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FRENTE À GLOBALIZAÇÃO
Resumo: O presente estudo tem como objetivo a análise, ainda que de maneira breve,
do conceito de soberania diante do contexto de globalização em que o mundo se
encontra e que se mostra cada vez mais presente e integrado à realidade. Se questiona se
há que se falar em mitigação, supressão ou qualquer outra ideia que denote alienação do
poder soberano dos Estados às organizações de caráter internacional, principalmente,
supranacional. O presente estudo foi realizado a partir de levantamento bibliográfico e
confrontação das ideias dos estudiosos sobre o tema. Conclui-se que no atual cenário
global, não há que se cogitar hipótese de mitigação, alienação ou caminho que leve à
extinção da soberania. Trata-se, na verdade, de reorganização do ideal de soberania para
que possibilite a convergência dos mais diversos interesses dos Estados soberanos. Para
isso, os Estados, no mais pleno exercício da sua soberania, podem optar por delegar
parte do seu poder para se verem mais fortes e consolidados no cenário internacional.
INTRODUÇÃO
A ideia de Estado tem sido objeto de estudiosos das mais diversas áreas há
muito tempo, sempre na tentativa de identificar as condições sociais que o fizeram
surgir e os caracteres que o estruturam. Como se destaca logo a seguir, de certa maneira,
é a doutrina pacífica no sentido de que são elementos do Estado: o povo, o território e a
soberania.
Poder soberano é considerado como um dos elementos essenciais ao Estado,
assim como o território e o povo. Dizem-se essenciais, pois necessários à caracterização
do mesmo. (DALLARI, 2013, p. 79)
Nessa perspectiva, é objeto do presente estudo uma breve análise do
conceito de soberania dos Estados em face do contexto global que se apresenta. É
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Aluno do curso de Direito da Faculdade 7 de Setembro – Fa7. Estagiário da Procuradoria Geral de
Justiça, lotado na 29ª Promotoria de Justiça Cível da Comarca de Fortaleza. rodrigjosue@gmail.com
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pertinente tal tipo de pesquisa, uma vez que diante de um contexto globalizatório e a
maior intensidade de relações interestatais, bem como a maior interdependência implica
em reanálise de conceitos até certo ponto suficientemente firmes e consolidados. Dentre
eles está a ideia de soberania.
Com as organizações internacionais, que surgem em um contexto em que se
busca soluções pacíficas de conflitos, bem como convergência de interesses entre os
Estados, inicia-se, ainda que timidamente a abertura para que entes externos, pudessem,
ainda que não de forma direta, intervir das decisões dos Estados, e sobre aquilo que, em
princípio seria exclusiva competência deste. Em seguida, surgem as chamadas
organizações supranacionais que conseguem redimensionar parte da soberania dos
Estados com possibilidade de intervenção direta nos Estados e seus cidadãos.
Diante desse contexto, o presente estudo se volta à breve análise do conceito
de soberania diante do presente contexto global que hoje se apresenta, buscando
identificar se há, de fato, que se falar em mitigação ou fulminação da ideia de soberania
com a globalização. Ou seja, se não seriam conceitos suscetíveis de coexistência
pacífica.
Seis séculos após, início do século XIX, ganha destaque os ideais sobre
soberania externa. Em virtude das já consolidadas e contínuas expansões territoriais, às
potências da época interessava a proteção de suas conquistas, o que passou a se dar a
partir da gradual implementação da ideia de soberania e o respeito e reconhecimento
recíprocos entre os Estados (DALLARI, 2013, p. 85).
Vale, neste ponto, destacar o conceito de soberania em uma perspectiva
externa defendido por Max Huber (apud Cretella Neto, 2013, p. 49):
Diante de tal situação, fica cada vez mais latente a constatação de que a
globalização intervém direta e necessariamente no conceito de soberania externa, vez
que implica considerações acerca do exercício desta, o que leva a alguns considerarem a
existência de uma “crise da soberania” (MIRANDA, 2004, p. 86).
Não há dúvidas acerca dos intensos questionamentos e tentativas de
previsão dos destinos da ideia de soberania. De um lado há os que consideram que a
globalização tende a mitigar, relativizar, chegando a fulminar com o que hoje se entende
por soberania, como Lôbo (2001, online) que acredita que a globalização se encaminha
“[...] a transformar o globo terrestre em um imenso e único mercado, sem contemplação
de fronteiras e diferenças nacionais e locais”.
Maluf (apud Serra Neto, 2013, p. 238) aponta que: “[...] a soberania estaria
em via de extinção, se não mesmo extinta, pelo menos no que se refere ao seu conceito
clássico”.
Por outro lado, há quem defenda que a ideia de soberania é necessária à
manutenção da globalização e integração, não podendo, pois, a globalização reduzir o
conceito de soberania a ponto de torná-lo irrelevante.
Somente uma composição política, legislativa e jurídica, interna e
externa, pode levar à realização do ideal integracionalista. Esta
composição é resultado do mais puro exercício de soberania interna.
Donde se conclui que nestes processos, do mais simples modelo (zona
de livre comércio) aos mais avançados (integração econômica total) é
impróprio falar-se em mitigação ou 'alienação de soberania'. Insistir
nesta afirmativa significa retornar no tempo, aos primórdios do Direito
Internacional Clássico, é deter-se somente sob o aspecto interno da
soberania que privilegia as relações internas do Estado, criando
barreiras teóricas intransponíveis para a realização dos modernos
processos econômicos. (MORE apud GABRIEL, 2005, online)
comuns dos seus membros, mediante os poderes próprios que lhes são
atribuídos por estes.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
conceitos e estruturas para que se possa chegar aos objetivos comuns almejados pelos
Estados. Em relação aos objetivos não comuns, que se busque meios pacíficos de
convergência dos interesses inicialmente divergentes.
Nesse contexto, já bem apresentado, o ideal de soberania passou por
algumas transformações, chegando a se questionar se tais transformações não teriam o
condão de romper com esse que é um dos elementos essenciais do Estado.
Em verdade, pela análise das considerações feitas, entendemos não haver
uma fulminação da soberania ou um caminho que se esteja trilhando que leve a isso.
Verificamos que as organizações internacionais, dentre elas as supranacionais, não são
titulares de poderes originários como ocorre com os Estados, mas sim de poderes
derivados. Ou seja, a sua existência depende direta e exclusivamente da vontade dos
Estados em instituí-las. Não havendo obstáculos em seus respectivos ordenamentos
internos, podem, os Estados, no exercício pleno da sua soberania, delegar competências
que seriam, a priori, exclusivamente suas, a um ente organizacional de caráter
supranacional, aceitando, inclusive, se sujeitar às decisões deste.
Observe-se que não seria adequado, pelo menos no atual contexto, valer-
se de adjetivos que, erroneamente, nos leve a compreender que o fenômeno que se
analisa caracteriza uma alienação da soberania dos Estados ao ente internacional. Na
verdade, o que ocorre é, de fato, uma delegação, fazendo surgir, pela via derivada, uma
instituição de caráter supranacional que recebe delegação de alguns dos poderes que
antes eram inerentes aos seus membros.
Reafirma-se ainda a ideia de delegação quando se verifica a possibilidade
do Estado soberano recobrar os seus poderes, uma vez que a organização internacional
encontra o seu fundamento de validade na vontade dos Estados expressa por meio do
seu tratado constitutivo, que pode ser revisto e, inclusive, desconstituído.
De tal maneira, o Estado soberano, ao aderir a um sistema comunitário
como o europeu não se vê distanciado da sua soberania. Esta é mantida tanto do ponto
de vista interno, quanto do ponto de vista externo. O que há, repita-se, é delegação de
partes, definida por meio de tratado, do poder soberano do Estado.
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REFERÊNCIAS
BONAVIDES, Paulo. Ciência Política. 19. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.
CRETELLA NETO, José. Teoria geral das organizações internacionais. 3. ed. São
Paulo: Saraiva, 2013.
DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos de teoria geral do Estado. 32. ed. São Paulo:
Saraiva, 2013.
LÔBO, Paulo. Direito do estado federado ante a globalização econômica. Revista Jus
Navigandi, Teresina, ano 6, n. 51, 1 out. 2001. Disponível
em: <http://jus.com.br/artigos/2243>. Acesso em: 11 abr. 2015.