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Áreas de Apoio à Saúde, Técnica,
Técnica-Magistério e de Engenharia
Apostila de Acordo com o Edital de Abertura
NB065-2017
DADOS DA OBRA
• Língua Portuguesa
• Organização Básica da Marinha
• Legislação Militar-Naval
• Tradições Navais
• Relações Humanas e Liderança
• História Naval
Gestão de Conteúdos
Emanuela Amaral de Souza
Diagramação
Elaine Cristina
Igor de Oliveira
Camila Lopes
Produção Editoral
Suelen Domenica Pereira
Capa
Joel Ferreira dos Santos
Editoração Eletrônica
Marlene Moreno
APRESENTAÇÃO
CURSO ONLINE
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SUMÁRIO
Língua Portuguesa
GRAMÁTICA - Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de crase;
Morfossintaxe: estrutura e formação de palavras; Classes de palavras e valores sintáticos; Flexão (nominal e verbal);
Frase, oração, período; Estrutura da frase; A ordem de colocação dos termos na frase; Pontuação; Relações de sentido
na construção do período; Concordância (nominal e verbal); Regência (nominal e verbal); Colocação pronominal; As
relações de sentido na construção do texto: denotação, conotação; ambiguidade e polissemia........................................... 01
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - Leitura e análise de textos; Os propósitos do autor e suas implica-
ções na organização do texto; informações implícitas e explícitas; Tipologia textual e gêneros discursivos; Os fatores
determinantes da textualidade: coesão, coerência, intencionalidade; aceitabilidade; situacionalidade; informatividade e
intertextualidade; Variação linguística: as várias normas e a variedade padrão; Processos argumentativos....................... 50
Forças Armadas (FFAA) – Missão constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante Supremo das Forças
Armadas..............................................................................................................................................................................................................01
Normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas – Disposições preliminares; Destinação
e atribuições; Assessoramento ao Comandante Supremo; Organização das Forças Armadas; Direção Superior das
Forças Armadas................................................................................................................................................................................................03
Estratégia Nacional de Defesa – Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Desenvolvimento; Natureza
e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa; Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa; A Marinha do Brasil: a
hierarquia dos objetivos estratégicos e táticos.....................................................................................................................................05
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Título V. Promulgada em
5 de outubro de 1988. Diário Oficial da União......................................................................................................................................01
______. Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, alterada pela Lei Complementar nº 117, de 2 de setembro de
2004 e pela Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010. Dispõe sobre as normas gerais para a organização,
o preparo e o emprego das Forças Armadas. Capítulos I e II. Brasília, 1999. Diário Oficial da União...............................03
_____. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Capítulo 1 (Formulação
Sistemática). Brasília, 2008. Diário Oficial da União.............................................................................................................................05
Legislação Militar-Naval
Estatuto dos Militares – Hierarquia Militar e disciplina; Cargos e Funções militares; Valor e ética militar; Compromisso,
comando e subordinação; Violação das obrigações e deveres militares; Crimes militares; Contravenções ou transgres-
sões disciplinares...................................................................................................................................................................................................... 01
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Lei nº 6.880, de 9 dezembro de 1980 e suas posteriores alterações. Estatuto dos Militares. Títulos I e II. Brasília,
1980. Diário Oficial da União............................................................................................................................................................................... 01
SUMÁRIO
Tradições Navais
Bibliografia Sugerida
Doutrina de Liderança da Marinha – Chefia e Liderança; Aspectos Fundamentais da Liderança; Estilos de Liderança;
Seleção de Estilos de Liderança; Fatores da Liderança; Atributos de um Líder; Níveis de Liderança...................................... 01
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Armada. EMA-137 – Doutrina de Liderança da Marinha. Capítulo 1, rev. 1.
Brasília, 2013............................................................................................................................................................................................................... 01
SUMÁRIO
História Naval
A História da Navegação: Os navios de madeira: construindo embarcações e navios; O desenvolvimento dos navios
portugueses; O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as cartas de marear; A vida a bordo dos
navios veleiros............................................................................................................................................................................................................ 01
A Expansão Marítima Europeia e o Descobrimento do Brasil: Fundamentos da organização do Estado português e a
expansão ultramarina: Lusitânia; Ordens militares e religiosas; O papel da nobreza; A importância do mar na formação
de Portugal; Desenvolvimento econômico e social; A descoberta do Brasil;................................................................................... 02
O reconhecimento da costa brasileira: A expedição de 1501/1502; ................................................................................................... 06
A expedição de 1502/1503; ................................................................................................................................................................................. 06
A expedição de 1503/1504; ................................................................................................................................................................................. 06
As expedições guarda-costas; ............................................................................................................................................................................ 06
A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa........................................................................................................................... 06
Invasões Estrangeiras ao Brasil: Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão: Rio de Janeiro; Maranhão;
Invasores na foz do Amazonas: Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco: Holandeses na Bahia; A ocupação do
Nordeste brasileiro; A insurreição em Pernambuco; A derrota dos holandeses em Recife; Corsários franceses no Rio de
Janeiro no século XVIII; Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil.................................................................................................... 07
Formação da Marinha Imperial Brasileira: A vinda da Família Real; Política externa de D. João e a atuação da Marinha:
a conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista de 1817 e a atuação
da Marinha; Guerra de independência; Elevação do Brasil a Reino Unido; O retorno de D. João VI para Portugal; A
Independência; A Formação de uma Esquadra Brasileira; Operações Navais; Confederação do Equador........................... 13
A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início do Segundo Reinado.................................................................... 17
Conflitos internos; Cabanagem; ....................................................................................................................................................................... 19
Guerra dos Farrapos; .............................................................................................................................................................................................. 19
Sabinada; .................................................................................................................................................................................................................... 19
Balaiada; ...................................................................................................................................................................................................................... 19
Revolta Praieira;......................................................................................................................................................................................................... 20
Conflitos externos; Guerra Cisplatina; ............................................................................................................................................................. 20
Guerra contra Oribe e Rosas................................................................................................................................................................................ 23
A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai: O bloqueio do Rio Paraná e a
Batalha Naval do Riachuelo; Navios encouraçados e a invasão do Paraguai; Curuzu e Curupaiti; Caxias e Inhaúma;
Passagem de Curupaiti; Passagem de Humaitá; O recuo das forças paraguaias; O avanço aliado e a Dezembrada; A
ocupação de Assunção e a fase final da guerra........................................................................................................................................... 24
A Marinha na República: Primeira Guerra Mundial: Antecedentes; O preparo do Brasil; A Divisão Naval em Operações de
Guerra; O Período entre Guerras; A situação em 1940; Segunda Guerra mundial: Antecedentes; Início das hostilidades
e ataques aos nossos navios mercantes; A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e
defesa ativa da costa brasileira; Defesas Locais; Defesa Ativa; A Força Naval do Nordeste; E o que ficou?........................ 29
O Emprego Permanente do Poder Naval: O Poder Naval na guerra e na paz: Classificação; A percepção do Poder Naval;
O emprego permanente do Poder Naval........................................................................................................................................................ 39
LÍNGUA PORTUGUESA
GRAMÁTICA - Sistema ortográfico em vigor: emprego das letras, acentuação gráfica e uso do sinal indicador de crase;
Morfossintaxe: estrutura e formação de palavras; Classes de palavras e valores sintáticos; Flexão (nominal e verbal);
Frase, oração, período; Estrutura da frase; A ordem de colocação dos termos na frase; Pontuação; Relações de sentido
na construção do período; Concordância (nominal e verbal); Regência (nominal e verbal); Colocação pronominal; As
relações de sentido na construção do texto: denotação, conotação; ambiguidade e polissemia........................................... 01
COMPREENSÃO E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO - Leitura e análise de textos; Os propósitos do autor e suas implica-
ções na organização do texto; informações implícitas e explícitas; Tipologia textual e gêneros discursivos; Os fatores
determinantes da textualidade: coesão, coerência, intencionalidade; aceitabilidade; situacionalidade; informatividade e
intertextualidade; Variação linguística: as várias normas e a variedade padrão; Processos argumentativos....................... 50
LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
01.E 02. D 03. C 04. A 05. B 6-) Futuro do verbo “crescer”: crescerão. Teremos: mas
06. E 07. C 08. E 09. A 10. C elas crescerão...
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LÍNGUA PORTUGUESA
D) É difícil entender o por quê (o porquê) de tanto so- 11. Nas formações em que o prefixo ou pseudo prefixo
frimento, principalmente daqueles que procuram viver com termina na mesma vogal do segundo elemento: micro-ondas,
dignidade e simplicidade. eletro-ótica, semi-interno, auto-observação, etc.
E) As dificuldades por que (= pelas quais; correto) pas- Obs: O hífen é suprimido quando para formar outros ter-
samos certamente nos fazem mais fortes e preparados mos: reaver, inábil, desumano, lobisomem, reabilitar.
para os infortúnios da vida.
- Lembre-se: ao separar palavras na translineação (mu-
9-) Por que essa cara? = é uma pergunta e o pronome dança de linha), caso a última palavra a ser escrita seja formada
está longe do ponto de interrogação. por hífen, repita-o na próxima linha. Exemplo: escreverei anti
-inflamatório e, ao final, coube apenas “anti-”. Na linha debaixo
10-) autopsia s.f., autópsia s.f.; cf. autopsia escreverei: “-inflamatório” (hífen em ambas as linhas).
(fonte: http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/
sys/start.htm?sid=23) Não se emprega o hífen:
RESPOSTA: “CERTO”.
1. Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina
HÍFEN em vogal e o segundo termo inicia-se em “r” ou “s”. Nesse caso,
passa-se a duplicar estas consoantes: antirreligioso, contrarre-
O hífen é um sinal diacrítico (que distingue) usado gra, infrassom, microssistema, minissaia, microrradiografia, etc.
para ligar os elementos de palavras compostas (couve-flor, 2. Nas constituições em que o prefixo ou pseudoprefixo ter-
ex-presidente) e para unir pronomes átonos a verbos (ofe- mina em vogal e o segundo termo inicia-se com vogal diferente:
receram-me; vê-lo-ei). antiaéreo, extraescolar, coeducação, autoestrada, autoaprendiza-
Serve igualmente para fazer a translineação de pala- gem, hidroelétrico, plurianual, autoescola, infraestrutura, etc.
vras, isto é, no fim de uma linha, separar uma palavra em 3. Nas formações, em geral, que contêm os prefixos “dês”
duas partes (ca-/sa; compa-/nheiro). e “in” e o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, iná-
Uso do hífen que continua depois da Reforma Or- bil, desabilitar, etc.
tográfica: 4. Nas formações com o prefixo “co”, mesmo quando o
segundo elemento começar com “o”: cooperação, coobrigação,
1. Em palavras compostas por justaposição que formam coordenar, coocupante, coautor, coedição, coexistir, etc.
uma unidade semântica, ou seja, nos termos que se unem 5. Em certas palavras que, com o uso, adquiriram noção de
para formar um novo significado: tio-avô, porto-alegrense, composição: pontapé, girassol, paraquedas, paraquedista, etc.
6. Em alguns compostos com o advérbio “bem”: benfeito,
luso-brasileiro, tenente-coronel, segunda-feira, conta-gotas,
benquerer, benquerido, etc.
guarda-chuva, arco- -íris, primeiro-ministro, azul-escuro.
2. Em palavras compostas por espécies botânicas e
Questões sobre Hífen
zoológicas: couve-flor, bem-te-vi, bem-me-quer, abóbora-
menina, erva-doce, feijão-verde.
01.Assinale a alternativa em que o hífen, conforme o novo
3. Nos compostos com elementos além, aquém, recém
Acordo, está sendo usado corretamente:
e sem: além-mar, recém-nascido, sem-número, recém-casa-
A) Ele fez sua auto-crítica ontem.
do, aquém- -fiar, etc. B) Ela é muito mal-educada.
4. No geral, as locuções não possuem hífen, mas algu- C) Ele tomou um belo ponta-pé.
mas exceções continuam por já estarem consagradas pelo D) Fui ao super-mercado, mas não entrei.
uso: cor- -de-rosa, arco-da-velha, mais-que-perfeito, pé- E) Os raios infra-vermelhos ajudam em lesões.
de-meia, água-de- -colônia, queima-roupa, deus-dará.
5. Nos encadeamentos de vocábulos, como: ponte Rio- 02.Assinale a alternativa errada quanto ao emprego do
Niterói, percurso Lisboa-Coimbra-Porto e nas combinações hífen:
históricas ou ocasionais: Áustria-Hungria, Angola-Brasil, Al- A) Pelo interfone ele comunicou bem-humorado que faria
sácia-Lorena, etc. uma superalimentação.
6. Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super- B) Nas circunvizinhanças há uma casa malassombrada.
quando associados com outro termo que é iniciado por r: C) Depois de comer a sobrecoxa, tomou um antiácido.
hiper-resistente, inter-racial, super-racional, etc. D) Nossos antepassados realizaram vários anteprojetos.
7. Nas formações com os prefixos ex-, vice-: ex-diretor, E) O autodidata fez uma autoanálise.
ex- -presidente, vice-governador, vice-prefeito.
8. Nas formações com os prefixos pós-, pré- e pró-: 03.Assinale a alternativa incorreta quanto ao emprego do
pré-natal, pré-escolar, pró-europeu, pós-graduação, etc. hífen, respeitando-se o novo Acordo.
9. Na ênclise e mesóclise: amá-lo, deixá-lo, dá-se, abra- A) O semi-analfabeto desenhou um semicírculo.
ça-o, lança-o e amá-lo-ei, falar-lhe-ei, etc. B) O meia-direita fez um gol de sem-pulo na semifinal do
10. Nas formações em que o prefixo tem como segun- campeonato.
do termo uma palavra iniciada por “h”: sub-hepático, ele- C) Era um sem-vergonha, pois andava seminu.
tro-higrómetro, geo-história, neo-helênico, extra-humano, D) O recém-chegado veio de além-mar.
semi-hospitalar, super- -homem. E) O vice-reitor está em estado pós-operatório.
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
ACENTUAÇÃO GRÁFICA acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com
artigos e pronomes. Ex.: à – às – àquelas – àqueles
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as re-
gras estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se com- trema ( ¨ ) – De acordo com a nova regra, foi totalmente
põe de algumas particularidades, às quais devemos estar abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em pala-
atentos, procurando estabelecer uma relação de familia- vras derivadas de nomes próprios estrangeiros. Ex.: mülleria-
ridade e, consequentemente, colocando-as em prática na no (de Müller)
linguagem escrita.
À medida que desenvolvemos o hábito da leitura e a til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais
prática de redigir, automaticamente aprimoramos essas nasais. Ex.: coração – melão – órgão – ímã
competências, e logo nos adequamos à forma padrão.
Regras fundamentais:
Regras básicas – Acentuação tônica
Palavras oxítonas:
A acentuação tônica implica na intensidade com que Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”,
são pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá “o”, “em”, seguidas ou não do plural(s): Pará – café(s) – cipó(s)
de forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. – armazém(s)
As demais, como são pronunciadas com menos intensida- Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
de, são denominadas de átonas. Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, segui-
dos ou não de “s”. Ex.: pá – pé – dó – há
De acordo com a tonicidade, as palavras são classifica- Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, se-
das como: guidas de lo, la, los, las. Ex. respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo
Os monossílabos classificam-se como tônicos; os de- * Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma
mais, como átonos (que, em, de). palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são acen-
tuados. Ex.: herói, céu, dói, escarcéu.
Os acentos
Antes Agora
acento agudo (´) – Colocado sobre as letras «a», «i», assembléia assembleia
«u» e sobre o «e» do grupo “em” - indica que estas letras idéia ideia
representam as vogais tônicas de palavras como Amapá, geléia geleia
caí, público, parabéns. Sobre as letras “e” e “o” indica, além jibóia jiboia
da tonicidade, timbre aberto.Ex.: herói – médico – céu (di- apóia (verbo apoiar) apoia
tongos abertos) paranóico paranoico
acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompa-
“e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado: Ex.: nhados ou não de “s”, haverá acento. Ex.: saída – faísca – baú
tâmara – Atlântico – pêssego – supôs – país – Luís
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
05. (ANATEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- 2-) Para que saibamos qual alternativa assinalar, primeiro
PE/2012) Nas palavras “análise” e “mínimos”, o emprego temos que classificar as palavras do enunciado quanto à posi-
do acento gráfico tem justificativas gramaticais diferentes. ção de sua sílaba tônica:
( ) CERTO Intercâmbio = paroxítona terminada em ditongo; Antro-
( ) ERRADO pológico = proparoxítona (todas são acentuadas). Agora, va-
mos à análise dos itens apresentados:
06. (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- (A) Distúrbio = paroxítona terminada em ditongo; acór-
PE/2012) Os vocábulos “indivíduo”, “diária” e “paciência” dão = paroxítona terminada em “ão”
recebem acento gráfico com base na mesma regra de (B) Máquina = proparoxítona; jiló = oxítona terminada em
acentuação gráfica. “o”
( ) CERTO (C) Alvará = oxítona terminada em “a”; Vândalo = propa-
( ) ERRADO roxítona
(D) Consciência = paroxítona terminada em ditongo; ca-
07. (BACEN – TÉCNICO DO BANCO CENTRAL – CES- racterísticas = proparoxítona
GRANRIO/2010) As palavras que se acentuam pelas mes- (E) Órgão e órfãs = ambas: paroxítona terminada em “ão”
mas regras de “conferência”, “razoável”, “países” e “será”, e “ã”, respectivamente.
respectivamente, são
a) trajetória, inútil, café e baú. 3-) “Conteúdo” é acentuada seguindo a regra do hiato;
b) exercício, balaústre, níveis e sofá. calúnia = paroxítona terminada em ditongo; injúria = paroxí-
c) necessário, túnel, infindáveis e só. tona terminada em ditongo.
d) médio, nível, raízes e você. RESPOSTA: “ERRADO”.
e) éter, hífen, propôs e saída.
4-)
08. (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) São acen- A) tevê – pôde – vê
tuados graficamente de acordo com a mesma regra de Tevê = oxítona terminada em “e”; pôde (pretérito perfeito
acentuação gráfica os vocábulos do Indicativo) = acento diferencial (que ainda prevalece após
A) também e coincidência. o Novo Acordo Ortográfico) para diferenciar de “pode” – pre-
B) quilômetros e tivéssemos. sente do Indicativo; vê = monossílaba terminada em “e”
C) jogá-la e incrível. B) únicas – histórias – saudáveis
D) Escócia e nós. Únicas = proparoxítona; história = paroxítona terminada
E) correspondência e três. em ditongo; saudáveis = paroxítona terminada em ditongo.
09. (IBAMA – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CES- C) indivíduo – séria – noticiários
PE/2012) As palavras “pó”, “só” e “céu” são acentuadas de Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; séria =
acordo com a mesma regra de acentuação gráfica. paroxítona terminada em ditongo; noticiários = paroxítona
( ) CERTO terminada em ditongo.
( ) ERRADO D) diário – máximo – satélite
Diário = paroxítona terminada em ditongo; máximo =
GABARITO proparoxítona; satélite = proparoxítona.
5-) Análise = proparoxítona / mínimos = proparoxítona.
01. E 02. D 03. E 04. C 05. E Ambas são acentuadas pela mesma regra (antepenúltima sí-
06. C 07. D 08. B 09. E laba é tônica, “mais forte”).
RESPOSTA: “ERRADO”.
RESOLUÇÃO
6-) Indivíduo = paroxítona terminada em ditongo; diária
1-) Década = proparoxítona / relógios = paroxítona = paroxítona terminada em ditongo; paciência = paroxítona
terminada em ditongo / suíços = regra do hiato terminada em ditongo. Os três vocábulos são acentuados de-
(A) flexíveis e cartório = paroxítonas terminadas em vido à mesma regra.
ditongo / tênis = paroxítona terminada em “i” (seguida RESPOSTA: “CERTO”.
de “s”)
(B) inferência = paroxítona terminada em ditongo / 7-) Vamos classificar as palavras do enunciado:
provável = paroxítona terminada em “l” / saída = regra do 1-) Conferência = paroxítona terminada em ditongo
hiato 2-) razoável = paroxítona terminada em “l’
(C) óbvio = paroxítona terminada em ditongo / após 3-) países = regra do hiato
= oxítona terminada em “o” + “s” / países = regra do hiato 4-) será = oxítona terminada em “a”
(D) islâmico = proparoxítona / cenário = paroxítona
terminada em ditongo / propôs = oxítona terminada em a) trajetória, inútil, café e baú.
“o” + “s” Trajetória = paroxítona terminada em ditongo; inútil =
(E) república = proparoxítona / empresária = paroxíto- paroxítona terminada em “l’; café = oxítona terminada em “e”
na terminada em ditongo / graúda = regra do hiato b) exercício, balaústre, níveis e sofá.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Exercício = paroxítona terminada em ditongo; balaústre = No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (co-
regra do hiato; níveis = paroxítona terminada em “i + s”; sofá = nhecer algo ou alguém), logo não exige preposição e a
oxítona terminada em “a”. crase não pode ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é
c) necessário, túnel, infindáveis e só. transitivo indireto (referir--se a algo ou a alguém) e exige
Necessário = paroxítona terminada em ditongo; túnel = a preposição “a”. Portanto, a crase é possível, desde que o
paroxítona terminada em “l’; infindáveis = paroxítona terminada termo seguinte seja feminino e admita o artigo feminino
em “i + s”; só = monossílaba terminada em “o”. “a” ou um dos pronomes já especificados.
d) médio, nível, raízes e você.
Médio = paroxítona terminada em ditongo; nível = paro- Casos em que a crase NÃO ocorre:
xítona terminada em “l’; raízes = regra do hiato; será = oxítona
terminada em “a”. - diante de substantivos masculinos:
e) éter, hífen, propôs e saída. Andamos a cavalo.
Éter = paroxítona terminada em “r”; hífen = paroxítona ter- Fomos a pé.
minada em “n”; propôs = oxítona terminada em “o + s”; saída = Passou a camisa a ferro.
regra do hiato. Fazer o exercício a lápis.
Compramos os móveis a prazo.
8-)
A) também e coincidência. - diante de verbos no infinitivo:
Também = oxítona terminada em “e + m”; coincidência = A criança começou a falar.
paroxítona terminada em ditongo Ela não tem nada a dizer.
B) quilômetros e tivéssemos.
Quilômetros = proparoxítona; tivéssemos = proparoxítona Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos
C) jogá-la e incrível. exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá
Oxítona terminada em “a”; incrível = paroxítona terminada em “l’ crase.
D) Escócia e nós.
Escócia = paroxítona terminada em ditongo; nós = monos-
- diante da maioria dos pronomes e das expressões
sílaba terminada em “o + s”
de tratamento, com exceção das formas senhora, se-
E) correspondência e três.
nhorita e dona:
Correspondência = paroxítona terminada em ditongo; três
Diga a ela que não estarei em casa amanhã.
= monossílaba terminada em “e + s”
Entreguei a todos os documentos necessários.
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de on-
9-) Pó = monossílaba terminada em “o”; só = monossílaba
terminada em “o”; céu = monossílaba terminada em ditongo tem.
aberto “éu”. Peço a Vossa Senhoria que aguarde alguns minutos.
RESPOSTA: “ERRADO”.
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pro-
CRASE nomes podem ser identificados pelo método: troque a pa-
lavra feminina por uma masculina, caso na nova construção
A palavra crase é de origem grega e significa “fusão”, “mis- surgir a forma ao, ocorrerá crase. Por exemplo:
tura”. Na língua portuguesa, é o nome que se dá à “junção” de Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo in-
duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da pre- divíduo.)
posição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao
pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo senhor.)
a qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da próprio Cláudio para sair mais cedo.)
compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também,
para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos - diante de numerais cardinais:
e nomes que exigem a preposição “a”. Aprender a usar a crase, Chegou a duzentos o número de feridos.
portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência simultâ- Daqui a uma semana começa o campeonato.
nea de uma preposição e um artigo ou pronome. Observe:
Vou a + a igreja. Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
Vou à igreja.
- diante de palavras femininas:
No exemplo acima, temos a ocorrência da preposição “a”, Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
exigida pelo verbo ir (ir a algum lugar) e a ocorrência do artigo Sempre vamos à praia no verão.
“a” que está determinando o substantivo feminino igreja. Quan- Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
do ocorre esse encontro das duas vogais e elas se unem, a união Sou grata à população.
delas é indicada pelo acento grave. Observe os outros exemplos: Fumar é prejudicial à saúde.
Conheço a aluna. Este aparelho é posterior à invenção do telefone.
Refiro-me à aluna.
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LÍNGUA PORTUGUESA
- diante da palavra “moda”, com o sentido de “à Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele
moda de” (mesmo que a expressão moda de fique suben- (s), Aquela (s), Aquilo
tendida):
O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. Haverá crase diante desses pronomes sempre que o ter-
Usava sapatos à (moda de) Luís XV. mo regente exigir a preposição “a”. Por exemplo:
Estava com vontade de comer frango à (moda de) pas-
sarinho. Refiro-me a + aquele atentado.
O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro. Preposição Pronome
Refiro-me àquele atentado.
- na indicação de horas:
Acordei às sete horas da manhã. O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo
Elas chegaram às dez horas. indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposi-
ção, portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo:
Foram dormir à meia-noite.
Aluguei aquela casa.
- em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não
de que participam palavras femininas. Por exemplo:
exige preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. Veja
à tarde às ocultas às pressas à me- outros exemplos:
dida que Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho.
à noite às claras às escondidas à força Quero agradecer àqueles que me socorreram.
à vontade à beça à larga à escuta Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai.
às avessas à revelia à exceção de à imitação de Não obedecerei àquele sujeito.
à esquerda às turras às vezes à chave Assisti àquele filme três vezes.
à direita à procura à deriva à toa Espero aquele rapaz.
à luz à sombra de à frente de à proporção que Fiz aquilo que você disse.
à semelhança de às ordens à beira de Comprei aquela caneta.
Crase diante de Nomes de Lugar Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais
Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e
artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo as quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses prono-
que diante deles haverá crase, desde que o termo regente mes exigir a preposição “a”, haverá crase. É possível detectar
exija a preposição “a”. Para saber se um nome de lugar ad- a ocorrência da crase nesses casos utilizando a substituição
mite ou não a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se do termo regido feminino por um termo regido masculino.
substituir o termo regente por um verbo que peça a prepo- Por exemplo:
sição “de” ou “em”. A ocorrência da contração “da” ou “na”
prova que esse nome de lugar aceita o artigo e, por isso, A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
haverá crase. Por exemplo: O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade.
Vou à França. (Vim da [de+a] França. Estou na [em+a] Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a
crase. Veja outros exemplos:
França.)
São normas às quais todos os alunos devem obedecer.
Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam res-
Vou a Porto Alegre. (Vim de Porto Alegre. Estou em Por-
ponder nenhuma das questões.
to Alegre.) A sessão à qual assisti estava vazia.
*- Dica da Zê!: use a regrinha “Vou A volto DA, crase Crase com o Pronome Demonstrativo “a”
HÁ; vou A volto DE, crase PRA QUÊ?”
Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas. A ocorrência da crase com o pronome demonstrativo “a”
Vou à praia. = Volto da praia. também pode ser detectada através da substituição do termo
regente feminino por um termo regido masculino. Veja:
- ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especifi- Minha revolta é ligada à do meu país.
cado, ocorrerá crase. Veja: Meu luto é ligado ao do meu país.
Retornarei à São Paulo dos bandeirantes. = mesmo As orações são semelhantes às de antes.
que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE” Os exemplos são semelhantes aos de antes.
Irei à Salvador de Jorge Amado. Suas perguntas são superiores às dele.
Seus argumentos são superiores aos dele.
Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Se a palavra distância estiver especificada, determina- 01.( Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) No Brasil, as discus-
da, a crase deve ocorrer. Por exemplo: Sua casa fica à dis- sões sobre drogas parecem limitar-se ______aspectos jurídicos ou
tância de 100km daqui. (A palavra está determinada) policiais. É como se suas únicas consequências estivessem em
Todos devem ficar à distância de 50 metros do palco. (A legalismos, tecnicalidades e estatísticas criminais. Raro ler ____
palavra está especificada.) respeito envolvendo questões de saúde pública como programas
Se a palavra distância não estiver especificada, a crase de esclarecimento e prevenção, de tratamento para dependen-
não pode ocorrer. Por exemplo: tes e de reintegração desses____ vida. Quantos de nós sabemos
Os militares ficaram a distância. o nome de um médico ou clínica ____quem tentar encaminhar
Gostava de fotografar a distância. um drogado da nossa própria família?
Ensinou a distância. (Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo,
Dizem que aquele médico cura a distância. 17.09.2012. Adaptado)
Reconheci o menino a distância. As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e res-
pectivamente, com:
Observação: por motivo de clareza, para evitar ambi- (A) aos … à … a … a
guidade, pode-se usar a crase. Veja: (B) aos … a … à … a
Gostava de fotografar à distância. (C) a … a … à … à
Ensinou à distância. (D) à … à … à … à
Dizem que aquele médico cura à distância. (E) a … a … a … a
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA 02. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013).Leia o
texto a seguir.
- diante de nomes próprios femininos: Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do pro-
Observação: é facultativo o uso da crase diante de no-
cedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu--lhe
mes próprios femininos porque é facultativo o uso do ar-
______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez.
tigo. Observe:
(Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
de Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na
ordem dada:
Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
A) à – a – a
feminino diante de nomes próprios femininos, então pode- B) a – a – à
mos escrever as frases abaixo das seguintes formas: C) à – a – à
Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a Ro- D) à – à – a
berto. E) a – à – à
Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao Ro-
berto. 03 (POLÍCIA CIVIL/SP – AGENTE POLICIAL - VUNESP/2013)
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, o acen-
- diante de pronome possessivo feminino: to indicativo de crase está corretamente empregado em:
Observação: é facultativo o uso da crase diante de pro- (A) A população, de um modo geral, está à espera de que,
nomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do com o novo texto, a lei seca possa coibir os acidentes.
artigo. Observe: (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está esperan- rem a sua postura.
do por você. (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está es- ções muito mais severas.
perando por você. (D) À ninguém é dado o direito de colocar em risco a vida
Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de dos demais motoristas e de pedestres.
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever (E) Cabe à todos na sociedade zelar pelo cumprimento da
as frases abaixo das seguintes formas: nova lei para que ela possa funcionar.
Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô. 04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.) Claro que não me es-
tou referindo a essa vulgar comunicação festiva e efervescente.
- depois da preposição até: O vocábulo a deverá receber o sinal indicativo de crase se
Fui até a praia. ou Fui até à praia. o segmento grifado for substituído por:
Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o A) leitura apressada e sem profundidade.
até à porta. B) cada um de nós neste formigueiro.
A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou A C) exemplo de obras publicadas recentemente.
palestra vai até às cinco horas da tarde. D) uma comunicação festiva e virtual.
E) respeito de autores reconhecidos pelo público.
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LÍNGUA PORTUGUESA
05. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU- 09. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
NESP – 2013). O detetive Gervase Fen, que apareceu em 1944, é um homem
O Instituto Nacional de Administração Prisional (INAP) de face corada, muito afeito ...... frases inteligentes e citações dos
também desenvolve atividades lúdicas de apoio______ res- clássicos; sua esposa, Dolly, uma dama meiga e sossegada, fica
socialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepará- sentada tricotando tranquilamente, impassível ...... propensão de
-lo para o retorno______ sociedade. Dessa forma, quando em seu marido ...... investigar assassinatos.
liberdade, ele estará capacitado______ ter uma profissão e (Adaptado de P.D.James, op.cit.)
uma vida digna. Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na or-
(Disponível em: www.metropolitana.com.br/blog/ dem dada:
qual_e_a_importancia_da_ressocializacao_de_presos. Aces- (A) à - à - a
so em: 18.08.2012. Adaptado) (B) a - à - a
Assinale a alternativa que preenche, correta e respecti- (C) à - a - à
vamente, as lacunas do texto, de acordo com a norma-pa- (D) a - à - à
drão da língua portuguesa. (E) à - a – a
A) à … à … à
B) a … a … à 10. (POLÍCIA MILITAR DO ESTADO DO ACRE – ALUNO SOL-
C) a … à … à DADO COMBATENTE – FUNCAB/2012) Em qual das opções
D) à … à ... a abaixo o acento indicativo de crase foi corretamente indicado?
E) a … à … a A) O dia fora quente, mas à noite estava fria e escura.
B) Ninguém se referira à essa ideia antes.
06. (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAU- C) Esta era à medida certa do quarto.
LO - ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) D) Ela fechou a porta e saiu às pressas.
Assinale a alternativa que completa as lacunas do trecho a E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo.
seguir, empregando o sinal indicativo de crase de acordo
GABARITO
com a norma-padrão.
01. B 02. A 03. A 04. A 05. D
Não nos sujeitamos ____ corrupção; tampouco cedere-
06.C 07. E 08. B 09.B 10. D
mos espaço ____ nenhuma ação que se proponha ____ preju-
dicar nossas instituições.
RESOLUÇÃO
(A) à … à … à
(B) a … à … à
1-) limitar-se _aos _aspectos jurídicos ou policiais.
(C) à … a … a Raro ler __a__respeito (antes de palavra masculina não há crase)
(D) à … à … a de reintegração desses_à_ vida. (reintegrar a + a vida = à)
(E) a … a … à o nome de um médico ou clínica __a_quem tentar encami-
nhar um drogado da nossa própria família? (antes de pronome
07. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU- indefinido/relativo)
NESP – 2013-adap) O acento indicativo de crase está corre-
tamente empregado em: 2-) correu _à (= para a ) cartomante para consultá-la sobre
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas a verdadeira causa do procedimento de Camilo. Vimos que _a__
com as dificuldades para lidar com as frustrações de seus cartomante (objeto direto)restituiu-lhe ___a___ confiança (obje-
desejos. to direto), e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o que fez.
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações
nos mecanismos biológicos de controle emocional. 3-)
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. (A) A população, de um modo geral, está à espera (dá para
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunida- substituir por “esperando”) de que
de alimentam a violência crescente nas cidades. (B) A nova lei chega para obrigar os motoristas à repensa-
E) Um ambiente desfavorável à formação da personali- rem (antes de verbo)
dade atinge os mais vulneráveis. (C) A partir de agora os motoristas estarão sujeitos à puni-
ções (generalizando, palavra no plural)
08. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP – 2013). (D) À ninguém (pronome indefinido)
O sinal indicativo de crase está correto em: (E) Cabe à todos (pronome indefinido)
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na
área de biotecnologia. 4-) Claro que não me estou referindo à leitura apressada e
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar sem profundidade.
à educação dos filhos. a cada um de nós neste formigueiro. (antes de pronome
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar indefinido)
as instalações do prédio. a exemplo de obras publicadas recentemente. (palavra
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer masculina)
detalhe que envolva a segurança das pessoas. a uma comunicação festiva e virtual. (artigo indefinido)
E) É função da política é dedicar-se à todo problema a respeito de autores reconhecidos pelo público. (palavra
que comprometa o bem-estar do cidadão. masculina)
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LÍNGUA PORTUGUESA
5-) O Instituto Nacional de Administração Prisional 9-) Afeito a frases (generalizando, já que o “a” está no
(INAP) também desenvolve atividades lúdicas de apoio___à__ singular e “frases”, no plural)
ressocialização do indivíduo preso, com o objetivo de prepa- Impassível à propensão (regência nominal: pede pre-
rá--lo para o retorno___à__ sociedade. Dessa forma, quando posição)
em liberdade, ele estará capacitado__a___ ter uma profissão A investigar (antes de verbo no infinitivo não há acen-
e uma vida digna. to indicativo de crase)
- Apoio a ? Regência nominal pede preposição; Sequência: a / à / a.
- retorno a? regência nominal pede preposição;
- antes de verbo no infinitivo não há crase. 10-)
A) O dia fora quente, mas à noite = mas a noite (artigo e
6-) Vamos por partes! substantivo. Diferente de: Estudo à noite = período do dia)
- Quem se sujeita, sujeita-se A algo ou A alguém, por- B) Ninguém se referira à essa ideia antes.= a essa (antes
tanto: pede preposição; de pronome demonstrativo)
- quem cede, cede algo A alguém, então teremos ob- C) Esta era à medida certa do quarto. = a medida (arti-
jeto direto e indireto; go e substantivo, no caso. Diferente da conjunção propor-
- quem se propõe, propõe-se A alguma coisa. cional: À medida que lia, mais aprendia)
Vejamos: D) Ela fechou a porta e saiu às pressas. = correta (advér-
Não nos sujeitamos À corrupção; tampouco cedere- bio de modo = apressadamente)
mos espaço A nenhuma ação que se proponha A prejudicar E) Os rapazes sempre gostaram de andar à cavalo. =
nossas instituições. palavra masculina
* Sujeitar A + A corrupção;
* ceder espaço (objeto direto) A nenhuma ação (objeto ESTRUTURA E FORMAÇÃO DE PALAVRAS
indireto. Não há acento indicativo de crase, pois “nenhu-
ma” é pronome indefinido); Estudar a estrutura é conhecer os elementos formado-
* que se proponha A prejudicar (objeto indireto, no res das palavras. Assim, compreendemos melhor o signifi-
caso, oração subordinada com função de objeto indireto. cado de cada uma delas. As palavras podem ser divididas
Não há acento indicativo de crase porque temos um verbo em unidades menores, a que damos o nome de elementos
no infinitivo – “prejudicar”). mórficos ou morfemas.
Vamos analisar a palavra “cachorrinhas”. Nessa palavra
7-) observamos facilmente a existência de quatro elementos.
A) Tendências agressivas começam à ser relacionadas São eles:
com as dificuldades para lidar com as frustrações de seus cachorr - este é o elemento base da palavra, ou seja,
desejos. (antes de verbo no infinitivo não há crase) aquele que contém o significado.
B) A agressividade impulsiva deve-se à perturbações inh - indica que a palavra é um diminutivo
nos mecanismos biológicos de controle emocional. (se a - indica que a palavra é feminina
o “a” está no singular e antecede palavra no plural, não há s - indica que a palavra se encontra no plural
crase)
C) A violência urbana é comparada à uma enfermidade. Morfemas: unidades mínimas de caráter significativo.
(artigo indefinido) Existem palavras que não comportam divisão em unidades
D) Condições de risco aliadas à exemplo de impunida- menores, tais como: mar, sol, lua, etc. São elementos mór-
de alimentam a violência crescente nas cidades. (palavra ficos:
masculina) - Raiz, Radical, Tema: elementos básicos e significa-
E) Um ambiente desfavorável à formação da personali- tivos
dade atinge os mais vulneráveis. = correta (regência nomi- - Afixos (Prefixos, Sufixos), Desinência, Vogal Temá-
nal: desfavorável a?) tica: elementos modificadores da significação dos primei-
ros
8-) - Vogal de Ligação, Consoante de Ligação: elementos
A) Este cientista tem se dedicado à uma pesquisa na de ligação ou eufônicos.
área de biotecnologia. (artigo indefinido)
B) Os pais não podem ser omissos e devem se dedicar Raiz: É o elemento originário e irredutível em que se
à educação dos filhos. = correta (regência verbal: dedicar a ) concentra a significação das palavras, consideradas do ân-
C) Nossa síndica dedica-se integralmente à conservar gulo histórico. É a raiz que encerra o sentido geral, comum
as instalações do prédio. (verbo no infinitivo) às palavras da mesma família etimológica. Exemplo: Raiz
D) O bombeiro deve dedicar sua atenção à qualquer noc [Latim nocere = prejudicar] tem a significação geral de
detalhe que envolva a segurança das pessoas. (pronome causar dano, e a ela se prendem, pela origem comum, as
indefinido) palavras nocivo, nocividade, inocente, inocentar, inócuo, etc.
E) É função da política é dedicar-se à todo problema
que comprometa o bem-estar do cidadão. (pronome in- Uma raiz pode sofrer alterações: at-o; at-or; at-ivo; aç
definido) -ão; ac-ionar;
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Sufixos que formam nomes de ação: -ada – caminha- Sufixos Adverbiais: Na Língua Portuguesa, existe apenas
da; -ança – mudança; -ância – abundância; -ção – emoção; um único sufixo adverbial: É o sufixo “-mente”, derivado do
-dão – solidão; -ença – presença; -ez(a) – sensatez, beleza; substantivo feminino latino mens, mentis que pode significar
-ismo – civismo; -mento – casamento; -são – compreen- “a mente, o espírito, o intento”.Este sufixo juntou-se a adjetivos,
são; -tude – amplitude; -ura – formatura. na forma feminina, para indicar circunstâncias, especialmente a
de modo. Exemplos: altiva-mente, brava-mente, bondosa-
Sufixos que formam nomes de agente: -ário(a) – se- mente, nervosa-mente, fraca-mente, pia-mente. Já os advér-
cretário; -eiro(a) – ferreiro; -ista – manobrista; -or – luta- bios que se derivam de adjetivos terminados em –ês (burgues-
dor; -nte – feirante. mente, portugues-mente, etc.) não seguem esta regra, pois
esses adjetivos eram outrora uniformes. Exemplos: cabrito
Sufixos que formam nomes de lugar, depositório: montês / cabrita montês.
-aria – churrascaria; -ário – herbanário; -eiro – açucareiro;
Sufixos Verbais: Os sufixos verbais agregam-se, via de re-
-or – corredor; -tério – cemitério; -tório – dormitório.
gra, ao radical de substantivos e adjetivos para formar novos
verbos. Em geral, os verbos novos da língua formam-se pelo
Sufixos que formam nomes indicadores de abun-
acréscimo da terminação-ar. Exemplos: esqui-ar; radiograf
dância, aglomeração, coleção: -aço – ricaço; -ada – pa-
-ar; (a)doç-ar; nivel-ar; (a)fin-ar; telefon-ar; (a)portugues-ar.
pelada; -agem – folhagem; -al – capinzal; -ame – gentame;
-ario(a) - casario, infantaria; -edo – arvoredo; -eria – cor-
Os verbos exprimem, entre outras ideias, a prática de ação.
reria; -io – mulherio; -ume – negrume.
-ar: cruzar, analisar, limpar
-ear: guerrear, golear
Sufixos que formam nomes técnicos usados na ciên- -entar: afugentar, amamentar
cia: -ficar: dignificar, liquidificar
-ite - bronquite, hepatite (inflamação), amotite (fós- -izar: finalizar, organizar
seis).
-oma - mioma, epitelioma, carcinoma (tumores). Verbo Frequentativo: é aquele que traduz ação repe-
-ato, eto, Ito - sulfato, cloreto, sulfito (sais), granito tida.
(pedra). Verbo Factitivo: é aquele que envolve ideia de fazer ou
-ina - cafeína, codeína (alcaloides, álcalis artificiais). causar.
-ol - fenol, naftol (derivado de hidrocarboneto). Verbo Diminutivo: é aquele que exprime ação pouco
-ema - morfema, fonema, semema, semantema (ciên- intensa.
cia linguística).
-io - sódio, potássio, selênio (corpos simples) Exercícios
Sufixo que forma nomes de religião, doutrinas fi-
losóficas, sistemas políticos: - ismo: budismo, kantismo, 01. Assinale a opção em que todas as palavras se formam
comunismo. pelo mesmo processo:
a) ajoelhar / antebraço / assinatura
Sufixos Formadores de Adjetivos b) atraso / embarque / pesca
c) o jota / o sim / o tropeço
- de substantivos: -aco – maníaco; -ado – barbado; d) entrega / estupidez / sobreviver
-áceo(a) - herbáceo, liláceas; -aico – prosaico; -al – anual; e) antepor / exportação / sanguessuga
-ar – escolar; -ário - diário, ordinário; -ático – problemá-
tico; -az – mordaz; -engo – mulherengo; -ento – cruento; 02. A palavra “aguardente” formou-se por:
-eo – róseo; -esco – pitoresco; -este – agreste; -estre – a) hibridismo
terrestre; -enho – ferrenho; -eno – terreno; -ício – ali- b) aglutinação
mentício; -ico – geométrico; -il – febril; -ino – cristalino; c) justaposição
-ivo – lucrativo; -onho – tristonho; -oso – bondoso; -udo d) parassíntese
– barrigudo. e) derivação regressiva
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03. Que item contém somente palavras formadas por 09. As palavras couve-flor, planalto e aguardente são for-
justaposição? madas por:
a) desagradável – complemente a) derivação
b) vaga-lume - pé-de-cabra b) onomatopeia
c) encruzilhada – estremeceu c) hibridismo
d) supersticiosa – valiosas d) composição
e) desatarraxou – estremeceu e) prefixação
04. “Sarampo” é: 10. Assinale a alternativa em que uma das palavras não é
a) forma primitiva formada por prefixação:
b) formado por derivação parassintética a) readquirir, predestinado, propor
c) formado por derivação regressiva b) irregular, amoral, demover
d) formado por derivação imprópria c) remeter, conter, antegozar
e) formado por onomatopéia d) irrestrito, antípoda, prever
e) dever, deter, antever
05. Numere as palavras da primeira coluna conforme
os processos de formação numerados à direita. Em segui- Respostas: 1-B / 2-B / 3-B / 4-C / 5-E / 6-E / 7-D / 8-A /
da, marque a alternativa que corresponde à sequência nu- 9-D / 10-E /
mérica encontrada:
( ) aguardente 1) justaposição CLASSES DE PALAVRAS
( ) casamento 2) aglutinação
( ) portuário 3) parassíntese Flexão Nominal
( ) pontapé 4) derivação sufixal
( ) os contras 5) derivação imprópria Flexão de número: Os nomes (substantivo, adjetivo
( ) submarino 6) derivação prefixal
etc.), de modo geral, admitem a flexão de número: singular e
( ) hipótese
plural: animal – animais.
- Na maioria das vezes, acrescenta-se S: ponte – pon-
a) 1, 4, 3, 2, 5, 6, 1
tes; bonito – bonitos.
b) 4, 1, 4, 1, 5, 3, 6
- Palavras terminadas em R ou Z: acrescenta-se ES:
c) 1, 4, 4, 1, 5, 6, 6
éter – éteres; avestruz – avestruzes. O pronome qualquer faz
d) 2, 3, 4, 1, 5, 3, 6
o plural no meio: quaisquer
e) 2, 4, 4, 1, 5, 3, 6
- Palavras oxítonas terminadas em S: acrescenta-se
06. Indique a palavra que foge ao processo de forma- ES: ananás – ananases. As paroxítonas e as proparoxítonas
ção de chapechape: são invariáveis: o pires − os pires, o ônibus − os ônibus
a) zunzum
b) reco-reco - Palavras terminadas em IL:
c) toque-toque átono: trocam IL por EIS: fóssil – fósseis.
d) tlim-tlim tônico: trocam L por S: funil – funis.
e) vivido
- Palavras terminadas em EL:
07. Em que alternativa a palavra sublinhada resulta de átono: plural em EIS: nível – níveis.
derivação imprópria? tônico: plural em ÉIS: carretel – carretéis.
a) Às sete horas da manhã começou o trabalho princi-
pal: a votação. - Palavras terminadas em X são invariáveis: o clímax
b) Pereirinha estava mesmo com a razão. Sigilo... Voto − os clímax.
secreto... Bobagens, bobagens!
c) Sem radical reforma da lei eleitoral, as eleições con- - Há palavras cuja sílaba tônica avança: júnior − juniores;
tinuariam sendo uma farsa! caráter – caracteres. A palavra
d) Não chegaram a trocar um isto de prosa, e se en- Caracteres é plural tanto de caractere quanto de caráter.
tenderam.
e) Dr. Osmírio andaria desorientado, senão bufando de raiva. - Palavras terminadas em ão fazem o plural em ãos,
ães e ões.
08. Assinale a série de palavras em que todas são for- Em ões: balões, corações, grilhões, melões, gaviões.
madas por parassíntese: Em ãos: pagãos, cristãos, cidadãos, bênçãos, órgãos. Os
a) acorrentar, esburacar, despedaçar, amanhecer paroxítonos, como os dois últimos, sempre fazem o plural
b) solução, passional, corrupção, visionário em ãos.
c) enrijecer, deslealdade, tortura, vidente Em ães: escrivães, tabeliães, capelães, capitães, alemães.
d) biografia, macróbio, bibliografia, asteróide Em ões ou ãos: corrimões/corrimãos, verões/verãos,
e) acromatismo, hidrogênio, litografar, idiotismo anões/anãos.
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Em ões ou ães: charlatões/charlatães, guardiões/guar- - Nenhum elemento varia. Quando há verbo mais
diães, cirugiões/cirurgiães. palavra invariável: O cola-tudo – os cola-tudo. Quando há
Em ões, ãos ou ães: anciões/anciãos/anciães, ermitões/ dois verbos de sentido oposto: o perde-ganha – os perde-
ermitãos/ermitães ganha. Nas frases substantivas (frases que se transformam
em substantivos): O maria-vai-com-as-outras − os maria-
- Plural dos diminutivos com a letra z. Coloca-se a vai-com-as-outras.
palavra no plural, corta-se o s e acrescenta-se zinhos (ou zi-
nhas): coraçãozinho – corações – coraçõe – coraçõezinhos. - São invariáveis arco-íris, louva-a-deus, sem-vergonha,
sem-teto e sem-terra: Os sem-terra apreciavam os arco-íris.
- Plural com metafonia (ô - ó). Algumas palavras, Admitem mais de um plural: pai-nosso − pais-nossos ou
quando vão ao plural, abrem o timbre da vogal “o”, outras pai-nossos; padre-nosso − padres-nossos ou padre-nos-
não. Com metafonia singular (ô) plural (ó): coro-coros; cor- sos; terra-nova − terras-novas ou terra-novas; salvo-con-
vo-corvos; destroço-destroços. Sem metafonia singular (ô) duto − salvos-condutos ou salvo-condutos; xeque-mate
plural (ô): adorno-adornos; bolso-bolsos; transtorno-trans- − xeques-mates ou xeques-mate; fruta-pão − frutas-pães
tornos. ou frutas-pão; guarda-marinha − guardas-marinhas ou
guardas-marinha. Casos especiais: palavras que não se en-
- Casos especiais: aval, avales e avaiscal − cales e cais- caixam nas regras: o bem-me-quer − os bem-me-queres;
cós − coses e cós – fel, feles e féis – mal e males – cônsul o joão-ninguém − os joões-ninguém; o lugar-tenente − os
e cônsules. lugar-tenentes; o mapa-múndi − os mapas-múndi.
- Os dois elementos variam. Quando os compostos Flexão de Gênero: Os substantivos e as palavras que
são formados por substantivo mais palavra variável (adjeti- o acompanham na frase admitem a flexão de gênero: mas-
vo, substantivo, numeral, pronome): amor-perfeito − amo- culino e feminino: Meu amigo diretor recebeu o primeiro
res-perfeitos; couve-flor − couves-flores; segunda-feira − salário. Minha amiga diretora recebeu a primeira prestação.
segundas-feiras. A flexão de feminino pode ocorrer de duas maneiras.
- Só o primeiro elemento varia. Quando há preposição - Com a troca de o ou e por a: lobo – loba; mestre –
no composto, mesmo que oculta: pé-de-moleque − pés- mestra.
de-moleque; cavalo-vapor − cavalos-vapor (de ou a vapor).
Quando o segundo substantivo determina o primeiro (fim - Por meio de diferentes sufixos nominais de gêne-
ou semelhança): banana-maçã − bananas-maçã (seme- ro, muitas vezes com alterações do radical: ateu – atéia;
lhante a maçã); navio-escola − navios-escola (a finalidade bispo – episcopisa; conde – condessa; duque – duquesa;
é a escola). frade – freira; ilhéu – ilhoa; judeu – judia; marajá – marani;
Alguns autores admitem a flexão dos dois elementos. monje – monja; pigmeu – pigmeia; píton – pitonisa; sandeu
É uma situação polêmica: mangas-espada (preferível) ou – sandia; sultão – sultana.
mangas-espadas. Quando dizemos (e isso vai ocorrer ou-
tras vezes) que é uma situação polêmica, discutível, con- Alguns substantivos são uniformes quanto ao gênero,
vém ter em mente que a questão do concurso deve ser ou seja, possuem uma única forma para masculino e femi-
resolvida por eliminação, ou seja, analisando bem as outras nino. Podem ser:
opções. Sobrecomuns: admitem apenas um artigo, podendo
designar os dois sexos: a pessoa, o cônjuge, a testemunha.
- Apenas o último elemento varia. Quando os ele- Comuns de dois gêneros: admitem os dois artigos, po-
mentos são adjetivos: hispano-americano − hispano-ame- dendo então ser masculinos ou femininos: o estudante − a
ricanos. A exceção é surdo-mudo, em que os dois adjeti- estudante, o cientista − a cientista, o patriota − a patriota.
vos se flexionam: surdos-mudos. Nos compostos em que Epicenos: admitem apenas um artigo, designando os
aparecem os adjetivos grão, grã e bel: grão-duque − grão- animais: O jacaré, a cobra, o polvo
duques; grã-cruz − grã-cruzes; bel-prazer − bel-prazeres.
Quando o composto é formado por verbo ou qualquer O feminino de elefante é elefanta , e não elefoa. Aliá
elemento invariável (advérbio, interjeição, prefixo etc.) mais é correto, mas designa apenas uma espécie de elefanta.
substantivo ou adjetivo: arranha-céu − arranha-céus; sem- Mamão, para alguns gramáticos, deve ser considerado epi-
pre-viva − sempre-vivas; super-homem − super-homens. ceno. É algo discutível.
Quando os elementos são repetidos ou onomatopaicos Há substantivos de gênero duvidoso, que as pessoas
(representam sons): reco-reco − reco-recos; pingue-pon- costumam trocar: champanha aguardente, dó, alface, eclip-
gue − pingue-pongues; bem-te-vi − bem-te-vis. se, calformicida, cataplasma, grama (peso), grafite, milhar
Como se vê pelo segundo exemplo, pode haver algu- libido, plasma, soprano, musse, suéter, preá, telefonema.
ma alteração nos elementos, ou seja, não serem iguais. Se Existem substantivos que admitem os dois gêneros:
forem verbos repetidos, admite-se também pôr os dois no diabetes (ou diabete), laringe, usucapião etc.
plural: pisca-pisca − pisca-piscas ou piscas-piscas
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Assim, a oração é caracterizada pela presença de um A indeterminação do sujeito ocorre quando não é
verbo. Dessa forma: possível identificar claramente a que se refere a concor-
Rua! = é uma frase, não é uma oração. dância verbal. Isso ocorre quando não se pode ou não inte-
Já em: “Quero a rosa mais linda que houver, para enfei- ressa indicar precisamente o sujeito de uma oração.
tar a noite do meu bem.” Temos uma frase e três orações: Estão gritando seu nome lá fora;
As duas últimas orações não são frases, pois em si mesmas Trabalha-se demais neste lugar.
não satisfazem um propósito comunicativo; são, portanto,
membros de frase. O sujeito simples é o sujeito determinado que possui
um único núcleo. Esse vocábulo pode estar no singular ou
Quanto ao período, ele denomina a frase constituí- no plural; pode também ser um pronome indefinido.
da por uma ou mais orações, formando um todo, com Nós nos respeitamos mutuamente;
sentido completo. O período pode ser simples ou com- A existência é frágil;
posto. Ninguém se move;
O amar faz bem.
Período simples é aquele constituído por apenas uma
oração, que recebe o nome de oração absoluta. O sujeito composto é o sujeito determinado que pos-
Chove. sui mais de um núcleo.
A existência é frágil. Alimentos e roupas andam caríssimos;
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres Ela e eu nos respeitamos mutuamente;
de opinião. O amar e o odiar são tidos como duas faces da mesma
moeda.
Período composto é aquele constituído por duas ou
mais orações: Além desses dois sujeitos determinados, é comum a
“Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver.” referência ao sujeito oculto ( ou elíptico), isto é, ao núcleo
Cantei, dancei e depois dormi. do sujeito que está implícito e que pode ser reconhecido
Termos essenciais da oração: pela desinência verbal ou pelo contexto.
Abolimos todas as regras. = (nós)
O sujeito e o predicado são considerados termos es-
senciais da oração, ou seja, sujeito e predicado são termos O sujeito indeterminado surge quando não se quer
indispensáveis para a formação das orações. No entanto, ou não se pode identificar claramente a que o predicado da
existem orações formadas exclusivamente pelo predicado. oração refere--se. Existe uma referência imprecisa ao sujei-
O que define, pois, a oração, é a presença do verbo. to, caso contrário, teríamos uma oração sem sujeito.
O sujeito é o termo que estabelece concordância com Na língua portuguesa o sujeito pode ser indetermina-
o verbo. do de duas maneiras:
“Minha primeira lágrima caiu dentro dos teus olhos.” - com verbo na terceira pessoa do plural, desde que o
“Minhas primeiras lágrimas caíram dentro dos teus sujeito não tenha sido identificado anteriormente:
olhos”. Bateram à porta;
Na primeira frase, o sujeito é minha primeira lágrima. Andam espalhando boatos a respeito da queda do mi-
Minha e primeira referem-se ao conceito básico expresso nistro.
em lágrima. Lágrima é, pois, a principal palavra do sujeito,
sendo, por isso, denominada núcleo do sujeito. O núcleo - com o verbo na terceira pessoa do singular, acrescido
do sujeito relaciona-se com o verbo, estabelecendo a con- do pronome se. Esta é uma construção típica dos verbos
cordância. que não apresentam complemento direto:
A função do sujeito é basicamente desempenhada por Precisa-se de mentes criativas;
substantivos, o que a torna uma função substantiva da ora- Vivia-se bem naqueles tempos;
ção. Pronomes, substantivos, numerais e quaisquer outras Trata-se de casos delicados;
palavras substantivadas (derivação imprópria) também po- Sempre se está sujeito a erros.
dem exercer a função de sujeito. O pronome se funciona como índice de indetermina-
Ele já partiu; ção do sujeito.
Os dois sumiram;
Um sim é suave e sugestivo. As orações sem sujeito, formadas apenas pelo predi-
cado, articulam-se a partir de um verbo impessoal. A men-
Os sujeitos são classificados a partir de dois elementos: sagem está centrada no processo verbal. Os principais ca-
o de determinação ou indeterminação e o de núcleo do sos de orações sem sujeito com:
sujeito. - os verbos que indicam fenômenos da natureza:
Um sujeito é determinado quando é facilmente iden- Amanheceu repentinamente;
tificável pela concordância verbal. O sujeito determinado Está chuviscando.
pode ser simples ou composto.
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- os verbos estar, fazer, haver e ser, quando indicam fenô- Na frase acima o verbo ser poderia ser substituído por
menos meteorológicos ou se relacionam ao tempo em geral: estar, andar, ficar, parecer, permanecer ou continuar, atuando
Está tarde. como elemento de ligação entre o sujeito e as palavras a ele
Ainda é cedo. relacionadas.
Já são três horas, preciso ir; A função de predicativo é exercida normalmente por um
Faz frio nesta época do ano; adjetivo ou substantivo.
Há muitos anos aguardamos mudanças significativas;
Faz anos que esperamos melhores condições de vida; O predicado verbo-nominal é aquele que apresenta
dois núcleos significativos: um verbo e um nome. No predi-
O predicado é o conjunto de enunciados que numa cado verbo-nominal, o predicativo pode referir-se ao sujeito
dada oração contém a informação nova para o ouvinte. Nas ou ao complemento verbal.
orações sem sujeito, o predicado simplesmente enuncia um O verbo do predicado verbo-nominal é sempre signifi-
cativo, indicando processos. É também sempre por intermé-
fato qualquer:
dio do verbo que o predicativo se relaciona com o termo a
Chove muito nesta época do ano;
que se refere.
Houve problemas na reunião.
O dia amanheceu ensolarado;
As mulheres julgam os homens inconstantes
Nas orações que surge o sujeito, o predicado é aquilo
que se declara a respeito desse sujeito. No primeiro exemplo, o verbo amanheceu apresenta
Com exceção do vocativo, que é um termo à parte, tudo duas funções: a de verbo significativo e a de verbo de liga-
o que difere do sujeito numa oração é o seu predicado. ção. Esse predicado poderia ser desdobrado em dois, um
Os homens (sujeito) pedem amor às mulheres (predicado); verbal e outro nominal:
Passou-me (predicado) uma ideia estranha (sujeito) pelo O dia amanheceu;
pensamento (predicado). O dia estava ensolarado.
Para o estudo do predicado, é necessário verificar se seu No segundo exemplo, é o verbo julgar que relaciona o
núcleo está num nome ou num verbo. Deve-se considerar complemento homens como o predicativo inconstantes.
também se as palavras que formam o predicado referem-se
apenas ao verbo ou também ao sujeito da oração. Termos integrantes da oração:
Os homens sensíveis (sujeito) pedem amor sincero às mu-
lheres de opinião. Os complementos verbais (objeto direto e indireto) e o
complemento nominal são chamados termos integrantes da
O predicado acima apresenta apenas uma palavra que se oração.
refere ao sujeito: pedem. As demais palavras ligam-se direta Os complementos verbais integram o sentido dos ver-
ou indiretamente ao verbo. bos transitivos, com eles formando unidades significativas.
A existência (sujeito) é frágil (predicado). Esses verbos podem se relacionar com seus complementos
O nome frágil, por intermédio do verbo, refere-se ao diretamente, sem a presença de preposição ou indiretamen-
sujeito da oração. O verbo atua como elemento de ligação te, por intermédio de preposição.
entre o sujeito e a palavra a ele relacionada. O objeto direto é o complemento que se liga diretamen-
te ao verbo.
Os homens sensíveis pedem amor às mulheres de opinião;
O predicado verbal é aquele que tem como núcleo sig-
Os homens sinceros pedem-no às mulheres de opinião;
nificativo um verbo:
Dou-lhes três.
Chove muito nesta época do ano;
Houve muita confusão na partida final.
Senti seu toque suave;
O velho prédio foi demolido. O objeto direto preposicionado ocorre principalmente:
Os verbos acima são significativos, isto é, não servem - com nomes próprios de pessoas ou nomes comuns
apenas para indicar o estado do sujeito, mas indicam pro- referentes a pessoas:
cessos. Amar a Deus;
Adorar a Xangô;
O predicado nominal é aquele que tem como núcleo Estimar aos pais.
significativo um nome; esse nome atribui uma qualidade ou
estado ao sujeito, por isso é chamado de predicativo do su- - com pronomes indefinidos de pessoa e pronomes de
jeito. O predicativo é um nome que se liga a outro nome da tratamento:
oração por meio de um verbo. Não excluo a ninguém;
Nos predicados nominais, o verbo não é significativo, isto Não quero cansar a Vossa Senhoria.
é, não indica um processo. O verbo une o sujeito ao predica-
tivo, indicando circunstâncias referentes ao estado do sujeito: - para evitar ambiguidade:
“Ele é senhor das suas mãos e das ferramentas.” Ao povo prejudica a crise. (sem preposição, a situação
seria outra)
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O objeto indireto é o complemento que se liga indireta- O adjunto adnominal liga-se diretamente ao substan-
mente ao verbo, ou seja, através de uma preposição. tivo a que se refere, sem participação do verbo. Já o predi-
Os homens sensíveis pedem amor sincero às mulheres; cativo do objeto liga-se ao objeto por meio de um verbo.
Os homens pedem-lhes amor sincero; O poeta português deixou uma obra originalíssima.
Gosto de música popular brasileira. O poeta deixou-a.
(originalíssima não precisou ser repetida, portanto: ad-
O termo que integra o sentido de um nome chama-se junto adnominal)
complemento nominal. O complemento nominal liga-se O poeta português deixou uma obra inacabada.
ao nome que completa por intermédio de preposição: O poeta deixou-a inacabada.
Desenvolvemos profundo respeito à arte; (inacabada precisou ser repetida, então: predicativo do
A arte é necessária à vida; objeto)
Tenho-lhe profundo respeito.
Enquanto o complemento nominal relaciona-se a um
Termos acessórios da oração e vocativo: substantivo, adjetivo ou advérbio; o adjunto nominal rela-
ciona-se apenas ao substantivo.
Os termos acessórios recebem esse nome por serem aci-
dentais, explicativos, circunstanciais. São termos acessórios o O aposto é um termo acessório que permite ampliar,
adjunto adverbial, adjunto adnominal, o aposto e o vocativo. explicar, desenvolver ou resumir a ideia contida num termo
que exerça qualquer função sintática.
O adjunto adverbial é o termo da oração que indica
uma circunstância do processo verbal, ou intensifica o senti- Ontem, segunda-feira, passei o dia mal-humorado.
do de um adjetivo, verbo ou advérbio. É uma função adver-
bial, pois cabe ao advérbio e às locuções adverbiais exerce- Segunda-feira é aposto do adjunto adverbial de tempo
rem o papel de adjunto adverbial. ontem. Dizemos que o aposto é sintaticamente equivalente
Amanhã voltarei de bicicleta àquela velha praça.
ao termo que se relaciona porque poderia substituí-lo: Se-
gunda-feira passei o dia mal-humorado.
As circunstâncias comumente expressas pelo adjunto
O aposto pode ser classificado, de acordo com seu va-
adverbial são:
lor na oração, em:
- acréscimo: Além de tristeza, sentia profundo cansaço.
a) explicativo: A linguística, ciência das línguas huma-
- afirmação: Sim, realmente irei partir.
nas, permite-nos interpretar melhor nossa relação com o
- assunto: Falavam sobre futebol.
mundo.
- causa: Morrer ou matar de fome, de raiva e de sede…
- companhia: Sempre contigo bailando sob as estrelas. b) enumerativo: A vida humana compõe-se de muitas
- concessão: Apesar de você, amanhã há de ser outro dia. coisas: amor, arte, ação.
- conformidade: Fez tudo conforme o combinado. c) resumidor ou recapitulativo: Fantasias, suor e sonho,
- dúvida: Talvez nos deixem entrar. tudo isso forma o carnaval.
- fim: Estudou para o exame. d) comparativo: Seus olhos, indagadores holofotes, fixa-
- frequência: Sempre aparecia por lá. ram-se por muito tempo na baía anoitecida.
- instrumento: Fez o corte com a faca.
- intensidade: Corria bastante. O vocativo é um termo que serve para chamar, invocar
- limite: Andava atabalhoado do quarto à sala. ou interpelar um ouvinte real ou hipotético.
- lugar: Vou à cidade.
- matéria: Compunha-se de substâncias estranhas. A função de vocativo é substantiva, cabendo a subs-
- meio: Viajarei de trem. tantivos, pronomes substantivos, numerais e palavras subs-
- modo: Foram recrutados a dedo. tantivadas esse papel na linguagem.
- negação: Não há ninguém que mereça. João, venha comigo!
- preço: As casas estão sendo vendidas a preços exorbi- Traga-me doces, minha menina!
tantes.
- substituição ou troca: Abandonou suas convicções por PERÍODO COMPOSTO POR COORDENAÇÃO
privilégios econômicos.
- tempo: Ontem à tarde encontrou o velho amigo. O período composto caracteriza-se por possuir mais
de uma oração em sua composição. Sendo assim:
O adjunto adnominal é o termo acessório que deter- - Eu irei à praia. (Período Simples = um verbo, uma
mina, especifica ou explica um substantivo. É uma função oração)
adjetiva, pois são os adjetivos e as locuções adjetivas que - Estou comprando um protetor solar, depois irei à
exercem o papel de adjunto adnominal na oração. Também praia. (Período Composto =locução verbal, verbo, duas
atuam como adjuntos adnominais os artigos, os numerais e orações)
os pronomes adjetivos. - Já me decidi: só irei à praia, se antes eu comprar um
O poeta inovador enviou dois longos trabalhos ao seu protetor solar. (Período Composto = três verbos, três ora-
amigo de infância. ções).
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Cada verbo ou locução verbal corresponde a uma ora- Orações Coordenadas Sindéticas Conclusivas: suas
ção. Isso implica que o primeiro exemplo é um período sim- principais conjunções são: logo, portanto, por fim, por con-
ples, pois tem apenas uma oração, os dois outros exemplos seguinte, consequentemente, pois (posposto ao verbo)
são períodos compostos, pois têm mais de uma oração. Passei no concurso, portanto irei comemorar.
Há dois tipos de relações que podem se estabelecer Conclui o meu projeto, logo posso descansar.
entre as orações de um período composto: uma relação de Tomou muito sol, consequentemente ficou adoentada.
coordenação ou uma relação de subordinação. A situação é delicada; devemos, pois, agir
Duas orações são coordenadas quando estão juntas em
um mesmo período, (ou seja, em um mesmo bloco de in- Orações Coordenadas Sindéticas Explicativas: suas
formações, marcado pela pontuação final), mas têm, ambas, principais conjunções são: isto é, ou seja, a saber, na verda-
estruturas individuais, como é o exemplo de: de, pois (anteposto ao verbo).
Estou comprando um protetor solar, depois irei à praia. Só passei na prova porque me esforcei por muito tempo.
(Período Composto) Só fiquei triste por você não ter viajado comigo.
Podemos dizer: Não fui à praia, pois queria descansar durante o Do-
1. Estou comprando um protetor solar. mingo.
2. Irei à praia.
Separando as duas, vemos que elas são independentes. PERÍODO COMPOSTO POR SUBORDINAÇÃO
É esse tipo de período que veremos agora: o Período
Composto por Coordenação. Observe o exemplo abaixo de Vinícius de Moraes:
Quanto à classificação das orações coordenadas, temos “Eu sinto que em meu gesto existe o
dois tipos: Coordenadas Assindéticas e Coordenadas Sin- teu gesto.”
déticas. Oração Principal Oração Subordinada
Coordenadas Assindéticas Observe que na oração subordinada temos o verbo
São orações coordenadas entre si e que não são ligadas
“existe”, que está conjugado na terceira pessoa do singu-
através de nenhum conectivo. Estão apenas justapostas.
lar do presente do indicativo. As orações subordinadas que
apresentam verbo em qualquer dos tempos finitos (tempos
Coordenadas Sindéticas
do modo do indicativo, subjuntivo e imperativo), são cha-
Ao contrário da anterior, são orações coordenadas en-
madas de orações desenvolvidas ou explícitas.
tre si, mas que são ligadas através de uma conjunção coor-
Podemos modificar o período acima. Veja:
denativa. Esse caráter vai trazer para esse tipo de oração
Eu sinto existir em meu gesto o teu
uma classificação. As orações coordenadas sindéticas são
gesto.
classificadas em cinco tipos: aditivas, adversativas, alternati-
vas, conclusivas e explicativas. Oração Principal Oração Subordinada
Orações Coordenadas Sindéticas Aditivas: suas prin- A análise das orações continua sendo a mesma: “Eu
cipais conjunções são: e, nem, não só... mas também, não sinto” é a oração principal, cujo objeto direto é a oração
só... como, assim... como. subordinada “existir em meu gesto o teu gesto”. Note que
Não só cantei como também dancei. a oração subordinada apresenta agora verbo no infinitivo.
Nem comprei o protetor solar, nem fui à praia. Além disso, a conjunção “que”, conectivo que unia as duas
Comprei o protetor solar e fui à praia. orações, desapareceu. As orações subordinadas cujo verbo
surge numa das formas nominais (infinitivo - flexionado ou
Orações Coordenadas Sindéticas Adversativas: suas não -, gerúndio ou particípio) chamamos orações reduzi-
principais conjunções são: mas, contudo, todavia, entretanto, das ou implícitas.
porém, no entanto, ainda, assim, senão.
Fiquei muito cansada, contudo me diverti bastante. Obs.: as orações reduzidas não são introduzidas por
Ainda que a noite acabasse, nós continuaríamos dançan- conjunções nem pronomes relativos. Podem ser, eventual-
do. mente, introduzidas por preposição.
Não comprei o protetor solar, mas mesmo assim fui à
praia. 1) ORAÇÕES SUBORDINADAS SUBSTANTIVAS
Orações Coordenadas Sindéticas Alternativas: suas A oração subordinada substantiva tem valor de subs-
principais conjunções são: ou... ou; ora...ora; quer...quer; tantivo e vem introduzida, geralmente, por conjunção inte-
seja...seja. grante (que, se).
Ou uso o protetor solar, ou uso o óleo bronzeador. Suponho que você foi à biblioteca hoje.
Ora sei que carreira seguir, ora penso em várias carreiras Oração Subordinada Substantiva
diferentes. Você sabe se o presidente já chegou?
Quer eu durma quer eu fique acordado, ficarei no quarto. Oração Subordinada Substantiva
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Não sabemos por que a vizinha se mudou. Todos querem que você seja aprovado. (Todos querem isso)
Oração Subordinada Substantiva Oração Principal oração Subordinada Substantiva
Objetiva Direta
Classificação das Orações Subordinadas Substantivas
As orações subordinadas substantivas objetivas diretas de-
De acordo com a função que exerce no período, a ora- senvolvidas são iniciadas por:
ção subordinada substantiva pode ser: - Conjunções integrantes “que” (às vezes elíptica) e “se”: A pro-
fessora verificou se todos alunos estavam presentes.
a) Subjetiva
É subjetiva quando exerce a função sintática de sujeito - Pronomes indefinidos que, quem, qual, quanto (às vezes re-
do verbo da oração principal. Observe: gidos de preposição), nas interrogações indiretas: O pessoal queria
É fundamental o seu comparecimento à reunião. saber quem era o dono do carro importado.
Sujeito
- Advérbios como, quando, onde, por que, quão (às vezes re-
É fundamental que você compareça à reunião. gidos de preposição), nas interrogações indiretas: Eu não sei por
Oração Principal Oração Subordinada Substantiva que ela fez isso.
Subjetiva
c) Objetiva Indireta
A oração subordinada substantiva objetiva indireta atua como ob-
Atenção:
jeto indireto do verbo da oração principal. Vem precedida de preposição.
Observe que a oração subordinada substantiva pode
Meu pai insiste em meu estudo.
ser substituída pelo pronome “ isso”. Assim, temos um pe-
Objeto Indireto
ríodo simples:
É fundamental isso. ou Isso é fundamental.
Meu pai insiste em que eu estude. (Meu pai insiste nisso)
Oração Subordinada Substantiva Objetiva
Dessa forma, a oração correspondente a “isso” exercerá Indireta
a função de sujeito
Veja algumas estruturas típicas que ocorrem na oração Obs.: em alguns casos, a preposição pode estar elíptica
principal: na oração.
Marta não gosta (de) que a chamem de senhora.
- Verbos de ligação + predicativo, em construções do Oração Subordinada Substantiva Objetiva
tipo: É bom - É útil - É conveniente - É certo - Parece certo - É Indireta
claro - Está evidente - Está comprovado
É bom que você compareça à minha festa. d) Completiva Nominal
A oração subordinada substantiva completiva nominal
- Expressões na voz passiva, como: Sabe-se - Soube-se completa um nome que pertence à oração principal e tam-
- Conta-se - Diz-se - Comenta-se - É sabido - Foi anunciado bém vem marcada por preposição.
- Ficou provado Sentimos orgulho de seu comportamento.
Sabe-se que Aline não gosta de Pedro. Complemento Nominal
- Verbos como: convir - cumprir - constar - admirar - Sentimos orgulho de que você se comportou. (Sen-
importar - ocorrer - acontecer timos orgulho disso.)
Convém que não se atrase na entrevista. Oração Subordinada Substantiva Completiva
Nominal
Obs.: quando a oração subordinada substantiva é sub-
jetiva, o verbo da oração principal está sempre na 3ª. pes- Lembre-se: as orações subordinadas substantivas ob-
soa do singular. jetivas indiretas integram o sentido de um verbo, enquanto
que orações subordinadas substantivas completivas nomi-
nais integram o sentido de um nome. Para distinguir uma
da outra, é necessário levar em conta o termo complemen-
tado. Essa é, aliás, a diferença entre o objeto indireto e o
complemento nominal: o primeiro complementa um verbo,
o segundo, um nome.
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No entanto, quando se comparam ações diferentes, isso 01. A oração “Não se verificou, todavia, uma transplanta-
não ocorre. Por exemplo: Ela fala mais do que faz. (comparação ção integral de gosto e de estilo” tem valor:
do verbo falar e do verbo fazer). A) conclusivo
B) adversativo
f) Conformidade C) concessivo
D) explicativo
As orações subordinadas adverbiais conformativas indi- E) alternativo
cam ideia de conformidade, ou seja, exprimem uma regra, um
modelo adotado para a execução do que se declara na oração 02. “Estudamos, logo deveremos passar nos exames”. A
principal. oração em destaque é:
Principal conjunção subordinativa conformativa: CON- a) coordenada explicativa b) coordenada adversativa
FORME c) coordenada aditiva d) coordenada conclusiva
Outras conjunções conformativas: como, consoante e se- e) coordenada assindética
gundo (todas com o mesmo valor de conforme).
Fiz o bolo conforme ensina a receita. 03. (Agente Educacional – VUNESP – 2013-adap.) Releia o
Consoante reza a Constituição, todos os cidadãos têm di- seguinte trecho:
reitos iguais. Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida prá-
g) Finalidade tica.
As orações subordinadas adverbiais finais indicam a inten- Sem que haja alteração de sentido, e de acordo com a
ção, a finalidade daquilo que se declara na oração principal. norma- -padrão da língua portuguesa, ao se substituir o ter-
Principal conjunção subordinativa final: A FIM DE QUE mo em destaque, o trecho estará corretamente reescrito em:
Outras conjunções finais: que, porque (= para que) e a lo- A) Joyce e Mozart são ótimos, portanto eles, como quase
cução conjuntiva para que. toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa
Aproximei-me dela a fim de que ficássemos amigos. vida prática.
Felipe abriu a porta do carro para que sua namorada en- B) Joyce e Mozart são ótimos, conforme eles, como quase
trasse. toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa
h) Proporção vida prática.
As orações subordinadas adverbiais proporcionais expri- C) Joyce e Mozart são ótimos, assim eles, como quase
mem ideia de proporção, ou seja, um fato simultâneo ao ex- toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa
presso na oração principal. vida prática.
Principal locução conjuntiva subordinativa proporcional: À D) Joyce e Mozart são ótimos, todavia eles, como quase
PROPORÇÃO QUE toda a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa
Outras locuções conjuntivas proporcionais: à medida que, vida prática.
ao passo que. Há ainda as estruturas: quanto maior...(maior), E) Joyce e Mozart são ótimos, pois eles, como quase toda
quanto maior...(menor), quanto menor...(maior), quanto menor... a cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida
(menor), quanto mais...(mais), quanto mais...(menos), quanto prática.
menos...(mais), quanto menos...(menos).
À proporção que estudávamos, acertávamos mais questões. 04. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013-adap.)
Visito meus amigos à medida que eles me convidam. Em – ...fruto não só do novo acesso da população ao auto-
Quanto maior for a altura, maior será o tombo. móvel mas também da necessidade de maior número de via-
gens... –, os termos em destaque estabelecem relação de
i) Tempo A) explicação.
As orações subordinadas adverbiais temporais acrescen- B) oposição.
tam uma ideia de tempo ao fato expresso na oração principal, C) alternância.
podendo exprimir noções de simultaneidade, anterioridade ou D) conclusão.
posterioridade. E) adição.
Principal conjunção subordinativa temporal: QUANDO
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LÍNGUA PORTUGUESA
08. Analise sintaticamente as duas orações destacadas 5-) Não se desespere, que estaremos a seu lado sem-
no texto “O assaltante pulou o muro, mas não penetrou na pre.
casa, nem assustou seus habitantes.” A seguir, classifique = conjunção explicativa (= porque) - coordenada sin-
-as, respectivamente, como coordenadas: dética explicativa
A) adversativa e aditiva.
B) explicativa e aditiva. 6-)
C) adversativa e alternativa. A) “O gesto é fácil E não ajuda em nada”. = mas não
D) aditiva e alternativa. ajuda (ideia contrária)
B )“O que vemos na esquina E nos sinais de trânsito...”.
09. Um livro de receita é um bom presente porque ajuda = adição
as pessoas que não sabem cozinhar. A palavra “porque” pode C) “..adultos submetem crianças E adolescentes à tarefa
ser substituída, sem alteração de sentido, por de pedir esmola”. = adição
A) entretanto. B) então. C) assim. D) pois. E) porém. D) “Quem dá esmola nas ruas contribui para a manu-
tenção da miséria E prejudica o desenvolvimento da socie-
10- Na oração “Pedro não joga E NEM ASSISTE”, temos dade”. = adição
a presença de uma oração coordenada que pode ser classi- E) “A vida dessas pessoas é marcada pela falta de di-
ficada em: nheiro, de moradia digna, emprego, segurança, lazer, cul-
A) Coordenada assindética; tura, acesso à saúde E à educação”. = adição
B) Coordenada assindética aditiva;
C) Coordenada sindética alternativa; 7-)
D) Coordenada sindética aditiva. A) Meu primo formou-se em Direito, porém não pre-
tende trabalhar como advogado. = adversativa
GABARITO C) Você está preparado para a prova; por isso, não se
preocupe. = conclusão
01. B 02. E 03. D 04. E 05. D D) Vá dormir mais cedo, pois o vestibular será amanhã.
06. A 07. B 08. A 09. D 10. D = explicativa
E) Os meninos deviam correr para casa ou apanhariam
toda a chuva. = alternativa
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LÍNGUA PORTUGUESA
8-) - mas não penetrou na casa = conjunção adversativa 02. (Agente de Escolta e Vigilância Penitenciária – VU-
- nem assustou seus habitantes = conjunção aditiva NESP – 2013). No trecho – Tem surtido um efeito positi-
vo por eles se tornarem uma referência positiva dentro da
9-) Um livro de receita é um bom presente porque aju- unidade, já que cumprem melhor as regras, respeitam o
da as pessoas que não sabem cozinhar. próximo e pensam melhor nas suas ações, refletem antes
= conjunção explicativa: pois de tomar uma atitude. – o termo em destaque estabelece
entre as orações uma relação de
10-) E NEM ASSISTE= conjunção aditiva (ideia de adi- A) condição. B) causa. C) comparação. D) tempo.
ção, soma de fatos) = Coordenada sindética aditiva. E) concessão.
Questões sobre Orações Subordinadas 03. (UFV-MG) As orações subordinadas substantivas que
aparecem nos períodos abaixo são todas subjetivas, exceto:
(Papiloscopista Policial – Vunesp/2013). A) Decidiu-se que o petróleo subiria de preço.
Mais denso, menos trânsito B) É muito bom que o homem, vez por outra, reflita so-
bre sua vida.
As grandes cidades brasileiras estão congestionadas e em C) Ignoras quanto custou meu relógio?
processo de deterioração agudizado pelo crescimento econômi- D) Perguntou-se ao diretor quando seríamos recebidos.
co da última década. Existem deficiências evidentes em infraes- E) Convinha-nos que você estivesse presente à reunião
trutura, mas é importante também considerar o planejamento
urbano. 04. (Agente de Vigilância e Recepção – VUNESP –
Muitas grandes cidades adotaram uma abordagem de 2013). Considere a tirinha em que se vê Honi conversando
desconcentração, incentivando a criação de diversos centros com seu Namorado Lute.
urbanos, na visão de que isso levaria a uma maior facilidade
de deslocamento.
Mas o efeito tem sido o inverso. A criação de diversos cen-
tros e o aumento das distâncias multiplicam o número de via-
gens, dificultando o investimento em transporte coletivo e au-
mentando a necessidade do transporte individual.
Se olharmos Los Angeles como a região que levou a des-
concentração ao extremo, ficam claras as consequências. Numa
região rica como a Califórnia, com enorme investimento viário,
temos engarrafamentos gigantescos que viraram característica
da cidade.
Os modelos urbanos bem-sucedidos são aqueles com ele-
vado adensamento e predominância do transporte coletivo,
como mostram Manhattan e Tóquio.
O centro histórico de São Paulo é a região da cidade mais
bem servida de transporte coletivo, com infraestrutura de tele-
comunicação, água, eletricidade etc. Como em outras grandes
cidades, essa deveria ser a região mais adensada da metrópole.
Mas não é o caso. Temos, hoje, um esvaziamento gradual do
centro, com deslocamento das atividades para diversas regiões
da cidade.
A visão de adensamento com uso abundante de transpor-
te coletivo precisa ser recuperada. Desse modo, será possível (Dik Browne, Folha de S. Paulo, 26.01.2013)
reverter esse processo de uso cada vez mais intenso do trans-
porte individual, fruto não só do novo acesso da população ao É correto afirmar que a expressão contanto que esta-
automóvel, mas também da necessidade de maior número de belece entre as orações relação de
viagens em função da distância cada vez maior entre os desti- A) causa, pois Honi quer ter filhos e não deseja traba-
nos da população. lhar depois de casada.
(Henrique Meirelles, Folha de S.Paulo, 13.01.2013. Adap- B) comparação, pois o namorado espera ter sucesso
tado) como cantor romântico.
C) tempo, pois ambos ainda são adolescentes, mas já
As expressões mais denso e menos trânsito, no título, pensam em casamento.
estabelecem entre si uma relação de D) condição, pois Lute sabe que exercendo a profissão
(A) comparação e adição. de músico provavelmente ganhará pouco.
(B) causa e consequência. E) finalidade, pois Honi espera que seu futuro marido
(C) conformidade e negação. torne-se um artista famoso.
(D) hipótese e concessão.
(E) alternância e explicação
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LÍNGUA PORTUGUESA
05. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – 09. “Os Estados Unidos são considerados hoje um país
Apesar da desconcentração e do aumento da extensão bem mais fechado – embora em doze dias recebam o mes-
urbana verificados no Brasil, é importante desenvolver e mo número de imigrantes que o Brasil em um ano.” A alter-
adensar ainda mais os diversos centros já existentes... –, sem nativa que substitui a expressão em negrito, sem prejuízo
que tenha seu sentido alterado, o trecho em destaque está ao conteúdo, é:
corretamente reescrito em: A) já que.
A) Mesmo com a desconcentração e o aumento da Ex- B) todavia.
tensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvol- C) ainda que.
ver e adensar ainda mais os diversos centros já existentes... D) entretanto.
B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o au- E) talvez.
mento da extensão urbana no Brasil, é importante desenvol-
ver e adensar ainda mais os diversos centros já existentes... 10. (Escrevente TJ SP – Vunesp – 2013) Assinale a alter-
C) Assim como são verificados a desconcentração e o nativa que substitui o trecho em destaque na frase – Assi-
aumento da extensão urbana no Brasil, é importante desen- narei o documento, contanto que garantam sua autenti-
volver e adensar ainda mais os diversos centros já existen- cidade. – sem que haja prejuízo de sentido.
tes... (A) desde que garantam sua autenticidade.
D) Visto que com a desconcentração e o aumento da ex- (B) no entanto garantam sua autenticidade.
tensão urbana verificados no Brasil, é importante desenvol- (C) embora garantam sua autenticidade.
ver e adensar ainda mais os diversos centros já existentes... (D) portanto garantam sua autenticidade.
E) De maneira que, com a desconcentração e o aumento (E) a menos que garantam sua autenticidade.
da extensão urbana verificados no Brasil, é importante de-
senvolver e adensar ainda mais os diversos centros já exis- GABARITO
tentes...
01. B 02. B 03. C 04. D 05. A
06. (Analista Administrativo – VUNESP – 2013). Em – 06. C 07. D 08. E 09. C 10. A
É fundamental que essa visão de adensamento com uso
abundante de transporte coletivo seja recuperada para que RESOLUÇÃO
possamos reverter esse processo de uso… –, a expressão em
destaque estabelece entre as orações relação de 1-) mais denso e menos trânsito = mais denso, conse-
A) consequência. quentemente, menos trânsito, então: causa e consequência
B) condição.
C) finalidade. 2-) já que cumprem melhor as regras = estabelece en-
D) causa. tre as orações uma relação de causa com a consequência
E) concessão. de “tem um efeito positivo”.
07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013 – adap.). Con- 3-) Ignoras quanto custou meu relógio? = oração
sidere o trecho: “Como as músicas eram de protesto, naquele subordinada substantiva objetiva direta
mesmo ano foi enquadrado na lei de segurança nacional pela A oração não atende aos requisitos de tais orações, ou
ditadura militar e exilado.” O termo Como, em destaque na seja, não se inicia com verbo de ligação, tampouco pelos
primeira parte do enunciado, expressa ideia de verbos “convir”, “parecer”, “importar”, “constar” etc., e tam-
A) contraste e tem sentido equivalente a porém. bém não inicia com as conjunções integrantes “que” e “se”.
B) concessão e tem sentido equivalente a mesmo que.
C) conformidade e tem sentido equivalente a conforme. 4-) a expressão contanto que estabelece uma relação
D) causa e tem sentido equivalente a visto que. de condição (condicional)
E) finalidade e tem sentido equivalente a para que.
5-) Apesar da desconcentração e do aumento da ex-
08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças tensão urbana verificados no Brasil = conjunção concessiva
Públicas – VUNESP – 2013-adap.) No trecho – “Fio, disjuntor, B) Uma vez que se verifica a desconcentração e o au-
tomada, tudo!”, insiste o motorista, com tanto orgulho que mento da extensão urbana no Brasil, = causal
chega a contaminar-me. –, a construção tanto ... que estabe- C) Assim como são verificados a desconcentração e o
lece entre as construções [com tanto orgulho] e [que chega aumento da extensão urbana no Brasil = comparativa
a contaminar-me] uma relação de D) Visto que com a desconcentração e o aumento da
A) condição e finalidade. extensão urbana verificados no Brasil = causal
B) conformidade e proporção. E) De maneira que, com a desconcentração e o aumen-
C) finalidade e concessão. to da extensão urbana verificados no Brasil = consecutivas
D) proporção e comparação.
E) causa e consequência. 6-) para que possamos = conjunção final (finalidade)
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7-) “Como as músicas eram de protesto = expressa 05. Assinale a alternativa correta e identifique o sujeito
ideia de causa da consequência “foi enquadrado” = causa das seguintes orações em relação aos verbos destacados:
e tem sentido equivalente a visto que. - Amanhã teremos uma palestra sobre qualidade de vida.
- Neste ano, quero prestar serviço voluntário.
8-) com tanto orgulho que chega a contaminar-me. – a A)Tu – vós
construção estabelece uma relação de causa e consequência. B)Nós – eu
(a causa da “contaminação” – consequência) C)Vós – nós
D) Ele - tu
9-) Os Estados Unidos são considerados hoje um país bem
mais fechado – embora em doze dias recebam o mesmo nú- 06. Classifique o sujeito das orações destacadas no texto
mero de imigrantes que o Brasil em um ano.” = conjunção seguinte e, a seguir, assinale a sequência correta.
concessiva: ainda que É notável, nos textos épicos, a participação do sobrena-
tural. É frequente a mistura de assuntos relativos ao naciona-
10-) contanto que garantam sua autenticidade. = conjun- lismo com o caráter maravilhoso. Nas epopeias, os deuses
ção condicional = desde que tomam partido e interferem nas aventuras dos heróis, aju-
dando-os ou atrapalhando- -os.
Questões sobre Análise Sintática A)simples, composto
B)indeterminado, composto
01. (Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013). Os tra- C)simples, simples
balhadores passaram mais tempo na escola... D) oculto, indeterminado
O segmento grifado acima possui a mesma função sintáti-
ca que o destacado em: 07. (ESPM-SP) “Surgiram fotógrafos e repórteres”.
A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. Identifique a alternativa que classifica corretamente a função
B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe. sintática e a classe morfológica dos termos destacados:
C) O crescimento da escolaridade também foi impulsionado... A) objeto indireto – substantivo
D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino médio... B) objeto direto - substantivo
E) ...impulsionado pelo aumento do número de univer- C) sujeito – adjetivo
sidades... D) objeto direto – adjetivo
E) sujeito - substantivo
02.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013). Donos de
uma capacidade de orientação nas brenhas selvagens [...], sa-
GABARITO
biam os paulistas como...
O segmento em destaque na frase acima exerce a mesma
01. C 02. D 03. B 04. C 05. B 06. C 07. E
função sintática que o elemento grifado em:
A) Nas expedições breves serviam de balizas ou mostra-
RESOLUÇÃO
dores para a volta.
B) Às estreitas veredas e atalhos [...], nada acrescentariam
aqueles de considerável... 1-) Os trabalhadores passaram mais tempo na escola
C) Só a um olhar muito exercitado seria perceptível o sinal. = SUJEITO
D) Uma sequência de tais galhos, em qualquer floresta, A) ...o que reduz a média de ganho da categoria. = ob-
podia significar uma pista. jeto direto
E) Alguns mapas e textos do século XVII apresentam-nos a B) ...houve mais ofertas de trabalhadores dessa classe.
vila de São Paulo como centro... = objeto direto
C) O crescimento da escolaridade também foi impul-
03. Há complemento nominal em: sionado... = sujeito paciente
A)Você devia vir cá fora receber o beijo da madrugada. D) ...elevando a fatia dos brasileiros com ensino mé-
B)... embora fosse quase certa a sua possibilidade de ga- dio... = objeto direto
nhar a vida. E) ...impulsionado pelo aumento do número de univer-
C)Ela estava na janela do edifício. sidades... = agente da passiva
D)... sem saber ao certo se gostávamos dele.
E)Pouco depois começaram a brincar de bandido e moci- 2-) Donos de uma capacidade de orientação nas bre-
nho de cinema. nhas selvagens [...], sabiam os paulistas como... = SUJEITO
A) Nas expedições breves = ADJUNTO ADVERBIAL
04. (ESPM-SP) Em “esta lhe deu cem mil contos”, o termo B) nada acrescentariam aqueles de considerável...= ad-
destacado é: junto adverbial
A) pronome possessivo C) seria perceptível o sinal. = predicativo
B) complemento nominal D) Uma sequência de tais galhos = sujeito
C) objeto indireto E) apresentam-nos a vila de São Paulo como = objeto
D) adjunto adnominal direto
E) objeto direto
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9-) Fiz as marcações (X) onde as pontuações estão inade- 5) Em casos em que o sujeito é representado pela ex-
quadas ou faltantes: pressão “mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais
(A) Os filmes que,(X) mostram a luta pela sobrevivência de um candidato se inscreveu no concurso de piadas.
em condições hostis nem sempre conseguem agradar, (X) Observação:
aos espectadores. - No caso da referida expressão aparecer repetida ou
(B) Várias experiências de prisioneiros, semelhantes entre associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo,
si, podem ser reunidas e fazer parte de uma mesma história necessariamente, deverá permanecer no plural:
ficcional. Mais de um aluno, mais de um professor contribuíram
(C) A história de heroísmo e de determinação (X) que na campanha de doação de alimentos.
nem sempre, (X) é convincente, se passa em um cenário mar- Mais de um formando se abraçaram durante as soleni-
cado, (X) pelo frio. dades de formatura.
(D) Caminhar por um extenso território gelado, (X) é cor-
rer riscos iminentes (X) que comprometem, (X) a sobrevivên- 6) Quando o sujeito for composto da expressão “um
cia. dos que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi
(E) Para os fugitivos que se propunham, (X) a alcançar a um dos que atuaram na Copa América.
liberdade, nada poderia parecer, (X) realmente intransponível.
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12) Casos relativos a sujeito representado por substan- a) Um adjetivo após vários substantivos
tivo próprio no plural se encontram relacionados a alguns - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o
aspectos que os determinam: plural ou concorda com o substantivo mais próximo.
- Diante de nomes de obras no plural, seguidos do ver- - Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
bo ser, este permanece no singular, contanto que o predi- - Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.
cativo também esteja no singular: Memórias póstumas de
Brás Cubas é uma criação de Machado de Assis. - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o plural
- Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo tam- masculino ou concorda com o substantivo mais próximo.
bém permanece no plural: Os Estados Unidos são uma po- - Ela tem pai e mãe louros.
tência mundial. - Ela tem pai e mãe loura.
- Casos em que o artigo figura no singular ou em que - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoria-
ele nem aparece, o verbo permanece no singular: Estados mente para o plural.
Unidos é uma potência mundial. - O homem e o menino estavam perdidos.
- O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
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02. (Agente Técnico – FCC – 2013). As normas de concor- (D) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou
dância verbal e nominal estão inteiramente respeitadas em: até agora uma maneira adequada para que os insumos básicos
A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa lei- seja quantificado.
tura, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimora- (E) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encontrou
mento intelectual, estão na capacidade de criação do autor, até agora uma maneira adequada de se quantificarem os insu-
mediante palavras, sua matéria-prima. mos básicos.
B) Obras que se considera clássicas na literatura sempre
delineia novos caminhos, pois é capaz de encantar o leitor ao 05. (FUNDAÇÃO CASA/SP - AGENTE ADMINISTRATIVO -
ultrapassar os limites da época em que vivem seus autores, VUNESP/2011 - ADAPTADA) Observe as frases do texto:
gênios no domínio das palavras, sua matéria-prima. I. Cerca de 75 por cento dos países obtêm nota negativa...
C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhe II. ... à Venezuela, de Chávez, que obtém a pior classifica-
permitem criar todo um mundo de ficção, em que persona- ção do continente americano (2,0)...
gens se transformam em seres vivos a acompanhar os leito- Assim como ocorre com o verbo “obter” nas frases I e II, a con-
res, numa verdadeira interação com a realidade. cordância segue as mesmas regras, na ordem dos exemplos, em:
D) As possibilidades de comunicação entre autor e leitor (A) Todas as pessoas têm boas perspectivas para o próximo
somente se realiza plenamente caso haja afinidade de ideias ano. Será que alguém tem opinião diferente da maioria?
entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o crescimen- (B) Vem muita gente prestigiar as nossas festas juninas.
to intelectual deste último e o prazer da leitura. Vêm pessoas de muito longe para brincar de quadrilha.
E) Consta, na literatura mundial, obras-primas que cons- (C) Pouca gente quis voltar mais cedo para casa. Quase to-
titui leitura obrigatória e se tornam referências por seu con- dos quiseram ficar até o nascer do sol na praia.
teúdo que ultrapassa os limites de tempo e de época. (D) Existem pessoas bem intencionadas por aqui, mas tam-
bém existem umas que não merecem nossa atenção.
03. (Escrevente TJ-SP – Vunesp/2012) Leia o texto para (E) Aqueles que não atrapalham muito ajudam.
responder à questão.
_________dúvidas sobre o crescimento verde. Primeiro, não está 06. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) Os
folheteiros vivem em feiras, mercados, praças e locais de peregrinação.
claro até onde pode realmente chegar uma política baseada em
O verbo da frase acima NÃO pode ser mantido no plural
melhorar a eficiência sem preços adequados para o carbono, a água
caso o segmento grifado seja substituído por:
e (na maioria dos países pobres) a terra. É verdade que mesmo que a
(A) Há folheteiros que
ameaça dos preços do carbono e da água em si ___________diferença,
(B) A maior parte dos folheteiros
as companhias não podem suportar ter de pagar, de repente, diga-
(C) O folheteiro e sua família
mos, 40 dólares por tonelada de carbono, sem qualquer preparação.
(D) O grosso dos folheteiros
Portanto, elas começam a usar preços- -sombra. Ainda assim, (E) Cada um dos folheteiros
ninguém encontrou até agora uma maneira de quantificar adequa-
damente os insumos básicos. E sem eles a maioria das políticas de 07. (TRF - 5ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012)
crescimento verde sempre ___________ a segunda opção. Todas as formas verbais estão corretamente flexionadas em:
Carta Capital, 27.06.2012. Adaptado) (A) Enquanto não se disporem a considerar o cordel sem
De acordo com a norma-padrão da língua portuguesa, preconceitos, as pessoas não serão capazes de fruir dessas cria-
as lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e respec- ções poéticas tão originais.
tivamente, com: (B) Ainda que nem sempre detenha o mesmo status atri-
(A) Restam… faça… será buído à arte erudita, o cordel vem sendo estudado hoje nas
(B) Resta… faz… será melhores universidades do país.
(C) Restam… faz... serão (C) Rodolfo Coelho Cavalcante deve ter percebido que a si-
(D) Restam… façam… serão tuação dos cordelistas não mudaria a não ser que eles mesmos
(E) Resta… fazem… será requizessem o respeito que faziam por merecer.
(D) Se não proveem do preconceito, a desvalorização e a
04 (Escrevente TJ SP – Vunesp/2012) Assinale a alternati- pouca visibilidade dessa arte popular tão rica só pode ser resul-
va em que o trecho tado do puro e simples desconhecimento.
– Ainda assim, ninguém encontrou até agora uma ma- (E) Rodolfo Coelho Cavalcante entreveu que os problemas
neira de quantificar adequadamente os insumos básicos.– está dos cordelistas estavam diretamente ligados à falta de repre-
corretamente reescrito, de acordo com a norma-padrão da sentatividade.
língua portuguesa.
(A) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou 08. (TRF - 4ª REGIÃO – TÉCNICO JUDICIÁRIO – FCC/2010)
até agora uma maneira adequada de se quantificar os insu- Observam-se corretamente as regras de concordância verbal e
mos básicos. nominal em:
(B) Ainda assim, temos certeza de que ninguém encon- a) O desenraizamento, não só entre intelectuais como en-
trou até agora uma maneira adequada de os insumos básicos tre os mais diversos tipos de pessoas, das mais sofisticadas às
ser quantificados. mais humildes, são cada vez mais comuns nos dias de hoje.
(C) Ainda assim, temos certeza que ninguém encontrou b) A importância de intelectuais como Edward Said e Tony
até agora uma maneira adequada para que os insumos bá- Judt, que não se furtaram ao debate sobre questões polêmicas
sicos sejam quantificado. de seu tempo, não estão apenas nos livros que escreveram.
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LÍNGUA PORTUGUESA
c) Nada indica que o conflito no Oriente Médio entre árabes e ju- 2-)
deus, responsável por tantas mortes e tanto sofrimento, estejam pró- A) Alguns dos aspectos mais desejáveis de uma boa leitu-
ximos de serem resolvidos ou pelo menos de terem alguma trégua. ra, que satisfaça aos leitores e seja veículo de aprimoramento
d) Intelectuais que têm compromisso apenas com a verda- intelectual, estão na capacidade de criação do autor, mediante
de, ainda que conscientes de que esta é até certo ponto relativa, palavras, sua matéria-prima. = correta
costumam encontrar muito mais detratores que admiradores. B) Obras que se consideram clássicas na literatura sempre
e) No final do século XX já não se via muitos intelectuais e escri- delineiam novos caminhos, pois são capazes de encantar o
tores como Edward Said, que não apenas era notícia pelos livros que leitor ao ultrapassarem os limites da época em que vivem seus
publicavam como pelas posições que corajosamente assumiam. autores, gênios no domínio das palavras, sua matéria-prima.
C) A palavra, matéria-prima de poetas e romancistas, lhes
09. (TRF - 2ª REGIÃO - TÉCNICO JUDICIÁRIO - FCC/2012) O permite criar todo um mundo de ficção, em que personagens
verbo que, dadas as alterações entre parênteses propostas para se transformam em seres vivos a acompanhar os leitores,
o segmento grifado, deverá ser colocado no plural, está em:
numa verdadeira interação com a realidade.
(A) Não há dúvida de que o estilo de vida... (dúvidas)
D) As possibilidades de comunicação entre autor e lei-
(B) O que não se sabe... (ninguém nas regiões do planeta)
tor somente se realizam plenamente caso haja afinidade de
(C) O consumo mundial não dá sinal de trégua... (O con-
sumo mundial de barris de petróleo) ideias entre ambos, o que permite, ao mesmo tempo, o cres-
(D) Um aumento elevado no preço do óleo reflete-se no cimento intelectual deste último e o prazer da leitura.
custo da matéria-prima... (Constantes aumentos) E) Constam, na literatura mundial, obras-primas que
(E) o tema das mudanças climáticas pressiona os esforços constituem leitura obrigatória e se tornam referências por seu
mundiais... (a preocupação em torno das mudanças climáticas) conteúdo que ultrapassa os limites de tempo e de época.
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Regência Nominal
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa
relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes
apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos,
conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo: Verbo obedecer e os nomes correspondentes: todos regem com-
plementos introduzidos pela preposição a. Veja:
Obedecer a algo/ a alguém.
Obediente a algo/ a alguém.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados da preposição ou preposições que os regem. Observe-os atentamen-
te e procure, sempre que possível, associar esses nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece.
Substantivos
Admiração a, por Devoção a, para, com, por Medo a, de
Aversão a, para, por Doutor em Obediência a
Atentado a, contra Dúvida acerca de, em, sobre Ojeriza a, por
Bacharel em Horror a Proeminência sobre
Capacidade de, para Impaciência com Respeito a, com, para com, por
Adjetivos
Acessível a Diferente de Necessário a
Acostumado a, com Entendido em Nocivo a
Afável com, para com Equivalente a Paralelo a
Agradável a Escasso de Parco em, de
Alheio a, de Essencial a, para Passível de
Análogo a Fácil de Preferível a
Ansioso de, para, por Fanático por Prejudicial a
Apto a, para Favorável a Prestes a
Ávido de Generoso com Propício a
Benéfico a Grato a, por Próximo a
Capaz de, para Hábil em Relacionado com
Compatível com Habituado a Relativo a
Contemporâneo a, de Idêntico a Satisfeito com, de, em, por
Contíguo a Impróprio para Semelhante a
Contrário a Indeciso em Sensível a
Curioso de, por Insensível a Sito em
Descontente com Liberal com Suspeito de
Desejoso de Natural de Vazio de
Advérbios
Longe de Perto de
Obs.: os advérbios terminados em -mente tendem a seguir o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a; para-
lelamente a; relativa a; relativamente a.
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
46
LÍNGUA PORTUGUESA
02.(Agente de Apoio Administrativo – FCC – 2013-adap.). (D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
... pediu ao delegado do bairro que desse um jeito nos seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais no-
filhos do sueco. tável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em outros.
O verbo que exige, no contexto, o mesmo tipo de com- (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente, seu
plementos que o grifado acima está empregado em: espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais notável
A) ...que existe uma coisa chamada exército... em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em outros.
B) ...como se isso aqui fosse casa da sogra?
C) ...compareceu em companhia da mulher à delegacia... 06. (Papiloscopista Policial – VUNESP – 2013). Assinale a
D) Eu ensino o senhor a cumprir a lei, ali no duro... alternativa correta quanto à regência dos termos em destaque.
E) O delegado apenas olhou-a espantado com o atrevi- (A) Ele tentava convencer duas senhoras a assumir a
mento. responsabilidade pelo problema.
(B) A menina tinha o receio a levar uma bronca por ter
03.(Agente de Defensoria Pública – FCC – 2013-adap.). se perdido.
... constava simplesmente de uma vareta quebrada em (C) A garota tinha apenas a lembrança pelo desenho
partes desiguais... de um índio na porta do prédio.
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o (D) A menina não tinha orgulho sob o fato de ter se
grifado acima está empregado em: perdido de sua família.
A) Em campos extensos, chegavam em alguns casos a (E) A família toda se organizou para realizar a procura
extremos de sutileza. à garotinha.
B) ...eram comumente assinalados a golpes de machado
nos troncos mais robustos. 07. (Analista de Sistemas – VUNESP – 2013). Assinale
C) Os toscos desenhos e os nomes estropiados desorien- a alternativa que completa, correta e respectivamente, as
tam, não raro, quem... lacunas do texto, de acordo com as regras de regência.
D) Koch-Grünberg viu uma dessas marcas de caminho na Os estudos _______ quais a pesquisadora se reportou já
assinalavam uma relação entre os distúrbios da imagem
serra de Tunuí...
corporal e a exposição a imagens idealizadas pela mídia.
E) ...em que tão bem se revelam suas afinidades com o
A pesquisa faz um alerta ______ influência negativa que
gentio, mestre e colaborador...
a mídia pode exercer sobre os jovens.
A) dos … na
04. (Agente Técnico – FCC – 2013-adap.).
B) nos … entre a
... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça...
C) aos … para a
O verbo que exige o mesmo tipo de complemento que o
D) sobre os … pela
da frase acima se encontra em: E) pelos … sob a
A) A palavra direito, em português, vem de directum, do
verbo latino dirigere... 08. (Analista em Planejamento, Orçamento e Finanças
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das Públicas – VUNESP – 2013). Considerando a norma-padrão
sociedades... da língua, assinale a alternativa em que os trechos desta-
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado cados estão corretos quanto à regência, verbal ou nominal.
pela justiça. A) O prédio que o taxista mostrou dispunha de mais
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspira- de dez mil tomadas.
ções da justiça... B) O autor fez conjecturas sob a possibilidade de haver
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o sen- um homem que estaria ouvindo as notas de um oboé.
timento de justiça. C) Centenas de trabalhadores estão empenhados de
criar logotipos e negociar.
05. (Escrevente TJ SP – Vunesp 2012) Assinale a alterna- D) O taxista levou o autor a indagar no número de
tiva em que o período, adaptado da revista Pesquisa Fapesp tomadas do edifício.
de junho de 2012, está correto quanto à regência nominal e E) A corrida com o taxista possibilitou que o autor re-
à pontuação. parasse a um prédio na marginal.
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamen-
te, seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja 09. (Assistente de Informática II – VUNESP – 2013). As-
mais notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que sinale a alternativa que substitui a expressão destacada na
em outros. frase, conforme as regras de regência da norma-padrão da
(B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapida- língua e sem alteração de sentido.
mente seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço Muitas organizações lutaram a favor da igualdade de
seja mais notável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, direitos dos trabalhadores domésticos.
do que em outros. A) da
(C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapida- B) na
mente seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço C) pela
seja mais notável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, D) sob a
do que em outros. E) sobre a
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4-) ... para lidar com as múltiplas vertentes da justiça... Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproxima-
Lidar = transitivo indireto do. Exemplo:
B) ...o Direito tem uma complexa função de gestão das - Alfabeto, abecedário.
sociedades... =transitivo direto - Brado, grito, clamor.
C) ...o de que o Direito [...] esteja permeado e regulado - Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
pela justiça. =ligação - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.
D) Essa problematicidade não afasta a força das aspira-
ções da justiça... =transitivo direto e indireto Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinô-
E) Na dinâmica dessa tensão tem papel relevante o nimo pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum,
sentimento de justiça. =transitivo direto os sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros,
por matizes de significação e certas propriedades que o
5-) A correção do item deve respeitar as regras de pon- escritor não pode desconhecer. Com efeito, estes têm sen-
tuação também. Assinalei apenas os desvios quanto à re- tido mais amplo, aqueles, mais restrito (animal e quadrúpe-
gência (pontuação encontra-se em tópico específico) de); uns são próprios da fala corrente, desataviada, vulgar,
(A) Não há dúvida de que as mulheres ampliam, outros, ao invés, pertencem à esfera da linguagem culta,
(B) Não há dúvida de que (erros quanto à pon- literária, científica ou poética (orador e tribuno, oculista e
tuação) oftalmologista, cinzento e cinéreo).
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Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e dife- Denotação e Conotação: Observe as palavras em des-
rentes na escrita. taque nos seguintes exemplos:
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir). - Comprei uma correntinha de ouro.
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). - Fulano nadava em ouro.
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de No primeiro exemplo, a palavra ouro denota ou desig-
consertar). na simplesmente o conhecido metal precioso, tem sentido
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). próprio, real, denotativo.
- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar). No segundo exemplo, ouro sugere ou evoca riquezas,
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). poder, glória, luxo, ostentação; tem o sentido conotativo,
- Censo (recenseamento) e senso ( juízo). possui várias conotações (ideias associadas, sentimentos,
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar). evocações que irradiam da palavra).
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Dicas para melhorar a interpretação de textos 3-) (GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO – SE-
CRETARIA DE ESTADO DA JUSTIÇA – AGENTE PENITENCIÁRIO
- Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do as- – VUNESP/2013) Leia o poema para responder à questão.
sunto;
- Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a Casamento
leitura;
- Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo Há mulheres que dizem:
menos duas vezes; Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
- Inferir;
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
- Voltar ao texto quantas vezes precisar;
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
- Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do autor; É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
- Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor com- de vez em quando os cotovelos se esbarram,
preensão; ele fala coisas como “este foi difícil”
- Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada “prateou no ar dando rabanadas”
questão; e faz o gesto com a mão.
- O autor defende ideias e você deve percebê-las. O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Fonte: Por fim, os peixes na travessa,
http://www.tudosobreconcursos.com/materiais/portugues/ vamos dormir.
como-interpretar-textos Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
QUESTÕES (Adélia Prado, Poesia Reunida)
1-) (TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO - A ideia central do poema de Adélia Prado é mostrar que
ESCREVENTE TÉCNICO JUDICIÁRIO – VUNESP/2013) O contexto (A) as mulheres que amam valorizam o cotidiano e não
em que se encontra a passagem – Se deixou de bajular os prín- gostam que os maridos frequentem pescarias, pois acham di-
fícil limpar os peixes.
cipes e princesas do século 19, passou a servir reis e rainhas do 20
(B) o eu lírico do poema pertence ao grupo de mulheres
(2.º parágrafo) – leva a concluir, corretamente, que a menção a
que não gostam de limpar os peixes, embora valorizem os
(A) príncipes e princesas constitui uma referência em sentido esbarrões de cotovelos na cozinha.
não literal. (C) há mulheres casadas que não gostam de ficar sozinhas
(B) reis e rainhas constitui uma referência em sentido não com seus maridos na cozinha, enquanto limpam os peixes.
literal. (D) as mulheres que amam valorizam os momentos mais
(C) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma referên- simples do cotidiano vividos com a pessoa amada.
cia em sentido não literal. (E) o casamento exige levantar a qualquer hora da noite,
(D) príncipes, princesas, reis e rainhas constitui uma referên- para limpar, abrir e salgar o peixe.
cia em sentido literal.
(E) reis e rainhas constitui uma referência em sentido literal. 4-) (SABESP/SP – ATENDENTE A CLIENTES 01 – FCC/2014
- ADAPTADA) Atenção: Para responder à questão, considere
Texto para a questão 2: o texto abaixo.
A marca da solidão
DA DISCRIÇÃO Deitado de bruços, sobre as pedras quentes do chão de pa-
Mário Quintana ralelepípedos, o menino espia. Tem os braços dobrados e a testa
Não te abras com teu amigo pousada sobre eles, seu rosto formando uma tenda de penum-
Que ele um outro amigo tem. bra na tarde quente.
Observa as ranhuras entre uma pedra e outra. Há, den-
E o amigo do teu amigo
tro de cada uma delas, um diminuto caminho de terra, com
Possui amigos também...
pedrinhas e tufos minúsculos de musgos, formando pequenas
(http://pensador.uol.com.br/poemas_de_amizade) plantas, ínfimos bonsais só visíveis aos olhos de quem é capaz
de parar de viver para, apenas, ver. Quando se tem a marca da
2-) (PREFEITURA DE SERTÃOZINHO – AGENTE COMUNI- solidão na alma, o mundo cabe numa fresta.
TÁRIO DE SAÚDE – VUNESP/2012) De acordo com o poema, é (SEIXAS, Heloísa. Contos mais que mínimos. Rio de Janei-
correto afirmar que ro: Tinta negra bazar, 2010. p. 47)
(A) não se deve ter amigos, pois criar laços de amizade é No texto, o substantivo usado para ressaltar o universo
algo ruim. reduzido no qual o menino detém sua atenção é
(B) amigo que não guarda segredos não merece respeito. (A) fresta.
(C) o melhor amigo é aquele que não possui outros amigos. (B) marca.
(D) revelar segredos para o amigo pode ser arriscado. (C) alma.
(E) entre amigos, não devem existir segredos. (D) solidão.
(E) penumbra.
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5-) (ANCINE – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2012) O efeito surpresa e de humor que se extrai do texto acima
O riso é tão universal como a seriedade; ele abarca a to- decorre
talidade do universo, toda a sociedade, a história, a concepção A) da identificação numérica atribuída ao louco.
de mundo. É uma verdade que se diz sobre o mundo, que se B) da expressão utilizada pelo carteiro ao entregar a carta
estende a todas as coisas e à qual nada escapa. É, de alguma no hospício.
maneira, o aspecto festivo do mundo inteiro, em todos os seus C) do fato de outro louco querer saber quem enviou a carta.
níveis, uma espécie de segunda revelação do mundo. D) da explicação dada pelo louco para a carta em branco.
Mikhail Bakhtin. A cultura popular na Idade Média e o E) do fato de a irmã do louco ter brigado com ele.
Renascimento: o contexto de François Rabelais. São Paulo:
Hucitec, 1987, p. 73 (com adaptações). 9-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011)
Na linha 1, o elemento “ele” tem como referente textual Um homem se dirige à recepcionista de uma clínica:
“O riso”. — Por favor, quero falar com o dr. Pedro.
(...) CERTO — O senhor tem hora?
( ) ERRADO O sujeito olha para o relógio e diz:
— Sim. São duas e meia.
6-) (ANEEL – TÉCNICO ADMINISTRATIVO – CESPE/2010) — Não, não... Eu quero saber se o senhor é paciente.
Só agora, quase cinco meses depois do apagão que atingiu — O que a senhora acha? Faz seis meses que ele não me
pelo menos 1.800 cidades em 18 estados do país, surge uma ex- paga o aluguel do consultório...
plicação oficial satisfatória para o corte abrupto e generalizado Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com
de energia no final de 2009. adaptações).
Segundo relatório da Agência Nacional de Energia Elétrica
(ANEEL), a responsabilidade recai sobre a empresa estatal Fur- No texto acima, a recepcionista dirige-se duas vezes ao
nas, cujas linhas de transmissão cruzam os mais de 900 km que homem para saber se ele
separam Itaipu de São Paulo. A) verificou o horário de chegada e está sob os cuida-
Equipamentos obsoletos, falta de manutenção e de inves- dos do dr. Pedro.
timentos e também erros operacionais conspiraram para pro- B) pode indicar-lhe as horas e decidiu esperar o paga-
duzir a mais séria falha do sistema de geração e distribuição mento do aluguel.
de energia do país desde o traumático racionamento de 2001. C) tem relógio e sabe esperar.
Folha de S.Paulo, Editorial, 30/3/2010 (com adaptações). D) marcou consulta e está calmo.
Considerando os sentidos e as estruturas linguísticas do E) marcou consulta para aquele dia e está sob os cui-
texto acima apresentado, julgue os próximos itens. dados do dr. Pedro.
A oração “que atingiu pelo menos 1.800 cidades em 18
estados do país” tem, nesse contexto, valor restritivo. (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNICO DA
(...) CERTO FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010 - ADAPTADA) Atenção: As
( ) ERRADO questões de números 10 a 13 referem-se ao texto abaixo.
7-) (COLÉGIO PEDRO II/RJ – ASSISTENTE EM ADMINIS- Liderança é uma palavra frequentemente associada a fei-
TRAÇÃO – AOCP/2010) “A carga foi desviada e a viatura, com tos e realizações de grandes personagens da história e da vida
os vigilantes, abandonada em Pirituba, na zona norte de São social ou, então, a uma dimensão mágica, em que algumas
Paulo.” poucas pessoas teriam habilidades inatas ou o dom de trans-
Pela leitura do fragmento acima, é correto afirmar que, formar-se em grandes líderes, capazes de influenciar outras e,
em sua estrutura sintática, houve supressão da expressão assim, obter e manter o poder.
a) vigilantes. Os estudos sobre o tema, no entanto, mostram que a
b) carga. maioria das pessoas pode tornar-se líder, ou pelo menos de-
c) viatura. senvolver consideravelmente as suas capacidades de liderança.
d) foi. Paulo Roberto Motta diz: “líderes são pessoas comuns que
e) desviada. aprendem habilidades comuns, mas que, no seu conjunto, for-
mam uma pessoa incomum”. De fato, são necessárias algumas
8-) (CORREIOS – CARTEIRO – CESPE/2011) habilidades, mas elas podem ser aprendidas tanto através das
Um carteiro chega ao portão do hospício e grita: experiências da vida, quanto da formação voltada para essa
— Carta para o 9.326!!! finalidade.
Um louco pega o envelope, abre-o e vê que a carta está em O fenômeno da liderança só ocorre na inter-relação; en-
branco, e um outro pergunta: volve duas ou mais pessoas e a existência de necessidades para
— Quem te mandou essa carta? serem atendidas ou objetivos para serem alcançados, que re-
— Minha irmã. querem a interação cooperativa dos membros envolvidos. Não
— Mas por que não está escrito nada?
pressupõe proximidade física ou temporal: pode-se ter a mente
— Ah, porque nós brigamos e não estamos nos falando!
e/ou o comportamento influenciado por um escritor ou por um
Internet: <www.humortadela.com.br/piada> (com adap-
líder religioso que nunca se viu ou que viveu noutra época. [...]
tações).
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Se a legitimidade da liderança se baseia na aceitação do (C) o trabalho que deverá sempre ser realizado em
poder de influência do líder, implica dizer que parte desse po- equipe, de modo que os mais capacitados colaborem com
der encontra-se no próprio grupo. É nessa premissa que se os de menor capacidade.
fundamenta a maioria das teorias contemporâneas sobre (D) a criação de interesses mútuos entre membros de
liderança. uma equipe e de respeito às metas que devem ser alcan-
Daí definirem liderança como a arte de usar o poder çadas por todos.
que existe nas pessoas ou a arte de liderar as pessoas para
fazerem o que se requer delas, da maneira mais efetiva e 13-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNI-
humana possível. [...] CO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) Não pressupõe
(Augusta E.E.H. Barbosa do Amaral e Sandra Souza proximidade física ou temporal ... (4º parágrafo)
Pinto. Gestão de pessoas, in Desenvolvimento gerencial na A afirmativa acima quer dizer, com outras palavras, que
Administração pública do Estado de São Paulo, org. Lais (A) a presença física de um líder natural é fundamen-
Macedo de Oliveira e Maria Cristina Pinto Galvão, Secre- tal para que seus ensinamentos possam ser divulgados e
taria de Gestão pública, São Paulo: Fundap, 2. ed., 2009, p. aceitos.
290 e 292, com adaptações) (B) um líder verdadeiramente capaz é aquele que sem-
pre se atualiza, adquirindo conhecimentos de fontes e de
10-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNI- autores diversos.
CO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) De acordo com o (C) o aprendizado da liderança pode ser produtivo,
texto, liderança mesmo se houver distância no tempo e no espaço entre
(A) é a habilidade de chefiar outras pessoas que não aquele que influencia e aquele que é influenciado.
pode ser desenvolvida por aqueles que somente executam (D) as influências recebidas devem ser bem analisadas
tarefas em seu ambiente de trabalho. e postas em prática em seu devido tempo e na ocasião
(B) é típica de épocas passadas, como qualidades de mais propícia.
heróis da história da humanidade, que realizaram grandes
feitos e se tornaram poderosos através deles. 14-) (DETRAN/RN – VISTORIADOR/EMPLACADOR –
(C) vem a ser a capacidade, que pode ser inata ou até FGV PROJETOS/2010)
mesmo adquirida, de conseguir resultados desejáveis da-
queles que constituem a equipe de trabalho. Painel do leitor (Carta do leitor)
(D) torna-se legítima se houver consenso em todos os Resgate no Chile
grupos quanto à escolha do líder e ao modo como ele irá
mobilizar esses grupos em torno de seus objetivos pes- Assisti ao maior espetáculo da Terra numa operação de
soais. salvamento de vidas, após 69 dias de permanência no fundo
de uma mina de cobre e ouro no Chile.
11-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉC- Um a um os mineiros soterrados foram içados com
NICO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O texto deixa sucesso, mostrando muita calma, saúde, sorrindo e cum-
claro que primentando seus companheiros de trabalho. Não se pode
(A) a importância do líder baseia-se na valorização de esquecer a ajuda técnica e material que os Estados Unidos,
todo o grupo em torno da realização de um objetivo co- Canadá e China ofereceram à equipe chilena de salvamen-
mum. to, num gesto humanitário que só enobrece esses países. E,
(B) o líder é o elemento essencial dentro de uma orga- também, dos dois médicos e dois “socorristas” que, demons-
nização, pois sem ele não se poderá atingir qualquer meta trando coragem e desprendimento, desceram na mina para
ou objetivo. ajudar no salvamento.
(C) pode não haver condições de liderança em algumas (Douglas Jorge; São Paulo, SP; www.folha.com.br – pai-
equipes, caso não se estabeleçam atividades específicas nel do leitor – 17/10/2010)
para cada um de seus membros.
(D) a liderança é um dom que independe da participa- Considerando o tipo textual apresentado, algumas ex-
ção dos componentes de uma equipe em um ambiente de pressões demonstram o posicionamento pessoal do leitor
trabalho. diante do fato por ele narrado. Tais marcas textuais podem
ser encontradas nos trechos a seguir, EXCETO:
12-) (GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO – TÉCNI- A) “Assisti ao maior espetáculo da Terra...”
CO DA FAZENDA ESTADUAL – FCC/2010) O fenômeno da B) “... após 69 dias de permanência no fundo de uma
liderança só ocorre na inter-relação ... (4º parágrafo) mina de cobre e ouro no Chile.”
No contexto, inter-relação significa C) “Não se pode esquecer a ajuda técnica e material...”
(A) o respeito que os membros de uma equipe devem D) “... gesto humanitário que só enobrece esses países.”
demonstrar ao acatar as decisões tomadas pelo líder, por E) “... demonstrando coragem e desprendimento, des-
resultarem em benefício de todo o grupo. ceram na mina...”
(B) a igualdade entre os valores dos integrantes de um
grupo devidamente orientado pelo líder e aqueles propos-
tos pela organização a que prestam serviço.
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RESPOSTA: “CERTO”.
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6-) 13-)
Voltemos ao texto: “depois do apagão que atingiu pelo me- Não pressupõe proximidade física ou temporal = o apren-
nos 1.800 cidades”. O “que” pode ser substituído por “o qual”, dizado da liderança pode ser produtivo, mesmo se houver dis-
portanto, trata-se de um pronome relativo (oração subordinada tância no tempo e no espaço entre aquele que influencia e
adjetiva). Quando há presença de vírgula, temos uma adjetiva ex- aquele que é influenciado.
plicativa (generaliza a informação da oração principal. A constru-
ção seria: “do apagão, que atingiu pelo menos 1800 cidades em RESPOSTA: “C”.
18 estados do país”); quando não há, temos uma adjetiva restriti-
va (restringe, delimita a informação – como no caso do exercício). 14-)
Em todas as alternativas há expressões que representam
RESPOSTA: “CERTO’. a opinião do autor: Assisti ao maior espetáculo da Terra / Não
se pode esquecer / gesto humanitário que só enobrece / de-
7-) monstrando coragem e desprendimento.
“A carga foi desviada e a viatura, com os vigilantes, aban-
donada em Pirituba, na zona norte de São Paulo.” Trata-se da RESPOSTA: “B”.
figura de linguagem (de construção ou sintaxe) “zeugma”,
que consiste na omissão de um termo já citado anteriormente 15-)
(diferente da elipse, que o termo não é citado, mas facilmente “pensando nas suas estradas – barreiras, pedras soltas,
identificado). No enunciado temos a narração de que a carga fissuras – sem falar em bandidos, milhões de bandidos entre
foi desviada e de que a viatura foi abandonada. as fissuras, as pedras soltas e as barreiras...” = pensar nessas
coisas, certamente, deixa-os apreensivos.
RESPOSTA: “D”.
8-) RESPOSTA: “C”.
Geralmente o efeito de humor desses gêneros textuais 16-)
Eu vou para a Ilha do Nanja para sair daqui = resposta da
aparece no desfecho da história, ao final, como nesse: “Ah,
própria autora!
porque nós brigamos e não estamos nos falando”.
RESPOSTA: “B”.
RESPOSTA: “D”.
17-)
9-)
Pela descrição realizada, o lugar não tem nada de ruim.
“O senhor tem hora? (...) Não, não... Eu quero saber se o
senhor é paciente” = a recepcionista quer saber se ele marcou RESPOSTA: “D”.
horário e se é paciente do Dr. Pedro.
18-)
RESPOSTA: “E”. Questão que envolve interpretação “visual”! Fácil. Basta
observar o que as personagens “dizem” e o que “pensam”.
10-)
Utilizando trechos do próprio texto, podemos chegar à RESPOSTA: “A”.
conclusão: O fenômeno da liderança só ocorre na inter-rela-
ção; envolve duas ou mais pessoas e a existência de necessi- TIPOLOGIA TEXTUAL
dades para serem atendidas ou objetivos para serem alcan-
çados, que requerem a interação cooperativa dos membros Tipo textual é a forma como um texto se apresenta. As
envolvidos = equipe únicas tipologias existentes são: narração, descrição, disser-
tação ou exposição, informação e injunção. É importante
RESPOSTA: “C”. que não se confunda tipo textual com gênero textual.
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- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, compara- Descrição Subjetiva: quando há maior participação
ções, sinestesias). Exemplo: da emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a pai-
sagem são transfigurados pela emoção de quem escreve,
“Era o Sr. Lemos um velho de pequena estatura, não muito podendo opinar ou expressar seus sentimentos. Exemplo:
gordo, mas rolho e bojudo como um vaso chinês. Apesar de “Nas ocasiões de aparato é que se podia tomar pulso
seu corpo rechonchudo, tinha certa vivacidade buliçosa e salti- ao homem. Não só as condecorações gritavam-lhe no peito
tante que lhe dava petulância de rapaz e casava perfeitamente como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu! Aristarco todo
com os olhinhos de azougue.” era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos, calmos, eram
(José de Alencar - Senhora) de um rei...”
(“O Ateneu”, Raul Pompéia)
- Uso de advérbios de localização espacial. Exemplo:
“Até os onze anos, eu morei numa casa, uma casa velha, e essa “(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra
casa era assim: na frente, uma grade de ferro; depois você entrava esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem,
tinha um jardinzinho; no final tinha uma escadinha que devia ter par-de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso,
uns cinco degraus; aí você entrava na sala da frente; dali tinha um mandando por lei, de sobregoverno.”
corredor comprido de onde saíam três portas; no final do corredor (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
tinha a cozinha, depois tinha uma escadinha que ia dar no quintal e
atrás ainda tinha um galpão, que era o lugar da bagunça...”
(Entrevista gravada para o Projeto NURC/RJ)
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LÍNGUA PORTUGUESA
Os efeitos de sentido criados pela disposição dos ele- - Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários
mentos descritivos: das partes que compõem o objeto, associados à explicação de
como as partes se agrupam para formar o todo.
Como se disse anteriormente, do ponto de vista da - Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um
progressão temporal, a ordem dos enunciados na descri- todo (externamente) - formato, dimensões, material, peso, tex-
ção é indiferente, uma vez que eles indicam propriedades tura, cor e brilho.
ou características que ocorrem simultaneamente. No en- - Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua
tanto, ela não é indiferente do ponto de vista dos efeitos utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto
de sentido: descrever de cima para baixo ou vice-versa, do em sua totalidade.
detalhe para o todo ou do todo para o detalhe cria efeitos
de sentido distintos. Descrição de ambientes:
Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, - Introdução: comentário de caráter geral.
de Bocage: - Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global
Magro, de olhos azuis, carão moreno, do ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade
bem servido de pés, meão de altura, e aroma (se houver).
triste de facha, o mesmo de figura, - Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a ob-
nariz alto no meio, e não pequeno. jetos lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, escultu-
ras ou quaisquer outros objetos.
Incapaz de assistir num só terreno, - Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no
mais propenso ao furor do que à ternura; ambiente.
bebendo em níveas mãos por taça escura Descrição de paisagens:
de zelos infernais letal veneno. - Introdução: comentário sobre sua localização ou qual-
quer outra referência de caráter geral.
Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão, 1968, pág. - Desenvolvimento: observação do plano de fundo (expli-
cação do que se vê ao longe).
497.
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais próxi-
mos do observador - explicação detalhada dos elementos que
O poeta descreve-se das características físicas para as
compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem.
características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acer-
seria o mesmo, pois as características físicas perderiam
ca da impressão que a paisagem causa em quem a contempla.
qualquer relevo.
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a vi-
Descrição de pessoas (I):
sualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de - Introdução: primeira impressão ou abordagem de qual-
um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas característi- quer aspecto de caráter geral.
cas exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), - Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor
ou suas características psicológicas e até emocionais (des- da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas).
crição subjetiva). - Desenvolvimento: características psicológicas (personali-
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de ad- dade, temperamento, caráter, preferências, inclinações, postura,
jetivos, também denominado adjetivação. Para facilitar o objetivos).
aprendizado desta técnica, sugere-se que o concursando, - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de ca-
após escrever seu texto, sublinhe todos os substantivos, ráter geral.
acrescentando antes ou depois deste um adjetivo ou uma
locução adjetiva. Descrição de pessoas (II):
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qual-
Descrição de objetos constituídos de uma só parte: quer aspecto de caráter geral.
- Desenvolvimento: análise das características físicas, asso-
- Introdução: observações de caráter geral referentes à ciadas às características psicológicas (1ª parte).
procedência ou localização do objeto descrito. - Desenvolvimento: análise das características físicas, asso-
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) - formato (com- ciadas às características psicológicas (2ª parte).
paração com figuras geométricas e com objetos semelhan- - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de ca-
tes); dimensões (largura, comprimento, altura, diâmetro ráter geral.
etc.)
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) - material, peso, A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É
cor/brilho, textura. uma estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predo-
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a minam. Porque toda técnica descritiva implica contemplação e
sua utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descre-
objeto como um todo. ver, precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o
Descrição de objetos constituídos por várias partes: pintor capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor
- Introdução: observações de caráter geral referentes à de uma descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o per-
procedência ou localização do objeto descrito. mita sua sensibilidade.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser Esse texto explica os três métodos pelos quais um ho-
não-literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior mem chega a ser primeiro-ministro, aconselha o príncipe
preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão voca- discreto a escolhê-lo entre os que clamam contra a cor-
bular. Por ser objetiva, há predominância da denotação. rupção na corte e justifica esse conselho. Observe-se que:
- o texto é temático, pois analisa e interpreta a realida-
Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é de com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um
um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma homem particular e do que faz para chegar a ser primeiro-
linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para ministro, mas do homem em geral e de todos os métodos
descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os para atingir o poder);
compõem, para descrever experiências, processos, etc. Exemplo: - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a
mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da
Folheto de propaganda de carro corte no momento em que se tornam primeiros-ministros);
- a progressão temporal dos enunciados não tem im-
Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir portância, pois o que importa é a relação de implicação
o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando (clamar contra a corrupção da corte implica ser corrupto
tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat Va- depois da nomeação para primeiro-ministro).
riant possuem direção hidráulica e ar condicionado de elevada
capacidade, proporcionando a climatização perfeita do ambiente. Características:
Porta-malas - O compartimento de bagagens possui ca-
pacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500 - ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é
litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado. temático;
Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em - como o texto narrativo, ele mostra mudanças de si-
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para tuação;
evitar a deformação em caso de colisão. - ao contrário do texto narrativo, nele as relações de
anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm
Textos descritivos literários: Na descrição literária pre-
maior importância - o que importa são suas relações ló-
domina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de as-
gicas: analogia, pertinência, causalidade, coexistência, cor-
sociações conotativas que podem ser exploradas a partir de
respondência, implicação, etc.
descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes;
- a estética e a gramática são comuns a todos os tipos
situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também
de redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística pos-
podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
suem características próprias a cada tipo de texto.
Dissertação
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvi-
A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação mento / Conclusão.
de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema.
Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio, cla- Introdução: em que se apresenta o assunto; se apre-
reza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento senta a ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu de-
de trabalho e uma habilidade de expressão. É em função da senvolvimento. Tipos:
capacidade crítica que se questionam pontos da realidade so-
cial, histórica e psicológica do mundo e dos semelhantes. Ve- - Divisão: quando há dois ou mais termos a serem dis-
mos também, que a dissertação no seu significado diz respeito cutidos. Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consi-
a um tipo de texto em que a exposição de uma ideia, através go: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de
de argumentos, é feita com a finalidade de desenvolver um fora para dentro...”
conteúdo científico, doutrinário ou artístico. Exemplo: - Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona
Há três métodos pelos quais pode um homem chegar a ser a um fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início
primeiro-ministro. O primeiro é saber, com prudência, como ser- no começo dos anos 80, com os conhecidos altos índices
vir-se de uma pessoa, de uma filha ou de uma irmã; o segundo, de inflação que a década colecionou, agravou vários dos
como trair ou solapar os predecessores; e o terceiro, como clamar, históricos problemas sociais do país. Entre eles, a violência,
com zelo furioso, contra a corrupção da corte. Mas um príncipe principalmente a urbana, cuja escalada tem sido facilmente
discreto prefere nomear os que se valem do último desses méto- identificada pela população brasileira.”
dos, pois os tais fanáticos sempre se revelam os mais obsequio- - Proposição: o autor explicita seus objetivos.
sos e subservientes à vontade e às paixões do amo. Tendo à sua - Convite: proposta ao leitor para que participe de al-
disposição todos os cargos, conservam-se no poder esses minis- guma coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na
tros subordinando a maioria do senado, ou grande conselho, e, sua”? Quer se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não
afinal, por via de um expediente chamado anistia (cuja natureza entre pelo cano! Faça parte desse time de vencedores des-
lhe expliquei), garantem-se contra futuras prestações de contas e de a escolha desse momento!
retiram-se da vida pública carregados com os despojos da nação. - Contestação: contestar uma idéia ou uma situação.
Jonathan Swift. Viagens de Gulliver. Ex: “É importante que o cidadão saiba que portar arma de
São Paulo, Abril Cultural, 1979, p. 234-235. fogo não é a solução no combate à insegurança.”
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LÍNGUA PORTUGUESA
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fe-
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: chamento integrado de tudo que se argumentou. Para ela
“Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com convergem todas as ideias anteriormente desenvolvidas.
televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de
aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
e 2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebi- pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão
dos). (...)” de quem lê.
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o as- Exemplo:
sunto do texto. Ex: “A principal característica do déspota en-
contra-se no fato de ser ele o autor único e exclusivo das Direito de Trabalho
normas e das regras que definem a vida familiar, isto é, o
espaço privado. Seu poder, escreve Aristóteles, é arbitrário, Com a queda do feudalismo no século XV, nasce um
pois decorre exclusivamente de sua vontade, de seu prazer e novo modelo econômico: o capitalismo, que até o século
de suas necessidades.” XX agia por meio da inclusão de trabalhadores e hoje pas-
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos sou a agir por meio da exclusão. (A)
que compõem o texto. A tendência do mundo contemporâneo é tornar todo
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz o trabalho automático, devido à evolução tecnológica e a
a pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo necessidade de qualificação cada vez maior, o que provoca
pelo futebol não é uma prova de alienação?” o desemprego. Outro fator que também leva ao desempre-
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a go de um sem número de trabalhadores é a contenção de
curiosidade do leitor. despesas, de gastos. (B)
- Comparação: social e geográfica. Segundo a Constituição, “preocupada” com essa cri-
se social que provém dessa automatização e qualificação,
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à dis- obriga que seja feita uma lei, em que será dada absoluta
tância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo garantia aos trabalhadores, de que, mesmo que as empre-
das massas, Holocausto: através das metáforas e das realida- sas sejam automatizadas, não perderão eles seu mercado
des que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verda- de trabalho. (C)
deira doença do século...” Não é uma utopia?!
- Narração: narrar um fato. Um exemplo vivo são os bóias-frias que trabalham na
colheita da cana de açúcar que devido ao avanço tecnoló-
Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, de gico e a lei do governador Geraldo Alkmin, defendendo o
forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais im- meio ambiente, proibindo a queima da cana de açúcar para
portante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas: a colheita e substituindo-os então pelas máquinas, desem-
prega milhares deles. (D)
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova Em troca os sindicatos dos trabalhadores rurais dão
com este tipo de abordagem. cursos de cabeleleiro, marcenaria, eletricista, para não per-
- Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a derem o mercado de trabalho, aumentando, com isso, a
idéia principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a de- classe de trabalhos informais.
finição. Como ficam então aqueles trabalhadores que passa-
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situa- ram à vida estudando, se especializando, para se diferen-
ções distintas. ciarem e ainda estão desempregados?, como vimos no úl-
- Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta timo concurso da prefeitura do Rio de Janeiro para “gari”,
pontos favoráveis e desfavoráveis. havia até advogado na fila de inscrição. (E)
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou Já que a Constituição dita seu valor ao social que todos
descrever uma cena. têm o direito de trabalho, cabe aos governantes desse país,
- Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados esta- que almeja um futuro brilhante, deter, com urgência esse
tísticos. processo de desníveis gritantes e criar soluções eficazes
- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para pro- para combater a crise generalizada (F), pois a uma nação
váveis resultados. doente, miserável e desigual, não compete a tão sonhada
- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve modernidade. (G)
apresentar questionamento e reflexão.
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, 1º Parágrafo – Introdução
valores, juízos.
- Causa e Consequência: estruturar o texto através dos A. Tema: Desemprego no Brasil.
porquês de uma determinada situação. Contextualização: decorrência de um processo histó-
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética. rico problemático.
- Exemplificação: dar exemplos.
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Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver - A violência contra os povos indígenas é uma constan-
através da comparação, que confronta ideias, fatos, fenô- te na história do Brasil.
menos e apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança. - O surgimento de várias entidades de defesa das po-
Exemplo: pulações indígenas.
- A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicida- brasileiro.
de; a velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
persistente sentimento de dor, porque já estamos nos con-
vencendo de que a felicidade é uma ilusão, que só o sofri- Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver,
mento é real”. deve fazer a estruturação do texto.
(Arthur Schopenhauer)
A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes,
encontra no seu desenvolvimento um segmento causal Introdução: deve conter a ideia principal a ser desen-
(fato motivador) e, em outras situações, um segmento indi- volvida (geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura
cando consequências (fatos decorrentes). do texto, por isso é fundamental. Deve ser clara e chamar
Exemplos: a atenção para dois itens básicos: os objetivos do texto e o
plano do desenvolvimento. Contém a proposição do tema,
- O homem, dia a dia, perde a dimensão de humanida- seus limites, ângulo de análise e a hipótese ou a tese a ser
de que abriga em si, porque os seus olhos teimam apenas defendida.
em ver as coisas imediatistas e lucrativas que o rodeiam. Desenvolvimento: exposição de elementos que vão
fundamentar a ideia principal que pode vir especificada
- O espírito competitivo foi excessivamente exerci- através da argumentação, de pormenores, da ilustração,
do entre nós, de modo que hoje somos obrigados a viver da causa e da consequência, das definições, dos dados es-
tatísticos, da ordenação cronológica, da interrogação e da
numa sociedade fria e inamistosa.
citação. No desenvolvimento são usados tantos parágrafos
quantos forem necessários para a completa exposição da
Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos mar-
ideia. E esses parágrafos podem ser estruturados das cinco
cam temporal e espacialmente a evolução de ideias, pro-
maneiras expostas acima.
cessos.
Conclusão: é a retomada da ideia principal, que ago-
Exemplos:
ra deve aparecer de forma muito mais convincente, uma
vez que já foi fundamentada durante o desenvolvimento
Tempo - A comunicação de massas é resultado de uma da dissertação (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma
lenta evolução. Primeiro, o homem aprendeu a grunhir. De- sintética, o objetivo proposto na instrução, a confirmação
pois deu um significado a cada grunhido. Muito depois, da hipótese ou da tese, acrescida da argumentação básica
inventou a escrita e só muitos séculos mais tarde é que empregada no desenvolvimento.
passou à comunicação de massa.
Espaço - O solo é influenciado pelo clima. Nos climas Texto Argumentativo
úmidos, os solos são profundos. Existe nessas regiões uma
forte decomposição de rochas, isto é, uma forte transfor- Texto Argumentativo é o texto em que defendemos
mação da rocha em terra pela umidade e calor. Nas regiões uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procuran-
temperadas e ainda nas mais frias, a camada do solo é pou- do (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor
co profunda. (Melhem Adas) aceite-a, creia nela. Num texto argumentativo, distinguem-
se três componentes: a tese, os argumentos e as estraté-
Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se gias argumentativas.
conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las
mais compreensíveis. Tese, ou proposição, é a ideia que defendemos, neces-
Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue prove- sariamente polêmica, pois a argumentação implica diver-
niente do coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão gência de opinião.
umbilical e na ligação entre os pulmões e o coração, todas Argumento tem uma origem curiosa: vem do latim Ar-
as artérias contém sangue vermelho-vivo, recém oxigena- gumentum, que tem o tema ARGU, cujo sentido primeiro é
do. Na artéria pulmonar, porém, corre sangue venoso, mais “fazer brilhar”, “iluminar”, a mesma raiz de “argênteo”, “ar-
escuro e desoxigenado, que o coração remete para os pul- gúcia”, “arguto”. Os argumentos de um texto são facilmente
mões para receber oxigênio e liberar gás carbônico”. localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê?
Exemplo: o autor é contra a pena de morte (tese). Por que...
Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, (argumentos).
deve delimitar-se o tema que será desenvolvido e que po- Estratégias argumentativas são todos os recursos
derá ser enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, (verbais e não-verbais) utilizados para envolver o leitor/ou-
o tema é a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a vinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para
partir das seguintes ideias: persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.
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LÍNGUA PORTUGUESA
A Estrutura de um Texto Argumentativo “Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez
abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de
A argumentação Formal querer ensinar a língua por definições, classificações, análises
inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um
A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra “Co- grande benefício”.
municação em Prosa Moderna”. O autor, na mencionada Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre,
obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama acima referida suponha-se que se deva recuperar linguistica-
de argumentação formal: mente um jovem estudante universitário cujo texto apresente
Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida preocupantes problemas de concordância, regência, colo-
e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argu- cação, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão,
mento. coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe
Análise da proposição ou tese: definição do sentido melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a es-
da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar tudar: que é fonética? Que é fonologia? Que é fonemas? Mor-
mal-entendidos. fema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim?
Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-
estatísticos, testemunhos, etc. Minho? Que é oração subordinada adverbial concessiva re-
Conclusão. duzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse
lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares... e es-
Observe o texto a seguir, que contém os elementos re- tudasse o plural de compostos, todas regras de concordância,
feridos do plano-padrão da argumentação formal. regências... os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que,
ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o de-
Gramática e desempenho Linguístico sempenho do jovem estudante na produção de um texto. A
melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pe-
Pretende-se demonstrar no presente artigo que o es- quena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema
tudo intencional da gramática não traz benefícios signifi- de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os
cativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja
língua. porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanismos
Por “estudo intencional da gramática” entende-se o que presidem à construção do texto.
estudo de definições, classificações e nomenclatura; a rea- Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é ape-
lização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a nas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco va-
memorização de regras (de concordância, regência e colo- lor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa
cação) - para citar algumas áreas. O “desempenho linguís- ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2°
tico”, por outro lado, é expressão técnica definida como graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório,
sendo o processo de atualização da competência na pro- nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão
dução e interpretação de enunciados; dito de maneira mais as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de
simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PU-
reais de comunicação. C-RS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02:
A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos can-
antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgi- didatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.
ram as primeiras gramáticas. Definida como “arte”, “arte Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lem-
de escrever”, percebe-se que subjaz à definição a ideia da brando que são os gramáticos, os linguistas - como especia-
sua importância para a prática da língua. São da mesma listas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo
época também as primeiras críticas, como se pode ler em a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que
Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc. II a.C.: “Raça se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do
de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, es- conhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A res-
túpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos posta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre
poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, os melhores escritores. Como na prática isso realmente não
ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos”. acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem de-
Na atualidade, é grande o número de educadores, filó- fendendo.
logos e linguistas de reconhecido saber que negam a rela- Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse sig-
ção entre o estudo intencional da gramática e a melhora do nificativa, deveriam os melhores escritores conhecer - teori-
desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialis- camente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se
tas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante,
com sus obra “Língua e liberdade: por uma nova concepção foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente
de língua materna e seu ensino” (L&PM, 1995). Com efeito, por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao fo-
o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, lhar uma gramática declarou que nada havia entendido; di-
teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística, ficilmente um Luis Fernando Veríssimo saberia o que é um
reúne numa mesma obra convincente fundamentação para morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escri-
seu combate veemente contra o ensino da gramática em tores seriam aprovados num teste de Português à maneira
sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas: tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!).
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LÍNGUA PORTUGUESA
Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos
recuperar linguisticamente os alunos, como promover um dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal
melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo contra os princípios da legalidade e da separação de pode-
da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro. res, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de de-
Gilberto Scarton mocracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado.
Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o
Eis o esquema do texto em seus quatro estágios: insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista
português, ao afirmar que: “O magistrado não pode so-
Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se enun- brepor os seus próprios juízos de valor aos que estão en-
cia claramente a tese a ser defendida. carnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha
Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se defi- previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o
nem as expressões “estudo intencional da gramática” e “de- caso é omisso”.
sempenho lingüístico”, citadas na tese. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte
Terceiro Estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania
e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos. popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúci-
- Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumen- da visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa
tação. situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria,
- Quarto parágrafo: argumento de autoridade. na condição de legislador.
- Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração A esta altura, adotando tal entendimento, estaria insti-
hipotética. tucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria
- Sexto parágrafo: argumento com base em dados es- mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao
tatísticos. sabor dos humores e amores do juiz de plantão.
- Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em De nada adiantariam as eleições, eis que os represen-
fatos. tantes indicados pelo povo não poderiam se valer de sua
Quarto Estágio: último parágrafo, em que se apresenta maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.
a conclusão. Desapareceriam também os juízes de conveniência e
oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na
A Argumentação Informal medida em que sempre poderiam ser afastados por uma
esfera revisora excepcional.
A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já
A própria independência do parlamento sucumbiria in-
referida. A argumentação informal apresenta os seguintes
tegralmente frente à possibilidade de inobservância e des-
estágios:
consideração de suas deliberações.
- Citação da tese adversária.
Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nos-
- Argumentos da tese adversária.
sa civilização.
- Introdução da tese a ser defendida.
Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete
- Argumentos da tese a ser defendida.
fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos
- Conclusão.
demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as
Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson atribuições destes, ditando a eles, a todo momento, como
Flores Lenz, Promotor de Justiça. proceder.
Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto
Considerações sobre justiça e equidade dessa concepção.
Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra,
Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadê- sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio
mico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio
concretos que são apresentados perante os tribunais, deve in adjecto.
nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equi- Isto porque, e como magistralmente o salientou o insu-
dade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de perável Calamandrei, “a justiça que o juiz administra é, no
alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é,
submetidos à sua apreciação. no sentido mais apertado, mas menos incerto, da confor-
Semelhante entendimento tem sido sistematicamente midade com o direito constituído, independentemente da
reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados correspondente com a justiça social”.
simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determina- Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios
dos preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a concretos de efetivação da Justiça social compete, funda-
pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional. mentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus
Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pes- membros são indicados diretamente pelo povo.
soal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade,
dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constitui-
não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações ção e da Legislação.
sobre os perigos da generalização desse entendimento. Luís Alberto Thompson Flores Lenz
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LÍNGUA PORTUGUESA
Eis o esquema do texto em seus cinco estágios; Texto Instrucional - o texto instrucional é um tipo de
texto injuntivo, didático, que tem por objetivo justamente
Primeiro Estágio: primeiro parágrafo, em que se cita apresentar orientações ao receptor para que ele realize deter-
a tese adversária. minada atividade. Como as palavras do texto serão transfor-
Segundo Estágio: segundo parágrafo, em que se cita madas em ações visando a um objetivo, ou seja, algo deverá
um argumento da tese adversária “... fulminando ditos dile- ser concretizado, é de suma importância que nele haja clareza
mas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à rea- e objetividade. Dependendo do que se trata, é imprescindível
lidade nacional”. haver explicações ou enumerações em que estejam elenca-
Terceiro Estágio: terceiro parágrafo, em que se intro- dos os materiais a serem utilizados, bem como os itens de de-
duz a tese a ser defendida. terminados objetos que serão manipulados. Por conta dessas
Quarto Estágio: do quarto ao décimo quinto, em que características, é necessário um título objetivo. Quanto à pon-
se apresentam os argumentos. tuação, frequentemente empregam-se dois pontos, vírgulas
Quinto Estágio: os últimos dois parágrafos, em que e pontos e vírgulas. É possível separar as orientações por
se conclui o texto mediante afirmação que salienta o que itens ou de modo coeso, por meio de períodos. Alguns tex-
ficou dito ao longo da argumentação. tos instrucionais possuem subtítulos separando em tópicos
as instruções, basta reparar nas bulas de remédios, manuais
Texto Injuntivo/Instrucional de instruções e receitas. Pelo fato de o espaço destinado aos
textos instrucionais geralmente não ser muito extenso, reco-
No texto injuntivo-instrucional, o leitor recebe orien- menda-se o uso de períodos. Leia os exemplos.
tações precisas no sentido de efetuar uma transformação.
É marcado pela presença de tempos e modos verbais que Texto organizado em itens:
apresentam um valor diretivo. Este tipo de texto distingue-
se de uma sequencia narrativa pela ausência de um sujeito Para economizar nas compras
responsável pelas ações a praticar e pelo caráter diretivo
dos tempos e modos verbais usado e uma sequência des-
Quem deseja economizar ao comprar deve:
critiva pela transformação desejada.
- estabelecer um valor máximo para gastar;
Nota: Uma frase injuntiva é uma frase que exprime uma
- escolher previamente aquilo que deseja comprar antes
ordem, dada ao locutor, para executar (ou não executar)
de ir à loja ou entrar em sites de compra;
tal ou tal ação. As formas verbais específicas destas frases
- pesquisar os preços em diferentes lojas e sites, se pos-
estão no modo injuntivo e o imperativo é uma das formas
sível;
do injuntivo.
- não se deixar levar completamente pelas sugestões dos
Textos Injuntivo-Instrucionais: Instruções de monta- vendedores nem pelos apelos das propagandas;
gem, receitas, horóscopos, provérbios, slogans... são textos - optar pela forma de pagamento mais cômoda, sem se
que incitam à ação, impõem regras; textos que fornecem esquecer de que o uso do cartão de crédito exige certa cau-
instruções. São orientados para um comportamento futuro tela e planejamento.
do destinatário. Do mais, é só ir às compras e aproveitar!
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LÍNGUA PORTUGUESA
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LÍNGUA PORTUGUESA
Pão de Açúcar, fico meditando sobre os motivos que levam Soneto do amigo
alguns heróis a se superarem. Vitor já havia vencido o cume
mais alto do mundo. Quis provar mais, fazendo a escalada Enfim, depois de tanto erro passado
sem a ajuda do oxigênio suplementar. O que leva um ser Tantas retaliações, tanto perigo
humano bem sucedido a vencer desafios assim? Eis que ressurge noutro o velho amigo
Ora, dirão os entendidos, é assim que caminha a huma- Nunca perdido, sempre reencontrado.
nidade. Se cada um repetisse meu exemplo, ficando solida-
mente instalado no chão, sem tentar a aventura, ainda esta- É bom sentá-lo novamente ao lado
ríamos nas cavernas, lascando o fogo com pedras, comendo Com olhos que contêm o olhar antigo
animais crus e puxando nossas mulheres pelos cabelos, como Sempre comigo um pouco atribulado
os trogloditas - se é que os trogloditas faziam isso. Somos o E como sempre singular comigo.
que somos hoje devido a heróis que trocam a vida pelo risco. Um bicho igual a mim, simples e humano
Bem verdade que escalar montanhas, em si, não traz nada de Sabendo se mover e comover
prático ao resto da humanidade que prefere ficar na cômoda E a disfarçar com o meu próprio engano.
planície da segurança.
Mas o que há de louvável (e lamentável) na aventura de O amigo: um ser que a vida não explica
Vítor Negrete é a aspiração de ir mais longe, de superar mar- Que só se vai ao ver outro nascer
cas, de ir mais alto, desafiando os riscos. Não sei até que pon- E o espelho de minha alma multiplica...
to ele foi temerário ao recusar o oxigênio suplementar. Mas
seu exemplo - e seu sacrifício - é uma lição de luta, mesmo Vinicius de Moraes
sendo uma luta perdida.
(Autor: Carlos Heitor Cony. HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Publicado na Folha Online)
As primeiras manifestações das Histórias em Quadri-
ROMANCE nhos surgiram no começo do século XX, na busca de novos
meios de comunicação e expressão gráfica e visual. Entre
O termo romance pode referir-se a dois gêneros literá- os primeiros autores das histórias em quadrinhos estão o
rios. O primeiro deles é uma composição poética popular, suíço Rudolph Töpffer, o alemão Wilhelm Bush, o francês
histórica ou lírica, transmitida pela tradição oral, sendo ge-
Georges, e o brasileiro Ângelo Agostini. A origem dos ba-
ralmente de autor anônimo; corresponde aproximadamente
lões presentes nas histórias em quadrinhos pode ser atri-
à balada medieval. E como forma literária moderna, o termo
buída a personagens, observadas em ilustrações europeias
designa uma composição em prosa. Todo Romance se orga-
desde o século XIV.
niza a partir de uma trama, ou seja, em torno dos aconteci-
As histórias em quadrinhos começaram no Brasil no
mentos que são organizados em uma sequência temporal.
século XIX, adotando um estilo satírico conhecido como
A linguagem utilizada em um Romance é muito variável, vai
cartuns, charges ou caricaturas e que depois se estabelece-
depender de quem escreve, de uma boa diferenciação entre
linguagem escrita e linguagem oral e principalmente do tipo ria com as populares tiras. A publicação de revistas próprias
de Romance. de histórias em quadrinhos no Brasil começou no início do
Quanto ao tipo de abordagem o Romance pode ser: Ur- século XX também. Atualmente, o estilo cômicos dos super
bano, Regionalista, Indianista e Histórico. E quanto à época -heróis americanos é o predominante, mas vem perdendo
ou Escola Literária, o Romance pode ser: Romântico, Realista, espaço para uma expansão muito rápida dos quadrinhos
Naturalista e Modernista. japoneses (conhecidos como Mangá).
A leitura interpretativa de Histórias em Quadrinhos, as-
POEMA sim como de charges, requer uma construção de sentidos
que, para que ocorra, é necessário mobilizar alguns proces-
Um poema é uma obra literária geralmente apresentada sos de significação, como a percepção da atualidade, a re-
em versos e estrofes (ainda que possa existir prosa poética, presentação do mundo, a observação dos detalhes visuais
assim designada pelo uso de temas específicos e de figu- e/ou linguísticos, a transformação de linguagem conota-
ras de estilo próprias da poesia). Efetivamente, existe uma tiva (sentido mais usual) em denotativa (sentido amplifi-
diferença entre poesia e poema. Segundo vários autores, o cado pelo contexto, pelos aspetos socioculturais etc). Em
poema é um objeto literário com existência material concre- suma, usa-se o conhecimento da realidade e de processos
ta, a poesia tem um carácter imaterial e transcendente. For- linguísticos para “inverter” ou “subverter” produzindo, as-
temente relacionado com a música, beleza e arte, o poema sim, sentidos alternativos a partir de situações extremas.
tem as suas raízes históricas nas letras de acompanhamento Exemplo:
de peças musicais. Até a Idade Média, os poemas eram can-
tados. Só depois o texto foi separado do acompanhamento
musical. Tal como na música, o ritmo tem uma grande impor-
tância. Um poema também faz parte de um sarau (reuniões
em casas particulares para expressar artes, canções, poemas,
poesias etc). Obra em verso em que há poesia. Exemplo:
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LÍNGUA PORTUGUESA
O objetivo do Calvin era vender ao seu pai um desenho de sua autoria pela exorbitante quantia de 500 dólares. Ele
optou por valorizar o desenho, mostrando todas as habilidades conquistadas para conseguir produzi-lo. O pai, no último
quadrinho, reconhece o empenho do filho, utilizando-se de um conector de concessão (“Ainda assim”), valorizando a im-
portância de tudo aquilo. Contudo, afirma que não pagaria o valor pedido (como se dissesse: “sim, filho, foi um esforço
absurdo, mas não vou pagar por isso!”).
A graça está no fato de Calvin elaborar um discurso “maduro” em relação ao seu desenvolvimento cognitivo e motor
nos dois primeiros quadrinhos e, somente depois, ficar claro para nós, leitores, que toda a força argumentativa foi em prol
da cobrança pelo desenho que ele mesmo fez. Em outras palavras, o personagem empenha-se na construção de um racio-
cínio em prol de uma finalidade absurda – o que nos faz sorrir no último quadrinho, já que é somente nele que consegui-
mos “completar” o sentido. Claro, se você conhece os quadrinhos do Calvin, sabe que ele tem apenas 6 anos, o que torna
tudo ainda mais hilário, mas a falta deste conhecimento não prejudica em nada a interpretação textual.
NOTÍCIA
O principal objetivo da notícia é levar informação atual a um público específico. A notícia conta o que ocorreu, quando,
onde, como e por quê. Para verificar se ela está bem elaborada, o emissor deve responder às perguntas: O quê? (fato ou
fatos); Quando? (tempo); Onde? (local); Como? (de que forma) e Por quê? (causas). A notícia apresenta três partes:
- Manchete (ou título principal) – resume, com objetividade, o assunto da notícia. Essa frase curta e de impacto, em
geral, aparece em letras grandes e destacadas.
- Lide (ou lead) – complementa o título principal, fornecendo as principais informações da notícia. Como a manchete,
sua função é despertar a atenção do leitor para o texto.
- Corpo – contém o desenvolvimento mais amplo e detalhado dos fatos.
A notícia usa uma linguagem formal, que segue a norma culta da língua. A ordem direta, a voz ativa, os verbos de ação
e as frases curtas permitem fluir as ideias. É preferível a linguagem acessível e simples. Evite gírias, termos coloquiais e frases
intercaladas.
Os fatos, em geral, são apresentados de forma impessoal e escritos em 3ª pessoa, com o predomínio da função refe-
rencial, já que esse texto visa à informação.
A falta de tempo do leitor exige a seleção das informações mais relevantes, vocabulário preciso e termos específicos
que o ajudem a compreender melhor os fatos. Em jornais ou revistas impressos ou on-line, e em programas de rádio ou
televisão, a informação transmitida pela notícia precisa ser verídica, atual e despertar o interesse do leitor.
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LÍNGUA PORTUGUESA
EDITORIAL ARTIGOS
Os editoriais são textos de um jornal em que o con- É comum encontrar circulando no rádio, na TV, nas re-
teúdo expressa a opinião da empresa, da direção ou da vistas, nos jornais, temas polêmicos que exigem uma posição
equipe de redação, sem a obrigação de ter alguma im- por parte dos ouvintes, espectadores e leitores, por isso, o
parcialidade ou objetividade. Geralmente, grandes jornais autor geralmente apresenta seu ponto de vista sobre o tema
reservam um espaço predeterminado para os editoriais em em questão através do artigo (texto jornalístico).
duas ou mais colunas logo nas primeiras páginas inter- Nos gêneros argumentativos, o autor geralmente tem
nas. Os boxes (quadros) dos editoriais são normalmente a intenção de convencer seus interlocutores e, para isso,
demarcados com uma borda ou tipografia diferente para precisa apresentar bons argumentos, que consistem em
marcar claramente que aquele texto é opinativo, e não in- verdades e opiniões. O artigo de opinião é fundamentado
formativo. Exemplo: em impressões pessoais do autor do texto e, por isso, são
fáceis de contestar.
Cidade paraibana é exemplo ao País O artigo deve começar com uma breve introdução, que
descreva sucintamente o tema e refira os pontos mais im-
Em tempos em que estudantes escrevem receita de portantes. Um leitor deve conseguir formar uma ideia clara
macarrão instantâneo e transcrevem hino de clube de fu- sobre o assunto e o conteúdo do artigo ao ler apenas a in-
tebol na redação do Exame Nacional do Ensino Médio e trodução. Por favor tenha em mente que embora esteja fa-
ainda obtém nota máxima no teste, uma boa notícia vem miliarizado com o tema sobre o qual está a escrever, outros
de uma pequena cidade no interior da Paraíba chamada leitores da podem não o estar. Assim, é importante clarificar
Paulista, de cerca de 12 mil habitantes. Alunos da Escola cedo o contexto do artigo. Por exemplo, em vez de escrever:
Municipal Cândido de Assis Queiroga obtiveram destaque Guano é um personagem que faz o papel de mascote
nas últimas edições da Olimpíada Brasileira de Matemática do grupo Lily Mu. Seria mais informativo escrever:
das Escolas Públicas. Guano é um personagem da série de desenho animado
Kappa Mikey que faz o papel de mascote do grupo Lily Mu.
O segredo é absolutamente simples, e quem explica é
Caracterize o assunto, especialmente se existirem opi-
a professora Jonilda Alves Ferreira: a chave é ensinar Ma-
niões diferentes sobre o tema. Seja objetivo. Evite o uso de
temática através de atividades do cotidiano, como fazer
eufemismos e de calão ou gíria, e explique o jargão. No fi-
compras na feira ou medir ingredientes para uma receita.
nal do artigo deve listar as referências utilizadas, e ao longo
Com essas ações práticas, na edição de 2012 da Olimpía-
do artigo deve citar a fonte das afirmações feitas, especial-
da, a escola conquistou nada menos do que cinco meda-
mente se estas forem controversas ou suscitarem dúvidas.
lhas de ouro, duas de prata, três de bronze e 12 menções
honrosas. Orgulhosa, a professora conta que se sentia tris-
CARTAS
te com a repulsa dos estudantes aos números, e teve a
ideia de pô-los para vivenciar a Matemática em suas vidas, Na maioria dos jornais e revistas, há uma seção destina-
aproximando-os da disciplina. da a cartas do leitor. Ela oferece um espaço para o leitor elo-
O que parecia ser um grande desafio tornou-se rea- giar ou criticar uma matéria publicada, ou fazer sugestões.
lidade e, hoje, a cidade inteira orgulha-se de seus filhos Os comentários podem referir-se às ideias de um texto, com
campeões olímpicos. Os estudantes paraibanos devem ser as quais o leitor concorda ou não; à maneira como o assunto
exemplo para todo o País, que anda precisando, sim, de foi abordado; ou à qualidade do texto em si. É possível tam-
modelos a se inspirar. O Programa Internacional de Ava- bém fazer alusão a outras cartas de leitores, para concordar
liação de Estudantes (PISA, na sigla em inglês) – o mais ou não com o ponto de vista expresso nelas. A linguagem da
sério teste internacional para avaliar o desempenho esco- carta costuma variar conforme o perfil dos leitores da publi-
lar e coordenado pela Organização para a Cooperação e cação. Pode ser mais descontraída, se o público é jovem, ou
Desenvolvimento Econômico – continua sendo implacável ter um aspecto mais formal. Esse tipo de carta apresenta for-
com o Brasil. No exame publicado de 2012, o País aparece mato parecido com o das cartas pessoais: data, vocativo (a
na incômoda penúltima posição entre 40 países avaliados. quem ela é dirigida), corpo do texto, despedida e assinatura.
O teste aponta que o aprendizado de Matemática, Lei-
tura e Ciências durante o ciclo fundamental é sofrível, e TEXTOS DE DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA
perdemos para países como Colômbia, Tailândia e México.
Já passa da hora de as autoridades melhorarem a gestão Sua finalidade discursiva pauta-se pela divulgação de
de nossa Educação Pública e seguir o exemplo da pequena conhecimentos acerca do saber científico, assemelhando-
Paulista. se, portanto, com os demais gêneros circundantes no meio
Fonte: http://www.oestadoce.com.br/noticia/ educacional como um todo, entre eles, textos didáticos e
editorial-cidade-paraibana-e-exemplo-ao-pais verbetes de enciclopédias. Mediante tal pressuposto, já te-
mos a ideia do caráter condizente à linguagem, uma vez
que esta se perfaz de características marcantes - a obje-
tividade, isentando-se de traços pessoais por parte do
emissor, como também por obedecer ao padrão formal da
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LÍNGUA PORTUGUESA
língua. Outro aspecto passível de destaque é o fato de que Escrever um texto em poucas linhas ajuda o aluno a de-
no texto científico, às vezes, temos a oportunidade de nos senvolver a sua capacidade de síntese, objetividade e clareza:
deparar com determinadas terminologias e conceitos pró- três fatores que serão muito importantes ao longo da vida
prios da área científica a que eles se referem. escolar. Além de ser um ótimo instrumento de estudo da
Veiculados por diversos meios de comunicação, seja matéria para fazer um teste. Resumo é sinônimo de “reca-
em jornais, revistas, livros ou meio eletrônico, comparti- pitulação”, quando, ao final de cada capítulo de um livro é
lham-se com uma gama de interlocutores. Razão esta que apresentado um breve texto com as ideias chave do assunto
incide na forma como se estruturam, não seguindo um introduzido. Outros sinônimos de resumo são: sinopse, su-
padrão rígido, uma vez que este se interliga a vários fa- mário, síntese, epítome e compêndio.
tores, tais como: assunto, público-alvo, emissor, momento
histórico, dentre outros. Mas, geralmente, no primeiro e RECEITAS
segundo parágrafos, o autor expõe a ideia principal, sendo
representada por uma ideia ou conceito. Nos parágrafos A receita tem como objetivo informar a fórmula de um
que seguem, ocorre o desenvolvimento propriamente dito produto seja ele industrial ou caseiro, contando detalhada-
da ideia, lembrando que tais argumentos são subsidiados mente sobre seu preparo. É uma sequência de passos para a
em fontes verdadeiramente passíveis de comprovação - preparação de alimentos. As receitas geralmente vêm com
comparações, dados estatísticos, relações de causa e efeito, seus verbos no modo imperativo, para dar ordens de como
dentre outras. preparar seu prato seja ele qual for. Elas são encontradas em
diversas fontes como: livros, sites, programas (TV/Rádio), re-
NÃO FICCIONAIS – INSTRUCIONAIS vistas ou até mesmo em jornais e panfletos. A receita tam-
bém ajuda a fazer vários tipos de pratos típicos e saudáveis e
DIDÁTICOS até sobremesas deliciosas.
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da Câmara dos Deputados, precedendo à qualificação ci- Nesse período, o pronome relativo “que” estabelece cone-
vil deve ser colocado o número do registro funcional e a xão entre as duas orações. O iraquiano leu sua declaração num
lotação); Exposição do pedido, de preferência indicando os bloquinho comum de anotações e segurava na mão, retomando
fundamentos legais do requerimento e os elementos pro- na segunda um dos termos da primeira: bloquinho. O pronome
batórios de natureza fática. relativo é um elemento coesivo, e a conexão entre as duas ora-
- Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”. ções, um fenômeno de coesão. Leia o texto que segue:
- Local e data.
- Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo. Arroz-doce da infância
OFÍCIOS Ingredientes
1 litro de leite desnatado
O Ofício deve conter as seguintes partes: 150g de arroz cru lavado
1 pitada de sal
- Tipo e número do expediente, seguido da sigla do ór- 4 colheres (sopa) de açúcar
gão que o expede. Exemplos: 1 colher (sobremesa) de canela em pó
Of. 123/2002-MME Preparo
Aviso 123/2002-SG Em uma panela ferva o leite, acrescente o arroz, a pitada de
Mem. 123/2002-MF sal e mexa sem parar até cozinhar o arroz. Adicione o açúcar e
deixe no fogo por mais 2 ou 3 minutos. Despeje em um recipien-
- Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento te, polvilhe a canela. Sirva.
à direita. Exemplo: Cozinha Clássica Baixo Colesterol, nº4.
São Paulo, InCor, agosto de 1999, p. 42.
Brasília, 20 de maio de 2013
- Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos: Toda receita culinária tem duas partes: lista dos ingredien-
tes e modo de preparar. As informações apresentadas na pri-
Assunto: Produtividade do órgão em 2012. meira são retomadas na segunda. Nesta, os nomes menciona-
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores. dos pela primeira vez na lista de ingredientes vêm precedidos
de artigo definido, o qual exerce, entre outras funções, a de
- Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é indicar que o termo determinado por ele se refere ao mesmo
dirigida a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído ser a que uma palavra idêntica já fizera menção.
também o endereço. No nosso texto, por exemplo, quando se diz que se adicio-
na o açúcar, o artigo citado na primeira parte. Se dissesse ape-
- Texto. Nos casos em que não for de mero encaminhamen- nas adicione açúcar, deveria adicionar, pois se trataria de outro
to de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: açúcar, diverso daquele citado no rol dos ingredientes.
Há dois tipos principais de mecanismos de coesão: reto-
Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertu- mada ou antecipação de palavras, expressões ou frases e enca-
ra, na qual é apresentado o assunto que motiva a comunica- deamento de segmentos.
ção. Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o pra-
zer de”, “Cumpreme informar que”, empregue a forma direta; Retomada ou Antecipação por meio de uma palavra
Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o gramatical (pronome, verbos ou advérbios)
texto contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem
ser tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior cla- “No mercado de trabalho brasileiro, ainda hoje não há total
reza à exposição; igualdade entre homens e mulheres: estas ainda ganham menos
Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente rea- do que aqueles em cargos equivalentes.”
presentada a posição recomendada sobre o assunto. Nesse período, o pronome demonstrativo “estas” retoma
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos o termo mulheres, enquanto “aqueles” recupera a palavra ho-
casos em que estes estejam organizados em itens ou títulos e mens.
subtítulos. Os termos que servem para retomar outros são denomi-
nados anafóricos; os que servem para anunciar, para antecipar
Coesão outros são chamados catafóricos. No exemplo a seguir, desta
antecipa abandonar a faculdade no último ano:
Uma das propriedades que distinguem um texto de um
amontoado de frases é a relação existente entre os elemen- “Já viu uma loucura desta, abandonar a faculdade no último
tos que os constituem. A coesão textual é a ligação, a relação, ano?”
a conexão entre palavras, expressões ou frases do texto. Ela São anafóricos ou catafóricos os pronomes demonstrati-
manifesta-se por elementos gramaticais, que servem para es- vos, os pronomes relativos, certos advérbios ou locuções ad-
tabelecer vínculos entre os componentes do texto. Observe: verbiais (nesse momento, então, lá), o verbo fazer, o artigo de-
“O iraquiano leu sua declaração num bloquinho comum de finido, os pronomes pessoais de 3ª pessoa (ele, o, a, os, as, lhe,
anotações, que segurava na mão.” lhes), os pronomes indefinidos. Exemplos:
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LÍNGUA PORTUGUESA
“Ele era muito diferente de seu mestre, a quem sucedera na “O encarregado da limpeza encontrou uma carteira na
cátedra de Sociologia na Universidade de São Paulo.” sala de espetáculos. Curiosamente, a carteira tinha muito
dinheiro dentro, mas nem um documento sequer.”
O pronome relativo “quem” retoma o substantivo mestre.
- Quando, em dado contexto, o anafórico pode refe-
“As pessoas simplificam Machado de Assis; elas o veem rir-se a dois termos distintos, há uma ruptura de coesão,
como um pensador cín iço e descrente do amor e da amizade.” porque ocorre uma ambiguidade insolúvel. É preciso que o
texto seja escrito de tal forma que o leitor possa determinar
O pronome pessoal “elas” recupera o substantivo pessoas; exatamente qual é a palavra retomada pelo anafórico.
o pronome pessoal “o” retoma o nome Machado de Assis.
“Durante o ensaio, o ator principal brigou com o diretor
“Os dois homens caminhavam pela calçada, ambos trajan- por causa da sua arrogância.”
do roupa escura.”
O anafórico “sua” pode estar-se referindo tanto à pala-
O numeral “ambos” retoma a expressão os dois homens. vra ator quanto a diretor.
“Fui ao cinema domingo e, chegando lá, fiquei desanima- “André brigou com o ex-namorado de uma amiga, que
do com a fila.” trabalha na mesma firma.”
O advérbio “lá” recupera a expressão ao cinema. Não se sabe se o anafórico “que” está se referindo ao
termo amiga ou a ex-namorado. Permutando o anafórico
“O governador vai pessoalmente inaugurar a creche dos “que” por “o qual” ou “a qual”, essa ambiguidade seria des-
funcionários do palácio, e o fará para demonstrar seu apreço feita.
aos servidores.”
Retomada por palavra lexical
(substantivo, adjetivo ou verbo)
A forma verbal “fará” retoma a perífrase verbal vai inau-
gurar e seu complemento.
Uma palavra pode ser retomada, que por uma repeti-
ção, quer por uma substituição por sinônimo, hiperônimo,
- Em princípio, o termo a que o anafórico se refere deve
hipônimo ou antonomásia.
estar presente no texto, senão a coesão fica comprometida,
Sinônimo é o nome que se dá a uma palavra que pos-
como neste exemplo:
sui o mesmo sentido que outra, ou sentido bastante apro-
ximado: injúria e afronta, alegre e contente.
“André é meu grande amigo. Começou a namorá-la há vá- Hiperônimo é um termo que mantém com outro uma
rios meses.” relação do tipo contém/está contido;
Hipônimo é uma palavra que mantém com outra uma
A rigor, não se pode dizer que o pronome “la” seja um relação do tipo está contido/contém. O significado do ter-
anafórico, pois não está retomando nenhuma das palavras mo rosa está contido no de flor e o de flor contém o de
citadas antes. Exatamente por isso, o sentido da frase fica to- rosa, pois toda rosa é uma flor, mas nem toda flor é uma
talmente prejudicado: não há possibilidade de se depreender rosa. Flor é, pois, hiperônimo de rosa, e esta palavra é hi-
o sentido desse pronome. pônimo daquela.
Pode ocorrer, no entanto, que o anafórico não se refira a Antonomásia é a substituição de um nome próprio
nenhuma palavra citada anteriormente no interior do texto, por um nome comum ou de um comum por um próprio.
mas que possa ser inferida por certos pressupostos típicos da Ela ocorre, principalmente, quando uma pessoa célebre
cultura em que se inscreve o texto. É o caso de um exemplo é designada por uma característica notória ou quando o
como este: nome próprio de uma personagem famosa é usada para
“O casamento teria sido às 20 horas. O noivo já estava de- designar outras pessoas que possuam a mesma caracterís-
sesperado, porque eram 21 horas e ela não havia comparecido.” tica que a distingue:
Por dados do contexto cultural, sabe-se que o pronome “O rei do futebol (=Pelé) som podia ser um brasileiro.”
“ela” é um anafórico que só pode estar-se referindo à palavra
noiva. Num casamento, estando presente o noivo, o desespe- “O herói de dois mundos (=Garibaldi) foi lembrado
ro só pode ser pelo atraso da noiva (representada por “ela” no numa recente minissérie de tevê.”
exemplo citado).
- O artigo indefinido serve geralmente para introduzir in- Referência ao fato notório de Giuseppe Garibaldi haver
formações novas ao texto. Quando elas forem retomadas, de- lutado pela liberdade na Europa e na América.
verão ser precedidas do artigo definido, pois este é que tem a “Ele é um hércules (=um homem muito forte).
função de indicar que o termo por ele determinado é idêntico,
em termos de valor referencial, a um termo já mencionado. Referência à força física que caracteriza o herói grego
Hércules.
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LÍNGUA PORTUGUESA
“Um presidente da República tem uma agenda de traba- Vejamos estes versos do poema “Círculo vicioso”, de Ma-
lho extremamente carregada. Deve receber ministros, embai- chado de Assis:
xadores, visitantes estrangeiros, parlamentares; precisa a todo
momento tomar graves decisões que afetam a vida de muitas (...)
pessoas; necessita acompanhar tudo o que acontece no Brasil Mas a lua, fitando o sol, com azedume:
e no mundo. Um presidente deve começar a trabalhar ao raiar
do dia e terminar sua jornada altas horas da noite.” “Mísera! Tivesse eu aquela enorme, aquela
Claridade imorta, que toda a luz resume!”
A repetição do termo presidente estabelece a coesão en- Obra completa. Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 1979,
tre o último período e o que vem antes dele. v.III, p. 151.
“Observava as estrelas, os planetas, os satélites. Os astros Nesse caso, o verbo dizer, que seria enunciado antes da-
sempre o atraíram. quilo que disse a lua, isto é, antes das aspas, fica subentendi-
do, é omitido por ser facilmente presumível.
Os dois períodos estão relacionados pelo hiperônimo Qualquer segmento da frase pode sofrer elipse. Veja que,
astros, que recupera os hipônimos estrelas, planetas, saté- no exemplo abaixo, é o sujeito meu pai que vem elidido (ou
lites. apagado) antes de sentiu e parou:
“Eles (os alquimistas) acreditavam que o organismo do “Meu pai começou a andar novamente, sentiu a pontada
homem era regido por humores (fluidos orgânicos) que per- no peito e parou.”
corriam, ou apenas existiam, em maior ou menor intensidade
em nosso corpo. Eram quatro os humores: o sangue, a fleuma Pode ocorrer também elipse por antecipação. No exem-
(secreção pulmonar), a bile amarela e a bile negra. E eram plo que segue, aquela promoção é complemento tanto de
também estes quatro fluidos ligados aos quatro elementos querer quanto de desejar, no entanto aparece apenas depois
fundamentais: ao Ar (seco), à Água (úmido), ao Fogo (quente) do segundo verbo:
e à Terra (frio), respectivamente.”
Ziraldo. In: Revista Vozes, nº3, abril de 1970, p.18. “Ficou muito deprimido com o fato de ter sido preferido.
Afinal, queria muito, desejava ardentemente aquela promoção.”
Nesse texto, a ligação entre o segundo e o primeiro pe-
ríodos se faz pela repetição da palavra humores; entre o ter- Quando se faz essa elipse por antecipação com verbos
ceiro e o segundo se faz pela utilização do sinônimo fluidos. que têm regência diferente, a coesão é rompida. Por exemplo,
É preciso manejar com muito cuidado a repetição de não se deve dizer “Conheço e gosto deste livro”, pois o verbo
palavras, pois, se ela não for usada para criar um efeito de conhecer rege complemento não introduzido por preposição,
sentido de intensificação, constituirá uma falha de estilo. e a elipse retoma o complemento inteiro, portanto teríamos
No trecho transcrito a seguir, por exemplo, fica claro o uso uma preposição indevida: “Conheço (deste livro) e gosto deste
da repetição da palavra vice e outras parecidas (vicissitudes, livro”. Em “Implico e dispenso sem dó os estranhos palpiteiros”,
vicejam, viciem), com a evidente intenção de ridicularizar a diferentemente, no complemento em elipse faltaria a prepo-
condição secundária que um provável flamenguista atribui sição “com” exigida pelo verbo implicar.
ao Vasco e ao seu Vice-presidente: Nesses casos, para assegurar a coesão, o recomendável é
colocar o complemento junto ao primeiro verbo, respeitando
“Recebi por esses dias um e-mail com uma série de piadas sua regência, e retomá-lo após o segundo por um anafóri-
sobre o pouco simpático Eurico Miranda. Faltam-me provas, co, acrescentando a preposição devida (Conheço este livro e
mas tudo leva a crer que o remetente seja um flamenguista.” gosto dele) ou eliminando a indevida (Implico com estranhos
Segundo o texto, Eurico nasceu para ser vice: é vice-pre- palpiteiros e os dispenso sem dó).
sidente do clube, vice-campeão carioca e bi vice-campeão
mundial. E isso sem falar do vice no Carioca de futsal, no Ca- Coesão por Conexão
rioca de basquete, no Brasileiro de basquete e na Taça Gua-
nabara. São vicissitudes que vicejam. Espero que não viciem. Há na língua uma série de palavras ou locuções que são
José Roberto Torero. In: Folha de S. Paulo, responsáveis pela concatenação ou relação entre segmentos
08/03/2000, p. 4-7. do texto. Esses elementos denominam-se conectores ou ope-
radores discursivos. Por exemplo: visto que, até, ora, no entan-
A elipse é o apagamento de um segmento de frase que to, contudo, ou seja.
pode ser facilmente recuperado pelo contexto. Também
constitui um expediente de coesão, pois é o apagamento de Note-se que eles fazem mais do que ligar partes do texto:
um termo que seria repetido, e o preenchimento do vazio estabelecem entre elas relações semânticas de diversos tipos,
deixado pelo termo apagado (=elíptico) exige, necessaria- como contrariedade, causa, consequência, condição, conclu-
mente, que se faça correlação com outros termos presentes são, etc. Essas relações exercem função argumentativa no tex-
no contexto, ou referidos na situação em que se desenrola to, por isso os operadores discursivos não podem ser usados
a fala. indiscriminadamente.
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LÍNGUA PORTUGUESA
Na frase “O time apresentou um bom futebol, mas não Esses operadores introduzem novos argumentos; não
alcançou a vitória”, por exemplo, o conector “mas” está ade- significam, em hipótese nenhuma, a repetição do que já
quadamente usado, pois ele liga dois segmentos com orien- foi dito. Ou seja, só podem ser ligados com conectores
tação argumentativa contrária. de conjunção segmentos que representam uma progres-
Se fosse utilizado, nesse caso, o conector “portanto”, o são discursiva. É possível dizer “Disfarçou as lágrimas que
resultado seria um paradoxo semântico, pois esse operador o assaltaram e continuou seu discurso”, porque o segundo
discursivo liga dois segmentos com a mesma orientação ar- segmento indica um desenvolvimento da exposição. Não
gumentativa, sendo o segmento introduzido por ele a con- teria cabimento usar operadores desse tipo para ligar dois
clusão do anterior. segmentos como “Disfarçou as lágrimas que o assaltaram
e escondeu o choro que tomou conta dele”.
- Gradação: há operadores que marcam uma gradação
numa série de argumentos orientados para uma mesma - Disjunção Argumentativa: há também operadores
conclusão. Dividem-se eles, em dois subtipos: os que indi- que indicam uma disjunção argumentativa, ou seja, fazem
cam o argumento mais forte de uma série: até, mesmo, até uma conexão entre segmentos que levam a conclusões
mesmo, inclusive, e os que subentendem uma escala com opostas, que têm orientação argumentativa diferente: ou,
argumentos mais fortes: ao menos, pelo menos, no mínimo, ou então, quer... quer, seja... seja, caso contrário, ao contrário.
no máximo, quando muito.
“Não agredi esse imbecil. Ao contrário, ajudei a separar
“Ele é um bom conferencista: tem uma voz bonita, é bem a briga, para que ele não apanhasse.”
articulado, conhece bem o assunto de que fala e é até sedutor.”
O argumento introduzido por ao contrário é diame-
Toda a série de qualidades está orientada no sentido de tralmente oposto àquele de que o falante teria agredido
comprovar que ele é bom conferencista; dentro dessa série, alguém.
ser sedutor é considerado o argumento mais forte.
- Conclusão: existem operadores que marcam uma
“Ele é ambicioso e tem grande capacidade de trabalho.
conclusão em relação ao que foi dito em dois ou mais
Chegará a ser pelo menos diretor da empresa.”
enunciados anteriores (geralmente, uma das afirmações
de que decorre a conclusão fica implícita, por manifestar
Pelo menos introduz um argumento orientado no mes-
uma voz geral, uma verdade universalmente aceita): logo,
mo sentido de ser ambicioso e ter grande capacidade de tra-
portanto, por conseguinte, pois (o pois é conclusivo quando
balho; por outro lado, subentende que há argumentos mais
não encabeça a oração).
fortes para comprovar que ele tem as qualidades requeridas
dos que vão longe (por exemplo, ser presidente da empresa)
e que se está usando o menos forte; ao menos, pelo menos e “Essa guerra é uma guerra de conquista, pois visa ao
no mínimo ligam argumentos de valor positivo. controle dos fluxos mundiais de petróleo. Por conseguinte,
não é moralmente defensável.”
“Ele não é bom aluno. No máximo vai terminar o segun-
do grau.” Por conseguinte introduz uma conclusão em relação à
afirmação exposta no primeiro período.
No máximo introduz um argumento orientado no mes-
mo sentido de ter muita dificuldade de aprender; supõe que - Comparação: outros importantes operadores discur-
há uma escala argumentativa (por exemplo, fazer uma fa- sivos são os que estabelecem uma comparação de igual-
culdade) e que se está usando o argumento menos forte da dade, superioridade ou inferioridade entre dois elementos,
escala no sentido de provar a afirmação anterior; no máximo com vistas a uma conclusão contrária ou favorável a certa
e quando muito estabelecem ligação entre argumentos de ideia: tanto... quanto, tão... como, mais... (do) que.
valor depreciativo.
“Os problemas de fuga de presos serão tanto mais gra-
- Conjunção Argumentativa: há operadores que as- ves quanto maior for a corrupção entre os agentes peniten-
sinalam uma conjunção argumentativa, ou seja, ligam um ciários.”
conjunto de argumentos orientados em favor de uma dada
conclusão: e, também, ainda, nem, não só... mas também, O comparativo de igualdade tem no texto uma função
tanto... como, além de, a par de. argumentativa: mostrar que o problema da fuga de presos
cresce à medida que aumenta a corrupção entre os agen-
“Se alguém pode tomar essa decisão é você. Você é o dire- tes penitenciários; por isso, os segmentos podem até ser
tor da escola, é muito respeitado pelos funcionários e também permutáveis do ponto de vista sintático, mas não o são do
é muito querido pelos alunos.” ponto de vista argumentativo, pois não há igualdade argu-
Arrolam-se três argumentos em favor da tese que é o mentativa proposta, “Tanto maior será a corrupção entre os
interlocutor quem pode tomar uma dada decisão. O último agentes penitenciários quanto mais grave for o problema da
deles é introduzido por “e também”, que indica um argumen- fuga de presos”.
to final na mesma direção argumentativa dos precedentes.
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Muitas vezes a permutação dos segmentos leva a con- Com as conjunções concessivas, a orientação argu-
clusões opostas: Imagine-se, por exemplo, o seguinte diálogo mentativa que predomina é a do segmento não introduzi-
entre o diretor de um clube esportivo e o técnico de futebol: do pela conjunção.
“__Precisamos promover atletas das divisões de base para
reforçar nosso time. “Embora haja conexão entre saber escrever e saber gra-
__Qualquer atleta das divisões de base é tão bom quanto mática, trata-se de capacidades diferentes.”
os do time principal.” A oração iniciada por “embora” apresenta uma orien-
Nesse caso, o argumento do técnico é a favor da promo- tação argumentativa no sentido de que saber escrever e
ção, pois ele declara que qualquer atleta das divisões de base saber gramática são duas coisas interligadas; a oração prin-
tem, pelo menos, o mesmo nível dos do time principal, o que cipal conduz à direção argumentativa contrária.
significa que estes não primam exatamente pela excelência Quando se utilizam conjunções concessivas, a estraté-
em relação aos outros. gia argumentativa é a de introduzir no texto um argumento
Suponhamos, agora, que o técnico tivesse invertido os que, embora tido como verdadeiro, será anulado por outro
segmentos na sua fala: mais forte com orientação contrária.
A diferença entre as adversativas e as concessivas, por-
“__Qualquer atleta do time principal é tão bom quanto os tanto, é de estratégia argumentativa. Compare os seguin-
das divisões de base.” tes períodos:
Nesse caso, seu argumento seria contra a necessidade da “Por mais que o exército tivesse planejado a operação
promoção, pois ele estaria declarando que os atletas do time (argumento mais fraco), a realidade mostrou-se mais com-
principal são tão bons quanto os das divisões de base. plexa (argumento mais forte).”
“O exército planejou minuciosamente a operação (argu-
- Explicação ou Justificativa: há operadores que intro- mento mais fraco), mas a realidade mostrou-se mais com-
duzem uma explicação ou uma justificativa em relação ao que plexa (argumento mais forte).”
foi dito anteriormente: porque, já que, que, pois.
- Argumento Decisivo: há operadores discursivos que
“Já que os Estados Unidos invadiram o Iraque sem autori-
introduzem um argumento decisivo para derrubar a argu-
zação da ONU, devem arcar sozinhos com os custos da guerra.”
mentação contrária, mas apresentando-o como se fosse
um acréscimo, como se fosse apenas algo mais numa sé-
Já que inicia um argumento que dá uma justificativa para
rie argumentativa: além do mais, além de tudo, além disso,
a tese de que os Estados Unidos devam arcar sozinhos com o
ademais.
custo da guerra contra o Iraque.
- Contrajunção: os operadores discursivos que assinalam “Ele está num período muito bom da vida: começou a
uma relação de contrajunção, isto é, que ligam enunciados namorar a mulher de seus sonhos, foi promovido na empre-
com orientação argumentativa contrária, são as conjunções sa, recebeu um prêmio que ambicionava havia muito tempo
adversativas (mas, contudo, todavia, no entanto, entretanto, e, além disso, ganhou uma bolada na loteria.”
porém) e as concessivas (embora, apesar de, apesar de que,
conquanto, ainda que, posto que, se bem que). O operador discursivo introduz o que se considera a
Qual é a diferença entre as adversativas e as concessivas, prova mais forte de que “Ele está num período muito bom
se tanto umas como outras ligam enunciados com orientação da vida”; no entanto, essa prova é apresentada como se
argumentativa contrária? fosse apenas mais uma.
Nas adversativas, prevalece a orientação do segmento in-
troduzido pela conjunção. - Generalização ou Amplificação: existem operado-
res que assinalam uma generalização ou uma amplificação
“O atleta pode cair por causa do impacto, mas se levanta do que foi dito antes: de fato, realmente, como aliás, tam-
mais decidido a vencer.” bém, é verdade que.
Nesse caso, a primeira oração conduz a uma conclusão “O problema da erradicação da pobreza passa pela ge-
negativa sobre um processo ocorrido com o atleta, enquanto ração de empregos. De fato, só o crescimento econômico
a começada pela conjunção “mas” leva a uma conclusão posi- leva ao aumento de renda da população.”
tiva. Essa segunda orientação é a mais forte.
Compare-se, por exemplo, “Ela é simpática, mas não é O conector introduz uma amplificação do que foi dito
bonita” com “Ela não é bonita, mas é simpática”. No primeiro antes.
caso, o que se quer dizer é que a simpatia é suplantada pela
falta de beleza; no segundo, que a falta de beleza perde rele- “Ele é um técnico retranqueiro, como aliás o são todos os
vância diante da simpatia. Quando se usam as conjunções ad- que atualmente militam no nosso futebol.
versativas, introduz-se um argumento com vistas a determi- O conector introduz uma generalização ao que foi afir-
nada conclusão, para, em seguida, apresentar um argumento mado: não “ele”, mas todos os técnicos do nosso futebol
decisivo para uma conclusão contrária. são retranqueiros.
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O operador introduz uma confirmação do que foi afir- “A reforma política é indispensável. Sem a existência da
mado antes. fidelidade partidária, cada parlamentar vota segundo seus
interesses e não de acordo com um programa partidário. As-
sim, não há bases governamentais sólidas.”
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Que é a unidade de sentido resultante da relação que se esta- “Pior fez o quarto-zagueiro Edinho Baiano, do Paraná Clu-
belece entre as partes do texto. Uma ideia ajuda a compreender a be, entrevistado por um repórter da Rádio Cidade. O Paraná
outra, produzindo um sentido global, à luz do qual cada uma das tinha tomado um balaio de gols do Guarani de Campinas, al-
partes ganha sentido. No poema acima, os subtítulos “Infância”, guns dias antes. O repórter queria saber o que tinha acontecido.
“Adolescência”, “Maturidade” e “Velhice” garantem essa unidade. Edinho não teve dúvida sobre os motivos:
Colocar a participação formal do nascimento da filha, por exem- __ Como a gente já esperava, fomos surpreendidos pelo ata-
plo, sob o título “Maturidade” dá a conotação da responsabilidade que do Guarani.”
habitualmente associada ao indivíduo adulto e cria um sentido Ernâni Buchman. In: Folha de Londrina.
unitário.
Esse texto, como outros do mesmo tipo, comprova que um A surpresa implica o inesperado. Não se pode ser sur-
conjunto de enunciados pode formar um todo coerente mesmo preendido com o que já se esperava que acontecesse.
sem a presença de elementos coesivos, isto é, mesmo sem a pre-
sença explícita de marcadores de relação entre as diferentes uni- Coerência Argumentativa
dades linguísticas. Em outros termos, a coesão funciona apenas
como um mecanismo auxiliar na produção da unidade de sentido, A coerência argumentativa diz respeito às relações de im-
pois esta depende, na verdade, das relações subjacentes ao texto, plicação ou de adequação entre premissas e conclusões ou
da não-contradição entre as partes, da continuidade semântica, entre afirmações e consequências. Não é possível alguém di-
em síntese, da coerência. zer que é a favor da pena de morte porque é contra tirar a vida
A coerência é um fator de interpretabilidade do texto, pois de alguém. Da mesma forma, é incoerente defender o respeito
possibilita que todas as suas partes sejam englobadas num único à lei e à Constituição Brasileira e ser favorável à execução de
significado que explique cada uma delas. Quando esse sentido assaltantes no interior de prisões.
não pode ser alcançado por faltar relação de sentido entre as par- Muitas vezes, as conclusões não são adequadas às pre-
tes, lemos um texto incoerente, como este: missas. Não há coerência, por exemplo, num raciocínio como
A todo ser humano foi dado o direito de opção entre a medio- este:
cridade de uma vida que se acomoda e a grandeza de uma vida
voltada para o aprimoramento intelectual. Há muitos servidores públicos no Brasil que são verdadeiros
A adolescência é uma fase tão difícil que todos enfrentam. De marajás.
repente vejo que não sou mais uma “criancinha” dependente do O candidato a governador é funcionário público.
“papai”. Chegou a hora de me decidir! Tenho que escolher uma pro- Portanto o candidato é um marajá.
fissão para me realizar e ser independente financeiramente.
No país em que vivemos, que predomina o capitalismo, o mais Segundo uma lei da lógica formal, não se pode concluir
rico sempre é quem vence! nada com certeza baseado em duas premissas particulares.
Apud: J. A. Durigan, M. B. M. Abaurre e Y. F. Vieira (orgs). Dizer que muitos servidores públicos são marajás não permite
A magia da mudança. Campinas, Unicamp, 1987, p. 53. concluir que qualquer um seja.
A falta de relação entre o que se diz e o que foi dito ante-
Nesses parágrafos, vemos três temas (direito de opção; ado- riormente também constitui incoerência. É o que se vê neste
lescência e escolha profissional; relações sociais sob o capitalismo) diálogo:
que mantêm relações muito tênues entre si. Esse fato, prejudican-
do a continuidade semântica entre as partes, impede a apreensão “__ Vereador, o senhor é a favor ou contra o pagamento de
do todo e, portanto, configura um texto incoerente. pedágio para circular no centro da cidade?
Há no texto, vários tipos de relação entre as partes que o com- _
põem, e, por isso, costuma-se falar em vários níveis de coerência. _ É preciso melhorar a vida dos habitantes das grandes ci-
dades. A degradação urbana atinge a todos nós e, por conse-
Coerência Narrativa guinte, é necessário reabilitar as áreas que contam com abun-
dante oferta de serviços públicos.”
A coerência narrativa consiste no respeito às implicações ló-
gicas entre as partes do relato. Por exemplo, para que um sujeito Coerência Figurativa
realize uma ação, é preciso que ele tenha competência para tanto,
ou seja, que saiba e possa efetuá-la. Constitui, então, incoerência A coerência figurativa refere-se à compatibilidade das
narrativa o seguinte exemplo: o narrador conta que foi a uma festa figuras que manifestam determinado tema. Para que o leitor
onde todos fumavam e, por isso, a espessa fumaça impedia que possa perceber o tema que está sendo veiculado por uma
se visse qualquer coisa; de repente, sem mencionar nenhuma série de figuras encadeadas, estas precisam ser compatíveis
mudança dessa situação, ele diz que se encostou a uma coluna umas com as outras. Seria estranho (para dizer o mínimo) que
e passou a observar as pessoas, que eram ruivas, loiras, morenas. alguém, ao descrever um jantar oferecido no palácio do Ita-
Se o narrador diz que não podia enxergar nada, é incoerente dizer marati a um governador estrangeiro, depois de falar de baixela
que via as pessoas com tanta nitidez. Em outros termos, se nega a de prata, porcelana finíssima, flores, candelabros, toalhas de
competência para a realização de um desempenho qualquer, esse renda, incluísse no percurso figurativo guardanapos de papel.
desempenho não pode ocorrer. Isso por respeito às leis da coerên-
cia narrativa. Observe outro exemplo:
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Ninguém há de negar a incoerência de um texto como “Um chopps, dois pastel, o polpettone do Jardim de Na-
este: Saltou para a rua, abriu a janela do 5º andar e deixou poli, cruzar a Ipiranga com a avenida São João, o “Parmera”,
um bilhete no parapeito explicando a razão de seu suicídio, o “Curíntia”, todo mundo estar usando cinto de segurança.”
em que há evidente violação da lei sucessivamente dos even- À primeira vista, parece não haver nenhuma coerência
tos. Entretanto talvez nem todo mundo concorde que seja na enumeração desses elementos. Quando ficamos saben-
incoerente incluir guardanapos de papel no jantar do Itama- do, no entanto, que eles fazem parte de um texto intitulado
rati descrito no item sobre coerência figurativa, alguém po- “100 motivos para gostar de São Paulo”, o que aparente-
deria objetivar que é preconceito considerá-los inadequados. mente era caótico torna-se coerente:
Então, justifica-se perguntar: o que, afinal, determina se um
texto é ou não coerente?
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São as que ocorrem no modo de pronunciar os sons Dizem respeito às correlações entre as palavras da frase.
constituintes da palavra. Os exemplos de variação fônica No domínio da sintaxe, como no da morfologia, não são tan-
são abundantes e, ao lado do vocabulário, constituem os tas as diferenças entre uma variante e outra. Como exemplo,
domínios em que se percebe com mais nitidez a diferen- podemos citar:
ça entre uma variante e outra. Entre esses casos, podemos - o uso de pronomes do caso reto com outra função que
citar: não a de sujeito: encontrei ele (em vez de encontrei-o) na rua;
- a queda do “r” final dos verbos, muito comum na não irão sem você e eu (em vez de mim); nada houve entre tu
linguagem oral no português: falá, vendê, curti (em vez de (em vez de ti) e ele.
curtir), compô. - o uso do pronome lhe como objeto direto: não lhe (em
- o acréscimo de vogal no início de certas palavras: eu vez de “o”) convidei; eu lhe (em vez de “o”) vi ontem.
me alembro, o pássaro avoa, formas comuns na linguagem - a ausência da preposição adequada antes do pronome
clássica, hoje frequentes na fala caipira. relativo em função de complemento verbal: são pessoas que
- a queda de sons no início de palavras: ocê, cê, ta, tava, (em vez de: de que) eu gosto muito; este é o melhor filme que
marelo (amarelo), margoso (amargoso), características na (em vez de a que) eu assisti; você é a pessoa que (em vez de
linguagem oral coloquial. em que) eu mais confio.
- a redução de proparoxítonas a paroxítonas: Petrópis - a substituição do pronome relativo “cujo” pelo prono-
(Petrópolis), fórfi (fósforo), porva (pólvora), todas elas for- me “que” no início da frase mais a combinação da preposição
mam típicas de pessoas de baixa extração social. “de” com o pronome “ele” (=dele): É um amigo que eu já co-
- A pronúncia do “l” final de sílaba como “u” (na maioria nhecia a família dele (em vez de ...cuja família eu já conhecia).
das regiões do Brasil) ou como “l” (em certas regiões do - a mistura de tratamento entre tu e você, sobretudo
Rio Grande do Sul e Santa Catarina) ou ainda como “r” (na quando se trata de verbos no imperativo: Entra, que eu quero
linguagem caipira): quintau, quintar, quintal; pastéu, paster, falar com você (em vez de contigo); Fala baixo que a sua (em
vez de tua) voz me irrita.
pastel; faróu, farór, farol.
- ausência de concordância do verbo com o sujeito: Eles
- deslocamento do “r” no interior da sílaba: largato,
chegou tarde (em grupos de baixa extração social); Faltou na-
preguntar, estrupo, cardeneta, típicos de pessoas de baixa
quela semana muitos alunos; Comentou-se os episódios.
extração social.
Variações Léxicas
Variações Morfológicas
É o conjunto de palavras de uma língua. As variantes
São as que ocorrem nas formas constituintes da pala- do plano do léxico, como as do plano fônico, são muito
vra. Nesse domínio, as diferenças entre as variantes não são numerosas e caracterizam com nitidez uma variante em
tão numerosas quanto as de natureza fônica, mas não são confronto com outra. Eis alguns, entre múltiplos exem-
desprezíveis. Como exemplos, podemos citar: plos possíveis de citar:
- o uso do prefixo hiper- em vez do sufixo -íssimo para - a escolha do adjetivo maior em vez do advérbio muito
criar o superlativo de adjetivos, recurso muito característico para formar o grau superlativo dos adjetivos, características
da linguagem jovem urbana: um cara hiper-humano (em da linguagem jovem de alguns centros urbanos: maior legal;
vez de humaníssimo), uma prova hiper difícil (em vez de maior difícil; Esse amigo é um carinha maior esforçado.
dificílima), um carro hiper possante (em vez de possantís- - as diferenças lexicais entre Brasil e Portugal são tantas
simo). e, às vezes, tão surpreendentes, que têm sido objeto de piada
- a conjugação de verbos irregulares pelo modelo dos de lado a lado do Oceano. Em Portugal chamam de cueca
regulares: ele interviu (interveio), se ele manter (mantiver), aquilo que no Brasil chamamos de calcinha; o que chama-
se ele ver (vir) o recado, quando ele repor (repuser). mos de fila no Brasil, em Portugal chamam de bicha; café
- a conjugação de verbos regulares pelo modelo de da manhã em Portugal se diz pequeno almoço; camisola em
irregulares: vareia (varia), negoceia (negocia). Portugal traduz o mesmo que chamamos de suéter, malha,
- uso de substantivos masculinos como femininos ou camiseta.
vice-versa: duzentas gramas de presunto (duzentos), a
champanha (o champanha), tive muita dó dela (muito dó), Designações das Variantes Lexicais:
mistura do cal (da cal).
- a omissão do “s” como marca de plural de substanti- - Arcaísmo: diz-se de palavras que já caíram de uso e,
vos e adjetivos (típicos do falar paulistano): os amigo e as por isso, denunciam uma linguagem já ultrapassada e enve-
amiga, os livro indicado, as noite fria, os caso mais comum. lhecida. É o caso de reclame, em vez de anúncio publicitário;
- o enfraquecimento do uso do modo subjuntivo: Es- na década de 60, o rapaz chamava a namorada de broto (hoje
pero que o Brasil reflete (reflita) sobre o que aconteceu nas se diz gatinha ou forma semelhante), e um homem bonito
últimas eleições; Se eu estava (estivesse) lá, não deixava era um pão; na linguagem antiga, médico era designado pelo
acontecer; Não é possível que ele esforçou (tenha se esfor- nome físico; um bobalhão era chamado de coió ou bocó; em
çado) mais que eu. vez de refrigerante usava-se gasosa; algo muito bom, de qua-
lidade excelente, era supimpa.
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- Neologismo: é o contrário do arcaísmo. Trata-se de - Preciosismo: diz-se que é preciosista um léxico exces-
palavras recém-criadas, muitas das quais mal ou nem estra- sivamente erudito, muito raro, afetado: Escoimar (em vez de
ram para os dicionários. A moderna linguagem da compu- corrigir); procrastinar (em vez de adiar); discrepar (em vez de
tação tem vários exemplos, como escanear, deletar, printar; discordar); cinesíforo (em vez de motorista); obnubilar (em
outros exemplos extraídos da tecnologia moderna são mi- vez de obscurecer ou embaçar); conúbio (em vez de casa-
xar (fazer a combinação de sons), robotizar, robotização. mento); chufa (em vez de caçoada, troça).
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Da comparação entre as frases 1 e 2, podemos concluir (...) Embora sem saber da missa a metade, os presun-
que as condições sociais influem no modo de falar dos in- çosos queriam ensinar padre-nosso ao vigário, e com isso
divíduos, gerando, assim, certas variações na maneira de punham a mão em cumbuca. Era natural que com eles se
usar uma mesma língua. A elas damos o nome de variações perdesse a tramontana. A pessoa cheia de melindres ficava
socioculturais. sentida com a desfeita que lhe faziam quando, por exemplo,
insinuavam que seu filho era artioso. Verdade seja que às
- Geográfica: é, no Brasil, bastante grande e pode ser vezes os meninos eram mesmo encapetados; chegavam a pi-
facilmente notada. Ela se caracteriza pelo acento linguís- tar escondido, atrás da igreja. As meninas, não: verdadeiros
tico, que é o conjunto das qualidades fisiológicas do som cromos, umas teteias.
(altura, timbre, intensidade), por isso é uma variante cujas (...) Antigamente, os sobrados tinham assombrações, os
marcas se notam principalmente na pronúncia. Ao conjun- meninos, lombrigas; asthma os gatos, os homens portavam
to das características da pronúncia de uma determinada ceroulas, bortinas a capa de goma (...). Não havia fotógrafos,
região dá-se o nome de sotaque: sotaque mineiro, sota- mas retratistas, e os cristãos não morriam: descansavam.
que nordestino, sotaque gaúcho etc. A variação geográfica, Mas tudo isso era antigamente, isto é, doutora.
além de ocorrer na pronúncia, pode também ser percebida
no vocabulário, em certas estruturas de frases e nos sen- Texto II
tidos diferentes que algumas palavras podem assumir em
diferentes regiões do país. Entre Palavras
Leia, como exemplo de variação geográfica, o trecho
abaixo, em que Guimarães Rosa, no conto “São Marcos”, re- Entre coisas e palavras – principalmente entre palavras
cria a fala de um típico sertanejo do centro-norte de Minas: – circulamos. A maioria delas não figura nos dicionários de
há trinta anos, ou figura com outras acepções. A todo mo-
“__ Mas você tem medo dele... [de um feiticeiro chamado mento impõe-se tornar conhecimento de novas palavras e
Mangolô!]. combinações de.
__ Há-de-o!... Agora, abusar e arrastar mala, não faço. Você que me lê, preste atenção. Não deixe passar ne-
Não faço, porque não paga a pena... De primeiro, quando eu nhuma palavra ou locução atual, pelo seu ouvido, sem regis-
era moço, isso sim!... Já fui gente. Para ganhar aposta, já fui, trá-la. Amanhã, pode precisar dela. E cuidado ao conversar
de noite, foras d’hora, em cemitério... (...). Quando a gente é com seu avô; talvez ele não entenda o que você diz.
novo, gosta de fazer bonito, gosta de se comparecer. Hoje, O malote, o cassete, o spray, o fuscão, o copião, a Ve-
não, estou percurando é sossego...” maguet, a chacrete, o linóleo, o nylon, o nycron, o ditafone,
- Histórica: as línguas não são estáticas, fixas, imutá- a informática, a dublagem, o sinteco, o telex... Existiam em
veis. Elas se alteram com o passar do tempo e com o uso. 1940?
Muda a forma de falar, mudam as palavras, a grafia e o Ponha aí o computador, os anticoncepcionais, os mísseis,
sentido delas. Essas alterações recebem o nome de varia- a motoneta, a Velo-Solex, o biquíni, o módulo lunar, o anti-
ções históricas. biótico, o enfarte, a acumputura, a biônica, o acrílico, o ta le-
Os dois textos a seguir são de Carlos Drummond de gal, a apartheid, o som pop, as estruturas e a infraestrutura.
Andrade. Neles, o escritor, meio em tom de brincadeira, Não esqueça também (seria imperdoável) o Terceiro
mostra como a língua vai mudando com o tempo. No texto Mundo, a descapitalização, o desenvolvimento, o unissex, o
I, ele fala das palavras de antigamente e, no texto II, fala das bandeirinha, o mass media, o Ibope, a renda per capita, a
palavras de hoje. mixagem.
Só? Não. Tem seu lugar ao sol a metalinguagem, o ser-
Texto I vomecanismo, as algias, a coca-cola, o superego, a Futurolo-
gia, a homeostasia, a Adecif, a Transamazônica, a Sudene, o
Antigamente Incra, a Unesco, o Isop, a Oea, e a ONU.
Estão reclamando, porque não citei a conotação, o con-
Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e glomerado, a diagramação, o ideologema, o idioleto, o ICM,
eram todas mimosas e prendadas. Não fazia anos; comple- a IBM, o falou, as operações triangulares, o zoom, e a gui-
tavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo não tarra elétrica.
sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, Olhe aí na fila – quem? Embreagem, defasagem, barra
mas ficavam longos meses debaixo do balaio. E se levantam tensora, vela de ignição, engarrafamento, Detran, poliéster,
tábua, o remédio era tirar o cavalo da chuva e ir pregar em filhotes de bonificação, letra imobiliária, conservacionismo,
outra freguesia. (...) Os mais idosos, depois da janta, faziam o carnet da girafa, poluição.
quilo, saindo para tomar a fresca; e também tomava cautela Fundos de investimento, e daí? Também os de incentivos
de não apanhar sereno. Os mais jovens, esses iam ao ani- fiscais. Knon-how. Barbeador elétrico de noventa microrra-
matógrafo, e mais tarde ao cinematógrafo, chupando balas nhuras. Fenolite, Baquelite, LP e compacto. Alimentos super
de alteia. Ou sonhavam em andar de aeroplano; os quais, de congelados. Viagens pelo crediário, Circuito fechado de TV
pouco siso, se metiam em camisas de onze varas, e até em Rodoviária. Argh! Pow! Click!
calças pardas; não admira que dessem com os burros n’agua.
91
LÍNGUA PORTUGUESA
Não havia nada disso no Jornal do tempo de Vences- Eu não sei tem dia... depende do meu estado de espíri-
lau Brás, ou mesmo, de Washington Luís. Algumas coisas to, tem dia que minha voz... mais ta assim, sabe? taquara
começam a aparecer sob Getúlio Vargas. Hoje estão ali na rachada? Fica assim aquela voz baixa. Outro dia eu fui lê
esquina, para consumo geral. A enumeração caótica não é um artigo, lê?! Um menino lá que faiz pós-graduação na,
uma invenção crítica de Leo Spitzer. Está aí, na vida de todos na GV, ele me, nóis ficamo até duas hora da manhã ele me
os dias. Entre palavras circulamos, vivemos, morremos, e pa- explicando toda a matéria de economia, das nove da noite.
lavras somos, finalmente, mas com que significado?
(Carlos Drummond de Andrade, Poesia e prosa, Como se pode notar, não há preocupação com a pro-
Rio de Janeiro, Nova Aguiar, 1988) núncia nem com a continuidade das ideias, nem com a es-
colha das palavras. Para exemplificar o estilo formal, eis um
- De Situação: aquelas que são provocadas pelas al- trecho da gravação de uma aula de português de uma pro-
terações das circunstâncias em que se desenrola o ato de fessora universitária do Rio de Janeiro, transcrito do livro de
comunicação. Um modo de falar compatível com determi- Dinah Callou. A linguagem falada culta na cidade do Rio de
nada situação é incompatível com outra: Janeiro. As pausas são marcadas com reticências.
Ô mano, ta difícil de te entendê. ...o que está ocorrendo com nossos alunos é uma frag-
mentação do ensino... ou seja... ele perde a noção do todo...
Esse modo de dizer, que é adequado a um diálogo em e fica com uma série... de aspectos teóricos... isolados... que
situação informal, não tem cabimento se o interlocutor é o ele não sabe vincular a realidade nenhuma de seu idioma...
professor em situação de aula. isto é válido também para a faculdade de letras... ou seja...
Assim, um único indivíduo não fala de maneira unifor- né? há uma série... de conceitos teóricos... que têm nomes
me em todas as circunstâncias, excetuados alguns falantes bonitos e sofisticados... mas que... na hora de serem em-
da linguagem culta, que servem invariavelmente de uma pregados... deixam muito a desejar...
linguagem formal, sendo, por isso mesmo, considerados
excessivamente formais ou afetados. Nota-se que, por tratar-se de exposição oral, não há o
São muitos os fatores de situação que interferem na grau de formalidade e planejamento típico do texto escrito,
fala de um indivíduo, tais como o tema sobre o qual ele mas trata-se de um estilo bem mais formal e vigiado que o
discorre (em princípio ninguém fala da morte ou de suas da menina ao telefone.
crenças religiosas como falaria de um jogo de futebol ou
de uma briga que tenha presenciado), o ambiente físico Argumentação
em que se dá um diálogo (num templo não se usa a mesma
linguagem que numa sauna), o grau de intimidade entre O ato de comunicação não visa apenas transmitir uma
os falantes (com um superior, a linguagem é uma, com um informação a alguém. Quem comunica pretende criar uma
colega de mesmo nível, é outra), o grau de comprometi- imagem positiva de si mesmo (por exemplo, a de um sujei-
mento que a fala implica para o falante (num depoimento to educado, ou inteligente, ou culto), quer ser aceito, deseja
para um juiz no fórum escolhem-se as palavras, num rela- que o que diz seja admitido como verdadeiro. Em síntese,
to de uma conquista amorosa para um colega fala-se com tem a intenção de convencer, ou seja, tem o desejo de que
menos preocupação). o ouvinte creia no que o texto diz e faça o que ele propõe.
As variações de acordo com a situação costumam ser Se essa é a finalidade última de todo ato de comuni-
chamadas de níveis de fala ou, simplesmente, variações de cação, todo texto contém um componente argumentati-
estilo e são classificadas em duas grandes divisões: vo. A argumentação é o conjunto de recursos de natureza
linguística destinados a persuadir a pessoa a quem a co-
- Estilo Formal: aquele em que é alto o grau de refle- municação se destina. Está presente em todo tipo de texto
xão sobre o que se diz, bem como o estado de atenção e e visa a promover adesão às teses e aos pontos de vista
vigilância. É na linguagem escrita, em geral, que o grau de defendidos.
formalidade é mais tenso. As pessoas costumam pensar que o argumento seja
- Estilo Informal (ou coloquial): aquele em que se fala apenas uma prova de verdade ou uma razão indiscutível
com despreocupação e espontaneidade, em que o grau de para comprovar a veracidade de um fato. O argumento é
reflexão sobre o que se diz é mínimo. É na linguagem oral mais que isso: como se disse acima, é um recurso de lin-
íntima e familiar que esse estilo melhor se manifesta. guagem utilizado para levar o interlocutor a crer naquilo
que está sendo dito, a aceitar como verdadeiro o que está
Como exemplo de estilo coloquial vem a seguir um sendo transmitido. A argumentação pertence ao domínio
pequeno trecho da gravação de uma conversa telefônica da retórica, arte de persuadir as pessoas mediante o uso de
entre duas universitárias paulistanas de classe média, trans- recursos de linguagem.
crito do livro Tempos Linguísticos, de Fernando Tarallo. AS Para compreender claramente o que é um argumento,
reticências indicam as pausas. é bom voltar ao que diz Aristóteles, filósofo grego do sécu-
lo IV a.C., numa obra intitulada “Tópicos: os argumentos são
úteis quando se tem de escolher entre duas ou mais coisas”.
92
LÍNGUA PORTUGUESA
Se tivermos de escolher entre uma coisa vantajosa e Já vimos diversas características dos argumentos. É pre-
uma desvantajosa, como a saúde e a doença, não precisa- ciso acrescentar mais uma: o convencimento do interlocutor,
mos argumentar. Suponhamos, no entanto, que tenhamos o auditório, que pode ser individual ou coletivo, será tanto
de escolher entre duas coisas igualmente vantajosas, a ri- mais fácil quanto mais os argumentos estiverem de acordo
queza e a saúde. Nesse caso, precisamos argumentar sobre com suas crenças, suas expectativas, seus valores. Não se
qual das duas é mais desejável. O argumento pode então pode convencer um auditório pertencente a uma dada cul-
ser definido como qualquer recurso que torna uma coisa tura enfatizando coisas que ele abomina. Será mais fácil con-
mais desejável que outra. Isso significa que ele atua no do- vencê-lo valorizando coisas que ele considera positivas. No
mínio do preferível. Ele é utilizado para fazer o interlocutor Brasil, a publicidade da cerveja vem com frequência associada
crer que, entre duas teses, uma é mais provável que a outra, ao futebol, ao gol, à paixão nacional. Nos Estados Unidos, essa
mais possível que a outra, mais desejável que a outra, é associação certamente não surtiria efeito, porque lá o futebol
preferível à outra. não é valorizado da mesma forma que no Brasil. O poder per-
O objetivo da argumentação não é demonstrar a ver- suasivo de um argumento está vinculado ao que é valorizado
dade de um fato, mas levar o ouvinte a admitir como ver- ou desvalorizado numa dada cultura.
dadeiro o que o enunciador está propondo.
Há uma diferença entre o raciocínio lógico e a argu- Tipos de Argumento
mentação. O primeiro opera no domínio do necessário,
ou seja, pretende demonstrar que uma conclusão deriva Já verificamos que qualquer recurso linguístico destinado
necessariamente das premissas propostas, que se deduz a fazer o interlocutor dar preferência à tese do enunciador é
obrigatoriamente dos postulados admitidos. No raciocínio um argumento. Exemplo:
lógico, as conclusões não dependem de crenças, de uma
maneira de ver o mundo, mas apenas do encadeamento de Argumento de Autoridade
premissas e conclusões.
É a citação, no texto, de afirmações de pessoas reconhe-
Por exemplo, um raciocínio lógico é o seguinte enca-
cidas pelo auditório como autoridades em certo domínio
deamento:
do saber, para servir de apoio àquilo que o enunciador está
propondo. Esse recurso produz dois efeitos distintos: revela o
A é igual a B.
conhecimento do produtor do texto a respeito do assunto de
A é igual a C.
que está tratando; dá ao texto a garantia do autor citado. É
Então: C é igual a A.
preciso, no entanto, não fazer do texto um amontoado de ci-
tações. A citação precisa ser pertinente e verdadeira. Exemplo:
Admitidos os dois postulados, a conclusão é, obrigato-
riamente, que C é igual a A.
Outro exemplo: “A imaginação é mais importante do que o conhecimento.”
Todo ruminante é um mamífero. Quem disse a frase aí de cima não fui eu... Foi Einstein.
A vaca é um ruminante. Para ele, uma coisa vem antes da outra: sem imaginação, não
Logo, a vaca é um mamífero. há conhecimento. Nunca o inverso.
93
LÍNGUA PORTUGUESA
É uma variante do argumento de quantidade. Funda- É aquele que considera melhor o que tem proprieda-
menta-se em afirmações que, numa determinada época, des típicas daquilo que é mais valorizado socialmente, por
são aceitas como verdadeiras e, portanto, dispensam com- exemplo, o mais raro é melhor que o comum, o que é mais
provações, a menos que o objetivo do texto seja compro- refinado é melhor que o que é mais grosseiro, etc.
var alguma delas. Parte da ideia de que o consenso, mesmo
que equivocado, corresponde ao indiscutível, ao verdadei- Por esse motivo, a publicidade usa, com muita frequên-
ro e, portanto, é melhor do que aquilo que não desfruta cia, celebridades recomendando prédios residenciais, pro-
dele. Em nossa época, são consensuais, por exemplo, as dutos de beleza, alimentos estéticos, etc., com base no fato
afirmações de que o meio ambiente precisa ser protegido de que o consumidor tende a associar o produto anuncia-
e de que as condições de vida são piores nos países sub- do com atributos da celebridade.
desenvolvidos. Ao confiar no consenso, porém, corre-se Uma variante do argumento de atributo é o argumento
o risco de passar dos argumentos válidos para os lugares da competência linguística. A utilização da variante culta e
comuns, os preconceitos e as frases carentes de qualquer formal da língua que o produtor do texto conhece a norma
base científica. linguística socialmente mais valorizada e, por conseguin-
te, deve produzir um texto em que se pode confiar. Nesse
Argumento de Existência sentido é que se diz que o modo de dizer dá confiabilidade
ao que se diz.
É aquele que se fundamenta no fato de que é mais fácil Imagine-se que um médico deva falar sobre o estado
aceitar aquilo que comprovadamente existe do que aquilo de saúde de uma personalidade pública. Ele poderia fazê
que é apenas provável, que é apenas possível. A sabedoria -lo das duas maneiras indicadas abaixo, mas a primeira se-
popular enuncia o argumento de existência no provérbio ria infinitamente mais adequada para a persuasão do que a
segunda, pois esta produziria certa estranheza e não criaria
“Mais vale um pássaro na mão do que dois voando”.
uma imagem de competência do médico:
Nesse tipo de argumento, incluem-se as provas docu-
mentais (fotos, estatísticas, depoimentos, gravações, etc.)
- Para aumentar a confiabilidade do diagnóstico e le-
ou provas concretas, que tornam mais aceitável uma afir-
vando em conta o caráter invasivo de alguns exames, a equi-
mação genérica. Durante a invasão do Iraque, por exem-
pe médica houve por bem determinar o internamento do
plo, os jornais diziam que o exército americano era muito
governador pelo período de três dias, a partir de hoje, 4 de
mais poderoso do que o iraquiano. Essa afirmação, sem ser
fevereiro de 2001.
acompanhada de provas concretas, poderia ser vista como
- Para conseguir fazer exames com mais cuidado e por-
propagandística. No entanto, quando documentada pela
que alguns deles são barrapesada, a gente botou o governa-
comparação do número de canhões, de carros de combate, dor no hospital por três dias.
de navios, etc., ganhava credibilidade.
Como dissemos antes, todo texto tem uma função ar-
Argumento quase lógico gumentativa, porque ninguém fala para não ser levado a
sério, para ser ridicularizado, para ser desmentido: em todo
É aquele que opera com base nas relações lógicas, ato de comunicação deseja-se influenciar alguém. Por mais
como causa e efeito, analogia, implicação, identidade, etc. neutro que pretenda ser, um texto tem sempre uma orien-
Esses raciocínios são chamados quase lógicos porque, di- tação argumentativa.
versamente dos raciocínios lógicos, eles não pretendem A orientação argumentativa é uma certa direção que
estabelecer relações necessárias entre os elementos, mas o falante traça para seu texto. Por exemplo, um jornalista,
sim instituir relações prováveis, possíveis, plausíveis. Por ao falar de um homem público, pode ter a intenção de cri-
exemplo, quando se diz “A é igual a B”, “B é igual a C”, “en- ticá-lo, de ridicularizá-lo ou, ao contrário, de mostrar sua
tão A é igual a C”, estabelece-se uma relação de identidade grandeza.
lógica. Entretanto, quando se afirma “Amigo de amigo meu O enunciador cria a orientação argumentativa de seu
é meu amigo” não se institui uma identidade lógica, mas texto dando destaque a uns fatos e não a outros, omitindo
uma identidade provável. certos episódios e revelando outros, escolhendo determi-
Um texto coerente do ponto de vista lógico é mais nadas palavras e não outras, etc. Veja:
facilmente aceito do que um texto incoerente. Vários são
os defeitos que concorrem para desqualificar o texto do “O clima da festa era tão pacífico que até sogras e noras
ponto de vista lógico: fugir do tema proposto, cair em con- trocavam abraços afetuosos.”
tradição, tirar conclusões que não se fundamentam nos O enunciador aí pretende ressaltar a ideia geral de que
dados apresentados, ilustrar afirmações gerais com fatos noras e sogras não se toleram. Não fosse assim, não teria
inadequados, narrar um fato e dele extrair generalizações escolhido esse fato para ilustrar o clima da festa nem teria
indevidas. utilizado o termo até, que serve para incluir no argumento
alguma coisa inesperada.
94
LÍNGUA PORTUGUESA
Além dos defeitos de argumentação mencionados Alguns autores classificam a dissertação em duas mo-
quando tratamos de alguns tipos de argumentação, vamos dalidades, expositiva e argumentativa. Esta, exige argu-
citar outros: mentação, razões a favor e contra uma ideia, ao passo que
- Uso sem delimitação adequada de palavra de sen- a outra é informativa, apresenta dados sem a intenção de
tido tão amplo, que serve de argumento para um ponto convencer. Na verdade, a escolha dos dados levantados,
de vista e seu contrário. São noções confusas, como paz, a maneira de expô-los no texto já revelam uma “tomada
que, paradoxalmente, pode ser usada pelo agressor e pelo de posição”, a adoção de um ponto de vista na disserta-
agredido. Essas palavras podem ter valor positivo (paz, jus- ção, ainda que sem a apresentação explícita de argumen-
tiça, honestidade, democracia) ou vir carregadas de valor tos. Desse ponto de vista, a dissertação pode ser definida
negativo (autoritarismo, degradação do meio ambiente, como discussão, debate, questionamento, o que implica a
injustiça, corrupção). liberdade de pensamento, a possibilidade de discordar ou
- Uso de afirmações tão amplas, que podem ser derru- concordar parcialmente. A liberdade de questionar é fun-
badas por um único contra exemplo. Quando se diz “Todos damental, mas não é suficiente para organizar um texto
os políticos são ladrões”, basta um único exemplo de políti- dissertativo. É necessária também a exposição dos funda-
co honesto para destruir o argumento. mentos, os motivos, os porquês da defesa de um ponto de
vista.
- Emprego de noções científicas sem nenhum rigor, Pode-se dizer que o homem vive em permanente atitu-
fora do contexto adequado, sem o significado apropriado, de argumentativa. A argumentação está presente em qual-
vulgarizando-as e atribuindo-lhes uma significação subje- quer tipo de discurso, porém, é no texto dissertativo que
tiva e grosseira. É o caso, por exemplo, da frase “O imperia- ela melhor se evidencia.
lismo de certas indústrias não permite que outras crescam”, Para discutir um tema, para confrontar argumentos e
em que o termo imperialismo é descabido, uma vez que, a posições, é necessária a capacidade de conhecer outros
rigor, significa “ação de um Estado visando a reduzir outros pontos de vista e seus respectivos argumentos. Uma dis-
à sua dependência política e econômica”. cussão impõe, muitas vezes, a análise de argumentos opos-
tos, antagônicos. Como sempre, essa capacidade aprende-
A boa argumentação é aquela que está de acordo com
se com a prática. Um bom exercício para aprender a ar-
a situação concreta do texto, que leva em conta os compo-
gumentar e contra-argumentar consiste em desenvolver as
nentes envolvidos na discussão (o tipo de pessoa a quem
seguintes habilidades:
se dirige a comunicação, o assunto, etc).
- argumentação: anotar todos os argumentos a favor
Convém ainda alertar que não se convence ninguém
de uma ideia ou fato; imaginar um interlocutor que adote a
com manifestações de sinceridade do autor (como eu,
posição totalmente contrária;
que não costumo mentir...) ou com declarações de certeza
- contra-argumentação: imaginar um diálogo-debate
expressas em fórmulas feitas (como estou certo, creio fir-
memente, é claro, é óbvio, é evidente, afirmo com toda a e quais os argumentos que essa pessoa imaginária pos-
certeza, etc). Em vez de prometer, em seu texto, sincerida- sivelmente apresentaria contra a argumentação proposta;
de e certeza, autenticidade e verdade, o enunciador deve - refutação: argumentos e razões contra a argumen-
construir um texto que revele isso. Em outros termos, essas tação oposta.
qualidades não se prometem, manifestam-se na ação.
A argumentação é a exploração de recursos para fazer A argumentação tem a finalidade de persuadir, portan-
parecer verdadeiro aquilo que se diz num texto e, com isso, to, argumentar consiste em estabelecer relações para tirar
levar a pessoa a que texto é endereçado a crer naquilo que conclusões válidas, como se procede no método dialético.
ele diz. O método dialético não envolve apenas questões ideoló-
Um texto dissertativo tem um assunto ou tema e ex- gicas, geradoras de polêmicas. Trata-se de um método de
pressa um ponto de vista, acompanhado de certa funda- investigação da realidade pelo estudo de sua ação recípro-
mentação, que inclui a argumentação, questionamento, ca, da contradição inerente ao fenômeno em questão e da
com o objetivo de persuadir. Argumentar é o processo pelo mudança dialética que ocorre na natureza e na sociedade.
qual se estabelecem relações para chegar à conclusão, com Descartes (1596-1650), filósofo e pensador francês,
base em premissas. Persuadir é um processo de conven- criou o método de raciocínio silogístico, baseado na dedu-
cimento, por meio da argumentação, no qual procura-se ção, que parte do simples para o complexo. Para ele, ver-
convencer os outros, de modo a influenciar seu pensamen- dade e evidência são a mesma coisa, e pelo raciocínio tor-
to e seu comportamento. na-se possível chegar a conclusões verdadeiras, desde que
A persuasão pode ser válida e não válida. Na persua- o assunto seja pesquisado em partes, começando-se pelas
são válida, expõem-se com clareza os fundamentos de proposições mais simples até alcançar, por meio de dedu-
uma ideia ou proposição, e o interlocutor pode questionar ções, a conclusão final. Para a linha de raciocínio cartesiana,
cada passo do raciocínio empregado na argumentação. A é fundamental determinar o problema, dividi-lo em partes,
persuasão não válida apoia-se em argumentos subjetivos, ordenar os conceitos, simplificando-os, enumerar todos os
apelos subliminares, chantagens sentimentais, com o em- seus elementos e determinar o lugar de cada um no con-
prego de “apelações”, como a inflexão de voz, a mímica e junto da dedução.
até o choro.
95
LÍNGUA PORTUGUESA
A lógica cartesiana, até os nossos dias, é fundamental rada de enganar ou levar ao erro; quando o sofisma não
para a argumentação dos trabalhos acadêmicos. Descartes tem essas intenções propositais, costuma-se chamar esse
propôs quatro regras básicas que constituem um conjunto processo de argumentação de paralogismo. Encontra-se
de reflexos vitais, uma série de movimentos sucessivos e um exemplo simples de sofisma no seguinte diálogo:
contínuos do espírito em busca da verdade:
- evidência; - Você concorda que possui uma coisa que não per-
- divisão ou análise; deu?
- ordem ou dedução; - Lógico, concordo.
- enumeração. - Você perdeu um brilhante de 40 quilates?
- Claro que não!
A enumeração pode apresentar dois tipos de falhas: a - Então você possui um brilhante de 40 quilates...
omissão e a incompreensão. Qualquer erro na enumeração
pode quebrar o encadeamento das ideias, indispensável Exemplos de sofismas:
para o processo dedutivo.
A forma de argumentação mais empregada na reda- Dedução
ção acadêmica é o silogismo, raciocínio baseado nas regras Todo professor tem um diploma (geral, universal)
cartesianas, que contém três proposições: duas premissas, Fulano tem um diploma (particular)
maior e menor, e a conclusão. As três proposições são enca- Logo, fulano é professor (geral – conclusão falsa)
deadas de tal forma, que a conclusão é deduzida da maior
por intermédio da menor. A premissa maior deve ser uni- Indução
versal, emprega todo, nenhum, pois alguns não caracteriza O Rio de Janeiro tem uma estátua do Cristo Redentor.
a universalidade. (particular)
Há dois métodos fundamentais de raciocínio: a dedu- Taubaté (SP) tem uma estátua do Cristo Redentor.
ção (silogística), que parte do geral para o particular, e a (particular)
Rio de Janeiro e Taubaté são cidades.
indução, que vai do particular para o geral. A expressão
Logo, toda cidade tem uma estátua do Cristo Reden-
formal do método dedutivo é o silogismo. A dedução é
tor. (geral – conclusão falsa)
o caminho das consequências, baseia-se em uma conexão
Nota-se que as premissas são verdadeiras, mas a con-
descendente (do geral para o particular) que leva à con-
clusão pode ser falsa. Nem todas as pessoas que têm diplo-
clusão. Segundo esse método, partindo-se de teorias ge-
ma são professores; nem todas as cidades têm uma estátua
rais, de verdades universais, pode-se chegar à previsão ou
do Cristo Redentor. Comete-se erro quando se faz genera-
determinação de fenômenos particulares. O percurso do
lizações apressadas ou infundadas. A “simples inspeção” é
raciocínio vai da causa para o efeito. Exemplo:
a ausência de análise ou análise superficial dos fatos, que
leva a pronunciamentos subjetivos, baseados nos senti-
Todo homem é mortal (premissa maior = geral, uni- mentos não ditados pela razão.
versal) Tem-se, ainda, outros métodos, subsidiários ou não
Fulano é homem (premissa menor = particular) fundamentais, que contribuem para a descoberta ou com-
Logo, Fulano é mortal (conclusão) provação da verdade: análise, síntese, classificação e defini-
A indução percorre o caminho inverso ao da dedução, ção. Além desses, existem outros métodos particulares de
baseiase em uma conexão ascendente, do particular para o algumas ciências, que adaptam os processos de dedução
geral. Nesse caso, as constatações particulares levam às leis e indução à natureza de uma realidade particular. Pode-se
gerais, ou seja, parte de fatos particulares conhecidos para afirmar que cada ciência tem seu método próprio demons-
os fatos gerais, desconhecidos. O percurso do raciocínio se trativo, comparativo, histórico etc. A análise, a síntese, a
faz do efeito para a causa. Exemplo: classificação a definição são chamadas métodos sistemáti-
cos, porque pela organização e ordenação das ideias visam
O calor dilata o ferro (particular) sistematizar a pesquisa.
O calor dilata o bronze (particular) Análise e síntese são dois processos opostos, mas in-
O calor dilata o cobre (particular) terligados; a análise parte do todo para as partes, a sín-
O ferro, o bronze, o cobre são metais tese, das partes para o todo. A análise precede a síntese,
Logo, o calor dilata metais (geral, universal) porém, de certo modo, uma depende da outra. A análise
decompõe o todo em partes, enquanto a síntese recom-
Quanto a seus aspectos formais, o silogismo pode ser põe o todo pela reunião das partes. Sabe-se, porém, que o
válido e verdadeiro; a conclusão será verdadeira se as duas todo não é uma simples justaposição das partes. Se alguém
premissas também o forem. Se há erro ou equívoco na apre- reunisse todas as peças de um relógio, não significa que
ciação dos fatos, pode-se partir de premissas verdadeiras reconstruiu o relógio, pois fez apenas um amontoado de
para chegar a uma conclusão falsa. Tem-se, desse modo, o partes. Só reconstruiria todo se as partes estivessem or-
sofisma. Uma definição inexata, uma divisão incompleta, a ganizadas, devidamente combinadas, seguida uma ordem
ignorância da causa, a falsa analogia são algumas causas de relações necessárias, funcionais, então, o relógio estaria
do sofisma. O sofisma pressupõe má fé, intenção delibe- reconstruído.
96
LÍNGUA PORTUGUESA
Síntese, portanto, é o processo de reconstrução do nos importante e, no final, o impacto do mais importante;
todo por meio da integração das partes, reunidas e relacio- é indispensável que haja uma lógica na classificação. A ela-
nadas num conjunto. Toda síntese, por ser uma reconstru- boração do plano compreende a classificação das partes e
ção, pressupõe a análise, que é a decomposição. A análise, subdivisões, ou seja, os elementos do plano devem obede-
no entanto, exige uma decomposição organizada, é preciso cer a uma hierarquização. (Garcia, 1973, p. 302304.)
saber como dividir o todo em partes. As operações que se Para a clareza da dissertação, é indispensável que, logo
realizam na análise e na síntese podem ser assim relacio- na introdução, os termos e conceitos sejam definidos, pois,
nadas: para expressar um questionamento, deve-se, de antemão,
expor clara e racionalmente as posições assumidas e os
Análise: penetrar, decompor, separar, dividir. argumentos que as justificam. É muito importante deixar
Síntese: integrar, recompor, juntar, reunir. claro o campo da discussão e a posição adotada, isto é,
esclarecer não só o assunto, mas também os pontos de
vista sobre ele.
A análise tem importância vital no processo de cole-
A definição tem por objetivo a exatidão no emprego da
ta de ideias a respeito do tema proposto, de seu desdo-
linguagem e consiste na enumeração das qualidades pró-
bramento e da criação de abordagens possíveis. A síntese
prias de uma ideia, palavra ou objeto. Definir é classificar o
também é importante na escolha dos elementos que farão
elemento conforme a espécie a que pertence, demonstra: a
parte do texto. característica que o diferencia dos outros elementos dessa
Segundo Garcia (1973, p.300), a análise pode ser formal mesma espécie.
ou informal. A análise formal pode ser científica ou expe- Entre os vários processos de exposição de ideias, a de-
rimental; é característica das ciências matemáticas, físico- finição é um dos mais importantes, sobretudo no âmbito
naturais e experimentais. A análise informal é racional ou das ciências. A definição científica ou didática é denotativa,
total, consiste em “discernir” por vários atos distintos da ou seja, atribui às palavras seu sentido usual ou consensual,
atenção os elementos constitutivos de um todo, os diferen- enquanto a conotativa ou metafórica emprega palavras de
tes caracteres de um objeto ou fenômeno. sentido figurado. Segundo a lógica tradicional aristotélica,
A análise decompõe o todo em partes, a classificação a definição consta de três elementos:
estabelece as necessárias relações de dependência e hie- - o termo a ser definido;
rarquia entre as partes. Análise e classificação ligam-se inti- - o gênero ou espécie;
mamente, a ponto de se confundir uma com a outra, con- - a diferença específica.
tudo são procedimentos diversos: análise é decomposição
e classificação é hierarquisação. O que distingue o termo definido de outros elementos
Nas ciências naturais, classificam-se os seres, fatos e da mesma espécie. Exemplo:
fenômenos por suas diferenças e semelhanças; fora das
ciências naturais, a classificação pode-se efetuar por meio Na frase: O homem é um animal racional classifica-se:
de um processo mais ou menos arbitrário, em que os ca-
racteres comuns e diferenciadores são empregados de
modo mais ou menos convencional. A classificação, no rei- Elemento especie diferença
no animal, em ramos, classes, ordens, subordens, gêneros a ser definido específica
e espécies, é um exemplo de classificação natural, pelas
características comuns e diferenciadoras. A classificação É muito comum formular definições de maneira defei-
dos variados itens integrantes de uma lista mais ou menos tuosa, por exemplo: Análise é quando a gente decompõe o
todo em partes. Esse tipo de definição é gramaticalmente
caótica é artificial.
incorreto; quando é advérbio de tempo, não representa o
Exemplo: aquecedor, automóvel, barbeador, batata, ca-
gênero, a espécie, a gente é forma coloquial não adequa-
minhão, canário, jipe, leite, ônibus, pão, pardal, pintassilgo,
da à redação acadêmica. Tão importante é saber formular
queijo, relógio, sabiá, torradeira.
uma definição, que se recorre a Garcia (1973, p.306), para
determinar os “requisitos da definição denotativa”. Para ser
Aves: Canário, Pardal, Pintassilgo, Sabiá. exata, a definição deve apresentar os seguintes requisitos:
Alimentos: Batata, Leite, Pão, Queijo. - o termo deve realmente pertencer ao gênero ou classe
Mecanismos: Aquecedor, Barbeador, Relógio, Torra- em que está incluído: “mesa é um móvel” (classe em que
deira. ‘mesa’ está realmente incluída) e não “mesa é um instru-
Veículos: Automóvel, Caminhão, Jipe, Ônibus. mento ou ferramenta ou instalação”;
Os elementos desta lista foram classificados por ordem - o gênero deve ser suficientemente amplo para incluir
alfabética e pelas afinidades comuns entre eles. Estabele- todos os exemplos específicos da coisa definida, e suficiente-
cer critérios de classificação das ideias e argumentos, pela mente restrito para que a diferença possa ser percebida sem
ordem de importância, é uma habilidade indispensável dificuldade;
para elaborar o desenvolvimento de uma redação. Tanto - deve ser obrigatoriamente afirmativa: não há, em ver-
faz que a ordem seja crescente, do fato mais importante dade, definição, quando se diz que o “triângulo não é um
para o menos importante, ou decrescente, primeiro o me- prisma”;
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LÍNGUA PORTUGUESA
- deve ser recíproca: “O homem é um ser vivo” não cons- chama-se, na verdade, isto é, haja vista, ou melhor; nos tes-
titui definição exata, porque a recíproca, “Todo ser vivo é um temunhos são comuns as expressões: conforme, segundo,
homem” não é verdadeira (o gato é ser vivo e não é homem); na opinião de, no parecer de, consoante as ideias de, no en-
- deve ser breve (contida num só período). Quando a tender de, no pensamento de. A explicitação se faz também
definição, ou o que se pretenda como tal, é muito longa (sé- pela interpretação, em que são comuns as seguintes ex-
ries de períodos ou de parágrafos), chama-se explicação, e pressões: parece, assim, desse ponto de vista.
também definição expandida;d Enumeração: Faz-se pela apresentação de uma se-
- deve ter uma estrutura gramatical rígida: sujeito (o ter- quência de elementos que comprovam uma opinião, tais
mo) + cópula (verbo de ligação ser) + predicativo (o gênero) como a enumeração de pormenores, de fatos, em uma se-
+ adjuntos (as diferenças). quência de tempo, em que são frequentes as expressões:
primeiro, segundo, por último, antes, depois, ainda, em se-
As definições dos dicionários de língua são feitas por guida, então, presentemente, antigamente, depois de, antes
meio de paráfrases definitórias, ou seja, uma operação me- de, atualmente, hoje, no passado, sucessivamente, respecti-
talinguística que consiste em estabelecer uma relação de vamente. Na enumeração de fatos em uma sequência de
equivalência entre a palavra e seus significados. espaço, empregam-se as seguintes expressões: cá, lá, aco-
A força do texto dissertativo está em sua fundamen- lá, ali, aí, além, adiante, perto de, ao redor de, no Estado tal,
tação. Sempre é fundamental procurar um porquê, uma na capital, no interior, nas grandes cidades, no sul, no leste...
razão verdadeira e necessária. A verdade de um ponto de Comparação: Analogia e contraste são as duas manei-
vista deve ser demonstrada com argumentos válidos. O ras de se estabelecer a comparação, com a finalidade de
ponto de vista mais lógico e racional do mundo não tem comprovar uma ideia ou opinião. Na analogia, são comuns
valor, se não estiver acompanhado de uma fundamentação as expressões: da mesma forma, tal como, tanto quanto, as-
coerente e adequada. sim como, igualmente. Para estabelecer contraste, empre-
Os métodos fundamentais de raciocínio segundo a gam-se as expressões: mais que, menos que, melhor que,
lógica clássica, que foram abordados anteriormente, auxi- pior que.
liam o julgamento da validade dos fatos. Às vezes, a ar-
gumentação é clara e pode reconhecer-se facilmente seus Entre outros tipos de argumentos empregados para
elementos e suas relações; outras vezes, as premissas e as aumentar o poder de persuasão de um texto dissertativo
conclusões organizam-se de modo livre, misturando-se encontram-se:
na estrutura do argumento. Por isso, é preciso aprender a
reconhecer os elementos que constituem um argumento: Argumento de autoridade: O saber notório de uma
premissas/conclusões. Depois de reconhecer, verificar se tais autoridade reconhecida em certa área do conhecimento
elementos são verdadeiros ou falsos; em seguida, avaliar se dá apoio a uma afirmação. Dessa maneira, procura-se tra-
o argumento está expresso corretamente; se há coerência zer para o enunciado a credibilidade da autoridade citada.
e adequação entre seus elementos, ou se há contradição. Lembre-se que as citações literais no corpo de um texto
Para isso é que se aprende os processos de raciocínio por constituem argumentos de autoridade. Ao fazer uma ci-
dedução e por indução. Admitindo-se que raciocinar é re- tação, o enunciador situa os enunciados nela contidos na
lacionar, conclui-se que o argumento é um tipo específico linha de raciocínio que ele considera mais adequada para
de relação entre as premissas e a conclusão. explicar ou justificar um fato ou fenômeno. Esse tipo de
argumento tem mais caráter confirmatório que comproba-
Procedimentos Argumentativos: Constituem os pro- tório.
cedimentos argumentativos mais empregados para com-
provar uma afirmação: exemplificação, explicitação, enu- Apoio na consensualidade: Certas afirmações dispen-
meração, comparação. sam explicação ou comprovação, pois seu conteúdo é acei-
to como válido por consenso, pelo menos em determinado
Exemplificação: Procura justificar os pontos de vista espaço sociocultural. Nesse caso, incluem-se
por meio de exemplos, hierarquizar afirmações. São expres- - A declaração que expressa uma verdade universal (o
sões comuns nesse tipo de procedimento: mais importan- homem, mortal, aspira à imortalidade);
te que, superior a, de maior relevância que. Empregam-se - A declaração que é evidente por si mesma (caso dos
também dados estatísticos, acompanhados de expressões: postulados e axiomas);
considerando os dados; conforme os dados apresentados. Fa- - Quando escapam ao domínio intelectual, ou seja, é de
z-se a exemplificação, ainda, pela apresentação de causas e natureza subjetiva ou sentimental (o amor tem razões que
consequências, usando-se comumente as expressões: por- a própria razão desconhece); implica apreciação de ordem
que, porquanto, pois que, uma vez que, visto que, por causa estética (gosto não se discute); diz respeito a fé religiosa,
de, em virtude de, em vista de, por motivo de. aos dogmas (creio, ainda que parece absurdo).
Explicitação: O objetivo desse recurso argumentativo
é explicar ou esclarecer os pontos de vista apresentados. Comprovação pela experiência ou observação: A
Pode-se alcançar esse objetivo pela definição, pelo teste- verdade de um fato ou afirmação pode ser comprovada
munho e pela interpretação. Na explicitação por definição, por meio de dados concretos, estatísticos ou documentais.
empregamse expressões como: quer dizer, denomina-se,
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LÍNGUA PORTUGUESA
Comprovação pela fundamentação lógica: A com- - Imaginar um ponto de vista oposto ao argumento bá-
provação se realiza por meio de argumentos racionais, ba- sico e construir uma contra-argumentação; pensar a forma
seados na lógica: causa/efeito; consequência/causa; condi- de refutação que poderia ser feita ao argumento básico e
ção/ocorrência. tentar desqualificá-la (rever tipos de argumentação);
- Refletir sobre o contexto, ou seja, fazer uma coleta de
Fatos não se discutem; discutem-se opiniões. As de- ideias que estejam direta ou indiretamente ligadas ao tema
clarações, julgamento, pronunciamentos, apreciações que (as ideias podem ser listadas livremente ou organizadas
expressam opiniões pessoais (não subjetivas) devem ter como causa e consequência);
sua validade comprovada, e só os fatos provam. Em re- - Analisar as ideias anotadas, sua relação com o tema e
sumo toda afirmação ou juízo que expresse uma opinião com o argumento básico;
pessoal só terá validade se fundamentada na evidência dos - Fazer uma seleção das ideias pertinentes, escolhen-
fatos, ou seja, se acompanhada de provas, validade dos ar- do as que poderão ser aproveitadas no texto; essas ideias
gumentos, porém, pode ser contestada por meio da con- transformam-se em argumentos auxiliares, que explicam e
tra-argumentação ou refutação. São vários os processos de corroboram a ideia do argumento básico;
contra-argumentação: - Fazer um esboço do Plano de Redação, organizando
Refutação pelo absurdo: refuta-se uma afirmação de- uma sequência na apresentação das ideias selecionadas,
monstrando o absurdo da consequência. Exemplo clássico obedecendo às partes principais da estrutura do texto, que
é a contraargumentação do cordeiro, na conhecida fábula poderia ser mais ou menos a seguinte:
“O lobo e o cordeiro”;
Introdução
Refutação por exclusão: consiste em propor várias
hipóteses para eliminá-las, apresentando-se, então, aquela - função social da ciência e da tecnologia;
que se julga verdadeira; - definições de ciência e tecnologia;
- indivíduo e sociedade perante o avanço tecnológico.
Desqualificação do argumento: atribui-se o argu-
Desenvolvimento
mento à opinião pessoal subjetiva do enunciador, restrin-
gindo-se a universalidade da afirmação;
- apresentação de aspectos positivos e negativos do
desenvolvimento tecnológico;
Ataque ao argumento pelo testemunho de autori-
- como o desenvolvimento científico-tecnológico mo-
dade: consiste em refutar um argumento empregando os
dificou as condições de vida no mundo atual;
testemunhos de autoridade que contrariam a afirmação
- a tecnocracia: oposição entre uma sociedade tecnolo-
apresentada;
gicamente desenvolvida e a dependência tecnológica dos
países subdesenvolvidos;
Desqualificar dados concretos apresentados: consis- - enumerar e discutir os fatores de desenvolvimento
te em desautorizar dados reais, demonstrando que o enun- social;
ciador baseou-se em dados corretos, mas tirou conclusões - comparar a vida de hoje com os diversos tipos de vida
falsas ou inconsequentes. Por exemplo, se na argumen- do passado; apontar semelhanças e diferenças;
tação afirmou-se, por meio de dados estatísticos, que “o - analisar as condições atuais de vida nos grandes cen-
controle demográfico produz o desenvolvimento”, afirma-se tros urbanos;
que a conclusão é inconsequente, pois baseia-se em uma - como se poderia usar a ciência e a tecnologia para
relação de causa-feito difícil de ser comprovada. Para con- humanizar mais a sociedade.
traargumentar, propõese uma relação inversa: “o desenvol-
vimento é que gera o controle demográfico”. Conclusão
- a tecnologia pode libertar ou escravizar: benefícios/
Apresentam-se aqui sugestões, um dos roteiros possí- consequências maléficas;
veis para desenvolver um tema, que podem ser analisadas - síntese interpretativa dos argumentos e contra-argu-
e adaptadas ao desenvolvimento de outros temas. Elege- mentos apresentados.
se um tema, e, em seguida, sugerem-se os procedimentos
que devem ser adotados para a elaboração de um Plano Naturalmente esse não é o único, nem o melhor plano
de Redação. de redação: é um dos possíveis.
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Forças Armadas (FFAA) – Missão constitucional; Hierarquia e disciplina; e Comandante Supremo das Forças
Armadas..............................................................................................................................................................................................................01
Normas gerais para a organização, o preparo e o emprego das Forças Armadas – Disposições preliminares; Destinação
e atribuições; Assessoramento ao Comandante Supremo; Organização das Forças Armadas; Direção Superior das
Forças Armadas................................................................................................................................................................................................03
Estratégia Nacional de Defesa – Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional de Desenvolvimento; Natureza
e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa; Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa; A Marinha do Brasil: a
hierarquia dos objetivos estratégicos e táticos.....................................................................................................................................05
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Presidência da República. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Título V. Promulgada em
5 de outubro de 1988. Diário Oficial da União......................................................................................................................................01
______. Lei Complementar nº 97, de 9 de junho de 1999, alterada pela Lei Complementar nº 117, de 2 de setembro de
2004 e pela Lei Complementar nº 136, de 25 de agosto de 2010. Dispõe sobre as normas gerais para a organização,
o preparo e o emprego das Forças Armadas. Capítulos I e II. Brasília, 1999. Diário Oficial da União...............................03
_____. Decreto nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008. Aprova a Estratégia Nacional de Defesa. Capítulo 1 (Formulação
Sistemática). Brasília, 2008. Diário Oficial da União.............................................................................................................................05
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
1
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
VI - intervenção nas empresas de serviços públicos; III - o militar da ativa que, de acordo com a lei, tomar
VII - requisição de bens. posse em cargo, emprego ou função pública civil tem-
Parágrafo único. Não se inclui nas restrições do inciso porária, não eletiva, ainda que da administração indireta,
III a difusão de pronunciamentos de parlamentares efetua- ressalvada a hipótese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea
dos em suas Casas Legislativas, desde que liberada pela “c”, ficará agregado ao respectivo quadro e somente po-
respectiva Mesa. derá, enquanto permanecer nessa situação, ser promovido
por antiguidade, contando-se-lhe o tempo de serviço ape-
Seção III nas para aquela promoção e transferência para a reserva,
DISPOSIÇÕES GERAIS sendo depois de dois anos de afastamento, contínuos ou
não, transferido para a reserva, nos termos da lei; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)
Art. 140. A Mesa do Congresso Nacional, ouvidos os
IV - ao militar são proibidas a sindicalização e a gre-
líderes partidários, designará Comissão composta de cinco
ve; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
de seus membros para acompanhar e fiscalizar a execução
V - o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar
das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado filiado a partidos políticos; (Incluído pela Emenda Constitu-
de sítio. cional nº 18, de 1998)
Art. 141. Cessado o estado de defesa ou o estado de VI - o oficial só perderá o posto e a patente se for jul-
sítio, cessarão também seus efeitos, sem prejuízo da res- gado indigno do oficialato ou com ele incompatível, por
ponsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus executores decisão de tribunal militar de caráter permanente, em
ou agentes. tempo de paz, ou de tribunal especial, em tempo de guer-
Parágrafo único. Logo que cesse o estado de defesa ra; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
ou o estado de sítio, as medidas aplicadas em sua vigência VII - o oficial condenado na justiça comum ou militar a
serão relatadas pelo Presidente da República, em mensa- pena privativa de liberdade superior a dois anos, por sen-
gem ao Congresso Nacional, com especificação e justifica- tença transitada em julgado, será submetido ao julgamen-
ção das providências adotadas, com relação nominal dos to previsto no inciso anterior; (Incluído pela Emenda Cons-
atingidos e indicação das restrições aplicadas. titucional nº 18, de 1998)
VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, inci-
CAPÍTULO II sos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII,
DAS FORÇAS ARMADAS XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da
atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea “c”; (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014)
Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Mari-
IX - (Revogado pela Emenda Constitucional nº 41, de
nha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições na-
19.12.2003)
cionais permanentes e regulares, organizadas com base na X - a lei disporá sobre o ingresso nas Forças Armadas,
hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do os limites de idade, a estabilidade e outras condições de
Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, transferência do militar para a inatividade, os direitos, os
à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de deveres, a remuneração, as prerrogativas e outras situações
qualquer destes, da lei e da ordem. especiais dos militares, consideradas as peculiaridades de
§ 1º Lei complementar estabelecerá as normas gerais a suas atividades, inclusive aquelas cumpridas por força de
serem adotadas na organização, no preparo e no emprego compromissos internacionais e de guerra. (Incluído pela
das Forças Armadas. Emenda Constitucional nº 18, de 1998)
§ 2º Não caberá habeas corpus em relação a punições Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da
disciplinares militares. lei.
§ 3º Os membros das Forças Armadas são denomi- § 1º Às Forças Armadas compete, na forma da lei, atri-
nados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a buir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após
ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela alistados, alegarem imperativo de consciência, entenden-
Emenda Constitucional nº 18, de 1998) do-se como tal o decorrente de crença religiosa e de con-
I - as patentes, com prerrogativas, direitos e deveres vicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades
de caráter essencialmente militar. (Regulamento)
a elas inerentes, são conferidas pelo Presidente da Repú-
§ 2º As mulheres e os eclesiásticos ficam isentos do ser-
blica e asseguradas em plenitude aos oficiais da ativa, da
viço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém,
reserva ou reformados, sendo-lhes privativos os títulos e
a outros encargos que a lei lhes atribuir. (Regulamento)
postos militares e, juntamente com os demais membros,
o uso dos uniformes das Forças Armadas; (Incluído pela CAPÍTULO III
Emenda Constitucional nº 18, de 1998) DA SEGURANÇA PÚBLICA
II - o militar em atividade que tomar posse em cargo
ou emprego público civil permanente, ressalvada a hipó- Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito
tese prevista no art. 37, inciso XVI, alínea “c”, será transfe- e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação
rido para a reserva, nos termos da lei; (Redação dada pela da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do pa-
Emenda Constitucional nº 77, de 2014) trimônio, através dos seguintes órgãos:
2
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
3
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
4
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
ANEXO
ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA
I – FORMULAÇÃO SISTEMÁTICA
Introdução
5
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
País em desenvolvimento, o Brasil ascenderá ao pri- a) Independência nacional, efetivada pela mobilização
meiro plano no mundo sem exercer hegemonia ou domi- de recursos físicos, econômicos e humanos, para o inves-
nação. O povo brasileiro não deseja exercer mando sobre timento no potencial produtivo do País. Aproveitar a pou-
outros povos. Quer que o Brasil se engrandeça sem im- pança estrangeira, sem dela depender;
perar. b) Independência nacional, alcançada pela capacitação
Talvez por isso nunca tenha sido realizado no Brasil, tecnológica autônoma, inclusive nos estratégicos setores
em toda a sua história, amplo debate sobre os assuntos espacial, cibernético e nuclear. Não é independente quem
de defesa. Periodicamente, os governos autorizavam a não tem o domínio das tecnologias sensíveis, tanto para a
compra ou a produção de novos materiais de defesa e defesa como para o desenvolvimento; e
introduziam reformas pontuais nas Forças Armadas. No c) Independência nacional, assegurada pela demo-
entanto, nunca propuseram uma estratégia nacional de cratização de oportunidades educativas e econômicas e
defesa para orientar de forma sistemática a reorganiza- pelas oportunidades para ampliar a participação popular
ção e reorientação das Forças Armadas; a organização nos processos decisórios da vida política e econômica do
da indústria de material de defesa, com a finalidade de País. O Brasil não será independente enquanto faltar para
assegurar a autonomia operacional para as três Forças: parcela do seu povo condições para aprender, trabalhar e
a Marinha, o Exército e a Aeronáutica; e a política de com- produzir.
posição dos seus efetivos, sobretudo a reconsideração do Natureza e âmbito da Estratégia Nacional de Defesa
Serviço Militar Obrigatório. 1.A Estratégia Nacional de Defesa é o vínculo entre o
Porém, se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe conceito e a política de independência nacional, de um
no mundo, precisará estar preparado para defender-se lado, e as Forças Armadas para resguardar essa indepen-
dência, de outro. Trata de questões políticas e institucionais
não somente das agressões, mas também das ameaças.
decisivas para a defesa do País, como os objetivos da sua
Vive-se em um mundo em que a intimidação tripudia so-
“grande estratégia” e os meios para fazer com que a Na-
bre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do povo bra-
ção participe da defesa. Aborda, também, problemas pro-
sileiro no debate e na construção da sua própria defesa.
priamente militares, derivados da influência dessa “grande
Estratégia Nacional de Defesa e Estratégia Nacional
estratégia” na orientação e nas práticas operacionais das
de Desenvolvimento
três Forças.
1.Estratégia nacional de defesa é inseparável de es-
A Estratégia Nacional de Defesa será complementada
tratégia nacional de desenvolvimento. Esta motiva aquela.
por planos para a paz e para a guerra, concebidos para
Aquela fornece escudo para esta. Cada uma reforça as ra-
fazer frente a diferentes hipóteses de emprego.
zões da outra. Em ambas, se desperta para a nacionalida- 2.A Estratégia Nacional de Defesa organiza-se em tor-
de e constrói-se a Nação. Defendido, o Brasil terá como no de três eixos estruturantes.
dizer não, quando tiver que dizer não. Terá capacidade O primeiro eixo estruturante diz respeito a como as
para construir seu próprio modelo de desenvolvimento. Forças Armadas devem-se organizar e orientar para me-
2.Difícil – e necessário – é para um País que pouco lhor desempenharem sua destinação constitucional e suas
trato teve com guerras convencer-se da necessidade de atribuições na paz e na guerra. Enumeram-se diretrizes
defender-se para poder construir-se. Não bastam, ainda estratégicas relativas a cada uma das Forças e especifica-
que sejam proveitosos e até mesmo indispensáveis, os se a relação que deve prevalecer entre elas. Descreve-se
argumentos que invocam as utilidades das tecnologias e a maneira de transformar tais diretrizes em práticas e ca-
dos conhecimentos da defesa para o desenvolvimento do pacitações operacionais e propõe-se a linha de evolução
País. Os recursos demandados pela defesa exigem uma tecnológica necessária para assegurar que se concretizem.
transformação de consciências para que se constitua uma A análise das hipóteses de emprego das Forças Ar-
estratégia de defesa para o Brasil. madas - para resguardar o espaço aéreo, o território e as
3.Difícil – e necessário – é para as Forças Armadas de águas jurisdicionais brasileiras - permite dar foco mais pre-
um País tão pacífico como o Brasil manterem, em meio ciso às diretrizes estratégicas. Nenhuma análise de hipóte-
à paz, o impulso de se prepararem para o combate e de ses de emprego pode, porém, desconsiderar as ameaças
cultivarem, em prol desse preparo, o hábito da transfor- do futuro. Por isso mesmo, as diretrizes estratégicas e as
mação. capacitações operacionais precisam transcender o horizon-
Disposição para mudar é o que a Nação está a exigir te imediato que a experiência e o entendimento de hoje
agora de seus marinheiros, soldados e aviadores. Não se permitem descortinar.
trata apenas de financiar e de equipar as Forças Arma- Ao lado da destinação constitucional, das atribuições,
das. Trata-se de transformá-las, para melhor defenderem da cultura, dos costumes e das competências próprias de
o Brasil. cada Força e da maneira de sistematizá-las em estratégia
4.Projeto forte de defesa favorece projeto forte de de defesa integrada, aborda-se o papel de três setores de-
desenvolvimento. Forte é o projeto de desenvolvimento cisivos para a defesa nacional: o espacial, o cibernético e o
que, sejam quais forem suas demais orientações, se guie nuclear. Descreve-se como as três Forças devem operar em
pelos seguintes princípios: rede - entre si e em ligação com o monitoramento do terri-
, tório, do espaço aéreo e das águas jurisdicionais brasileiras.
6
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
O segundo eixo estruturante refere-se à reorganização O vínculo entre os aspectos tecnológicos e operacio-
da indústria nacional de material de defesa, para assegu- nais da mobilidade há de se realizar de maneira a alcançar
rar que o atendimento das necessidades de equipamento objetivos bem definidos. Entre esses objetivos, há um que
das Forças Armadas apóie-se em tecnologias sob domínio guarda relação especialmente próxima com a mobilidade:
nacional. a capacidade de alternar a concentração e a desconcentra-
O terceiro eixo estruturante versa sobre a composição ção de forças com o propósito de dissuadir e combater a
dos efetivos das Forças Armadas e, consequentemente, ameaça.
sobre o futuro do Serviço Militar Obrigatório. Seu propó- 6.Fortalecer três setores de importância estratégica: o
sito é zelar para que as Forças Armadas reproduzam, em espacial, o cibernético e o nuclear.
sua composição, a própria Nação - para que elas não se- Esse fortalecimento assegurará o atendimento ao con-
jam uma parte da Nação, pagas para lutar por conta e em ceito de flexibilidade.
benefício das outras partes. O Serviço Militar Obrigatório Como decorrência de sua própria natureza, esse seto-
deve, pois, funcionar como espaço republicano, no qual res transcendem a divisão entre desenvolvimento e defesa,
possa a Nação encontrar-se acima das classes sociais. entre o civil e o militar.
Diretrizes da Estratégia Nacional de Defesa. Os setores espacial e cibernético permitirão, em con-
Pauta-se a Estratégia Nacional de Defesa pelas seguin- junto, que a capacidade de visualizar o próprio país não
tes diretrizes. dependa de tecnologia estrangeira e que as três Forças, em
1.Dissuadir a concentração de forças hostis nas frontei- conjunto, possam atuar em rede, instruídas por monitora-
ras terrestres, nos limites das águas jurisdicionais brasilei- mento que se faça também a partir do espaço.
ras, e impedir-lhes o uso do espaço aéreo nacional. O Brasil tem compromisso - decorrente da Constitui-
Para dissuadir, é preciso estar preparado para comba- ção Federal e da adesão ao Tratado de Não Proliferação
ter. A tecnologia, por mais avançada que seja, jamais será de Armas Nucleares - com o uso estritamente pacífico da
alternativa ao combate. Será sempre instrumento do com- energia nuclear. Entretanto, afirma a necessidade estratégi-
bate. ca de desenvolver e dominar a tecnologia nuclear. O Brasil
2.Organizar as Forças Armadas sob a égide do trinômio precisa garantir o equilíbrio e a versatilidade da sua matriz
monitoramento/controle, mobilidade e presença. energética e avançar em áreas, tais como as de agricultura
Esse triplo imperativo vale, com as adaptações cabíveis, e saúde, que podem se beneficiar da tecnologia de energia
nuclear. E levar a cabo, entre outras iniciativas que exigem
para cada Força. Do trinômio resulta a definição das capa-
independência tecnológica em matéria de energia nuclear,
citações operacionais de cada uma das Forças.
o projeto do submarino de propulsão nuclear.
3.Desenvolver as capacidades de monitorar e controlar o
7.Unificar as operações das três Forças, muito além dos
espaço aéreo, o território e as águas jurisdicionais brasileiras.
limites impostos pelos protocolos de exercícios conjuntos.
Tal desenvolvimento dar-se-á a partir da utilização de
Os instrumentos principais dessa unificação serão o
tecnologias de monitoramento terrestre, marítimo, aéreo e
Ministério da Defesa e o Estado-Maior de Defesa, a ser
espacial que estejam sob inteiro e incondicional domínio
reestruturado como Estado-Maior Conjunto das Forças Ar-
nacional. madas. Devem ganhar dimensão maior e responsabilida-
4.Desenvolver, lastreado na capacidade de monitorar/ des mais abrangentes.
controlar, a capacidade de responder prontamente a qual- O Ministro da Defesa exercerá, na plenitude, todos os
quer ameaça ou agressão: a mobilidade estratégica. poderes de direção das Forças Armadas que a Constituição
A mobilidade estratégica - entendida como a aptidão e as leis não reservarem, expressamente, ao Presidente da
para se chegar rapidamente ao teatro de operações – re- República.
forçada pela mobilidade tática – entendida como a aptidão A subordinação das Forças Armadas ao poder político
para se mover dentro daquele teatro - é o complemento constitucional é pressuposto do regime republicano e ga-
prioritário do monitoramento/controle e uma das bases do rantia da integridade da Nação.
poder de combate, exigindo das Forças Armadas ação que, Os Secretários do Ministério da Defesa serão livre-
mais do que conjunta, seja unificada. mente escolhidos pelo Ministro da Defesa, entre cidadãos
O imperativo de mobilidade ganha importância decisi- brasileiros, militares das três Forças e civis, respeitadas as
va, dadas a vastidão do espaço a defender e a escassez dos peculiaridades e as funções de cada secretaria. As iniciati-
meios para defendê-lo. O esforço de presença, sobretudo vas destinadas a formar quadros de especialistas civis em
ao longo das fronteiras terrestres e nas partes mais estraté- defesa permitirão, no futuro, aumentar a presença de civis
gicas do litoral, tem limitações intrínsecas. É a mobilidade em postos dirigentes no Ministério da Defesa. As disposi-
que permitirá superar o efeito prejudicial de tais limitações. ções legais em contrário serão revogadas.
5.Aprofundar o vínculo entre os aspectos tecnológicos O Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas será
e os operacionais da mobilidade, sob a disciplina de obje- chefiado por um oficial-general de último posto, e terá a
tivos bem definidos. participação dos Chefes dos Estados-Maiores das três For-
Mobilidade depende de meios terrestres, marítimos e ças. Será subordinado diretamente ao Ministro da Defesa.
aéreos apropriados e da maneira de combiná-los. Depen- Construirá as iniciativas que dêem realidade prática à tese
de, também, de capacitações operacionais que permitam da unificação doutrinária, estratégica e operacional e con-
aproveitar ao máximo o potencial das tecnologias do mo- tará com estrutura permanente que lhe permita cumprir
vimento. sua tarefa.
7
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Em terceiro lugar, cada combatente deve ser treinado todos os países avança-se rumo à construção da unidade
para abordar o combate de modo a atenuar as formas rígi- sul-americana. O Conselho de Defesa Sul-Americano, em
das e tradicionais de comando e controle, em prol da fle- debate na região, criará mecanismo consultivo que permi-
xibilidade, da adaptabilidade, da audácia e da surpresa no tirá prevenir conflitos e fomentar a cooperaçãomilitar re-
campo de batalha. Esse combatente será, ao mesmo tem- gional e a integração das bases industriais de defesa, sem
po, um comandado que sabe obedecer, exercer a iniciativa que dele participe país alheio à região.
na ausência de ordens específicas e orientar-se em meio às 19.Preparar as Forças Armadas para desempenharem
incertezas e aos sobressaltos do combate - e uma fonte de responsabilidades crescentes em operações de manuten-
iniciativas - capaz de adaptar suas ordens à realidade da ção da paz.
situação mutável em que se encontra. Em tais operações, as Forças agirão sob a orientação
Ganha ascendência no mundo um estilo de produção das Nações Unidas ou em apoio a iniciativas de órgãos
industrial marcado pela atenuação de contrastes entre ati- multilaterais da região, pois o fortalecimento do sistema
vidades de planejamento e de execução e pela relativiza- de segurança coletiva é benéfico à paz mundial e à defesa
ção de especializações rígidas nas atividades de execução. nacional.
Esse estilo encontra contrapartida na maneira de fazer a 20.Ampliar a capacidade de atender aos compromissos
guerra, cada vez mais caracterizada por extrema flexibili- internacionais de busca e salvamento.
dade. O desdobramento final dessa trajetória é esmaecer o
É tarefa prioritária para o País o aprimoramento dos
contraste entre forças convencionais e não-convencionais,
meios existentes e da capacitação do pessoal envolvido
não em relação aos armamentos com que cada uma delas
com as atividades de busca e salvamento no território na-
possa contar, senão no radicalismo com que ambas prati-
cional, nas águas jurisdicionais brasileiras e nas áreas pelas
cam o conceito de flexibilidade.
14.Promover a reunião, nos militares brasileiros, dos quais o Brasil é responsável, em decorrência de compro-
atributos e predicados exigidos pelo conceito de flexibi- missos internacionais.
lidade. 21.Desenvolver o potencial de mobilização militar e
O militar brasileiro precisa reunir qualificação e rus- nacional para assegurar a capacidade dissuasória e opera-
ticidade. Necessita dominar as tecnologias e as práticas cional das Forças Armadas.
operacionais exigidas pelo conceito de flexibilidade. Deve Diante de eventual degeneração do quadro internacio-
identificar-se com as peculiaridades e características geo- nal, o Brasil e suas Forças Armadas deverão estar prontos
gráficas exigentes ou extremas que existem no País. Só para tomar medidas de resguardo do território, das linhas
assim realizar-se-á, na prática, o conceito de flexibilidade, de comércio marítimo e plataformas de petróleo e do es-
dentro das características do território nacional e da situa- paço aéreo nacionais. As Forças Armadas deverão, tam-
ção geográfica e geopolítica do Brasil. bém, estar habilitadas a aumentar rapidamente os meios
15.Rever, a partir de uma política de otimização do em- humanos e materiais disponíveis para a defesa. Exprime-se
prego de recursos humanos, a composição dos efetivos das o imperativo de elasticidade em capacidade de mobiliza-
três Forças, de modo a dimensioná-las para atender ade- ção nacional e militar.
quadamente ao disposto na Estratégia Nacional de Defesa. Ao decretar a mobilização nacional, o Poder Executi-
16. Estruturar o potencial estratégico em torno de ca-
vo delimitará a área em que será realizada e especificará
pacidades.
as medidas necessárias à sua execução, tais como pode-
Convém organizar as Forças Armadas em torno de ca-
pacidades, não em torno de inimigos específicos. O Brasil res para assumir o controle de recursos materiais, inclusive
não tem inimigos no presente. Para não tê-los no futuro, é meios de transporte, necessários à defesa, de acordo com
preciso preservar a paz e preparar-se para a guerra. a Lei de Mobilização Nacional. A mobilização militar de-
17.Preparar efetivos para o cumprimento de missões manda a organização de uma força de reserva, mobilizável
de garantia da lei e da ordem, nos termos da Constituição em tais circunstâncias. Reporta-se, portanto, à questão do
Federal. futuro do Serviço Militar Obrigatório.
O País cuida para evitar que as Forças Armadas desem- Sem que se assegure a elasticidade para as Forças Ar-
penhem papel de polícia. Efetuar operações internas em madas, seu poder dissuasório e defensivo ficará compro-
garantia da lei e da ordem, quando os poderes constituídos metido.
não conseguem garantir a paz pública e um dos Chefes 22.Capacitar a indústria nacional de material de defesa
dos três Poderes o requer, faz parte das responsabilidades para que conquiste autonomia em tecnologias indispensá-
constitucionais das Forças Armadas. A legitimação de tais
veis à defesa.
responsabilidades pressupõe, entretanto, legislação que
Regime jurídico, regulatório e tributário especiais pro-
ordene e respalde as condições específicas e os procedi-
mentos federativos que dêem ensejo a tais operações, com tegerá as empresas privadas nacionais de material de de-
resguardo de seus integrantes. fesa contra os riscos do imediatismo mercantil e assegu-
18.Estimular a integração da América do Sul. rará continuidade nas compras públicas. A contrapartida
Essa integração não somente contribuirá para a defesa a tal regime especial será, porém, o poder estratégico que
do Brasil, como possibilitará fomentar a cooperação mili- o Estado exercerá sobre tais empresas, a ser assegurado
tar regional e a integração das bases industriais de defe- por um conjunto de instrumentos de direito privado ou de
sa. Afastará a sombra de conflitos dentro da região. Com direito público.
9
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Já o setor estatal de material de defesa terá por missão No futuro, convirá que os que forem desobrigados da
operar no teto tecnológico, desenvolvendo as tecnologias prestação do serviço militar obrigatório sejam incentiva-
que as empresas privadas não possam alcançar ou obter, a dos a prestar um serviço civil, de preferência em região do
curto ou médio prazo, de maneira rentável. País diferente da região das quais se originam. Prestariam
A formulação e a execução da política de compras de o serviço de acordo com a natureza de sua instrução pree-
produtos de defesa serão centralizadas no Ministério da xistente, além de receber instrução nova. O serviço seria,
Defesa, sob a responsabilidade de uma secretaria de pro- portanto, ao mesmo tempo oportunidade de aprendiza-
dutos de defesa. , admitida delegação na sua execução. gem, expressão de solidariedade e instrumento de unidade
A indústria nacional de material de defesa será incen- nacional. Os que o prestassem receberiam treinamento mi-
tivada a competir em mercados externos para aumentar litar básico que embasasse eventual mobilização futura. E
a sua escala de produção. A consolidação da União de passariam a compor força de reserva mobilizável.
Nações Sul-Americanas poderá atenuar a tensão entre o Devem as escolas de formação de oficiais das três For-
requisito da independência em produção de defesa e a ne- ças continuarem a atrair candidatos de todas as classes
cessidade de compensar custo com escala, possibilitando o sociais. É ótimo que número cada vez maior deles prove-
desenvolvimento da produção de defesa em conjunto com nha da classe trabalhadora. É necessário, porém, que os
outros países da região. efetivos das Forças Armadas sejam formados por cidadãos
Serão buscadas parcerias com outros países, com o oriundos de todas as classes sociais. Essa é uma das razões
propósito de desenvolver a capacitação tecnológica e a pelas quais a valorização da carreira, inclusive em termos
fabricação de produtos de defesa nacionais, de modo a eli- remuneratórios, representa exigência de segurança nacio-
minar, progressivamente, a compra de serviços e produtos nal.
importados. A Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estraté-
Sempre que possível, as parcerias serão construídas gicos e táticos.
como expressões de associação estratégica mais abran- 1.Na maneira de conceber a relação entre as tarefas
gente entre o Brasil e o país parceiro. A associação será estratégicas de negação do uso do mar, de controle de
manifestada em colaborações de defesa e de desenvolvi- áreas marítimas e de projeção de poder, a Marinha do Bra-
mento e será pautada por duas ordens de motivações bá- sil se pautará por um desenvolvimento desigual e conjunto.
sicas: a internacional e a nacional. Se aceitasse dar peso igual a todos os três objetivos, se-
ria grande o risco de ser medíocre em todos eles. Embora
A motivação de ordem internacional será trabalhar
todos mereçam ser cultivados, o serão em determinadas
com o país parceiro em prol de um maior pluralismo de
ordem e sequência.
poder e de visão no mundo. Esse trabalho conjunto passa
A prioridade é assegurar os meios para negar o uso
por duas etapas. Na primeira etapa, o objetivo é a melhor
do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se
representação de países emergentes, inclusive o Brasil,
aproxime do Brasil por via marítima. A negação do uso do
nas organizações internacionais – políticas e econômicas
mar ao inimigo é a que organiza, antes de atendidos quais-
– estabelecidas. Na segunda, o alvo é a reestruturação das
quer outros objetivos estratégicos, a estratégia de defesa
organizações internacionais, inclusive a do regime inter- marítima do Brasil. Essa prioridade tem implicações para a
nacional de comércio, para que se tornem mais abertas reconfiguração das forças navais.
às divergências, às inovações e aos experimentos do que Ao garantir seu poder para negar o uso do mar ao ini-
são as instituições nascidas ao término da Segunda Guerra migo, precisa o Brasil manter a capacidade focada de pro-
Mundial. jeção de poder e criar condições para controlar, no grau
A motivação de ordem nacional será contribuir para a necessário à defesa e dentro dos limites do direito inter-
ampliação das instituições que democratizem a economia nacional, as áreas marítimas e águas interiores de impor-
de mercado e aprofundem a democracia, organizando o tância político-estratégica, econômica e militar, e também
crescimento econômico socialmente includente. O método as suas linhas de comunicação marítimas. A despeito desta
preferido desse trabalho é o dos experimentos binacionais: consideração, a projeção de poder se subordina, hierarqui-
as iniciativas desenvolvidas em conjunto com os países camente, à negação do uso do mar.
parceiros. A negação do uso do mar, o controle de áreas maríti-
23.Manter o Serviço Militar Obrigatório. mas e a projeção de poder devem ter por foco, sem hierar-
O Serviço Militar Obrigatório é condição para que se quização de objetivos e de acordo com as circunstâncias:
possa mobilizar o povo brasileiro em defesa da soberania (a) defesa pró-ativa das plataformas petrolíferas;
nacional. É, também, instrumento para afirmar a unidade (b) defesa pró-ativa das instalações navais e portuárias,
da Nação acima das divisões das classes sociais. dos arquipélagos e das ilhas oceânicas nas águas jurisdi-
O objetivo, a ser perseguido gradativamente, é tornar cionais brasileiras;
o Serviço Militar realmente obrigatório. Como o número (c) prontidão para responder a qualquer ameaça, por
dos alistados anualmente é muito maior do que o número Estado ou por forças não-convencionais ou criminosas, às
de recrutas de que precisam as Forças Armadas, deverão vias marítimas de comércio;
elas selecioná-los segundo o vigor físico, a aptidão e a ca- (d) capacidade de participar de operações internacio-
pacidade intelectual, em vez de permitir que eles se au- nais de paz, fora do território e das águas jurisdicionais
to-selecionem, cuidando para que todas as classes sociais brasileiras, sob a égide das Nações Unidas ou de organis-
sejam representadas. mos multilaterais da região;
10
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
A construção de meios para exercer o controle de áreas A presença da Marinha nas bacias fluviais será facilita-
marítimas terá como focos as áreas estratégicas de acesso da pela dedicação do País à inauguração de um paradigma
marítimo ao Brasil. Duas áreas do litoral continuarão a me- multimodal de transporte. Esse paradigma contemplará a
recer atenção especial, do ponto de vista da necessidade construção das hidrovias do Paraná-Tietê, do Madeira, do
de controlar o acesso marítimo ao Brasil: a faixa que vai de Tocantins-Araguaia e do Tapajós-Teles Pires. As barragens
Santos a Vitória e a área em torno da foz do rio Amazonas. serão, quando possível, providas de eclusas, de modo a
2.A doutrina do desenvolvimento desigual e conjunto assegurar franca navegabilidade às hidrovias.
tem implicações para a reconfiguração das forças navais. 6.O monitoramento da superfície do mar a partir do
A implicação mais importante é que a Marinha se recons- espaço deverá integrar o repertório de práticas e capacita-
truirá, por etapas, como uma arma balanceada entre o ções operacionais da Marinha.
componente submarino, o componente de superfície e o A partir dele as forças navais, submarinas e de super-
componente aeroespacial. fície terão fortalecidas suas capacidades de atuar em rede
3.Para assegurar o objetivo de negação do uso do com as forças terrestre e aérea.
mar, o Brasil contará com força naval submarina de en- 7.A constituição de uma força e de uma estratégia na-
vergadura, composta de submarinos convencionais e de vais que integrem os componentes submarino, de super-
submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá e de- fície e aéreo, permitirá realçar a flexibilidade com que se
senvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto
resguarda o objetivo prioritário da estratégia de seguran-
submarinos de propulsão convencional como de propulsão
ça marítima: a dissuasão com a negação do uso do mar ao
nuclear. Acelerará os investimentos e as parcerias necessá-
inimigo que se aproxime, por meio do mar, do Brasil. Em
rios para executar o projeto do submarino de propulsão
amplo espectro de circunstâncias de combate, sobretudo
nuclear. Armará os submarinos, convencionais e nucleares,
com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los quando a força inimiga for muito mais poderosa, a for-
e fabricá-los. Cuidará de ganhar autonomia nas tecnologias ça de superfície será concebida e operada como reserva
cibernéticas que guiem os submarinos e seus sistemas de tática ou estratégica. Preferencialmente e sempre que a
armas e que lhes possibilitem atuar em rede com as outras situação tática permitir, a força de superfície será engajada
forças navais, terrestres e aéreas. no conflito depois do emprego inicial da força submarina,
4.Para assegurar sua capacidade de projeção de poder, que atuará de maneira coordenada com os veículos espa-
a Marinha possuirá, ainda, meios de Fuzileiros Navais, em ciais (para efeito de monitoramento) e com meios aéreos
permanente condição de pronto emprego. A existência de (para efeito de fogo focado).
tais meios é também essencial para a defesa das instalações Esse desdobramento do combate em etapas sucessi-
navais e portuárias, dos arquipélagos e ilhas oceânicas nas vas, sob a responsabilidade de contingentes distintos, per-
águas jurisdicionais brasileiras, para atuar em operações in- mitirá, na guerra naval, a agilização da alternância entre a
ternacionais de paz, em operações humanitárias, em qual- concentração e a desconcentração de forças e o aprofun-
quer lugar do mundo. Nas vias fluviais, serão fundamentais damento da flexibilidade a serviço da surpresa.
para assegurar o controle das margens durante as operações 8.Um dos elos entre a etapa preliminar do embate, sob
ribeirinhas. O Corpo de Fuzileiros Navais consolidar-se-á a responsabilidade da força submarina e de suas contra-
como a força de caráter expedicionário por excelência. partes espacial e aérea, e a etapa subsequente, conduzida
5.A força naval de superfície contará tanto com navios com o pleno engajamento da força naval de superfície,
de grande porte, capazes de operar e de permanecer por será a Aviação Naval, embarcada em navios. A Marinha
longo tempo em alto mar, como de navios de porte menor, trabalhará com a indústria nacional de material de defesa
dedicados a patrulhar o litoral e os principais rios nave- para desenvolver um avião versátil, de defesa e ataque,
gáveis brasileiros. Requisito para a manutenção de tal es- que maximize o potencial aéreo defensivo e ofensivo da
quadra será a capacidade da Força Aérea de trabalhar em Força Naval.
conjunto com a Aviação Naval para garantir superioridade 9.A Marinha iniciará os estudos e preparativos para
aérea local em caso de conflito armado.
estabelecer, em lugar próprio, o mais próximo possível
Entre os navios de alto mar, a Marinha dedicará espe-
da foz do rio Amazonas, uma base naval de uso múlti-
cial atenção ao projeto e à fabricação de navios de pro-
plo, comparável, na abrangência e na densidade de seus
pósitos múltiplos que possam, também, servir como na-
meios, à Base Naval do Rio de Janeiro.
vios-aeródromos. Serão preferidos aos navios-aeródromos
convencionais e de dedicação exclusiva. 10.A Marinha acelerará o trabalho de instalação de
A Marinha contará, também, com embarcações de suas bases de submarinos, convencionais e de propulsão
combate, de transporte e de patrulha, oceânicas, litorâneas nuclear.
e fluviais. Serão concebidas e fabricadas de acordo com a O Exército Brasileiro: os imperativos de flexibilidade
mesma preocupação de versatilidade funcional que orien- e de elasticidade
tará a construção das belonaves de alto mar. A Marinha 1.O Exército Brasileiro cumprirá sua destinação cons-
adensará sua presença nas vias navegáveis das duas gran- titucional e desempenhará suas atribuições, na paz e na
des bacias fluviais, a do Amazonas e a do Paraguai-Paraná, guerra, sob a orientação dos conceitos estratégicos de fle-
empregando tanto navios-patrulha como navios-transpor- xibilidade e de elasticidade. A flexibilidade, por sua vez, in-
te, ambos guarnecidos por helicópteros, adaptados ao re- clui os requisitos estratégicos de monitoramento/controle
gime das águas. e de mobilidade.
11
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Flexibilidade é a capacidade de empregar forças mili- (a) Recursos humanos com elevada motivação e efetiva
tares com o mínimo de rigidez pré-estabelecida e com o capacitação operacional, típicas da Brigada de Operações
máximo de adaptabilidade à circunstância de emprego da Especiais, que hoje compõe a reserva estratégica do Exér-
força. Na paz, significa a versatilidade com que se substi- cito;
tui a presença - ou a onipresença - pela capacidade de se (b) Instrumentos de comunicações e de monitoramen-
fazer presente (mobilidade) à luz da informação (monitora- to que lhes permitam operar em rede com outras unidades
mento/controle). Na guerra, exige a capacidade de deixar do Exército, da Marinha e da Força Aérea e receber infor-
o inimigo em desequilíbrio permanente, surpreendendo-o mação fornecida pelo monitoramento do terreno a partir
por meio da dialética da desconcentração e da concentra- do ar e do espaço;
ção de forças e da audácia com que se desfecha o golpe (c) Instrumentos de mobilidade que lhes permitam
inesperado. deslocar-se rapidamente por terra, água e ar - para o tea-
A flexibilidade relativiza o contraste entre o confli- tro de operações e dentro dele. Por ar e por água, a mo-
to convencional e o conflito não-convencional: reivindica bilidade se efetuará comumente por meio de operações
para as forças convencionais alguns dos atributos de força conjuntas com a Marinha e com a Força Aérea;
não-convencional e firma a supremacia da inteligência e (d) Recursos logísticos capazes de manter a brigada
da imaginação sobre o mero acúmulo de meios materiais com suprimento, mesmo em regiões isoladas e inóspitas,
e humanos. Por isso mesmo, rejeita a tentação de ver na por um período de várias semanas.
alta tecnologia alternativa ao combate, assumindo-a como A qualificação do módulo brigada como vanguarda
um reforço da capacidade operacional. Insiste no papel da exige amplo espectro de meios tecnológicos, desde os
surpresa. Transforma a incerteza em solução, em vez de menos sofisticados, tais como radar portátil e instrumental
encará-la como problema. Combina as defesas meditadas de visão noturna, até as formas mais avançadas de comu-
com os ataques fulminantes. nicação entre as operações terrestres e o monitoramento
Elasticidade é a capacidade de aumentar rapidamen- espacial.
te o dimensionamento das forças militares quando as cir- O entendimento da mobilidade tem implicações para
cunstâncias o exigirem, mobilizando em grande escala os a evolução dos blindados, dos meios mecanizados e da ar-
recursos humanos e materiais do País. A elasticidade exige, tilharia. Uma implicação desse entendimento é harmoni-
zar, no desenho dos blindados e dos meios mecanizados,
portanto, a construção de força de reserva, mobilizável de
características técnicas de proteção e movimento. Outra
acordo com as circunstâncias. A base derradeira da elasti-
implicação – nos blindados, nos meios mecanizados e na
cidade é a integração das Forças Armadas com a Nação.
artilharia - é priorizar o desenvolvimento de tecnologias
O desdobramento da elasticidade reporta-se à parte desta
capazes de assegurar precisão na execução do tiro.
Estratégia Nacional de Defesa que trata do futuro do Servi-
3.A transformação de todo o Exército em vanguarda,
ço Militar Obrigatório e da mobilização nacional.
com base no módulo brigada, terá prioridade sobre a estra-
A flexibilidade depende, para sua afirmação plena, da
tégia de presença. Nessa transformação, o aparelhamento
elasticidade. O potencial da flexibilidade, para dissuasão e baseado no completamento e modernização dos sistemas
para defesa, ficaria severamente limitado se não fosse pos- operacionais das brigadas, para dotá-las de capacidade de
sível, em caso de necessidade, multiplicar os meios huma- rapidamente fazerem-se presentes, será prioritário.
nos e materiais das Forças Armadas. Por outro lado, a ma- A transformação será, porém, compatibilizada com a
neira de interpretar e de efetuar o imperativo da elasticida- estratégia da presença, em especial na região amazônica,
de revela o desdobramento mais radical da flexibilidade. A em face dos obstáculos ao deslocamento e à concentração
elasticidade é a flexibilidade, traduzida no engajamento de de forças. Em todas as circunstâncias, as unidades militares
toda a Nação em sua própria defesa. situadas nas fronteiras funcionarão como destacamentos
2.O Exército, embora seja empregado de forma pro- avançados de vigilância e de dissuasão.
gressiva nas crises e conflitos armados, deve ser constituí- Nos centros estratégicos do País – políticos, industriais,
do por meios modernos e por efetivos muito bem ades- tecnológicos e militares – a estratégia de presença do Exér-
trados. O Exército não terá dentro de si uma vanguarda. cito concorrerá também para o objetivo de se assegurar
O Exército será, todo ele, uma vanguarda. A concepção a capacidade de defesa antiaérea, em quantidade e em
do Exército como vanguarda tem, como expressão prática qualidade, sobretudo por meio de artilharia antiaérea de
principal a sua reconstrução em módulo brigada, que vem média altura.
a ser o módulo básico de combate da Força Terrestre. Na 4.O Exército continuará a manter reservas regionais e
composição atual do Exército, as brigadas das Forças de estratégicas, articuladas em dispositivo de expectativa. As
Ação Rápida Estratégicas são as que melhor exprimem o reservas estratégicas, incluindo pára-quedistas e contin-
ideal de flexibilidade. gentes de operações especiais, em prol da faculdade de
O modelo de composição das Forças de Ação Rápida concentrar forças rapidamente, serão estacionadas no cen-
Estratégicas não precisa nem deve ser seguido rigidamen- tro do País.
te, sem que se levem em conta os problemas operacionais 5.O monitoramento/controle, como componente do
próprios dos diferentes teatros de operações. Entretanto, imperativo de flexibilidade, exigirá que entre os recursos
todas as brigadas do Exército devem conter, em princípio, espaciais haja um vetor sob integral domínio nacional, ain-
os seguintes elementos, para que se generalize o atendi- da que parceiros estrangeiros participem do seu projeto e
mento do conceito da flexibilidade: da sua implementação, incluindo:
12
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
(a) a fabricação de veículos lançadores de satélites; 9.Atender ao imperativo da elasticidade será preocupa-
(b) a fabricação de satélites de baixa e de alta altitude, ção especial do Exército, pois é, sobretudo, a Força Terres-
sobretudo de satélites geoestacionários, de múltiplos usos; tre que terá de multiplicar-se em caso de conflito armado.
(c) o desenvolvimento de alternativas nacionais aos 10.Os imperativos de flexibilidade e de elasticidade
sistemas de localização e de posicionamento dos quais o culminam no preparo para uma guerra assimétrica, sobre-
Brasil depende, passando pelas necessárias etapas internas tudo na região amazônica, a ser sustentada contra inimigo
de evolução dessas tecnologias; de poder militar muito superior, por ação de um país ou de
(d) os meios aéreos e terrestres para monitoramento uma coligação de países que insista em contestar, a pretex-
focado, de alta resolução; to de supostos interesses da Humanidade, a incondicional
(e) as capacitações e os instrumentos cibernéticos ne- soberania brasileira sobre a sua Amazônia.
cessários para assegurar comunicações entre os monitores A preparação para tal guerra não consiste apenas em
espaciais e aéreos e a força terrestre. ajudar a evitar o que hoje é uma hipótese remota, a de
6.A mobilidade como componente do imperativo de envolvimento do Brasil em um conflito armado de grande
flexibilidade requer o desenvolvimento de veículos terres- escala. É, também, aproveitar disciplina útil para a forma-
tres e de meios aéreos de combate e de transporte. Deman-
ção de sua doutrina militar e de suas capacitações opera-
dará, também, a reorganização das relações com a Marinha
cionais. Um exército que conquistou os atributos de flexibi-
e com a Força Aérea, de maneira a assegurar, tanto na cú-
lidade e de elasticidade é um exército que sabe conjugar as
pula dos Estados-Maiores como na base dos contingentes
ações convencionais com as não-convencionais. A guerra
operacionais, a capacidade de atuar como uma única força.
7.Monitoramento/controle e mobilidade têm seu com- assimétrica, no quadro de uma guerra de resistência nacio-
plemento em medidas destinadas a assegurar, ainda no nal, representa uma efetiva possibilidade da doutrina aqui
módulo brigada, a obtenção do efetivo poder de combate. especificada.
Algumas dessas medidas são tecnológicas: o desenvolvi- Cada uma das condições, a seguir listadas, para a con-
mento de sistemas de armas e de guiamento que permi- dução exitosa da guerra de resistência deve ser interpreta-
tam precisão no direcionamento do tiro e o desenvolvi- da como advertência orientadora da maneira de desempe-
mento da capacidade de fabricar munições não-nucleares nhar as responsabilidades do Exército:
de todos os tipos. Outras medidas são operacionais: a con- a. Ver a Nação identificada com a causa da defesa. Toda
solidação de um repertório de práticas e de capacitações a estratégia nacional repousa sobre a conscientização do
que proporcionem à Força Terrestre os conhecimentos e as povo brasileiro da importância central dos problemas de
potencialidades, tanto para o combate convencional quan- defesa.
to para não-convencional, capaz de operar com adaptabi- b. Juntar a soldados regulares, fortalecidos com atribu-
lidade nas condições imensamente variadas do território tos de soldados não-convencionais, as reservas mobiliza-
nacional. Outras medidas - ainda mais importantes - são das de acordo com o conceito da elasticidade.
educativas: a formação de um militar que reúna qualifica- c. Contar com um soldado resistente que, além dos
ção e rusticidade. pendores de qualificação e de rusticidade, seja também,
8.A defesa da região amazônica será encarada, na atual no mais alto grau, tenaz. Sua tenacidade se inspirará na
fase da História, como o foco de concentração das diretri- identificação da Nação com a causa da defesa.
zes resumidas sob o rótulo dos imperativos de monitora- d. Sustentar, sob condições adversas e extremas, a ca-
mento/controle e de mobilidade. Não exige qualquer ex- pacidade de comando e controle entre as forças comba-
ceção a tais diretrizes; reforça as razões para seguí-las. As tentes.
adaptações necessárias serão as requeridas pela natureza e. Manter e construir, mesmo sob condições adversas
daquele teatro de operações: a intensificação das tecnolo- e extremas, o poder de apoio logístico às forças comba-
gias e dos dispositivos de monitoramento a partir do espa-
tentes.
ço, do ar e da terra; a primazia da transformação da brigada
f. Saber aproveitar ao máximo as características do ter-
em uma força com atributos tecnológicos e operacionais;
reno.
os meios logísticos e aéreos para apoiar unidades de fron-
A Força Aérea Brasileira: vigilância orientadora, supe-
teira isoladas em áreas remotas, exigentes e vulneráveis; e
a formação de um combatente detentor de qualificação e rioridade aérea, combate focado, combate aeroestratégico
de rusticidade necessárias à proficiência de um combaten- 1.Quatro objetivos estratégicos orientam a missão da
te de selva. Força Aérea Brasileira e fixam o lugar de seu trabalho den-
O desenvolvimento sustentável da região amazônica tro da Estratégia Nacional de Defesa. Esses objetivos estão
passará a ser visto, também, como instrumento da defesa encadeados em determinada ordem: cada um condiciona a
nacional: só ele pode consolidar as condições para assegu- definição e a execução dos objetivos subsequentes.
rar a soberania nacional sobre aquela região. Dentro dos a. A prioridade da vigilância aérea.
planos para o desenvolvimento sustentável da Amazônia, Exercer do ar a vigilância do espaço aéreo, sobre o ter-
caberá papel primordial à regularização fundiária. Para de- ritório nacional e as águas jurisdicionais brasileiras, com a
fender a Amazônia, será preciso tirá-la da condição de in- assistência dos meios espaciais, terrestres e marítimos, é a
segurança jurídica e de conflito generalizado em que, por primeira das responsabilidades da Força Aérea e a condi-
conta da falta de solução ao problema da terra, ela se en- ção essencial para poder inibir o sobrevôo desimpedido do
contra. espaço aéreo nacional pelo inimigo. A estratégia da For-
13
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
ça Aérea será a de cercar o Brasil com sucessivas e com- d. A índole pacífica do Brasil não elimina a necessida-
plementares camadas de visualização, condicionantes da de de assegurar à Força Aérea o domínio de um potencial
prontidão para responder. Implicação prática dessa tarefa estratégico que se organize em torno de uma capacidade,
é que a Força Aérea precisará contar com plataformas e não em torno de um inimigo. Sem que a Força Aérea te-
sistemas próprios para monitorar, e não apenas para com- nha o pleno domínio desse potencial aeroestratégico, não
bater e transportar, particularmente na região amazônica. estará ela em condições de defender o Brasil, nem mesmo
O Sistema de Defesa Aeroespacial Brasileiro (SISDA- dentro dos mais estritos limites de uma guerra defensiva.
BRA), uma dessas camadas, disporá de um complexo de Para tanto, precisa contar com todos os meios relevantes:
monitoramento, incluindo veículos lançadores, satélites plataformas, sistemas de armas, subsídios cartográficos e
geoestacionários e de monitoramento, aviões de inteligên- recursos de inteligência.
cia e respectivos aparatos de visualização e de comunica- 2.Na região amazônica, o atendimento a esses objeti-
ções, que estejam sob integral domínio nacional. vos exigirá que a Força Aérea disponha de unidades com
O Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (COM- recursos técnicos para assegurar a operacionalidade das
DABRA) será fortalecido como núcleo da defesa aeroespa- pistas de pouso e das instalações de proteção ao vôo nas
cial, incumbido de liderar e de integrar todos os meios de situações de vigilância e de combate.
monitoramento aeroespacial do País. A indústria nacional 3.O complexo tecnológico e científico sediado em São
de material de defesa será orientada a dar a mais alta prio- José dos Campos continuará a ser o sustentáculo da Força
ridade ao desenvolvimento das tecnologias necessárias, Aérea e de seu futuro. De sua importância central resultam
inclusive aquelas que viabilizem independência do sistema os seguintes imperativos estratégicos:
de sinal GPS ou de qualquer outro sistema de sinal estran- a. Priorizar a formação, dentro e fora do Brasil, dos
geiro. O potencial para contribuir com tal independência quadros técnico-científicos, militares e civis, que permitam
tecnológica pesará na escolha das parcerias com outros alcançar a independência tecnológica;
países em matéria de tecnologias de defesa. b. Desenvolver projetos tecnológicos que se distingam
b. O poder para assegurar superioridade aérea local. por sua fecundidade tecnológica (aplicação análoga a ou-
Em qualquer hipótese de emprego a Força Aérea terá tras áreas) e por seu significado transformador (alteração
a responsabilidade de assegurar superioridade aérea local. revolucionária das condições de combate), não apenas por
Do cumprimento dessa responsabilidade, dependerá em
sua aplicação imediata;
grande parte a viabilidade das operações navais e das ope-
c. Estreitar os vínculos entre os Institutos de Pesquisa
rações das forças terrestres no interior do País. O requisito
do Centro Tecnológico da Aeronáutica (CTA) e as empre-
do potencial de garantir superioridade aérea local será o
sas privadas, resguardando sempre os interesses do Estado
primeiro passo para afirmar a superioridade aérea sobre o
quanto à proteção de patentes e à propriedade industrial;
território e as águas jurisdicionais brasileiras.
d. Promover o desenvolvimento, em São José de Cam-
Impõe, como consequência, evitar qualquer hiato de
pos ou em outros lugares, de adequadas condições de en-
desproteção aérea no período de 2015 a 2025, durante o
qual terão de ser substituídos a atual frota de aviões de saio;
combate, os sistemas de armas e armamentos inteligentes e. Enfrentar o problema da vulnerabilidade estratégica
embarcados, inclusive os sistemas inerciais que permitam criada pela concentração de iniciativas no complexo tec-
dirigir o fogo ao alvo com exatidão e “além do alcance vi- nológico e empresarial de São José dos Campos. Preparar
sual”. a progressiva desconcentração geográfica de algumas das
c. A capacidade para levar o combate a pontos especí- partes mais sensíveis do complexo.
ficos do território nacional, em conjunto com o Exército e a 4.Dentre todas as preocupações a enfrentar no desen-
Marinha, constituindo uma única força combatente, sob a volvimento da Força Aérea, a que inspira cuidados mais vi-
disciplina do teatro de operações. vos e prementes é a maneira de substituir os atuais aviões
A primeira implicação é a necessidade de dispor de de combate no intervalo entre 2015 e 2025, uma vez esgo-
aviões de transporte em número suficiente para transpor- tada a possibilidade de prolongar-lhes a vida por moder-
tar em poucas horas uma brigada da reserva estratégica, nização de seus sistemas de armas, de sua aviônica e de
do centro do País para qualquer ponto do território nacio- partes de sua estrutura e fuselagem.
nal. As unidades de transporte aéreo ficarão baseadas no O Brasil confronta, nesse particular, dilema corriquei-
centro do País, próximo às reservas estratégicas da Força ro em toda a parte: manter a prioridade das capacitações
Terrestre. futuras sobre os gastos atuais, sem tolerar desproteção
A segunda implicação é a necessidade de contar com aérea. Precisa investir nas capacidades que lhe assegurem
sistemas de armas de grande precisão, capazes de permitir potencial de fabricação independente de seus meios aé-
a adequada discriminação de alvos em situações nas quais reos de defesa. Não pode, porém, aceitar ficar desfalcado
forças nacionais poderão estar entremeadas ao inimigo. de um escudo aéreo enquanto reúne as condições para
A terceira implicação é a necessidade de dispor de su- ganhar tal independência. A solução a dar a esse proble-
ficientes e adequados meios de transporte para apoiar a ma é tão importante, e exerce efeitos tão variados sobre a
aplicação da estratégia da presença do Exército na região situação estratégica do País na América do Sul e no mun-
Amazônica e no Centro-Oeste, sobretudo as atividades do, que transcende uma mera discussão de equipamento e
operacionais e logísticas realizadas pelas unidades da For- merece ser entendida como parte integrante da Estratégia
ça Terrestre situadas na fronteira. Nacional de Defesa.
14
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
O princípio genérico da solução é a rejeição das solu- meios centrais, não meramente acessórios, do combate aé-
ções extremas - simplesmente comprar no mercado inter- reo, além de facultar patamar mais exigente de precisão no
nacional um caça “de quinta geração” ou sacrificar a com- monitoramento/controle do território nacional. A Força Aé-
pra para investir na modernização dos aviões existentes, rea absorverá as implicações desse meio de vigilância e de
nos projetos de aviões não-tripulados, no desenvolvimen- combate para sua orientação tática e estratégica. Formula-
to, junto com outro país, do protótipo de um caça tripulado rá doutrina sobre a interação entre os veículos tripulados e
do futuro e na formação maciça de quadros científicos e não tripulados que aproveite o novo meio para radicalizar
técnicos. Convém solução híbrida, que providencie o avião o poder de surpreender, sem expor as vidas dos pilotos.
de combate dentro do intervalo temporal necessário mas A terceira diretriz é a integração das atividades espa-
que o faça de maneira a criar condições para a fabricação ciais nas operações da Força Aérea. O monitoramento es-
nacional de caças tripulados avançados. pacial será parte integral e condição indispensável do cum-
Tal solução híbrida poderá obedecer a um de dois fi- primento das tarefas estratégicas que orientarão a Força
gurinos. Embora esses dois figurinos possam coexistir em Aérea: vigilância múltipla e cumulativa, superioridade aérea
tese, na prática um terá de prevalecer sobre o outro. Ambos local e fogo focado no contexto de operações conjuntas.
ultrapassam de muito os limites convencionais de compra O desenvolvimento da tecnologia de veículos lançadores
com transferência de tecnologia ou “off-set” e envolvem servirá como instrumento amplo, não só para apoiar os
iniciativa substancial de concepção e de fabricação no Bra- programas espaciais, mas também para desenvolver tec-
sil. Atingem o mesmo resultado por caminhos diferentes. nologia nacional de projeto e de fabricação de mísseis.
De acordo com o primeiro figurino, estabelecer-se-ia Os setores estratégicos: o espacial, o cibernético e o
parceria com outro país ou países para projetar e fabricar nuclear
no Brasil, dentro do intervalo temporal relevante, um suce- 1.Três setores estratégicos - o espacial, o cibernético e
dâneo a um caça de quinta geração à venda no mercado o nuclear –são essenciais para a defesa nacional.
internacional. Projeta-se e constrói-se o sucedâneo de ma- 2.Nos três setores, as parcerias com outros países e
neira a superar limitações técnicas e operacionais significa- as compras de produtos e serviços no exterior devem ser
tivas da versão atual daquele avião (por exemplo, seu raio compatibilizadas com o objetivo de assegurar espectro
de ação, suas limitações em matéria de empuxo vetorado, abrangente de capacitações e de tecnologias sob domínio
sua falta de baixa assinatura radar). A solução em foco da- nacional.
ria resposta simultânea aos problemas das limitações téc- 3.No setor espacial, as prioridades são as seguintes:
nicas e da independência tecnológica. a. Projetar e fabricar veículos lançadores de satélites e
De acordo com o segundo figurino, seria comprado desenvolver tecnologias de guiamento remoto, sobretudo
um caça de quinta geração, em negociação que contem- sistemas inerciais e tecnologias de propulsão líquida.
plasse a transferência integral de tecnologia, inclusive as b. Projetar e fabricar satélites, sobretudo os geoesta-
tecnologias de projeto e de fabricação do avião e os “códi- cionários, para telecomunicações e os destinados ao sen-
gos-fonte”. A compra seria feita na escala mínima necessá- soriamento remoto de alta resolução, multiespectral e de-
ria para facultar a transferência integral dessas tecnologias. senvolver tecnologias de controle de atitude dos satélites.
Uma empresa brasileira começa a produzir, sob orientação c. Desenvolver tecnologias de comunicações, coman-
do Estado brasileiro, um sucedâneo àquele avião compra- do e controle a partir de satélites, com as forças terrestres,
do, autorizado por negociação antecedente com o país e aéreas e marítimas, inclusive submarinas, para que elas se
a empresa vendedores. A solução em foco dar-se-ia por capacitem a operar em rede e a se orientar por informa-
sequenciamento e não por simultaneidade. ções deles recebidas;
A escolha entre os dois figurinos é questão de circuns- d. Desenvolver tecnologia de determinação de coorde-
tância e de negociação. Consideração que poderá ser de- nadas geográficas a partir de satélites.
cisiva é a necessidade de preferir a opção que minimize a 4.As capacitações cibernéticas se destinarão ao mais
dependência tecnológica ou política em relação a qualquer amplo espectro de usos industriais, educativos e militares.
fornecedor que, por deter componentes do avião a com- Incluirão, como parte prioritária, as tecnologias de comu-
prar ou a modernizar, possa pretender, por conta dessa nicação entre todos os contingentes das Forças Armadas
participação, inibir ou influir sobre iniciativas de defesa de- de modo a assegurar sua capacidade para atuar em rede.
sencadeadas pelo Brasil. Contemplarão o poder de comunicação entre os contin-
5.Três diretrizes estratégicas marcarão a evolução da gentes das Forças Armadas e os veículos espaciais. No se-
Força Aérea. Cada uma dessas diretrizes representa muito tor cibernético, será constituída organização encarregada
mais do que uma tarefa, uma oportunidade de transfor- de desenvolver a capacitação cibernética nos campos in-
mação. dustrial e militar.
A primeira diretriz é o desenvolvimento do repertório 5.O setor nuclear tem valor estratégico. Transcende,
de tecnologias e de capacitações que permitam à Força por sua natureza, a divisão entre desenvolvimento e defesa.
Aérea operar em rede, não só entre seus próprios compo- Por imperativo constitucional e por tratado internacio-
nentes, mas, também, com o Exército e a Marinha. nal, privou-se o Brasil da faculdade de empregar a energia
A segunda diretriz é o avanço nos programas de veí- nuclear para qualquer fim que não seja pacífico. Fê-lo sob
culos aéreos não tripulados, primeiro de vigilância e depois várias premissas, das quais a mais importante foi o pro-
de combate. Os veículos não tripulados poderão vir a ser gressivo desarmamento nuclear das potências nucleares.
15
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Nenhum país é mais atuante do que o Brasil na causa d. Usar o desenvolvimento de tecnologias de defesa
do desarmamento nuclear. Entretanto o Brasil, ao proibir a como foco para o desenvolvimento de capacitações ope-
si mesmo o acesso ao armamento nuclear, não se deve des- racionais.
pojar da tecnologia nuclear. Deve, pelo contrário, desenvol- Isso implica buscar a modernização permanente das
vê-la, inclusive por meio das seguintes iniciativas: plataformas, seja pela reavaliação à luz da experiência ope-
a. Completar, no que diz respeito ao programa de sub- racional, seja pela incorporação de melhorias provindas do
marino de propulsão nuclear, a nacionalização completa e o desenvolvimento tecnológico.
desenvolvimento em escala industrial do ciclo do combustí- 2.Estabelecer-se-á, para a indústria nacional de mate-
vel (inclusive a gaseificação e o enriquecimento) e da tecno- rial de defesa, regime legal, regulatório e tributário espe-
logia da construção de reatores, para uso exclusivo do Brasil. cial.
b. Acelerar o mapeamento, a prospecção e o aproveita- Tal regime resguardará as empresas privadas de ma-
mento das jazidas de urânio. terial de defesa das pressões do imediatismo mercantil ao
c. Desenvolver o potencial de projetar e construir ter- eximi-las do regime geral de licitações; as protegerá contra
melétricas nucleares, com tecnologias e capacitações que o risco dos contingenciamentos orçamentários e assegu-
acabem sob domínio nacional, ainda que desenvolvidas rará a continuidade nas compras públicas. Em contraparti-
por meio de parcerias com Estados e empresas estrangei- da, o Estado ganhará poderes especiais sobre as empresas
ras. Empregar a energia nuclear criteriosamente, e sujeitá-la privadas, para além das fronteiras da autoridade regulató-
aos mais rigorosos controles de segurança e de proteção do ria geral. Esses poderes serão exercidos quer por meio de
meio-ambiente, como forma de estabilizar a matriz energé- instrumentos de direito privado, como a “golden share”,
tica nacional, ajustando as variações no suprimento de ener- quer por meio de instrumentos de direito público, como os
gias renováveis, sobretudo a energia de origem hidrelétrica; licenciamentos regulatórios.
e 3.O componente estatal da indústria de material de de-
d. Aumentar a capacidade de usar a energia nuclear em fesa terá por vocação produzir o que o setor privado não
amplo espectro de atividades. possa projetar e fabricar, a curto e médio prazo, de maneira
O Brasil zelará por manter abertas as vias de acesso ao rentável. Atuará, portanto, no teto, e não no piso tecnoló-
desenvolvimento de suas tecnologias de energia nuclear. gico. Manterá estreito vínculo com os centros avançados
Não aderirá a acréscimos ao Tratado de Não-Proliferação de pesquisa das próprias Forças Armadas e das instituições
de Armas Nucleares destinados a ampliar as restrições do acadêmicas brasileiras.
Tratado sem que as potências nucleares tenham avançado 4.O Estado ajudará a conquistar clientela estrangeira
na premissa central do Tratado: seu próprio desarmamento para a indústria nacional de material de defesa. Entretanto,
nuclear. a continuidade da produção deve ser organizada para não
6.A primeira prioridade do Estado na política dos três depender da conquista ou da continuidade de tal clientela.
setores estratégicos será a formação de recursos humanos Portanto, o Estado reconhecerá que em muitas linhas de
nas ciências relevantes. Para tanto, ajudará a financiar os produção, aquela indústria terá de operar em sistema de
programas de pesquisa e de formação nas universidades “custo mais margem” e, por conseguinte, sob intenso es-
brasileiras e nos centros nacionais de pesquisa e aumentará crutínio regulatório.
a oferta de bolsas de doutoramento e de pós-doutoramento 5.O futuro das capacitações tecnológicas nacionais de
nas instituições internacionais pertinentes. Essa política de defesa depende mais da formação de recursos humanos
apoio não se limitará à ciência aplicada, de emprego tecno- do que do desenvolvimento de aparato industrial. Daí a
lógico imediato. Beneficiará, também, a ciência fundamental primazia da política de formação de cientistas, em ciência
e especulativa. aplicada e básica, já abordada no tratamento dos setores
A reorganização da indústria nacional de material de de- espacial, cibernético e nuclear.
fesa: desenvolvimento tecnológico independente 6.No esforço de reorganizar a indústria nacional de
1.A defesa do Brasil requer a reorganização da indústria material de defesa, buscar-se-á parcerias com outros paí-
nacional de material de defesa, de acordo com as seguintes ses, com o objetivo de desenvolver a capacitação tecno-
diretrizes: lógica nacional, de modo a reduzir progressivamente a
a. Dar prioridade ao desenvolvimento de capacitações compra de serviços e de produtos acabados no exterior. A
tecnológicas independentes. esses interlocutores estrangeiros, o Brasil deixará sempre
Essa meta condicionará as parcerias com países e em- claro que pretende ser parceiro, não cliente ou comprador.
presas estrangeiras ao desenvolvimento progressivo de pes- O País está mais interessado em parcerias que fortaleçam
quisa e de produção no País. suas capacitações independentes do que na compra de
b. Subordinar as considerações comerciais aos impera- produtos e serviços acabados. Tais parcerias devem con-
tivos estratégicos. templar, em princípio, que parte substancial da pesquisa e
Isso importa em organizar o regime legal, regulatório e da fabricação seja desenvolvida no Brasil e ganharão relevo
tributário da indústria nacional de material de defesa para maior quando forem expressão de associações estratégicas
que reflita tal subordinação. abrangentes.
c. Evitar que a indústria nacional de material de defesa 7.Estabelecer-se-á, no Ministério da Defesa, uma Se-
polarize-se entre pesquisa avançada e produção rotineira. cretaria de Produtos de Defesa. O Secretário será nomeado
Deve-se cuidar para que a pesquisa de vanguarda sir- pelo Presidente da República, por indicação do Ministro da
va à produção de vanguarda. Defesa.
16
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Caberá ao Secretário executar as diretrizes fixadas pelo 2.As Forças Armadas limitarão e reverterão a tendência
Ministro da Defesa e, com base nelas, formular e dirigir a de diminuir a proporção de recrutas e de aumentar a pro-
política de compras de produtos de defesa, inclusive arma- porção de soldados profissionais. No Exército, respeitada a
mentos, munições, meios de transporte e de comunicações, necessidade de especialistas, a maioria do efetivo de sol-
fardamentos e materiais de uso individual e coletivo, em- dados deverá sempre continuar a ser de recrutas do Servi-
pregados nas atividades operacionais. O Ministro da Defesa ço Militar Obrigatório. Na Marinha e na Força Aérea, a ne-
delegará aos órgãos das três Forças poderes para executa- cessidade de contar com especialistas, formados ao longo
rem a política formulada pela Secretaria quanto a encomen- de vários anos, deverá ter como contrapeso a importância
das e compras de produtos específicos de sua área, sujeita estratégica de manter abertos os canais do recrutamento.
tal execução à avaliação permanente pelo Ministério. O conflito entre as vantagens do profissionalismo e os
O objetivo será implementar, no mais breve período, valores do recrutamento há de ser atenuado por meio da
uma política centralizada de compras produtos de defesa educação - técnica e geral, porém de orientação analítica
capaz de: e capacitadora - que será ministrada aos recrutas ao longo
(a) otimizar o dispêndio de recursos; do período de serviço.
(b) assegurar que as compras obedeçam às diretrizes 3.As Forças Armadas se colocarão no rumo de tornar
da Estratégia Nacional de Defesa e de sua elaboração, ao o Serviço Militar realmente obrigatório. Não se contenta-
longo do tempo; e rão em deixar que a desproporção entre o número muito
(c) garantir, nas decisões de compra, a primazia do maior de obrigados ao serviço e o número muito menor
compromisso com o desenvolvimento das capacitações de vagas e de necessidades das Forças seja resolvido pelo
tecnológicas nacionais em produtos de defesa. critério da auto-seleção de recrutas desejosos de servir. O
8.A Secretaria responsável pela área de Ciência e Tec- uso preponderante de tal critério, ainda que sob o efeito de
nologia no Ministério da Defesa deverá ter, entre as suas melhores atrativos financeiros, limita o potencial do serviço
atribuições, a de coordenar a pesquisa avançada em tecno- militar, em prejuízo de seus objetivos de defesa nacional e
logias de defesa que se realize nos Institutos de pesquisa de nivelamento republicano.
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, bem como em Os recrutas serão selecionados por dois critérios prin-
outras organizações subordinadas às Forças Armadas. cipais. O primeiro será a combinação do vigor físico com a
O objetivo será implementar uma política tecnológi- capacidade analítica, medida de maneira independente do
ca integrada, que evite duplicação; compartilhe quadros,
nível de informação ou de formação cultural de que goze
idéias e recursos; e prime por construir elos entre pesquisa
o recruta. O segundo será o da representação de todas as
e produção, sem perder contato com avanços em ciências
classes sociais e regiões do país.
básicas. Para assegurar a consecução desses objetivos, a Se-
4.Complementarmente ao Serviço Militar Obrigatório
cretaria fará com que muitos projetos de pesquisa sejam
instituir-se-á Serviço Civil, de amplas proporções. Nele po-
realizados conjuntamente pelas instituições de tecnologia
derão ser progressivamente aproveitados os jovens bra-
avançada das três Forças Armadas. Alguns desses proje-
sileiros que não forem incorporados no Serviço Militar.
tos conjuntos poderão ser organizados com personalidade
própria, seja como empresas de propósitos específicos, seja Nesse serviço civil - concebido como generalização das as-
sob outras formas jurídicas. pirações do Projeto Rondon - receberão os incorporados,
Os projetos serão escolhidos e avaliados não só pelo de acordo com suas qualificações e preferências, formação
seu potencial produtivo próximo, mas também por sua fe- para poder participar de um trabalho social. Esse trabalho
cundidade tecnológica: sua utilidade como fonte de inspira- se destinará a atender às carências do povo brasileiro e a
ção e de capacitação para iniciativas análogas. reafirmar a unidade da Nação. Receberão, também, os par-
9.Resguardados os interesses de segurança do Estado ticipantes do Serviço Civil, treinamento militar básico que
quanto ao acesso a informações, serão estimuladas inicia- lhes permita compor força de reserva, mobilizável em cir-
tivas conjuntas entre organizações de pesquisa das Forças cunstâncias de necessidade. Serão catalogados, de acordo
Armadas, instituições acadêmicas nacionais e empresas com suas habilitações, para eventual mobilização.
privadas brasileiras. O objetivo será fomentar o desenvol- À medida que os recursos o permitirem, os jovens do
vimento de um complexo militar-universitário-empresarial Serviço Civil serão estimulados a servir em região do País
capaz de atuar na fronteira de tecnologias que terão quase diferente daquelas de onde são originários.
sempre utilidade dual, militar e civil. Até que se criem as condições para instituir plenamen-
O serviço militar obrigatório: nivelamento republicano e te o Serviço Civil, as Forças Armadas tratarão, por meio de
mobilização nacional trabalho conjunto com os prefeitos municipais, de resta-
1.A base da defesa nacional é a identificação da Nação belecer a tradição dos Tiros de Guerra. Em princípio, todas
com as Forças Armadas e das Forças Armadas com a Nação. as prefeituras do País deverão estar aptas para participar
Tal identificação exige que a Nação compreenda serem in- dessa renovação dos Tiros de Guerra, derrubadas as res-
separáveis as causas do desenvolvimento e da defesa. trições legais que ainda restringem o rol dos municípios
O Serviço Militar Obrigatório será, por isso, mantido e qualificados.
reforçado. É a mais importante garantia da defesa nacio- 5.Os Serviços Militar e Civil evoluirão em conjunto com
nal. Pode ser também o mais eficaz nivelador republicano, as providências para assegurar a mobilização nacional em
permitindo que a Nação se encontre acima de suas classes caso de necessidade, de acordo com a Lei de Mobilização
sociais. Nacional. O Brasil entenderá, em todo o momento, que sua
17
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
defesa depende do potencial de mobilizar recursos huma- problemas atuais enfrentados pelas Forças Armadas e, com
nos e materiais em grande escala, muito além do efetivo isso, tornar mais claras sua doutrina e suas exigências. O
das suas Forças Armadas em tempo de paz. Jamais tratará terceiro é enumerar medidas de transição que indiquem o
a evolução tecnológica como alternativa à mobilização na- caminho que levará o Brasil, de onde está para onde deve
cional; aquela será entendida como instrumento desta. Ao ir, na organização de sua defesa.
assegurar a flexibilidade de suas Forças Armadas, assegu- Podem ser considerados como principais aspectos po-
rará também a elasticidade delas. sitivos do atual quadro da defesa nacional:
6.É importante para a defesa nacional que o oficiala- - Forças Armadas identificadas com a sociedade brasi-
to seja representativo de todos os setores da sociedade leira, com altos índices de confiabilidade;
brasileira. É bom que os filhos de trabalhadores ingressem - adaptabilidade do brasileiro às situações novas e
nas academias militares. Entretanto, a ampla representa- inusitadas, criando situação propícia a uma cultura militar
ção de todas as classes sociais nas academias militares é pautada pelo conceito da flexibilidade; e
imperativo de segurança nacional. Duas condições são in- - excelência do ensino nas Forças Armadas, no que diz
dispensáveis para que se alcance esse objetivo. A primeira respeito à metodologia e à atualização em relação às mo-
é que a carreira militar seja remunerada com vencimentos dernas táticas e estratégias de emprego de meios militares,
competitivos com outras valorizadas carreiras do Estado. A incluindo o uso de concepções próprias, adequadas aos
segunda condição é que a Nação abrace a causa da defe- ambientes operacionais de provável emprego.
sa e nela identifique requisito para o engrandecimento do Por outro lado, configuram-se como principais vulne-
povo brasileiro. rabilidades da atual estrutura de defesa do País:
7.Um interesse estratégico do Estado é a formação de - pouco envolvimento da sociedade brasileira com os
especialistas civis em assuntos de defesa. No intuito de for- assuntos de defesa e escassez de especialistas civis nesses
má-los, o Governo Federal deve apoiar, nas universidades, temas;
um amplo espectro de programas e de cursos que versem - insuficiência e descontinuidade na alocação de recur-
sobre a defesa. sos orçamentários para a defesa;
A Escola Superior de Guerra deve servir como um dos - obsolescência da maioria dos equipamentos das For-
principais instrumentos de tal formação. Deve, também, ças Armadas; elevado grau de dependência em relação a
organizar o debate permanente, entre as lideranças civis produtos de defesa estrangeiros; e ausência de direção
e militares, a respeito dos problemas da defesa. Para me- unificada para aquisições de produtos de defesa;
lhor cumprir essas funções, deverá a Escola ser transferi-
- inadequada distribuição espacial das Forças Armadas
da para Brasília, sem prejuízo de sua presença no Rio de
no território nacional, para o atendimento otimizado às ne-
Janeiro, e passar a contar com o engajamento direto do
cessidades estratégicas;
Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas e dos Estados
- falta de articulação com o Governo federal e com a
-Maiores das três Forças.
sociedade do principal Instituto brasileiro de altos estudos
Conclusão
estratégicos - a Escola Superior de Guerra - no desenvol-
A Estratégia Nacional de Defesa inspira-se em duas
vimento e consolidação dos conhecimentos necessários ao
realidades que lhe garantem a viabilidade e lhe indicam
o rumo. planejamento de defesa e no assessoramento à formulação
A primeira realidade é a capacidade de improvisação de políticas e estratégias decorrentes;
e adaptação, o pendor para criar soluções quando faltam - insuficiência ou pouca atratividade e divulgação dos
instrumentos, a disposição de enfrentar as agruras da na- cursos para a capacitação de civis em assuntos de defesa;
tureza e da sociedade, enfim, a capacidade quase irrestrita e inexistência de carreira civil na área de defesa, mesmo
de adaptação que permeia a cultura brasileira. É esse o fato sendo uma função de Estado;
que permite efetivar o conceito de flexibilidade. - limitados recursos aplicados em pesquisa científica e
A segunda realidade é o sentido do compromisso na- tecnológica para o desenvolvimento de material de empre-
cional no Brasil. A Nação brasileira foi e é um projeto do go militar e produtos de defesa, associados ao incipiente
povo brasileiro; foi ele que sempre abraçou a idéia de na- nível de integração entre os órgãos militares de pesquisa, e
cionalidade e lutou para converter a essa idéia os quadros entre estes e os institutos civis de pesquisa;
dirigentes e letrados. Este fato é a garantia profunda da - inexistência de planejamento nacional para desen-
identificação da Nação com as Forças Armadas e destas volvimento de produtos de elevado conteúdo tecnológico,
com a Nação. com participação coordenada dos centros de pesquisa das
Do encontro dessas duas realidades, resultaram as di- universidades, das Forças Armadas e da indústria;
retrizes da Estratégia Nacional de Defesa. - falta de inclusão, nos planos governamentais, de
II – MEDIDAS DE IMPLEMENTAÇÃO programas de aquisição de produtos de defesa em lon-
Contexto go prazo, calcados em programas plurianuais e em planos
A segunda parte da Estratégia Nacional de Defesa com- de equipamento das Forças Armadas, com priorização da
plementa a formulação sistemática contida na primeira. indústria nacional de material de defesa. Essa omissão
São três seus propósitos. O primeiro é contextualizá-la, ocasiona aquisições de produtos de defesa no exterior, às
enumerando circunstâncias que ajudam a precisar-lhe os vezes, calcadas em oportunidades, com desníveis tecnoló-
objetivos e a explicar-lhe os métodos. O segundo é apli- gicos em relação ao “estado da arte” e com a geração de
car a Estratégia a um espectro, amplo e representativo, de indesejável dependência externa;
18
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
- inexistência de regras claras de prioridade à indústria - articulação das Forças Armadas, compatível com as
nacional, no caso de produtos de defesa fabricados no País; necessidades estratégicas e de adestramento dos Coman-
- dualidade de tratamento tributário entre o produto dos Operacionais, tanto singulares quanto conjuntos, capaz
de defesa fabricado no País e o adquirido no exterior, com de levar em consideração as exigências de cada ambiente
excessiva carga tributária incidente sobre o material nacio- operacional, em especial o amazônico e o do Atlântico Sul;
nal, favorecendo a opção pela importação; - fomento da atividade aeroespacial, de forma a propor-
- deficiências nos programas de financiamento para as cionar ao País o conhecimento tecnológico necessário ao
empresas nacionais fornecedoras de produtos de defesa, desenvolvimento de projeto e fabricação de satélites e de
prejudicando-as nos mercados interno e externo; veículos lançadores de satélites e desenvolvimento de um
- falta de garantias para apoiar possíveis contratos de sistema integrado de monitoramento do espaço aéreo, do
fornecimento oriundos da indústria nacional de defesa; território e das águas jurisdicionais brasileiras;
- bloqueios tecnológicos impostos por países desen- - desenvolvimento das infra-estruturas marítima, terres-
volvidos, retardando os projetos estratégicos de concep- tre e aeroespacial necessárias para viabilizar as estratégias de
ção brasileira; defesa;
- cláusula de compensação comercial, industrial e tec- - promoção de ações de presença do Estado na região
nológica (off-set) inexistente em alguns contratos de im- amazônica, em especial pelo fortalecimento do viés de defe-
portação de produtos de defesa, ou mesmo a não-parti- sa do Programa Calha Norte;
cipação efetiva da indústria nacional em programas de - estreitamento da cooperação entre os países da Amé-
compensação; e rica do Sul e, por extensão, com os do entorno estratégico
- sistemas nacionais de logística e de mobilização de- brasileiro;
ficientes. - valorização da profissão militar, a fim de estimular o
A identificação e a análise dos principais aspectos po- recrutamento de seus quadros em todas as classes sociais;
sitivos e das vulnerabilidades permitem vislumbrar as se- - aperfeiçoamento do Serviço Militar Obrigatório, na
guintes oportunidades a serem exploradas: busca de maior identificação das Forças Armadas com a so-
- maior engajamento da sociedade brasileira nos as- ciedade brasileira, e estudos para viabilizar a criação de um
suntos de defesa, assim como maior integração entre os Serviço Civil, a ser regulado por normas específicas;
- expansão da capacidade de combate das Forças Arma-
diferentes setores dos três poderes do Estado brasileiro e
das, por meio da mobilização de pessoal, material e serviços,
desses setores com os institutos nacionais de estudos es-
para complementar a logística militar, no caso de o País se
tratégicos, públicos ou privados;
ver envolvido em conflito; e
- regularidade e continuidade na alocação dos recur-
- otimização do controle sobre atores não-governamen-
sos orçamentários de defesa, para incrementar os investi-
tais, especialmente na região amazônica, visando à preserva-
mentos e garantir o custeio das Forças Armadas;
ção do patrimônio nacional, mediante ampla coordenação
- aparelhamento das Forças Armadas e capacitação
das Forças Armadas com os órgãos governamentais brasilei-
profissional de seus integrantes, para que disponham de
ros responsáveis pela autorização de atuação no País desses
meios militares aptos ao pronto emprego, integrado, com atores, sobretudo daqueles com vinculação estrangeira.
elevada mobilidade tática e estratégica; Hipóteses de Emprego (HE)
- otimização dos esforços em Ciência, Tecnologia e Entende-se por “Hipótese de Emprego” a antevisão de
Inovação para a Defesa, por intermédio, dentre outras, das possível emprego das Forças Armadas em determinada situa-
seguintes medidas: ção ou área de interesse estratégico para a defesa nacional.
(a) maior integração entre as instituições científicas e É formulada considerando-se o alto grau de indeterminação
tecnológicas, tanto militares como civis, e a indústria na- e imprevisibilidade de ameaças ao País. Com base nas hipó-
cional de defesa; teses de emprego, serão elaborados e mantidos atualizados
(b) definição de pesquisas de uso dual; e os planos estratégicos e operacionais pertinentes, visando
(c) fomento à pesquisa e ao desenvolvimento de pro- a possibilitar o contínuo aprestamento da Nação como um
dutos de interesse da defesa; todo, e em particular das Forças Armadas, para emprego na
- maior integração entre as indústrias estatal e privada defesa do País.
de material de defesa, com a definição de um modelo de Emprego Conjunto das Forças Armadas em atendimen-
participação na produção nacional de meios de defesa; to às HE
- estabelecimento de regime jurídico especial para a A evolução da estrutura das Forças Armadas, do esta-
indústria nacional de material de defesa, que possibilite a do de paz para o de conflito armado ou guerra, dar-se-á de
continuidade e o caráter preferencial nas compras públicas; acordo com as peculiaridades da situação apresentada e de
- integração e definição centralizada na aquisição de uma maneira sequencial, que pode ser assim esquematizada:
produtos de defesa de uso comum, compatíveis com as (a) Na paz
prioridades estabelecidas; As organizações militares serão articuladas para conciliar
- condicionamento da compra de produtos de defesa o atendimento às Hipóteses de Emprego com a necessidade
no exterior à transferência substancial de tecnologia, inclu- de otimizar os seus custos de manutenção e para proporcio-
sive por meio de parcerias para pesquisa e fabricação no nar a realização do adestramento em ambientes operacio-
Brasil de partes desses produtos ou de sucedâneos a eles; nais específicos.
19
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Serão desenvolvidas atividades permanentes de inte- Na elaboração das Hipóteses de Emprego, a Estratégia
ligência, para acompanhamento da situação e dos atores Militar de Defesa deverá contemplar o emprego das Forças
que possam vir a representar potenciais ameaças ao Estado Armadas considerando, dentre outros, os seguintes aspectos:
e para proporcionar o alerta antecipado ante a possibilida- - o monitoramento e controle do espaço aéreo, das fron-
de de concretização de tais ameaças. As atividades de in- teiras terrestres, do território e das águas jurisdicionais brasi-
teligência devem obedecer a salvaguardas e controles que leiras em circunstâncias de paz;
resguardem os direitos e garantias constitucionais. - a ameaça de penetração nas fronteiras terrestres ou
(b) Na crise abordagem nas águas jurisdicionais brasileiras;
O Comandante Supremo das Forças Armadas, consul- - a ameaça de forças militares muito superiores na região
tado o Conselho de Defesa Nacional, poderá ativar uma amazônica;
- as providências internas ligadas à defesa nacional de-
estrutura de gerenciamento de crise, com a participação de
correntes de guerra em outra região do mundo, ultrapassan-
representantes do Ministério da Defesa e dos Comandos
do os limites de uma guerra regional controlada, com empre-
da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, bem como de
go efetivo ou potencial de armamento nuclear;
representantes de outros Ministérios, se necessários. - a participação do Brasil em operações de paz e humani-
O emprego das Forças Armadas será singular ou con- tárias, regidas por organismos internacionais;
junto e ocorrerá em consonância com as diretrizes expe- - a participação em operações internas de Garantia da Lei
didas. e da Ordem, nos termos da Constituição Federal, e os atendi-
As atividades de inteligência serão intensificadas. mentos às requisições da Justiça Eleitoral;
Medidas políticas inerentes ao gerenciamento de cri- - ameaça de conflito armado no Atlântico Sul.
se continuarão a ser adotadas, em paralelo com as ações Estruturação das Forças Armadas
militares. Para o atendimento eficaz das Hipóteses de Emprego,
Ante a possibilidade de a crise evoluir para conflito ar- as Forças Armadas deverão estar organizadas e articuladas
mado, poderão ser desencadeadas, entre outras, as seguin- de maneira a facilitar a realização de operações conjuntas e
tes medidas: singulares, adequadas às características peculiares das opera-
- a ativação dos Comandos Operacionais previstos na ções de cada uma das áreas estratégicas.
Estrutura Militar de Defesa; O instrumento principal, por meio do qual as Forças de-
- a adjudicação de forças pertencentes à estrutura or- senvolverão sua flexibilidade tática e estratégica, será o tra-
ganizacional das três Forças aos Comandos Operacionais balho coordenado entre as Forças, a fim de tirar proveito da
dialética da concentração e desconcentração. Portanto, as
ativados;
Forças, como regra, definirão suas orientações operacionais
- a atualização e implementação, pelo Comando Ope-
em conjunto, privilegiando essa visão conjunta como forma
racional ativado, dos planos de campanha elaborados no
de aprofundar suas capacidades e rejeitarão qualquer tentati-
estado de paz; va de definir orientação operacional isolada.
- o recompletamento das estruturas; O agente institucional para esse trabalho unificado será
- a ativação de Zona de Defesa, áreas onde são mobi- a colaboração entre os Estados-Maiores das Forças com o
lizáveis tropas da ativa e reservistas, inclusive os egressos Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, no estabeleci-
dos Tiros de Guerra, para defesa do interior do país em mento e definição das linhas de frente de atuação conjunta.
caso de conflito armado; e Nesse sentido, o sistema educacional de cada Força ministra-
- a decretação da Mobilização Nacional, se necessária. rá cursos e realizará projetos de pesquisa e de formulação em
(c) Durante o conflito armado/guerra conjunto com os sistemas das demais Forças e com a Escola
O desencadeamento da campanha militar prevista no Superior de Guerra.
Plano de Campanha elaborado. Da mesma forma, as Forças Armadas deverão ser equipa-
(d) Ao término do conflito armado/guerra das, articuladas e adestradas, desde os tempos de paz, segun-
A progressiva desmobilização dos recursos não mais do as diretrizes do Ministério da Defesa, realizando exercícios
necessários. singulares e conjuntos.
Fundamentos Assim, com base na Estratégia Nacional de Defesa e na
Os ambientes apontados na Estratégia Nacional de De- Estratégia Militar dela decorrente, as Forças Armadas subme-
terão ao Ministério da Defesa seus Planos de Equipamento e
fesa não permitem vislumbrar ameaças militares concretas
de Articulação, os quais deverão contemplar uma proposta de
e definidas, representadas por forças antagônicas de países
distribuição espacial das instalações militares e de quantifica-
potencialmente inimigos ou de outros agentes não-esta-
ção dos meios necessários ao atendimento eficaz das Hipóte-
tais. Devido à incerteza das ameaças ao Estado, o prepa- ses de Emprego, de maneira a possibilitar:
ro das Forças Armadas deve ser orientado para atuar no - poder de combate que propicie credibilidade à estraté-
cumprimento de variadas missões, em diferentes áreas e gia da dissuasão;
cenários, para respaldar a ação política do Estado. - que o Sistema de Defesa Nacional disponha de meios
As Hipóteses de Emprego são provenientes da associa- que permitam o aprimoramento da vigilância; o controle do
ção das principais tendências de evolução das conjunturas espaço aéreo, das fronteiras terrestres, do território e das
nacional e internacional com as orientações político-estra- águas jurisdicionais brasileiras; e da infra-estrutura estra-
tégicas do País. tégica nacional;
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
- o aumento da presença militar nas áreas estratégicas (c) a manutenção de tropas no centro-sul do País para
do Atlântico Sul e da região amazônica; garantir a defesa da principal concentração demográfica,
- o aumento da participação de órgãos governamen- industrial e econômica, bem como da infra-estrutura, parti-
tais, militares e civis, no plano de vivificação e desenvolvi- cularmente a geradora de energia; e
mento da faixa de fronteira amazônica, empregando a es- (d) a concentração das reservas regionais em suas res-
tratégia da presença; pectivas áreas; e
- a adoção de uma articulação que atenda aos aspectos - na Força Aérea, a adequação da localização de suas
ligados à concentração dos meios, à eficiência operacional, unidades de transporte de tropa de forma a propiciar o
à rapidez no emprego e à otimização do custeio em tempo rápido atendimento de apoio de transporte a forças estra-
de paz; e tégicas de emprego. Isso pressupõe que se baseiem próxi-
- a existência de forças estratégicas de elevada mobili- mo às reservas estratégicas do Exército no centro do País.
dade e flexibilidade, dotadas de material tecnologicamente Além disso, suas unidades de defesa aérea e de controle do
avançado e em condições de emprego imediato, articuladas espaço aéreo serão distribuídas de forma a possibilitar um
de maneira à melhor atender às Hipóteses de Emprego. efetivo atendimento às necessidades correntes com velo-
Os Planos das Forças singulares, consolidados no Mi- cidade e presteza.
nistério da Defesa, deverão referenciar-se a metas de curto A partir da consolidação dos Planos de Equipamento
prazo (até 2014), de médio prazo (entre 2015 e 2022) e de e de Articulação elaborados pelas Forças, o Ministério da
longo prazo (entre 2027 e 2030). Defesa proporá ao Presidente da República o Projeto de
Em relação ao equipamento, o planejamento deverá Lei de Equipamento e de Articulação da Defesa Nacional,
priorizar, com compensação comercial, industrial e tecno- envolvendo a sociedade brasileira na busca das soluções
lógica: necessárias.
- no âmbito das três Forças, sob a condução do Minis- As características especiais do ambiente amazônico,
tério da Defesa, a aquisição de helicópteros de transporte e com reflexos na doutrina de emprego das Forças Arma-
de reconhecimento e ataque; das, deverão demandar tratamento especial, devendo ser
- na Marinha, o projeto e fabricação de submarinos incrementadas as ações de fortalecimento da estratégia da
convencionais que permitam a evolução para o projeto e presença naquele ambiente operacional.
fabricação, no País, de submarinos de propulsão nuclear, de Em face da indefinição das ameaças, as Forças Arma-
meios de superfície e aéreos priorizados nesta Estratégia; das deverão se dedicar à obtenção de capacidades orienta-
- no Exército, os meios necessários ao completamento doras das medidas a serem planejadas e adotadas.
dos sistemas operacionais das brigadas; o aumento da mo- No tempo de paz ou enquanto os recursos forem insu-
bilidade tática e estratégica da Força Terrestre, sobretudo ficientes, algumas capacidades serão mantidas temporaria-
das Forças de Ação Rápida Estratégicas e das forças estacio- mente por meio de núcleos de expansão, constituídos por
nadas na região amazônica; os denominados “Núcleos de estruturas flexíveis e capazes de evoluir rapidamente, de
Modernidade”; a nova família de blindados sobre rodas; os modo a obter adequado poder de combate nas operações.
sistemas de mísseis e radares antiaéreos (defesa antiaérea); As seguintes capacidades são desejadas para as Forças
a produção de munições e o armamento e o equipamento Armadas:
individual do combatente, entre outros, aproximando-os - permanente prontidão operacional para atender às
das tecnologias necessárias ao combatente do futuro; e Hipóteses de Emprego, integrando forças conjuntas ou
- na Força Aérea, a aquisição de aeronaves de caça que não;
substituam, paulatinamente, as hoje existentes, buscando a - manutenção de unidades aptas a compor Forças de
possível padronização; a aquisição e o desenvolvimento de Pronto Emprego, em condições de atuar em diferentes am-
armamentos e sensores, objetivando a auto-suficiência na bientes operacionais;
integração destes às aeronaves; e a aquisição de aeronaves - projeção de poder nas áreas de interesse estratégico;
de transporte de tropa. - estruturas de Comando e Controle, e de Inteligência
Em relação à distribuição espacial das Forças no territó- consolidadas;
rio nacional, o planejamento consolidado no Ministério da - permanência na ação, sustentada por um adequado
Defesa, deverá priorizar: apoio logístico, buscando ao máximo a integração da lo-
- na Marinha, a necessidade de constituição de uma Es- gística das três Forças;
quadra no norte/nordeste do País; - aumento do poder de combate, em curto prazo, pela
- no Exército, a distribuição que atenda às seguintes incorporação de recursos mobilizáveis, previstos em lei; e
condicionantes: - interoperabilidade nas operações conjuntas.
(a) um flexível dispositivo de expectativa, em face da Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I)
indefinição de ameaças, que facilite o emprego progressivo A Política de Ciência, Tecnologia e Inovação para a De-
das tropas e a presença seletiva em uma escalada de crise; fesa Nacional tem como propósito estimular o desenvolvi-
(b) a manutenção de tropas no centro do País, em par- mento científico e tecnológico e a inovação de interesse
ticular as reservas estratégicas, na situação de prontidão para a defesa nacional.
operacional com mobilidade, que lhes permitam deslocar- Isso ocorrerá por meio de um planejamento nacional
se rapidamente para qualquer parte do território nacional para desenvolvimento de produtos de alto conteúdo tec-
ou para o exterior; nológico, com envolvimento coordenado das instituições
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
científicas e tecnológicas (ICT) civis e militares, da indús- Em qualquer situação, a concepção, o projeto e a ope-
tria e da universidade, com a definição de áreas prioritárias ração dos sistemas espaciais devem observar a legislação
e suas respectivas tecnologias de interesse e a criação de internacional, os tratados, bilaterais e multilaterais, ratifi-
instrumentos de fomento à pesquisa de materiais, equipa- cados pelo País, bem como os regimes internacionais dos
mentos e sistemas de emprego de defesa ou dual, de for- quais o Brasil é signatário.
ma a viabilizar uma vanguarda tecnológica e operacional As medidas descritas têm respaldo na parceria entre o
pautada na mobilidade estratégica, na flexibilidade e na Ministério da Defesa e o Ministério da Ciência e Tecnolo-
capacidade de dissuadir ou de surpreender. gia, que remonta à “Concepção para CT&I de Interesse da
Para atender ao propósito dessa política, deverá ser Defesa” – documento elaborado conjuntamente em 2003 e
considerada, ainda, a “Concepção Estratégica para CT&I de revisado em 2008. Foi fortalecida com o lançamento do Pla-
Interesse da Defesa”, documento elaborado em 2003, em no de Ação de Ciência, Tecnologia e Inovação (PACTI/MCT
conjunto pelo Ministério da Defesa e pelo Ministério da - Portaria Interministerial MCT/MD nº 750, de 20.11.2007),
Ciência e Tecnologia, e revisado em 2008. cuja finalidade é viabilizar soluções científico-tecnológicas
O Ministério da Defesa, em coordenação com o Mi- e inovações para o atendimento das necessidades do País
nistério da Ciência e Tecnologia, atualizará a Política de atinentes à defesa e ao desenvolvimento nacional.
Ciência, Tecnologia e Inovação para a Defesa Nacional e Indústria de Material de Defesa
os instrumentos normativos decorrentes. Para atender aos A relação entre Ciência, Tecnologia e Inovação na área
objetivos dessa Política, deverá ocorrer a adequação das de defesa fortalece-se com a Política de Desenvolvimento
estruturas organizacionais existentes e que atuam na área Produtivo (PDP), lançada em maio de 2008. Sob a coorde-
de Ciência e Tecnologia da Defesa. Os citados documentos
nação geral do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e
contemplarão:
Comércio Exterior, a PDP contempla 32 áreas. O programa
- medidas para a maximização e a otimização dos
estruturante do Complexo Industrial de Defesa está sob a
esforços de pesquisa nas instituições científicas e tecno-
gestão do Ministério da Defesa e sob a coordenação do
lógicas civis e militares, para o desenvolvimento de tecno-
logias de ponta para o sistema de defesa, com a definição Ministério da Ciência e Tecnologia.
de esforços integrados de pesquisadores das três Forças, Tal programa tem por objetivo “recuperar e incentivar
especialmente para áreas prioritárias e suas respectivas o crescimento da base industrial instalada, ampliando o
tecnologias de interesse; fornecimento para as Forças Armadas brasileiras e expor-
- um plano nacional de pesquisa e desenvolvimento tações”. Estabelece quatro desafios para a consecução do
de produtos de defesa, tendo como escopo prioritário a objetivo:
busca do domínio de tecnologias consideradas estratégi- - aumentar os investimentos em Pesquisa, Desenvolvi-
cas e medidas para o financiamento de pesquisas; mento e Inovação;
- a integração dos esforços dos centros de pesquisa - promover isonomia tributária em relação a produtos/
militares, com a definição das prioridades de pesquisa de materiais importados;
material de emprego comum para cada centro, e a partici- - expandir a participação nos mercados interno e ex-
pação de pesquisadores das três Forças em projetos prio- terno; e
ritários; e - fortalecer a cadeia de fornecedores no Brasil.
- o estabelecimento de parcerias estratégicas com paí- A PDP sugere, ainda, um conjunto de ações destinadas
ses que possam contribuir para o desenvolvimento de tec- à superação dos desafios identificados:
nologias de ponta de interesse para a defesa. - ampliação das compras nacionais;
Projetos de interesse comum a mais de uma Força de- - expansão e adequação do financiamento;
verão ter seus esforços de pesquisa integrados, definindo- - promoção das vendas e capacitação de empresas
se, no plano especificado, para cada um deles, um pólo brasileiras; e
integrador. - fortalecimento da base de P, D&I.
No que respeita à utilização do espaço exterior como Com base em tais objetivos, desafios e ações, a PDP
meio de suporte às atividades de defesa, os satélites
visa ao fortalecimento da associação entre desenvolvimen-
geoestacionários para comunicações, controle de tráfego
to da Ciência e da Tecnologia e desenvolvimento da pro-
aéreo e meteorologia desempenharão papel fundamental
na viabilização de diversas funções em sistemas de coman- dução. Busca aproveitar o potencial de tecnologias empre-
do e controle. As capacidades de alerta, vigilância, moni- gadas no País e transformá-las em bens finais, estimulando
toramento e reconhecimento poderão, também, ser aper- a indústria nacional.
feiçoadas por meio do uso de sensores ópticos e de radar, Os projetos a serem apoiados serão selecionados e
a bordo de satélites ou de veículos aéreos não-tripulados avaliados de acordo com as ações estratégicas a seguir
(VANT). descritas e com características que considerem o poten-
Serão consideradas, nesse contexto, as plataformas e cial da demanda pública, a possibilidade de uso comum
missões espaciais em desenvolvimento, para fins civis, tais pelas Forças, o uso dual – militar e civil – das tecnologias,
como satélites de monitoramento ambiental e científicos, subprodutos tecnológicos de emprego civil, o índice de na-
ou satélites geoestacionários de comunicações e meteo- cionalização, o potencial exportador, a presença de matéria
rologia, no âmbito do Programa Nacional de Atividades -prima crítica dependente de importação e o potencial de
Espaciais - PNAE. embargo internacional.
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
23
ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Es- 6.As instituições de ensino das três Forças ampliarão
tratégicos da Presidência da República proporão a criação e nos seus currículos de formação militar disciplinas relativas
a regulamentação de um Serviço Civil, em todo o território a noções de Direito Constitucional e de Direitos Humanos,
nacional, a ser prestado por cidadãos que não forem de- indispensáveis para consolidar a identificação das Forças
signados para a realização do Serviço Militar Obrigatório. Armadas com o povo brasileiro.
4.O Ministério da Defesa realizará estudos sobre a cria- Mobilização
ção de quadro de especialistas civis em Defesa, em com- Realizar, integrar e coordenar as ações de planejamen-
plementação às carreiras existentes na administração civil to, preparo, execução e controle das atividades de Mobi-
e militar, de forma a constituir-se numa força de trabalho lização e Desmobilização Nacionais previstas no Sistema
capaz de atuar na gestão de políticas públicas de defesa, Nacional de Mobilização (SINAMOB).
em programas e projetos da área de defesa, bem como na 1.O Ministério da Defesa, enquanto não for aprovada
interação com órgãos governamentais e a sociedade, inte- alteração na legislação do Sistema Nacional de Mobiliza-
grando os pontos de vista político e técnico. ção, orientará e coordenará os demais ministérios, secreta-
Ensino rias e órgãos envolvidos no SINAMOB no estabelecimento
Promover maior integração e participação dos setores de programas, normas e procedimentos relativos à com-
civis governamentais na discussão dos temas ligados à de- plementação da Logística Nacional e na adequação das po-
fesa, assim como a participação efetiva da sociedade bra- líticas governamentais à política de Mobilização Nacional.
sileira, por intermédio do meio acadêmico e de institutos 2.O Ministério da Defesa, em coordenação com a Se-
e entidades ligados aos assuntos estratégicos de defesa. cretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da Re-
1.O Ministério da Defesa deverá apresentar planeja- pública, proporá modificações na Lei nº 11.631, de 27 de
mento para a transferência da Escola Superior de Guerra dezembro de 2007, no que concerne à definição do órgão
para Brasília, de modo a intensificar o intercâmbio fluido central do SINAMOB.
entre os membros do Governo Federal e aquela Instituição, Logística
assim como para otimizar a formação de recursos humanos Acelerar o processo de integração entre as três Forças,
ligados aos assuntos de defesa. especialmente nos campos da tecnologia industrial básica,
2. O Ministério da Defesa e o Ministério do Planeja- da logística e mobilização, do comando e controle e das
mento, Orçamento e Gestão proporão projeto de lei, al- operações conjuntas.
terando a Lei de Criação da Escola Superior de Guerra. O 1.O Ministério da Defesa proporá a modificação de sua
projeto de lei visará criar cargos de direção e assessoria estrutura regimental, de forma a criar órgão a si subordina-
superior destinados à constituição de um corpo permanen- do encarregado de formular e dirigir a política de compras
te que, podendo ser renovado, permita o exercício das ati- de produtos de defesa.
vidades acadêmicas, pela atração de pessoas com notória 2.O Ministério da Defesa proporá a criação de estru-
especialização ou reconhecido saber em áreas específicas. tura, a si subordinada, encarregada da coordenação dos
Isso possibilitará incrementar a capacidade institucional da processos de certificação, de metrologia, de normatização
Escola de desenvolver atividades acadêmicas e administra- e de fomento industrial.
tivas, bem como intensificar o intercâmbio entre os mem- Indústria de Material de Defesa
bros do Governo Federal, a sociedade organizada e aquela Compatibilizar os esforços governamentais de acele-
instituição. ração do crescimento com as necessidades da Defesa Na-
3.O Ministério da Defesa e a Secretaria de Assuntos Es- cional.
tratégicos da Presidência da República estimularão a reali- 1.O Ministério da Defesa, ouvidos os Ministérios da
zação de Encontros, Simpósios e Seminários destinados à Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exte-
discussão de assuntos estratégicos, aí incluída a temática rior, do Planejamento, Orçamento e Gestão e da Ciência
da Defesa Nacional. A participação da sociedade nesses e Tecnologia e a Secretaria de Assuntos Estratégicos da
eventos deve ser objeto de atenção especial. Presidência da República, deverá propor modificações na
4.O Ministério da Defesa intensificará a divulgação das legislação referente ao regime jurídico e econômico espe-
atividades de defesa, de modo a aumentar sua visibilidade cial para compras de produtos de defesa junto às empresas
junto à sociedade, e implementará ações e programas vol- nacionais, com propostas de modificação da Lei nº 8.666,
tados à promoção e disseminação de pesquisas e à forma- de junho de 1993.
ção de recursos humanos qualificados na área, a exemplo 2.O Ministério da Defesa, em articulação com os Minis-
do Programa de Apoio ao Ensino e à Pesquisa Científica e térios da Fazenda, do Desenvolvimento, Indústria e Comér-
Tecnológica em Defesa Nacional (Pró-Defesa). cio Exterior, dos Transportes, do Planejamento, Orçamento
5. O Ministério da Defesa elaborará uma Política de En- e Gestão e da Ciência e Tecnologia e com a Secretaria de
sino com as seguintes finalidades: Assuntos Estratégicos da Presidência da República, deverá
- acelerar o processo de interação do ensino militar, em propor modificações na legislação referente à tributação
particular no nível de Altos Estudos, atendendo às orienta- incidente sobre a indústria nacional de material de defesa,
ções contidas na primeira parte da presente Estratégia e por meio da criação de regime jurídico especial que viabi-
- capacitar civis e militares para a própria Administra- lize incentivos e desoneração tributária à iniciativa privada
ção Central do Ministério e para outros setores do Gover- na fabricação de produto de defesa prioritário para as For-
no, de interesse da Defesa. ças Armadas e para a exportação.
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
Disposições Finais
Os documentos complementares e decorrentes da presente Estratégia Nacional de Defesa, cujas necessidades de ela-
boração ou atualização atendem às exigências desta Estratégia, deverão ser confeccionados conforme o quadro a seguir:
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
A ESTRATÉGIA NACIONAL DE DEFESA E SEUS DOCUMENTOS DECORRENTES SERÃO COMPLEMENTADOS POR ANE-
XOS. TAIS ANEXOS FORMULARÃO PLANOS PARA DIVERSAS HIPÓTESES DE EMPREGO DAS FORÇAS ARMADAS. SERÃO
ELABORADOS, SOB A DIREÇÃO DO MINISTRO DA DEFESA, PELO ESTADO-MAIOR CONJUNTO DAS FORÇAS ARMADAS E
PELOS ESTADOS-MAIORES DAS TRÊS FORÇAS.
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ORGANIZAÇÃO BÁSICA DA MARINHA
ANOTAÇÕES
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Estatuto dos Militares – Hierarquia Militar e disciplina; Cargos e Funções militares; Valor e ética militar; Compromisso,
comando e subordinação; Violação das obrigações e deveres militares; Crimes militares; Contravenções ou transgres-
sões disciplinares...................................................................................................................................................................................................... 01
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Lei nº 6.880, de 9 dezembro de 1980 e suas posteriores alterações. Estatuto dos Militares. Títulos I e II. Brasília,
1980. Diário Oficial da União............................................................................................................................................................................... 01
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
das Forças Armadas, bem como na Presidência da Repúbli- Art. 13. A mobilização é regulada em legislação específica.
ca, na Vice-Presidência da República, no Ministério da De- Parágrafo único. A incorporação às Forças Armadas de
fesa e nos demais órgãos quando previsto em lei, ou quando deputados federais e senadores, embora militares e ainda
incorporados às Forças Armadas. (Redação dada pela Medida que em tempo de guerra, dependerá de licença da Câmara
Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) respectiva.
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Art.. 33. O compromisso do incorporado, do matricu- Art. 40. Às praças especiais cabe a rigorosa observância
lado e do nomeado, a que se refere o artigo anterior, terá das prescrições dos regulamentos que lhes são pertinentes,
caráter solene e será sempre prestado sob a forma de jura- exigindo-se-lhes inteira dedicação ao estudo e ao aprendi-
mento à Bandeira na presença de tropa ou guarnição for- zado técnico-profissional.
mada, conforme os dizeres estabelecidos nos regulamen- Parágrafo único. Às praças especiais também se asse-
tos específicos das Forças Armadas, e tão logo o militar gura a prestação do serviço militar inicial.
tenha adquirido um grau de instrução compatível com o
perfeito entendimento de seus deveres como integrante Art. 41. Cabe ao militar a responsabilidade integral pe-
das Forças Armadas. las decisões que tomar, pelas ordens que emitir e pelos
§ 1º O compromisso de Guarda-Marinha ou Aspiran- atos que praticar.
te-a-Oficial é prestado nos estabelecimentos de formação,
obedecendo o cerimonial ao fixado nos respectivos regu- CAPÍTULO III
lamentos. Da Violação das Obrigações e dos Deveres Milita-
§ 2º O compromisso como oficial, quando houver, será res
regulado em cada Força Armada.
SEÇÃO I
SEÇÃO III Conceituação
Do Comando e da Subordinação
Art. 42. A violação das obrigações ou dos deveres mi-
Art. 34. Comando é a soma de autoridade, deveres e litares constituirá crime, contravenção ou transgressão dis-
responsabilidades de que o militar é investido legalmente ciplinar, conforme dispuser a legislação ou regulamentação
quando conduz homens ou dirige uma organização mili- específicas.
tar. O comando é vinculado ao grau hierárquico e constitui § 1º A violação dos preceitos da ética militar será tão
uma prerrogativa impessoal, em cujo exercício o militar se mais grave quanto mais elevado for o grau hierárquico de
define e se caracteriza como chefe. quem a cometer.
Parágrafo único. Aplica-se à direção e à chefia de or- § 2° No concurso de crime militar e de contravenção
ganização militar, no que couber, o estabelecido para co- ou transgressão disciplinar, quando forem da mesma natu-
mando. reza, será aplicada somente a pena relativa ao crime.
Art. 35. A subordinação não afeta, de modo algum, a Art. 43. A inobservância dos deveres especificados nas
dignidade pessoal do militar e decorre, exclusivamente, da leis e regulamentos, ou a falta de exação no cumprimento
estrutura hierarquizada das Forças Armadas. dos mesmos, acarreta para o militar responsabilidade fun-
cional, pecuniária, disciplinar ou penal, consoante a legis-
Art. 36. O oficial é preparado, ao longo da carreira, para lação específica.
o exercício de funções de comando, de chefia e de direção. Parágrafo único. A apuração da responsabilidade fun-
cional, pecuniária, disciplinar ou penal poderá concluir pela
Art. 37. Os graduados auxiliam ou complementam as incompatibilidade do militar com o cargo ou pela incapaci-
atividades dos oficiais, quer no adestramento e no empre- dade para o exercício das funções militares a ele inerentes.
go de meios, quer na instrução e na administração.
Parágrafo único. No exercício das atividades mencio- Art. 44. O militar que, por sua atuação, se tornar in-
nadas neste artigo e no comando de elementos subordina- compatível com o cargo, ou demonstrar incapacidade no
dos, os suboficiais, os subtenentes e os sargentos deverão exercício de funções militares a ele inerentes, será afastado
impor-se pela lealdade, pelo exemplo e pela capacidade do cargo.
profissional e técnica, incumbindo-lhes assegurar a ob- § 1º São competentes para determinar o imediato
servância minuciosa e ininterrupta das ordens, das regras afastamento do cargo ou o impedimento do exercício da
do serviço e das normas operativas pelas praças que lhes função:
estiverem diretamente subordinadas e a manutenção da a) o Presidente da República;
coesão e do moral das mesmas praças em todas as cir- b) os titulares das respectivas pastas militares e o Che-
cunstâncias. fe do Estado-Maior das Forças Armadas; e
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i) a moradia para o militar em atividade, compreen- e) o irmão, o cunhado e o sobrinho, quando menores
dendo: ou inválidos ou interditos, sem outro arrimo;
1 - alojamento em organização militar, quando aquar- f) a irmã, a cunhada e a sobrinha, solteiras, viúvas, se-
telado ou embarcado; e paradas judicialmente ou divorciadas, desde que não rece-
2 - habitação para si e seus dependentes; em imóvel bam remuneração;
sob a responsabilidade da União, de acordo com a dispo- g) o neto, órfão, menor inválido ou interdito;
nibilidade existente. h) a pessoa que viva, no mínimo há 5 (cinco) anos,
j) (Revogada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de sob a sua exclusiva dependência econômica, comprovada
31.8.2001) mediante justificação judicial;
l) a constituição de pensão militar; i) a companheira, desde que viva em sua companhia
m) a promoção; há mais de 5 (cinco) anos, comprovada por justificação ju-
n) a transferência a pedido para a reserva remunerada; dicial; e
o) as férias, os afastamentos temporários do serviço e j) o menor que esteja sob sua guarda, sustento e res-
as licenças; ponsabilidade, mediante autorização judicial.
p) a demissão e o licenciamento voluntários; § 4º Para efeito do disposto nos §§ 2º e 3º deste ar-
q) o porte de arma quando oficial em serviço ativo tigo, não serão considerados como remuneração os ren-
ou em inatividade, salvo caso de inatividade por alienação dimentos não-provenientes de trabalho assalariado, ainda
mental ou condenação por crimes contra a segurança do que recebidos dos cofres públicos, ou a remuneração que,
Estado ou por atividades que desaconselhem aquele porte; mesmo resultante de relação de trabalho, não enseje ao
r) o porte de arma, pelas praças, com as restrições im- dependente do militar qualquer direito à assistência previ-
postas pela respectiva Força Armada; e denciária oficial.
s) outros direitos previstos em leis específicas.
§ 1º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, Art. 51. O militar que se julgar prejudicado ou ofendido
de 31.8.2001) por qualquer ato administrativo ou disciplinar de superior
§ 2° São considerados dependentes do militar: hierárquico poderá recorrer ou interpor pedido de reconsi-
I - a esposa; deração, queixa ou representação, segundo regulamenta-
II - o filho menor de 21 (vinte e um) anos ou inválido ção específica de cada Força Armada.
ou interdito; § 1º O direito de recorrer na esfera administrativa
III - a filha solteira, desde que não receba remunera- prescreverá:
ção; a) em 15 (quinze) dias corridos, a contar do recebi-
IV - o filho estudante, menor de 24 (vinte e quatro) mento da comunicação oficial, quanto a ato que decorra
anos, desde que não receba remuneração; de inclusão em quota compulsória ou de composição de
V - a mãe viúva, desde que não receba remuneração; Quadro de Acesso; e
VI - o enteado, o filho adotivo e o tutelado, nas mes- b) em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos.
mas condições dos itens II, III e IV; § 2º O pedido de reconsideração, a queixa e a repre-
VII - a viúva do militar, enquanto permanecer neste sentação não podem ser feitos coletivamente.
estado, e os demais dependentes mencionados nos itens § 3º O militar só poderá recorrer ao Judiciário após
II, III, IV, V e VI deste parágrafo, desde que vivam sob a esgotados todos os recursos administrativos e deverá par-
responsabilidade da viúva; ticipar esta iniciativa, antecipadamente, à autoridade à qual
VIII - a ex-esposa com direito à pensão alimentícia es- estiver subordinado.
tabelecida por sentença transitada em julgado, enquanto
não contrair novo matrimônio. Art. 52. Os militares são alistáveis, como eleitores, des-
§ 3º São, ainda, considerados dependentes do militar, de que oficiais, guardas-marinha ou aspirantes-a-oficial,
desde que vivam sob sua dependência econômica, sob o suboficiais ou subtenentes, sargentos ou alunos das esco-
mesmo teto, e quando expressamente declarados na orga- las militares de nível superior para formação de oficiais.
nização militar competente: Parágrafo único. Os militares alistáveis são elegíveis,
a) a filha, a enteada e a tutelada, nas condições de atendidas às seguintes condições:
viúvas, separadas judicialmente ou divorciadas, desde que a) se contar menos de 5 (cinco) anos de serviço, será,
não recebam remuneração; ao se candidatar a cargo eletivo, excluído do serviço ativo
b) a mãe solteira, a madrasta viúva, a sogra viúva ou mediante demissão ou licenciamento ex officio ; e
solteira, bem como separadas judicialmente ou divorcia- b) se em atividade, com 5 (cinco) ou mais anos de
das, desde que, em qualquer dessas situações, não rece- serviço, será, ao se candidatar a cargo eletivo, afastado,
bam remuneração; temporariamente, do serviço ativo e agregado, considera-
c) os avós e os pais, quando inválidos ou interditos, e do em licença para tratar de interesse particular; se eleito,
respectivos cônjuges, estes desde que não recebam remu- será, no ato da diplomação, transferido para a reserva re-
neração; munerada, percebendo a remuneração a que fizer jus em
d) o pai maior de 60 (sessenta) anos e seu respectivo função do seu tempo de serviço.
cônjuge, desde que ambos não recebam remuneração;
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§ 5o A passagem à disposição ou à situação de adido Parágrafo único. São prerrogativas dos militares:
ou a classificação/lotação em organização militar, de que a) uso de títulos, uniformes, distintivos, insígnias e em-
trata o § 4o deste artigo, será efetivada sem ônus para a blemas militares das Forças Armadas, correspondentes ao
União e sempre com a aquiescência das Forças Armadas posto ou graduação, Corpo, Quadro, Arma, Serviço ou Cargo;
envolvidas. (Incluído pela Lei nº 11.447, de 2007) b) honras, tratamento e sinais de respeito que lhes sejam
assegurados em leis e regulamentos;
Art. 70. As licenças poderão ser interrompidas a pedido
ou nas condições estabelecidas neste artigo. c) cumprimento de pena de prisão ou detenção somente
§ 1o A interrupção da licença especial, da licença para em organização militar da respectiva Força cujo comandante,
tratar de interesse particular e da licença para acompanhar chefe ou diretor tenha precedência hierárquica sobre o preso
cônjuge ou companheiro(a) poderá ocorrer: (Redação dada ou, na impossibilidade de cumprir esta disposição, em or-
pela Lei nº 11.447, de 2007) ganização militar de outra Força cujo comandante, chefe ou
a) em caso de mobilização e estado de guerra; diretor tenha a necessária precedência; e
b) em caso de decretação de estado de emergência ou d) julgamento em foro especial, nos crimes militares.
de estado de sítio;
c) para cumprimento de sentença que importe em res- Art. 74. Somente em caso de flagrante delito o militar
trição da liberdade individual; poderá ser preso por autoridade policial, ficando esta obri-
d) para cumprimento de punição disciplinar, conforme gada a entregá-lo imediatamente à autoridade militar mais
regulamentação de cada Força. (Redação dada pela Medida próxima, só podendo retê-lo, na delegacia ou posto policial,
Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) durante o tempo necessário à lavratura do flagrante.
e) em caso de denúncia ou de pronúncia em processo § 1º Cabe à autoridade militar competente a iniciativa
criminal ou indiciação em inquérito militar, a juízo da auto- de responsabilizar a autoridade policial que não cumprir ao
ridade que efetivou a denúncia, a pronúncia ou a indiciação. disposto neste artigo e a que maltratar ou consentir que seja
§ 2o A interrupção da licença para tratar de interesse maltratado qualquer preso militar ou não lhe der o tratamen-
particular e da licença para acompanhar cônjuge ou compa- to devido ao seu posto ou graduação.
nheiro(a) será definitiva quando o militar for reformado ou § 2º Se, durante o processo e julgamento no foro civil,
transferido, de ofício, para a reserva remunerada.(Redação houver perigo de vida para qualquer preso militar, a autori-
dada pela Lei nº 11.447, de 2007) dade militar competente, mediante requisição da autoridade
§ 3º A interrupção da licença para tratamento de saúde judiciária, mandará guardar os pretórios ou tribunais por for-
de pessoa da família, para cumprimento de pena disciplinar
ça federal.
que importe em restrição da liberdade individual, será regu-
lada em cada Força.
Art. 75. Os militares da ativa, no exercício de funções mi-
litares, são dispensados do serviço na instituição do Júri e do
SEÇÃO VI
serviço na Justiça Eleitoral.
Da Pensão Militar
SEÇÃO II
Art. 71. A pensão militar destina-se a amparar os benefi-
ciários do militar falecido ou extraviado e será paga confor- Do Uso dos Uniformes
me o disposto em legislação específica.
§ 1º Para fins de aplicação da legislação específica, será con- Art. 76. Os uniformes das Forças Armadas, com seus dis-
siderado como posto ou graduação do militar o correspondente tintivos, insígnias e emblemas, são privativos dos militares e
ao soldo sobre o qual forem calculadas as suas contribuições. simbolizam a autoridade militar, com as prerrogativas que
§ 2º Todos os militares são contribuintes obrigatórios da lhe são inerentes.
pensão militar correspondente ao seu posto ou graduação, Parágrafo único. Constituem crimes previstos na legis-
com as exceções previstas em legislação específica. lação específica o desrespeito aos uniformes, distintivos, in-
§ 3º Todo militar é obrigado a fazer sua declaração de sígnias e emblemas militares, bem como seu uso por quem a
beneficiários que, salvo prova em contrário, prevalecerá para eles não tiver direito.
a habilitação dos mesmos à pensão militar.
Art. 77. O uso dos uniformes com seus distintivos, insíg-
Art. 72. A pensão militar defere-se nas prioridades e con- nias e emblemas, bem como os modelos, descrição, compo-
dições estabelecidas em legislação específica. sição, peças acessórias e outras disposições, são os estabele-
cidos na regulamentação específica de cada Força Armada.
CAPÍTULO II § 1º É proibido ao militar o uso dos uniformes:
Das Prerrogativas a) em manifestação de caráter político-partidária;
SEÇÃO I b) em atividade não-militar no estrangeiro, salvo quan-
Constituição e Enumeração do expressamente determinado ou autorizado; e
c) na inatividade, salvo para comparecer a solenidades
Art. 73. As prerrogativas dos militares são constituídas militares, a cerimônias cívicas comemorativas de datas na-
pelas honras, dignidades e distinções devidas aos graus cionais ou a atos sociais solenes de caráter particular, des-
hierárquicos e cargos. de que autorizado.
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 2º O oficial na inatividade, quando no cargo de Mi- § 1º A agregação de militar nos casos dos itens I e II
nistro de Estado da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, é contada a partir da data da posse no novo cargo até o
poderá usar os mesmos uniformes dos militares na ativa. regresso à Força Armada a que pertence ou a transferên-
§ 3º Os militares na inatividade cuja conduta possa ser cia ex officio para a reserva.
considerada como ofensiva à dignidade da classe poderão ser § 2º A agregação de militar no caso do item III é con-
definitivamente proibidos de usar uniformes por decisão do tada a partir da data indicada no ato que tornar público o
Ministro da respectiva Força Singular. respectivo evento.
§ 3º A agregação de militar no caso do item IV é con-
Art. 78. O militar fardado tem as obrigações correspon- tada a partir da data indicada no ato que tornar pública a
dentes ao uniforme que use e aos distintivos, emblemas ou às comunicação oficial até a transferência para a reserva.
insígnias que ostente. § 4º A agregação de militar no caso do item V é con-
Art. 79. É vedado às Forças Auxiliares e a qualquer ele- tada a partir do primeiro dia após o respectivo prazo e en-
mento civil ou organizações civis usar uniformes ou ostentar quanto durar o evento.
distintivos, insígnias ou emblemas que possam ser confundi- Art. 82. O militar será agregado quando for afastado
dos com os adotados nas Forças Armadas. temporariamente do serviço ativo por motivo de:
Parágrafo único. São responsáveis pela infração das dispo- I - ter sido julgado incapaz temporariamente, após 1
sições deste artigo, além dos indivíduos que a tenham cometi- (um) ano contínuo de tratamento;
do, os comandantes das Forças Auxiliares, diretores ou chefes II - haver ultrapassado 1 (um) ano contínuo em licença
de repartições, organizações de qualquer natureza, firmas ou para tratamento de saúde própria;
empregadores, empresas, institutos ou departamentos que III - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em li-
tenham adotado ou consentido sejam usados uniformes ou cença para tratar de interesse particular ou em licença para
ostentados distintivos, insígnias ou emblemas que possam ser acompanhar cônjuge ou companheiro(a); (Redação dada
confundidos com os adotados nas Forças Armadas. pela Lei nº 11.447, de 2007)
IV - haver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos em
TÍTULO IV licença para tratar de saúde de pessoa da família;
Das Disposições Diversas V - ter sido julgado incapaz definitivamente, enquanto
tramita o processo de reforma;
CAPÍTULO I
VI - ter sido considerado oficialmente extraviado;
Das Situações Especiais
VII - ter-se esgotado o prazo que caracteriza o crime
de deserção previsto no Código Penal Militar, se oficial ou
SEÇÃO I
praça com estabilidade assegurada;
Da Agregação
VIII - como desertor, ter-se apresentado voluntaria-
mente, ou ter sido capturado, e reincluído a fim de se ver
Art. 80. Agregação é a situação na qual o militar da ati-
processar;
va deixa de ocupar vaga na escala hierárquica de seu Corpo,
Quadro, Arma ou Serviço, nela permanecendo sem número. IX - se ver processar, após ficar exclusivamente à dis-
posição da Justiça Comum;
Art. 81. O militar será agregado e considerado, para todos X - ter sido condenado à pena restritiva de liberdade
os efeitos legais, como em serviço ativo quando: superior a 6 (seis) meses, em sentença transitada em jul-
I - for nomeado para cargo, militar ou considerado de gado, enquanto durar a execução, excluído o período de
natureza militar, estabelecido em lei ou decreto, no País ou sua suspensão condicional, se concedida esta, ou até ser
no estrangeiro, não-previsto nos Quadros de Organização ou declarado indigno de pertencer às Forças Armadas ou com
Tabelas de Lotação da respectiva Força Armada, exceção feita elas incompatível;
aos membros das comissões de estudo ou de aquisição de XI - ter sido condenado à pena de suspensão do exer-
material, aos observadores de guerra e aos estagiários para cício do posto, graduação, cargo ou função prevista no Có-
aperfeiçoamento de conhecimentos militares em organiza- digo Penal Militar;
ções militares ou industriais no estrangeiro; XII - ter passado à disposição de Ministério Civil, de ór-
II - for posto à disposição exclusiva do Ministério da De- gão do Governo Federal, de Governo Estadual, de Território
fesa ou de Força Armada diversa daquela a que pertença, para ou Distrito Federal, para exercer função de natureza civil;
ocupar cargo militar ou considerado de natureza militar; (Re- XIII - ter sido nomeado para qualquer cargo público
dação dada pela Medida Provisória nº 2.215-10, de 31.8.2001) civil temporário, não-eletivo, inclusive da administração in-
III - aguardar transferência ex officio para a reserva, por direta; e
ter sido enquadrado em quaisquer dos requisitos que a mo- XIV - ter-se candidatado a cargo eletivo, desde que
tivaram; conte 5 (cinco) ou mais anos de serviço.
IV - o órgão competente para formalizar o respectivo § 1° A agregação de militar nos casos dos itens I, II, III
processo tiver conhecimento oficial do pedido de transferên- e IV é contada a partir do primeiro dia após os respectivos
cia do militar para a reserva; e prazos e enquanto durar o evento.
V - houver ultrapassado 6 (seis) meses contínuos na § 2º A agregação de militar nos casos dos itens V, VI,
situação de convocado para funcionar como Ministro do VII, VIII, IX, X e XI é contada a partir da data indicada no ato
Superior Tribunal Militar. que tornar público o respectivo evento.
11
LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 3º A agregação de militar nos casos dos itens XII e § 1º O militar cuja situação é a de excedente, salvo o
XIII é contada a partir da data de posse no novo cargo até indevidamente promovido, ocupa a mesma posição rela-
o regresso à Força Armada a que pertence ou transferên- tiva, em antiguidade, que lhe cabe na escala hierárquica e
cia ex officio para a reserva. receberá o número que lhe competir, em consequência da
§ 4º A agregação de militar no caso do item XIV é con- primeira vaga que se verificar, observado o disposto no §
tada a partir da data do registro como candidato até sua 3º do artigo 100.
diplomação ou seu regresso à Força Armada a que pertence, § 2º O militar, cuja situação é de excedente, é consi-
se não houver sido eleito. derado, para todos os efeitos, como em efetivo serviço e
concorre, respeitados os requisitos legais, em igualdade de
Art. 83. O militar agregado fica sujeito às obrigações dis- condições e sem nenhuma restrição, a qualquer cargo mili-
ciplinares concernentes às suas relações com outros milita- tar, bem como à promoção e à quota compulsória.
res e autoridades civis, salvo quando titular de cargo que lhe § 3º O militar promovido por bravura sem haver vaga
dê precedência funcional sobre outros militares mais gra- ocupará a primeira vaga aberta, observado o disposto no §
duados ou mais antigos. 3º do artigo 100, deslocando o critério de promoção a ser
seguido para a vaga seguinte.
Art. 84. O militar agregado ficará adido, para efeito de § 4º O militar promovido indevidamente só contará
alterações e remuneração, à organização militar que lhe for antiguidade e receberá o número que lhe competir na es-
designada, continuando a figurar no respectivo registro, cala hierárquica quando a vaga que deverá preencher cor-
sem número, no lugar que até então ocupava. responder ao critério pelo qual deveria ter sido promovido,
Art. 85. A agregação se faz por ato do Presidente da desde que satisfaça aos requisitos para promoção.
República ou da autoridade à qual tenha sido delegada a SEÇÃO IV
devida competência. Do Ausente e do Desertor
SEÇÃO II Art. 89. É considerado ausente o militar que, por mais
Da Reversão
de 24 (vinte e quatro) horas consecutivas:
I - deixar de comparecer à sua organização militar sem
Art. 86. Reversão é o ato pelo qual o militar agregado retor-
comunicar qualquer motivo de impedimento; e
na ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço tão logo cesse
II - ausentar-se, sem licença, da organização militar
o motivo que determinou sua agregação, voltando a ocupar o
onde serve ou local onde deve permanecer.
lugar que lhe competir na respectiva escala numérica, na primei-
Parágrafo único. Decorrido o prazo mencionado neste
ra vaga que ocorrer, observado o disposto no § 3° do artigo 100.
artigo, serão observadas as formalidades previstas em le-
Parágrafo único. Em qualquer tempo poderá ser deter-
minada a reversão do militar agregado nos casos previstos gislação específica.
nos itens IX, XII e XIII do artigo 82.
Art. 90. O militar é considerado desertor nos casos pre-
Art. 87. A reversão será efetuada mediante ato do Presi- vistos na legislação penal militar.
dente da República ou da autoridade à qual tenha sido dele-
gada a devida competência. SEÇÃO V
Do Desaparecido e do Extraviado
SEÇÃO III
Do Excedente Art. 91. É considerado desaparecido o militar na ativa
que, no desempenho de qualquer serviço, em viagem, em
Art. 88. Excedente é a situação transitória a que, auto- campanha ou em caso de calamidade pública, tiver para-
maticamente, passa o militar que: deiro ignorado por mais de 8 (oito) dias.
I - tendo cessado o motivo que determinou sua agrega- Parágrafo único. A situação de desaparecimento só
ção, reverta ao respectivo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, será considerada quando não houver indício de deserção.
estando qualquer destes com seu efetivo completo;
II - aguarda a colocação a que faz jus na escala hie- Art. 92. O militar que, na forma do artigo anterior, per-
rárquica, após haver sido transferido de Corpo ou Quadro, manecer desaparecido por mais de 30 (trinta) dias, ser ofi-
estando os mesmos com seu efetivo completo; cialmente considerado extraviado.
III - é promovido por bravura, sem haver vaga;
IV - é promovido indevidamente; SEÇÃO VI
V - sendo o mais moderno da respectiva escala hierár- Do Comissionado
quica, ultrapasse o efetivo de seu Corpo, Quadro, Arma ou
Serviço, em virtude de promoção de outro militar em ressar- Art. 93. Após a declaração de estado de guerra, os mili-
cimento de preterição; e tares em serviço ativo poderão ser comissionados, tempo-
VI - tendo cessado o motivo que determinou sua refor- rariamente, em postos ou graduações superiores aos que
ma por incapacidade definitiva, retorne ao respectivo Corpo, efetivamente possuírem.
Quadro, Arma ou Serviço, estando qualquer destes com Parágrafo único. O comissionamento de que trata este
seu efetivo completo. artigo será regulado em legislação específica.
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
plementar de Oficiais (QCO), do Quadro Auxiliar de Oficiais IV - ultrapassar o oficial 5 (cinco) anos de permanência
(QAO), do Quadro de Oficiais Médicos (QOM), do Quadro de no último posto da hierarquia de paz de seu Corpo, Quadro,
Oficiais Farmacêuticos (QOF), e do Quadro de Oficiais Den- Arma ou Serviço; para o Capitão-de-Mar-e-Guerra ou Coronel
tistas (QOD); na Aeronáutica, para os Oficiais do Quadro de esse prazo será acrescido de 4 (quatro) anos se, ao completar
Oficiais Médicos (QOMed), do Quadro de Oficiais Farmacêu- os primeiros 5 (cinco) anos no posto, já possuir o curso exigido
ticos (QOFarm), do Quadro de Oficiais Dentistas (QODent), para a promoção ao primeiro posto de oficial-general, ou nele
do Quadro de Oficiais de Infantaria da Aeronáutica (QOInf), estiver matriculado e vier a concluí-lo com aproveitamento;
dos Quadros de Oficiais Especialistas em Aviões (QOEAv), em V - for o oficial abrangido pela quota compulsória;
Comunicações (QOECom), em Armamento (QOEArm), em Fo- VI - for a praça abrangida pela quota compulsória, na
tografia (QOEFot), em Meteorologia (QOEMet), em Controle forma regulada em decreto, para cada Força Singular;
de Tráfego Aéreo (QOECTA), em Suprimento Técnico (QOE- VII - for o oficial considerado não-habilitado para o
Sup) e do Quadro de Oficiais Especialistas da Aeronáutica acesso em caráter definitivo, no momento em que vier a ser
(QOEA): (Redação dada pela Lei nº 10.416, de 27.3.2002) objeto de apreciação para ingresso em Quadro de Acesso
ou Lista de Escolha;
Postos Idades VIII - deixar o Oficial-General, o Capitão-de-Mar-e-
Guerra ou o Coronel de integrar a Lista de Escolha a ser
Capitão-de-Mar-e-Guerra e 62 anos apresentada ao Presidente da República, pelo número de
Corone vezes fixado pela Lei de Promoções de Oficiais da Ativa das
Capitão-de-Fragata e Tenente- 60 anos Forças Armadas, quando na referida Lista de Escolha te-
Corone nha entrado oficial mais moderno do seu respectivo Corpo,
Quadro, Arma ou Serviço;
Capitão-de-Corveta e Major 58 anos IX - for o Capitão-de-Mar-e-Guerra ou o Coronel, ina-
Capitão-Tenente e Capitão 56 anos bilitado para o acesso, por estar definitivamente impedido
Primeiro Tenente 56 anos de realizar o curso exigido, ultrapassado 2 (duas) vezes,
consecutivas ou não, por oficial mais moderno do respecti-
Segundo-Tenente 56 anos vo Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, que tenha sido incluí-
do em Lista de Escolha;
c) na Marinha, no Exército e na Aeronáutica, para Pra- X - na Marinha e na Aeronáutica, deixar o oficial do pe-
ças: (Redação dada pela Lei nº 7.666, de 1988) núltimo posto de Quadro, cujo último posto seja de oficial
superior, de ingressar em Quadro de Acesso por Mereci-
Graduação Idades mento pelo número de vezes fixado pela Lei de Promoções
de Oficiais da Ativa das Forças Armadas, quando nele tenha
Suboficial e Subtenente 54 anos entrado oficial mais moderno do respectivo Quadro;
Primeiro-Sargento e Taifeiro-Mor 52 anos XI - ingressar o oficial no Magistério Militar, se assim o
Segundo-Sargento e Taifeiro-de- 50 anos determinar a legislação específica;
Primeira-Classe XII - ultrapassar 2 (dois) anos, contínuos ou não, em
licença para tratar de interesse particular;
XIII - ultrapassar 2 (dois) anos contínuos em licença
Graduação Idades para tratamento de saúde de pessoa de sua família;
Terceiro-Sargento 49 anos XIV - (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996);
XV - ultrapassar 2 (dois) anos de afastamento, contí-
Cabo e Taifeiro-de-Segunda-Classe 48 anos nuos ou não, agregado em virtude de ter passado a exercer
Marinheiro, Soldado e Soldado-de- 44 anos cargo ou emprego público civil temporário, não-eletivo, in-
Primeira-Classe clusive da administração indireta; e
XVI - ser diplomado em cargo eletivo, na forma da
II - completar o Oficial-General 4 (quatro) anos no úl- letra b , do parágrafo único, do artigo 52.
timo posto da hierarquia, em tempo de paz, prevista para § 1º A transferência para a reserva processar-se-á
cada Corpo ou Quadro da respectiva Força. (Redação dada quando o militar for enquadrado em um dos itens deste
pela Lei nº 7.659, de 1988) artigo, salvo quanto ao item V, caso em que será processa-
III - completar os seguintes tempos de serviço como da na primeira quinzena de março.
Oficial-General: § 2° (Revogado pela Lei nº 9.297, de 1996)
a) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto § 3° A nomeação ou admissão do militar para os car-
de Almirante-de-Esquadra, General-de-Exército e Tenente gos ou empregos públicos de que trata o inciso XV deste
-Brigadeiro, 12 (doze) anos; artigo somente poderá ser feita se: (Redação dada pela Lei
b) nos Corpos ou Quadros que possuírem até o posto nº 9.297, de 1996)
de Vice-Almirante, General-de-Divisão e Major-Brigadeiro, a) oficial, pelo Presidente da República ou mediante
8 (oito) anos; e sua autorização quando a nomeação ou admissão for da
c) nos Corpos ou Quadros que possuírem apenas o alçada de qualquer outra autoridade federal, estadual ou
posto de Contra-Almirante, General-de-Brigada e Brigadei- municipal; e
ro, 4 (quatro) anos; b) praça, mediante autorização do respectivo Ministro.
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§ 4º Enquanto o militar permanecer no cargo ou em- a) contarem, no mínimo, como tempo de efetivo ser-
prego de que trata o item XV: viço:
a) é-lhe assegurada a opção entre a remuneração do 1 - 30 (trinta) anos, se Oficial-General;
cargo ou emprego e a do posto ou da graduação; 2 - 28 (vinte e oito) anos, se Capitão-de-Mar-e-Guerra
b) somente poderá ser promovido por antiguidade; e ou Coronel;
c) o tempo de serviço é contado apenas para aquela 3 - 25 (vinte e cinco) anos, se Capitão-de-Fragata ou
promoção e para a transferência para a inatividade. Tenente-Coronel; e
§ 5º Entende-se como Lista de Escolha aquela que 4 - 20 (vinte) anos, de Capitão-de-Corveta ou Major.
como tal for definida na lei que dispõe sobre as promoções b) possuírem interstício para promoção, quando for
dos oficiais da ativa das Forças Armadas. o caso;
c) estiverem compreendidos nos limites quantitativos
Art. 99. A quota compulsória, a que se refere o item V de antiguidade que definem a faixa dos que concorrem à
do artigo anterior, é destinada a assegurar a renovação, constituição dos Quadros de Acesso por Antiguidade, Me-
o equilíbrio, a regularidade de acesso e a adequação dos recimento ou Escolha;
efetivos de cada Força Singular. d) ainda que não concorrendo à constituição dos Qua-
dros de Acesso por Escolha, estiverem compreendidos nos
Art. 100. Para assegurar o número fixado de vagas à limites quantitativos de antiguidade estabelecidos para a
promoção na forma estabelecida no artigo 61, quando este organização dos referidos Quadros; e
número não tenha sido alcançado com as vagas ocorridas e) satisfizerem as condições das letras a , b , c e d, na
durante o ano considerado ano-base, aplicar-se-á a quota seguinte ordem de prioridade:
compulsória a que se refere o artigo anterior. 1ª) não possuírem as condições regulamentares para
§ 1º A quota compulsória é calculada deduzindo-se a promoção, ressalvada a incapacidade física até 6 (seis)
das vagas fixadas para o ano-base para um determinado meses contínuos ou 12 (doze) meses descontínuos; dentre
posto: eles os de menor merecimento a ser apreciado pelo órgão
a) as vagas fixadas para o posto imediatamente supe- competente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica; em
rior no referido ano-base; e igualdade de merecimento, os de mais idade e, em caso de
b) as vagas havidas durante o ano-base e abertas a mesma idade, os mais modernos;
partir de 1º (primeiro) de janeiro até 31 (trinta e um) de 2ª) deixarem de integrar os Quadros de Acesso por
dezembro, inclusive. Merecimento ou Lista de Escolha, pelo maior número de
§ 2º Não estarão enquadradas na letra b do parágrafo vezes no posto, quando neles tenha entrado oficial mais
anterior as vagas que: moderno; em igualdade de condições, os de menor mere-
a) resultarem da fixação de quota compulsória para o cimento a ser apreciado pelo órgão competente da Mari-
ano anterior ao base; e nha, do Exército e da Aeronáutica; em igualdade de mere-
b) abertas durante o ano-base, tiverem sido preenchi- cimento, os de mais idade e, em caso de mesma idade, os
das por oficiais excedentes nos Corpos, Quadros, Armas ou mais modernos; e
Serviços ou que a eles houverem revertido em virtude de 3ª) forem os de mais idade e, no caso da mesma idade,
terem cessado as causas que deram motivo à agregação, os mais modernos.
observado o disposto no § 3º deste artigo. § 1º Aos oficiais excedentes, aos agregados e aos não
§ 3º As vagas decorrentes da aplicação direta da quota -numerados em virtude de lei especial aplicam-se as dis-
compulsória e as resultantes das promoções efetivadas nos posições deste artigo e os que forem relacionados para a
diversos postos, em face daquela aplicação inicial, não se- compulsória serão transferidos para a reserva juntamente
rão preenchidas por oficiais excedentes ou agregados que com os demais componentes da quota, não sendo compu-
reverterem em virtude de haverem cessado as causas da tados, entretanto, no total das vagas fixadas.
agregação. § 2º Nos Corpos, Quadros, Armas ou Serviços, nos
§ 4º As quotas compulsórias só serão aplicadas quan- quais não haja posto de Oficial-General, só poderão ser
do houver, no posto imediatamente abaixo, oficiais que sa- atingidos pela quota compulsória os oficiais do último pos-
tisfaçam às condições de acesso. to da hierarquia que tiverem, no mínimo, 28 (vinte e oito)
anos de tempo de efetivo serviço e os oficiais dos penúl-
Art.. 101. A indicação dos oficiais para integrarem a timo e antepenúltimo postos que tiverem, no mínimo, 25
quota compulsória obedecerá às seguintes prescrições: (vinte e cinco) anos de tempo de efetivo serviço.
I - inicialmente serão apreciados os requerimentos § 3º Computar-se-á, para os fins de aplicação da quota
apresentados pelos oficiais da ativa que, contando mais de compulsória, no caso previsto no item II, letra a , número 1,
20 (vinte) anos de tempo de efetivo serviço, requererem como de efetivo serviço, o acréscimo a que se refere o item
sua inclusão na quota compulsória, dando-se atendimento, II do artigo 137.
por prioridade em cada posto, aos mais idosos; e
II - se o número de oficiais voluntários na forma do Art. 102. O órgão competente da Marinha, do Exército
item I não atingir o total de vagas da quota fixada em cada e da Aeronáutica organizará, até o dia 31 (trinta e um) de
posto, esse total será completado, ex officio , pelos oficiais janeiro de cada ano, a lista dos oficiais destinados a inte-
que: grarem a quota compulsória, na forma do artigo anterior.
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 1º Os oficiais indicados para integrarem a quota II - for julgado incapaz, definitivamente, para o serviço
compulsória anual serão notificados imediatamente e te- ativo das Forças Armadas;
rão, para apresentar recursos contra essa medida, o prazo III - estiver agregado por mais de 2 (dois) anos por ter
previsto na letra a , do § 1º, do artigo 51. sido julgado incapaz, temporariamente, mediante homo-
§ 2º Não serão relacionados para integrarem a quota logação de Junta Superior de Saúde, ainda que se trate de
compulsória os oficiais que estiverem agregados por terem moléstia curável;
sido declarados extraviados ou desertores. IV - for condenado à pena de reforma prevista no
Código Penal Militar, por sentença transitada em julgado;
Art. 103. Para assegurar a adequação dos efetivos à ne- V - sendo oficial, a tiver determinada em julgado do
cessidade de cada Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, o Po- Superior Tribunal Militar, efetuado em consequência de
der Executivo poderá aplicar também a quota compulsória Conselho de Justificação a que foi submetido; e
aos Capitães-de-Mar-e-Guerra e Coronéis não-numerados, VI - sendo Guarda-Marinha, Aspirante-a-Oficial ou
por não possuírem o curso exigido para ascender ao pri- praça com estabilidade assegurada, for para tal indicado,
meiro posto de Oficial-General. ao Ministro respectivo, em julgamento de Conselho de
§ 1º Para aplicação da quota compulsória na forma
Disciplina.
deste artigo, o Poder Executivo fixará percentual calculado
Parágrafo único. O militar reformado na forma do
sobre os efetivos de oficiais não-remunerados existentes
item V ou VI só poderá readquirir a situação militar an-
em cada Corpo, Quadro, Arma ou Serviço, em 31 de de-
terior:
zembro de cada ano.
§ 2º A indicação de oficiais não-numerados para inte- a) no caso do item V, por outra sentença do Superior
grarem a quota compulsória, os quais deverão ter, no míni- Tribunal Militar e nas condições nela estabelecidas; e
mo, 28 (vinte e oito) anos de efetivo serviço, obedecerá às b) no caso do item VI, por decisão do Ministro res-
seguintes prioridades: pectivo.
1ª) os que requererem sua inclusão na quota compul- Art. 107. Anualmente, no mês de fevereiro, o órgão
sória; competente da Marinha, do Exército e da Aeronáutica
2ª) os de menor merecimento a ser apreciado pelo organizará a relação dos militares, inclusive membros do
órgão competente da Marinha, do Exército e da Aeronáuti- Magistério Militar, que houverem atingido a idade-limite
ca; em igualdade de merecimento, os de mais idade e, em de permanência na reserva, a fim de serem reformados.
caso de mesma idade, os mais modernos; e Parágrafo único. A situação de inatividade do militar
3ª) forem os de mais idade e, no caso de mesma idade, da reserva remunerada, quando reformado por limite de
os mais modernos. idade, não sofre solução de continuidade, exceto quanto
§ 3º Observar-se-ão na aplicação da quota compulsó- às condições de mobilização.
ria, referida no parágrafo anterior, as disposições estabele-
cidas no artigo 102. Art. 108. A incapacidade definitiva pode sobrevir em
consequência de:
SEÇÃO III I - ferimento recebido em campanha ou na manuten-
Da Reforma ção da ordem pública;
II - enfermidade contraída em campanha ou na ma-
Art. 104. A passagem do militar à situação de inativida- nutenção da ordem pública, ou enfermidade cuja causa
de, mediante reforma, se efetua: eficiente decorra de uma dessas situações;
I - a pedido; e III - acidente em serviço;
II - ex officio . IV - doença, moléstia ou enfermidade adquirida em
tempo de paz, com relação de causa e efeito a condições
Art.. 105. A reforma a pedido, exclusivamente aplicada
inerentes ao serviço;
aos membros do Magistério Militar; se o dispuser a legis-
V - tuberculose ativa, alienação mental, esclerose
lação específica da respectiva Força, somente poderá ser
múltipla, neoplasia maligna, cegueira, lepra, paralisia irre-
concedida àquele que contar mais de 30 (trinta) anos de
serviço, dos quais 10 (dez), no mínimo, de tempo de Ma- versível e incapacitante, cardiopatia grave, mal de Parkin-
gistério Militar. son, pênfigo, espondiloartrose anquilosante, nefropatia
grave e outras moléstias que a lei indicar com base nas
Art.. 106. A reforma ex officio será aplicada ao militar conclusões da medicina especializada; e (Redação dada
que: pela Lei nº 12.670, de 2012)
I - atingir as seguintes idades-limite de permanência VI - acidente ou doença, moléstia ou enfermidade,
na reserva: sem relação de causa e efeito com o serviço.
a) para Oficial-General, 68 (sessenta e oito) anos; § 1º Os casos de que tratam os itens I, II, III e IV se-
b) para Oficial Superior, inclusive membros do Magis- rão provados por atestado de origem, inquérito sanitário
tério Militar, 64 (sessenta e quatro) anos; de origem ou ficha de evacuação, sendo os termos do
c) para Capitão-Tenente, Capitão e oficial subalterno, acidente, baixa ao hospital, papeleta de tratamento nas
60 (sessenta) anos; e enfermarias e hospitais, e os registros de baixa utilizados
d) para Praças, 56 (cinquenta e seis) anos. como meios subsidiários para esclarecer a situação.
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
§ 2º Os militares julgados incapazes por um dos mo- § 2º A transferência para a reserva remunerada, obser-
tivos constantes do item V deste artigo somente poderão vado o limite de idade para a permanência nessa reserva,
ser reformados após a homologação, por Junta Superior de ocorrerá se o tempo transcorrido na situação de reformado
Saúde, da inspeção de saúde que concluiu pela incapaci- ultrapassar 2 (dois) anos.
dade definitiva, obedecida à regulamentação específica de
cada Força Singular. Art.. 113. A interdição judicial do militar reformado por
alienação mental deverá ser providenciada junto ao Minis-
Art. 109. O militar da ativa julgado incapaz definitiva- tério Público, por iniciativa de beneficiários, parentes ou
mente por um dos motivos constantes dos itens I, II, III, IV responsáveis, até 60 (sessenta) dias a contar da data do ato
e V do artigo anterior será reformado com qualquer tempo da reforma.
de serviço. § 1º A interdição judicial do militar e seu internamen-
to em instituição apropriada, militar ou não, deverão ser
Art. 110. O militar da ativa ou da reserva remunerada, providenciados pelo Ministério Militar, sob cuja respon-
julgado incapaz definitivamente por um dos motivos cons- sabilidade houver sido preparado o processo de reforma,
tantes dos incisos I e II do art. 108, será reformado com a quando:
remuneração calculada com base no soldo correspondente a) não existirem beneficiários, parentes ou responsá-
ao grau hierárquico imediato ao que possuir ou que pos- veis, ou estes não promoverem a interdição conforme pre-
suía na ativa, respectivamente. (Redação dada pela Lei nº visto no parágrafo anterior; ou
7.580, de 1986) b) não forem satisfeitas às condições de tratamento
§ 1º Aplica-se o disposto neste artigo aos casos previs- exigidas neste artigo.
tos nos itens III, IV e V do artigo 108, quando, verificada a § 2º Os processos e os atos de registro de interdi-
incapacidade definitiva, for o militar considerado inválido, ção do militar terão andamento sumário, serão instruídos
isto é, impossibilitado total e permanentemente para qual- com laudo proferido por Junta Militar de Saúde e isentos
quer trabalho. de custas.
§ 2º Considera-se, para efeito deste artigo, grau hie- § 3º O militar reformado por alienação mental, en-
rárquico imediato: quanto não ocorrer a designação judicial do curador, terá
a) o de Primeiro-Tenente, para Guarda-Marinha, Aspi- sua remuneração paga aos seus beneficiários, desde que
rante-a-Oficial e Suboficial ou Subtenente; estes o tenham sob sua guarda e responsabilidade e lhe
b) o de Segundo-Tenente, para Primeiro-Sargento, Se- dispensem tratamento humano e condigno.
gundo-Sargento e Terceiro-Sargento; e
c) o de Terceiro-Sargento, para Cabo e demais praças
constantes do Quadro a que se refere o artigo 16. Art. 114. Para fins de passagem à situação de inativida-
§ 3º Aos benefícios previstos neste artigo e seus pará- de, mediante reforma ex officio , as praças especiais, cons-
grafos poderão ser acrescidos outros relativos à remunera- tantes do Quadro a que se refere o artigo 16, são conside-
ção, estabelecidos em leis especiais, desde que o militar, ao radas como:
ser reformado, já satisfaça às condições por elas exigidas. I - Segundo-Tenente: os Guardas-Marinha, Aspirantes
§ 4º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, -a-Oficial;
de 31.8.2001) II - Guarda-Marinha ou Aspirante-a-Oficial: os Aspi-
§ 5º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, rantes, os Cadetes, os alunos da Escola de Oficiais Especia-
de 31.8.2001) listas da Aeronáutica, conforme o caso específico;
III - Segundo-Sargento: os alunos do Colégio Naval,
Art. 111. O militar da ativa julgado incapaz definitiva- da Escola Preparatória de Cadetes do Exército e da Escola
mente por um dos motivos constantes do item VI do artigo Preparatória de Cadetes-do-Ar;
108 será reformado: IV - Terceiro-Sargento: os alunos de órgão de forma-
I - com remuneração proporcional ao tempo de servi- ção de oficiais da reserva e de escola ou centro de forma-
ço, se oficial ou praça com estabilidade assegurada; e ção de sargentos; e
II - com remuneração calculada com base no soldo V - Cabos: os Aprendizes-Marinheiros e os demais alu-
integral do posto ou graduação, desde que, com qualquer nos de órgãos de formação de praças, da ativa e da reserva.
tempo de serviço, seja considerado inválido, isto é, impos- Parágrafo único. O disposto nos itens II, III e IV é apli-
sibilitado total e permanentemente para qualquer trabalho. cável às praças especiais em qualquer ano escolar.
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LEGISLAÇÃO MILITAR-NAVAL
Art.. 116 A demissão a pedido será concedida median- Art. 120. Ficará sujeito à declaração de indignidade
te requerimento do interessado: para o oficialato, ou de incompatibilidade com o mesmo,
I - sem indenização aos cofres públicos, quando contar o oficial que:
mais de 5 (cinco) anos de oficialato, ressalvado o disposto I - for condenado, por tribunal civil ou militar, em sen-
no § 1º deste artigo; e tença transitada em julgado, à pena restritiva de liberdade
II - com indenização das despesas feitas pela União, individual superior a 2 (dois) anos;
com a sua preparação e formação, quando contar menos II - for condenado, em sentença transitada em julgado,
de 5 (cinco) anos de oficialato. por crimes para os quais o Código Penal Militar comina
§ 1º A demissão a pedido só será concedida median- essas penas acessórias e por crimes previstos na legislação
te a indenização de todas as despesas correspondentes, especial concernente à segurança do Estado;
acrescidas, se for o caso, das previstas no item II, quando o III - incidir nos casos, previstos em lei específica, que
oficial tiver realizado qualquer curso ou estágio, no País ou motivam o julgamento por Conselho de Justificação e nes-
no exterior, e não tenham decorrido os seguintes prazos: te for considerado culpado; e
a) 2 (dois) anos, para curso ou estágio de duração IV - houver perdido a nacionalidade brasileira.
igual ou superior a 2 (dois) meses e inferior a 6 (seis) meses;
b) 3 (três) anos, para curso ou estágio de duração igual SEÇÃO VI
ou superior a 6 (seis) meses e igual ou inferior a 18 (dezoi- Do Licenciamento
to) meses;
c) 5 (cinco) anos, para curso ou estágio de duração Art. 121. O licenciamento do serviço ativo se efetua:
superior a 18 (dezoito) meses. I - a pedido; e
§ 2º O cálculo das indenizações a que se referem o II - ex officio .
item II e o parágrafo anterior será efetuado pelos respecti- § 1º O licenciamento a pedido poderá ser concedido,
vos Ministérios. desde que não haja prejuízo para o serviço:
§ 3º O oficial demissionário, a pedido, ingressará na a) ao oficial da reserva convocado, após prestação do
reserva, onde permanecerá sem direito a qualquer remu- serviço ativo durante 6 (seis) meses; e
neração. O ingresso na reserva será no mesmo posto que b) à praça engajada ou reengajada, desde que conte,
tinha no serviço ativo e sua situação, inclusive promoções,
no mínimo, a metade do tempo de serviço a que se obri-
será regulada pelo Regulamento do Corpo de Oficiais da
gou.
Reserva da respectiva Força.
§ 2º A praça com estabilidade assegurada, quando li-
§ 4º O direito à demissão a pedido pode ser suspenso
cenciada para fins de matrícula em Estabelecimento de En-
na vigência de estado de guerra, estado de emergência,
sino de Formação ou Preparatório de outra Força Singular
estado de sítio ou em caso de mobilização.
ou Auxiliar, caso não conclua o curso onde foi matriculada,
poderá ser reincluída na Força de origem, mediante reque-
Art. 117. O oficial da ativa que passar a exercer cargo
ou emprego público permanente, estranho à sua carreira, rimento ao respectivo Ministro.
será imediatamente demitido ex officio e transferido para § 3º O licenciamento ex officio será feito na forma da
a reserva não remunerada, onde ingressará com o posto legislação que trata do serviço militar e dos regulamentos
que possuía na ativa e com as obrigações estabelecidas na específicos de cada Força Armada:
legislação do serviço militar, obedecidos os preceitos do a) por conclusão de tempo de serviço ou de estágio;
art. 116 no que se refere às indenizações. (Redação dada b) por conveniência do serviço; e
pela Lei nº 9.297, de 1996) c) a bem da disciplina.
§ 4º O militar licenciado não tem direito a qualquer
SEÇÃO V remuneração e, exceto o licenciado ex officio a bem da dis-
Da Perda do Posto e da Patente ciplina, deve ser incluído ou reincluído na reserva.
§ 5° O licenciado ex officio a bem da disciplina rece-
Art. 118. O oficial perderá o posto e a patente se for berá o certificado de isenção do serviço militar, previsto na
declarado indigno do oficialato, ou com ele incompatível, legislação que trata do serviço militar.
por decisão do Superior Tribunal Militar, em tempo de paz,
ou de Tribunal Especial, em tempo de guerra, em decorrên- Art. 122. O Guarda-Marinha, o Aspirante-a-Oficial e as
cia de julgamento a que for submetido. demais praças empossados em cargos ou emprego público
Parágrafo único. O oficial declarado indigno do ofi- permanente, estranho à sua carreira, serão imediatamen-
cialato, ou com ele incompatível, e condenado à perda de te, mediante licenciamento ex officio, transferidos para a
posto e patente só poderá readquirir a situação militar an- reserva não remunerada, com as obrigações estabelecidas
terior por outra sentença dos tribunais referidos neste arti- na legislação do serviço militar. (Redação dada pela Lei nº
go e nas condições nela estabelecidas. 9.297, de 1996)
Art. 119. O oficial que houver perdido o posto e a pa- Art. 123. O licenciamento poderá ser suspenso na vi-
tente será demitido ex officio sem direito a qualquer remu- gência de estado de guerra, estado de emergência, estado
neração ou indenização e receberá a certidão de situação de sítio ou em caso de mobilização.
militar prevista na legislação que trata do serviço militar.
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Parágrafo único. Nos casos em que a condenação do § 3º Não serão deduzidos do tempo de efetivo servi-
militar acarretar sua exclusão a bem da disciplina, a reabili- ço, além dos afastamentos previstos no artigo 65, os perío-
tação prevista na legislação que trata do serviço militar po- dos em que o militar estiver afastado do exercício de suas
derá anteceder a efetuada de acordo com o Código Penal funções em gozo de licença especial.
Militar e o Código de Processo Penal Militar. § 4º Ao tempo de efetivo serviço, de que trata este
artigo, apurado e totalizado em dias, será aplicado o divisor
Art. 133. A concessão da reabilitação implica em que 365 (trezentos e sessenta e cinco) para a correspondente
sejam cancelados, mediante averbação, os antecedentes obtenção dos anos de efetivo serviço.
criminais do militar e os registros constantes de seus as-
sentamentos militares ou alterações, ou substituídos seus Art. 137. Anos de serviço é a expressão que designa o
documentos comprobatórios de situação militar pelos tempo de efetivo serviço a que se refere o artigo anterior,
adequados à nova situação. com os seguintes acréscimos:
I - tempo de serviço público federal, estadual ou mu-
CAPÍTULO IV nicipal, prestado pelo militar anteriormente à sua incor-
Do Tempo de Serviço poração, matrícula, nomeação ou reinclusão em qualquer
organização militar;
II - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
Art. 134. Os militares começam a contar tempo de ser-
31.8.2001)
viço nas Forças Armadas a partir da data de seu ingresso
III - tempo de serviço computável durante o período
em qualquer organização militar da Marinha, do Exército
matriculado como aluno de órgão de formação da reserva;
ou da Aeronáutica. IV - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
§ 1º Considera-se como data de ingresso, para fins 31.8.2001)
deste artigo: V - (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10, de
a) a do ato em que o convocado ou voluntário é in- 31.8.2001)
corporado em uma organização militar; VI - 1/3 (um terço) para cada período consecutivo ou
b) a de matrícula como praça especial; e não de 2 (dois) anos de efetivo serviço passados pelo mi-
c) a do ato de nomeação. litar nas guarnições especiais da Categoria “A”, a partir da
§ 2º O tempo de serviço como aluno de órgão de vigência da Lei nº 5.774, de 23 de dezembro de 1971. (Re-
formação da reserva é computado, apenas, para fins de dação dada pela Lei nº 7.698, de 1988)
inatividade na base de 1 (um) dia para cada período de 8 § 1º Os acréscimos a que se referem os itens I, III e VI
(oito) horas de instrução, desde que concluída com apro- serão computados somente no momento da passagem do
veitamento a formação militar. militar à situação de inatividade e para esse fim.
§ 3º O militar reincluído recomeça a contar tempo de § 2º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10,
serviço a partir da data de sua reinclusão. de 31.8.2001)
§ 4º Quando, por motivo de força maior, oficialmente § 3º (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-10,
reconhecida, decorrente de incêndio, inundação, naufrá- de 31.8.2001)
gio, sinistro aéreo e outras calamidades, faltarem dados § 4º Não é computável para efeito algum, salvo para
para contagem de tempo de serviço, caberá aos Ministros fins de indicação para a quota compulsória, o tempo:
Militares arbitrar o tempo a ser computado para cada caso a) que ultrapassar de 1 (um) ano, contínuo ou não, em
particular, de acordo com os elementos disponíveis. licença para tratamento de saúde de pessoa da família;
b) passado em licença para tratar de interesse particu-
Art. 135. Na apuração do tempo de serviço militar, será lar ou para acompanhar cônjuge ou companheiro(a); (Re-
feita distinção entre: dação dada pela Lei nº 11.447, de 2007)
I - tempo de efetivo serviço; e c) passado como desertor;
d) decorrido em cumprimento de pena de suspensão
II - anos de serviço.
do exercício do posto, graduação, cargo ou função por
sentença transitada em julgado; e
Art. 136. Tempo de efetivo serviço é o espaço de tem-
e) decorrido em cumprimento de pena restritiva da
po computado dia a dia entre a data de ingresso e a da-
liberdade, por sentença transitada em julgado, desde que
ta-limite estabelecida para a contagem ou a data do des- não tenha sido concedida suspensão condicional de pena,
ligamento em consequência da exclusão do serviço ativo, quando, então, o tempo correspondente ao período da
mesmo que tal espaço de tempo seja parcelado. pena será computado apenas para fins de indicação para
§ 1º O tempo de serviço em campanha é computado a quota compulsória e o que dele exceder, para todos os
pelo dobro como tempo de efetivo serviço, para todos os efeitos, caso as condições estipuladas na sentença não o
efeitos, exceto indicação para a quota compulsória. impeçam.
§ 2º Será, também, computado como tempo de efe-
tivo serviço o tempo passado dia a dia nas organizações
militares, pelo militar da reserva convocado ou mobiliza- Art. 138. (Revogado pela Medida Provisória nº 2.215-
do, no exercício de funções militares. 10, de 31.8.2001)
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TRADIÇÕES NAVAIS
Bibliografia Sugerida
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TRADIÇÕES NAVAIS
“Aportar” é chegar a um porto. “Aterrar” é aproximar- A armação (ou armamento) corresponde à expressão
se de terra. “Amarar” é afastar-se de terra para o mar. “Fa- armar um navio, provê-lo do necessário à sua utilização; e
zer-se ao mar” é seguir para o mar, em viagem. “Importar” quem o faz é o armador. Em tempos idos, armar tinha a ver
é fazer entrar pelo porto; “exportar” é fazer sair pelo por- com a armação dos mastros e vergas, com suas vestiduras,
to. O conceito aplica-se geralmente à mercadoria. Encostar ou seja, os cabos fixos de sustentação e os cabos de labo-
um navio a um cais é “atracar”; tê-lo seguro a uma bóia é rar dos mastros, das vergas e do velame (velas). Podia-se
“amarrar, tomar a bóia”; prender o navio ao fundo é “fun- armar um navio em galera, em barca, em brigue... A inspe-
dear”; e fazê-lo com uma âncora é “ancorar” (embora este ção era rigorosa, garantindo, assim, o uso, com segurança,
não seja um termo de uso comum na Marinha do Brasil, da mastreação.
em razão de, tradicionalmente, se chamar a âncora de “fer- Um dos mais conhecidos armadores do mundo foi
ro” - o navio fundeia com o ferro!). Recolher o peso ou a o provedor de navios, proprietário e mesmo navegador
amarra do fundo é “suspender”; desencostar do cais onde Américo Vespucci. Tão importante é a armação de navios e
esteve atracado é “desatracar”; e largar a bóia onde esteve
o comércio marítimo das nações, que a influência de Amé-
é “desamarrar ou largar”.
rico Vespucci foi maior que a do próprio descobridor do
“Arribar” é entrar em um porto que não seja de escala,
novo continente e que passou a ser conhecido como Amé-
ou voltar ao ponto de partida; é, também, desviar o rumo
rica, em vez de Colúmbia, como seria de maior justiça ao
na direção para onde sopra o vento. A palavra vem do la-
navegador Cristovão Colombo. Assim, Américo, como ar-
tim “ad” (para) e “ripa” (margem, costa).
mador, teve maior influência para denominar o continente,
O Navio com o qual se estabelecera o novo comércio marítimo, do
O navio tem sua vida marcada por fases. O primeiro que Colombo.
evento dessa vida é o “batimento da quilha”, uma ceri- Terminada a vida de um navio, ele é desincorporado
mônia no estaleiro, na qual a primeira peça estrutural que por “baixa”, da esquadra, da força naval, da companhia de
integrará o navio é posicionada no local da construção. navegação a que pertencia, ou do serviço que prestava. Há,
“Estaleiro” é o estabelecimento industrial onde são cons- então, uma cerimônia de “desincorporação”, com “mostra
truídos os navios. Como os navios antigos eram feitos de de desarmamento”. Diz-se que o navio foi “desarmado”. As
madeira, o local de construção ficava cheio de estilhas, las- companhias de navegação conservam os livros, registros
cas de madeira, estilhaços ou, em castelhano, astillas. Os históricos de seus navios. Na Marinha do Brasil (MB), os
espanhóis, então, denominaram os estabelecimentos de livros são arquivados na Diretoria de Patrimônio Histórico
astileros, que, em português derivou para estaleiros. e Documentação da Marinha (DPHDM) e servem de fonte
Quando o navio está com o casco pronto, na carreira de informações a historiadores e outros fins.
do estaleiro, ele é “lançado ao mar” em cerimônia chama-
da lançamento. Nesta ocasião é batizado por sua “madri- Características do Navio
nha” e recebe o nome oficial. O lançamento antigamente Quem entrar a bordo verá que o navio, além do nome,
era feito de proa; mas os portugueses introduziram o hábi- tem uma série de documentos e dimensões que o caracte-
to de lançá-lo de popa, existindo também carreiras onde o rizam. O nome é gravado usualmente na proa, em ambos
lançamento é feito de lado, de través; e hoje, devido ao gi- os bordos, local chamado de “bochecha”, e na popa. Nos
gantismo dos navios, muitos deles são construídos dentro navios de guerra, usualmente, é gravado só na popa. Os
de diques, que se abrem no momento de fazê-los flutuar. navios mercantes levam, também, na popa, sob o nome, a
Os navios de guerra, geralmente, são construídos em denominação do porto de registro. Os documentos carac-
Arsenais. “Arsenal” é uma palavra de origem árabe. Vem da terísticos do navio mercante são, entre outros, seu registro
expressão ars sina e significa o local onde são guardados
(Provisão do Registro fornecida pelo Tribunal Marítimo);
petrechos de guerra ou onde os navios atracam para rece-
apólice de seguro obrigatório; diário de navegação; cer-
bê-los. A expressão ars sina deu origem ao termo arsenal,
tificado de arqueação; cartão de tripulação de segurança;
em português, e ao termo darsena que, em espanhol, quer
termos de vistoria (anual e de renovação ou certificado
dizer doca. Construído e pronto, o navio é, então, incorpo-
de segurança da navegação); certificado de segurança
rado a uma esquadra, força naval, companhia de navega-
ção ou a quem vá ser responsável pelo seu funcionamento. de equipamento; certificado de borda livre; certificado de
A cerimônia correspondente é a “incorporação”, da qual compensação de agulhas e curva de desvio; certificado de
faz parte a “mostra de armamento”. Armamento nada tem calibração de radiogoniômetro com tabela de correção;
a ver com armas e sim com armação. Essa mostra, feita pe- certificado de segurança rádio; e certificado de segurança
los construtores e recebedores, consiste em uma inspeção de construção.
do navio para ver se está tudo em ordem, de acordo com A cor é muito importante. Antigamente, os navios
a encomenda. Na ocasião, é lavrado um termo, onde se faz eram pintados na cor preta. O costume vinha dos fenícios,
constar a entrega, a incorporação e tudo o que há a bordo. que tinham facilidade em conseguir betume, e com ele
A vida do navio passa, então, a ser registrada em um livro: pintavam os costados de seus navios. A pintura era usa-
o “Livro do Navio”, que somente será fechado quando ele da, às vezes, com faixas brancas, nas linhas de bordada
for desincorporado. dos canhões. Somente no fim do século XIX, os navios de
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TRADIÇÕES NAVAIS
guerra abandonaram o preto pelo cinza ou azul acinzen- Posições Relativas a Bordo
tado, cores que procuravam confundir-se com o horizonte A popa é uma parte do navio mais respeitada que as
ou com o mar das zonas em que navegavam. Entretanto, demais. Nos navios de guerra, todos que entram a bor-
muitos navios mercantes continuam até os dias de hoje do pela primeira vez no dia, ou que se retiram de bordo,
a usar, no costado, a cor preta, principalmente por ques- cumprimentam a Bandeira Nacional na popa, com o navio
tão de economia. Era comum, também, navios de guerra no porto. Ela está lá por ser a popa o lugar de honra do
pintados por dentro, junto à borda, com a cor vermelha, a navio, onde, já nos tempos dos gregos e romanos, era co-
fim de que não causasse muita impressão a quantidade de locado o santuário do navio, com uma imagem ou Puppis,
sangue derramada durante o combate, confundida, assim, de uma divindade. O termo popa é derivado de PUPPIS.
com as anteparas. Os lados do navio são os “bordos” e o de boreste é
Normalmente, as cores da chaminé, nos navios mer- mais importante que o de bombordo. Nele, desde tempos
cantes, possuem a caracterização da companhia de na- imemoriais, era feito o governo do navio por uma estaca
vegação a que pertencem. Nas embarcações salva-vidas de madeira em forma de remo, chamada pelos navegan-
e nas bóias salva-vidas, predomina a preocupação com a tes gregos de Staurus.
visibilidade. Essas embarcações são pintadas, normalmen- Os antigos navegantes noruegueses chamavam a peça
te, de laranja ou amarelo, de modo a serem facilmente de staurr que os ingleses herdaram como steor, denomi-
vistas. Por esse mesmo motivo, bem como por convenção nação dada ao remo que servia de leme, e STEORBORD ao
internacional, para caracterizar a utilização pacífica e não bordo onde era montado, hoje starboard. Ao português,
de guerra dos navios (cor cinza), na Antártica é utilizado o chegou como estibordo. Os brasileiros inverteram a pala-
vermelho, inclusive nos costados dos navios por seu con- vra para boreste (Aviso do Almirante ALEXANDRINO, Mi-
traste com o branco do gelo. nistro da Marinha), a fim de evitar confusões com o bordo
A bandeira, na popa, identifica a nacionalidade do oposto: bombordo.
A palavra bombordo tem vínculo com o termo da
navio, país que sobre ele tem soberania. Entretanto, há
língua espanhola babor que, por sua vez, parece ter ori-
uma bandeira, na proa, chamada “jeque” (do inglês jack)
gem ou estar relacionada à palavra francesa bâbord. Na
que identifica, dentro de cada nação soberana, quem tem
Marinha francesa os marinheiros que tinham alojamento
a responsabilidade sobre o navio. Na nossa Marinha, o
a bombordo, eram chamados de babordais e tinham os
jeque é uma bandeira com vinte e uma estrelas - “a ban-
seus números internos de bordo pares. Ainda hoje, na nu-
deira do cruzeiro”. Os navios mercantes usam no jeque a meração de compartimentos, quando o último algarismo
bandeira da companhia a que pertencem; porém, alguns é par, refere-se a um espaço a bombordo, quando é impar,
usam a bandeira identificadora de sua companhia na mas- refere-se a boreste.
treação. As marinhas de língua inglesa, ou a elas relacionadas,
não utilizam expressões próximas de bâbord. Balizam o
A Flâmula de Comando bordo oposto ao do governo de port, ou seja, o bordo
No topo do mastro dos navios da Marinha do Brasil onde não estava o leme e que, por esta razão, ficava atra-
existe uma flâmula com 21 estrelas. Ela indica que o na- cado ao cais, ao porto; daí a expressão port, bordo do
vio é comandado por um Oficial de Marinha. Se alguma porto.
autoridade a quem o Comandante esteja subordinado, or-
ganicamente (dentro de sua cadeia de comando) estiver Câmara
a bordo, a flâmula é arriada e substituída pelo pavilhão- Os compartimentos do navio são tradicionalmente de-
símbolo daquela autoridade. nominados a partir do principal: a “câmara”. Este é o local
Também são previstas as seguintes situações para o que aloja o Comandante do navio ou oficial mais antigo
arriamento da flâmula de comando: quando substituída presente a bordo, com autoridade sobre o navio, ou ainda,
pela Flâmula de Fim de Comissão, ao término de comis- um visitante ilustre, quando tal honra lhe for concedida. Se
são igual ou superior a seis meses, desde a aterragem do embarcar num navio o Comandante da Força Naval, esta
navio ao porto final, até o pôr do sol que se seguir; e por autoridade maior terá o direito à câmara.
ocasião da Mostra de Desarmamento do Navio. O navio onde embarca o Comandante da Força Naval
Finalmente, por ocasião da cerimônia de transmissão é chamado capitânia. Seu Comandante passa a denomi-
de cargo, ocorrerá troca do pavilhão da autoridade exo- nar-se “Capitão de Bandeira”.
nerada pelo da autoridade que assume, com a salva cor-
respondente, no caso de Almirante Comandante de Força, Camarotes e Afins
iniciada após o término do hasteamento da bandeira-in- Os demais compartimentos de bordo, conforme sua
utilização, ganham denominações com diminutivos de câ-
sígnia. Após a leitura da Ordem de Serviço da autoridade
mara: “camarotes”, para alojar Oficiais, e “camarins”, para
que assume, proceder-se-á a entrega da bandeira-insíg-
uso operacional ou administrativo; como, por exemplo, o
nia utilizada pela autoridade exonerada.
camarim de navegação, ou o da máquina.
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TRADIÇÕES NAVAIS
Praças e Cobertas
Uns tantos compartimentos são chamados de praças: praça de máquinas, praça d’armas, praça de vaporizadores, etc.
Os alojamentos da guarnição e seus locais de refeição são chamados de “cobertas”: coberta de rancho, coberta de
praças, etc.
Praça D’Armas
O compartimento de estar dos oficiais a bordo, onde também são servidas suas refeições, é denominado “Praça D’armas”.
Essa denominação prende-se ao fato de que, nos navios antigos, as armas portáteis eram guardadas nesse local, pri-
vativo dos oficiais.
A Tolda à Ré
Existem conveses com nomes especiais. Um convés parcial, acima do convés principal na proa é o “convés do castelo”.
A denominação é reminiscência do antigo castelo que os navios medievais levavam na proa onde os guerreiros combatiam.
Em certos navios existem mais dois conveses com nomes especiais: “o convés do tombadilho”, que é o convés da parte
alta da popa, e o “convés da tolda”.
Nos navios grandes o local onde permanece o Oficial de Serviço, no porto, é chamado “convés da tolda à ré”.
Nele não é permitido a ninguém ficar, exceto o Oficial de Serviço e seus auxiliares.
Agulha e Bússola
O navio tem agulha, não bússola.
A origem é antiga. As primitivas peças imantadas, para governo do navio, eram, na realidade, agulhas de ferro, que
flutuavam em azeite, acondicionadas em tubos, com uma secção de bambu. Chamavam-se “calamitas”. Como eram basi-
camente agulhas, os navegantes espanhóis consideravam linguagem marinheira, a denominação de “agulhas”, diferente-
mente de bússolas, palavra de origem italiana que se referia à caixa - bosso - que continha as peças orientadas.
Corda e Cabo
Diz-se que na Marinha não há corda. Tudo é cabo. Cabos grossos e cabos finos, cabos fixos e cabos de laborar..., mas
tudo é cabo.
Existem porém, duas exceções:
- a corda do sino e
- a dos relógios
A Gente de Bordo
O “Comandante” é a autoridade suprema de bordo. O “Imediato” é o “Oficial executivo do navio”, segundo do Coman-
dante; é o substituto eventual do Comandante: seu substituto Imediato.
A “gente de bordo” se compõe de “Comandante e Tripulação (Oficiais e Guarnição)”. O Imediato e Oficiais constituem
a “oficialidade”. Os demais tripulantes constituem a Guarnição. As ordens para o navio emanam do Comandante e são
feitas executar pelo Imediato, que é o coordenador de todos os trabalhos de bordo, exercendo a gerência das atividades
administrativas..
A Hierarquia Naval
No Brasil, o estabelecimento deformação de oficiais do Corpo da Armada, de Intendentes e de Fuzileiros Navais é a
Escola Naval. Seus alunos são Aspirantes e dela saem, ao concluírem o curso, como Guardas-Marinha.
A formação de praças é realizada pelas Escolas de Aprendizes-Marinheiros. Os alunos dessas Escolas, após o término
do curso, são nomeados Marinheiros.
A unidade de combate naval é o navio. Os Grupamentos de navios constituem as Forças Navais e as Esquadras. Os
Almirantes, precipuamente, comandam Forças Navais, grupamentos de navios. Sua hierarquia deve definir a importância
funcional do grupamento. Os postos de Almirantes, em sequência ascendente são: Contra-Almirante, Vice-Almirante e
Almirante de Esquadra.
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TRADIÇÕES NAVAIS
O Comando dos navios cabe aos Comandantes. A importância funcional do navio deve definir a hierarquia de seus
Comandantes. É mantida tradicionalmente a antiga importância dos navios para combate, classificados de acordo com o
número de conveses e canhões de que dispunham: as corvetas, com um convés de canhões; as fragatas, com dois conve-
ses de canhões; e as naus com três conveses de canhões, havendo também, a denominação de navios de linha ou navios
de batalha, por serem os que constituíam as linhas de batalha. Daí a hierarquia ascendente dos comandantes, como Ca-
pitães de Corveta, Capitães de Fragata e Capitães de Mar e Guerra.
As funções internas nos navios cabem aos tenentes (em hierarquia ascendente: 2° Tenente, 1° Tenente e Capitão-
Tenente) e praças (em hierarquia ascendente: Marinheiro, Cabo, 3º Sargento, 2º Sargento, 1º Sargento e Suboficial). Nos
navios de maior importância há, ainda, oficiais superiores que exercem funções internas, geralmente na chefia de Depar-
tamentos. Navios menores que as corvetas, em geral, são comandados por Capitães-Tenentes.
É interessante notar, entretanto, uma característica ímpar da Marinha: na linguagem verbal, o tratamento normalmen-
te dados aos oficiais da Armada resumem esses nove postos a três: Almirante, Comandante e Tenente.
Divisões de Navios por Classe na MB:
Classe Comando Tipos de Navios (exemplos)
- Navio-Aeródromo
1ª Classe Capitão de Mar e Guerra
- Navio de Desembarque
- Fragatas
- Submarinos
2ª Classe Capitão de Fragata - Corvetas
- Contratorpedeiros
- Navios-Transporte
- Corvetas
3ª Classe Capitão de Corveta - Rebocadores de Alto Mar
- Navios-Patrulha Fluviais
- Navios-Varredores
4ª Classe Capitão-Tenente
- Navios-Patrulha
A Hierarquia da Marinha Mercante
As Escolas responsáveis pela formação de pessoal da Marinha Mercante funcionam nos Centros de Instrução Almiran-
te Graça Aranha, no Rio de Janeiro, e Almirante Braz de Aguiar, em Belém.
Esses estabelecimentos pertencem à Marinha do Brasil, assim como as Capitanias dos Portos, suas Delegacias e
Agências, que ministram o Ensino Profissional Marítimo, capacitando profissionais para exercerem atividades a bordo de
embarcação marítimas e fluviais.
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TRADIÇÕES NAVAIS
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TRADIÇÕES NAVAIS
As batidas do sino são uma tradição naval a ser pre- As situações previstas para fainas ou formaturas cons-
servada pelos responsáveis pela rotina de bordo. Deve tam de uma tabela a bordo, chamada Tabela Mestra, que
haver o cuidado, por parte do sinaleiro, de bater acompa- designa cada homem da tripulação para um determinado
nhando o Capitânia, de modo a não haver o indesejável posto ou função, específica em cada faina ou formatura,
assincronismo. além de designar qual é seu bote salva-vidas e seu respec-
tivo quarto.
As Fainas O cumprimento da rotina de bordo, bem como das
Organizado em Divisões Administrativas ou em Quar- fainas, como já mencionado, são ordenados pelo toque
tos e Divisões de Serviço, o navio está pronto para fazer de apito. Alguns avisos e ordens em linguagem clara, pelo
frente aos trabalhos que envolvem toda a gente de bordo fonoclama, podem ser dados, também, em certas circuns-
ao mesmo tempo, ou parte dela, para um fim específico. tâncias especiais, mas repetir, em linguagem clara, o signi-
Esses trabalhos são chamados de “fainas”. As fainas são ficado de um toque de apito é considerada atitude pouco
gerais, comuns, especiais ou de emergência. marinheira, não sendo, normalmente, permitido a bordo.
Em um navio de guerra, a principal faina geral é a de As fainas de emergência são ordenadas pelos respec-
Postos de Combate. tivos sinais de alarme, fonoclama, sino ou mesmo viva voz.
São fainas gerais e fainas comuns, entre outras: A Presidência das Refeições a Bordo
- Preparar para suspender; As refeições de oficiais são presididas pelo Imediato
- Suspender (ou desamarrar ou desatracar); ou, na sua ausência, pelo oficial mais antigo presente, o
- Preparar para fundear; qual convida os demais a sentarem-se à mesa.
- Fundear (ou amarrar, ou atracar): Após iniciada uma refeição, qualquer pessoa que de-
- Navegação em águas restritas(Detalhe Especial para seje sentar-se à mesa, ou dela retirar-se, deve pedir per-
o Mar); missão a quem a estiver presidindo. A cortesia naval dita
- Recebimento de munição; que ninguém deve retirar-se da mesa antes do Imediato
- Recebimento de material comum ou sobressalentes; ou do oficial mais antigo presente.
- Recebimento de mantimentos; As refeições dos suboficiais e sargentos são presididas
- Montagem ou desmontagem de toldos; pelo Mestre do Navio. Compete ao Mestre d’Armas presi-
- Içar e arriar embarcações; dir as refeições dos Cabos e Marinheiros.
- Operações aéreas, decolagem e pouso de aerona-
ves; Cerimonial de Bordo
- Inspeção de material;
- Docagem e raspagem do casco; e Saudar Pavilhão
- Pintura geral. Como já foi explicado, faz parte do cerimonial saudar
São fainas de emergência: com a continência o Pavilhão Nacional, que é arvorado na
- Incêndio; popa , das 8 horas até o por do sol.
- Colisão; Isto se faz ao entrar a bordo pela primeira vez e ao sair
- Socorro externo; pela última vez, no dia.
- Homem ao mar;
- Reboque; Saudar o Comandante
- Abandono; É costume os oficiais saudarem o Comandante na câ-
- Avaria no sistema de governo; mara, pela manhã, quando em viagem. À noite, a saudação
- Acidente com aeronave (“crash”); e é feita após o Cerimonial do Arriar a Bandeira
- Recolhimento de náufragos. Quando no porto, os oficiais formam para receber o
Comandante, cumprindo o Cerimonial de Recepção; e, da
Além das fainas, existem ocasiões em que toda a tri- mesma maneira, formam quando ele se retira de bordo,
pulação do navio deve atender a formaturas gerais, para no Cerimonial de Despedida. Se algum oficial chegar após
certas formalidades a bordo ou para cerimonial, conheci- o Comandante, deve saudá-lo na câmara, bem como ao
das com formaturas gerais. Imediato. Se vai retirar-se de bordo antes do Comandan-
São formaturas gerais: te, deve despedir-se dele na câmara, obtendo licença para
- Parada; retirar-se, não sem antes ter sido liberado pelo Imediato.
- Mostra;
- Distribuição de faxina; Saudar o Imediato
- Postos de continência; Ao entrar e ao retirar-se de bordo os oficiais saúdam
- Bandeira; e o Imediato.
- Concentração da tripulação. É costume, em viagem, os oficiais cumprimentarem
o Imediato pela manhã e, também, após o Cerimonial da
Bandeira.
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TRADIÇÕES NAVAIS
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TRADIÇÕES NAVAIS
Esses cerimoniais são tradições herdadas dos dias da Os toques de apito devem ser dados apenas pelo
marinha a vela. Costumava-se, nas reuniões de Coman- Mestre ou Contramestre de Serviço. Ao final das Honras
dantes de navios de uma Força Naval em um determi- de Recepção ou Despedida, quando por toque de corneta,
nado navio - quando o mar não estava muito bom - içar cabe o “ponto”, como sinal de desfazer a continência e a
o visitante por uma guindola, espécie de pequena tábua guarda de portaló executar o comando de “ombro armas”.
suspensa pelas extremidades. A manobra era comanda- Nos casos em que houver Guarda de Honra, esta execu-
da pelo Mestre, ao som do apito e, para realizá-la, vários tará o referido comando quando determinado pelo seu
marinheiros iam para o local de embarque. Hoje é uma Comandante.
cortesia naval acorrer com marinheiros ao portaló (local
de embarque ou saída de bordo) e saudar com toque de
apito, a autoridade que chegar ou sair.
UNIFORMES E SEUS ACESSÓRIOS: OS
Os marinheiros que acorriam para as manobras de em-
UNIFORMES, GORRO DE FITA, O APITO
barque do Comandante a bordo eram chamados, na Real
Marinha britânica, de “boys”. Esse costume passou desde o
MARINHEIRO, ALAMARES, CONDECORAÇÕES E
Império, à nossa Marinha. Hoje, há um toque de apito que, MEDALHAS;
em realidade, significa boys aos cabos. Tratava-se, até há
pouco tempo, quando se vinha ou saía de bordo por lan-
cha, de chamar os marinheiros para que descessem ao pa- Os Uniformes
tim inferior da escada de portaló e aí estendessem cabos Os oficiais, suboficiais e sargentos usam uniformes do
(preparados com pinhas nas duas extremidades, uma para mesmo feitio para o serviço ou para os trabalhos a bordo.
o boy e outra para a autoridade), para que lhe servissem São do tipo paletó, ou dóimã, e calça, ou somente cami-
de apoio quando embarcavam ou desembarcavam. sa e calça. Na cabeça usa-se o boné. Os oficiais e subofi-
Ao patim inferior da escada de portaló descem dois ciais, para distinção, usam galões nas platinas colocadas
“boys” e mais dois quando há espaço. Os demais formam nos ombros dos uniformes brancos, galões nos punhos
no convés. Quando estiver com prancha passada para ter- do uniforme azul e distintivos na gola do uniforme cinza
ra, somente dois devem ficar em terra; os demais formam de manga curta (caqui para os Fuzileiros Navais). Os sar-
no convés. Formar mais de dois “boys” em terra é, como gentos, cabos e marinheiros cursados usam sempre, para
se diz. na gíria marinheira, uma varada (de «vara», termo distinção de graduação, divisas nos braços. Os marinheiros
espanhol que quer dizer encalhe). Tudo isso deve-se ao -recrutas, aprendizes e grumetes não usam divisas.
fato de que o emprego dos “boys” é uma tradição na ma- As platinas são presas sobre os ombros dos uniformes
nobra de embarque e desembarque de oficiais, em navios como acessório, sendo reminiscências de antigas tiras de
no mar. couro usados nos uniformes para fixar os talabardes (bol-
Quando o Comandante é recebido no seu próprio na- driés). São de origem francesa.
vio, é o Mestre quem executa os apitos do cerimonial. Os galões dos oficiais são listras douradas. No Corpo
Quando o cerimonial é executado em terra, como nos da Armada, a mais alta no punho é terminada por uma vol-
estabelecimentos ou cerimônias públicas, os “boys” são ta. Conta a tradição que é uma reminiscência da volta que
distribuídos no número completo previsto no Cerimonial o Almirante Nelson, oficial inglês, levava em um pequeno
da Marinha, em caráter simbólico. cabo amarrado à manga de seu dólmã para sustentá-la em
A chegada de autoridade a bordo de OM da MB de- um botão, quando, após perder o braço, subiu ao convés
verá ser anunciada no sistema de fonoclama, quando cou- pela primeira vez. As marinhas que tiveram origem e con-
ber, o cargo da autoridade visitante seguido da expressão tatos com a Marinha britânica conservam o símbolo.
“para bordo”. Não deverá ser anunciado pronome de tra- Os Cabos e Marinheiros usam uniformes, brancos ou
tamento ou nome da autoridade visitante. Por ocasião do azuis, de gola, e na cabeça, bonés sem pala. Os de trabalho
cerimonial, a ordem ao Mestre ou Contramestre de Serviço são de cor mescla, com chapéus redondos
não deve conter palavras desnecessárias, já que se trata de típicos, de cor branca, chamados caxangá.
uma instrução para quem vai abrir toque. Assim, essa or- O uniforme típico de marinheiro é universal. Suas ca-
dem deve ser pertinente ao toque característico a que tem racterísticas são, principalmente, o lenço preto ao pescoço
direito a autoridade. A menção ao cargo desempenhado e a gola azul com três listras.
somente deve ser feita a quem competir vocativo especí- O lenço teve sua origem na artilharia dos tempos
fico (Comandante da Marinha, Chefe do Estado-Maior da antigos da marinha a vela. Os marujos usavam um lenço
Armada, Comandante de Operações Navais, Comandan- na testa durante os combates, amarrado atrás da cabeça.
te-Geral do Corpo de Fuzileiros Navais e Comandante em Esse procedimento evitava que o suor, misturado à graxa e
Chefe da Esquadra). Nesse caso, não se deve mencionar o mesmo à pólvora das peças de tiro, lhes caísse nos olhos.
Posto, a menos se, eventualmente e no caso de ComemCh, Ao findar o combate, os marinheiros regulares giravam o
o cargo estiver sendo exercido por Almirante de Esquadra. lenço e o amarravam ao pescoço, com o nó para frente.
O artigo 5-1-7 do Cerimonial da Marinha reflete com cla- Hoje, simbolicamente, o lenço é colocado em tomo do
reza este ponto. pescoço.
10
TRADIÇÕES NAVAIS
Sua cor preta, diferentemente do que muitos dizem, O Oficial de Serviço utiliza um apito, que não é o tradi-
não é originada em sinal de luto pela morte de Nelson, cional, e serve para cumprimentar ou responder a cumpri-
pois era usado pelos marinheiros, com essa cor, bem an- mentos dos cerimoniais (honras de passagem) de navios
tes disso, embora, naquele evento, tenham retirado o len- ou lanchas com autoridades que passam ao largo; mas, o
ço característico do pescoço e o colocado no braço. cadarço que o prende ao pescoço mantém-se como parte
A gola do Marinheiro é bastante antiga. Era usada do símbolo tradicional.
para proteger a roupa das substâncias gordurosas com Os toques de apitos estão grupados, por tipos, em to-
que os marujos untavam o “rabicho” de suas cabeleiras. ques de: Continência e Cerimonial, Fainas, Pessoal Subal-
O uso do rabicho desapareceu, mas, a gola permaneceu, terno, Divisões e Manobras
como parte característica do uniforme. A cor azul é ado-
tada por quase todas as marinhas do mundo. Alamares
As três listas da gola são reminiscência do costume Nos tempos de cavalaria andante, na Idade Média, os
antigo de se indicar, por meio de fitas, presas ao pelerine ajudantes lavavam os cavalos e auxiliavam os cavaleiros,
(capa utilizada sobre os ombros), o tempo de serviço do com armaduras, a montar, tal era o peso desses apetre-
embarcado. chos. Depois que os cavaleiros montavam, os ajudantes
se afastavam das montarias e dos chefes, ficando porém
Gorro de Fita nas mãos com o cabo (corda) no braço, na altura do om-
Os fuzileiros navais também trazem em seus unifor- bro. Ainda hoje, os ajudantes de ordens usam, com garbo,
mes simbolismo e tradição. essa peça, primitivamente humilde, presa ao ombro no
O gorro de fita, de origem escocesa, é uma das tradi- uniforme. Mas, o conjunto completo é constituído desse
ções incorporadas que permanecem e ganham legitimi- pequeno cabo (cordel), junto com os alamares, que são a
dade. Foi ideia, em 1890, de um comandante do Batalhão reminiscência da antiga corrente, que as autoridades na-
Naval, de ascendência britânica. O gorro foi bem aceito vais usavam para pendurar os apitos, um símbolo de au-
e, hoje, caracteriza de forma ímpar o uniforme dos Ma- toridade já comentado. Assim, o conjunto formado pelos
alamares (autoridade) e seu cabo (ajudante) - este utiliza-
rinheiros de terra, soldados do mar, que são os fuzileiros
do solteiro nos uniformes internos - significam “ajudante
navais.
de uma autoridade”. Os Oficiais Chefes de Estado-Maior
e Oficiais do Gabinete de uma autoridade naval também
O Apito Marinheiro
usam esse símbolo, por serem seus ajudantes mais diretos.
Os principais eventos da rotina de bordo são ordena-
O conjunto é usado do lado esquerdo, porém os Oficiais
dos por toques de apito, utilizando-se, para isso, de um
do Gabinete Militar da Presidência da República usam os
apito especial: o apito do marinheiro. O apito serve, tam-
alamares do lado direito.
bém, para chamadas de quem exerce funções específicas
ou para alguns eventos que envolvam pequena parte da
Condecorações e Medalhas
tripulação. Ele tem sido, ao longo dos tempos, uma das
As condecorações e medalhas são usadas no lado es-
peças mais características do equipamento de uso pessoal querdo do peito.
da gente de bordo. Os gregos e os romanos já o usavam O costume, que não é apenas naval, vem do tempo
para fazer a marcação do ritmo dos movimentos de remo das cruzadas, quando os cavaleiros traziam a insígnia de
nas galés. sua Ordem (as Ordens da Cavalaria) perto do coração. Era,
Com o passar dos anos, o apito se tornou uma es- também, porque o escudo ficava no braço esquerdo; e as-
pécie de distintivo de autoridade e mesmo de honra. Na sim, protegia não somente o coração, mas a insígnia de
Inglaterra, o Lord High Admiral usava um apito de ouro honra.
ao pescoço, preso por uma corrente; um apito de prata
era usado pêlos Oficiais em Comando, como “Apito de
Comando”. Eram levados tais símbolos em tanta conside-
ração que, em combate, um oficial que usasse um apito
preferia jogá-lo ao mar a deixá-lo cair em mãos inimigas.
O apito, hoje, continua preso ao pescoço por um ca-
darço de tecido e tem utilização para os toques de rotina
e comando de manobras.
As fainas de bordo, ainda hoje, em especial as mano-
bras que exigem coordenação e ordens contínuas de um
Mestre ou Contramestre, são conduzidas somente com
toques de apito. Fazê-lo aos gritos denota pouca qualida-
de marinheira do dirigente da faina e sua equipe.
11
TRADIÇÕES NAVAIS
‘ONÇA’
“Onça” é também uma expressão de grande uso. Sig-
nifica dificuldade: “onça de dinheiro, onça de sobressa-
lentes”.
“Estar na onça” é estar em apuros. “A onça está solta”,
quer dizer que tudo vai mal.
Essa expressão vem de uma velha história de uma
onça de circo, que era transportada a bordo de um navio
mercante e se soltou da jaula, durante um temporal.
‘SAFA ONÇA’
“Safa onça” é a combinação das duas expressões an-
teriores. Significa salvação. Safa onça é tudo que solucio-
na uma emergência. “Safei a onça, agarrando-me a uma
tábua que flutuava...O meu safa onça foi um pedaço de
queijo, que ainda restava no barco; do contrário, morreria
de fome”.
‘PEGAR’
“Pegar” é o contrário de estar safo. “Estar pegando” sig-
nifica que não está dando certo: “Tenente, o rancho está pe-
gando! Não chegou a carne! Este marinheiro ainda está mui-
to inexperiente: com ele tudo pega...Comandante, não pude
chegar a tempo, a lancha pegou bem no meio da baía!”
Parece que a expressão vem de “pegar tempo”, ou
seja, pegar mau tempo. Fulano está pegando tempo, para
resolver a primeira questão de sua prova...Aquele marujo
não conseguiu safar-se para a parada: pegou tempo, para
arranjar um boné novo”.
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TRADIÇÕES NAVAIS
ANOTAÇÕES
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TRADIÇÕES NAVAIS
ANOTAÇÕES
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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
Doutrina de Liderança da Marinha – Chefia e Liderança; Aspectos Fundamentais da Liderança; Estilos de Liderança;
Seleção de Estilos de Liderança; Fatores da Liderança; Atributos de um Líder; Níveis de Liderança...................................... 01
Bibliografia Sugerida
BRASIL. Marinha do Brasil. Estado-Maior da Armada. EMA-137 – Doutrina de Liderança da Marinha. Capítulo 1, rev. 1.
Brasília, 2013............................................................................................................................................................................................................... 01
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
A tarefa de doutrinamento visa a transmitira sua correta Esses indivíduos, ao ingressarem na Marinha, passarão
hierarquização, priorizando-os em relação aos valores ma- a integrar-se a esta nova subcultura, após um período de
teriais, como dinheiro, o poder e a satisfação pessoal. Este é adaptação. No âmbito da Marinha, pode-se distinguir sub-
o maior desafio a ser enfrentado por aquele que pretende culturas correspondentes aos diferentes corpos e quadros,
exercer a liderança de um grupo. em função da missão atribuída a cada um deles. Cultura e
1.3.2 Aspectos psicológicos subcultura são, portanto , temas de estudo da Sociologia
“Em essência, a liderança envolve a realização de obje- de interesse para a liderança.
tivos com e através de pessoas. Outro tópico da Sociologia avaliado como relevante
Consequentemente, um líder precisa preocupar-se é o dos processos sociais, estes definidos como interação
com tarefas e relações humanas” (HERSEY;BLANCHARD, repetitivas de padrões de comportamento comumente
1982, p 105). encontrados na vida social. Os processos sociais de maior
O líder influencia outros indivíduos, provocando, ba-
incidência nas sociedades e grupos humanos são: coope-
sicamente, mudanças psicológicas e “[..] num nível de
ração, competição e conflito. O líder, cuja matéria prima é
generalidade que inclui mudanças em comportamentos,
o grupo liderado, necessita identificar a existência de tais
opiniões, atitudes, objetivos, necessidades, valores e todos
os outros aspectos do campo psicológico do individuo”. processos, estimulando-os ou não, em função das especi-
(FRENCH; RAVEN, 1969, apud NOBRE , 1998, p 43). fidades da situação corrente e da natureza da missão a ser
Os processos grupais e a liderança são os principais levada a termo.
objetos de estudo da Psicologia Social e a subjetivida- Cooperando , etimologicamente, significa trabalhar
de humana, a personalidade e as mudanças psicológicas em conjunto. Implica uma opção pelo coletivo em detri-
oriundas de processos de influenciação e de aprendizagem mento do individual, mas nada impede o desenvolvimento
são focos de estudo e de análise da Psicologia. e o estimulo das habilidades de cada membro, em prol de
O caminho apara a liderança passa pelo conhecimen- um objetivo comum. Sob muitos aspectos, e de um ponto
to profissional, mas também pelo autoconhecimento e pro de vista humanista, é a forma ideal de atuação de grupos.
conhecer bem seus subordinados. Para os dois últimos re- Ocorre que nem sempre é possível, dentro de um gru-
quisitos, a Psicologia pode oferecer ferramentas úteis para po, manter, exclusivamente, o processo cooperativo. Em
o líder. Pesquisas mostram que o quociente emocional função do contexto, das circunstancias da própria tarefa
(QE) ou inteligência emocional está cada vez ,aso, desta- a realizar, da natureza do grupo, ou das características do
cando-se como o principal diferencial de competência no líder, outros processos se desenvolvem.
trabalho. Esta conclusão é especialmente pertinente, em se Competição é definida como a luta pela posse de re-
tratando do desempenho em funções de liderança.
compensas cuja oferta é limitada.
A Psicologia é, portanto, uma ciência que fornece fir-
Tais recompensas incluem dinheiro, poder, status,
me embasamento teórico e prático para que o líder possa
amor e muito outros. Outra forma de descrever o proces-
influenciar pessoas.
1.3.3 Aspectos Sociológicos so competitivo o mostra como a tentativa de obter uma
Os textos deste subitem foram retirados, com adap- recompensa superando todos os rivais.
tações , do Manual de Liderança, editado em 1996 ( 130 A competição pode ser pessoal – entre um número
– Bases sociológicas). limitado de concorrentes que se conhecem entre si – ou
Sociólogos concordam que a perspectiva sociológica impessoal - quando o numero de rivais é tal, que se torna
envolve um processo que vai permitir examinar as cole- impossível o conhecimento entre eles, como ocorre, por
tividades além das fachadas das estruturas sociais, com o exemplo, nos exames vestibulares ou concursos públicos.
proposito de refletir, com profundidade, sobre a dinâmica Atualmente , os especialistas concordam que ambos
de forças atuantes em cada coletividade. os processos - cooperação e competição – coexistem e,
A liderança envolve líder, liderados, e contexto (ou até mesmo, sobrepõe na maioria das sociedades. O que
situação), constituindo, fundamentalmente, uma relação. varia, em função de diferenças culturais, é a intensidade
Para muitos teóricos, a liderança, dadas as características com que cada um é experimentado.
singulares que envolve, constitui-se em um processo im- Sob o ponto de vista psicológico, é relevante conside-
par de interação social. Partindo desta visão da liderança, é rar que, se a competição tem mérito inicial de estimular a
evidente o quanto a Sociologia tem para contribuir em ter- atividade dos indivíduos e dos grupos aumentando-lhes a
mos de embasamento teórico no estudo e na construção
produtividade, tem o grave inconveniente de desencorajar
do processo de liderança.
os esforços daqueles que se habituaram a fracassar.
Os militares, em geral, em função da peculiaridade de
Vencedor há um só; todos os demais são perdedo-
suas atividades profissionais, constituem uma subcultura
dentro da sociedade brasileira. res. Outro inconveniente sério, decorrente do estímulo à
Focalizando mais de perto ainda, pode-se afirmar que competição, consiste na forte possiblidade de desenvolvi-
a Marinha, dentro das Forças Armadas, face as suas atri- mento de hostilidades e desavenças no interior do grupo,
buições muito próprias, constitui-se igualmente em uma contribuindo para sua desagregação. A instabilidade ine-
subcultura. A liderança , por definição, pressupõe a ação do rente ao processo competitivo faz com que este, com bas-
líder sobre grupos humanos; os membros desse grupo são tante frequência, se transforme em conflito. Na liderança,
, em geral, oriundos de diferentes subculturas. a competição tem sempre que ser saudável e estimulante.
2
RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
Conflito é a exacerbação da competição. Uma defini- rança, propostos à luz das diversas teorias, se enquadram
ção mais especifica afirma que tal processo consiste em em três principais critérios de classificação, apresentados
obter recompensas pela eliminação ou enfraquecimento como eixos lógicos em que se agrupam apenas sete estilos
dos competidores. Ou seja, o conflito é uma forma de com- principais:
petição que pode caminhar para a instalação de violência e, a) quanto ao grau de centralização de poder: Liderança
que se vai intensificando, à medida que aumenta a duração Autocrática, Liderança participativa e Liderança Delegativa.
do processo, já que este tem caráter cumulativo - a cada b)quanto ao tipo de incentivo: Liderança Transforma-
ato hostil surge uma represália cada vez mais agressiva. cional e Liderança Transacional; e
O processo social de conflito inclui aspectos positivos e c) quanto ao foco do líder: Liderança Orientada para
negativos. Por um lado, o conflito tende a destruir a unida- tarefa e Liderança Orientada para o relacionamento.
de social e , da mesma forma, desagregar grupos menores, Os subitens a seguir descrevem os sete principais esti-
pelo aumento de ressentimento, pelo desvio dos objetivos los de liderança propostos pelas diversas teorias.
mais elevados do grupo, pela destruição dos canais nor- 1.4.1 Liderança Autocrática
mais do cooperação, pela intensificação de tensões inter- A liderança autocrática é baseada na autoridade formal,
nas, podendo chegar à violência. aceita como correta a legitima pela estrutura do grupo.
Por outro lado, doses regulares de conflito de posições O líder autocrático baseia a sua atuação numa discipli-
, podem ter efeito integrador dentro do grupo, na medida na rígida, impondo obediência e mantendo-se afastado de
em que obrigam os grupos a se autocriticarem, a reverem relacionamentos menos formais com os seus subordina-
posições, a forçarem a formulação de novas politicas e dos, controla o grupo por meio de inspeções de verificação
práticas, e em consequência, a uma revitalização dos valo- do cumprimento de normas e padrões de eficiência, exer-
res autênticos próprios daquele grupo. cendo pressão contínua. Esse tipo de liderança pode ser
Uma vez instalado e manifesto o conflito no seio de útil e, até mesmo, recomendável, em situações especiais
um grupo, seu respectivo líder terá de buscar soluções e como em combate, quando o líder tem que tomar decisões
alternativas para manter o controle da situação. Não é fácil rápidas e não é possível ouvir seus liderados, sendo a for-
ou agradável para os lideres atuar em situações de conflito, ma de liderança mais conhecida e de mais fácil adoção. A
o que justifica sua pura e simples negação. principal restrição a esse tipo de liderança é o desinteresse
É indispensável que o líder seja capaz de diagnosticar pelos problemas e ideias, tolhendo a iniciativa e, por con-
as situações de conflito, mesmo quando ainda latentes, de seguinte, a participação e a criatividade dos subordinados.
modo a buscar estratégias adequadas para gerencia-las Ouso desse estilo de liderança pode gerar resistência pas-
construtivamente. siva dentro da equipe e inibir a iniciativa do subordinado,
1.4 ESTILOS DE LIDERANÇA além de não considerar os aspectos humanos, dentre eles,
Nos primórdios do século XX, prevaleceram as pesqui- o relacionamento líder-liderados.
sas sobre liderança, entendida como qualidade inerente a 1.4.2 -Liderança Participativa ou Democrática
certas pessoas ou traço pessoal inato. A partir, dos anos 30, Nesse estilo de liderança, abre-se mão de parte da au-
evoluiu-se para uma concepção de liderança como con- toridade formal em prol de uma esperada participação dos
junto de comportamentos e de habilidades que podem ser subordinados e aproveitamento de suas ideias. Os com-
ensinadas às pessoas que, desta forma, teriam a possibili- ponentes do grupo são incentivados a opinarem sobre as
dade de se tronarem lideres eficazes. formas como uma tarefa poderá ser realizada, cabendo a
Progressivamente, os pesquisadores abandonaram a decisão final ao líder (exemplo típico é o Estado-Maior). O
busca de uma essência da liderança, percebendo toda a êxito desse estilo é condicionado pelas características pes-
complexidade envolvida e evoluindo para análise bem mais soais, pelo conhecimento técnico-profissional e pelo en-
sofisticadas, que incluíam diversas variáveis situacionais. gajamento e motivação dos componentes do grupo como
Nesse contexto, observa-se a proliferação de publicações um todo. Em se obtendo sucesso, a satisfação pessoal e
sobre liderança, incluindo trabalhos científicos e literatu- o sentimento de contribuição por parte dos subordinados
ra sensacionalista e de autoajuda. Diferentes autores pro- são fatores que permitem uma realimentação positiva do
põem uma infinidade de estilos de liderança que se sobre- processo. Na ausência do líder, uma boa equipe terá con-
põem. Alguns fundamentam-se em estudos e pesquisas e dições de continuar agindo de acordo com o planejamen-
outros são meramente empíricos e intuitivos. Há também to previamente estabelecido para cumprir a missão.O lí-
muitos modismos, alguns consistindo, apenas, em atri- der deve estabelecer um ambiente de respeito, confian-
buição de novos nomes e roupagens a antigos conceitos, ça e entendimentorecíprocos, devendo possuir, para tan-
sendo reapresentados como se fossem avanços na área da to, ascendência técnico-profissional sobre seussubordina-
liderança. dos e conduta ética e moral compatíveis com o cargo que
Para simplificar a apresentação e o emprego de uma exerce. Um líder que adota o estilo democrático encoraja a
gama de estilos de liderança consagrados e relevantes para participação e delega com sabedoria, mas nunca perde de
o contexto militar-naval, foram considerados alguns esti- vista sua autoridade e responsabilidade. Um chefe insegu-
los selecionados em três grandes eixos: grau de centrali- ro dificilmente conseguirá exercer uma liderança democrá-
zação de poder; tipo de incentivo; e foco do líder. Pode-se tica, mastenderá a submeter ao grupo todas as decisões.
afirmar , genericamente, que os diferentes estilos de lide- Isso poderá fazer com que o chefe acabe sendo conduzido
pelo próprio grupo.
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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
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RELAÇÕES HUMANAS E LIDERANÇA
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HISTÓRIA NAVAL
A História da Navegação: Os navios de madeira: construindo embarcações e navios; O desenvolvimento dos navios
portugueses; O desenvolvimento da navegação oceânica: os instrumentos e as cartas de marear; A vida a bordo dos
navios veleiros............................................................................................................................................................................................................ 01
A Expansão Marítima Europeia e o Descobrimento do Brasil: Fundamentos da organização do Estado português e a
expansão ultramarina: Lusitânia; Ordens militares e religiosas; O papel da nobreza; A importância do mar na formação
de Portugal; Desenvolvimento econômico e social; A descoberta do Brasil;................................................................................... 02
O reconhecimento da costa brasileira: A expedição de 1501/1502; ................................................................................................... 06
A expedição de 1502/1503; ................................................................................................................................................................................. 06
A expedição de 1503/1504; ................................................................................................................................................................................. 06
As expedições guarda-costas; ............................................................................................................................................................................ 06
A expedição colonizadora de Martim Afonso de Sousa........................................................................................................................... 06
Invasões Estrangeiras ao Brasil: Invasões francesas no Rio de Janeiro e no Maranhão: Rio de Janeiro; Maranhão; Invasores
na foz do Amazonas: Invasões holandesas na Bahia e em Pernambuco: Holandeses na Bahia; A ocupação do Nordeste
brasileiro; A insurreição em Pernambuco; A derrota dos holandeses em Recife; Corsários franceses no Rio de Janeiro no
século XVIII; Guerras, tratados e limites no Sul do Brasil.......................................................................................................................... 07
Formação da Marinha Imperial Brasileira: A vinda da Família Real; Política externa de D. João e a atuação da Marinha:
a conquista de Caiena e a ocupação da Banda Oriental: A Banda Oriental; A Revolta Nativista de 1817 e a atuação
da Marinha; Guerra de independência; Elevação do Brasil a Reino Unido; O retorno de D. João VI para Portugal; A
Independência; A Formação de uma Esquadra Brasileira; Operações Navais; Confederação do Equador.......................... 13
A Atuação da Marinha nos Conflitos da Regência e do Início do Segundo Reinado.................................................................... 17
Conflitos internos; Cabanagem; ....................................................................................................................................................................... 19
Guerra dos Farrapos; .............................................................................................................................................................................................. 19
Sabinada; .................................................................................................................................................................................................................... 19
Balaiada; ...................................................................................................................................................................................................................... 19
Revolta Praieira;......................................................................................................................................................................................................... 20
Conflitos externos; Guerra Cisplatina; ............................................................................................................................................................. 20
Guerra contra Oribe e Rosas................................................................................................................................................................................ 23
A Atuação da Marinha na Guerra da Tríplice Aliança contra o Governo do Paraguai: O bloqueio do Rio Paraná e a Batalha
Naval do Riachuelo; Navios encouraçados e a invasão do Paraguai; Curuzu e Curupaiti; Caxias e Inhaúma; Passagem
de Curupaiti; Passagem de Humaitá; O recuo das forças paraguaias; O avanço aliado e a Dezembrada; A ocupação de
Assunção e a fase final da guerra...................................................................................................................................................................... 24
A Marinha na República: Primeira Guerra Mundial: Antecedentes; O preparo do Brasil; A Divisão Naval em Operações de
Guerra; O Período entre Guerras; A situação em 1940; Segunda Guerra mundial: Antecedentes; Início das hostilidades e
ataques aos nossos navios mercantes; A Lei de Empréstimo e Arrendamento e modernizações de nossos meios e defesa
ativa da costa brasileira; Defesas Locais; Defesa Ativa; A Força Naval do Nordeste; E o que ficou?....................................... 29
O Emprego Permanente do Poder Naval: O Poder Naval na guerra e na paz: Classificação; A percepção do Poder Naval;
O emprego permanente do Poder Naval........................................................................................................................................................ 39
HISTÓRIA NAVAL
OS NAVIOS DE MADEIRA:
A HISTÓRIA DA NAVEGAÇÃO: OS CONSTRUINDO EMBARCAÇÕES E NAVIOS
As caravelas provavelmente tiveram sua origem em
NAVIOS DE MADEIRA: CONSTRUINDO embarcações de pesca, que já existiam na Península
EMBARCAÇÕES E NAVIOS; Ibérica desde o século XIII. Tinham, em geral, velas latinas.
O DESENVOLVIMENTO DOS NAVIOS Essas velas são muito boas para navegar quase contra o
PORTUGUESES. O DESENVOLVIMENTO DA vento, contribuindo para que as caravelas fossem muito
NAVEGAÇÃO OCEÂNICA : úteis na costa da África. Foi principalmente com elas que
INSTRUMENTOS E AS CARTAS DE os portugueses exploraram
MAREAR; A VIDA A BORDO DOS NAVIOS o litoral africano durante o século XV. As caravelas
VELEIROS. foram os navios mais importantes para Portugal até a
descoberta do Cabo da Boa Esperança, que permi-
tiu contornar a África, passando do Oceano Atlântico
Os rios, lagos, mares e oceanos eram obstáculos para o Oceano Índico. A partir de então, o transporte de
que os seres humanos do passado muitas vezes preci- mercadorias por [naus] passou a ser o mais importante.
savam ultrapassar. Primeiro, eles se agarravam a qual- A nau era um navio mercante com grandes espaços
quer coisa que flutuasse. Depois, sentiram a necessi- nos porões para carregar as mercadorias do Oriente.
dade de descobrir como transformar materiais, para Essa ênfase na carga, no entanto, fazia com que as naus
que estes, flutuando, pudessem se sustentar melhor fossem mal armadas. Levavam poucos canhões para
sobre a água. Assim, ao longo do tempo, em cada lugar carregar
surgiu uma solução, que dependeu do material disponí- Galeão do século XVI (acervo SDM) mais mercadorias
vel: a canoa feita de um só tronco cavado; a canoa feita e eram presas fáceis para os navios dos países que co-
da casca de uma única árvore; a jangada de vários troncos meçariam a desafiar o monopólio português do co-
mércio com o Oriente pelo Cabo da Boa Esperança, da
amarrados; o bote de feixes de juncos ou de [papiro]; o
chamada Carreira da Índia. Até então, Portugal vinha uti-
bote de couro de animais e outros.
lizando caravelas bem armadas como navios de guerra,
Todas essas soluções simples, no entanto, não
mas, desde o início do século XVI, sentira a necessidade
transportavam muita coisa, ou eram difíceis de manejar,
de desenvolver o [galeão], um navio de guerra maior
ou mesmo perigosas em águas agitadas. Era necessá- e com mais canhões, para combater turcos no Orien-
rio desenvolver embarcações construídas a partir da te e corsários5 e piratas europeus ou muçulmanos no
junção de diversas partes, para que fossem maiores e Atlântico. O galeão foi a verdadeira origem do navio de
melhores. guerra para emprego no oceano. Foi construído para
Durante o século XV, os portugueses decidiram que fazer longas viagens e combater longe da Europa.
deveriam prosperar negociando diretamente com o
Oriente, por meio do mar. Para alcançar bom êxito nes- O DESENVOLVIMENTO DA NAVEGAÇÃO OCEÂNICA:
se ambicioso projeto de interesse nacional, foi neces- OS INSTRUMENTOS E AS CARTAS DE MAREAR
sário: explorar a costa da África no Oceano Atlântico e Um dos instrumentos mais importantes que, no pas-
encontrar a passagem, ao sul do continente africano, sado, permitiram as Grandes Navegações foi a bússo-
para o Oceano Índico; chegar às Índias e lá negociar la, inventada pelos chineses. A bordo ela é chamada de
diretamente as mercadorias; trazê-las para Portugal agulha magnética e, antigamente, de agulha de ma-
em navios capazes de transportar quantidades relati- rear. Basicamente, ela consta de uma agulha imantada
vamente grandes de carga e defender esse comércio. que se alinha em função do campo magnético natural da
Isso exigiu desenvolvimentos científicos e tecnológicos Terra, podendo-se, então, saber a direção em que está
para os navios e para a navegação. o polo norte magnético. Assim, é possível saber a dire-
Os portugueses desenvolveram e utilizaram: [cara- ção em que o navio segue, ou seja, seu rumo.
velas] para explorações; naus como navios mercantes Para saber exatamente a posição em que se está
para o comércio e galeões como navios de guerra. Mas em relação ao globo terrestre, é necessário calcular
isso só não bastava para chegar com sucesso ao porto a latitude e a longitude do lugar. O cálculo prático da
de destino. longitude depende de se saber, com precisão, a hora.
A navegação, quando se mantém terra à vista, é Porém, a inexistência de relógios (cronômetros) que
feita pela observação de pontos geográficos de terra não fossem afetados pelos movimentos do navio,
causados pelas ondas, fez com que a hora não pudes-
determinando a posição do navio em relação à costa.
se ser calculada no mar até o século XVIII, quando foram
Quando não se avista mais a terra e quando o mar e o
desenvolvidos cronômetros adequados à utilização a
céu se encontram no horizonte a toda volta, é necessá-
bordo dos navios, para o cálculo da longitude. A latitude
rio saber em que direção o navio segue e a posição em
não era difícil de se calcular e, por ela e pela estimativa de
que se está em relação à superfície do globo terrestre.
quanto o navio havia se deslocado, os navegadores
Foi necessário, portanto, desenvolver instrumen- da época das Grandes Navegações sabiam aproxima-
tos capazes de indicar a direção (bússola) do navio, a damente onde estavam. Evidentemente, erros de na-
latitude (astrolábio) e a longitude (cronômetro). vegação ocorreram, com consequências desastrosas.
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Abalado com as notícias trazidas por Colombo, Dom Prosseguindo a navegação sempre em rumo su-
João II cogitou em mandar uma expedição em direção doeste, foram avistadas ervas marinhas, indicando ter-
às terras recém-descobertas, convencido de que lhe ra próxima. No dia 22 de abril, foram avistadas as primei-
pertenciam por direito. Pouco de pois, a questão foi ar- ras aves e, ao entardecer, avistaram terra. Ao longe, um
bitrada por três [bulas] do Papa Alexandre VI, que con- monte alto e redondo foi denominado Pascoal, por
cederam à Espanha os direitos sobre as terras acha- ser semana da Páscoa. Na manhã seguinte avançaram
das por seus navegadores a ocidente do meridiano as caravelas, sondando o fundo, e [fundearam] a mi-
traçado a cem léguas a oeste das Ilhas dos Açores e de lha e meia da praia próxima à foz de um rio, mais tarde
Cabo Verde. denominado Rio do Frade. Após reunião com os co-
Os portugueses discordaram da proposta e novas mandantes, foi decidido enviar a terra um [batel], sob
negociações resultaram na assinatura do Tratado de o comando de Nicolau Coelho, para fazer contato com
Tordesilhas (cidade espanhola), em 7 de junho de 1494, os nativos, quando se deu o primeiro encontro entre
que garantiu à coroa portuguesa as terras que viessem a portugueses e indígenas.
ser descobertas até 370 léguas a oeste do Arquipéla- Durante a noite soprou vento forte, seguido de
go de Cabo Verde. As terras situadas além desse limite chuvarada, colocando em risco as embarcações. Con-
pertenceriam à Espanha. sultados os pilotos, decidiu Cabral sair em busca de
Dom João II morreu em 1495 e coube ao seu suces- local mais abrigado, chegando em Porto Seguro, hoje
sor, Dom Manuel, dar continuidade ao projeto expan- Baía Cabrália. Alguns tripulantes desceram à terra, e não
sionista. Durante sua gestão aconteceu a viagem de conseguiram entender os habitantes, nem por eles
Vasco da Gama, que partiu do Rio Tejo em julho de 1497, ser entendidos, pois falavam uma língua desconhecida.
dobrou o Cabo da Boa Esperança e, em maio de 1498, No dia 26 de abril de 1500, no litoral sul da Bahia, foi
após quase um ano de viagem, chegou a Calicute, na rezada a primeira missa – num domingo de Páscoa –,
Índia. onde foi decidido mandar ao reino, pela [naveta] de
A façanha de Vasco da Gama colocou Portugal em mantimentos, a notícia da descoberta. Nos dias pos-
contato direto com a região das especiarias, do ouro e teriores, os marinheiros ocuparam-se em cortar lenha,
das pedras preciosas, e, como consequência, passou lavar roupa e preparar [aguada], além de trocar pre-
a ser o principal fornecedor de tais produtos na Euro- sentes com os habitantes do lugar. No dia 1o de maio,
pa, abalando seriamente o comércio das repúblicas Pedro Álvares Cabral assinalou o lugar onde foi erigida
italianas. uma cruz, próximo ao que hoje conhecemos como Rio
Mutari. Assentadas as armas reais e erigido o cruzeiro
A DESCOBERTA DO BRASIL em lugar visível, foi erguido um altar, onde Frei Henri-
que de Coimbra celebrou a segunda missa.
Vasco da Gama retornou a Portugal em julho de No dia 2 de maio, a frota de onze navios levantou ân-
1499 sob clima de grande excitação, motivado pela des- coras rumo a Calicute, deixando na praia dois [degre-
coberta da nova rota para as Índias. Pouco depois, a dados], além de outros tantos [grumetes], se não mais,
9 de março de 1500, partiu em direção ao oriente uma que desertaram de bordo. Antes de atingirem o Cabo
portentosa frota de treze navios (dez provavelmente da Boa Esperança, quatro navios naufragaram e des-
eram naus e três navios menores, que seriam caravelas). garrou-se a nau comandada por Diogo Dias, que per-
De seu comandante, Pedro Álvares Cabral, sabe-se correu todo o litoral africano, reencontrando a frota na
que nasceu na vila de Belmonte, em altura de Cabo Verde quando esta retornou.
1467 ou 1468, segundo filho de Fernão Cabral, se- Com seis navios, Cabral alcançou as Índias, em se-
nhor de Belmonte, e de Dona Isabel de Gouveia. Na ju- tembro de 1500. Em Calicute, as negociações foram
ventude teria prestado bons serviços à coroa nas guer- difíceis, surgindo desentendimentos com os indianos,
ras da África. De qualquer modo, sabe-se da dúvida de quando portugueses foram mortos em terra (inclusive
Dom Manuel na escolha do comandante da expedi- o escrivão da armada, Pero Vaz de Caminha) e o porto
ção, que no primeiro momento recaiu sobre Vasco da bombardeado. Em seguida, a Armada ancorou em Co-
Gama. chim e Cananor, onde foi bem recebida, abastecen-
Cabral teria na época cerca de 30 anos e levava con- do-se de especiarias antes da viagem de retorno, ini-
sigo marinheiros ilustres, como Bartolomeu Dias e Ni- ciada no dia 16 de janeiro de
colau Coelho, além de numerosa tripulação, perto de 1501. Em 23 de junho, finalmente, a Armada aden-
1,5 mil homens e oito frades franciscanos, os primeiros trou o Rio Tejo, concluindo sua jornada.
religiosos mandados por Portugal a tais lugares.
Uma das recomendações feitas a Cabral era que ti-
vesse particular cuidado com o sistema de ventos nas
proximidades da costa africana, fruto da experiência de
Vasco da Gama. Na manhã do dia 14 de março, a frota
atingiu as Ilhas Canárias, fazendo 5.8 [nós] de velocidade
média. No dia 22, avistou São Nicolau, uma das ilhas do
Arquipélago de Cabo Verde.
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HISTÓRIA NAVAL
A EXPEDIÇÃO DE 1503/1504
Em 1530, Portugal resolveu enviar ao Brasil uma ex-
Segundo as informações do cronista Damião de pedição comandada por Martim Afonso de Sousa vi-
Góis, essa expedição partiu de Portugal, em 10 de junho sando à ocupação da nova terra. A [Armada] partiu de
de 1503, com seis naus, e novamente foi comandada Lisboa, a 3 de dezembro, com duas naus, um galeão e
por Gonçalo Coelho. Ao chegarem em Fernando de duas caravelas que, juntas, conduziam 400 pessoas. Ti-
Noronha, naufragou a [capitânia]. Nesse local deu- nha a missão de combater os franceses, que continua-
se a separação da frota. Após aguardar por oito dias o vam a frequentar o litoral e contrabandear o pau-bra-
aparecimento do restante da frota, dois navios (num sil; descobrir terras e explorar rios; estabelecer um ou
dos quais se encontrava embarcado Américo Vespúcio) mais núcleos de povoação.
rumaram para a Baía de Todos os Santos, pois assim de- Em 1532, fundou, no atual litoral de São Paulo, a Vila
terminava o regimento real para qualquer navio que se de São Vicente e, logo a seguir – no limite do planalto
perdesse do capitão-mor. que os índios chamavam de Piratininga –, a Vila de Santo
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André da Borda do Campo. Da Ilha da Madeira, Martim O comércio holandês com o Brasil datava quase
Afonso trouxe as primeiras mudas de cana que plantou do início da colonização, da primeira metade do século
no Brasil, construindo na Vila de São Vicente o primeiro XVI. Em 1580, ocorreu a união das coroas de Portugal e
engenho de cana-de-açúcar. Espanha, e o rei da Espanha, Felipe II, passou a ser, tam-
Ainda se encontrava no Brasil quando, em 1532, bém, o rei de Portugal. Os holandeses iniciaram sua
Dom João III decidiu impulsionar a colonização, utili- guerra de independência contra a Espanha no final do
zando a tradicional distribuição de terras. O regime século XVI, mas, mesmo assim, esse comércio continuou,
de capitanias hereditárias consistiu em dividir o Brasil no início do século XVII, intermediado por comerciantes
em imensos [tratos de terra], distribuídos a fidalgos portugueses. Destacavam-se como mercadorias bra-
da pequena nobreza, abrindo à iniciativa privada a co- sileiras o açúcar, o couro, o pau-brasil e o algodão.
lonização. A Holanda era um país de bons comerciantes e
hábeis marinheiros. Os holandeses possuíam uma
Martim Afonso de Sousa retornou a Portugal em
fortíssima consciência marítima e utilizavam seu poder
13 de março de 1533, após ter cumprido de maneira
marítimo com muita competência. Eles não pretendiam
satisfatória sua missão de fincar as bases do processo ficar sem o rico mercado do açúcar brasileiro devido ao
de ocupação das terras brasileiras. conflito com a Espanha e, consequentemente, com
Portugal. Em 1621, eles criaram a West-Indische Com-
pagnie, a Companhia das Índias Ocidentais.
A Companhia das Índias Ocidentais holandesa in-
INVASÕES ESTRANGEIRAS NO BRASIL: vadiu primeiro Salvador, de onde foi expulsa por uma
INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE força naval luso-espanhola cerca de um ano depois,
e, em seguida, Olinda, de onde se expandiu para boa
JANEIRO E NO MARANHAO: RIO DE
parte do Nordeste e onde permaneceu por 24 anos.
JANEIRO; MARANHAO; INVASORES NA FOZ Ocorreram nesse período muitos combates no
DO AMAZONAS: INVAÕES mar e até uma grande batalha naval, a Batalha de 1640,
HOLANDESAS NA BAHIA E EM onde quase cem navios, entre holandeses e luso-es-
PERNAMBUCO; HOLANDESES NA BAHIA; A panhóis, combateram na costa do Nordeste brasileiro.
OCUPAÇÃO DO NORDESTE Nessa luta para expulsar os holandeses, o esforço
BRASILEIRO, A INSURREIÇÃO EM em terra foi fundamental, mas o poder naval português
PERNAMBUCO; A DERROTA DOS foi capaz de manter Salvador como base de operações
HOLANDESES EM RECIFE; CORSARIOS e, com a presença de uma força naval em Pernambuco,
foi possível obter a rendição definitiva dos invasores.
FRANCESES NO RIO DE JANEIRO
No século XVIII, com o envolvimento de Portugal na
NO SÉCULO VXIII, GUERRAS, TRATADOS E Guerra de Sucessão da Espanha, na Europa, o Rio de Ja-
LIMITES NO SUL DO BRASIL neiro foi atacado por dois corsários franceses. Com a
descoberta do ouro das Minas Gerais, no final do sécu-
lo XVII, o Rio de Janeiro vinha se tornando uma cidade
próspera. Mais tarde, ela se tornaria a capital da colônia.
SINOPSE Por seu lado, os portugueses sempre ambicio-
Diversos intrusos e invasores desafiaram os interes- naram atingir as riquezas existentes nas possessões
ses ultramarinos de Portugal durante os séculos XVI e espanholas do oeste sul-ameri cano. Eles desejavam
XVII. Os franceses foram os primeiros e, desde o início apossar-se da região do Rio da Prata, pois isso possibi-
do século XVI, navios de armadores franceses frequen- litaria o acesso às minas de prata de Potosi, na Bolívia. A
tavam a costa brasileira, comerciando com os nativos ocupação espanhola dessa região foi, portanto, fun-
os produtos da terra: pau-brasil (utilizado para tingir damental para deter os interesses portugueses. Mes-
tecido); peles de animais selvagens; papagaios e ma- mo assim, por ela, a prata boliviana foi contrabandeada
cacos; resinas vegetais e outros. Portugal reagiu en- para o Brasil.
viando expedições guarda-costas e, depois, iniciando Buscando expandir seus domínios em direção ao sul
do Brasil e alcançar sua meta, Portugal rompeu formal-
a colonização do Brasil.
mente com o antigo Tratado de Tordesilhas, assinado
Esse início da colonização pelos portugueses criou
com os espanhóis em 1494, quando, em janeiro de 1680,
dificuldades para os franceses, mas logo eles tentaram o governador do Rio de Janeiro, Dom Manuel Lobo, fun-
estabelecer duas colônias: em 1555, no Rio de Janeiro, dou, na margem esquerda do Rio da Prata, a Colônia do
e em 1612, no Maranhão. Portugal reagiu às duas inva- Santíssimo Sacramento. Esse fato desencadeou uma sé-
sões projetando seu poder naval, com bom êxito, para rie de desentendimentos, lutas e tratados de limites com
expulsar os invasores. a Espanha que se estenderiam por mais de um século, em
Na foz do Rio Amazonas vamos encontrar ingleses, que o emprego do poder naval português foi muito im-
holandeses e irlandeses que haviam estabelecido fei- portante, como veremos neste capítulo.
torias privadas, e foi preciso empregar a força para ex- Naveguemos, portanto, na luta de nossa integri-
pulsá-los. dade territorial.
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HISTÓRIA NAVAL
INVASÕES FRANCESAS NO RIO DE JANEIRO E NO MA- objetos e forneciam o pau-brasil, que cortavam na
RANHÃO floresta e traziam para a colônia, e alimentos. Os tupi-
Essas duas invasões não foram iniciativas do governo nambás lutaram bravamente ao lado dos franceses,
da França, cuja estratégia estava voltada para seus in- pois detestavam os portugueses, que eram amigos de
teresses na própria Europa, mas sim iniciativas privadas. outros índios, seus inimigos.
Em ambas faltou o apoio do Estado francês, no momen- A reação portuguesa somente ocorreu por inter-
to em que, atacadas pelos portugueses, necessitaram médio do governador Mem de Sá, em 1560. Portugal
de socorro. Já a colonização do Brasil foi um interesse de desistira da via diplomática para a solução dos proble-
Portugal, que pretendia proteger a rota de seu comér- mas com os franceses.
cio com as Índias. Todos os recursos do Estado portu- Mem de Sá atacou o Forte de Coligny com uma força
guês estavam disponíveis para expulsar os invasores e naval (soldados e índios) que trouxera da Bahia e arra-
proteger os núcleos de colonização portuguesa. sou-o. Depois partiu para São Vicente sem deixar uma
guarnição na Guanabara.
RIO DE JANEIRO Os franceses fugiram para o continente, abrigan-
Em 1553, Nicolau Durand de Villegagnon foi nomea- do-se junto a seus aliados tupinambás e, logo depois
do Vice-Almirante da Bretanha. Assim tomou conheci- que os portugueses se foram, restabeleceram suas
mento do comércio francês com o Brasil e desenvolveu fortificações.
um plano para fundar uma colônia na Baía de Guanabara, Mem de Sá concluiu que era necessário ocupar
onde habitavam nativos da tribo Tupinambá, aliados definitivamente o Rio de Janeiro para garantir a ex-
dos franceses. O rei da França, Henrique II, aprovou esse pulsão dos invasores. Dessa vez enviou, em 1563, seu
plano de iniciativa privada, prometeu apoio, forneceu sobrinho Estácio de Sá à testa da nova força naval, com
financiamento e dois navios do rei para a viagem. ordens para fundar uma povoação na Baía de Guana-
Villegagnon chegou à Baía de Guanabara em 1555. bara e derrotar definitivamente os franceses.
Instalou o núcleo da colônia – que chamou de França An- Estácio de Sá obteve a participação de uma tribo
tártica –, na ilha que atualmente tem seu nome, e cons- tupi, inimiga dos tupinambás do Rio de Janeiro, os te-
truiu uma fortificação, dando-lhe o nome de Forte de miminós, liderados por Araribóia. Participaram, tam-
Coligny. A ilha era pequena e não tinha água, mas era bém, como aliados dos portugueses, índios da tribo
uma excelente posição de defesa. Em terra firme, perto tupiniquim de Piratininga, trazidos de São Vicente.
do atual Morro da Glória, instalou uma olaria para fabricar Estácio de Sá fundou a cidade de São Sebastião do
tijolos e telhas, fez plantações e deu início a uma povoa- Rio de Janeiro, em 1565, entre o Morro Cara de Cão e o
ção, que chamou de Henryville, homenageando o rei da Pão de Açúcar. Era um local apertado, mas protegido
França, Henrique II. A povo ação em terra firme, porém, pelos morros, de fácil defesa e de onde se contro-
não teve bom êxito e o progresso da colônia, como um
lava a entrada da barra da Baía de Guanabara. Sem
todo, deixou a desejar.
dúvida, o melhor lugar para poder cumprir sua missão.
Villegagnon, que já mostrara sua bravura e compe-
Logo começaram a combater os franceses e os tu-
tência como militar em diversas ocasiões, encontrou
pinambás. Houve grandes combates, inclusive um de
muitas dificuldades para recrutar as pessoas certas para
canoas nas águas da baía e um ataque ao atual Morro
sua colônia. Um núcleo de colonização precisa de sa-
da Glória, onde Estácio de Sá foi ferido por uma flecha,
pateiros, alfaiates, barbeiros, carpinteiros, oleiros, pe-
no rosto, vindo a falecer em consequência desse feri-
dreiros, médicos, soldados e muitos outros. Sem eles
mento.
haveria falta de coisas necessárias à sobrevivência na
colônia. Além disso, é funda mental a presença de bons Derrotados na Guanabara, os franceses e seus
agricultores para que não faltem alimentos e produtos aliados tentaram, ainda, estabelecer uma resistência
para o comércio externo. na cidade de Cabo Frio, mas acabaram vencidos. Os
As pessoas que vieram com Villegagnon formavam, franceses que se renderam foram enviados em navios
porém, um grupo heterogêneo em muitos aspec- para a França.
tos: católicos e protestantes (em uma época de sérios
conflitos religiosos), soldados escoceses e ex-presi diá- MARANHÃO
rios (caracterizando extremos de aceitação de discipli- Os franceses continuaram com o tráfico marítimo
na). A pior falha, no entanto, foi a presença de poucas na costa brasileira. Seu eixo de atuação, porém, des-
mulheres européias no grupo, o que fez com que muitos locou-se para o Norte, ainda sem povoações portu-
colonos procurassem as mulheres índias. Isso era difícil guesas. Após diversas ações na costa do Brasil, esta-
para Villegagnon entender, devido à sua formação reli- beleceram-se, em pequeno número, em diversos
giosa de Cavaleiro de Malta, com voto de castidade, que pontos do litoral Norte. Desde o final do século XVI, o
não admitia o sexo fora do casamento. Maranhão passou a ser um local regularmente fre-
Os franceses contavam com a amizade dos tupi- quentado por navios franceses. Na atual Ilha de São
nambás. Eles comerciavam com os franceses por meio Luís havia uma pequena povoação de franceses, em
de trocas (escambo) – recebiam machados, facas, te- boa convivência com os índios, também tupinambás,
souras, espelhos, tecidos coloridos, anzóis e outros que habitavam o local.
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HISTÓRIA NAVAL
Em 1612, partiu da França uma expedição que cons- INVASÕES HOLANDESAS NA BAHIA E EM PERNAMBUCO
tituía uma tentativa séria da iniciativa privada para es- HOLANDESES NA BAHIA
tabelecer uma colônia no Brasil. O destino era o Ma- A invasão holandesa de Salvador (BA) foi planeja-
ranhão. A expedição era chefiada pelos sócios François da pela Companhia das Índias Ocidentais com o pro-
de Razilly, Daniel de la Touche de la Ravardière e o Barão pósito de lucro, a ser obtido, principalmente, com a
de Sancy, com poderes de tenentes-generais do rei exploração da agroindústria do açúcar. Levantado o
da França. Quando chegaram, construíram o Forte de capital para o empreendimento, os holandeses reu-
São Luís. niram uma relativamente poderosa força naval de 26
Na França, o bom relacionamento com a Espanha navios, 1,6 mil marinheiros e 1,7 mil soldados. O co-
fez com que o governo não colaborasse significativa- mando coube ao Almirante Jacob Willekens.
mente com recursos para o reforço da colônia. Em 1614, Os navios dessa força partiram de diversos portos
uma força naval, comandada pela primera vez por um da Holanda e reuniram-se em uma das ilhas do Arqui-
brasileiro, Jerônimo de Albuquerque, chegou ao Ma- pélago de Cabo Verde. No dia 8 de maio de 1624, eles
ranhão para combater os franceses. chegaram à Baía de Todos os Santos. No dia seguinte,
No Maranhão os portugueses iniciaram a constru- iniciaram o ataque a Salvador.
ção de um forte, que chamaram Santa Maria. Logo os Os holandeses atacaram os fortes que defendiam
franceses fizeram uma [sortida] e se apoderaram de a cidade, e os navios que transportavam tropas se diri-
três dos navios que estavam funde ados. Animados com giram para o Porto da Barra, onde, após calarem o For-
o bom êxito alcançado, resolveram, uma semana de- te de Santo Antônio, desembarcaram um contingente
pois, atacar o forte português. Planejaram um ataque que avançou na direção da cidade.
simultâneo de tropas. Os portugueses, no entanto, O governador português resistiu, mas, como não
foram mais rápidos e contra-atacaram separadamen- tinha recursos suficientes e a população havia aban-
te, com vigor, as duas forças francesas, vencendo-as. donado a cidade, acabou se rendendo. A cidade foi
Apesar de os franceses terem um navio de maior por- saqueada. Somente alguns dias depois organizou-se
te, o Regente, e as três presas portuguesas, além de ain- a reação contra os invasores.
da contarem com os tupinambás, resolveram propor Estabelecidos em Salvador, os holandeses foram,
um armistício, para conseguir reforços na França ou obter aos poucos, diminuindo os efetivos de sua força naval,
solução diplomática. Os portugueses aceitaram. com a partida de diversos navios.
A trégua também era favorável aos portugueses, Soube-se da perda de Salvador, cerca de dois me-
que obtiveram reforços no Brasil. La Ravardière não ses e meio depois, em Lisboa e Madri. As notícias che-
conseguiu novamente o apoio de seu governo e o gavam à Europa levadas por navios. Logo, o governo
tratado de paz em vigor, naquele momento, previa luso-espanhol começou a preparar uma grande força
que, em casos como esse, os riscos e os perigos cabiam naval para recuperar a colônia antes que a companhia
aos particulares, sem que a paz entre os Estados fosse holandesa consolidasse sua conquista. Na Holanda,
perturbada. Além do mais, o rei de Portugal não ratificou sabendo-se dos preparativos luso-espanhóis, acele-
a trégua e ordenou que se expulsassem os franceses rou-se a prontificação dos reforços que deveriam ga-
do Maranhão. Providenciou reforços e mandou, em se- rantir a ocupação da Bahia.
guida, o governador de Pernambuco organizar uma A preparação de forças navais que projetassem
nova expedição. O comando coube a Alexandre de poder a tão longa distância exigia enorme esforço. Era
Moura. necessário planejamento cuidadoso de considerá-
Os franceses foram cercados no Maranhão, por mar veis recursos financeiros, materiais e huma nos. A força
e por terra, e, sem esperança de reforços, para evitar deveria ser composta de navios de diferentes tipos. Os
que os portugueses os tratassem como piratas, ren- galeões eram os principais navios de guerra da épo-
deram-se, em 1615. ca. As naus e as urcas eram navios mercantes armados
com 10 a 20 canhões, o que lhes possibilitava, também,
INVASÕES NA FOZ DO RIO AMAZONAS emprego militar. As caravelas, pequenas, nem sempre
Após a ocupação do Maranhão, os portugueses com canhões, eram muito empregadas para desem-
resolveram dirigir sua atenção para os invasores da foz barcar tropas. Havia ainda diversos outros navios me-
do Rio Amazonas, enviando uma expedição que fun- nores, como [patachos], iates velozes e embarcações
dou o Forte do Presépio, origem da cidade de Belém, que complementavam a capacidade das forças navais.
para servir de base para suas ações militares. De lá, eles Considerando as populações da época – a Holan-
passaram a atacar os estabelecimentos ingleses, ho- da teria cerca de 1,5 milhão de habitantes e Portugal
landeses e irlandeses, enforcando os que resistiam e ainda menos – não era fácil conservar em segredo a
escravizando as tribos de índios que os apoiavam. Essa preparação de uma força naval. Espiões mantinham as
violência e a criação de uma flotilha de embarcações cortes européias bem informadas e seus informes eram
(que agia permanentemente na região, apoiando avaliados e utilizados para preparar contra-ofensivas.
as ações militares e patrulhando os rios) garantiram o Ocorreram verdadeiras corridas de forças navais para al-
bom êxito e asseguraram a posse da Amazônia Orien- cançar a costa brasileira. Chegar primeiro podia ser uma
tal para Portugal. vantagem decisiva.
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HISTÓRIA NAVAL
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HISTÓRIA NAVAL
aproximadamente, e estavam fundeados na Baía de rios e alimentares, tinha como incentivo a possibilidade
Tamandaré. Lichthardt [investiu à barra] com oito navios de fazer presas, havendo participação da tripulação
holandeses e foi abordar os navios portugueses den- no resultado financeiro da venda dos navios e das car-
tro da baía. gas apresadas.
A resistência se limitou ao bravo Serrão de Paiva e a
poucos homens de seu navio. A maioria dos marinhei- A DERROTA DOS HOLANDESES EM RECIFE
ros e soldados portugueses se lançou ao mar, nadan- Em 1949 os holandeses foram novamente derro-
do para a praia. Seguiu-se uma verdadeira carnificina de tados em terra na segunda Batalha de Guararapes.
fugitivos e uma consequente derrota fragorosa, com Apesar de ainda terem o domínio do mar, iniciou-se, em
muitos mortos, prisioneiros, inclusive o Serrão de Paiva seguida, grande deterioração do ânimo do pessoal
ferido, e navios queimados ou apresados e levados embarcado, com motins, destituições de comandan-
para o Recife. Os documentos e a correspondência si- tes e navios que regressaram para a Holanda amoti-
gilosa, comprometedores quanto ao envolvimento nados.
das autoridades portuguesas na revolta, caíram nas Em fevereiro de 1650, a primeira frota portuguesa
mãos dos holandeses. da Companhia do Comércio do Brasil, com 18 navios de
Com o domínio do mar novamente assegurado, guerra, chegou ao Brasil. Não tinha ordens para atacar
os holandeses puderam movimentar suas tropas de o Recife. Dom João IV ainda temia uma guerra com a
reforço, sem risco de oposição no mar. Assim, puderam Holanda na Europa e preferiu manter a situação infor-
organizar ataques para diminuir a pressão que os in- mal no Brasil, procurando obter resultados por meio
surretos já exerciam sobre seus principais pontos es- de negociações diplomáticas e da guerra de insurrei-
tratégicos. ção. Perdia-se, novamente, uma oportunidade, pois
Em fevereiro de 1647, os holandeses atacaram, os holandeses, já sitiados em terra, não mais contavam
pelo mar, e ocuparam a Ilha de Itaparica. O propósito era com a força naval de De With.
ameaçar Salvador. Em abril de 1650, o Recife recebeu o reforço de doze
O ataque a Itaparica incentivou Dom João IV a ini- navios holandeses, o que permitiu recuperar o do-
ciar a preparação de uma força naval para enviar ao Brasil. mínio do mar e bloquear o Cabo de Santo Agostinho,
Dom João IV designou Antônio Teles de Menezes local por onde as forças de terra luso-brasileiras rece-
comandante da Armada de Socorro do Brasil, fazen- biam suas provisões. A força do Conde de Vila Pouca de
do-o Conde de Vila Pouca de Aguiar e nomeando-o Aguiar ainda estava em Salvador, porém, com ordem de
governador e capitão-general do Estado do Brasil, em somente entrar em combate se atacada. No final de
substituição a Teles da Silva. Compunha-se essa esqua- 1650, partiu para Portugal.
dra de 20 navios: 11 galeões, 1 urca, 2 naus, 2 [fragatas] Por décadas, o poder marítimo holandês havia pre-
e 4 navios menores. ponderado nos oceanos, mas, em meados do século
A missão da esquadra do Conde de Vila Pouca de XVII, reapareceu a concorrência séria da Grã-Bretanha,
Aguiar não era expulsar os holandeses de Pernambu- que teve como consequência a Guerra Anglo-Holande-
co, ou atacar o Recife, mas, sim, proteger Salvador e sa, de 1652 a 1654. Tornou-se, portanto, inviável para os
expulsar os invasores da Ilha de Itaparica. A perda de holandeses manter o domínio do mar permanente na
Salvador seria, sem dúvida, desastrosa para Portugal e costa do Brasil.
para a causa dos revoltosos. Em dezembro de 1653, uma frota portuguesa che-
Na Holanda, sabendo-se da Armada portuguesa gou ao Brasil. O comandante da frota, Pedro Jaques
de Socorro do Brasil, organizou-se uma força naval sob o de Magalhães, decidiu bloquear o Recife e apoiar os
comando do ViceAlmirante Witte Corneliszoon de With. revoltosos luso-brasileiros. As posições holandesas
Os navios holandeses saíram aos poucos dos por- foram, sucessivamente, sendo conquistadas, e a ren-
tos e, somente em março de 1648, alcançaram o Re- dição do Recife finalmente ocorreu no final de janeiro
cife. Encontraram uma situação muito desfavorável de 1654.
e indefinições sobre a ação a tomar no mar. As forças O longo êxito dos holandeses no Brasil foi resultan-
holandesas tinham se retirado de Itaparica e somente te do esmagador domínio do mar que conseguiram
restava em poder da Companhia, além do Recife, a Ilha manter durante quase todo o período da ocupação.
de Itamaracá e os Fortes do Rio Grande do Norte e da Mesmo quando o Recife já estava cercado e era inviável
Paraíba. vencer em terra, ainda conseguiram, por longos anos,
Em 19 de abril de 1648, travou-se a Primeira Batalha suprir a cidade por mar.
dos Guararapes e os holandeses, mais numerosos e
com a fama de estarem entre os melhores soldados CORSÁRIOS FRANCESES NO
da Europa de então, foram derrotados no campo de RIO DE JANEIRO NO SÉCULO XVIII
batalha escolhido pelos luso-brasileiros.
Restava para a Companhia agir no mar, bloquean- A França utilizou a estratégia de empregar corsá-
do os portos brasileiros e atacando pontos do litoral. rios para, por meio de ações que visavam ao lucro, causar
O bloqueio, apesar de exigir dos marinheiros longas danos nos mares a seus inimigos. Eles não eram piratas,
estadas no mar, com consequentes problemas sanitá- pois tinham uma carta de corso, que lhes dava a autori-
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HISTÓRIA NAVAL
zação real para agir. Tinham, portanto, o direito de ser Em Portugal, o recebimento da notícia do assédio
tratados como prisioneiros de guerra, enquanto os espanhol à colônia lusa levou o rei a ordenar o preparo
piratas, se apanhados, podiam ser enforcados. de uma força naval, constituída de duas naus e uma fra-
As riquezas do Rio de Janeiro emergente atraíram gata. Essa força partiu de Lisboa em março de 1736. Ao
a cobiça de dois franceses. O primeiro foi Duclerc, que chegar ao Rio de Janeiro, recebeu reforços e a ela se
foi derrotado depois de invadir a cidade. O segundo juntou o Brigadeiro Silva Paes, com ordens de socorrer a
foi Duguay-Trouin, que veio com uma considerável for- Colônia de Sacramento e, se possível, reconquistar
ça naval, conquistou a Ilha das Cobras, depois o Mor- Montevidéu (fundada e abandonada pelos luso
ro da Conceição e, de lá, logrou ocupar a cidade que, -brasileiros e novamente fundada pelos espanhóis) e
ameaçada de ser incendiada, rendeu-se. Saqueou o fortificar o Rio Grande de São Pedro.
Rio de Janeiro e somente o deixou após receber res- A força naval portuguesa no Prata combateu os es-
gate. panhóis, apoiou a Colônia de Sacramento e estabele-
ceu o domínio do mar na região. Após alcançar esses
GUERRAS, TRATADOS E LIMITES NO SUL DO BRASIL objetivos, parte dessa força regressou ao Rio de Janeiro.
O Brigadeiro Silva Paes permaneceu no Sul e, após
A fronteira do Sul do Brasil demorou a ser definida ameaçar um ataque a Montevidéu – que não ocorreu
devido à ferrenha disputa travada entre Portugal e devido ao grande risco dos navios ficarem encalhados
Espanha, que tinham interesse em dominar a estraté- naquela baía –, decidiu partir para o Rio Grande de
gica região platina. Assim, para consolidar o domínio da São Pedro e cumprir a missão de fortificá-la. Ao chegar,
região, os dois reinos travaram diversas batalhas – nas tratou Silva Paes de organizar suas defesas e mandou
quais o poder naval de ambos os lados foi muito em- construir o forte que denominou Jesus, Maria e José.
pregado – e vários acordos foram firmados. A fronteira Estavam assim criadas as condições para o início da po-
sul do Brasil mudou então diversas vezes, conforme o voação dessa região, que recebeu mais tarde casais
estipulado em cada novo acordo assinado entre as açorianos para ocupar a terra.
duas coroas, ficando conhecida como a fronteira do Procurando solucionar suas questões de limites,
vai-e-vem. Portugal e Espanha resolveram assinar, em 1750, o
Tratado de Lisboa (1681) – Já no primeiro ano Tratado de Madri, que, entre outras medidas, esta-
de sua fundação, em 1680, a Colônia de Sacramento beleceu a posse da Colônia de Sacramento para Espa-
foi atacada e recon quistada aos espanhóis pelo go- nha e a de Sete Povos das Missões para Portugal. A troca
estabelecida pelo tratado não foi efetuada, pois os
vernador de Buenos Aires, sendo devolvida aos por-
índios que viviam nas Missões se recusaram a deixar o
tugueses em 1683, após a assinatura do Tratado de
local, empreendendo resistência armada, levando os
Lisboa, em 1681.
luso-espanhóis a responder com ação militar conjunta
Tratado de Utrecht (1715) – A morte do rei da Es-
que, em 1756, por meio da força, permitiu a ocupação
panha Carlos II, em novembro de 1700, levou as maiores
da região.
potências europeias a engajarem-se no conflito que
Tratado do Pardo (1761) – Celebrado entre por-
ficou conhecido como Guerra da Sucessão da Espanha,
tugueses e espanhóis, anulou os efeitos do Tratado
que durou quase 15 anos e teve seus reflexos esten-
de Madri e estabeleceu que a Colônia de Sacramento
didos para o continente americano. Nesse conflito, voltasse a ser de Portugal. Durante a Guerra dos Sete
Portugal e Espanha ficaram em lados opostos e, como Anos (1756-1763), Portugal e Espanha voltaram a ficar
consequência, a Colônia de Sacramento foi novamen- em lados opostos quando, em 1761, a Espanha assi-
te ocupada pelos espanhóis em 1705. O tratado foi nou um tratado de aliança com a França, o que levou a
celebrado em 1715 entre as duas nações – legitimou Grã-Bretanha a declarar guerra aos espanhóis. Como
a presença portuguesa na região do Prata com a resti- consequência, Portugal, que apoiava os britânicos, foi
tuição aos lusos da Colônia de Sacramento. invadido, em 1762, por forças hispânicas e, consequen-
Tratado de Madri (1750) O conflito ocorrido en- temente, a guerra se propagou para o Sul do Brasil.
tre as cortes portuguesa e espanhola, entre 1735 e O espanhol Dom Pedro Antônio Cevallos tinha am-
1737, motivou a terceira investida hispânica sobre bicioso proje to de dominação do Sul do Brasil e pre-
a Colônia de Sacramento. Cumprindo ordem do go- parou-se militarmente para atacar a Colônia de Sa-
vernador de Buenos Aires, em junho de 1735, navios cramento, recebendo reforços da Espanha em navios,
espanhóis já empreendiam bloqueio marítimo à colô- material de artilharia e munição.
nia lusa, enquanto 4 mil soldados realizavam sítio A Colônia de Sacramento dispunha, para sua de-
por terra. fesa, de uma pequena tropa, que não excedia 500 ho-
No Rio de Janeiro, o governador interino, Brigadei- mens, e o Governador Vicente da Silva Fonseca res-
ro José Silva Paes, preparou e enviou, às pressas, uma pondia às intimações de Cevallos procurando ganhar
força naval para socorrer a colônia. Assim que chegou tempo, enquanto aguardava reforços. Em outubro de
à região do Prata, essa força naval dissipou o bloqueio 1762, a Colônia de Sacramento foi atacada pela quarta
que os navios espanhóis vinham impondo à Colônia de vez e, não obstante a resistência oferecida pelos por-
Sacramento. tugueses, capitulou.
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HISTÓRIA NAVAL
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HISTÓRIA NAVAL
1808, Dom João, à testa de uma força naval composta POLÍTICA EXTERNA DE DOM JOÃO E A ATUAÇÃO DA
por três naus, um [bergantim] e um transporte, entrou MARINHA: A CONQUISTA DE CAIENA
na Baía de Guanabara. A bordo também vinham os in- Diante da invasão do território continental portu-
tegrantes da Brigada Real da Estandarte dos Fuzileiros guês pelas tropas do General Junot, Dom João as-
Navais sinou, em 1o de maio de 1808, manifesto declarando
Marinha, encarregados da artilharia e da defesa guerra à França, considerando nulos todos os trata-
dos navios. dos que o imperador dos franceses o obrigara a assi-
Vamos ver neste capítulo o que ocorreu quanto nar. Os limites entre o Brasil e a Guiana Francesa voltaram
ao estabelecimento da Marinha na Corte e a política a ser questionados.
externa de Dom João, caracterizada pela invasão da Como a guerra não poderia ser levada a cabo no
capital da Guiana Francesa, Caiena, e a ocupação da território europeu, e sendo importante a ocupação
Banda Oriental, atual Uruguai. de território inimigo em qualquer guerra, o objetivo
No campo interno, veremos a Revolta Nativista de ideal se tornou a colônia francesa. A Corte determinou
1817, movimento separatista ocorrido em Pernam- ao capitão-general da Capitania do Grão-Pará, Te-
buco, onde a Marinha atuou na sua repressão, blo- nente-Coronel José Narciso Magalhães de Mene-
queando o porto do Recife. ses, que ocupasse militarmente as margens do Rio
Com o retorno de Dom João VI para Portugal, per- Oiapoque. Ordem recebida, tratou de arregimentar
maneceu no Brasil seu filho Dom Pedro, que passou pessoal e material, valendo-se, inclusive, (diante dos
a sofrer pressão vinda da Corte de Portugal para que escassos recursos existentes nos cofres da capitania)
regressasse a Lisboa. Como consequência, temos o de subscrição popular.
Dia do Fico (9/1/1822) e, posteriormente, após novas Em outubro de 1808 a força estava pronta, sob
pressões, Dom Pedro proclama a nossa Indepen- o comando do Tenente-Coronel Manuel Marques
dência. d’Elvas Portugal. Para conduzir essa força ao lugar de
Para concretizar a Independência e levar a todos destino, aprestou-se uma [esquadrilha] composta por
dez embarcações. Em 3 de novembro, a esquadrilha foi
os recantos do litoral brasileiro a notícia do dia 7 de
acrescida de três navios vindos da Corte, um deles, o
setembro, foi necessário organizar uma força naval
[brigue] Infante D. Pedro, estava sob o comando do Ca-
capaz de atingir todas as províncias e fazer frente aos
pitão-Tenente Luís da Cunha Moreira. Juntos traziam
focos de resistência à nova ordem.
um reforço de 300 homens. Tinham ordens de ocupar
Vamos, então, iniciar esta viagem.
o território da Guiana Francesa e submeter Caiena.
Em 1o de dezembro, desembarcaram as nossas
A VINDA DA FAMÍLIA REAL
tropas no território inimigo. Quatro escunas francesas
A CORTE NO RIO DE JANEIRO
foram aprisionadas, incorporadas e rebatizadas de Lu-
Juntamente com a Família Real, todo o aparato
sitana, D. Carlos, Sydney Smith e Invencível Meneses.
burocrático e administrativo foi transferido para o Rio O governador de Caiena, Victor Hughes, tratou,
de Janeiro. Entre as primeiras decisões de Dom João, em vão, de preparar a resistência, levantando baterias,
já no dia 11 de março de 1808, está a instalação do Mi- fortificando os melhores pontos estratégicos e guar-
nistério dos Negócios da Marinha e Ultramar, que con- necendo os fortes. As forças de ataque foram ganhan-
tinuou a ter o mesmo regulamento instituído pelo do terreno, apertando cada vez mais o cerco à capital
Alvará de 1736. Caiena, até sua rendição final, em 12 de janeiro de 1809.
A seguir, foram sucessivamente criadas ou esta- A importância dessa operação recai na condição de
belecidas várias repartições necessárias ao funcio- ter sido o primeiro ato consistente de política externa
namento do Ministério da Marinha, tais como: Quar- de Dom João realizado por meio militar, contando com
tel-General da Armada, Intendência e Contadoria, forças navais e terrestres anglo-luso-brasileiras.
Arquivo Militar, Hospital de Marinha, Fábrica de Pólvora A ocupação portuguesa da Guiana Francesa du-
e Conselho Supremo Militar. rou mais de oito anos. Embora temporária, a ocupação
A Academia Real de Guardas-Marinha, hoje Escola da Guiana Francesa foi da maior valia para a fixação dos
Naval, que também acompanhou a Família Real, teve limites do País, porquanto, na ocasião de sua devolu-
sua instalação nas dependências do Mosteiro de São ção, em 1817, ficaram tacitamente estabelecidos os
Bento, tornando-se, desta feita, o primeiro estabele- limites do Oiapoque.
cimento de ensino superior no Brasil.
No tocante à infraestrutura já existente no Rio de A BANDA ORIENTAL
Janeiro, observamos que o Arsenal Real da Marinha, Outro movimento importante de Dom João na
localizado então ao pé do morro do Mosteiro de São política externa foi a ocupação da Banda Oriental. Na
Bento, cuja criação data de 29 de dezembro de 1763, ocupação, foi de grande importância o papel que de-
teve sua capacidade ampliada para poder apoiar a sempenhou a Marinha, não só no transporte das tro-
recém-chegada Esquadra. pas, desde Portugal (já liberado do domínio francês),
como também em todo o desenrolar da ocupação.
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HISTÓRIA NAVAL
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HISTÓRIA NAVAL
constitucionalista. O estado revolucionário da antiga do, e a maior parte das tropas defenderam o pacto
metrópole provocou o retorno do rei em 26 de abril com Lisboa. A situação geral que se descortinava pa-
de 1821, deixando seu filho Dom Pedro como príncipe recia cada vez mais desfavorável para o processo de
regente. Tentava, assim, a dinastia de Bragança, man- independência. Mesmo que as forças brasileiras, cons-
ter sob controle, e longe dos ventos liberais, as duas tituídas de militares e milícias patrióticas, no interior,
partes de seu reino. forçassem e mesmo sitiassem as guarnições portu-
Mesmo com o retorno do rei, as Cortes reunidas guesas, o mar era uma via aberta para o recebimento
em Lisboa mantiveram-se atuantes na imposição de de reforços. Assim, Portugal reforçou com tropas, su-
uma monarquia constitucional a Dom João VI. Contu- primentos e navios de guerra a guarnição de Salvador
do, o posicionamento das Cortes em relação ao Brasil comandada pelo governador das Armas da Província,
era completamente contrário ao seu discurso liberal: Brigadeiro Inácio Luís Madeira de Melo.
vinha no sentido de reativar a subordinação política e
econômica, reerguendo o pacto colonial. A oposição A FORMAÇÃO DE UMA ESQUADRA BRASILEIRA
que as Cortes faziam à dinastia de Bragança em Portu- O governo brasileiro, constituído por José Bonifá-
gal e suas crescentes imposições ao príncipe regente cio, percebeu que só o domínio do mar manteria a uni-
provocaram reações de Dom Pedro. Em 9 de janeiro de dade da ex-colônia portuguesa, pois as ligações en-
1822, no que ficou conhecido como Dia do Fico, Dom tre as províncias litorâneas, onde estava concentrada
Pedro declarou que permaneceria no Brasil, apesar a maior parte da população e da força produtiva brasi-
da determinação das Cortes para que retornasse à leira, eram inteiramente pelas vias marítimas, ao longo
Lisboa. Concomitantemente, o príncipe nomeou um de um extenso litoral de mais de 8 mil quilômetros.
novo Gabinete de Ministros, sob a liderança de José A rápida formação de uma Marinha de Guerra na-
Bonifácio de Andrada e Silva, que defendia a emanci- cional constituía-se no melhor meio de transportar e
pação do Brasil sob uma monarquia constitucional en- concentrar tropas leais e suprimentos para as áreas
cabeçada pelo príncipe regente. de embate com os portugueses, com a rapidez e a
A pressão das Cortes pela restauração do pacto segurança que os caminhos terrestres não permitiam.
colonial, com o consequente esvaziamento das suas Ainda, esse conjunto de navios de guerra, a Esquadra,
atribuições de regente, levaram Dom Pedro a defen- promoveria o bloqueio aos portos das cidades bra-
der a autonomia brasileira perante a restauração da sileiras ocupadas pelos portugueses, impedindo
condição de colônia pretendida pelas Cortes. a chegada de reforços da metrópole e isolando as
guarnições portuguesas de ressuprimentos vindos
A INDEPENDÊNCIA por mar, bem como fustigando-as com o fogo dos ca-
Em 7 de setembro de 1822, o Príncipe Dom Pe- nhões embarcados.
dro declarava a Independência do Brasil. Porém, só as O nascimento da Marinha Imperial se deu nesse re-
províncias do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais gime de urgência, aproveitando os navios deixados no
atenderam de imediato à conclamação emanada das porto do Rio de Janeiro pelos portugueses, em mau
margens do Ipiranga. Até pela proximidade geográfi- estado de conservação, e os oficiais e praças da Ma-
ca, estas mantiveram-se fiéis às decisões emanadas rinha portuguesa que aderiram à Independência. Os
do Paço, mesmo após a partida de Dom João VI. As navios foram reparados, em um intenso trabalho do
capitais das províncias ao Norte do País mantiveram sua Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, e foram adquiri-
ligação com a metrópole, pois as peculiaridades da na- dos outros, tanto pelo governo como por subscrição
vegação a vela e a falta de estradas as punham mais pública. E as lacunas encontradas nos corpos de oficiais
próximas desta do que do Rio de Janeiro. Mormente e praças foram completadas com a contratação de es-
o expressivo número de patriotas no interior dessas trangeiros, sobretudo experientes remanescentes da
províncias, nas capitais e nas poucas principais cidades, Marinha inglesa. A necessidade de dispor da Força
as elites de comerciantes era majoritariamente portu- Naval como eficiente elemento operativo e como fator
guesa e adepta da restauração colonial pretendida de dissuasão para as pretensões de reconquista portu
pelo movimento liberal português. Durante a queda- guesa fez com que o governo imperial contratasse
de-braço empreendida entre as Cortes e Dom Pedro, Lorde Thomas Cochrane, um brilhante e experiente ofi-
foram reforçadas as guarnições militares das capita- cial de marinha inglês, como Comandante-em-Chefe da
nias do Norte e Nordeste para manter a vinculação Esquadra.
com Lisboa.
A resistência mais forte estava justamente em Sal- OPERAÇÕES NAVAIS
vador, Bahia, onde essa guarnição era mais numerosa. Em 1o de abril de 1823, a Esquadra brasileira co-
No Sul, a recém-incorporada Província Cisplatina viu as mandada por Cochrane deixava a Guanabara com
guarnições militares, que lá ainda estavam, dividirem- destino à Bahia, para bloquear Salvador e dar combate
se perante a causa da independência. Enquanto o às forças navais portuguesas que lá se concentravam
comandante das tropas de ocupação, General Carlos sob o comando do Chefe-de-Divisão Félix dos Campos.
Frederico Lecor, colocou-se ao lado dos brasileiros, seu A primeira tentativa de dar combate aos navios portu-
subcomandante, Dom Álvaro da Costa de Souza Mace- gueses foi desfavorável a Cochrane, tendo enfrenta-
16
HISTÓRIA NAVAL
do, além do inimigo, a indisposição para luta dos ma- CONFEDERAÇÃO DO EQUADOR
rinheiros portugueses nos navios da Esquadra, muitos Ainda no reinado de Dom Pedro I, uma revolta na
dos quais guarneciam os canhões com uma inabilidade Província de Pernambuco colocou em perigo a integri-
próxima ao motim. Depois de reorganizar suas forças e dade territorial do Império. A Marinha atuou contra a
expurgar os elementos desleais, e a despeito das For- Confederação do Equador a partir de abril de 1824. Po-
ças Navais portuguesas, Cochrane colocou Salvador rém, o aumento do combate à revolta só se deu com o
sob bloqueio naval, capturando os navios que realiza- envio da Força Naval comandada por Cochrane, onde
vam o abastecimento da cidade, já sitiada por terra pe- foi embarcada a 3ª Brigada do Exército Imperial, com
las forças brasileiras. 1,2 mil homens, comandada pelo Brigadeiro Francis-
Pressionadas pelo desabastecimento, as tropas co Lima e Silva. As tropas seriam desembarcadas em
portuguesas abandonaram a cidade em 2 de julho, Alagoas e seguiriam por terra para a província rebela-
num comboio de mais de 70 navios, escoltados por 17 da, enquanto a Força Naval alcançava o Recife, em 18
navios de guerra. Este foi acompanhado e fustigado de agosto de 1824, instituindo severo bloqueio naval.
pela Esquadra brasileira, destacando-se a atuação da Com a Marinha e o Exército atuando conjuntamente, as
fragata Niterói, comandada pelo Capitão-de-Fraga- forças rebeldes do Recife foram derrotadas em 18 de
ta John Taylor, que, apresando vários navios, atacou o setembro.
comboio português até a foz do Rio Tejo.
O próximo passo para a expulsão dos portugueses
do Norte-Nordeste brasileiro era o Maranhão, onde A ATUAÇÃO DA MARINHA NOS
Cochrane, utilizando-se de um hábil ardil, fez da nau Pe- CONLFITOS DA REGENCIA E DO INICIO DO
dro I, sua capitânia, a ponta de lança de uma grande SEGUNDO REINADO
força naval que viria próxima, transportando um vulto-
so exército nacional que tomaria São Luís. Porém, tudo
não passava de um blefe para levar à deposição da junta
governativa que se mantinha fiel a Lisboa, o que acon- SINOPSE
teceu em 27 de julho de 1823. A peculiar independência brasileira, que pôs à frente
Seguiu-se a utilização do mesmo ardil no Pará, con- do processo de emancipação da ex-colônia o herdeiro
duzido pelo Capitão-Tenente John Pascoe Grenfell, do trono real português, produziu uma divisão na polí-
no comando do brigue Maranhão. Tais blefes, que con- tica brasileira que marcaria o reinado de Dom Pedro I: a
duziram à aceitação da Independência brasileira pelas separação entre brasileiros, os liberais, que defendiam
elites, formadas em sua maioria de portugueses, em a monarquia constitucional, e portugueses, que pro-
São Luís e em Belém, não se deram tão facilmente, como punham a maior concentração de poder nas mãos do
um vislumbre superficial do evento histórico permite imperador.
concluir. A luta pelo poder provincial entre brasileiros O Imperador D. Pedro I tornava-se cada vez mais
nativos e portugueses recém-adeptos da Indepen- autoritário, buscando o apoio da facção dos portu-
dência levou a que o contingente da Marinha, naque- gueses que defendia maior poder ao monarca. Já a
las cidades, atuasse tanto num sentido apaziguador, facção dos brasileiros queria que o poder do Estado
mesmo diplomático, como trazendo a ordem pela brasileiro fosse dividido entre o imperador e a Assem-
força das armas. bleia Legislativa, constituída de representantes elei-
As operações navais na Cisplatina assemelharam- tos da sociedade, que redigiria a Carta Constitucional
se às realizadas na Bahia, sendo empreendido um e faria as leis. Ou seja, defendiam que a monarquia de
bloqueio naval conjugado com um cerco à Montevi- Dom Pedro fosse uma monarquia constitucional.
déu, isolando as tropas portuguesas comandadas por A Assembleia Constituinte foi reunida para redigir
Dom Álvaro Macedo. Em março de 1823, a Força Naval a primeira Constituição brasileira. Contudo, a maioria
no Sul, comandada pelo Capitão-de-Mar-e-Guerra dos deputados constituintes queria uma Constituição
Pedro Antônio Nunes, foi reforçada com a chegada que limitasse os poderes do imperador. Tal fato desa-
de mais navios vindos das vitórias no Norte-Nordeste do gradava a Dom Pedro e aos homens que o apoiavam,
Império, a tempo de se opor à tentativa portuguesa já que o monarca queria no Brasil uma monarquia ab-
de romper o bloqueio em 21 de outubro. A batalha solutista, como seu pai, Dom João, reinou em Portugal.
que se seguiu, embora violenta, terminou sem a vitória O conflito entre Dom Pedro e os deputados cons-
de nenhum dos oponentes, mas configurou-se como tituintes acabou quando o imperador dissolveu a As-
uma vitória estratégica das forças brasileiras com a ma- sembleia Constituinte em 1823. Em seguida, nomeou
nutenção do bloqueio. O desabastecimento provo- um Conselho de Estado, composto por dez membros,
cado pelo bloqueio e pelo cerco por terra, somado à com a tarefa de redigir um projeto de Constituição. O
desalentadora notícia que Montevidéu era a última re- resultado é que impôs uma Constituição, outorgada
sistência portuguesa na ex-colônia, provocou a eva- em 1824, que praticamente resgatava o regime abso-
cuação do contingente português da Cisplatina, em lutista. A atitude autoritária do imperador aumentou
novembro de 1823. em muito a oposição liberal a ele, representada pelo
Partido Brasileiro.
17
HISTÓRIA NAVAL
Foram vários anos de disputa política entre os Par- A Marinha também cumpriu ações de bloqueio
tidos Português e Brasileiro e de críticas cada vez mais nos portos ocupados pelos rebeldes nas províncias,
violentas ao imperador, vindas dos políticos do Partido evitando que recebessem qualquer abastecimento
Brasileiro e de todos os que defendiam que o poder do vindo do mar, como armas e munições desviadas de
Estado não ficasse tão concentrado nas mãos de Dom outras províncias ou compradas no estrangeiro. Final-
Pedro. Também desagradava muito aos brasileiros mente, militares da Marinha Imperial atuaram diversas
naturais a influência que os portugueses, que haviam vezes em desembarques, lutando com grupos rebe-
aderido à nacionalidade brasileira com a independên- lados lado a lado com tropas do Exército, da Guarda
cia, tinham perante o imperador. Os nativos brasileiros Nacional e milicianos.
acusavam os portugueses de monopolizar o comércio Os dois grandes conflitos externos em que o Impé-
com o exterior. rio brasileiro se envolveu, desde sua independência
O embate entre portugueses e brasileiros na As-
até o início das hostilidades que levariam à guerra con-
sembleia Geral Legislativa transparece na imprensa,
tra o Paraguai, foram a Guerra Cisplatina, entre 1825 e
que ataca o imperador e vai para as ruas, onde partidá-
rios do imperador entram em choque com defensores 1828, e a Guerra contra Manuel Oribe e Juan Manuel de
do Partido Brasileiro. Preocupava Dom Pedro I não so- Rosas, em 1850 e 1852. A área marítimo-fluvial em que
mente a oposição a seu reinado, que crescia entre os se desenrolou a grande maioria das operações navais
brasileiros, mas também a situação política em sua terra desses dois conflitos, separados no tempo por quase
natal, Portugal, onde ele próprio e seus descendentes um quarto de século, foi a mesma, o grande estuário
tinham direitos sobre o trono. do Rio da Prata, que separa o Uruguai da Argentina. Foi
Em 7 de abril de 1831, Dom Pedro I abdicou do trono com as forças militares dessas duas repúblicas que o
em favor de seu filho, Dom Pedro de Alcântara, então Império brasileiro lutou.
com cinco anos de idade. Enquanto o herdeiro não ti- Na Guerra Cisplatina, Brasil e as Províncias Unidas
nha idade para assumir o trono, instalou-se no Brasil um do Rio da Prata, atual Argentina, lutaram pela posse ou
governo regencial. O Poder Executivo seria compos- influência no território uruguaio, ainda não indepen-
to por três membros, uma regência trina, conforme dente. Nessa guerra, que custou muito à economia de
determinava a Carta Constitucional. Posteriormente, um país recém-formado como o Brasil, a Marinha lutou
a regência seria constituída de uma só pessoa, a re- longe de sua base principal, o Rio de Janeiro, contra
gência una. a Marinha argentina que, embora menor, atuava muito
No período regencial, o conturbado ambiente perto de sua principal base de apoio, Buenos Aires, e
político da Corte se refletiu nas províncias do Império,
conhecendo muito um teatro de operações repleto
em movimentos armados que explodiram por todos os
de obstáculos naturais à navegação, o Rio da Prata.
principais centros regionais, desde 1831 até os anos de
consolidação do reinado de Dom Pedro II. A Marinha da A Marinha Imperial brasileira, além das atividades de
Independência e da Guerra Cisplatina, constituída por abastecimento das tropas em combate, operou de
elevado número de navios de relativo grande porte, modo ofensivo no Rio da Prata. A Força Naval brasileira
foi sendo transformada em uma Marinha de unidades efetuou um bloqueio naval sobre Buenos Aires, visan-
menores, próprias para enfrentar as conflagrações do a isolar a capital adversária de abastecimento vindo
nas províncias e também de acordo com as limitações do exterior e impedir que embarcações argentinas
orçamentárias. transportassem tropas e armamento para reforçar
Revoltas deflagradas em diversas províncias foram argentinos e orientais que lutavam contra as tropas
abafadas pelo governo regencial com a utilização da brasileiras no território uruguaio.
Marinha e do Exército. A Marinha se fez mais presente Além do bloqueio, a Força Naval brasileira comba-
nos combates no Pará (Cabanagem), no Rio Grande do teu a Esquadra argentina até seu desmembramento,
Sul (Guerra dos Farrapos ou Revolução Farroupilha), na privando o adversário do principal e primeiro braço do
Bahia (Sabinada), no Maranhão e no Piauí (Balaiada) e Poder Naval. Os navios da Marinha que não foram deslo-
em Pernambuco (Revolta Praieira), esta já anos após a cados para aquela guerra não deixaram de se envolver
coroação de Dom Pedro II. no conflito. A Marinha defendeu as linhas de comuni-
Em todas essas revoltas, a Marinha não enfrentou cação marítimas, dando combate aos corsários ar-
nenhum grande inimigo no mar. Embora na Guerra dos
mados pela Argentina e pelos rebeldes uruguaios que
Farrapos os rebeldes tenham formado uma pequena
atacavam a navegação mercante brasileira ao longo
flotilha de embarcações armadas, que foi prontamente
combatida e vencida. A Marinha se fez presente no rá- de toda a nossa costa.
pido transporte de tropas do Exército Imperial da Cor- A próxima guerra em que o Brasil se envolveria no
te e de outras províncias até as províncias conflagradas. Rio da Prata seria contra Juan Manuel de Rosas, ditador
Também dependeu do transporte por mar, em gran- argentino, e Manuel Oribe, presidente da República
de parte realizado pela Marinha, o abastecimento das Oriental do Uruguai e líder do Partido Blanco. Tendo
tropas que lutavam nas províncias rebeladas, pois não como seus aliados os governadores das províncias ar-
existiam estradas que ligassem a Corte às províncias do gentinas de Entre Rios e Corrientes e o Partido Colo-
Norte e do Sul. rado uruguaio, o Império brasileiro se interpôs a uma
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HISTÓRIA NAVAL
tentativa de união de seus vizinhos do sul, que enfra- mar aberto, mas em águas restritas, como as Lagoas dos
queceria a posição brasileira no Rio da Prata e se torna- Patos e Mirim. O primeiro combate naval da Guerra dos
ria uma ameaça na fronteira do Rio Grande do Sul, há Farrapos opôs o Iate Oceano, da Marinha Imperial, e o
pouco pacificado e impedido de se separar do Brasil Cúter Minuano, dos revoltosos, na Lagoa Mirim, quando
na Guerra dos Farrapos. o navio rebelde foi posto a pique.
Coube à Marinha um grande momento nesse cur- A pequena Força Naval que os farroupilhas manti-
to conflito: a Passagem de Tonelero. Pela primeira vez nham na Lagoa dos Patos foi completamente vencida
se utilizando de navios a vapor em um conflito externo, a em agosto de 1839, quando o Chefe-de-Divisão John
Força Naval brasileira ultrapassou, em ávida troca de fo- Pascoe Grenfell, comandante das Forças Navais no Rio
gos, o ponto fortificado adversário no Rio Paraná, o Pas- Grande, apresou dois lanchões rebeldes em Cama
so de Tonelero, e conduziu as tropas aliadas rio acima, quã. A rebelião rio-grandense estendeu-se para San-
para uma posição de desembarque favorável, onde foi ta Catarina, onde os farroupilhas formaram uma pe-
possível o ataque e a posterior vitória sobre as tropas quena Força Naval com navios mercantes apresados
adversárias. e lanchões remanescentes das operações nas Lagoas
dos Patos e Mirim, que foi vencida pela Marinha em um
combate no porto de Laguna. Foi nesse conflito regio-
CONFLITOS INTERNOS nal que, pela primeira vez, a Marinha brasileira empre-
CABANAGEM gou um navio movido a vapor em operações de guerra.
SABINADA
A primeira sublevação ocorrida contra a Regência
foi a Cabanagem, no Pará, que se generalizou em 1835
com a ocupação da capital da província, Belém. O gover- A Sabinada, revolta que eclodiu contra a autori-
no central enviou uma força interventora constituída de dade da Regência na Bahia, em novembro de 1837, foi
elementos da Marinha e do Exército Imperial que, após combatida pela Marinha Imperial com o bloqueio da
uma primeira tentativa frustrada de reconquistar a ca- província e o combate a uma diminuta Força Naval mon-
pital, desembarcou e a ocupou sem a resistência dos tada pelos rebeldes com navios apresados.
rebeldes. Contudo, os cabanos retomaram o fôlego A revolta foi finalmente sufocada em 1838.
para a luta com o crescimento da revolta no interior e
retomaram a capital em agosto de 1835.
Durante todo o conflito, as forças legais atuaram BALAIADA
contra focos rebeldes espalhados por um território
inóspito e desconhecido, a floresta amazônica. A Ma-
rinha bloqueou o porto de Belém, dificultando o seu A Balaiada, agitação que tomou conta das Provín-
abastecimento, mas também bombardeou posições cias do Maranhão e do Piauí, entre 1838 e 1841, reuniu
rebeldes, desembarcou tropas do Exército e embre- a população pobre e os escravos contra as autorida-
nhou-se nos rios amazônicos para dar combate aos des constituídas da própria província. Em agosto de
mais isolados focos de revolta. 1839, seguiu para o Maranhão o Capitão-Tenente Joa-
O desgaste que as forças militares impuseram aos quim Marques Lisboa, futuro Marquês de Tamandaré,
cabanos levou ao abandono da capital em maio de nomeado comandante da Força Naval em operação
1836. A luta se estendeu até 1840, com a ação conjunta contra os insurretos.
da Força Naval e das tropas do Exército debelando a re- Após estudar a região, armou pequenas embar-
sistência dos cabanos por todo o Pará. cações que, enviadas para diversos pontos dos prin-
cipais rios maranhenses, combateriam os rebeldes
isoladamente ou apoiariam forças em terra. A partir de
GUERRA DOS FARRAPOS 1840 e até o final da Balaiada, o Capitão-Tenente Joa-
quim Marques Lisboa atuaria em cooperação com o
então Coronel Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Du-
A Guerra dos Farrapos, rebelião no Sul do Império, que de Caxias, que comandava a Divisão Pacificadora
que durou dez anos, de 1835 a 1845, atingiu uma re- do Norte, reunida para debelar a revolta. A união dos
gião de fronteira já conturbada por conflitos exter nos. futuros patronos das forças singulares de mar e terra no
A Marinha novamente atuaria em cooperação com o combate à Balaiada simboliza uma situação recorrente
Exército no transporte e no abastecimento das tropas em todos os conflitos internos durante a Regência e
e apoiando ações em terra com o fogo dos canhões o Segundo Império: a atuação conjunta da Marinha e
embarcados. do Exército na manutenção da ordem constituída e da
Porém, na Guerra dos Farrapos, os navios de guerra unidade do Império.
estiveram envolvidos em pequenos combates navais
com os farroupilhas. Os combates não ocorreriam em
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Nos primeiros meses da guerra, o bloqueio naval O comandante da Esquadra argentina, William
imposto pela Esquadra brasileira provocou o primeiro Brown, reuniu sua capitânia, a fragata 25 de Mayo, e dois
embate entre as forças navais. O Combate de Colares brigues em uma audaciosa ação para capturar navios
ocorreu em 9 de fevereiro de 1826, quando a Esquadra que se dirigissem a Montevidéu, tentando aumentar
argentina, composta de 14 navios, deixou seu ancora- o tamanho de sua Esquadra e tomar alguma carga
douro para empreender uma ação de desgaste à Força de valor dos navios mercantes. Em 10 de abril de 1826,
Naval brasileira em bloqueio, também composta de 14 conseguiu capturar a pequena escuna Isabel Maria.
navios. As forças navais adversárias, dispostas em colu- No dia seguinte, ao perseguir um navio mercante,
nas, trocaram tiros de canhão a grande distância uma a fragata 25 de Mayo aproximou-se tanto do por-
da outra, causando perdas humanas e avarias materiais to de Montevidéu que foi reconhecida por navios da
reduzidas de parte a parte. A Esquadra argentina se Esquadra brasileira, mesmo arvorando a bandeira
retirou para o refúgio de Los Pozos e a Força Naval brasileira francesa.
foi fundear entre os Bancos de Ortiz e Chico. Saiu em sua perseguição a fragata Niterói, coman-
O passo posterior do comandante das forças ar- dada pelo hábil Capitão-de-Mar-e-Guerra James
gentinas teria consequências muito mais significativas Norton, ambos, navio e comandante, veteranos
para os destinos da guer ra no mar e em terra, se bem-su- das Guerras da Independência e recém chegados
cedido. Seu alvo era a Colônia de Sacramento, uma praça para reforçar a Força Naval brasileira no Rio da Prata.
fortificada situada na margem esquerda do Rio da Prata Acompanharam a perseguição à capitânia argenti-
e guarnecida por 1,5 mil homens, chefiados pelo Briga- na quatro outros pequenos navios, mas o combate
deiro Manoel Jorge Rodrigues, complementados por se concentrou nos navios de maior porte, com a fra-
uma pequena força de quatro navios, comandada pelo gata Niterói trocando disparos com a fragata 25 de
Capitão-de-Fragata Frederico Mariath. Sete navios da Mayo e com um dos brigues que a acompanhavam.
Esquadra argentina, capitaneados pela fragata 25 de Com o cair da noite, os navios argentinos, com graves
Mayo, romperam o bloqueio brasileiro ao largo de Bue- avarias, retiraram-se para Buenos Aires, dando por
nos Aires e fizeram vela para a Colônia de Sacramento, encerrado o embate que ficou conhecido como o
simultaneamente aquela praça era cercada por tropas. Combate de Montevidéu.
Devido ao maior poder de combate da Força Naval Em primeiro plano a fragata Niterói, à direita o navio
argentina, perante a flotilha brasileira que defendia a capitânia argentino, a fragata 25 de Mayo, no momento
Colônia, as tripulações e os canhões dos navios brasilei- em que perde o joanete do mastro grande. Aquarela do
ros foram desembarcados e incorporados às defesas Almirante Trajano Augusto de Carvalho (Acervo SDM)
de terra. Em 26 de fevereiro de 1826, os navios argentinos Esquadra com navios brasileiros capturados. Ten-
e as tropas de cerco iniciaram o bombardeio, respondi- cionava abordar e capturar a fragata Niterói, o mes-
do pelas fortificações da Colônia do Sacramento, que inu- mo navio que frustrou sua incursão anterior. Na noite
tilizaram um dos navios adversários. Repelido o primeiro de 27 de abril, sete navios argentinos rumaram para
ataque, os defensores da Colônia do Sacramento envia- próximo de Montevidéu, onde os navios brasileiros se
ram uma escuna para pedir auxílio às forças navais brasi- reuniam, e tentaram identificar seu alvo. Enganados
leiras estacionadas em Montevidéu, esperando que o pela escuridão, investiram contra a fragata Imperatriz
socorro chegasse mais rápido àquela praça sitiada. que, tendo percebido a aproximação do inimigo, se
Contudo, o Vice-Almirante Rodrigo Lobo não acudiu preparou para o combate. Os navios argentinos 25
de imediato à cidade acossada pelo inimigo. Na noite de Mayo e Independencia tentaram a abordagem,
de 1o de março, a Força Naval argentina, reforçada por mas foram repelidos pela tripulação da Imperatriz.
seis canhoneiras, tentou desembarcar 200 homens O comandante do navio brasileiro, Capitão-de-Fra-
naquela praça. Depois de severa luta, os atacantes ar- gata Luís Barroso Pereira, liderou seus homens na re-
gentinos foram repelidos, com a perda de duas canho- nhida luta até tombar mortalmente ferido no convés,
neiras e muitos homens, não sem antes conseguirem atingido por disparos do inimigo. Foi uma das duas
incendiar um dos nossos navios. Os navios argentinos vítimas fatais da Imperatriz no combate.
só desistiram do cerco em 12 de março, escapando da Em 3 de maio de 1826, a Esquadra comandada por
Esquadra brasileira, que chegara com atraso em defesa Brown foi avistada pelos navios brasileiros quando
de Sacramento. tentava escapar do bloqueio naval ao seu porto. Os
Uma das missões da Esquadra argentina era justa- navios argentinos tentaram alcançar o Banco de Ortiz,
mente a manutenção do abastecimento dos exércitos na esperança de atrair os perseguidores, que, com
que lutavam na Província Cisplatina. Como obstáculo, navios de maior porte, encalhariam naquele banco
antepunha-se a Esquadra brasileira, comandada pelo de areia, tornando-se alvos imóveis para seus ca-
Almirante Rodrigo Lobo que, apesar da ineficiência desse nhões.
início de bloqueio naval (pelos primeiros embates na- O Combate do Banco de Ortiz acabou sem gran-
vais da guerra, observa-se que a Esquadra argentina des perdas para ambos os adversários, mas mos-
movimentava-se com relativa facilidade), mantinha-se trou o perigo que os bancos de areia do estuário
superior em número às forças navais comandadas por do Rio da Prata representavam para as esquadras em
Brown. luta.
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As grandes perdas argentinas no Combate de Em 1851, o governo brasileiro procedeu uma aliança
Monte Santiago, em abril de 1827, ratificaram a opção com o governo legal uruguaio e com um oposicionista
pela guerra de corso. Durante todo o conflito, as Provín- de Rosas, o governador da Província argentina de Entre
cias Unidas armaram corsários. Rios, Justo José de Urquiza, para defender o Uruguai do
A guerra de corso, empreendida contra nosso co- ataque das forças de Rosas e Oribe.
mércio marítimo (à época, como hoje, essencial para a A ação da Marinha novamente seria realizada em
economia nacional), foi mais efetiva contra o esforço de estreita colaboração com o Exército Imperial. O coman-
guerra brasileiro do que as ações da Esquadra argen- do da Força Naval foi entregue ao Chefe-de-Esquadra
tina. A operação ofensiva que a Marinha Imperial bra- John Pascoe Grenfell, veterano das lutas da Indepen-
sileira realizou com o bloqueio naval no Prata coexistiu dência e na Cisplatina.
com a ação defensiva na vigilância das extensas águas Somente com a intervenção da força terrestre, as
territoriais brasileiras, defendendo nosso comércio ma- tropas que cercavam Montevidéu capitularam. Manuel
rítimo dos corsários. Oribe estava derrotado. A Esquadra brasileira, dispos-
O combate aos corsários foi mais efetivo no blo- ta ao longo do Rio da Prata, impediu que as tropas
queio naval empreendido a outra de suas “bases”, a vencidas pudessem evacuar para a margem direita, o
localizada no Rio Salado. Outros corsários foram ba- lado argentino.
tidos no mar pela Marinha Imperial, como o brigue Ni- Tendo pacificado o Uruguai, a força brasileira e seus
ger, capturado em março de 1828 e o brigue General aliados platinos voltaram-se contra Rosas, que man-
Brandsen, destruído por navios brasileiros após longa tinha-se como uma ameaça à estabilidade da re-
campanha de corso. gião. Nessa nova ação militar, coube à Marinha a tarefa
A indefinição da campanha terrestre e o esgota- de transportar as tropas aliadas pelo Rio Paraná até a
mento econômico e militar de ambos os contendo- localidade de Diamante, para ali desembarcá-las.
res levou o Brasil a aceitar a mediação da Grã-Bretanha A Força Naval brasileira, composta por quatro navios
para o fim da guerra. A Convenção Preliminar de Paz foi com propulsão a vapor e três navios a vela, tinha como
assinada entre o Império do Brasil e as Províncias Unidas obstáculo o Passo de Tonelero, nas proximidades da
do Rio da Prata, em 27 de agosto de 1828. O acordo es- Barranca de Acevedo, onde o inimigo instalara uma for-
tipulava que ambos os lados renunciariam a suas pre- tificação guarnecida por 16 peças de artilharia e 2,8 mil
tensões sobre a Banda Oriental, que se tornaria um país homens. Devido à pouca largura do rio naquele trecho,
independente como República Oriental do Uruguai. os navios brasileiros seriam obrigados a passar a me-
O término da Guerra Cisplatina não seria o fim dos nos de 400 metros daquela fortificação, recebendo o
conflitos na região. A Marinha Imperial brasileira perma- peso da artilharia inimiga. A solução encontrada pelo
neceria guarnecendo a segurança do Império do Bra- Chefe-de-Esquadra Grenfell foi o emprego conjunto
sil no Rio da Prata. dos navios a vela e a vapor na operação de transposição
daquele obstáculo.
Os navios a vela, mais artilhados (pois tinham artilha-
GUERRA CONTRA ORIBE E ROSAS ria postada por todo seu costado, substituída nos na-
vios a vapor pelas rodas laterais), foram rebocados pe-
los navios a vapor, mais rápidos e ágeis nas manobras.
Tonelero foi vencida em 17 de dezembro de 1851,
Terminada a longa revolta que sublevou as Províncias com as tropas desembarcando em Diamante com su-
do Rio Grande e de Santa Catarina, o Império brasilei- cesso.
ro pôde retomar a vigilância na fronteira Sul e ater-se Naquela localidade, os navios a vapor auxiliaram
ao conflito que crescia na área do Rio da Prata. Mesmo também na transposição do rio pelas tropas oriundas
com o fim da Guerra Cisplatina e a inde pendência da das províncias argentinas aliadas que tinham marchado
República Oriental do Uruguai, as lideranças políticas até aquela posição.
argentinas continuavam com a pretensão de restituir o O Exército de Buenos Aires foi derrotado pelas tro-
mando de Buenos Aires sobre o território do Vice-Rei- pas brasileiras e de seus aliados platinos, em feverei-
nado do Prata. ro de 1852, e a Passagem de Tonelero representou a
O projeto de anexação do Uruguai ao território ar- única operação ofensiva realizada pela Marinha Imperial
gentino encontrou seus executores em Juan Manuel de naquele conflito.
Rosas, liderança máxima da Confederação Argentina Contudo, o emprego da Força Naval no transporte
desde 1835, e em Manuel Oribe, líder do partido de de tropas para a área do conflito e, notadamente de-
oposição ao governo uruguaio, o Partido Blanco. pois de Tonelero, na transposição das tropas aliadas da
O Império brasileiro, que se opunha frontalmente à margem uruguaia para território argentino, no Rio da
anexação, apoiava o governo constituído do Uruguai, Prata e no Rio Paraná, constituiu fator essencial para o
exercido pelo Partido Colorado. A situação política no sucesso das ações militares desenvolvidas pelos alia-
Uruguai aproximava-se a de uma guerra civil, com tro- dos contra Rosas e Oribe.
pas partidárias de Oribe e apoiadas por Rosas cercan-
do a capital, Montevidéu.
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HISTÓRIA NAVAL
Os paraguaios desenvolveram a chata com canhão Da extremidade sul do Rincão de Lagraña, que tem
como arma de guerra. Era um barco de fundo chato, sem uma barranca mais elevada, os paraguaios podiam
propulsão, com canhão de seis polegadas de calibre, que atirar, de cima, sobre os conveses dos navios brasileiros
era rebocado até o local de utilização, onde ficava fun- que escapassem, descendo o Rio Paraná. O local era
deado. Transportava apenas a guarnição do canhão e perfeito para uma armadilha, pois o canal navegável era
sua borda ficava próximo da água, deixando à vista um estreito e tortuoso, com risco de encalhe em bancos
reduzidíssimo alvo. Via-se somente a boca do canhão submersos, o que forçava as embarcações a passarem
acima da superfície da água. próximo à margem esquerda.
Discriminadas as forças, sigamos então no conflito. Na noite de 10 para 11 de junho de 1865, a Força Naval
A seguir serão destacados os pontos de maior relevân- brasileira, comandada por Barroso, constituída pela
cia da nossa Força Naval. fragata Amazonas e pelos vapo res Jequitinhonha, Be-
beribe, Parnaíba, Mearim, Araguari, Iguatemi e Ipiranga,
O BLOQUEIO DO RIO PARANÁ E estava fundeada ao sul da cidade de Corrientes, pró-
A BATALHA NAVAL DO RIACHUELO xima à margem direita, em um trecho largo do rio. De
lá avistaram, pouco de pois das oito horas da manhã, a
Foi designado comandante das Forças Navais Bra- força paraguaia comandada pelo Capitão-de-Fragata
sileiras em Operação o Almirante Joaquim Marques Lis- Pedro Inácio Mezza, com os navios: Tacuary, Paraguary,
boa, Visconde de Tamandaré. A estratégia naval ado- Igurey, Ipora, Jejuy, Salto Oriental, Marquês de Olinda e Pi-
tada foi a de negar o acesso ao território paraguaio rabebe, rebocando seis chatas artilhadas.
através do Alertada, a Força Naval brasileira se preparou para
bloqueio. Tamandaré, logo no início, tratou tam- o iminente combate, as tripulações assumindo seus
bém de organizar a difícil logística que o teatro de postos, despertando o fogo das fornalhas das caldei-
operações exigia. Os rios eram as principais vias de co- ras com carvão e largando as [amarras].
municação da região, e navios e embarcações teriam Às 9h25min, dispararam-se os primeiros tiros de
de transportar suprimentos para as tropas, carvão para artilharia. Passou, logo em seguida, a força paraguaia,
servir como combustível dos próprios navios e, muitas
em coluna, pelo [través] da brasileira, ainda imobilizada,
vezes, soldados, cavalos e armamento.
indo, logo depois, rio abaixo, para as proximidades da
Com o avanço das tropas paraguaias ao longo do Rio
margem esquerda, logo após o local onde estavam as
Paraná, ocupando a Província de Corrientes, Tamanda-
baterias de terra. Fechou-se a armadilha em uma ex-
ré resolveu designar seu Chefe de Estado Maior, o Che-
tensão de uns seis quilômetros, ao longo de um trecho
fe-de-Divisão Francisco Manoel Barroso da Silva, para as-
do Rio Paraná, junto à foz do Riachuelo.
sumir o comando da Força Naval brasileira, que subira o
Pouco tempo depois, a coluna brasileira, com o
rio para efetivar o bloqueio do Paraguai. Ele queria mais
ação. Barroso partiu em 28 de abril de 1865, na fragata Belmonte à frente, seguido pelo Jequitinhonha e por
Amazonas, e assumiu o cargo em ataque à cidade de outros navios, avistou as barrancas de Santa Catalina.
Corrientes, então ocupada pelos paraguaios. O de- Barroso resolveu deter a Amazonas, reservando
sembarque das tropas aliadas em Corrientes ocorreu -a para interceptar uma possível fuga dos paraguaios
com bom êxito, no dia 25 de maio. rio acima. Alguns navios brasileiros não entenderam a
Não era, sabidamente, possível manter a pos- manobra e ficaram indecisos. Como consequência, o
se dessa cidade na retaguarda das tropas invasoras, Jequitinhonha encalhou num banco, sob as baterias
principalmente naquele momento da luta, em que os de terra, e o Belmonte, à frente, prosseguiu sozinho,
paraguaios mantinham ofensiva vitoriosa, e foi preciso, recebendo o fogo concentrado da artilharia do inimigo
logo depois, evacuá-la. e tendo de encalhar, propositadamente, após com-
Mas o ataque deteve o avanço paraguaio para o Sul. pletar a passagem, para não afundar, devido às avarias
Ficou evidente que a presença da Força Naval brasileira sofridas em combate.
deixava o flanco direito dos invasores, que se apoiava no Para reorganizar sua força naval, Barroso avançou
Rio Paraná, sempre muito vulnerável. Para os paraguaios, com a Amazonas, assumiu a liderança dos navios que
era necessário destruí-la e isso levou Solano López a pla- estavam a ré do Belmonte e, seguido por eles, comple-
nejar a ação que levaria à Batalha Naval do Riachuelo. tou a passagem, sob o fogo dos canhões paraguaios e
Os preparativos para o ataque aos navios brasilei- da fuzilaria de terra. Afastou-se, depois, descendo o Rio
ros foram realizados sob a orientação direta do próprio Paraná com apenas seis dos seus nove navios, porque o
López. O plano consistia em surpreender os navios bra- Parnaíba, com o leme avariado, também não consegui-
sileiros fundeados, abordá-los e, após a vitória, rebo- ra passar. Completou-se assim, às 12h10min, a primeira
cá-los para Humaitá. Por isso, os navios paraguaios esta- fase da batalha.
vam superlotados com tropas. Então, Barroso mostrou toda a sua coragem, de-
Tirando o máximo proveito do terre no ao longo do cidindo regressar para o interior da armadilha de Ria-
Rio Paraná, ele mandou assentar canhões nas barran- chuelo. Foi necessário descer o rio até um lugar onde o
cas da Ponta de Santa Catalina, que fica imediatamente canal permitia fazer a volta com os navios e, cerca de uma
antes da foz do Riachuelo, e reforçar com tropas de in- hora depois, ele estava novamente em frente à ponta
fantaria o Rincão de Lagraña, que lhe fica a jusante. sul do Rincão de Lagraña.
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HISTÓRIA NAVAL
Até aquele instante, o resultado era altamente couraçados] encomendados no exterior. Compro-
insatisfatório para o Brasil. O Belmonte fora de ação, o meteu, também, a situação das tropas invasoras e,
Jequitinhonha encalhado, para sempre, e o Parnaíba pouco tempo depois, a guerra passou para o terri-
sendo abordado e dominado pelo inimigo, apesar da tório paraguaio.
resistência heroica de brasileiros, como o Guarda-Mari- Barroso, sem dúvida, foi o responsável pelo bom êxi-
nha Guilherme Greenhalgh e o Marinheiro Marcílio Dias, to de sua Força Naval em Riachuelo. O futuro Barão de
que lutaram até a morte. Teffé declarou que o vira, da Araguari, em plena bata-
Tirando vantagem do porte da Amazonas e contan- lha, destemido, expondo-se sobre a [roda] da Ama-
do com a perícia do prático argentino que tinha a bor- zonas, com a barba branca, que deixara crescer, ao
do, Barroso usou seu navio para abalroar os paraguaios vento, e sentira por ele grande respeito e admiração.
e vencer a batalha. Foi um improviso, seu navio não tinha A cidade de Corrientes continuava ocupada pelo
esporão, nem a proa propositadamente reforçada inimigo e a Força Naval brasileira, que mostrara sua pre-
para ser empregada como aríete. sença, fundeada próxima a ela, precisou iniciar, alguns
Repetindo aqui as próprias palavras do Chefe-de- dias após o 11 de junho, a descida do rio, que estava
Divisão Barroso, na parte que transmitiu ao Visconde baixando.
de Tamandaré, assim se deu a batalha (grafia de época): Barroso passou com seus navios por Mercedes e
– “....Subi, minha resolução foi de acabar de uma vez, Cuevas, enfrentando a artilharia paraguaia, e somen-
com toda a esquadra paraguaya, que eu teria consegui- te regressou passados alguns meses, apoiando o
do se os quatro vapores que estavam mais acima não avanço das tropas aliadas, que progrediam aprovei-
tivessem fugido. Pus a proa sobre o primeiro, que o es- tando o recuo do inimigo.
cangalhei, ficando inutilisado completamente, de agoa Tudo levava à ilusão de que a Tríplice Aliança vence-
aberta, indo pouco depois ao fundo. Segui a mesma ria a guerra em pouco tempo, mas tal não ocorreu.
manobra contra o segundo, que era o Marques de Olin- O que parecia fácil estagnou. O Paraguai era um país
da, que inutilisei, e depois o terceiro, que era o Salto, que mobilizado para a guerra que, aliás, foi ele que iniciou,
ficou pela mesma fórma. Os quatro restantes vendo a achando que tinha vantagens.
manobra que eu praticava e que eu estava disposto a fa- Humaitá ainda era uma fortaleza inexpugnável
zer-lhes o mesmo, trataram de fugir rio acima. Em segui- enquanto não estivessem disponíveis os novos meios
mento ao terceiro vapor destruí do, aproei a uma chata que navais que estavam em obtenção pelo Brasil: os navios
com o choque e um tiro foi a pique. encouraçados.
Exmº Sr. Almirante, todas estas manobras eram feitas Para avançar ao longo do Rio Paraguai, era neces-
pela Amazonas, debaixo do mais vivo fogo, quer dos na- sário vencer diversas passagens fortificadas, desta-
vios e chatas, como das baterias de terra e mosquetaria cando-se, inicialmente, Curuzu, Curupaiti e Humaitá.
de mais de mil espingardas. A minha tenção era destruir Navios oceânicos de calado inapro priado para nave-
por esta forma toda a Esquadra Paraguaya, do que andar gar em rios, de casco de madeira, sem couraça, como
para baixo e para cima, que necessariamente mais cedo os da Força Naval brasileira que combatera em Ria-
ou mais tarde havíamos de encalhar, por ser naquela loca- chuelo, não teriam bom êxito. Era evidente que o Brasil
lidade o canal mui estreito. necessitava de navios encouraçados para o prosse-
Concluída esta faina, seriam 4 horas da tarde, tratei guimento das ações de guerra. Os obstáculos e as
de tomar as chatas, que ao approximar-me delas eram fortificações de Humaitá eram séria ameaça, mesmo
abandonadas, saltando todos ao rio, e nadando para para esses navios.
terra, que estava a curta distância.
O quarto vapor paraguayo Paraguary, de que ainda não NAVIOS ENCOURAÇADOS
falei, recebeu tal rombo no costado e caldeiras, quando E A INVASÃO DO PARAGUAI
desceram, que foi encalhar em uma ilha em frente, e toda a
gente saltou para ela, fugindo e abandonando o navio”. Eles começaram a chegar à frente de combate
Quatro navios paraguaios conseguiram fugir e, em dezembro de 1865. O encouraçado Brasil, enco-
com a aproximação da noite, os navios brasileiros que mendado após a Questão Christie na França, foi o
os perseguiam regressaram, para evitar encalhes em primeiro que chegou a Corrientes, em dezembro de
território inimigo. Além disto, apesar de não comen- 1865.
tarem, na época, não seria sensato abordar um navio No Arsenal de Marinha da Corte, no Rio de Janeiro,
lotado com tropas. iniciara-se a construção de outros navios encouraça-
Antes do pôr-do-sol de 11 de junho, a vitória era dos, especificados para lutar naquele teatro de ope-
brasileira. Foi uma batalha naval, em alguns aspectos, rações fluviais.
decisiva. Durante a guerra, foram incorporados à Armada
A Esquadra paraguaia foi praticamente aniquila- brasileira 17 navios encouraçados, incluindo alguns
da, e não teria mais participação relevante no conflito. classificados como [monitores], que obedeciam a
Estava garantido o bloqueio que impediria o Para- características de projeto inovadoras, desenvolvidas
guai de receber armamentos e, até mesmo, os [en- poucos anos antes na Guerra Civil Americana.
26
HISTÓRIA NAVAL
Em 21 de fevereiro de 1866, Tamandaré chegou a afastamento feito anteriormente por Tamandaré. Ele e
Corrientes e assumiu o comando da Força Naval, man- Barroso foram substituídos, não mais participando das
tendo Barroso como seu Chefe de Estado-Maior. Em 17 operações dessa guerra.
de março, os navios suspenderam para iniciar as ope-
rações rio acima. Quatro dos encouraçados já esta- CAXIAS E INHAÚMA
vam disponíveis nessa força. Um deles tinha o nome
de Barroso e outro, o de Tamandaré. Era uma grande O Marquês de Caxias, General Luís Alves de Lima
homenagem, em vida, aos dois ilustres chefes. e Silva, futuro Duque de Caxias e patrono do Exército
A ofensiva aliada para a invasão do Paraguai neces- Brasileiro, foi designado para o cargo de Comandante
sitava de apoio naval. Passo da Pátria foi uma operação -em-Chefe das Forças Brasileiras em Operações contra
conjunta de forças navais e terrestres. Coube, inicial- o Governo do Paraguai. Já havia provado ser um exce-
mente, à Marinha fazer os levantamentos hidrográfi- lente general e estadista; o homem certo para aquela
cos, combater as chatas paraguaias e bombardear o ocasião difícil.
Forte de Itapiru e o acampamento inimigo. Em março O comando da Força Naval coube ao Chefe-de
de 1866, já estavam disponíveis nove navios encoura- -Esquadra Joaquim José Ignácio, futuro Visconde de
çados, inclusive três construídos no Brasil: Tamandaré, Inhaúma, que assumiu seu cargo, substituindo Ta-
Barroso e Rio de Janeiro. A reação da artilharia paraguaia mandaré, em 22 de dezembro de 1866. Ele estava
ceifou vidas preciosas, como a do Tenente Mariz e Bar- subordinado a Caxias, mas não a Mitre.
ros, comandante do Tamandaré. Caxias soube empregar a Força Naval de Inhaúma,
Houve, depois, perfeita cooperação entre as for- para apoiar sua ofensiva ao longo do Rio Paraguai, até
ças, na grande operação de desembarque que ocor- a ocupação da cidade de Assunção, bombardean-
reu em 16 de abril de 1866. Enquanto parte da Força do fortificações, fazendo reconhecimentos pelo rio,
Naval bombardeava a margem direita do Rio Paraná, transportando tropas de uma margem para a outra,
de modo a atrair a atenção do inimigo, os transportes para contornar o flanco inimigo, e fazendo o apoio lo-
avançaram e entraram no Rio Paraguai. gístico necessário.
Os navios transportaram inicialmente cerca de 45
mil homens, de um efetivo de 66 mil (38 mil brasileiros, PASSAGEM DE CURUPAITI
25 mil argentinos e 3 mil uruguaios), artilharia, cavalos e
material. O General Osório foi o primeiro a desembar- Há meses que a Força Naval bombardeava diaria-
car em território inimigo. Com a invasão, os paraguaios mente Curupaiti, tentando diminuir seu poder de fogo
abandonaram Itapiru e Passo da Pátria e, após tentati- e abalar o moral dos defensores.
vas infrutíferas de derrotar o invasor em Estero Bellaco e Em 15 de agosto de 1867, já promovido a Vice-Al-
Tuiuti, concentraram suas defesas nas fortificações que mirante, Joaquim Ignácio comandou a Passagem de
barravam o caminho: Curuzu, Curupaiti e Humaitá. Curupaiti, enfrentando o fogo das baterias de terra e
obstáculos no rio. Pelo feito, recebeu, logo depois, o
CURUZU E CURUPAITI título de Barão de Inhaúma. Participaram da passagem
dez navios encouraçados que, em seguida, fundearam
Em 31 de agosto de 1866, as tropas comandadas um pouco abaixo de Humaitá e começaram a bombar-
pelo Barão de Porto Alegre (Tenente-General Manoel deá-la.
Marques de Souza) desembarcaram na margem es- A posição desses navios, porém, expunha-os aos
querda para atacar Curuzu e, no dia seguinte, os navios tiros das fortificações paraguaias, e Inhaúma conside-
começaram a bombardear a fortificação. rava que ainda não era o momento de forçar Humaitá.
Em 2 de setembro, o navio encouraçado Rio de Ja- Caxias apoiou essa decisão.
neiro foi atingido por duas minas flutuantes e afundou, O apoio logístico a essa Força Naval, operando
com perda de vidas humanas. entre Curupaiti e Humaitá, era muito difícil e exigiu que
Curuzu foi conquistada pelo Barão de Porto Alegre, os brasileiros fizessem o caminho pela margem direita
apoiado pelo fogo naval, em 3 de setembro. do Rio Paraguai, no Chaco. Logo depois, construiu-se
O próximo ataque foi a Curupaiti. O presidente ar- pequena ferrovia nesse caminho, para transportar as
gentino, General Bartolomeu Mitre, comandante das provisões necessárias.
Forças da Tríplice Aliança, assumiu pessoalmente o co- Para apoiar o material das forças em combate, cons-
mando da operação. Apesar do intenso bombardeio truíra-se um arsenal em Cerrito, próximo à confluência
naval, o ataque aliado, ocorrido em 22 de setembro, dos Rios Paraguai e Paraná. Graças a ele, foi possível fazer
levou à maior derrota da Tríplice Aliança nessa guerra. essa estrada de ferro.
Seguiram-se acusações e críticas, que causaram Ultrapassar Humaitá com uma força naval e mantê-la
uma crise entre Mitre e Tamandaré. O preparo da rio acima exigiria também uma base de suprimentos
operação, sem dúvida, fora insuficiente e as dificulda- rio acima. Caxias, após reorganizar as forças terrestres
des do ataque incorretamente avaliadas. Como Mitre brasileiras, iniciou, em julho de 1867, a marcha de flanco
permaneceria exercendo o comando geral dos Exérci- e ocupou Tayi, no Rio Paraguai, acima de Humaitá, que
tos Aliados, o governo brasileiro aceitou o pedido de serviria para apoiar os navios.
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HISTÓRIA NAVAL
Em dezembro de 1867, os três primeiros monitores, das e, no dia 16 de agosto de 1868, Inhaúma começou
construídos no Arsenal de Marinha da Corte, chegaram a subir o Rio Paraguai. A partir de então, os navios parti-
à frente de combate. Esses monitores, por suas carac- ciparam das operações, prestando o apoio necessá-
terísticas, seriam importantes para o prosseguimento rio ao Exército aliado.
das operações. Logo, Caxias alcançou Palmas e iniciou seus planos
Em 14 de janeiro de 1868, Mitre precisou reassumir para atacar a nova posição do inimigo, em Piquissiri. Ele
a presidência da Argentina e passou, definitivamente, próprio efetuou vários reconhecimentos empregan-
o comando-em-chefe dos Exércitos da Tríplice Aliança do os navios e decidiu por não realizar uma ação frontal.
para Caxias. Para atacar os paraguaios pela retaguarda, era preci-
so utilizar a margem direita, onde se situava o Chaco,
PASSAGEM DE HUMAITÁ um alagadiço quase intransponível, exposto às inun-
dações.
Na madrugada de 19 de fevereiro de 1868, iniciou- A genial manobra do Piquissiri, que contornou a
se a Passagem de Humaitá. posição do inimigo, foi operação em que a Força Na-
A Força Naval de Inhaúma intensificou o bombar- val exerceu papel relevante. Foi construída uma estra-
deio e a Divisão Avançada, comandada pelo Capitão- da pelos pântanos do Chaco, ultrapassando diversos
de-Mar-e-Guerra Delfim Carlos de Carvalho, depois cursos d’água, para que as tropas, que cruzaram o
Almirante e Barão da Passagem, avançou rio acima. Essa rio nos navios, avançassem pela margem direita até um
divisão era formada por seis navios: os encouraçados ponto em que podiam embarcar novamente, para ser
Barroso, Tamandaré e Bahia e os monitores Rio Grande, transportadas para a margem esquerda, acima das
Pará e Alagoas. posições inimigas.
Eles acometeram a passagem formando três pares, Em 4 de dezembro, a Força Naval apoiou o desem-
compostos, cada um, por um encouraçado e um mo- barque das tropas em Santo Antônio, sobre a reta-
nitor amarrado ao seu contrabordo. guarda paraguaia.
Após a passagem, três dos seis navios tiveram que O ataque de Caxias para o sul é conhecido como
ser encalhados, para não afundarem devido às avarias a Dezembrada. Ocorreu uma sucessão de combates
sofridas no percurso. O Alagoas foi atingido por mais de terrestres, dos quais se destacam Itororó, Avaí e Lomas
160 projéteis. Valentinas. Ao final, as forças paraguaias estavam der-
Estava, no entanto, vencida Humaitá, que aos pou- rotadas e López fugiu.
cos seria desguarnecida pelos paraguaios. Solano Ló- Não se rendendo, apesar de seu exército estar
pez decidiu que era necessário retirar-se com seu exér- praticamente aniquilado, ele conseguiu prolongar a
cito para uma nova posição defensiva, mais ao norte. guerra por mais de um ano, na região montanhosa do
norte de seu país, na chamada Campanha da Cordi-
O RECUO DAS FORÇAS lheira, causando enormes sacrifícios a todos os envol-
PARAGUAIAS vidos, principalmente ao povo paraguaio.
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HISTÓRIA NAVAL
dada por autoridades brasileiras, e percebendo essa Desde o início da participação brasileira no confli-
medida, os tripulantes queimaram esse vaso de guerra to, o governo nacional decidiu-se pelo envio de uma
e conseguiram se transferir para outro navio mercante divisão naval para operar em águas europeias, o que
que se evadiu dos portos nacionais com o armamento representaria grande esforço para a Marinha significa-
e os homens especializados, que seriam ainda úteis à tiva foi a designação de treze oficiais aviadores, sendo
Marinha alemã no conflito. doze da Marinha e um do Exército, para se aperfeiçoarem
Quatro meses se passaram até que novo navio como pilotos de caça da Royal Air Force no teatro eu-
brasileiro fosse atacado e afundado, dessa feita foi ropeu. Depois de árduo adestramento em que dois
o vapor Tupi, nas mediações do Cabo Finisterra. O pilotos se acidentaram, sendo um fatal, eles foram con-
caso tornou-se grave porque o comandante e o siderados qualificados para operações de combate,
despenseiro foram aprisionados por um submarino tendo sido empregados no 16o Grupo da RAF, com
alemão e nunca mais se teve notícia de seus destinos. sede em Plymouth, em missões de patrulhamento no
Oito dias depois, 26 de outubro de 1917, o Brasil Canal da Mancha.
reconhecia e proclamava o estado de guerra com o No principal porto do País, o do Rio de Janeiro, cen-
Império Alemão. tro econômico e político mais importante, instituiu-se
Como estava o Brasil naquela oportunidade para uma linha de minas submarinas, cobrindo 600 metros
enfrentar os germânicos? entre as Fortalezas da Laje e Santa Cruz. Duas ilhas
O governo brasileiro tinha consciência de que a oceânicas preocupavam as autoridades navais devi-
grande ameaça seria o submarino alemão, ávido do à possibilidade de seu uso como pontos de refú-
por atacar os nossos navios mercantes que manti- gio de navios inimigos: as de Trindade e de Fernando
nham comércio com outros países em pleno de- de Noronha. A primeira foi ocupada militarmente, em
senvolvimento. Além disso, naquela oportunidade, maio de 1916, com um grupo de cerca de 50 militares.
não existiam estradas ligando o Sul e Sudeste com o Uma estação radiotelegráfica mantinha as comunica-
Norte e Nordeste. Todas as comunicações entre es- ções com o continente e, frequentemente, Trindade
sas regiões eram feitas por mar, daí nossa grande vul- era visitada por navios de guerra para o seu reabasteci-
nerabilidade estratégica. Tanto a Marinha Mercante mento. Quanto a Fernando de Noronha, lá existia um
como a de Guerra seriam as grandes protagonistas presídio do estado de Pernambuco. A Marinha, então,
brasileiras nesse confronto. passou a assumir a defesa dessa ilha, destacando um
grupo de militares para guarnecê-la. Não houve nenhu-
A Marinha Mercante brasileira era modesta, no
ma tentativa de ocupação por parte dos alemães.
entanto, desde os primeiros anos do século, os go-
Com o estado de guerra declarado, os ataques
vernos que se sucederam procuraram aparelhá-la, o
aos mercantes brasileiros continuaram. Em 2 de no-
que foi auspicioso, pois teríamos na guerra um teste
vembro, nas proximidades da Ilha de São Vicente, na
fundamental para a manutenção de nosso fluxo co-
costa africana, foram torpedeados mais dois navios, o
mercial. No início do conflito – quando o Brasil ain-
Guaíba e o Acari. Depois de atingidos, seus comandan-
da mantinha irrestrita neutralidade –, diversos países
tes conseguiram encalhá-los, salvando-se a carga, não
envolvidos na guerra, ávidos para cobrir as perdas
impedindo, no entanto, que vidas brasileiras fossem
provocadas por afundamentos, ofereceram pro-
perdidas.
postas de compras de muitos de nossos mercantes. Outro ataque, já no ano de 1918, aconteceu ao
Propostas de compras do Lloyd Brasileiro foram mercante Taquari, da Companhia de Comércio e Na-
comuns. Entretanto, o governo nacional, premido vegação, na costa inglesa. Desta feita o navio foi atin-
pela necessidade de manter o comércio com outros gido por tiros de canhão, tendo tempo de arriar as
países e de escoar o nosso principal produto, o café, baleeiras que, no entanto, foram metralhadas, provo-
principalmente para os Estados Unidos, impediu to- cando a morte de oito tripulantes.
das essas tentativas de arrendamento. Ao final, essa Esses ataques insuflaram ainda mais a opinião pú-
ação veio a ser fundamental para o Brasil. blica brasileira que, influenciada por campanhas jor-
Nossa Marinha de Guerra era centrada na chamada nalísticas e declarações de diversos homens públicos,
Esquadra de 1910, com navios relativamente novos exigiu um comprometimento maior com a causa aliada,
construídos na Inglaterra sob o Plano de Constru- com a participação efetiva no esforço bélico contra as
ção Naval do Almirante Alexandrino Faria de Alencar, Potências Centrais.
ministro da Marinha de então, como anteriormente Desde o início do conflito, a participação da Mari-
mencionado. Eram ao todo dois encouraçados tipo nha no confronto baseou-se no patrulhamento marí-
dread nought, o Minas Gerais e o São Paulo, dois cru- timo do litoral brasileiro com três divisões navais, como já
zadores tipo scouts, o Rio Grande do Sul e o Bahia, que mencionado, distribuídas nos portos de Belém, Rio de
viria a ser perdido tragicamente na Segunda Guerra Janeiro e São Francisco do Sul. Esse serviço tinha por fina-
Mundial, e dez contratorpedeiros de pequenas dimen- lidade colocar a navegação nacional, a aliada e a neu-
sões. Esses meios eram todos movidos a vapor, quei- tra ao abrigo de possíveis ataques de navios alemães,
mando carvão. de qualquer natureza, nas nossas águas.
31
HISTÓRIA NAVAL
A Divisão Naval do Norte possuía os encouraçados A principal tarefa a ser cumprida por essa Divisão
guarda costas, Deodoro e Floriano, dois cruzadores, Ti- seria patrulhar uma área marítima contra os submari-
radentes e República, dois contratorpedeiros, três avi- nos alemães, compreendida entre Dakar, no Senegal,
sos e duas canhoneiras. Sua sede era Belém. e Gibraltar, na entrada do Mediterrâneo, com subordi-
A Divisão Naval do Centro compunha-se dos en- nação ao Almirantado inglês.
couraçados Minas Gerais e São Paulo e de seis contra- A preparação dos navios, ainda no Brasil, requereu
torpedeiros, com sede no Rio de janeiro. muitos recursos de toda a ordem. Entre os pontos a
Por fim, a Divisão Naval do Sul possuía os cruzadores ser corrigidos estava a deficiência de abastecimento,
Barroso, Bahia e Rio Grande do Sul, um iate e dois contra- principalmente a escassez de combustível, o carvão.
torpedeiros, com sede em São Francisco do Sul. Dava-se preferência a um tipo de carvão proveniente
A Marinha possuía também três navios mineiros, da Inglaterra, o tipo cardiff, ou dos Estados Unidos da
uma flotilha de submersíveis, com um tênder, três pe- América. O carvão nacional, por possuir grande quan-
quenos submarinos construí dos na Itália e uma torpe- tidade de enxofre, era contra-indicado, e esse ponto
deira, as flotilhas do Mato Grosso, do Amazonas, aviões nevrálgico preocupou os chefes navais durante toda
de guerra e, por fim, navios soltos. a comissão da DNOG.
Depois de três meses de adestramento contínuo
A DIVISÃO NAVAL EM OPERAÇÕES DE GUERRA
com as tripulações, os navios suspenderam do Rio de
O governo de Wenceslau Braz decidiu enviar uma
Janeiro, em grupos pequenos, para se juntarem na
divisão naval para operar sob as ordens da Marinha bri-
Ilha de Fernando de Noronha. Inicialmente, os contra-
tânica, na ocasião a maior e mais poderosa do mundo.
torpedeiros deixaram a Guanabara no dia 7 de maio
Logicamente, os navios escolhidos deve riam ser da Es-
quadra adquirida oito anos antes na própria Inglater- de 1918, seguidos, no dia 11, pelos dois cruzadores.
ra, pois eram os mais modernos que o Brasil possuía. No Em 6 de julho, suspendeu do Rio de Janeiro o cruza-
entanto, devido aos avanços tecnológicos provoca- dor auxiliar Belmonte e dois dias depois o rebocador
dos pela própria guerra, esses navios tornaram-se ob- Laurindo Pitta. Esses navios ficaram responsáveis pelo
soletos rapidamente. Em que pese tal fato, a escolha transporte do carvão necessário para a DNOG, daí sua
da alta administração naval recaiu nos dois cruzadores grande importância logística.
(Rio Grande do Sul e Bahia), em quatro contratorpedei- No dia 1o de agosto, a Divisão unida suspendeu de
ros (Piauí, Rio Grande do Norte, Paraíba e Santa Catarina), Fernando de Noronha com destino a Dakar, passan-
um rebocador (Laurindo Pitta) e um cruzador-auxiliar do por Freetown.
(Belmonte), ao todo oito navios. O propósito dessa primeira [derrota] até Freetown
Contra quem iríamos lutar? A Alemanha, apesar de era destruir os submarinos inimigos que se encontra-
possuir Esquadra menor que a da Inglaterra, possuía vam na rota da DNOG. O armamento, naquela oca-
uma frota muito agressiva e motivada, que se batera sião, para se neutralizar esses submarinos, era bas-
com valentia até aquele momento. tante primitivo, não se comparando com coisa algu-
No início do conflito, os alemães se lançaram à guer- ma que se viu na Segunda Guerra Mundial. Existiam
ra de corso utilizando navios de superfície, no estilo de hidrofones primitivos e bombas de profundidade de
corsários independentes, que atacavam os mercantes 40 libras, que eram lançadas pela borda no local prová-
navegando solitários. Essa estratégia, com o decor- vel onde se encontrava o submarino. É interessante
rer da guerra, foi abandonada. Preferiu-se a guerra mencionar que o próprio submarino, naquela oportu-
submarina, que mostrou-se muito mais eficiente. Esses nidade, possuía pequena capacidade de permane-
submarinos não chegaram a atuar nas nossas costas, cer mergulhado durante longo período de tempo, o
como aconteceu na Segunda Guerra Mundial, no entan- que era uma grande limitação. Normalmente, os ata-
to, atacaram nossos navios nas costas europeias e os ques contra mercantes eram realizados utilizando-se
afundaram sem trégua.
os canhões localizados em seus [conveses]. A maior
Há de se notar que a Marinha brasileira era depen-
possibilidade de destruir esses submarinos aconte-
dente de suprimentos vindos do exterior. Não existiam
cia quando o inimigo vinha à superfície para destruir o
estaleiros capacitados, nem fábricas de munição e
alvo por canhão, ou mesmo com o uso de [torpedos].
estoques logísticos adequados. Dessa forma, a pre-
paração da Divisão Naval em Operações de Guerra Nessa travessia inicial, alguns [rebates] de “prováveis
(DNOG), como ficou conhecida essa pequena força, foi submarinos” foram dados, porém não tiveram confir-
muito dificultada por limitações que não eram só da Ma- mação.
rinha, mas também do Brasil. Como critério de escolha, Outro ponto interessante na travessia Fernando
abriu-se o voluntariado para os seus componentes e de Noronha– Dakar era a faina de transferência de car-
foi escolhido um Contra-Almirante, ainda muito jovem, vão em alto-mar. Esses recebimentos aconteciam em
com 51 anos de idade, muito habilidoso, com grande quaisquer condições de tempo e de mar e obrigavam
experiência marinheira, na ocasião comandante da a atracação dos navios ao cruzador-auxiliar Belmonte e
Divisão de Cruzadores com base no porto de Santos, a utilização do rebocador Laurindo Pitta para auxílio nas
o Almirante Pedro Max de Frontin, irmão do engenheiro aproximações. Foram fainas perigosas que deman-
Paulo de Frontin, para o comando da DNOG. daram muita capacidade marinheira dos tripulantes,
32
HISTÓRIA NAVAL
além da natural vulnerabilidade durante os abasteci- No dia 3 de novembro, a DNOG [largou] de Dakar
mentos, quando os submarinos inimigos poderiam em direção a Gibraltar, sem o Rio Grande do Sul, o Rio
aproveitar a baixa velocidade dos navios para o ataque Grande do Norte, o Belmonte e o Laurindo Pitta, os dois
torpédico. A tensão reinante durante esses eventos primeiros avariados e os dois seguintes designados
era enorme, sem contar com as difíceis condições em para outras missões. Sete dias depois, os navios da Divi-
que eram realizadas. Os navios ficavam literalmente ne- são faziam sua entrada em Gibraltar. No dia seguinte, o
gros de carvão e todos trabalhavam do nascer do sol Armistício foi assinado, dando a Grande Guerra como
até o término do abastecimento. terminada. Nossa missão de guerra findara; no entanto,
Depois de oito dias de travessia, a DNOG chegou ao nossa Divisão prolongou sua permanência na Europa,
porto de Freetown, onde se agregou ao esquadrão já que foi convidada para participar das festividades
britânico. Nessa cidade, os navios permaneceram por promovidas pelos vitoriosos.
14 dias, reabastecendo-se e sofrendo os reparos ne- A vitória dos aliados seria confirmada em Paris, em 28
cessários à continuação da missão. de junho de 1919, quando se reuniram os represen-
No dia 23 de agosto de 1918, a Divisão suspendeu tantes de 32 países para assinar o Tratado de Versalhes,
que foi imposto à Alemanha derrotada.
em direção a Dakar, tendo essa derrota sido muito des-
No dia 9 de junho de 1919, depois de tocar Recife
confortável para as tripulações dos navios devido ao
por breves dias, os navios da DNOG entravam na Baía de
mau tempo reinante. Na véspera da chegada a esse
Guanabara, porto sede da Divisão Naval. Acabara, assim,
porto africano, no período noturno, foi avistado um
a participação da Marinha na Primeira Guerra Mundial.
submarino navegando na superfície. Imediatamente
foi atacado pela força brasileira, no entanto, o subma- O PERÍODO ENTRE GUERRAS
rino conseguiu lançar um contra-ataque contra o cru- O período entre guerras, que abarcou os anos de
zador-auxiliar Belmonte, quase atingindo seu inten- 1918 até 1939, caracterizou-se pelo abandono a que
to, uma vez que a esteira fosforescente do torpedo foi submetida não só a Marinha de Guerra como pra-
foi perfeitamente observada a 20 metros da popa do ticamente toda a atividade nacional relacionada com
navio brasileiro. No dia 26 de agosto, os navios aporta- o mar. A ausência de mentalidade marítima do povo
vam em Dakar e aí começariam as grandes provações brasileiro revelou-se em toda a sua intensidade.
dos tripulantes nacionais. No entanto, iniciativas modestas, ainda durante a
Todo esse martírio teria início quando determina- Grande Guerra, como a criação da Escola Naval de Guerra
do navio inglês, o Mantua, iniciou uma rotina, obser- (depois Escola de Guerra Naval), da Flotilha dos Subma-
vada por nossos marinheiros, que o viam suspender rinos, com os três pequenos submarinos da Classe F,
de quando em vez para o alto-mar regressando em e da Escola de Aviação Naval, indicaram a necessidade
seguida. Logo após, soube-se que essas saídas eram de avançar na melhoria das condições de prontidão da
para lançar ao mar os corpos dos homens de sua tri- nossa Força Naval.
pulação que haviam contraído a terrível “gripe espa- A revolução de 30 representou para a Marinha um
nhola”. Possivelmente o Mantua foi o responsável pela divisor de águas entre duas épocas distintas. Em re-
moléstia que vitimaria diversos de nossos tripulantes latório do ministro da Marinha, no ano de 1932, em que
que nunca retornariam ao Brasil. foi feita análise da situação da Marinha, encontra-se
No início de setembro, as primeiras vítimas brasilei- registrada a seguinte declaração: “Estamos deixando
ras eram atingidas pela [gripe mortal]. morrer a nossa Marinha. A Esquadra agoniza pela ida-
A permanência em Dakar deveria ser curta. No en- de [a maior parte dos navios era da Esquadra de 1910], e,
tanto, devido à gravidade da situação sanitária com a perdido com ela o hábito das viagens, substituído pela
vida parasitária e burocrática dos portos, morrem to-
gripe, os navios lá permaneceram mais tempo. A tudo
das as tradições... Estamos numa encruzilhada: ou faze-
isso somou-se o [impaludismo] e as [febres biliares
mos renascer o Poder Naval sob bases permanentes
africanas]. Dos navios atingidos pelas doenças, o mais
e voluntariosas, ou nos resignamos a ostentar a nossa
afetado foi o cruzador-auxiliar Belmonte que, entre
fraqueza provocadora.... estamos completamente
seus 364 tripulantes, contaram-se 154 doentes. desaparelhados.
Substituições foram solicitadas ao Brasil, que vie- O programa naval estabelecido em 1932, e ajus-
ram no paquete Ásia, para completar os claros deixa- tado em 1936 elaborado sem obedecer a nenhum
dos pelos falecimentos. Foram vitimados 156 brasilei- planejamento estratégico ou político, criou uma Força
ros da DNOG pela “gripe espanhola”. Naval modesta, dentro das possibilidades financeiras
Os navios britânicos e brasileiros em Free-town e e técnicas do País, podendo ministrar adestramento
Dakar ficaram inoperantes em face das condições sani- satisfatório e com capacidade de intervir em operações
tárias reinantes, estando a defesa do estreito entre limitadas, mais no campo interno que externo. Deve-
Dakar e Cabo Verde somente a cargo de dois peque- mos reconhecer, no entanto, que tal modesta iniciati-
nos navios portugueses. Com grande esforço pes- va foi um marco de coragem, pois utilizou a incipiente
soal, a DNOG conseguiu logo depois designar o Piauí indústria brasileira na tentativa de reconstituir, em ter-
e o Paraíba para auxiliarem os portugueses naquela mos nacionais, um Poder Naval com alguma credibili-
área de operações. dade.
33
HISTÓRIA NAVAL
Em 1935, foi iniciada grande reforma no encou- As grandes preocupações do nosso Estado-Maior
raçado Minas Gerais, que constou da substituição de da Armada eram a defesa de nossa enorme e despro-
suas caldeiras e do aumento do alcance de seus ca- tegida costa marítima e, essencialmente, a proteção
nhões de 305 mm. das linhas de comunicação, vitais para a conservação
As atividades de minagem e varredura tinham sido de nossas artérias comerciais com o exterior e para a
mantidas em segundo plano desde o fim da Grande manutenção das linhas de cabotagem. Devemos ob-
Guerra, utilizando-se navios mineiros varredores im- servar que no ano de 1940 esse tipo de transporte era
provisados. Em 1940, obedecendo ao novo programa fundamental, pois não existia uma única comunicação
naval, então aprovado, decidiu-se pela construção, no terrestre entre Belém e São Luís, entre Fortaleza e Na-
Brasil, de uma série de navios mineiros varredores. tal e entre Salvador e Vitória.
Em 1940, a nossa Força de Alto-Mar era assim consti- Nossa Esquadra, despreparada, pouco podia fa-
tuída: zer para enfrentar uma esquadra como a alemã.
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HISTÓRIA NAVAL
INÍCIO DAS HOSTILIDADES E ATAQUES AOS NOS- A única exceção nesse período foi o NM Coman-
SOS NAVIOS MERCANTES dante Lira, torpedeado no litoral brasileiro, ao largo
A Marinha Mercante brasileira somava 652.100 tone- do Ceará, pelo submarino italiano Barbarigo. Foi o único
ladas brutas de [arqueação] no início da guerra. Mesmo navio a ser salvo, graças ao pronto auxílio dado pelo
pequena e composta de navios antiquados, se com- rebocador da Marinha brasileira Heitor Perdigão e por
parada com as grandes potências de então, ela exer- alguns navios norte-americanos.
cia papel fundamental na economia nacional, não só no O NM Barbacena e NM Piave, torpedeados pelo
transporte das exportações brasileiras, mas também na submarino alemão U-155 ao largo da Ilha de Trinidade,
navegação de cabotagem, que mantinha o fluxo comer- em 28 de julho de 1942, foram as últimas perdas ocor-
cial entre as economias regionais, isoladas pela deficiên- ridas por ação do inimigo enquanto o Brasil ainda se
cia das nossas redes rodoviárias e ferroviárias. mantinha formalmente como país neutro.
No decorrer da guerra, foram perdidos, por ação de Em 28 de janeiro de 1942, o Brasil rompeu rela-
submarinos alemães e italianos, 33 navios mercantes, ções diplomáticas com os países que compunham o
que somaram cerca de 140 mil toneladas de arquea- Eixo. A colaboração militar entre o Brasil e os Estados
ção (21% do total), com a morte de 480 tripulantes e 502 Unidos, que desde meados de 1941 já era notória,
passageiros. intensificou-se com a assinatura de um acordo polí-
Os primeiros ataques à nossa Marinha Mercante tico-militar, em 23 de maio de 1942.
ocorreram quando o Brasil ainda se mantinha neutro Nesse período deslocava-se para o saliente
no conflito europeu. Em 22 de março de 1941, no Mar nordestino brasileiro a Força-Tarefa 3 da Marinha nor-
Mediterrâneo, o navio mercante (NM) Taubaté foi me- te-americana, tendo o governo Vargas colocado os
tralhado pela Força Aérea alemã, tendo sido avariado, portos de Recife, Salvador e posteriormente Natal à
apesar da pintura, em seu costado, da Bandeira Bra- disposição das forças norte-americanas.
sileira. Com a entrada dos Estados Unidos da América As atitudes cada vez mais claras de alinhamento
naquele conflito, os submarinos alemães passaram a do Brasil com os países aliados levaram o alto coman-
operar no Atlântico ocidental, ameaçando todos os do alemão a planejar uma operação contra os princi-
navios de bandeiras neutras que tentassem adentrar pais portos brasileiros. Posteriormente, por ordem
portos norte-americanos. de Hitler, essa ofensiva submarina foi reduzida em ta-
A primeira perda brasileira foi o NM Cabedelo, que
manho, mas não em intensidade, com o envio de dez
deixou o porto de Filadélfia, nos Estados Unidos, com
submarinos ao litoral, com ordens para atacar nossa
carga de carvão, no dia 14 de fevereiro de 1942. Ainda
navegação de [longo curso] e de [cabotagem].
não existia o sistema de comboios nas Antilhas. O navio
No cair da tarde de 15 de agosto de 1942, o sub-
desapareceu rapidamente sem dar sinais, podendo
marino alemão U-507, comandado pelo Capitão-de
ter sido torpedeado por um submarino alemão ou
Corveta Harro Schacht, torpedeou o paquete Bae-
italiano.
pendi, que navegava ao largo da costa de Alagoas
Ele foi considerado perdido por ação do inimigo,
com destino ao Recife. O velho navio foi ao fundo,
uma vez que o tempo reinante era bom e claro.
Seguiu-se o torpedeamento do NM Buarque, em levando 270 almas de um total de 306 tripulantes e
16 de fevereiro de 1942, pelo submarino alemão U-432, passageiros embarcados, inclusive parte da guar-
comandado pelo Capitão-Tenente Heins-Otto Schult- nição do 7o Grupo de Artilharia de Dorso do Exérci-
ze, a 60 milhas do Cabo Hatteras, quando levava para to brasileiro, que iria reforçar as defesas do saliente
os Estados Unidos 11 passageiros, café, algodão, cacau nordestino.
e peles. O navio, do tipo misto, era do Lloyd Brasileiro, Algumas horas depois, o U-507 encontrou o pa-
tendo se salvado toda a tripulação de 73 homens. quete Araraquara, navegando [escoteiro] e inteira-
Em 18 de fevereiro de 1942, foi a vez do NM Olinda, mente iluminado, e o afundou com dois torpedos,
torpedeado pelo mesmo U-432, ao largo da Virgínia, vitimando 131 das 142 pessoas a bordo.
Estados Unidos. O submarino veio à superfície, man- Na madrugada do dia 16, foi a vez do paquete
dando o mercante parar, dando ordem de abando- Aníbal Benévolo, também utilizado nas linhas de ca-
nar o navio. Esperou que todos embarcassem nas botagem.
baleeiras e, a tiros de canhão, pôs a pique o Olinda. A No dia 17 de agosto, na altura do Farol do Morro
tripulação, de 46 homens, foi salva pelo [USS] Dallas. de São Paulo, ao sul de Salvador, o U-507 torpedeou
Seguiram-se, em 1942, os torpedeamentos dos o paquete Itagiba, que tinha, entre os seus 121 pas-
mercantes Arabutã, em 7 de março; Cairu, em 8 de mar- sageiros, o restante do 7o Grupo de Artilharia de
ço; Parnaíba, em 1o de maio; Gonçalves Dias, em 24 de Dorso.
maio; Alegrete, em 1o de junho; ocorridos ou na costa Nesse mesmo dia, o NM Arará foi torpedeado
norte-americana ou no Mar das Antilhas, área em que quando recolhia náufragos dos primeiros alvos do
os submarinos alemães atuaram no início do envolvi- submarino germânico.
mento dos Estados Unidos no conflito, quando ainda A última vítima do comandante Schacht foi a bar-
eram precárias as patrulhas anti-submarinas norte-a- caça Jacira, pequena embarcação que foi posta a
mericanas. pique em 19 de agosto.
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HISTÓRIA NAVAL
A ação de cinco dias do submarino alemão U-507 Em acordo firmado em 1o de outubro de 1941, o
levou a pique seis embarcações dedicadas às linhas Brasil obteve, nos termos dessa lei, crédito de 200 mi-
de cabotagem, vitimando 607 pessoas, chocando a lhões de dólares, dos quais, por ordem do presidente
opinião pública brasileira e levando o governo a decla- da República, couberam ao Exército 100 milhões e à Ma-
rar o estado de beligerância com a Alemanha, em 22 rinha e à Força Aérea, 50 milhões cada. Da cota destinada
daquele mês e, finalmente, o estado de guerra contra à Marinha, um total de 2 milhões de dólares foi despen-
esse país, a Itália e o Japão, em 31 de agosto de 1942. dido com o armamento dos navios mercantes.
Com comboios organizados ainda de maneira in- Ao rompermos relações diplomáticas com o Eixo,
cipiente, foram afundados os navios mercantes Osório a Marinha do Brasil desconhecia as novas táticas anti-
e Lages, em 27 de setembro de 1942, seguindo-se o submarino e estava, consequentemente, desprovida
afundamento do pequeno NM Antonico, que nave- do material flutuante e dos equipamentos necessá-
gava escoteiro ao largo da costa da Guiana Francesa. rios para executá-las, como bem mostramos ante-
Esse ataque alemão ficou tragicamente gravado na riormente.
mente dos protagonistas, pois o U-516, com sua ar- Os progressos verificados nos entendimentos
tilharia, metralhou os náufragos nas baleeiras, após entre o Brasil e os Estados Unidos, depois dos torpe-
o pequeno navio ter sido posto a pique, matando e deamentos dos primeiros navios na costa Leste norte
ferindo muitos deles. Ainda em 1942, foram perdidos os -americana e nas Antilhas, permitira incluir na agenda
NM Porto Alegre e Apalóide. das discussões o fornecimento ao Brasil de pequenas
A organização dos comboios nos portos nacionais, unidades de proteção ao tráfego e para o ataque a
que reuniam navios mercantes da navegação de longo submarinos.
curso e de cabotagem, escoltados por navios de guer- Os primeiros navios recebidos pelo Brasil, depois
ra brasileiros e norte-americanos, e a intensa patrulha da declaração de guerra, foram os caça-submarinos
anti-submarino empreendida pelas forças aeronavais da classe G (Guaporé e Gurupi), entregues em Natal,
aliadas, levaram a uma drástica diminuição nas perdas em 24 de setembro de 1942.
dos navios de bandeira brasileira, com oito torpedea- Em seguida, foram incorporados à Marinha do
mentos, comparados aos 24 ocorridos ao longo do Brasil, em Miami, oito caça-submarinos da classe J (Ja-
ano anterior. vari, Jutaí, Juruá, Juruena, Jaguarão, Jaguaribe, Jacuí, e
A maioria dos navios mercantes brasileiros vitima- Jundiaí).
dos por submarinos alemães em 1943 navegava fora No ano de 1943, foram entregues mais seis unida-
dos comboios. O NM Brasilóide navegava escoteiro des da classe G (Guaíba, Gurupá, Guajará, Goiana, Gra-
quando foi torpedeado, em 18 de fevereiro de 1943; jaú e Graúna).
já o NM Afonso Pena, indevidamente, abandonou o
Nos anos de 44/45, mais oito unidades foram en-
comboio do qual fazia parte e foi afundado em 2 de
tregues, dessa vez os excelentes contratorpedei-
março; o NM Tutóia foi atingido em 30 de junho, tam-
ros-de-escolta que já operavam em nossas águas
bém viajando isolado. O NM Pelotaslóide, fretado ao
(Bertioga, Beberibe, Bracuí, Bauru, Baependi, Beneven-
governo norte-americano para transporte de material
te, Babitonga e Bocaina).
bélico, foi afundado na entrada do canal para o porto
Após o término da guerra na Europa, a Marinha
de Belém quando esperava o embarque do prático,
recebeu dos Estados Unidos, em 16 de julho de 1945,
estando escoltado por três caça-submarinos da Ma-
em Tampa, na Flórida, o navio-transporte de tropas
rinha brasileira.
O NM Bagé compunha um comboio quando, na Duque de Caxias.
tarde de 31 de julho, foi obrigado a seguir viagem isola- Quanto às construções navais aqui no Brasil, tive-
do, pois suas máquinas produziam fumaça em demasia, mos a incorporação de contratorpedeiros da classe M
fazendo com que o comboio pudesse ser localizado (Mariz e Barros, Marcílio Dias e Greenhalgh) e das corve-
por submarinos do Eixo a grandes distâncias, colocan- tas Matias de Albuquerque, Felipe Camarão, Henrique
do em risco os outros navios comboiados. Naquela Dias, Fernando Vieira, Vidal de Negreiros e Barreto de
mesma noite foi torpedeado. Os dois últimos torpe- Menezes.
deamentos de navios mercantes brasileiros foram o Declarada a guerra, foi desenvolvido trabalho in-
Itapagé, em 26 de setembro, e o Campos, em 23 de tenso para adaptar nossos antigos navios, dentro de
outubro de 1943, ambos navegando escoteiros. suas possibilidades, para a campanha anti-submarino.
Os aperfeiçoamentos impetrados em nossa Força
A LEI DE EMPRÉSTIMO E ARRENDAMENTO E MODER- Naval vieram aumentar em muito nossa capacidade
NIZAÇÕES DE NOSSOS MEIOS DE DEFESA ATIVA DA COS- de reagir de forma adequada aos novos desafios que
TA BRASILEIRA se afiguravam. Seria injusto não mencionar que o au-
A Lei de Empréstimo e Arrendamento – Lend Lea- xílio norte-americano foi vital para que pudéssemos
se –, com os Estados Unidos da América permitia, sem nos contrapor aos submarinos alemães.
operações financeiras imediatas, o fornecimento dos Além disso, algumas providências de caráter ad-
materiais necessários ao esforço de guerra dos países ministrativo, de treinamento e modificações mate-
aliados. Ela foi assinada em 11 de março de 1941. riais foram se tornando necessárias.
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Como primeira medida de caráter orgânico, foram insta- Recife – O encouraçado São Paulo, [amarrado] no
lados os Comandos Navais, criados pelo Decreto no 10.359, de interior do arrecife, provia a defesa da artilharia e super-
31 de agosto de 1942, com o propósito de prover defesa mais visionava a rede antitorpédica. A varredura de minas
eficaz da nossa fronteira marítima, orientando e controlando era feita por navios mineiros-varredores norte-ameri-
as operações em águas a ela adjacentes, não só as relativas à canos. Estava estacionado no Recife um grupo de es-
navegação comercial, como às de guerra propriamente ditas pecialistas em desativação de minas, as quais, por vezes,
e de assuntos correlatos. A área de cada Comando abrangia chegavam à costa, sendo estudadas cuidadosamen-
determinado setor de nossas costas marítimas e fluviais. te antes de serem destruídas.
O Chefe do Estado-Maior da Armada entrou em enten- As minas encontradas à deriva eram destruídas pe-
dimento com seus colegas do Exército e da Aeronáutica los navios de patrulha com tiros de canhão. O Terceiro
para organizar um serviço conjunto de vigilância e defesa Grupamento Móvel de Artilharia de Costa e o Segundo
da costa, tendente a prevenir a possibilidade de aproxi- Grupo do Terceiro Regimento de Artilharia Antiaérea do
mação e desembarque inimigos. Exército coordenavam-se com os elementos da Mari-
nha, o que permitia uma cobertura completa da costa.
DEFESA ATIVA Salvador – A defesa principal do porto cabia ao en-
Na História, há numerosos exemplos de navios corsários couraçado Minas Gerais, com sua artilharia controlada
surgirem de surpresa diante de um porto para danificarem em conjunto com as baterias do Exército, situadas na
suas instalações ou amedrontarem suas populações16. Do Ponta de Santo Antônio e na Ilha de Itaparica. Em abril
ponto de vista militar, os efeitos dessas incursões são reduzi- de 1943, os monitores Parnaíba e Paraguaçu foram mo-
dos, sendo a ação, na maioria das vezes, executada para de- vimentados de Mato Grosso para Salvador, por soli-
sorganizar a vida da localidade e obter efeitos morais. citação do comandante naval do Leste. Depois de
Com o advento do submarino, o perigo tornou-se sofrerem algumas modificações no Rio de Janeiro
maior, com a possibilidade de torpedeamento de navios (em especial no armamento), ficaram em condições de
surtos nos portos. Por esses motivos, foi organizada a de- operar na Baía de Todos os Santos.
fesa ativa, atuando em pontos focais da costa, com a fina- [Aparelhos de radiogoniometria] de alta frequência
lidade de repelir qualquer ataque aéreo ou naval inimigo, [cruzavam as marcações] com equipamentos seme-
por meio de ações coordenadas da Marinha de Guerra, do lhantes no Recife, a fim de localizar submarinos.
Exército e da Aeronáutica. Foram essas as seguintes medidas Natal – Os serviços de proteção do porto estavam
de defesa ativa adotadas: a cargo do Comando da Base Naval de Natal. Também
Rio de Janeiro – Instalação de rede de aço protetora eram acionadas unidades do Exército (que mantinham
no alinhamento Boa Viagem–Villegagnon e coordenação baterias na barra) e da Força Aérea Brasileira.
do serviço de defesa do porto com as fortalezas da barra. Vitória – A proteção do porto ficou entregue ao
A rede era fiscalizada por lanchas velozes, e a sua entrada, Exército, havendo a Marinha cedido alguns canhões
aberta e fechada por rebocadores. O patrulhamento in- navais de 120 mm para artilhar a barra. Ilhas oceânicas –
terno cabia aos navios da chamada flotilha João das Bottas Na Ilha da Trindade foi estacionado um destacamento
(constituída de navios mineiros de instrução), rememoran- de fuzileiros navais, em 20 de março de 1942, levado pelo
do a flotilha de pequenas embarcações comandada pelo navio-transporte José Bonifácio.
Segundo-Tenente João Francisco de Oliveira Bottas, que A defesa do Arquipélago de Fernando de No-
fustigou os portugueses encastelados em Salvador e na ronha, situado em ponto focal da [cintura estreita do
Baía de Todos os Santos, na Guerra da Independência. Atlântico], ficou entregue ao Exército, que a artilhou for-
Externamente, ou onde fosse necessário, atuavam os temente, levando contingentes em comboios escol-
antigos contratorpedeiros classe Pará, oriundos do progra- tados por navios da Marinha. A ocupação se deu logo
ma de reaparelhamento naval desde 1906, recebidos em depois que o Brasil rompeu relações diplomáticas com
1910, com mais de 30 anos de intensa operação. A respon- o Eixo, sendo o primeiro grupo de militares transporta-
sabilidade da defesa ficou afeta ao Comando da Defesa do, junto com material de guerra, em um comboio, em
Flutuante, subordinado ao Comando Naval do Centro. 15 de abril de 1942.
Em junho de 1944, afastado o perigo de um ataque Santos – Os rebocadores São Paulo (eram dois com
de submarinos aos navios surtos no porto, suspendeu-se o mesmo nome, sendo um chamado de iate) foram
a patrulha externa feita pelos veteranos contratorpedei- artilhados; outras embarcações menores requisita-
ros, sendo mantida apenas a vigilância interna, a cargo das faziam serviço de vigilância.
de um rebocador portuário. Rio Grande – Foi artilhado o rebocador Antonio
Um especialista norte-americano, o Tenente Jacows- Azambuja.
ki, estabeleceu planos para a utilização de boias de escuta Como reforço às defesas locais, foram criadas Com-
submarina, a ser adotados de acordo com as necessida- panhias Regionais do Corpo de Fuzileiros Navais em Be-
des. Em julho de 1943, teve início o serviço de varredura lém, Natal, Recife e Salvador.
de minas do canal da barra, realizado pelo USS Flincker, Ao se lembrar da participação da Marinha na Se-
substituído mais tarde pelo USS Linnet. Observamos gunda Guerra Mundial, a primeira imagem que surge é
aí mais uma vez o auxílio direto dos norte-americanos a conhecida Força Naval do Nordeste. Como eram afinal
ao nosso plano de defesa local. sua composição e suas tarefas?
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uma situação em que seja inaceitável, para os outros, O sentido indireto da palavra persuasão é sig-
respaldar seus interesses conflitantes com o empre- nificativo, pois é por meio da reação dos outros que ela
go de força. Nosso Poder Militar deve permanente- se manifesta. Então, é essencial que eles percebam o
mente dissuadir os outros países de usar a violência e é, emprego das forças navais, modificando seu ambiente
consequentemente, o guardião da paz – daquela paz político e, consequentemente, afetando suas deci-
que nos interessa, evidentemente. sões, por se sentir apoiados, dissuadidos ou mesmo
No caso do Brasil, por exemplo, na paz que deseja- compelidos a uma reação específica. Exerce-se, por-
mos, a Amazônia é território nacional; o comércio inter- tanto, a persuasão armada, estimulando resultados
nacional deve ser livre, assim como o uso do transporte que dependem de reações alheias, políticas ou táticas,
marítimo, nas rotas de nosso interesse; a maior parte às vezes conflitantes e em princípio imprevisíveis. Existe
do petróleo continua sendo extraída do fundo do mar, sempre a possibilidade de se configurarem situações
sem ingerências de outros países; a enorme área com- inesperadas, até pelo resultado, não intencional, da
preendida pela Zona Econômica Exclusiva e a Platafor- excitação de terceiros. Daí a importância da perma-
ma Continental brasileira, chamada de Amazônia Azul, é nente avaliação em qualquer ação de emprego políti-
controlada pelo País, entre outras coisas. A dissuasão é, co do Poder Naval.
portanto, uma das principais formas de emprego per- No passado, muitas vezes, as nações detentoras
manente do Poder Militar em tempo de paz, mas exis- de Poder Naval utilizaram seus navios de guerra e suas
tem outras, como veremos adiante. forças navais com o propósito de sustentação ou de
Na paz, ou no que se denomina paz no mundo, o dissuasão. A simples existência de um Poder Naval
confronto entre os países, resultante de conflitos de preparado para a guerra pode fazer que aliados se
interesses, ocorre evitando, ao máximo, o uso da vio- sintam apoiados em suas decisões políticas, nas rela-
lência, porém, disputando politicamente, economica- ções internacionais, e inimigos sejam dissuadidos de
mente e em todas as outras manifestações da poten- suas intenções agressivas.
cialidade nacional. Nesse contexto, o potencial ofen-
sivo intrínseco dos instrumentos do Poder Militar faz A PERCEPÇÃO DO PODER NAVAL
com que seu emprego, mesmo indireto, possa excitar Como toda percepção, a do Poder Naval depen-
reações em países observadores. Tais reações podem de das capacidades que são visíveis ao observador.
simplesmente resultar de excitação acidental, ou refle- Esse observador está embebido num contexto po-
tir resultados intencionalmente desejados por quem lítico, doméstico, regional e internacional, que não
exerce esse emprego indireto do Poder Militar, cha- apenas molda suas reações, como também influi na
mado de persuasão armada. própria percepção.
Como a paz é relativa, a persuasão armada não exclui Enquanto numa guerra preponderam as quali-
o uso da força, de maneira limitada, desde que enten- dades reais dos meios empregados, que decidem os
dido como simbólico pelo país agredido. As grandes resultados das ações militares, em situação de paz ou de
potências internacionais, como os Estados Unidos da conflitos de natureza limitada, as ameaças são medidas
América, a Rússia e outros, utilizam permanentemente em termos de previsões e comparações. Essas previ-
seus poderes militares. sões se baseiam nos dados quantitativos e qualitati-
Dos componentes do Poder Militar, o Poder Naval vos ao alcance do observador, de sua capa cidade de
pode ser empregado para exercer persuasão arma- perceber.
da, em tempo de paz, no que se denominou, na dé- Os países desenvolvidos têm, em geral, maior
cada de 1970, de “emprego político do Poder Naval”. capacidade para avaliar as verdadeiras ameaças re-
Ele pode ser empregado em condições inigualáveis sultantes do Poder Militar, inclusive do Poder Naval,
com outros poderes militares, graças a seus atributos que é um de seus componentes. Sabem utilizar seus
de: [mobilidade, versatilidade de tarefas, flexibilidade meios de comunicação para divulgar notícias que valo-
tática, autonomia, capacidade de projeção de poder rizam a capacidade de seus armamentos. O mesmo
e alcance geográfico]. Concorre para isso o conceito não ocorre com países em desenvolvimento, que
de liberdade dos mares, que possibilita aos navios de podem até ter sua percepção bastante influenciada
guerra se deslocar livremente em águas internacio- por essas notícias, tendo em vista suas próprias limi-
nais, atingindo locais distantes e lá permanecendo, tações de análise. Consequentemente, as avaliações
sem maiores comprometimentos, em tempo de paz. das forças navais podem levar a conclusões bastante
Antes da invasão do Afeganistão, em outubro de distorcidas em relação à capacidade real em comba-
2001, por exemplo, os americanos deslocaram para te, mas, em tempo de paz, são essas avaliações subjeti-
águas internacionais, próximas do local do conflito, uma vas que importam e que produzem resultados.
poderosa força naval. Influíam assim nos países da re- São “invisíveis” aos leigos em guerra naval, por
gião, sinalizando apoio aos aliados, dissuadindo as exemplo, a complexidade sistêmica dos navios mo-
ações dos que lhes eram hostis e favorecendo o apoio dernos, necessárias às respostas rápidas e eficazes,
dos indecisos; em suma, criando uma quantidade de quando em combate. Por outro lado, são “visíveis” os
reações intencionais. mísseis, os canhões, o porte e o aspecto externo do
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navio. Na realidade, é importante que o navio tenha dos quanto para aqueles em desenvolvimento, e a in-
suficiente flexibilidade para possibilitar seu emprego tensidade e os tipos de emprego são apenas funções
político, mas a função política de tempo de paz não deve do ambiente regional onde se situam e das vulnerabili-
levar à preparação de um Poder Naval apenas apa- dades que possuem.
rente. Para os países mais pobres, o armamento moder-
O prestígio de uma Marinha sempre foi um dos atri- no possibilita condições excepcionais, em relação ao
butos mais importantes para a percepção do Poder passado. O conflito das Falklands/Malvinas, em 1982,
Naval. O prestígio está principalmente baseado nas apesar do desfecho desfavorável à Argentina, é um
capacidades “visíveis” e pode levar à necessidade de exemplo que não pode deixar de ser citado, porque
demonstrar permanente superioridade, como fazia a poderia, até, ter outro resultado, se houvesse subma-
Marinha Real da Grã-Bretanha, durante a época em que rinos argentinos eficazes e suficientes.
dominava os mares, para manter o seu prestígio.
O cruzador russo Askold, por exemplo, era o único As táticas para persuasão naval são as diversas for-
navio de cinco chaminés do mundo e, em 1902, visi- mas de emprego das forças navais para alcançar resulta-
tou o Golfo Pérsico. Sua visita causou profunda impres- dos políticos, em tempo de paz. Elas são:
são, devido à percepção de potência mecânica que • demonstração permanente do Poder Naval;
o número de chaminés transmitia. Imediatamente, • posicionamentos operativos específicos;
os britânicos desviaram o cruzador HMS Amphritite • auxílio naval;
para Mascate (capital de Omã). Para eles, a disputa de • visitas operativas a portos;
prestígio com a Rússia, nessa época, no Oriente, era • visitas específicas de boa vontade.
importante. Seu comandante providenciou mais duas
chaminés de lona para seu navio, totalizando seis e res- A demonstração permanente do Poder Naval é
taurando o prestígio local da Marinha Real. feita, por meio de ações como deslocamentos e mano-
É interessante observar que, atualmente, os mís- bras com forças, inclusive estrangeiras; participação
seis ar–superfície e superfície–superfície colocaram paí- em missões de paz da Organização das Nações Uni-
ses relativamente fracos em condições de causar danos das; reforços e reduções de nível de forças; aumento ou
consideráveis a uma força naval próxima a suas costas. redução da prontificação para combate entre outras
Tal fato, porém, não impede que uma força naval pos
– obtenção de efeitos desejados, como: aumentar a
sa exercer persuasão, porque não é sua capacida-
intensidade da persuasão; desencorajar; demonstrar
de absoluta que importa, mas sim o que ela significa
preocupação em crises entre terceiros; exercer coer-
como representante do Poder Naval e da vontade de
ção ou apoio de maneira limitada ou restrita e outros.
seu país de alcançar o objetivo, suportando as perdas
Os posicionamentos operativos específicos, si-
prováveis, se tal for assim percebido.
tuando navios ou forças navais próximo a um local de
Na crise dos mísseis que a União Soviética pretendia
crise, constituem apenas um caso especial da de-
instalar em Cuba, em 1962, a Marinha dos Estados Unidos
monstração permanente do Poder Naval e as ações
mostrou determinação suficiente para que os sovié-
ticos decidissem que os navios que transportavam os podem ser semelhantes.
mísseis deveriam regressar. Foi, portanto, uma ação de
coerção deterrente do emprego político do Poder O auxílio naval inclui a instalação de missões navais,
Naval americano, pois modificou uma ação que já esta- o fornecimento de navios e o apoio de manutenção.
va em andamento, em face de terem percebido que os As visitas a portos estrangeiros, para reabasteci-
americanos estavam dispostos a usar a força para não mento, descanso das tripulações, ou mesmo ações
ter seu território ao alcance dos mísseis em Cuba. específicas de boa vontade, no que se denomina
Considerando o conflito pela posse das Ilhas “mostrar a bandeira”, podem transmitir a imagem
Falklands/Malvi nas, em 1982, os argentinos deixaram do prestígio da Marinha, aumentando a influência e
de ser dissuadidos pelo Poder Naval britânico e invadi- acumulando vantagens psicossociais sobre o país
ram as ilhas, porque julgaram que o valor daquelas ilhas visitado.
não compensava o esforço de projetar o poder da O Poder Naval brasileiro é empregado em tempo
Marinha da Grã-Bretanha àquela distância no Atlântico de paz de diversas maneiras, podendo-se destacar:
Sul, em face das perdas humanas e materiais que pro- – as operações com Marinhas aliadas, como: a Ope-
vavelmente teria. Por seu turno, a ocupação militar das ração Unitas, com a Marinha dos Estados Unidos e de paí-
ilhas falhou, porque o governo britânico levou a ques- ses sul-americanos; a Operação Fraterno, com a Armada
tão ao ponto de defesa da honra do Reino Unido. da República Argentina, e muitas outras;
– a participação em diversas missões de paz,
O EMPREGO PERMANENTE DO PODER NAVAL transportando as tropas ou enviando seus fuzileiros
A teoria do emprego político do Poder Naval mos- navais, como em São Domingos, Angola, Moçambique,
tra a possibilidade do uso permanente das forças na- Nicarágua e Haiti;
vais em tempo de paz, em apoio aos interesses de uma – as viagens de instrução do navio-escola e as visi-
nação. Isso é verdade tanto para os países desenvolvi- tas a portos estrangeiros, “mostrando a bandeira”.
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HISTÓRIA NAVAL
Cabe também ressaltar o apoio que a Marinha do junho de 2005, tendo sido aprovada pelo Presidente
Brasil presta a outras Marinhas aliadas, na América do Sul da Republica. Ela estabelece objetivos para o prepa-
e no continente africano. ro e o emprego de todas as esferas do Poder Nacio-
A análise do passado demonstra a necessidade do nal relacionados com a defesa e, também, orienta o
emprego permanente do Poder Naval. Para o Brasil, planejamento estratégico de longo prazo das Forças
é muito importante manter um Poder Naval capaz de Armadas. A publicação afirma, ainda, que o Brasil não
inibir interesses antagônicos e de conservar a paz como pode prescindir de Forças Armadas, pois tem enorme
desejada pelos brasileiros. patrimônio a zelar. Define as duas áreas estratégicas
prioritárias para o Brasil: Atlântico Sul e Bacia Amazô-
A MARINHA NA HISTÓRIA nica.
DO BRASIL EM TEMPOS DE PAZ
ATUAÇÃO EM SITUAÇÃO DE CRISE OU CONFLITO
ASPECTOS LEGAIS ARMADO
Atualmente, a Constituição Federal dispõe, no ar-
tigo 142, que as Forças Armadas destinam-se à defesa Considerando a destinação constitucional, as
da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e da áreas estratégicas prioritárias, os interesses do País no
lei e da ordem. Podemos afirmar, então, que essa desti- cenário internacional e as vulnerabilidades da nossa
nação tem duas componentes: economia, foram estabelecidas as áreas de atuação
• a primeira refere-se à defesa da pátria, defesa ex- e as possibilidades de emprego da Marinha do Brasil,
terna, relacionada à soberania, à independência e ao em situação de crise ou conflito armado:
patrimônio nacionais;
• a segunda refere-se à atuação interna no País, • Atlântico Sul;
relacionada à garantia dos poderes constitucionais e • Bacia Amazônica;
à garantia da lei e da ordem. • Bacia do Paraguai–Paraná:
• Operações de Paz e Humanitárias;
A defesa da pátria é a componente principal e es- • Operações em coalizões com países amigos;
sencial da destinação constitucional das Forças Arma- • Salvaguarda de cidadãos ou do patrimônio
das brasileiras, sendo a atividade-fim para a Marinha do brasileiros no exterior.
Brasil. Em decorrência, a missão da Força é “Preparar e
aplicar o Poder Naval, a fim de contribuir para a defesa Certamente as duas primeiras são prioritárias em
da Pátria”. relação às demais. Para a Marinha, o emprego principal
Lei Complementar definiu que a atuação na área in- é no Atlântico Sul e, entre as duas Bacias, a prioridade
terna somente se dará após esgotados os instrumen- é para a Amazônica.
tos da Segurança Pública e quando expressamente No Atlântico Sul, o conceito de emprego do Poder
decidido pelo Presidente da República. Portanto, esse Naval será no sentido de impedir que as forças navais
emprego será episódico, temporário e de curta dura- do possível inimigo alcancem as proximidades do ter-
ção. ritório nacional.
Atualmente, estão presentes nas relações inter-
ASPECTOS ESTRATÉGICOS nacionais novas questões como os atores não esta-
tais, as novas ameaças, o terrorismo internacional, o
Apesar de vivermos em paz com nossos vizinhos nacionalismo radical, os delitos transnacionais, entre
há mais de 130 anos, não estamos livres de ameaças outros, que também permeiam os arranjos de segu-
externas, hoje mais presentes as oriundas de atores rança e defesa dos estados.
não-estatais, apesar de não estarem descartadas as
originárias de outros países. A história da civilização de- ATIVIDADES PERMANENTES EM TEMPO DE PAZ
monstra que qualquer nação que deseje ser soberana Em período de paz, a tarefa da Marinha do Brasil é
no cenário internacional deve dispor de Poder Militar de grande relevância, com a obrigação de:
adequado e confiável, ajustado às dimensões territo- • patrulhar cerca de 40 mil km de rios navegáveis,
riais, populacionais, políticas, estratégicas e econômi- de nove diferentes bacias hidrográficas, que, por não
cas do país. A Marinha tem grandes áreas estratégicas estarem interligadas, exigem inúmeros navios e em-
a proteger e um enorme patrimônio econômico a ze- barcações de diversos tipos;
lar, sejam terrestres, fluviais ou marítimos. • fiscalizar e inspecionar os navios que chegam aos
O principal documento de planejamento estraté- nossos 80 portos ou terminais hidroviários e marítimos
gico de defesa do Brasil é a Política de Defesa Nacional. e os que deles saem;
Não é uma publicação de uso exclusivo da área militar: • proteger cerca de 100 plataformas de explora-
deve ser do conhecimento de toda a sociedade, po- ção de petróleo situadas na Amazônia Azul, particu-
dendo ser acessada na internet pelo site: https://www. larmente na Bacia de Campos, de onde se extrai 90%
defesa.gov.br/pdn/index.php. A edição em vigor é de do petróleo produzido no Brasil;
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