está fazendo, em verdade, é sepultar a noção de que podemos ser
salvos mediante a observância de um código escrito externo, como pretendeu
o Israel natural (ver Rm 10:3), e não tornar obsoleto o decálogo como
revelação da vontade de Deus. “O que o apóstolo está dizendo, então, é que a
profecia gloriosa de Jeremias 31:31-34 está se concretizando na vida dele
mesmo e de todos os seus destinatários” 14. As leis de Deus agora estão no
coração! Elas não foram descartadas.
Mas, antes que viesse a fé, estávamos sob a tutela da lei e nela encerrados,
para essa fé que, de futuro, haveria de revelar-se. De maneira que a lei nos
serviu de aio para nos conduzir a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por
fé. Mas, tendo vindo a fé, já não permanecemos subordinados ao aio.
13
Ibdem. p. 270
14
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Romanos. São Paulo: Editora Cultura Cristã,
2011. p. 275
mosaica. Eles desejavam “melhorar” o evangelho pregado pelo apóstolo dos
gentios, tornando-o mais rigoroso.
Para o apóstolo, a lei foi dada para nos ser um mestre a nos guiar na
infância e nos ministrar lições preliminares. Seu propósito primordial foi nos
convencer da absoluta impossibilidade de agradarmos a Deus pelos nossos
próprios recursos. Calvino15 afirma, a propósito do texto em comento, que a
justiça de Deus, revelada na lei, nos mostrava nossa própria injustiça, suas
promessas de vida pela obediência nos levavam a necessitar de outro caminho
e suas ameaças nos impulsionavam a achar refúgio da ira de Deus. O
reformador franco-suíço concluiu: “Toda a lei, em suma, outra coisa não era
senão uma multiforme variedade de exercícios nos quais os adoradores eram,
pela mão, guiados a Cristo”.
Pelo exposto, não será tarefa impossível definir em que sentido “já
não permanecemos subordinados ao aio”. Isso significa que, tendo sido
justificados pela fé, o decálogo nada mais tem a ver conosco? Definitivamente,
não. Calvino16 compreendeu o ponto. Para ele, a lei está abolida se
abstrairmos dela os aspectos do pacto da graça. Sem esses aspectos, “o ofício
de Moisés se encerrou”. Ou seja, vendo a lei apenas como um conjunto de
prescrições que exigem obediência perfeita sem jamais prover perdão,
podemos dizer certamente: ela foi abolida para nós!
15
CALVINO, João. Gálatas. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. pp. 111,112
16
Ibdem. p. 113
ela é proveitosa para ensinar, corrigir, reprovar, para que os crentes
sejam instruídos em toda boa obra, está em vigor como nunca, e
permanece intacta17.
3. Conclusão.
Sigamos, pois.
17
Ibdem
2. A Natureza dos Dez Mandamentos e o Tríplice Uso da Lei
Fato é que Adão não possuía o mais elevado nível de existência. Ele
tinha a possibilidade de não pecar, mas ainda podia pecar e, por isso, morrer.
Herman Bavinck explica com clareza a ideia:
Ele [Adão] ainda não tinha o amor perfeito invariável que expulsa todo
o medo. Os teólogos reformados corretamente salientaram, assim,
que essa possibilidade, esse bem mutável, esse ainda ser capaz de
pecar e morrer, não era parte ou componente da imagem de Deus,
mas era seu limite, sua limitação, sua circunferência. A imagem de
Deus, por isso, tinha que ser desenvolvida – dessa maneira,
superando e anulando a possibilidade de pecar e morrer – e
resplandecer em glória imperecível18.
Por essa razão, Deus sujeitou nosso primeiro pai, no pacto das
obras, a um teste probatório, através do qual, mediante o uso do livre-arbítrio,
poderia ter adquirido para si e sua progênie a bem-aventurança eterna. O teste
consistia em um ato de obediência radical a uma lei moral totalmente exterior,
de natureza arbitrária, incidental e aparentemente sem sentido. Nesse teste, a
questão é realmente esta: “ou Deus ou o ser humano, ou a autoridade de Deus
ou a compreensão humana, obediência incondicional ou pesquisa
18
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Deus e a Criação. Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p.
584
independente, fé ou ceticismo. Esse era um teste assustador que abriria o
caminho ou para a bem-aventurança eterna ou para a ruína eterna”19.
Entretanto, por óbvio que Adão não estava sujeito somente à lei
exterior do teste probatório. É dizer, não comer do fruto da árvore proibida não
era tudo que Adão deveria fazer em obediência ao Criador. Além dos
mandados criacionais, relacionados, sobretudo, ao trabalho, ao culto e à
proliferação da espécie, ele deveria também observar os demais mandamentos
morais. Ele estava, sim, sujeito a toda lei moral de Deus, que estava gravada
em seu coração, fato que o tornava capaz de cumpri-la por discernimento
natural, sem a necessidade de uma revelação especial.
Quando Adão caiu, a aliança das obras não foi anulada, em pelo
menos três sentidos: primeiro, o homem continua devendo obediência a Deus;
segundo, a vida é conquistada somente mediante obediência perfeita (ver Lv
18:15; Gl 312); terceiro, a morte é a justa retribuição pela desobediência.
Por outro lado, a mudança radical efetuada pela Queda é que com o
seu advento não é mais possível ao homem obedecer à lei e, pela sua
obediência, obter a vida. Após a Queda, não há mais que se falar em conquista
por méritos humanos, razão pela qual embora o pacto das obras esteja em
vigor, não pode mais ser canal de bênção pelas obras dos próprios homens.
19
Ibden. p. 585
20
Ibdem
com ele, passou de um estado de “posse non peccare” (capacidade para não
pecar) para “non posse non peccare” (incapacidade para não pecar).
21
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 337, 338
22
Ibden
forças, toda a boca seja calada e ninguém veja a si como grande. Que todos
sejam pequenos, e que o mundo inteiro seja feito réu diante de Deus” 23.
23
Ibden
3. Uso moral ou didático.
24
Ibden
25
Ibden. p. 342
26
Ibden. p. 342, 343
27
Ibden
Primeiro, não somos legalistas, se pela expressão entendemos
tratar-se da posição segundo a qual a lei foi-nos dada para sermos salvos pela
obediência aos seus comandos. O homem, antes da Queda, foi capaz de
obedecê-la. Após Queda, tornou-se incapaz. “...pelas obras da lei, ninguém
será justificado” (Gl 2:16).
28
CAMPOS JÚNIOR, Héber Carlos de. Tomando Decisões Segundo a Vontade de Deus. São José dos
Campos-SP: Editora Fiel, 2013. p. 13
29
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Deus e a Criação. Vol. 2. São Paulo: Editora Cultura Cristã
2012. p. 239
de Deus e o modo como são utilizados30 nos apresentam dados que nos fazem
concluir que a vontade una de Deus pode ser sistematizada em diversos
aspectos, dois dos quais são especialmente úteis ao nosso propósito, quais
sejam: a vontade decretiva e a vontade preceptiva de Deus e a vontade secreta
e vontade revelada de Deus.
Vontade decretiva é aquela por meio da qual Deus decreta tudo que
realmente aconteceu, acontece e acontecerá, quer Ele realize de maneira
imediata quer permita que ocorra por meio da livre agência de suas criaturas
morais, irracionais e das leis da natureza. Segundo esse aspecto da vontade
de Deus, Ele está inflexivelmente conduzindo a história segundo o Seu plano
previamente determinado (cf. Is 46:9-11; Rm 1:9,10; I Pe 3:17). Essa faceta da
vontade divina é sempre cumprida, até por meio de atos maus (At 4:27, 28), e
aponta para Deus como o Soberano e o Guia do Seu povo.
Por um lado, crer no Deus que controla todas as coisas (Dn 4:35) -
que faz tudo o que Lhe agrada (Sl 115:3), que tem os seres humanos nas
mãos (Jó 10:9), perante quem as nações como são como um pingo d‟água (Is
(Is 40:15) e diante de quem nenhum ser humano tem direitos (Is 45:9) -, é
fundamental para honrarmos a Deus como Aquele que reina de maneira
absoluta. Por outro, tal certeza nos faz concluir que o caminho da santificação
não é incerto, duvidoso ou inseguro. O nosso Salvador é também o nosso Rei!
Pelo exposto, fica claro que os cristãos não devem nutrir uma atitude
uniforme em relação a todos os matizes da vontade de Deus, embora devem
desejar agradá-lO em tudo. Assim, e isso é o que nos importa nesse momento,
qual deve ser a postura dos cristãos frente a esses variados aspectos da
vontade de Deus? Nós devemos tentar “descobrir” a vontade decretiva e
secreta de Deus como descobrimos a revelada? Pensemos a respeito.
31
Ibden. p. 54
32
Ibden. p. 70-73
2. Sendo lícito, deve-se arguir: “Edifica? Convém?” (I Co 6:12;
10:23). Existem atitudes que não são ilícitas, mas são inconvenientes e não
promovem edificação.
33
CAMPOS JÚNIOR, Héber Carlos de. Ibden. p. 60
3. O Preâmbulo do Decálogo
“Então, falou Deus todas estas palavras: Eu sou o SENHOR, teu Deus, que te
tirei da terra do Egito, da casa da servidão” (Ex 20:1,2)
Pelo preâmbulo, fica claro que antes de Deus ensinar ao Seu povo o
que requer dele, anuncia-lhe Sua soberania, Seu direito soberano de
reivindicar dele a obediência, e relembra-lhe Seus atos salvadores. Deus é
glorificado tanto como o Legislador quanto como o Libertador do Seu povo, de
modo que este povo possui razão dupla para obedecer em gratidão ao Senhor
que lhe redimiu: a autoridade de Deus e Sua inexplicável bondade. Se não,
vejamos.
Por fim, devemos ainda pontuar que pelo uso da expressão “teu
Deus”, o Senhor reivindica o Seu povo para Sua exclusiva propriedade. De
fato, o povo do Senhor Lhe pertence por direito de criação e de redenção (Ex
19:5, 6; I Pe 2:9) e o cerne do pacto é a relação exclusiva e recíproca na qual
Deus toma um povo para Si e dá-se a Si para ser o Deus deste povo (Ex 29:45;
Lv 26:12; Jr 31:33; II Co 6:16-18).
34
BRUCE, F. F. O Evangelho de João: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1987. p. 181
35
BERKHOF, Louis. Teologia Sistemática. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p. 49
A libertação da escravidão social e econômica fora deveras um
estímulo à obediência, e, com muito mais razão, o evangelho é um poderoso
incentivo à piedade e seu próprio fundamento. Se para os crentes do Antigo
Testamento, Deus pode dizer: “Vivam piedosamente, porque lhes redimi do
jugo tirano do Egito”, aos do Novo, certamente diz: “Vivam piedosamente,
porque lhes redimi do poder e da maldição do pecado”.
3. Conclusão ao preâmbulo.
1. O significado.
Como somente Deus pode dizer “Eu Sou o que Sou” (Ex 3:14), Sua
reivindicação de ser único é a música que se ouve em toda a Escritura (ver Ex
15:11; Is 44:6; 46:9; Zc 14:9; I Tm 2:5). O credo judaico mais antigo afirma:
“Ouve, Israel, o SENHOR, nosso Deus, é o único SENHOR” (Dt 6:4). Salomão
suplicou que sua causa fosse atendida “para que todos os povos da terra
saibam que o SENHOR é Deus e que não há outro” (I Rs 8:60). O apóstolo
Paulo declarou em tons igualmente claros que os ídolos nada são e que há um
só Deus (I Co 8:4, 6).
36
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 32
Para Vos, semelhantemente, afirmar que o fim supremo e principal
do homem é buscar o melhor para a maioria é incorrer no mesmo equívoco da
assertiva anterior. O que mudou é que enquanto ali o foco está na felicidade
individual, aqui se “faz da felicidade ou bem-estar da raça humana em geral o
propósito da vida”37.
1. No Antigo Testamento.
37
Ibdem
38
FALCÃO, Samuel. Escolhidos em Cristo: O que de fato a Bíblia ensina sobre predestinação. São Paulo:
Cultura Cristã, 1997. p. 79, 80
39
STOTT, John. Nosso Silêncio Culpado: A Igreja, o Evangelho e o Mundo. Curitiba: Editora Esperança,
2014. p. 26
A idolatria representa um espiral descendente rumo à corrupção e
destruição. Dt 11:16 menciona essa queda gradativa provocada pela idolatria: o
engano do coração, o desvio, o serviço a outros deuses e prostração perante
eles. As consequências da idolatria eram tanto espirituais e eternas (Ex 32:7-
10; Hc 2:19) quanto físicas (Dt 13:6-11). Também são extensas as listas de
maldições divinas aos violadores do primeiro mandamento (Lv 26:14-46; Dt
28:15-68; 32:15-28).
2. No Novo Testamento.
40
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Efésios e Filipenses. São Paulo: Cultura
Cristã, 2005. p. 566
41
Ibdem. p. 313
42
CAMPOS, Héber Carlos de. O Ser de Deus e Os Seus Atributos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.
p. 46
Mais que isso, o primeiro mandamento igualmente condena a
religião meramente formal, conforme salientou Hans Ulrich Refler 43. De fato,
Tiago desafia a confissão ortodoxa, retirada de Dt 6:4, quanto à unicidade de
Deus, mas que não procede de uma fé viva: “Crês, tu, que Deus é um só?
Fazes bem. Até os demônios creem e tremem” (Tg 2:19). O “tremor” dos
demônios é um grande desafio aos cristãos professos, cuja confissão de um só
Deus em nada influencia sua relação com Ele, tampouco os retira do estado de
letargia espiritual (Ap 3:16).
43
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 60
44
Ibdem. pp. 311, 312
princípio regulador de toda a sua vida e que não há nada na vida que possa
estar à parte da nossa relação com Deus” 45.
45
Ibdem. P. 310
46
MARTINHO, Lutero. Catecismo Maior. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012. p. 26
47
Ibdem.
48
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 363
49
COLE, R. Alan. Êxodo: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1990. p. 148
A meus olhos, a parte que se segue amplifica a indignidade, visto que
Deus é provocado ao ciúme sempre que colocamos nossas ficções
em seu lugar, tal como a mulher impudica que, ao expor
publicamente o adultério cometido perante os olhos do marido,
abrasa ainda mais sua alma. Portanto, já que Deus atesta, por sua
virtude e graça presente, que olhava o povo que elegera para si, para
que antes fosse detido do crime da queda, admoesta não ser possível
assumirem-se novos deuses sem que Ele seja testemunha e
expectador do sacrilégio. E, assim, acrescenta muita impiedade a tal
audácia aquele que julga poder iludir os olhos de Deus em suas
deserções. Pelo contrário, o Senhor proclama que tudo o que
tramamos, tudo o que maquinamos, tudo o que fabricamos acaba
diante de seus olhos. Pois, íntegra e incorrupta, a glória de sua
divindade não requer apenas uma confissão ao exterior, mas a seus
olhos, que enxergam os refúgios mais recônditos dos corações.
1. O significado.
1. A incompreensibilidade de Deus.
2. A espiritualidade de Deus.
50
CAMPOS, Héber Carlos de. O Ser de Deus e Os Seus Atributos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.
p. 72
51
“Theophania” é a junção das palavras gregas “Theos” (Deus) e “phanein” (aparecer). Segundo
Champlin, “é impossível para um homem ter contato direto com a verdadeira essência divina, pois ele
não conseguiria lidar com tal situação e provavelmente não haveria caminho metafísico para que isso
ocorresse”. CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo –
Dicionário – M-Z. Vol. 7. 2ª. Ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 5356
52
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo – Dicionário –
A-L. Vol. 6. 2ª. Ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 3802
Assim, quando a Escritura fala a respeito dos pés (Gn 3:8; Ex
24:10), das mãos (Ex 24:11; Js 4:24), da boca (Nm 12:8; Jr 7:13) ou do
coração de Deus (Os 11:8), não pretende com isso afirmar que Deus possui
formas físicas semelhantes às nossas, a partir das quais Seu ser essencial
pudesse ser representado. Quando se diz que o homem foi criado à imagem e
semelhança de Deus (Gn 1:27), o que se tem em mente é que ao homem Deus
comunicou em certa medida atributos morais e intelectuais que Lhe pertencem
de forma perfeita. No caso em que se afirma que o Senhor falava com Moisés
“face a face” (Ex 33:11), isso deve ser interpretado em termos de uma
comunicação imediata e talvez audível (Nm 12:8), e não que Moisés tenha
contemplado visivelmente o ser essencial da divindade (Jo 1:18; I Tm 6:16).
3. A transcendência de Deus.
53
CAMPOS, Héber Carlos de. O Ser de Deus e Os Seus Atributos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1999.
p. 21, 22
tentativas semi-mágicas de aplacar ou controlar Deus através da
posse de uma certa localização de Sua presença, como podemos ver
em relação à arca em I Samuel 4:354.
Entretanto, vale dizer que mesmo nessas ocasiões, nas quais Deus
mesmo ordenou que assim se procedesse, Israel chegou a conclusões
equivocadas, vindo a apegar-se supersticiosamente aos objetos fabricados e a
acreditar que a presença de Deus poderia ser localizada ou contida de algum
modo, ainda que sem uma imagem de Deus. Quanto à serpente abrasadora
construída por Moisés, foi feita em pedaços pelo piedoso rei Ezequias, “porque
até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso e lhe chamavam
Neustã” (II Rs 18:4).
Para o Dr. Vos, há, sim, uma diferença entre usar figuras de Jesus
para ilustrar histórias bíblicas que são contadas às crianças e usar figuras de
Jesus para a adoração, como fazem os católicos romanos. Entretanto, vaticina:
“há bons motivos para se afirmar que os nossos ancestrais da Reforma
estavam certos ao se oporem a toda representação pictórica do Salvador”.
1. No Antigo Testamento.
55
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 344, 345
56
Ibdem
57
COLE, R. Alan. Êxodo: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1990. p. 148
bezerro de ouro fundido por Israel (Ex 32:4; cf. Lv 19:4). Lv 26:1 refere-se a
diversas formas de imagens: ídolos, imagem de escultura, coluna e pedra com
figuras. Em Dt 16:21, 22, somos informados que Deus odeia a obra dos idólatra
e, em Dt 27:15, se insere a maldição proferida sobre o violador do segundo
mandamento. O povo de Deus O incitava à ira com suas imagens de escultura
(Sl 78:58).
2. No Novo Testamento.
58
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 77
imagem mais cedo ou mais tarde vai abandoná-la. Nesse aspecto,
podem-se justificar as críticas contra a religião, porque este tipo de
deus nada mais é do que uma projeção dos sentimentos do homem
religioso...
60
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 64
com suas danças litúrgicas, estrelas da música, “unções” variadas e
extravagantes e “manifestações proféticas” das mais bizarras.
61
NICODEMUS, Augustus. O que Estão fazendo com a Igreja: Ascensão e Queda do Movimento
Evangélico Brasileiro. São Paulo: Mundo Cristão, 2008. p. 84
escuros” e “confortáveis em nossos elegantes saleirinhos eclesiásticos”, bradou
John Stott62.
Primeiro, deve ser observado que se diz que YHWH é Deus (El)
zeloso. A palavra “El” (que traduzimos por “Deus” ou por “Deus forte”) deriva de
“fortaleza”, pelo que é adequada a tradução “Deus forte”, nome através do qual
Deus exibe Seu poder soberano, diante do qual devemos temer. Como se não
bastasse, diz-se-nos que Ele é o “Deus zeloso” (ou ciumento). É que, na
relação com o Seu povo, Deus é frequentemente retratado como o esposo, do
62
STOTT, John. A Igreja Autêntica. Viçosa-MG: Editora Ultimato; São Paulo: ABU Editora, 2013. p. 131
63
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 69
qual Israel - o natural (no Antigo Testamento) e o espiritual (no Novo
Testamento) - é a esposa. Nesse “matrimônio espiritual” Deus comprometeu-se
em ser o Deus do Seu povo e lhe exigiu fidelidade espiritual, no sentido de que
a Igreja deveria adorar somente a Ele e ao modo dEle. Daí que todo e qualquer
envolvimento com o falso culto era denunciado como adultério espiritual (Os
2:2-4). Portanto, assim como marido nenhum que ame a esposa é indiferente
às suas traições e consente em reparti-la com outros homens, Deus jamais
repartiria a adoração do Seu povo imiscuída em superstição idólatra.
Assim deve ser tomado que a justa maldição do Senhor não caia
unicamente sobre a cabeça do ímpio, mas também em toda a família.
Quando cai, o que se pode esperar, se não que o pai, destituído do
Espírito de Deus, viva desonrosamente? Que o filho,
semelhantemente abandonado pelo Senhor pela maldade do pai, siga
a mesma via da ruína? Por fim, que os netos e bisnetos, semente
execrável de homens detestáveis, despenquem em abismos depois
deles?
64
COLE, R. Alan. Êxodo: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1990. p. 149
65
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo – Dicionário –
A-L. Vol. 6. 2ª. Ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 4452
66
Ibdem
67
Ibdem
É verdade que o povo hebreu se destacou perante os povos por sua
postura anicônica durante os séculos68. Entretanto, somente após o exílio
babilônico a idolatria foi completamente banida e o monoteísmo e a monolatria,
inteiramente exercidos, de modo que essa passou a ser sua marca distintiva no
mundo greco-romano, sendo inclusive destacada pelos historiadores da época,
como Tácito, que escreveu: “Para os judeus, há um Deus apenas” 69. De fato,
para os judeus, não apenas Deus era a única divindade, mas somente Deus
era digno de adoração e a principal exigência do judaísmo para um judeu
devoto era a exclusiva adoração ao Deus de Israel 70.
71
RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguísica do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova,
1995. p. 161
72
J. KÖSTENBERGER, Andreas; R. SWAIN, Scott. Pai, Filho e Espírito: A Trindade e o Evangelho de João.
São Paulo: Vida Nova, 2014. p.62
73
Ibdem. p. 45, 46
Em primeiro lugar, João, um judeu monoteísta, dificilmente teria se
referido a outra pessoa como “um deus”74. Segundo, se João tivesse
posto um artigo definido antes de theos, isso teria igualado de tal
forma o Verbo e Deus que a distinção formulada entre as duas
pessoas na oração precedente (“o Verbo estava com Deus”)
simplesmente desapareceria. Em terceiro lugar, na sintaxe do grego é
comum que substantivo predicativo nominativo definido precedendo
um verbo finito apareça sem o artigo; portanto, é ilegítimo inferir a
existência de indeterminação com base na falta do artigo na
passagem em questão75.
78
J. KÖSTENBERGER, Andreas; R. SWAIN, Scott. Pai, Filho e Espírito: A Trindade e o Evangelho de João.
São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 49
mesmo e, o segundo, quando idolatrou o próprio ventre (cf. Fp 3:19)79. Cristo,
por Sua vez, observou perfeitamente o primeiro e o segundo mandamentos.
Quanto à Sua obediência ao primeiro, Mark Jones anotou:
Ele trouxe glória a Deus o Pai enquanto esteve na terra (Jo 17:4).
Temeu, creu, e confiou em Seu Pai (Hb 2:13; 5:7; Lc 4:1-12). Cristo
zelou pela glória de Seu Pai (Jo 2:17) e foi constantemente grato ao
Seu Pai (Jo 11:41). Ele prestou completa obediência ao Pai em todas
as coisas (Jo 10:17; 15:10)80.
Ninguém jamais cultuou como Cristo (Lc 4:16). Ele leu, pregou, orou
e cantou a Palavra de Deus com um coração puro (Sl 24:3, 4). Ele
condenou o falso culto (Jo 4:22; Mt 15:9). Além disso, aquele que era
a imagem visível de Deus não precisou fazer imagens ilícitas de
Deus81.
79
Cristão Reformado: O Mundo e Vida à Luz das Sagradas Escrituras. Adão e a Quebra dos Dez
Mandamentos. http://www.cristaoreformado.com/2012/06/adao-e-quebra-dos-dez-
mandamentos.html. Acesso em 18/06/2015.
80
MARK, Jones. Cristo Cumpriu os Dez Mandamentos. http://www.monergismo.com/markjones/cristo-
cumpriu-os-dez-mandamentos/. Acesso em 18/06/2015.
81
Ibdem.
82
Ibdem. p. 50
83
BRUCE, F. F. João: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida e Mundo Cristão, 1987. p. 170
84
Ibdem.
13:19, Bruce votou a ensinar que inobstante possamos encontrar a expressão
“ego eimi” de maneira comum, especialmente no Evangelho de João “elas com
frequência têm o sentido oculto do Nome Inefável, de Êxodo 3:14, ou até da
afirmação „Sou Eu Mesmo‟ (“Eu Sou Ele”), de Isaías 41:4; 43:10, 13, etc (..), de
uma maneira que dá a entender que aquele que fala é um com o Pai” 85.
Nosso Senhor Se alinha com Deus ao afirmar que o Pai trabalha até
agora e Ele trabalha também (Jo 5:17), fato que provocou a revolta dos judeus
(Jo 5:18). Afirmou que o Filho, assim como o Pai, tem vida em si mesmo (Jo
5:26), numa clara afirmação da Sua divindade. A Tomé, Jesus disse que
ninguém vem ao Pai senão por Ele (Jo 14:5, 6). A Filipe, que quem O vê, vê o
Pai (Jo 14:7, 9), “uma afirmação surpreendente à luz do fato de que ninguém
pode ver Deus, nem jamais o viu (1:18). Jesus tornou visível o Deus invisível” 86.
Mais que isso, para a perplexidade dos judeus, asseverou “Eu e o Pai somos
um” (Jo 10:30). É dizer: Ele é distinto do Pai, mas plenamente identificado com
o Pai na mesma divindade. Em Jo 14:10, 11, Jesus assevera que está no Pai e
o Pai está nEle.
85
Ibdem. p. 248
86
J. KÖSTENBERGER, Andreas; R. SWAIN, Scott. Pai, Filho e Espírito: A Trindade e o Evangelho de João.
São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 92
e O adorou como integrante da divindade. Suas palavras excluem qualquer
compreensão de meio-termo. Ou Ele é o que disse ser, Deus o Filho, ou foi o
homem mais blasfemo da história, mas é certo que não é um ser intermediário,
nem se acha tal crença dentre Seus primeiros discípulos.
Por outro lado, se já ficou esclarecido que Jesus não é o Pai, não
pode haver dúvida alguma sobre o fato de que o Espírito não é Jesus. Não é o
87
J. KÖSTENBERGER, Andreas; R. SWAIN, Scott. Pai, Filho e Espírito: A Trindade e o Evangelho de João.
São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 128
88
LADD, George Eldon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2003. p. 423, 424
Espírito que morre na cruz e ressuscita, tampouco é Jesus quem será enviado
pelo Pai e pelo Espírito, no Pentecostes. Jesus é enviado pelo Pai; o Espírito é
enviado pelo Pai e por Jesus (Jo 14:16; 15:26).
93
Fonte: FERREIRA, Flanklin. Teologia Sistemática: Uma Análise Histórica, Bíblica e Apologética para o
Contexto Atual. São Paulo: Vida Nova, 2007. p. 184
7. Não Tomarás o Nome do Senhor em Vão
1. O significado.
“Não tomarás o nome do SENHOR, teu Deus, em vão, porque o SENHOR não
terá por inocente o que tomar o seu nome em vão” (Ex 20:7)
94
BAVINCK, Herman. Dogmática Reformada: Deus e a Criação. Vol. 2. São Paulo: Cultura Cristã, 2012. p.
101
razão pela qual a Escritura afirma que o Seu nome é santo (Sl 33:21; 103:1;
111:9)95. Vale dizer, quando a Escritura concede o título magnífico de “santo”
ao nome de Deus, quer com isso afirmar que o Seu nome – quem Ele é – deve
ser separado de toda e qualquer profanação.
95
PINK, A. W. Os Atributos de Deus. São Paulo: PES, 2001. p. 58, 59
96
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.83
2. O que o terceiro mandamento nos proíbe?
97
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 85
98
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 359
O que estão proibidos no terceiro mandamento, portanto, são: a
uma, os juramentos pelos falsos deuses, porque isso implica em idolatria (Ex
23:13; Jr 5:7; Sf 1:5); a duas, os juramentos pelos servos de Deus, porque
equivale a conferir-lhes a glória que somente a Deus pertence; a três, os
juramentos frívolos, aqueles que não tenham relação com a glória de Deus,
com a promoção da justiça e com o amor; e, a quatro, os juramentos para
fazerem a mentira prevalecer.
99
Para Lutero, como alertamos alhures, o terceiro mandamento é tratado como o segundo.
100
MARTINHO, Lutero. Catecismo Maior. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012. p. 34
101
CHAMPLIN, Russel Norman. O Antigo Testamento Interpretado: Versículo por Versículo – Salmos,
Provérbios, Eclesiastes, Cantares. Vol. 4. 2ª. Ed. São Paulo: Hagnos, 2001. p. 2641
Deus (Jr 7:4-10, 14, 31; At 17:23). Há algumas décadas, popularizou-se no
Brasil o movimento chamado “batalha espiritual”, alinhado com outra heresia
conhecida como “confissão positiva”, que ensinou ao povo evangélico brasileiro
a repetir a frase “está amarrado em nome de Jesus” diante de circunstâncias
desagradáveis. Eis um exemplo doméstico do uso supersticioso do nome de
Deus.
102
Ibdem. p. 35
103
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 367, 368
Desse modo, confessamos que não há salvação em nenhum outro nome,
abaixo do céu e dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos
(At 4:12). Daí a conclusão necessária no sentido de que somente os
verdadeiros cristãos podem honrar o nome de Deus de acordo com a Sua
vontade revelada. O Dr. Vos esclarece que um não crente pode não ter o
hábito de “praguejar” ou de usar uma linguagem obscena, mas “simplesmente
por conta da sua conduta geral e bom gosto, embora, não sendo um crente em
Cristo, não tenha real reverência a Deus em sentido positivo e espiritual” 104.
104
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 357
105
Lembramos que em I Tm 5:18, Paulo inclui como declaração da “Escritura” uma citação de Dt 25:4 e
de Lc 10:7, paralelo de Mt 10:10.
refeições comuns. Leon Morris explica satisfatoriamente o significado da
passagem em apreço:
Paulo quer dizer que ninguém deve entender a Santa Comunhão
como uma coisa natural, como qualquer outro serviço litúrgico. É um
rito solene, instituído pessoalmente pelo Senhor, carregado de
profunda significação. Antes de tomarmos parte em tal serviço, o
mínimo que podemos fazer é um rigoroso auto-exame106.
Por óbvio, não devemos pensar que veremos nesta vida a clara a
pública punição divina de todos os homens pela violação do terceiro
mandamento. O fato é muitos escapam ilesos no curso desta existência, mas
jamais escaparão do certo, definitivo e inescapável Juízo do Justo Juiz de toda
a terra (Ap 6:12-17; 20:11-15). Uma consideração precipitada nesse tocante
106
MORRIS LEON, Canon. I Coríntios: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1989. p. 131
levou os pés do salmista Asafe a quase resvalarem, até que ele atentou ao fim
dos perversos (Sl 73).
8. Lembra-te do dia de sábado
Mas, as coisas não tão simples assim. Nunca são, não é mesmo?
Isso porque dentre os cristãos de toda a cristandade, até entre aqueles ditos
como protestantes ou evangélicos e mesmo entre os cristãos reformados, há
divergências quanto ao sentido em que o quarto mandamento deve ser
compreendido. Se não, vejamos.
107
Os Batistas do Sétimo Dia surgiram por volta de 1631. Foram eles que introduziram o sabatismo
literal e rigoroso na Inglaterra, no pós-Reforma, e, posteriormente, a Rhode Island e Nova Yorque.
O Dr. Johannes Geerhardus Vos, proponente dessa tese, destaca os
seguintes argumentos para demonstrar que o sábado cristão é uma lei moral e
não cerimonial:
(a) O quarto mandamento mesmo menciona o fato de que o sábado
se originou não no tempo de Moisés, mas na criação do mundo.
Assim, o sábado existiu milhares de anos antes de Deus haver dado
a lei cerimonial nos dias de Moisés. (b) O mandamento do sábado é
parte dos Dez Mandamentos e, por se encontrar no contexto das leis
morais, tem que ser considerado também como uma lei moral... (c)
Assim como o resto dos Dez Mandamentos o mandamento do
sábado não foi escrito sobre material perecível, mas sobre tábuas de
pedra que indicam a sua validade permanente...108
1. O sábado e a criação.
108
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 375
109
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.107
A primeira ocorrência ao sétimo dia como um dia de descanso, na
Escritura, está em Gn 2:2. Ali se diz que Deus terminou a obra da criação e, no
dia sétimo, “descansou” “de toda a obra que tinha feito”. O versículo 3
acrescenta que “abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele
descansou de toda a obra que, como Criador, fizera”.
112
Harold H P. Dressler, in CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã,
2006. p. 24
Há, na verdade, um paralelo tão estreito entre esses anos sabáticos
e os sábados semanais que, imagino, não seja possível separá-los. A
correlação é mais que matemática e linguística (seis anos e seis dias: Ex
23:10, 12), é, sobretudo, quanto ao fim humanístico (descanso, perdão de
dívida e libertação: Ex 21:2; 23:12; Dt 15:2-4) e por obediência ao Senhor.
Não era necessário fazer ameaças para aqueles dentre o povo que
possuíam discernimento espiritual. Ninguém precisava obrigá-los a
desfrutar as bênçãos desse dia consagrado. No Sinai, o Shabbath
havia sido instituído em favor do homem (e não o homem para o
Shabbath)... Uma vez treinada pela repetição regular dessa dádiva
bondosa que era o Shabbath, Israel devia ser capaz de se apresentar
diante do Criador com liberdade, responsabilidade, confiança e
gratidão, adorando ao Senhor do Shabbath e aguardando com
grande alegria e expectativa a chegada do Descanso Final 114.
113
HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez Mandamentos. São
Paulo: Cultura Cristã, 2000. p.99
114
Harold H P. Dressler, in CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã,
2006. p. 36
Essa noção é evocada pelo poeta no Salmo 95. Ele relembrou a
geração incrédula de Israel, a que foi liberta do Egito sob a liderança de
Moisés. Refletiu sobre a dureza de coração daquele povo como evidenciado no
episódio de Meribá e Massá (Ex 17:7; Nm 20:13) e retratou a recusa de Deus
em deixar que entrassem na Terra Prometida (Nm 14:20-38) com as seguintes
palavras: “Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso” (Sl
95:11).
Por óbvio que as implicações da recusa em crer que Deus iria lhes
dar o descanso que careciam se estendia para além da incredulidade em
realmente herdar uma nesga de terra na Palestina. A Terra Prometida é ainda
uma pálida figura em comparação ao descanso definitivo de Deus em novos
céus e nova terra, mas estão intimamente relacionadas em termos de sombra e
substância, tipo e antítipo.
115
Ibdem. p. 102
chegou a ser codificada com o nome de Halaká, hoje conhecida como Mishná.
Em especial, dois tratados do Halaká, o Shabbath e o „erub, são dedicados a
explicar em minúcias como o sábado deveria ser observado. Segundo C.
Rowland, a Halaká pretendia atender à necessidade dos judeus de duas
formas fundamentais: primeiro, apresentando normas detalhadas que explicam
como se pode transgredir a lei de Deus; segundo, ensinando as circunstâncias
que desobrigavam as pessoas de cumprir os mandamentos 116.
Essas linhas iniciais nos fornecem dois dados importantes que serão
verificados nos textos dos quatros evangelhos, quanto à atitude de Jesus para
com o shabbath: primeiro, nosso Senhor cumpriu o shabbath, integralmente,
contrapondo-se, entretanto, aos ensinos da Halaká; segundo, Ele se
apresentou, ainda, como o verdadeiro shabbath, o verdadeiro e definitivo
descanso do Seu povo. Se não, vejamos.
116
ROWLAND, C., in CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.
p. 47
O Shabbath implicava um descanso total do trabalho habitual. Porém,
nesse caso, os discípulos não eram agricultores nem donas de casa
tentando fazer algumas horas extras às escondidas. Antes, eram ex-
pescadores e ex-negociantes, pregadores itinerantes que não
estavam fazendo nada de errado... É evidente que a Halaká foi
transgredida, mas é justamente esse legalismo que Jesus combate
em diversas ocasiões117.
117
Ibdem. p. 61
118
Noutro lugar, Carson escreveu, a propósito da passagem: “Assim, o argumento de Jesus fornece uma
circunstância da própria lei em que as restrições do sábado eram relegadas pelos sacerdotes por causa
de suas responsabilidades cultuais ter prioridade: o templo, por assim dizer, era maior que o sábado... A
lei aponta para ele [Jesus] e encontra seu cumprimento nele... Portanto, não só os fariseus tratam de
forma errônea a lei por meio de sua halaca (vv. 3, 4), mas também fracassam em perceber quem Jesus
é. A autoridade das leis do templo protege os sacerdotes da culpa; a autoridade de Jesus protege seus
discípulos da culpa...”. CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010. p.
335
De mais a mais, a inocência dos discípulos, ao fim e ao cabo, não se
baseia na possibilidade de criarem-se exceções situacionistas que permitam o
escape da lei, mas no senhorio de Cristo sobre o shabbath.
119
CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 71
120
CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010. P. 338
shabbath é Lucas, se é que esse evangelista trata em Lc 4:16-30 do mesmo
episódio dos demais sinópticos, o que é provável.
1.4) Lc 13:10-17
121
RIDDERBOS, J. Isaías: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 1995. p. 489
122
“Os rabinos estavam muito preocupados com o bom tratamento dos animais. No sábado, os animais
podiam ser levados para fora com uma corrente ou similar, posto que nada era carregado (Shabbath
5:1). A água podia ser tirada para eles e colocada numa gamela, embora o homem não devesse segurar
um balde para o animal beber dele (Erubin 20b, 21ª)”. MORRIS, Leon L. Lucas: Introdução e Comentário.
São Paulo: Mundo Cristão, 1990. pp. 210, 211
verdade, disfarçavam seu ódio contra Ele em suposto zelo pela lei. Eis porque
a denúncia de hipocrisia por parte do Senhor levou-os à vergonha.
Mais uma vez, verifica-se que Jesus não viola o shabbath, mas
somente as regras da Halaká. Por outro lado, deixa antever que o real
significado do shabbath é a libertação da escravidão que somente Ele pode
realizar.
1.5) Lc 14:1-6
123
B. TURNER, M. Max, in Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 109
124
CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 74
1.6) Mt 24:20
1.7) Jo 5:1-18
125
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. Volume 2. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001. p. 503
Quando questionado pelos judeus, Jesus responde que “Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também” (5:17). A resposta é estupenda. Os
judeus perceberam que tratava-se de uma afirmação no sentido de que Ele,
Cristo, era igual a Deus (v. 18), porque Ele havia dito que aquilo que Ele
realizava equivalia à obra de Deus. Em mais um relato, ouvimos tramas
homicídio no shabbath.
1.8) Jo 7:19-24
1.9) Jo 9:1-41
Mais uma vez fica claro que os argumentos usados pelos fariseus
contra Jesus nada mais eram do que a expressão de sua inimizade para com o
Messias (vs. 14, 16, 22, 24, 29). Essa obra realizada no shabbath outra vez
está intimamente relacionada com a missão salvadora do Filho de Deus (vs.
35-39).
126
BRUCE, F. F. João: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1987. p. 156
127
CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 85
Primeiro, que Jesus não transgrediu nenhuma regra da Torá com
relação ao shabbath. O que fica evidente é que as adições rabínicas
cristalizadas nos tratados da Halaká foram constante e incisivamente
confrontadas, mas não o shabbath conforme estabelecido na Escritura.
2. O sábado em Atos.
128
Ibdem. p. 88
Digno de nota, semelhantemente, é a atitude deveras conservadora
do apóstolo Pedro em relação a aspectos cerimoniais da lei, como
demonstrado no episódio que narrou como ele foi preparado por Deus para o
encontro com Cornélio (At 10:9-16). Pedro subiu ao eirado para o momento de
oração, com fome, momento em que lhe sobreveio um êxtase (vv. 9, 10) e teve
uma visão (cf. 11:5).
131
LOPES, Augustus Nicodemus. Interpretando o Novo Testamento: Tiago. São Paulo: Cultura Cristã,
2006. p. 62
132
GOZÁLEZ, Justo L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. São Paulo: Hagnos, 2011. p. 280
Terceiro, que era uma reunião regular da igreja, e não um encontro
oportuno em face da presença do apóstolo Paulo, o texto deixa evidente:
“estando nós reunidos com o fim de partir o pão”. O infinitivo do verbo “klao”
(“klasia”: quebrar, partir) é usado para expressar o propósito da reunião, o que
aponta ao que pode ter sido o costume dos cristãos na região de Éfeso de se
encontrarem para a Ceia do Senhor no primeiro dia da semana.
133
Cf. Ap 1:10; I Co 16:2
134
In CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p. 137
Os primórdios do evangelho entre os gálatas foram alvissareiros (Gl
3:3, 4). Mas, não tardou até Paulo receber notícias da entrada de alguns em
suas igrejas na Galácia que o perturbaram. O trabalho dos invasores é descrito
de modo assombrosamente negativo (Gl 1:7; 4:16, 17; 5:7-12; 6:12) e o efeito
desse labor, como letal (Gl 1:6; 3:3, 4; 4:9, 11, 21).
137
JOÃO CALVINO. Gálatas. São Paulo: Edições Paracletos, 1998. p. 128, 129
afirma que na capital do império a debilidade era mais genérica que a
observada em Corinto, mais diretamente relacionada à carne sacrificada a
ídolos. Murray arremata no sentido de que
Não é mister supor que todos os caracterizados como fracos na fé
eram vítimas de um mesmo tipo de fraqueza. Alguns que se
mostravam fracos em um aspecto talvez fossem fortes em um
aspecto diferente, que constituía a debilidade de outros. Esta
diversidade pode explicar a abordagem de Paulo. Esta passagem lida
com o assunto dos fracos e dos fortes, de um modo que aplica a cada
instância em que surgem escrúpulos religiosos vinculados a coisas
tais como exemplificadas neste capítulo138.
Aos fortes, Paulo lhes exorta a “acolher” o débil, mas não com o
propósito de censurá-lo (v. 1). Tampouco devem os fortes desprezar os frágeis
(v. 3a). A atitude que o apóstolo deseja reprimir é a soberba dos fortes para
com os débeis, que leva aqueles a uma atitude de desprezo pela opinião
desses.
Por outro lado, os débeis não devem agir como juízes dos fortes (v.
3b), a ponto de julgá-los portadores de uma espiritualidade menor só porque
não compartilham de seus escrúpulos. Que os frágeis não podem agir como
juízes de seus irmãos, isso se deve a três razões: Primeiro, “porque Deus o
acolheu” (v. 3b). Assim, como podemos condenar quem Deus acolheu? Acaso
seríamos mais santos do que Deus? Ousaríamos reprovar quem Deus
aprovou?
Segundo, porque não se pode julgar o servo alheio. Com que direito
julgaríamos o servo de outro senhor? A expressão “Para o seu próprio senhor
está em pé ou cai” (v. 4a) talvez indique que cada servo deve ser julgado
conforme as regras do seu próprio senhor. É dizer, no tocante ao nosso
relacionamento com Cristo, a opinião dos demais servos pode ser importante,
mas só a dEle é fundamental.
Terceiro, os fortes não devem ser julgados por seus irmãos como
reprovados porque, de fato, eles permanecerão firmes em sua conduta pela
seguinte razão: “o Senhor é poderoso para o suster” (v. 4b). Os fortes, que
costumavam ser julgados pelos débeis pela liberdade que fruíam em Cristo, e
que normalmente eram acusados de haverem sido reprovados pelo Senhor
138
MURRAY, John. Romanos: Comentário Bíblico. São José dos Campos-SP: Fiel, 2012. p. 536
(ideia expressa no verbo “cair”), permaneceriam “de pé”, sim (firmeza de
conduta, frente à aprovação do Senhor), em face do poder de Cristo!
139
BRUCE, F. F. Romanos: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1979. p. 198
140
Ibdem. p. 539
calendário judaico, da dieta levítica e abstinência de prazeres ainda
que lícitos, mediante rigor ascético141.
A expressão “ninguém, pois, vos julgue” indica que Paulo não proibia
a observância do shabbath por aqueles que desejavam guardá-lo à maneira
judaica, mas também não transigia com uma atitude que fazia a sua
observância obrigatória aos cristãos, sob quaisquer pretextos.
3.4) I Co 16:2.
141
LOPES, Augustus Nicodemus. A Supremacia e a Suficiência de Cristo: A Mensagem de Colossenses
para a Igreja de Hoje. São Paulo: Vida Nova, 2013. p. 7
142
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: 1 e 2 Tessalonicenses, Colossenses e
Filemon. São Paulo: Cultura Cristã, 2007. p. 388
na conjectura de Deismann, que fosse o domingo o dia de pagamento. D. R. de
Lacey responde ao argumento aduzindo que
Apesar de nosso conhecimento sobre o sistema econômico da
Antiguidade ser limitado demais para nos permitir fazer afirmações
categóricas, sabemos que, pelo menos na Palestina, havia um
grande número de trabalhadores diaristas. Além disso, os registros
antigos de salários parecem citar sempre valores anuais ou mensais,
e não (tanto quanto eu sei) semanais143.
143
D. R. de Lacey in CARSON, D. A. Do Shabbath para o Dia do Senhor. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. p.
190
4. O sábado em Hebreus.
144
Ibdem. p. 212
referir no seu próprio tempo, embora Israel já estivesse na posse da Terra
Prometida.
145
TURNER, D. D. Exposição da Epístola aos Hebreus: A-XIII. São Paulo: Imprensa Batista Regular, 1987.
p. 43
12:10), promessa literalmente, embora não substancialmente, cumprida através
de Josué (Js 1:13, 15; 22:4). Como o salmista, o escritor de Hebreus sabe que
Josué não deu ao povo o descanso de Deus e que permanece aos cristãos do
primeiro século e a nós, hoje, uma promessa de entrada no verdadeiro
descanso (4:8; cf. Gn 2:2), agora descrita em termos de “sabbatismos” (4:9; cf.
Ex 20:1; 31:17), isto é, de “descanso sabático”.
5. O “Dia do Senhor”.
146
KISTEMAKER, Simon. Hebreus: Comentário do Novo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2013. p.
157
147
HAGNER, Donald A. Hebreus: Novo Comentário Bíblico Contemporâneo. São Paulo: Editora Vida,
1997. p. 92
148
GUTHRIE, Donald. Hebreus: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, 2011. p. 109
149
CALVINO, João. Hebreus. São Bernardo dos Campos-SP: Edições Paracletos, 1997. p. 105
escatológico, como se João houvesse sido transportado em êxtase para
presenciar os acontecimentos finais da história humana 150151.
3. Conclusões.
150
Nesse sentido, H. E. Alexander: “Ele ‘se achou em espírito’ significa que ele foi transportado para o
dia que os profetas do Antigo testamento, e o próprio Senhor Jesus, descreveram como sendo “O Dia o
Senhor”, o dia de Sua vingança que precede a Sua volta...”. ALEXANDER, H. E. Apocalipse. Bauru-SP:
Ação Bíblica do Brasil. p. 39
151
Para Hendriksen, ao revés: “O termo “o Dia do Senhor” é a tradução do hebraico “o Dia de Jeová” e
tem um sentido completamente diferente... Identificar esses dois termos para apoiar uma noção de que
João foi transportado no Espírito no dia da segunda vinda de Cristo é quase sem fundamento”.
HENDRIKSEN, William. Mais que Vencedores. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. p. 83
relacionadas ao mandamento do sábado não guardam relação com o “dia do
Senhor”, nem foram transferidas para esse os preceitos daquele 152.
152
“Se deveríamos continuar a observar o aspecto cerimonial do sábado”, pondera Horton, “por que
não deveríamos praticar os outros sábados exigidos: o sábado a cada sete anos para a terra e um Ano
Sabático a cada cinquenta anos, quando os prisioneiros seriam libertados e todos os débitos
cancelados?” HORTON, Michael. A Lei da Perfeita Liberdade: A Ética Bíblica a Partir dos Dez
Mandamentos. São Paulo: Cultura Cristã, 2000. p. 108
153
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 47
154
Ibdem. pp. 106, 107
Finalmente, aos cristãos, não a guarda de um único dia na semana,
está ordenado que andem “como sábios, remindo o tempo, porque os dias são
maus” (Ef 5:15b, 16). Na vida cristã, o que é central é a mordomia do tempo, e
não a distinção religiosa de dias. “Remir” ou “redimir” (grego agorazo) é
comprar de novo. No caso, o que deve ser comprado mediante preço é o
tempo (kairos, o conjunto de oportunidades propiciadas por Deus). A
implicação é que sábios são aqueles que se assenhoreiam de tal modo do
tempo que o aproveitam ao máximo, sem perder uma única oportunidade. Para
Hendriksen,
a oportunidade referida consiste em mostrar por meio de suas vidas e
conduta o poder e a glória do evangelho, desmascarando assim o
mal, enriquecendo-se de boas obras, alcançando a segurança da
salvação para si mesmos, fortalecendo a comunhão, conquistando o
próximo para Cristo e glorificando a Deus através de todas essas
coisas. A oportunidade perdida jamais voltará155.
155
HENDRIKSEN, William. Efésios e Filipenses: Comentário do Novo Testamento. São Paulo: Cultura
Cristã, 2005. p. 283
156
R. W. STTOT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU, 1991. p. 151
157
Editor ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova,
2009. p. 325
atenta ao Código Saxônio, ainda que concorde perfeitamente com a
Saxônia no que diz respeito à lei natural etc158.
158
Nota de rodapé “25”, do editor do Catecismo Maior de Lutero. LUTERO, Martim. Catecismo Maior.
São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012. p. 38
159
Ibdem. pp. 38, 39
160
Ibdem.
Portanto, deve estar afastada do cristão a observância supersticiosa
dos dias161.
5. O shabbath puritano.
161
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 376
162
Ibdem. p. 377
163
Editor ELWELL, Walter A. Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã. São Paulo: Vida Nova,
2009. p. 325
164
Ibdem
Testamento, o dia a ser observado é o domingo, um memorial à ressurreição
de Cristo e uma prefigura do descanso eterno dos crentes.
6. O sabatismo adventista.
Ellen White disse ter tido revelações em que Jesus lhe disse ter
descoberto a Arca do Concerto, dentro da qual estavam as tábuas da Lei. Na
visão, ela pode perceber que o quarto mandamento estava no centro, rodeado
por um halo luminoso. A visão é deveras notável, uma vez que já sabemos ser
o quarto mandamento o único não repetido no Novo Testamento. A Sra. White
afirmou ter tido revelações jamais concedidas aos apóstolos de Jesus Cristo,
cujas implicações foram um divisor de águas à cristandade.
166
Citações extraídas de ANDRADE, Joaquim de. Controvérsias: Modismos e Heresias que Ameaçam a
Igreja Brasileira. Campina Grande, Pb: Visão Cristocêntrica Publicações, 2014. pp. 62, 63
167
Maiores informações sobre o Adventismo do Sétimo Dia podem ser colhidas em:
“http://estudosapologeticos.blogspot.com.br/2007/02/igreja-adventista-do-stimo-dia.html”.
168
O Pr. Joaquim de Andrade lista uma série de doutrinas estranhas ensinadas pela Sra. White e
acolhidas pelos fieis da seita, quais sejam: “Juízo investigativo (a redenção incompleta de Cristo); o bode
emissário ou Azazel como tipo da obra de Satanás de remover nossos pecados; o aniquilamento dos
ímpios, o sono da alma; adoração a Deus no domingo como sinal da besta; proibição de vários
alimentos; a Igreja remanescente caracterizada pelo dom da profecia de Ellen G. White; a guarda do
sábado e natureza pecaminosa de Jesus etc”. Ibdem. p. 64
a seguinte pergunta: “Crê na crença bíblica de orientação profética e no
Espírito de Profecia manifestado por intermédio de Ellen G. White?” 169
Cremos que: (...) Ellen White foi inspirada pelo Espírito Santo, e seus
escritos, o produto dessa inspiração, têm aplicação para os
adventistas do sétimo dia.
Negamos que: A qualidade ou grau de inspiração dos escritos de
Ellen White sejam diferentes dos encontrados nas Sagradas
Escrituras170.
169
Ibdem. p. 58
170
Ibdem. p. 60
9. O Decálogo e os Sistemas Éticos
171
MORRIS, Leon. I Coríntios: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1989. p. 177
172
W. FORELL, George. Ética de Decisão. São Leopoldo, RS: Editora Sinodal, 1999. p. 11
173
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 17
Antes, porém, de identificarmos as características da ética cristã, e,
consequentemente, o modo como devemos conceber o Decálogo, devemos
identificar os sistemas éticos e verificar em qual deles a ética cristã se
enquadra, o que faremos a seguir.
174
SPROUL, R. C. Como Devo Viver Neste Mundo? São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012. p. 52
Outro tipo de antinomianismo foi denominado por R. C. Sproul de
“espiritualismo gnóstico”. Oriundo dos primeiros séculos da era cristã, o
movimento gnóstico asseverava possuir um tipo de conhecimento que dava
aos seus “iluminados” o direito de rejeitar a Palavra de Deus escrita, inclusive a
ensinada pelos apóstolos. Sproul adverte que embora formalmente
ultrapassado, o ensino gnóstico persiste na igreja de hoje de variadas
maneiras. A partir de sua larga experiência pastoral, ele pode afirmar:
Os cristãos evangélicos caem frequentemente na armadilha de
afirmar que o Espírito de Deus os leva a fazer coisas que são
notoriamente contrárias à palavra de Deus escrita. Já estive com
cristãos que me procuraram e relataram padrões de comportamento
que violam os mandamentos de Cristo, mas depois, eles diziam: „Eu
oro sobre este assunto e me sinto em paz a respeito dele‟. Alguns
têm cometido afronta contra o Espírito da verdade e santidade por,
não somente procurarem justificar suas transgressões por apelarem a
algum sentimento místico de paz, dado supostamente pelo Espírito
Santo, mas também por lançarem sobre o Espírito Santo a culpa pelo
impulso de seu pecado175.
3.2) O generalismo.
175
Ibdem.
176
Ibdem.
177
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 37
algumas circunstâncias ela pode ser quebrada, sobretudo se considerar-se os
benéficos resultados obtidos com a mentira.
Vê-se que, por essa perspectiva, “não mentir” e “falar a verdade” não
são normas absolutas, exigidas de todas as pessoas em todo o tempo e
circunstâncias. Na verdade, para a maioria dos generalistas, não existem
regras universais, no sentido de que escapem à excepcionalidade. Geralmente,
mentir é errado, pelo menos é isso que se pode deduzir das experiências
acumuladas pela humanidade. Mas, há situações em que a atitude correta a
seguir é a mentira, se ela for mais útil para ajudar mais a maioria das pessoas.
Assim, Sifrá, Puá e Raabe realizaram a atitude correta em mentir, visando aos
respectivos propósitos nobres.
178
Ibdem. p. 75
179
Ibdem. p. 41, 42
180
Ibdem. p. 48, 49
modo preservar segredos de guerra), mentir, adulterar, abortar, prostituir-se,
desde que tudo seja feito amorosamente.
181
Ibdem. p. 59
sem revogá-la. O amor de Cristo é um amor ético com conteúdo ético, como o
foi também para Paulo (Mt 22:37, 39; Rm 13:8, 10). O amor situacional
desculpa o pecado; o amor cristão o proíbe.
182
Ibdem. p. 83
183
Ibdem. p. 78
Charles Hodge também sugere limitações quanto ao sentido do que
se pode entender por mentira. Para ele, “um engano intencional se define como
mentira se, e somente se, for praticado em um contexto no qual se espera a
verdade. Como ninguém espera que um espião diga a verdade, entende-se
que a „mentira‟, na espionagem, não é realmente uma mentira” 184.
184
Ibdem. p. 91
185
Ibdem. p. 98
186
Ibdem. p. 99
Quando surgem conflitos, segundo Thielicke, nós devemos escolher
o menor dos males, “porque existem pecados mais pesados e pecados mais
leves”. Mas, nem por isso, deixamos de ser culpados por havermos cometido o
pecado mais leve. A mentira não deixa de ser mentira e se converte em
verdade por termos mentido para salvar uma vida, nem tampouco é justificada
pela obediência ao mandamento conflitante. O que precisamos fazer é
reconhecer que em situações de conflito o pecado é inevitável, que devemos
escolher praticar o menor dos males e, em seguida, pedir perdão a Deus pelo
mal (menor) que praticamos.
Que Deus não inocenta o culpado (Ex 34:7; Na 1:3), é fato inerente
à santidade do Seu ser. “Pois tu não és um Deus que se agrade com a
iniquidade, e contigo não subsiste o mal... Tu destróis os que proferem mentira”
(Sl 5:4, 6a). Melhor é compreender com Agostinho que o que há de louvável
nas ações de Puá, Sifrá e Raabe é a fé e a misericórdia, e não as mentiras,
que de modo algum foram ignoradas. Cristo morreu pelas mentiras dessas
mulheres!
5. Ética conglobante: uma proposta.
187
SPROUL, R. C. Como Devo Viver Neste Mundo? São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012. p. 24
De modo semelhante, devemos enfatizar com os absolutistas
graduados que há uma gradação entre os mandamentos de Deus. Jesus
mencionou “mandamentos menores” (Mt 5:19) e “preceitos mais importantes da
lei” (Mt 23:23). Ao responder a pergunta do intérprete da lei sobre qual é o
maior mandamento, o Senhor não respondeu que todos têm igual peso, mas
que um é “o grande e primeiro mandamento” e o outro é o “segundo” (Mt 22:35-
39). Isso nos leva a concluir que amar a Deus é um mandamento maior que a
ordem de amar o próximo. Ademais, podemos ainda conceber que a
preservação da vida humana e a piedade são valores maiores que o
cumprimento de regras cerimoniais e civis, quando então vigentes (Mt 9:13; Lc
10:30-37; Mq 6:6-8; Mt 23:23).
O mal não deixa de ser mal, ainda que praticado para evitar-se um
mal ainda maior. A transgressão do menor mandamento tem peso (Mt 5:19),
ainda que realizada para evitar-se a transgressão de um mandamento mais
elevado. Se isso é verdade, é difícil entender como pecados reais podem ser
simplesmente isentos de sanção. E mais. Por mais vantajosa que seja a
distinção entre “exceção” e “isenção”, ela não consegue eliminar a relativização
dos absolutos quando propõe imunidades e suspensões de culpabilidade.
188
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 111
189
Ibdem.
Cristo é nosso modelo absoluto;
Cristo viveu dilemas morais (ou, no mínimo, poderia tê-los
vivido);
Cristo não pecou, como afirma a Escritura;
Conclusão: a prática do mal menor não é imputada como
culpa.
Analisemo-los, um a um:
Por outro lado, pelo menos a concluir dos exemplos apontados por
Geisler, pouco ou nada subsiste, após uma séria apreciação, que possa indicar
que Cristo viveu dilemas morais reais. Geisler ver dilemas morais nas
experiências de Cristo entre obedecer Seus pais terrenos e Seu Pai celeste (Lc
2:41-52). Afirma que Cristo “aprovou” o “roubo” cometido por Davi (Mt 12:3, 4).
Citou Lc 14:1-6 como exemplo de que Jesus enfrentou várias vezes o conflito
entre a obediência às autoridades e o dever de agir com misericórdia. Para
190
EDWARDS, Jonathan. A Busca da Santidade: A obra clássica sobre o que Deus requer de nós nesse
processo. São Paulo: Cultura Cristã, 2010. pp. 29, 30
Geisler, Cristo violou a lei do sábado ao permitir que Seus discípulos
colhessem espigas (Lc 6:1-5).
Em terceiro lugar, Cristo de fato não pecou. Mas isso apenas prova
que Ele não viveu conflitos éticos reais, e não que seja possível enfrentá-los
sem pecado punível e culpável.
191
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 110
192
Ibdem.
pecados ao Cristo sem pecado nem na imputação da justiça de Cristo a
pecadores (II Co 5:21).
Há, de fato, justas razões pelas quais o Cristo sem pecado morreu
como pecador e os pecadores são considerados justos, como nos pode
explicar Charles Hodge, a propósito de II Co 5:21:
Nossos pecados foram imputados a Cristo, e a sua justiça é imputada
a nós. Ele carregou os nossos pecados; nós estamos revestidos com
a sua justiça. (...) o fato de Cristo carregar os nossos pecados não fez
dele um pecador no sentido moral (...) nem o fato da justiça de Cristo
se tornar nossa de maneira subjetiva faz dela a qualidade moral das
nossas almas. (...) Nossos pecados foram o fundamento judicial dos
sofrimentos de Cristo, a fim de que eles fossem um cumprimento da
justiça; e a justiça dele é o fundamento judicial da nossa aceitação
diante de Deus, a fim de que o nosso perdão seja um ato de justiça.
(...) Não é mero perdão, mas somente a justificação, que nos
concede paz com Deus (com grifos meus)193.
Pois Deus não está dividido, por mais que se nos pareça que sim. Ele
é “Deus de paz”, de tranquilidade interior, não de agitação. É verdade
que achamos difícil conter em nossa mente, simultaneamente as
imagens de Deus como Juiz que deve punir os malfeitores e como
Amante que deve encontrar um modo de perdoá-los. Contudo, ele é
ambos, ao mesmo tempo. Nas palavras de G. C. Berkouwer: “na cruz
de Cristo a justiça e o amor de Deus são revelados
simultaneamente”, enquanto Calvino, fazendo eco a Agostinho, foi um
pouco mais audaz. Ele escreveu que Deus “de um modo divino e
maravilhoso nos amou mesmo quando nos odiava”195.
Vê-se, por todo o exposto, que não há conflito ético na cruz! A cruz,
ao contrário, é a revelação mais contundente do modo como as perfeições
divinas são perfeitamente harmônicas entre si. A cruz não é uma injustiça, não
é a vitória da misericórdia sobre a justiça, mas a demonstração “simultânea”
tanto do amor como da justiça de Deus.
193
PIPER, John. Justificados em Cristo: Devemos Abandonar a Imputação da Justiça de Cristo? Niterói,
RJ: Tempo de Colheita, 2011. p. 74
194
STTOT, John. A Cruz de Cristo. São Paulo: Editora Vida, 1992. p. 118
195
Ibdem.
Portanto, repito, chegamos à conclusão que a cruz do Salvador em
nada nega a existência de situações reais em que o melhor que se pode fazer
é pecar o pecado menor e buscar o perdão de Deus. Mas, frise-se, essa é
hipótese aplicável somente diante de conflitos éticos reais. Perante os tantos
conflitos fabricados, o remédio é a verificação do âmbito de incidência do
mandamento, conforme delineado pela Escritura, o que temos denominado
ética conglobante.
10. Introdução à Segunda Tábua
1. A unidade da Lei.
196
EDWARDS, Jonathan. Caridade e Seus Frutos: Um Estudo Sobre o Amor em 1 Coríntios 13. São José
dos Campos, SP: FIEL, 2015. pp. 24-26
Por todo o exposto, tanto é verdade que não é possível quebrar um
único mandamento sem quebrar toda a Lei (a primeira e a segunda tábuas),
como não é possível tornar-se um cumpridor da Lei sem a observância de
todos os seus mandamentos (da primeira e da segunda tábuas), cuja síntese é
o amor, a Deus e aos homens. Eis, portanto, as provas cabais da unidade da
Lei de Deus!
A “regra de ouro” como dita pelo Senhor Jesus é uma outra fórmula
através da qual Ele sintetizou a segunda tábua da Lei e todos os demais
mandamentos de Deus concernentes aos nossos deveres para com o próximo.
Eis o seu teor: “Tudo quanto, pois, quereis que os homens vos façam, assim
fazei-o vós também a eles; porque esta é a Lei e os Profetas” (Mt 7:12; Lc
6:31).
197
ADAMS, Jay E. Autoestima: Uma perspectiva Bíblica. São Paulo: ABCB – Associação Brasileira de
Conselheiros Bíblicos, 2007. p. 79
198
GEERHARDUS VOS, Johannes, Catecismo Maior de Westminster Comentado, p. 395
que o próximo agisse para com ela. Assim, uma cobiça adúltera gostaria de ser
correspondida na mesma exata proporção, por exemplo.
199
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de Lucas. São José dos Campos, SP: FIEL, 2013. p. 92, 93
11. Honra Teu Pai e Tua Mãe
1. O significado.
“Honra teu pai e tua mãe, para que se prolonguem os teus dias na terra que o
SENHOR, teu Deus, te dá” (Ex 20:12)
200
É oportuno anotar a observação de Donald A. Hagner, segundo a qual a frase “Pai dos espíritos” se
assemelha à expressão “Deus dos espíritos de todos os viventes”, de Nm 16:22, 27. A. HAGNER, Donald.
Novo Comentário Bíblico Contemporâneo: Hebreus. São Paulo: Editora Vida, 1997. p. 248
família, tanto no céu como sobre a terra”. Para Paulo, toda a noção de
paternidade emana de Deus. É nesse sentido a interpretação de John Stott à
passagem supra. Ouçamo-lo:
201
R. W. STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 1991. p. 95
202
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 380
tenham esse conceito mesmo que os pais sejam gente humilde,
pobre, frágil e esquisita; apesar de tudo, são pai e mãe dados por
Deus. Sua conduta ou deficiência não tira deles a respeitabilidade
(...)203.
1. No Antigo Testamento.
203
LUTERO, Martim. Catecismo Maior. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012. p. 43
O desprezo é uma forma mais velada de rebelião, que pode, em
seguida, assumir uma atitude de zombaria ou escarnecimento (Pv 30:17),
quando passa-se a ridicularizar a autoridade daquele que é superior. Parece ter
sido um olhar desdenhosamente jocoso lançado por Cam sobre a nudez de
Noé que o fez digno da maldição, que, ainda não satisfeito, divulgou a conduta
vergonhosa do pai aos irmãos (Gn 9:21, 22). Na ocasião, como as maldições e
bênçãos eram dirigidas aos descendentes de Cam, Sem e Jafé, não
estranhamos em ver que Canaã, filho de Cam, é que recebeu a maldição.
204
GEERHARDUS VOS, Johannes. Catecismo Maior de Westminster Comentado. São Paulo: Editora Os
Puritanos, 2007. p. 404
conflitos intergeracionais, nas várias formas de violência física e emocional e
nas negligências de cuidados”205.
2. No Novo Testamento.
O apóstolo Paulo, de seu turno, assevera que “se alguém não tem
cuidado dos seus e especialmente dos da própria casa, tem negado a fé e é
pior do que o descrente” (I Tm 5:8).
205
CECÍLIA DE SOUZA MINAYO, Maria. Violência Contra Idosos: O Avesso de Respeito à Experiência e à
Sabedoria. Acesso em 11/02/2016:
http://www.observatorionacionaldoidoso.fiocruz.br/biblioteca/_livros/18.pdf.
É hora de nos certificarmos das ordens positivas que emanam do
quinto mandamento. Se não, vejamos.
Esse fato, por si só, já nos indicaria que uma obediência apenas
superficial, “mecânica” e “com má vontade”, nas palavras de Martyn lloyd-
Jones, não se coaduna com a compreensão cristã do mandamento em análise.
Muito ao contrário, concluiu o ministro congregacional, “Os filhos devem
reverenciar e respeitar seus pais, devem dar-se conta da situação que
prevalece entre eles, e devem alegrar-se com isso. Devem considerá-lo um
grande privilégio e, portanto, devem esforçar-se para mostrar essa reverência,
este respeito em todas as suas ações”208.
206
NICODEMUS LOPES, Augustus; SCHALKWIJK LOPES, Minka. A Bíblia e a Sua Família: Exposições
Bíblicas sobre o Casamento, Família e Filhos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. p. 130
207
R. W. STOTT, John. A Mensagem de Efésios. São Paulo: ABU Editora, 1991. p. 183
208
LLOYD-JONES, D. M. Vida no Espírito: no Casamento, no Lar e no Trabalho. São Paulo: PES, 1991. p.
190
entretanto, produz fruto pacífico aos que têm sido por ela exercitados, fruto de
justiça” (Hb 12:11b). Assim haveremos de nos submeter aos nossos pais e
superiores porque Deus nos tem aperfeiçoado por meio deles.
209
CALVINO, João. A Instituição da Religião Cristã. Tomo 1. Livros I e II. São Paulo: Editora UNESP, 2008.
p. 380
210
LUTERO, Martim. Catecismo Maior. São Leopoldo: Sinodal; Porto Alegre: Concórdia, 2012. p. 46
cãs (Pv 20:29). Entretanto, por outro lado, “Coroa de honra são as cãs, quando
se acham no caminho da justiça” (Pv 16:31, com grifo meu). Por isso, espera-
se dos idosos sabedoria, postura respeitável, sobriedade e disposição ao
ensino (Tt 2:2-5).
211
NICODEMUS LOPES, Augustus; SCHALKWIJK LOPES, Minka. A Bíblia e a Sua Família: Exposições
Bíblicas sobre o Casamento, Família e Filhos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2001. p. 138
212
CALVINO, João. Efésios. São Bernardo do Campo, SP: Edições Paracletos, 1998. p. 180, 181
exata de ser pai para ter êxito na vida”, “por negligência” e “pelo uso de
palavras ásperas e por crueldade”213. John Gill, citado por Augustus Nicodemus
Lopes e Minka Schalkwijk, a propósito de Ef 6:4, listou diversas formas pelas
quais podemos incorrer no erro em análise:
213
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Efésios e Filipenses. São Paulo: Cultura
Cristã, 2005. p. 311
214
Ibdem. p. 141
215
MARIA BRAYNER IENCARELLI, Ana. Abuso sexual: Uma Tatuagem na Alma de Meninos e Meninas. São
Paulo: Zagodoni, 2013. p. 21
216
No Brasil, o crime de “Estupro de Vulnerável” (Art. 217-A do Código Penal) – a prática de “Ter
conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com menor de 14 (catorze) anos” – é punido com pena
privativa de liberdade de reclusão, de 8 a 15 anos. É considerado um crime hediondo, para efeito de
aplicação dos dispositivos mais gravosos da Lei 8.072/90 (que dispõe sobre os crimes hediondos).
217
Ibdem. p. 23, 24
si próprio, e sim no filho. O bem do filho deve ser o seu motivo
dominante. Você deve ter um conceito correto da paternidade e
considerar o filho como uma vida que Deus lhe deu (...)218.
218
LLOYD-JONES, D. M. Vida no Espírito: no Casamento, no Lar e no Trabalho. São Paulo: PES, 1991. p.
225
219
CALVINO, João. Efésios. São Bernardo do Campo, SP: Edições Paracletos, 1998. p. 181
220
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 293
221
GRUDEM, Wayne. Política Segundo a Bíblia: Princípios que Todo Cristão Deve Conhecer. São Paulo:
Vida Nova, 2014. p. 110, 111
De fato, Grudem acentua que “Quando não há governante, pessoas
pecadoras criam sua própria moralidade e, em pouco tempo, começam a fazer
umas às outras coisas terríveis”222. No entanto, embora admitindo que o
pecado avulte a necessita de um governo civil, ele também infere que mesmo
que não houvesse mal no mundo tal necessidade não seria eliminada 223. É
que, pontua, uma de suas responsabilidades é promover o bem comum da
sociedade, por meio de atividades tais como “construção e regulamentação de
estradas, a instituição de pesos e medidas padronizados, a manutenção dos
registros públicos, a instituição de leis para a segurança (...), a padronização da
energia elétrica e a definição de uma moeda a ser usada para transações
dentro de determinado país” 224.
222
Ibdem.
223
Nas palavras de Leonardo Ramos e Lucas G. Freire, para Abraham Kuyper, “se não houvesse pecado,
não seriam necessários nem as autoridades civis nem a ordem do Estado”. Ramos e Freire ainda anotam
em nota de rodapé que “Kuyper chega inclusive a afirmar que, na ausência do pecado, a vida política
teria se desenvolvido nos moldes de um modelo patriarcal de vida familiar, com a humanidade
associada a um império. Certamente seria uma forma de organizar ‘a complexidade da vida cultural
criada’, e não de punir ofensores”. DOOYEWEERD, Herman. Estado e Soberania: Ensaios Sobre
Cristianismo e Política. São Paulo: Vida Nova, 2014. p. 20
Conforme entendo, não há diferença substancial entre Kuyper e Grudem, quanto ao tema. Ambos estão
dispostos a admitir que o pecado tornou necessário apenas o uso do poder da espada.
224
Ibdem. p. 116, 117
225
Ibdem. p. 114, 115
Quando a autoridade teme a Deus, espera-se dela, ademais, que
abençoe seus governados-administrados-jurisdicionados, orando por eles,
como fizeram Samuel (I Sm 12:23) e Salomão (I Rs 8:54-61).
226
DOOYEWEERD, Herman. Estado e Soberania: Ensaios Sobre Cristianismo e Política. São Paulo: Vida
Nova, 2014. p. 20
227
Ibdem. p. 21
228
SANTANA, Uziel (org.) et al. Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global: Uma
Compreensão Cristã dos Fins dos Tempos. Campina Grande, PB: Visão Cristocêntrica Publicações, 2012.
p. 147
implantado)229. Essa persistente simpatia para com o comunismo, para Braga,
se deve à sua aparente nobreza e ao “parasitismo” em relação aos temas
centrais da teologia cristã, embora os deformando: “a criação divina é
substituída pela matéria autônoma; o pecado original, pela propriedade privada;
a salvação em Cristo, pela revolução socialista” 230, tudo em nome do “amor”.
229
Na estimativa do historiador russo Roy Medvedev, o ditador comunista Stálin exterminou 17 milhões
de pessoas por fome, expurgos sangrentos e em consequência do brutal programa de coletivização
agrícola, segundo Reifler. REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida
Nova, 1992. p. 111
230
SANTANA, Uziel (org.) et al. Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global: Uma
Compreensão Cristã dos Fins dos Tempos. Campina Grande, PB: Visão Cristocêntrica Publicações, 2012.
p. 144, 145
que Marx já havia intuído no sentido de que o ideal socialista só haveria de ser
implantado através da destruição do cristianismo difundido no tecido social. É
aqui que se origina o denominado “comunismo cultural”.
231
SANTANA, Uziel (org.) et al. Apostasia, Nova Ordem Mundial e Governança Global: Uma
Compreensão Cristã dos Fins dos Tempos. Campina Grande, PB: Visão Cristocêntrica Publicações, 2012.
p. 167
12. Não Matarás
1. O significado.
232
COLE, R. Alan. Êxodo: Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1990. p. 153
Filipos estava para fazer contra a própria vida. Semelhantemente, como já
ressaltado nas linhas introdutórias, o “não matarás” impede-nos que tiremos a
vida de outrem, a qualquer título (cf. Rm 12:19), exceto em caso de legítima
defesa (Ex 22:2). Isso inclui a proibição dos crimes de aborto, infanticídio,
homicídio e feminicídio.
A nossa vida não é nossa, mas pertence a Deus e por isso como
despenseiros das propriedades de Deus temos a obrigação de
preservar a nossa própria vida, e a dos outros, da destruição pela
violência criminosa. (...). Alegar que a “regra de ouro”, ou que a
obrigação de amar nosso próximo, significa que seja errado matar
como esforço de autodefesa é empurrar o amor ao próximo para um
extremo absurdo e fanático. A Escritura ordena que se ame o próximo
como a si mesmo, isto é, o amor ao próximo deve estar em equilíbrio
com o amor apropriado a si mesmo. Quem se deixa matar por um
criminoso, sem tentar se defender, ama demais o seu próximo e não
ama a si mesmo o suficiente233.
234
W. R. STOTT, John. O Discípulo Radical. Viçosa, MG: Ultimato, 2011. p. 44-50
Juntas, essas dificuldades ecológicas sinalizam que devemos, como
nunca antes, cuidar dos recursos naturais esgotáveis, inclusive com o olhar
sobre as gerações vindouras. Eis o comando do sexto mandamento para uma
geração que sabe muito mais sobre o futuro próximo do seu planeta: cuidem
dos recursos naturais para a preservação da vida das futuras gerações.
4. O aborto.
235
ANKERBERG, John ;WELDON, John. Os Fatos Sobre o Aborto: Respostas da Ciência e da Bíblia Sobre
Quando Começa a Vida. Porto Alegre, RS: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1997. p. 53
236
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 171
Estas percepções nos obrigam a concluir que o nascituro é
considerado portador do mesmo status da mãe, posto que merecedor da
mesma proteção que a pessoa adulta (cf. Gn 9:6).
237
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 149
cuidava dele quando ele era ainda uma substância informe, isto é, quando ele
estava no ventre da mãe em seu estágio ainda embrionário, nas primeiras
quatro ou cinco semanas de vida.
238
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 150
(Hb 2:14). “Por isso mesmo, convinha que, em todas as coisas, se tornasse
semelhante aos irmãos...” (Hb 2:17).
239
Arts. 342 a 345 do Código Penal chileno.
240
Arts. 133 a 137 do Código Penal salvadorenho.
241
Art. 404 do Código Penal afegão.
242
NAMBA, Edison Tetsuzo. Manual de Bioética e Biodireito. São Paulo: Editora Atlas, 2015. p. 48
promove de maneira poderosa o tráfico de mulheres e a escravidão sexual” em
todo o sudeste da Ásia243.
243
Aborto: Política do Filho Único na China é “Verdadeira Guerra Contra as Mulheres”. Acesso em 14 de
abril de 2016: http://www.acidigital.com/noticias/aborto-politica-do-filho-unico-na-china-e-verdadeira-
guerra-contra-as-mulheres-73197/.
antes do nascimento com vida. Para avaliar o interesse do Estado, é
bastante reconhecer a reivindicação, menos rigorosa, de que estando
comprometida vida em potencial o Estado pode defender interesses
além da simples proteção à gestante...244
244
ORR, Robert D.; SCHIEDERMAYER, David L.; BIEBEL, David B. Decisões de Vida e Morte. Rio de Janeiro:
JUERP, 1994. p. 57, 58
245
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 144
descriminalização da conduta, qual seja, quando o feto é anencefálico.
Anencefalia é uma má formação decorrente de fatores genéticos e ambientais
consistente de ausência total ou parcial de partes do cérebro. A Arguição de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 54 pôs fim à celeuma e
considerou legal o aborto fundado na anencefalia.
246
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 132
247
NAMBA, Edison Tetsuzo. Manual de Bioética e Biodireito. São Paulo: Editora Atlas, 2015. p. 49, 50
248
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 175
Nathanson, que foi considerado “o rei do aborto”, por haver supervisionado
mais de 60.000 abortos, renunciou em 1973 o cargo de diretor do Centro de
Saúde Sexual e Procriação, nos EUA, a primeira e, na ocasião, a maior clínica
de aborto do hemisfério ocidental. Sua decisão foi tomada porque passou a
sentir-se pesaroso por haver concluído que de fato supervisionou a morte de
“60.000 pessoas”. Suas conclusões resultaram de observações estritamente
científicas, como explicou:
249
ORR, Robert D.; SCHIEDERMAYER, David L.; BIEBEL, David B. Decisões de Vida e Morte. Rio de Janeiro:
JUERP, 1994. p. 51
250
ANKERBERG, John ;WELDON, John. Os Fatos Sobre o Aborto: Respostas da Ciência e da Bíblia Sobre
Quando Começa a Vida. Porto Alegre, RS: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1997. p. 18, 19
251
Ibdem. p. 13
252
L. GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010.
p. 175
Agora nós podemos dizer, de modo inequívoco, que a questão acerca
de quando a vida começa deixa de ser algo disputado nos campos da
filosofia e da teologia. Isso porque se trata de um fato científico
estabelecido. Teólogos e filósofos podem prosseguir debatendo sobre
o significado da vida ou sobre o propósito dela, mas é um fato
estabelecido que toda a vida, incluindo a vida humana, começa no
momento da concepção253.
254
ANKERBERG, John ;WELDON, John. Os Fatos Sobre o Aborto: Respostas da Ciência e da Bíblia Sobre
Quando Começa a Vida. Porto Alegre, RS: Obra Missionária Chamada da Meia Noite, 1997. p. 21
255
VERBAN, Cícero de Andrade (Org.). Bioética Clínica. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2003. p. 116
aumento desenfreado da prole? Na mesma toada, o que está em jogo nessa
colocação absurda é que a vida intrauterina não é humana, porque ninguém
propõe, aberta e seriamente, que matemos os pobres para que suas famílias
passem a ter menos encargos financeiros.
5. A fertilização in vitro.
256
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 158
257
SGRECCIA, Elio. Manuel de Bioética I: Fundamentos e ética Biomédica. São Paulo: Edições Loyola,
2002. p. 399
às técnicas, podemos resumidamente classificá-las em fecundação artificial
intracorpórea (com a transferência de esperma anteriormente colhido para as
vias genitais) e extracorpórea, também chamada “fecundação in vitro” (FIVET –
fecundação in vitro com embryo-transfer), podendo ambas ser do tipo
homóloga ou heteróloga.
258
SGRECCIA, Elio. Manuel de Bioética I: Fundamentos e ética Biomédica. São Paulo: Edições Loyola,
2002. p. 422
259
Ibdem. p. 439, 440
5.1) O problema ético colocado. Entretanto, o dilema ético vai
além - e esse é o ponto específico a nos ocupar nesse tópico: há violação do
“não matarás” no uso ou no descarte de embriões humanos que não se lhes
conferem a possibilidade de nidar para o útero materno? Impedir sua
implantação para que vivam ou por qualquer meio ou para qualquer finalidade
obstaculizar seu desenvolvimento é afrontar o sexto mandamento? Tais
perguntas são pertinentíssimas, porque a partir da fecundação in vitro nasceu a
possibilidade (ou mesmo necessidade) de produção de embriões humanos em
proveta numa escala maior do que a que seria destinada à transferência para o
útero materno. É dizer, surgiu da técnica ora avaliada uma “legião” de embriões
humanos cujo destino ganharia sorte diversa da proposta que originalmente
justificou seu empreendimento – remediar a infertilidade do casal.
260
Ibdem. p. 427
261
VERBAN, Cícero de Andrade (Org.). Bioética Clínica. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2003. p. 132
Questão não menos tormentosa diz respeito à experimentação em
pesquisas e manipulação de embriões humanos destinados a ser matéria-
prima de células-tronco. O processo de formação de células-tronco dá-se, em
síntese, através dos seguintes passos: a) produz-se embriões humanos por
fecundação in vitro; b) estimula-se seu desenvolvimento até o estágio de
blastocisto (com 4 a 5 dias de fecundação); c) retira-se, por meio de
imunocirurgia, a chamada massa celular interna, composta das células do
embrioblasto, com a necessária consequência da destruição do embrião; d)
essas células são colocadas repetidamente em cultura até à formação de
células capazes de se renovarem indefinidamente e de produzir quaisquer tipos
de células adultas, são as células-tronco embrionárias, ou células pluripotentes.
Em uma fase posterior a cinco dias, o embrião já apresenta estruturas mais
complexas como coração e sistema nervoso em desenvolvimento, significando
que suas células já se especializaram e já não podem ser consideradas
células-tronco. Resumo da ópera: embriões humanos congelados são objeto
de manipulação e descarte para o fim de alcançar-se as células pluripotentes,
as células-tronco.
262
VERBAN, Cícero de Andrade (Org.). Bioética Clínica. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2003. p. 131
No Brasil, o tema é regulamentado pela Lei 11.105, sancionada pelo
Presidente da República em 24 de março de 2005, que disciplinou os incisos II,
IV e V do § 1º do art. 225 da Constituição Federal, estabelecendo, dentre
outras disposições, “normas de segurança e mecanismos de fiscalização de
atividades que envolvam organismos geneticamente modificados”, além de
dispor sobre a Política Nacional de Biossegurança, a PNB.
263
STJ, REsp 399.028/SP. Isso porque embora o nascituro tenha direitos da personalidade, só terá
direitos patrimoniais após nascimento com vida.
partes do corpo humano para fins de transplante e tratamento e dá outras
providências264.
264
Art. 15. Comprar ou vender tecidos, órgãos ou partes do corpo humano: Pena - reclusão, de três a
oito anos, e multa, de 200 a 360 dias-multa. Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem promove,
intermedeia, facilita ou aufere qualquer vantagem com a transação.
265
A própria Lei conceituou “engenharia genética” como sendo a “atividade de produção e manipulação
de moléculas de ADN/ARN recombinante” (art. 3º, IV).
266
Informativo 508. http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo508.htm#ADI e
Lei da Biossegurança – 6. Acesso em: 28/04/2016.
se ponha em perigo a sua vida; (3) que qualquer tratamento seja
vantajoso para ele267.
267
VERBAN, Cícero de Andrade (Org.). Bioética Clínica. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2003. p. 135
268
SGRECCIA, Elio. Manuel de Bioética I: Fundamentos e ética Biomédica. São Paulo: Edições Loyola,
2002. p. 442, 443
Deus, nós respondemos como Ana: “O SENHOR é o que tira a vida e a dá” (I
Sm 2:6); e como Jó: “o SENHOR o deu e o SENHOR o tomou; bendito seja o
nome do SENHOR” (Jó 1:21).
6. O suicídio.
269
Brasil é o 8º país com mais suicídios no mundo, aponta relatório da OMS.
http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2014/09/brasil-e-o-8-pais-com-mais-suicidios-no-mundo-
aponta-relatorio-da-oms.html. Acesso em: 05/05/2016.
270
DIAS LOPES, Hernandes. Suicídio: Causas, Mitos e Preservação. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 32, 33
autopreservação é tal que somente um estado mórbido pode embotá-lo. Para a
escola sociológica, o suicídio é um fenômeno social e sua causa está
relacionada com a falta de integração na sociedade. Para o francês Émile
Durkheim, considerado o pai da sociologia, há três tipos de suicídio: o egoísta,
que é resultado da desintegração dos laços sociais; o altruísta, praticado nos
interesses da sociedade; e o anômico - o sem lei -, relacionado a
desorientações e a choques, que ocorrem, por exemplo, na descoberta de uma
doença ou ante a ocorrência de falência 271.
271
DIAS LOPES, Hernandes. Suicídio: Causas, Mitos e Preservação. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 56
272
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos Dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 122
convulsiona, lançando-o no chão, e por diversas vezes jogou o menino na água
e no fogo para matá-lo.
273
RIENECKER, Fritz; ROGERS, Cleon. Chave Linguísica do Novo Testamento Grego. São Paulo: Vida Nova,
1995. p. 8
274
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. Volume 1. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001. p. 351
275
CARSON, D. A. O Comentário de Mateus. São Paulo: Shedd Publicações, 2010. p. 153
determinar-se de acordo com esse discernimento, caso em que não haveria
responsabilidade moral pelo fato276.
276
Assim como não há crime quando o fato típico, isto é, previsto em lei penal, é praticado por
inimputável em decorrência de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado,
consoante dispõe o art. 28 do Código Penal brasileiro.
277
DIAS LOPES, Hernandes. Suicídio: Causas, Mitos e Preservação. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 40
278
CRAIG, William Lane Creig. Em Guarda: Defenda a Fé Cristã com Razão e Precisão. São Paulo: Vida
Nova, 2001. p. 34, 46
279
Ibdem. p. 43, 44
evangelho vazio e os ateus têm razão em nos considerar as pessoas mais
iludidas e enganadas, que não merecem nada além de piedade. David Prior, a
propósito, contou-nos o caso de “Certa senhora idosa, que frequentava a
igreja”, que, ao ouvir “um desses céticos modernos falar no rádio que tudo em
que havia crido até então, por intermédio do cristianismo ortodoxo, era indigno
de confiança, se não uma mentira”, cometeu suicídio 280.
280
PRIOR, David. A Mensagem de 1 Coríntios. São Paulo: ABU Editora, 1993. p. 284
281
POLLMANN, Leo. O que contém realmente o Alcorão? São Paulo: Edições Loyola, 2013. p. 175
282
Richard Bauckhan e Trevor Hart contam a história de Helmut Thielicke, um homem que foi mantido
muito tempo pelo nacional socialismo nazista na solitária, onde suportou torturas constantes. Duas
semanas depois de solto, Thielicke foi encontrado morto por enforcamento. Ele havia se suicidado no
sótão de sua casa. Muitos perguntaram sobre a razão do suicídio de homem tão destemido, mas os que
lhe conheciam de perto sabiam que seu suicídio foi uma reação por ele haver descoberto que havia sido
entregue à polícia nazista pelo próprio filho. A partir dessa história, os autores escreveram: “A traição,
que em sua essência acarreta o sofrimento de ser entregue ao perigo ou ao desconforto por uma pessoa
livrar-se de grandes sofrimentos, a descoberta de uma doença incurável,
graves pecados morais, etc.
amada ou de confiança, causa uma dor que ultrapassa a dor física, não importa a intensidade”.
BAUCKHAN, Richard; HART, Trevor. Ao Pé da Cruz: Reflexões sobre Homens e Mulheres que Viram a
Crucificação. São Paulo: Mundo Cristão, 2000. p. 25
283
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. Salvador-BA: Editora JusPodivm,
2015. p. 68
284
DIAS LOPES, Hernandes. Suicídio: Causas, Mitos e Preservação. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 44
devendo o médico necessariamente intervir, pois está na posição de
garantidor285.
Elias foi o profeta que enfrentou o rei Acabe e sua terrível esposa,
Jezabel, e os profetas de Baal. Ele foi alimentado por corvos e pela viúva de
Sarepta, a mãe do jovem que ele ressuscitou. Foi Elias que disse a Acabe que
não choveria por três anos, e não choveu; e posteriormente disse que choveria,
e choveu. Quando orou, desceu fogo do céu no altar do monte Carmelo. Mas
quando recebeu a notícia de ameaças de morte da rainha Jezabel, foi ao
deserto, se assentou debaixo de um zimbro “e pediu para si a morte e disse:
Basta; toma agora, ó SENHOR, a minha alma, pois não sou melhor do que
meus pais” (I Rs 19:4). Mais uma vez, o que temos aqui, senão o desejo de
livrar-se de um tempo de adversidades? Fato é que se Deus lhe tivesse
atendido ao pedido, ele não teria ungido o profeta que lhe substituiria nem o rei
que sucederia Acabe, tampouco seria levado para o céu como foi, sem a
experiência da morte (II Rs 2:11).
285
CUNHA, Rogério Sanches. Manual de Direito Penal: Parte Especial. Salvador-BA: Editora JusPodivm,
2015. p. 77
no tempo em que reinava Jeroboão II, foi plenamente cumprida. Tendo sido
enviado a pregar aos ninivitas, Jonas tomou direção diametralmente oposta.
Após ser lançado ao mar e retomado o curso que deveria ter originalmente
seguido, prega aos ninivitas, estes se arrependem e Deus deixa de puni-los
naquele momento. Jonas desgostou-se com a decisão do Senhor ao ponto de
ficar irado e de fazer a seguinte oração: “Ah! SENHOR! Não foi isso o que eu
disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para
Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se,
e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço, pois, ó SENHOR,
tira-me a vida, porque melhor me é viver do que morrer” (Jn 4:2, 3). Jonas
estava inconformado porque Deus não agia segundo seus planos, tampouco as
ações de Deus pareciam encaixar-se na lógica egoísta do profeta.
Saul foi o primeiro rei de Israel. A batalha que pôs fim à sua vida e
dinastia ocorreu com os filisteus no monte Gilboa, onde morreram também
seus filhos Jônatas, Abinadabe e Malquisua. Se reunirmos os relatos de I Sm
31:1-6 e II Sm 1:6-10, parecer-nos-á que Saul temeu estar vivo nas mãos dos
inimigos como objeto de tortura e escárnio e, tendo seu escudeiro se negado a
atender seu pedido para que o matasse, o próprio rei lançou-se sobre sua
espada, mas não morreu até ser encontrado pelo amalequita que o matou e
levou a notícia a Davi. Se o amalequita falou a verdade (o que não se pode
afirmar convictamente), Saul tentou suicidar-se, mas foi morto pela ação
daquele. Quando o escudeiro de Saul viu que Saul atentou contra a própria, fez
o mesmo (I Sm 31:5; I Cr 10:4, 5).
Mais que isso, na base de todo suicídio há, como antes indicamos,
os gérmens do egoísmo e do orgulho. O suicida não cogita que será
encontrado pendurado numa corda por pessoas que muito lhe amam, nem
como permanecerão essas pessoas em sua ausência. Naquele momento, tudo
o que importa é a sua própria vida, em como se livrará das agruras de
existência. Na verdade, o suicida não é a pessoa que menos ama a si mesma.
Pelo contrário, ele se ama tanto que acha que Deus - ou o destino ou o acaso
ou a existência – não está lhe ofertando a vida como deveria ou que ele
mereceria receber. Assim, ou a vida torna-se como ele acha que ela deveria
ser ou ele se autodestruirá. Portanto, o suicídio é um pecado contra Deus e
contra o próximo.
Quando Jesus falou sobre blasfêmia contra o Espírito Santo (...) não
estava tratando de um pecado vago, mas da decisão consciente e
deliberada de atribuir a obra de Deus ao poder de Satanás. Os
fariseus acusavam Jesus de expulsar demônios pelo poder de
Belzebu, o maioral dos demônios. Por inveja, eles atribuíam as obras
de Cristo, feitas no poder do Espírito Santo, ao poder do maioral dos
demônios. Esse pecado de satanizar Jesus é classificado como
blasfêmia contra o Espírito Santo, e esse pecado não tem perdão
nem neste mundo nem no vindouro287.
286
GONZÁLEZ, Justo L. Atos: O Evangelho do Espírito Santo. São Paulo: Hagnos, 2011. p. 234
287
DIAS LOPES, Hernandes. Suicídio: Causas, Mitos e Preservação. São Paulo: Hagnos, 2007. p. 128
Finalmente, vejamos como a Bíblia traz orientações bastante
precisas sobre o suicídio:
288
HENDRIKSEN, William. Comentário do Novo Testamento: Mateus. Volume 1. São Paulo: Cultura
Cristã, 2001. p. 319
ao invés de alívio, Deus lhe deu graça para que ele o enfrentasse (II Co 12:7-
9).
289
RYLE, J. C. Meditações no Evangelho de João. São José dos Campos-SP: Editora Fiel, 2013. p. 45
Salvador e à ressurreição dos corpos é um tema poderosamente edificante e
consolador (I Ts 5:4-11), a ser lembrado em situações potencialmente
deprimentes. A comunhão cristã, promovida pelo Espírito (Fp 2:1), é um
ambiente adequado a que os “desanimados” sejam encorajados (I Ts 5:14). A
palavra grega “oligopsichos” significa desanimado, desencorajado, abatido,
tímido ou medroso. A igreja inteira, a quem Paulo dirige essa admoestação,
deve cuidar dos seus desanimados, encorajando-os a viverem de acordo com
a fé que professam.
Por fim, os cristãos não se matam porque têm tantas razões para
viver quanto para morrer, de modo que a fé cristã autêntica jamais induzirá
pessoas a assassinarem a si mesmas. E quem tem razões para viver e para
morrer nem se desesperam pelo prolongamento da vida nem se arvoram
assumindo uma postura de antecipar a morte. Ouçamos o apóstolo Paulo:
Por todas essas razões, não se pode ler na história que cristãos
perseguidos tenham lançado mão do suicídio para evitarem sofrimentos crueis
pelos quais tantas vezes passaram.
7. A pena de morte.
290
“Retencionistas” e “abolicionistas” são termos utilizados pela Anistia Interacional, entidade que luta
pela abolição da pena de morte para todos os crimes em todo o mundo há mais de três décadas.
protegido Caim em face de circunstâncias pontuais, tais como a ausência,
nesse momento da história, de um aparato estatal, ainda que embrionário. Por
fim, a pena de morte não está ausente do texto, visto que recairia sobre
eventual assassino de Caim, mas que nesse momento ela seria executada por
Deus mesmo.
291
REIFLER, Hans Ulrich. A Ética dos dez Mandamentos. São Paulo: Edições Vida Nova, 1992. p. 116
292
ROBERTSON, O. Palmer. O Cristo dos Pactos. São Paulo: Cultura Cristã, 2011. p. 98
293
Ibdem.
derramará o seu...”. Para Robertson, “torna-se claro que a intenção da
passagem é designar o homem como o agente de Deus na execução da justiça
contra o assassino”294 295.
294
Ibdem. p. 100
295
Robertson ainda diz noutro lugar: “... a aliança com Noé deve ser considerada como a primeira
revelação da sanção da pena capital. O conceito não surgiu na legislação dada a Israel nos dias de
Moisés, que foi subsequentemente projetada em passado lendário. Em vez disso, originou-se no novo
começo da humanidade, com a família de Noé”. Ibdem. p. 101
deixo o alerta que de modo algum a Igreja neotestamentária como tal pode
infligir a pena capital como resultado de suas próprias decisões, nem pelas
próprias mãos296.
Perceba-se que ao Estado foi exigido aquilo que aos cristãos, como
tais, foi vedado. A esses, impõe-se uma regra de conduta pessoal pela qual
devem evitar a retaliação pelas próprias mãos, porque Deus jamais prescreveu
a vingança privada, que é o uso da força por quem não é magistrado (Rm
12:17). Lembremos que antes que houvesse governo humano, somente Deus
poderia vingar o assassino (Gn 4:15). Aos cristãos, o apóstolo exorta a que não
se vinguem, mas deixem que Deus o faça, porque o mal jamais é subjugado
pela retaliação pessoal, mas pela bondade (Rm 12:19-21). Esse é apenas o
eco do ensino do Senhor Jesus, segundo o qual o perverso não deve ser
resistido, “mas, a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”
(Mt 5:39). Eis a norma a ser seguida pelos cristãos: fica-lhes vedada a
vingança privada, o uso da força pelas próprias mãos, pelo menos em regra.
Situações há, todavia, como na hipótese de legítima defesa, que a Escritura
concede-lhes o direito de exercê-la.
299
MURRAY, John. Romanos: Comentário Bíblico. São José dos Campos, SP: Editora Fiel, 2012. p. 515
de Deus no castigo dos malfeitores dá-se através dos magistrados, Seus
ministros, inclusive através da pena capital.
300
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 249
301
https://www.amnesty.org/en/what-we-do/death-penalty/. Acesso em 09/06/2016.
302
O art. 75 do Código Penal brasileiro preceitua que “O tempo de cumprimento das penas privativas de
liberdade não pode ser superiora 30 (trinta) anos”.
303
O Código Penal Militar dispõe sobre a pena de morte nos arts. 55, “a”, 56 e 57. Exsurge desses
dispositivos que no Brasil a pena de morte é executada por fuzilamento. Uma vez aplicada por sentença
definitiva, deve ser comunicada ao Presidente da República e não será executada antes de passados
sete dias da comunicação. O art. 72 desse Diploma Legal aduz que o juiz pode atender ou não as
atenuantes nele previstas quando ao crime for cominada como pena máxima a de morte. Conforme o
art. 125, I, os crimes punidos com pena de morte prescrevem em 30 anos. Os crimes aos quais é
cominada a pena de morte como a mais grave vêm insculpidos no Livro II, que trata “Dos Crimes
Apesar de advogarmos a reinserção da pena de morte no Brasil para
determinados crimes comuns, além dos previstos para tempos de guerra,
admitimos que tal não ocorreria sem uma perigosa, diga-se de passagem,
ruptura das atuais configuração estatal e ordem jurídica tais como perfilhadas
pela Constituição Cidadã de 88. É que o art. 60 da Carta da República, em seu
parágrafo 4º, inciso IV, dispõe que proposta de emenda à Constituição que
apenas tenda a abolir “os direitos e garantias individuais” (dentre os quais o
que veda a pena de morte, exceto na hipótese de guerra declarada) não será
sequer ”objeto de deliberação”. É parte, segundo doutrina constitucionalista, do
núcleo imodificável da Constituição, denominado “cláusula pétrea”. Assim, a
não ser por obra de um novo Constituinte originário, criando um novo Estado, a
pena de morte não será estendida no Brasil.
Militares em Tempo de Guerra” (arts. 355 a 362; 364 a 366; 368; 371 e 372; 375, parágrafo único; 378 e
379, § 1º; 383 a 387; 389 e 390; 392; 394 a 396; 400 e 401; 405 e 406; 408, parágrafo único, b), em cujos
capítulos estão previstas condutas tais como traição, favor ao inimigo, espionagem, dano em bases de
interesse militar e deserção.
flagrantemente incapazes de inibir a reiteração criminosa304. Imagine-se, por
exemplo, um erro judiciário que condenou um inocente à pena privativa de
liberdade pelo prazo de 30 anos e que, em face das condições péssimas,
“cruéis” e “desumanas” das penitenciárias brasileiras, ele veio a óbito depois de
cumprir seis anos, pouco antes de descobrir-se o verdadeiro culpado pelo
crime. Pergunta-se: o cenário apresentado é suficiente para abolirmos os
presídios ou as penas privativas de liberdade? Acaso não poderíamos
consentir que sempre há chances de erros irreversíveis?
304
No Brasil, o crime de porte de droga para consumo pessoal é punido com as “penas” de
“advertências sobre os efeitos das drogas”, “prestação de serviços à comunidade” e “medida educativa
de comparecimento a programa ou curso educativo” (Lei 11.343/2006, art. 28).
305
Francesco Carrara foi um expoente da “Escola Clássica”, como passou posteriormente a ser chamada
a teoria absoluta. Ele, todavia, se opunha à pena de morte, embora defendesse a relação de
proporcionalidade entre o crime e a sanção aplicada.
306
O Brasil adotou a teoria mista ou eclética. O art. 59 do Código Penal dispõe que o juiz aplicará a pena
“conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime” (grifei). A mesma teoria
foi adotada também no Pacto de São José da Costa Rica.
307
A teoria relativa ou utilitarista é também denominada de Escola Positiva, cujo marco inicial é a obra
de Cesare Lombroso “O Homem Deliquente”, de 1876.
A função retributiva da pena é amplamente amparada na Escritura
(Rm 13:1-5; I Pe 2:13, 14; 4:15). Considerando Rm 13:4, Geoffrey B. Wilson
lançou palavras pertinentíssimas:
A fim de desincumbir-se eficazmente deste dever [exercer vingança
contra o malfeitor], o Estado é armado com a espada. Nestes dias
degenerados, quando a peçonha do humanismo dirige sua simpatia
ao criminoso em vez de dirigi-la à sua vítima, deve-se notar
particularmente que o apóstolo descreve as restrições impostas pela
lei em termos de vindicação retributiva308.
308
WILSON, Geoffrey B. Romanos. São Paulo: PES, 2007. p. 240
309
B. RAE, Scott. Ética Cristã: Curso Vida Nova de Teologia Básica. São Paulo, Vida Nova, 2013. p. 248,
249
daqueles que nunca irão alcançá-la; é ser classificado com as
crianças, com os tolos e com os animais domésticos”310.
310
GEISLER, Norman. Ética Cristã: Opções e Questões Contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2010. p.
243, 244