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ART TEXTOSOS, OEZEMBRO OF Requalificacao Urbana — Alguns Conceitos Basicos Graga Moreira Geégrata, Profestora Ausiiar da FAUT gmereiroia.utl pt Resume Este orfigo opresento a evolugSo de um conjunto de conceltos ligades cos proceisct de requolificagSo dos espaces urbanos consolidadcs, que s8o muitos veaes mal aplicodes. Carocieriza 0 conceit de requolificagde, reabilitagéo, reanimorén, recuperogéo: # renowaciie urbane « aindo de industrializagéo e pés industriolizogSo. Apresenta o evolugse des coracteristicas de modologia ¢ do estrutura da cidade industrial e do cidade pos-industrial Palavres-Chave: Requalificagio urbana; reabilitagiio urbana; reanimagdo urbana; recuperegéo urbane; renoragéo urban. 1, Introducao Este ortigo faz uma breve compilactio # enclise de conceitos basicos ligados oct processos de rautikrocSo-de expaces urbanos consalidedos partir dos processas: de requalificagie urbana. Este ¢ um tema muito actual no dominio da politica « do ploneamento urbanos, constituinde-se como um inutirumento de estrotégia especialmente dirigido Gs Greas urbones em dacodéncia. 2. Requalificagéo / regenerago A utilizagSo do termo requolificogéo urbana @ muito recente em Portugal, eporecends apenas no fim das anos 80. Nos vocabuldrios urbanisticas publicodos até 1998, nBo aparece este termo, sendo usodos os termos revitalizagéo, reobiltagéo ov Ginds recuperogie pora designar oparentemente © mesmo proceso. Num artigo sobre Lisboo © terms requalificegSo social @ urbone € ossociodo @ qualidede urbane ligade a questes econémico - ecoldgicas # sécio — culturois [FERREIRA © CRAVEIRO, 1989) uw? 118 Requalifcacao Urbano — Alguns Conceitos Bésicos 2.1 Requalificacéo No documento de apresentagic do VALI - Valorizagéo de Lisboa em 1990 refere-se o termo requolificago “recuperar o sentido da ubicagao residencial das populagées, través de miltiplos accdes e medidas, que véo do infro-esiruturagéo 6 valorizagso da imagem interna e externa, passando pela proviséo dos adequados servigos € pela equidade no acesso co emprego. Todos 0s caminhos, da nova rua ou da nova aldeic deverdo levar & Metrépole, sem traumas de regresso (5). A estratégia deve levar @ acgées que permitam descobrir e qualificar a alma dos lugares, pela nossa memeria, pela vivéncio, pelo patriménio ~ 0 que se herdou e importa valorizar, como também 0 que se deve construir no espirito do tempo" (CEDRU, 1990:5). Em Inglaterra 0 termo regeneration, que & geralmente traduzide como requalificacdo ou regeneracéo, € utilizado desde os anos 80, também ele precedido ov considerado equivelente a revitalization, neighbourhood renewal, rehabilitotion © renovation aplicado és zonas centrais dos cidades © zonas portudrias (PALEN and LONDON, 1984). 2.2 Reabilitacéo urbana Este conceito designe todo 0 processo de transformacéo do espago urbano, compreendendo a execugéo de obras de conservacdo, recuperagéo e readoptagio de edificios e de espacos urbanos, com 0 objectivo de melhorar 1s suas condigées de uso e hobitabilidade, conservando porém o seu carécter fundamental (OGOTDU, 1998) © conceito de reabilitagdo pressupde © respeito pelo cardcter arquitecténico dos edificios, ndo devendo no entanto confundir-se com 0 conceito mais restrito de restauro, © qual implica @ reconsfitvicéo da traca primitiva de, pelo menos, fachadas e cobertures ullizondo, eventualmente, os materiais originais. Segundo SALGUEIRO (1992:390) “reo! uma érea que se pretende manter ou solvaguardar. No geral envolve o restauro ou conservagée dos imév revitalizagéo funcional, ou seja, @ dinamizacéo do tecido econémico e social, taco € um proceso integrado sobre , 2 que alguns chamam de reabilitacéo fisica, € 0 uma vez que manter um bairro implica conservar as suas caracteristicas funcionais, cumentor @ sua capacidade de atrocgéo, quer para os habitantes, quer para o exercicio de actividades econémicas € sociais compativeis com a residéncia”’ A reabilitagéo urbana é um processo de transformacéo urbana que respeita 0 imagem global dos éreas alterando as condigdes de uso e habitabilidade, de forma «a advaliza-las. NGo pode ser usado em éreas que tenham ido um uso problemético, nomeadamente poluente, em que é necessério um trabalho mais complexo. ARTITEXTOSOS. DEZEMBRO 07 2.3 Reanimagde ou revitalizegde urbana O terme reanimagéo ov revitalizogbe designa 0 conjunto de operagtes destinados ‘Gorticuler os intervengier pontuois de recuperog5o dos adificios existentes em Greos degradades, com as interengSes mais gercis de opcio & recbilitagde dos axtrutvras socials, econdmicas culturais locois, visondo o consequente melhoria da qualidade de vida nessas Greas ov conjuntos ucbonos degrodades {CCRN, 1998; 153). A reanimagSo ou revitolizogée implica um certo nimero dé fiscos, muitos wares minimizados, eeavitantes do dificuldade de concilior os axigéncias controditérias ‘entre conservagde @ 0 utilizagio do patrimdnio edificado, nomeadamente: > recos de ordem fisica, relotives oo estado ¢ coracterizagSe do arquitectura; > risces de ordem social, relatives 6 populagéo dos espagos @ conjunios reonimar [OGOTDU, 1998} Arreanimagie ev revitolizegSo urbona foi durante clgum tempo confundida com @ requolificagéo urbana mas, na opiniée do autora, tem uma conctagée de cariz mais acondmico do que social au urbanistice, 2.4 Recuperagée urbana De um modo geral, a recupersséo impde-se no sequincia de situagdes de ruptura do tecide urbane ov de casos de intrysdo visual resubtontes de operagSes indiseriminodos de renovage urbona, A recuperostic urbana implica a requolificagéo das edificios ov conjuntos recuperodes (DGOTDU, 1998). Por recuperogSe urbana entende-se © conjunto de operosées tendentes & reconstituicgho de um edificio ou conjunto degradade, ov olterodo por obros onieriores sem qualidede, sem que na entanto esse conjunto de operagtes ossumo of corocteristicas de ym restoura. Este conceito esid sebretude ligado ao edificade e & sua manutengdo. 2.5 Renovagée urbane Este conceito pode cbranger ocgbes de raobilitorée, » # por vezes confundido com o conceito de reabilitagée, © qual no entanto supe © respeite pelo cardeter ‘orquitecténice dos editicios em questito [DGOTDU, 1998). Tem a ver com @ passogem do cidade do fore industrial oo pés-industril e 0 necessidede de promover as alterogbes fiticas e funcionais delo decorrenss. 19 120 Requoliticagie Urbans - Algurs Cancennt Baicos “Renovagéo & a occda mediante a qual s# procede & substinigée das estnuturas enistentes: epwolve portant @ demoligéo dos edificios @ a consimugdo de novos iméveis. Pade ser pontual ov difusa quando, rut do iniciativa privada, se destrdi hoje um edificio aqui, omanhé outro ali, sam abterogdo da molha préexistonte, ov total quando se trata de ume operagéo de planeamento sobre uma érea visando @ mudange dos prédios e tamhém da matha urbana © das infra-estruluras que 0 supartam® (SALGUEIRO, 1992: 390}. Por renewagto urbana deve entender-se 0 conjunie de eperogées vrbonisticos que visam © reconstrugdo de éreas urbonos sub-ocupadas ou degrodadas, 4s quais nde se reconhece valor come patriménio orquitecténice eu conjunto urbana & preservar, com deficientes condigées de hobitobilidade, de salubridade, de estética ‘ou de segurange, implicondo geralmente o substituicho des edificios existentes, 3, Componentes do Requalificogao Urbana © conesito de requalificogSo urbane obronge os olterogées, desenvolvidas de forma inlegroda, dos corociersticas de umo érea urbana que esta em transigéo devide a um processo de declinic, Inclvi ospectos de cardcter econémico, social, ambiental ¢ fisico como @ seguir se opresentam. 3.1 Aspectos economicos ‘As novos carocteristicas des sectores secundério @ tercidric, bem come dos tistemes de Wansportes © comunicagées € 0 suc adaptogo ds exighncies dos novos consumidores leram 6 necessidode de criogGo de novos espoges por ai se desenvolverem. ‘Algumes actividades tem opeténco para se Iocolizarem no tecide urbana consclidede, enquanta outros preferem Great novas com coroctersticas tecnolégicas inovodoras. Em geral, todos procuram relocalizar-se de ecordo com as navos ordens dos factors de producto que leva o que nem sempre seja a proximidede fisica de procure, o determinar o locolizagde preferida. © objective do requolificogso econémicn assenta na criogdo de condighes edequodas 8 manutengéo de uma actividade econémico rentivel. Inclui ginda © desenvolvimento de actividades que proporcionem emprego acs habitentes da zona, permitinde @ sua incluso no tecide produtivo. 3.2 Aspoctos sociais Anecessidade de integrar socialmente toda o populagio, ndo permitinde o cringdo de bolzos de marginelideds que corespendom a grupes que ndo conseguitam ocompanhar @ evolugée, quer por terem niveis de escoloridade insuficientes pora integrarem plenamente o mercode de trabalho, quer por esterem numa foixa 1 LASS a (196° Landon ‘Aspects of ange” an Care for Urban Saad, md McCrtbon ar Ka, Lan, ARTITEXTOSOS. DEZEMBRO 07 etdria elevade @ terem feito todo © seu percurso de vide em contexto diferente, quer ainda por serem originérios de contextos sécio-espaciais diversas, exige © desenvolvimento de octividedes de opoio social. Estos actividades podem integrar desde cursos de formagéc profissional @ -centros infantis que permitam que as mulheres possom desempenhor octividedas ramunerados, elevende assim © seu astatuto econdmico, bem come o do seu -ogregade familior. © processo de gentrification, que coresponde a umo migrogSo de populagéo de nivel sécio - econdmico superior para ronas empobracidas barotos, segundo uns avtores, cv a wna mabilideds social ascendente sem mobilidede especial, segundo outros, pode consideror-se como ume dos formas de gjuder o requolificar em fermos econémicos © secinis os reas onfiget, mos néo resclve o probleme por si 56. Otemmo gentrification foi opresentodo pela primeira vez por Gloss’ para descrever mydongas socials nos bairres de Londres na fim dos ana: 50 ¢ principios de 60 “One by one, mony of the working class quarters af Lenden have been invaded by the middle-class-upper and lowershabby modes! mews and coftages...have residences. Lorger Victorian houses, downgraded in an earlier or recent period — which were used as lodging houses or were otherwise in multiple occupation hove been upgraded once again...Once this process of “gentrification” starts in a district it goes on ropidly until all or most of the original working closs occupiers ore displaced and the whole socio! character of the district is changed” © objective da requalificaséo social é cortar o ciclo de pobrezs 9 que certas éreas urbanes parece destinadas, clerando a percepsie social que ee tem delas. Pode ser oindo umo forme de manter clgumos éreas erquitecionicomente relevantes medianie um pequeno encargo financeire por parte de sector publico, @ no #u0 recuperogéo, ou pelo menas na sua manuiengio, 3.3 Condigbes ombientois A elevogdo des podroes de educogio de populagte, pelo aumento da escolatidade minima e palo acesso crescenta o niveis mais elevados de ensinc, © generolizog80 do sequronca social, cam @ atribuigao de abonos & subsidlios, 8 urbonizogde da populagie ¢i¢., ov s¢ja © oumento do sua capacidede pore ovelior a quolidade de vide de que wsulrui @ 0 que tem direito, levam-na o tomar «se mois exigente relotivamente as caracterislicas do espage urbane. ‘As condighes ambieniais 150 dé gronde impontncia no percepsdo que o populagdo tem de uma determinada drea ¢, em consequincio ditto, do comportamento qué 1m perante ela, 12) 122 Requalificactio Urbana - Alguns Cencator Bésicos Se uma Grea the ¢ ogrodével frequento-e mais, tomondo-e mals segue, ¢ tendo mais cuidede na sua preservagdo. Pelo: contréria, se Ihe # desagradével tenderd 0 assumir comportamentes: hostis, nomeadamente aa nivel da limpezs © conservagGo, que indo reforgar a sensagéo de inseguranga no comunidade, © concsite de qualidade de vida urbana comesponde a um dos objectives finais da requoliiengso dos espocos, uma ver que o sociedede deverd proporcionar 12 codo um dos stus membros 0 melhor quolidade possivel, numo ligice de sustentabilidode do vida urbane. Este conceito de qualidade de vido? esté bem definide pelo Lei de Boses do Ambiente: “A qualidade de vida 4 0 resultade de interocgdo de mihiplos factores no funcionamento dos sociedodes humanos @ trodur-se na sitvagdo de bem estor fisico, mental ¢ social @ na sitvegeo ¢ alirmagde culturais, bem como em relagdes utenticas enire-o individuo © 0 comunidade, dependendo da infludincia de Factores inter relacionados, que compreendem, designadamente: ©) Acopacidade de conga do terrtério e dos necursos: b) Aclimeniagée, 0 hebiogse, a sadde, 0 educogte, os transpories e @ ecupagée dos tempos liveas; €) Um sistemo socio! que assequie o posteridade de toda a populogta e os cansequentes benelicios da Seguranga Social; d) A integrogdo da expanse urbano-industrial na paisagem, funcionanda como solorizagde do mesa, ¢ no como agente de degrodagéo.” Em FERREIRA, LUCAS e GATO (1999;208) 0 qualidade de vida “oscila entre condigSes subjectivos © observdveis, ligodas com 4 percapgdo dos sujeitos relotivamenta ac seu aspogo, Os suas vivdncias, ds su0s necessidades basicas & 20 respective grou de satistogto @ entre condighes mais objectives e mensurdveis, como ¢ 6 caso do nivel de desenvolvimento econémico, social ¢ cultural etingido or uma daterminado cidade”, © que se enquodro no mesmo. conceito, 3.4 Aspectos fisicos e de imagem: ‘Consideram-se os ospectos morfaldgicas do aglomerade come a planta e os edificios. A transigo do modemisma — funcionalismo (os funcionolistas née eram opologistes do reutilizagso des edificios, nam da sua multi-funcionolidade © que leva ao desprezo pelos edilicios entigos) pora o pos-modemnisme (possibilidode do revilizoge ¢ do poli-uncionalidade) 80 factores significatives. A revitolizagio econdmica de dreas desoctivodes com nowas fungées em edificios ontigos tem um gronde impacto ne aspecto fisico da cidade # no percepsSe que ot individuos tem da mesma. 2 Vecnbiso wtritice do GOTOU (1998) Lan? 11/87 (he 7/4 ot" 5 "Ls de Bones do ember, ARTTEXTOSOS. DEZEMERO 07 ‘A imegem funcione como um quadro de releréncia que focilta © conforta © 0 ropider de deslocagdo; quondo esta ¢ dora ¢ precisa constitui ym factor positive de desenvolvimento pessoal donde uma sensagdo de seguronga (LYNCH, 19760). A imagem 8 constituide por cinco elementos: os cominhos vies (paths), of limites (edges), 0 boirras (districts), os nds (nodes) « 08 pontos de referéncia (landmarks). Pode ser dividida am tris componentes: a identidade que se relociona com um bjecto reconhecido como entidade separods individualidode ou particuloridade, © estrutura que implica uma relagdo espacial @ formal do objecto com © observador ¢ os outros objectos ¢ por ultime © significado, quande o objecto tem vma significogée prétice eu emecional (LYNCH, 1960). ‘Segundo NASAR (11998) os cidades podem evocar um sentido de satistagde e promer. Um lugor pede dar uma sensogde ograddvel, crior um ambiente sotsiatiria, ov no. Este outer considera que a egradabilidade de um lugar depende bastante dos ‘quolidades fisicas do mesmo, mat nie esquece que também depande dos ospecios ‘Cognitvos © do percepgde individual. As vorigynis ombieniais traduzem o formal 2 0 simbélico, Este autor tentou através de diferentes meios chegor & definigda de clgumas caracteristicas mais comuns raferidos pele populagiie edulta. Faz, no ‘entonta, vérias referéncios @ Lynch, de onde prover este tipo de abordagem. (Ot elementos de agredabilidade de uma cidade “urban likabiliy" sto os sequintes: > “distinctiveness” dos formas (formas fociimente reconheciveis por exemple um hotel, centro comercial, casa de espectéculos}, visibilidede e significincia sienbélica ou de wie; > “likable” corscteristicas de agradobilidede: naturalidode dos formas (significa presence de vegetogse, dgva ou montonhes em oposigde o éreas construidas), Grilidade (espages limpos, mantidas, cosas newas}, obertura (relere-se 2 visto, ‘cenétio}, significado histérico lespagos compreendides come com significado historico], @ ordem | que diz respeite o compatibilidade e coesdo); > complexidade, que inclui:- riqueza visual (por exemplo. dreos histéricas, mais ‘omamentadas @ datolhsdos) jomomamosbo, diversidode, variedsda; > inter-relages, contexio # contraste (com coerincia, as pessoas preferem dreas conotadas com es classes moi alias ¢ gostom menos dos conotadas com as classes mais boixas}; > astrutura urbona @ experidincia (distinta para o4 moradores @ of visitantes). 123 124 Requalficagdo Urbane — Alguns Conceites Bésicos No entanto, as questdes ambientais relacionadas com a poluigéo podem também. ser relacionadas com a temdtica de Nasar. nivel de cobertura dos infra-esiruturas tem muita importéncia no qualidade urbane (agua, electricidade, esgotos, novas tecnologias de comunicagéo). Segundo a AAP (1995) a requalificagéo do cidade compreende a politica de habitacdo, « conservagéo e reabilitagio dos centros urbanos, « quolificacéo dos periferias, « valorizacéo dos centros urbanos do interior, a melhoria das acessibilidades e equipamentos. Requalificagéo urbana é um “processo social e politico de intervencdo no territério, {ue viso essencialmente (re)criar quolidade de vido urbona, através de uma maior equidade nas formas de produgo (urbana),de um acentuado equilibrio no uso e ocupagae dos espacos e na prépria copacidade criativa e de inovagéo dos agentes envolvidos nesses processos” segundo (FERREIRA, LUCAS e GATO 1999;208) Do exposto pode concluir-se que néo hé até agora um conceito unonimemente aceite; conforme as especializacées tecnicos dos autores a requalificacdo é encorada como alge ligado & recuperacéo econémica com aumento dos posios de trabalho, enriquecimento da populagéo das éreas em estudo, melhoria das condicées fisicas, do espaco piblico e do parque habitacional, com consequente reflexo na imagem que 0 cidade passa para © exterior ou ainda « qualidade ambiental da mesma. O conceito de requaliicacéo urbana tem evoluido ac longo do tempo & medida dos problemas que véo sendo diagnosticados no tecido urbano. (Os primeiros sinais foram dados pelo tecido econémico, a sua desadequacéo & €8 seus reflexos sobre as condicdes econdmicas da populacéo. A importéncia social do requalificacéo urbane foi ainda, mais ou menos acentuada, conforme as forcos politicos eram mais ou menos sensiveis a estes ‘ospectos. Iniciolmente pareciam apenas reflexos dos problemas econémicos, mas verificou-se que as caracteristicas sécio-demogréficas da populacéo explicovam a situagéo 0 que finham chegado, nomeadamente o nivel de escolaridade médio e ‘os grupos etérios dominantes. As condigées fisicas e ombientais estiveram sempre presentes, mas nos iiimes anos ‘© conceito de sustentabilidade* veio criar um interesse renovado sobre esta érea. Neste trabalho © conceito de requalificogéo urbana € analisodo na vertente da melhoria das caracteristicas fisicas da cidade (espacos piblicos e privados) suas consequéncios sobre © tecido econémico e social. De uma forma geral este conceito integra © todo © processo que leva uma cidade, ov parte dela, 0 coresponder as expeciativas de todos os esiratos de populacdo, incluindo os sécio-culturalmente mais habilitados, de forma que esto uilize © espaco urbano de forma durével e agradavel. 4 Sustertobilidade pode sr defn como eapacidade de uma dee ‘rbana de continuar@funconar ‘ves de qualidade de vido ‘2cenaves para quem 6 vive, som prejudicar copacidade ftura de (ila da mesma area ou doe recs emvolerte, ARTITEXTOSOS, DETEMBRO OF 4, Industriolizogac ¢ pos industriolizagso: © conceito de industrializage std intimomente ossociede 9 tips de dasanvolvimento urbane werticodo durante © séc. XX nos poises desenvelvides da Europa e do Américe, De acarde com ASCHER (1998), © canceito de industrializogia esté osscciade oo principio de produgéo em cadeio preconizads por Henri Ford & deserwalvido nos swos fdbricas de outomévels nos EUA, a partir de 1910, ¢ lorgomerte adopted pelos poles europeus na grande inchistia, em especial o produgde em codsie, ¢.a complementoridade entre & produgde @ © consumo massificado, nomeadamente, dot seus pedprios operdrios. Anterioemente, Taylor desanvalvera cinda no séc. XIX, a organizagiio clentfica do trabalho, com @ rocionalzasae no orgonizagéo das toretos ‘8 fungdes, No pés-querre fol aplieada o teoria de Keynes 6 relagao ecandenica entre ‘9 intervene dos paderes pUblicas, nameadamente do Estado, eo necessidede de costegurar © plana emprago, @ plana consumo & 0 distribuigso dos lucros, Este conjunte “laylarismo — fordisme — keynesionisma” representou uma forma de organizagéo que 8 rafiectiu na sociedade © ne organizagSe urbsna, porque embos portihom of meimos porodignot © conceito de pés-industriclinage corresponds © um conjunto de sitvagdes que 18 desenvolveram desde os ones 70 com a crise petralifera de 1973 ossociada 4 globalizagée de economia mundial «2 consequenie perde de controle desto, pelos macro-economias dot paises desenvolvides @ @ avienemizagio do ‘economia mundial dominade pelo capitol financeiro. A nogde de saciedode pés-industriel corocieriza o acival sitvagto de seciedede ccidental, em que o emprago industrial est6 em declinio © emerge © emprego © © riqueza devenvolvida not sevigor. No entanto e indéstria nunce produsiu tanto ‘come egora embora com umo organizagic das emprescs 4 diferente, © proceso de desintegrogSo vertical dos empresas do indistia tradicional dew origem & extamalizocéo de servicas. Estes organizarn.se em empress ovténomas que continua @ coniribuir pero @ produgée de bens industricis, mas constitvem um ovo sector: os servigos de opelo & produgo que rio lendo um destugue cada ve2 mois significativo dade © papel estratégico que dasempanham na producio. 4.) Corocteristicas da morfologia @ estrutura da cidode industrial e pos industrial “Existe globalmente uma coeréncig entre as corocieristicas principais de um ciclo, o tipo de cidodes que oi se desenvolve @ 8 teses urbonisticos” (FE ASCHER, 1998: 52). Le Corbusier, que representa o corrente fordista aplicoda 4 arquitectura e ao urbaniame, fei um dot grondes dafensores da tess funcionalist, Wo coro & fase de industrializaga do saciedade @ 09 movimento mademo, Os conceitos 126 Requelificagio Urbane — Alguns Conceitos Bésicos normatives do planeamento fisico que indicavam como este deveria ser feito © 0 que queriam criar enquadra-se na mesma escola de pensamento. A morfologia urbana corresponde & forma geral, consubstanciada nos fipos de planta & nos carocteristicos dos edificios que a preenchem. Os fipos de plantas designados por malhas ou tecidos urbanos. Aescola Modernista da Arquitectura esteve sempre muito ligado. ao desenvolvimento da morfologia urbane organizando a estruture por zonas, propria desta fase de desenvolvimento, grondes éreas para os actividades, semelhanca de espagos para populacéo. Maximiza-se © zonamento urbano em desfavor do integracao dos espagos que fugiam a uma norma de arrumagéo des actividades. © zonamento entendide como demarcagéo de éreas de uso do solo, numa primeira fase de uso Unico, evoluindo mais tarde pare a incluséo de usos complementares em cade zone @ portanto menos segregedes. ‘A zona & uma Grea do territério na classe de uso urbano que se pretende homogénee em termos do sua funcdo e intensidade de utilizacéo urbanistica (LOBO, PARDAL, CORREIA, LOBO 1990). A estrutura urbana corresponde & orgonizagéo espacial dos actividades © sua relagéo na cidede. Hé vérias teorias explicatives da estrutura urbana do cidade industrial: @ teoria dos circulos ou zones concéntricos de Burgess, desenvolvida nos anos 20, a teoria sectorial de Hoyt uma reformulacéo da anterior nos anos 30, dos nécleos multiples de Harris e Ulmann dos anos 40, « teoria da renda de Alonso dos anos 60 (CARTER, 1974). No fase pés-industrial, « morfologia urbane oltero-se e leva co desaparecimento tendencial dos grandes éreas industriais integradas na cidade, surgindo uma nova cocupacéo mulfi-funcional das éreas e dos edificios (fleiblidade]. A reestruturacéo dos sistemos produtivos reduz substancialmente as necessidades de espaco da componente de producdo de bens industriais. As grandes unidades industriais de montogem véo para as periferias urbanas ou mesmo para éreas rurais. No centro dos cidades ficam as fungSes que mais se ossemelham a servicos, ainda que num todo possam ser classificades como industricis, e que através dos telecomunicagées contactam com as outras unidedes locolizadas em qualquer outro lugar, integradas em redes de producéo. O planeomento de estrutura recusa © zonamento do uso do solo como um principio bésico, em todos os sectores, tendo menor importéncia o planeamento de estrutura territorial ou de estrutura urbana, reflexo dos periodos anteriores na cidade. No periodo pés-industrial, os pequenos espacos individualizados para actividades tendem a aumentar a diferenca na fipologio dos espacos, ¢ « tentative de diminuir significativamente o importancia do zonamento, com ou sem segregacéo de uses, é desenvolvida com actividades que o permitom. A cidade é consumida” e néo 5 bm. /fenccloped overto c gtiegibe ARTTEXTOSOS, DEZEWBRO 07 apencs produzida ou organizoda; o8 agentes de produgie de espase urbane tim em consideragio os necessidedes, o8 gosios, os opetincios @ as eapacidades dos consumidores (HALL, 1996). As zones cenirais, sociolmente bem delimhodas, partencentes o grupos menos fovorecides economicamente, tendem a olierar-se pelo processe de gentrification aids referida , as elites retomom 00 cenira tradicional, um powco & semelhanga da fase pré-industial, oindo que por motivagées diferentes explicadas pelo modelo da renda urban de Alonte, ante outros. ‘As politicos devem ser entendidos como “conjunto de vios seguides pelos poderes piblicos (govemo @ odministrogéo publico central e local) no seu papel de agentes reguiadores e coordenadares do consumo ov utilizogdo do: recurso” (CORRE, 1993:28} “As polticas padenio estar contides em orientagbes mais gavois e globalizantes, © correspondem 4s vies escothides pelos agentes de decisdo pora clcangor os fing em geval ¢ os objectives em particular.As politicas exercem-se airavés de instumentos, essaciados 0 occées @ medides. os insirumentos permitem, 0 nivel operacional e de forma coercive ow indicative, actuar com vista 6 resolugéo de problemas, prevenir 0 ocoréncia de outros conflitos, ou ainda crior sitvacSes novos desejdvels” (CORREA, 1993:31). Segundo LOBO, PARDAL e CORREIA (1990) “As palliticas so a3 vias escolhides pelos decisores poro o alcance des objectives, e podem estar contidos em ovientogses mais garais, As politices, no seu conjunto, explicitom a orientagdo, a coertncia ¢ 0 continwidede necessdnias 5 forms de octuagdo. Code sector da palitice pode visa, em simulidines @ numa maior ou menor axteneéo, vérios objectivos. As politica podem ser onientadoros iste é, de condcier indicative ou mesmo operacionais, de curt prazo @ ligadas 4 realizagdo @ seus tempos”. ‘© programa é um “conjunto de intengdes (concrefizades em instrumentos, meios, metas e colenderizogéo do so execusSo) relotves a cerlos quesiies especifics...troduz es vis a adoptor na resolugdo de questies quando estas ssurgem * (CORREIA, 1993:286). As medidas correspondem @ implementacdo des politicos, 09 nivel operacional. As acgSes operacionalizem os medidas definidas.. Um dos instrumentos de politica muito desenvolvidos no fose pos - industrial é & Pareerio (Partenoriods) Publica / Privedo. (O terme parceric® correspande & reunidio de individuos pare certo fim de interesse comm, 127 128 Requalificogde Urbana — Alguns Conceitos Bésicos Uma empresa privada, nomeadamente de construséo, trabalho em colaboragéo com uma autoridade urbane local, de forma a levar a cabo um programa de reconstrugéo e desenvolvimento urbano. Associado ao programa de desenvolvimento e consirugio existe um programa de formagéo que possibilita @ cobertura dos custos dos projectos de equipamentos colectivos quando levados @ cabo em conjugacdo com projectos comercialmente vidveis e suas fontes de financiamento. Os objectivos da colaboragéo ossentam na transferéncia gradual de cerios fundos, funcdes e actividades do sector publico ora 0 sector privado enquanto se criam, 00 mesmo tempo, oportunidades para © copital de risco, se melhoram infra-estruturas sociois, se aumento a quollficacéo da forca de trobalho local e se gera emprego. A realizagéo destes objectives & susceptivel de criar condigdes copazes de atrair investimentos adicionais (HUDSON, 1992). Pode, olém do sector privade propriamente dito, sero sector de solidoriedade social ov 0 sector voluntério, « formar parcerias. Pode ainda falar-se de parceria entre © poder central e o poder local. 5. Conclusao Alguns dos conceitos apresentados correspondem processos que tem sido usados durante toda o evolugée do espaco urbano. No entanto é na passagem pora a cidade pos-indusirial que todos ganham uma nova dinamica e maior Visibilidede no ambito dos polificos urbanos. See problemétice da sustentabilidade for chamada, entéio todos os processos referides so ainda mais relevantes pois néo é viével confinuar a hipotecar novas Greas rurais ov naturcis a um crescimento urbono desordenado quando hé processos de 0 evitar. 6. Bibliografia ASCHER, Frangois (1998) Mefopolis, acerca do futuro da cidade, Celta editoro, Oeiras. CARTER, Horold (1974) The study of urban geography, Edward Arnold Publishers, London, CCRN (1998) Glossério de termos - Ordenamento do territério, Ambiente, patriménio Cultural e Reabilitago urbana MEPAT — CCRN, Porto. CEDRU (1990) Valorizagdo de Lisboa ~ VALIS, CEDRU, Lisboa. CORREIA, Paulo (1993) Politicas de solos no planeamento municipal, Fundagso Calouste Gulbenkian, Lisboo. DGOTDU (1998) Vocabulério Urbanistico, DGOTDU, Lisboa. FERREIRA, V. Matias e CRAVEIRO, Teresa (1989) “Reabilitar ou requalificar o cidade?” Sociedade e Territério 10/11, ano 4 / Dezembro 1989. ARTITEXTOSOS. DEZEMBRO 07 FERREIRA, V. Matias, LUCAS,J. e GATO, MA. 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