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JOHN BOWLBY UMA BASE SEGURA Aplicagoes clinicas da teoria do apego Tradugao Sonia Monteiro de Barros Revisao Maria de Lourdes Teixeira de Resende Membros da Escola Brasileira de Psicanalise e Etologia Revisao técnica Dra. Elizabeth Brasil Paulon Diretora Geral da Escola Brasileira de Psicandlise e Etologia PORTO ALEGRE — 1989 Conferéncia 7 O papel do apego no desenvolvimento da personalidade As provas relativas ao papel do apego no desenvolvimento da perso- nalidade vém se ‘acumulando, com rapidez, durante os anos 80. As des- egenis de diversas orlgens, métodos de observacdo foram aprimorados, novos métodos foram _ introduzidos e 0 papel da simples comunicagao entre um dos pais e seu filho, visando o desenvolvimento da satide emocional, foi enfatizado. Ja que acredito que este trabalho novo tenha intimeras conseqiiéncias quan- to as implicagoes clinicas, meu objetivo nesta conferéncia € o de apresen- tar uma revisdo dessas descobertas, de forma que ‘ela seja compativel com os que trabalham como psicoterapeutas no campo da satide mental. Alguns tracos distintos da teoria do apeso Devemos lembrar que a teoria do apego foi formulada para explicar certos modelos de comportamento caracteristicos nao sO de criangas e jovens como também de adolescentes € ‘adultos que foram inicialmente conceituali- zados em termos de dependéncia e superdependéncia. Em suas formulag6es originais, as observacées de como as criangas respondem, quando colocadas em lugar estranho com pessoas estranhas e os: efeitos que tais experiéncias tem nas relagoes subseqlentes da crianca com seus pais, foram de especial influéncia. Em todo 0 trabalho subseqtiente, a teoria continuou sendo muito proxima de observacées detalhadas e de dados de entrevistas sobre 4 forma segundo a qual os individuos respondem a situacdes especiais. Historicamente, 7) 7 UMA BASE SEGURA ia se desenvolveu a partir da tradicao psicanalitica das relacdes obietais, 8 s ela se baseou, também, em conceitos da teoria de evolucdo, etologia, teoria do controle e psicologia cognitiva. Um dos resultados foi a formulacao ‘da metapsicologia psicanalitica, de forma compativel com a biologia e a Psicologia modemas e em conformidades com os critérios amplamente aceitos da ciéncia natural (ver Conferéncia 4). A teoria do apego enfatiza: (a) 0 status primario e a funcao biolégica dos lagos emocionais intimos entre individuos, cuja formacao_e manutenc4o sao postulados como sendo ontrolados poi istema cibernéticd, situado no sistema nervoso central, que utiliza modelos funcionais do self e da figura de apego, um \" | em relagao ao outro." (b) a poderosa influéncia, no desenvolvimento de uma crianga, da maneira como é tratada por seus pais, especialmente pela figura matema, e (c) que 0 conhecimento atual do desenvolvimento de uma crianga requer uma teoria do desenvolvimento que possa tomar o lugar de teorias que invocam fases especificas do desenvolvimento, nas quais — sustenta-se — uma pessoa pode tomar-se fixada e/ou pode retornar. emocionat A teoria do apego considera a propensao_para_estabelecer lacos emo- cionais intimos com individuos especiais como sendo um componente basico fa_natureza humana, jA presente no neonato em forma germinal e que -continua na vida adulta e na velhice. Durante a primeira infancia, os lagos s40 estabelecidos com os pais (ou pais substitutos), que sao procurados para 9) protecdo, conforto e suporte/Durante a adolescéncia saudavel e a vida adulta esses lacos persistem, sendo, no entanto, complementados por novos lacos, ‘comumente de natureza heterossexual. Embora alimento e sexo tenham, as vezes, papéis importantes nas relagdes de apego, a relacdo de apego existe Por si s5 @ tem funcao primordial de sobrevivencia — protecao. Inicialmente, © unico meio de-comunicacao entre a crianca e sua mae é através da * Em publicagées anteriores usei, algumas vezes, 0 termo_“modelo representacional” como sindnimo de “modelo funcior Porque o conceito de representacdo era mais familiar na literatura clinica. Em uma psicologia dindmica, entretanto, modelo funcional 0 termo mais apropriado, e é esse, também, o termo que vem sendo agora mais usado entre os psicdlogos congnitivos (e.g. Johnson-Laird, 1983). Dentro da estrutura da teoria de apego é, em muitos momentos, equivalente, ou mesmo toma o lugar do conceito Psi- canaliticamente tradicional de objeto interno. 18 John Bowiby expresso emocional e do_comportamento que a acompanha. Embora suplementada pela fala, a comunicac4o mediada pela emocao persiste como um traco principal. das relacdes intimas pelo resto da vida. Entretanto, na estrutura da teoria do apego, os lacos emocionais intimos nado sao vistos nem como subordinados nem como derivados de alimento e de sexo. Tampouco 0 desejo urgente de conforto e suporte, em situagdes adversas, € visto como sendo infantil, como sugere a teoria da dependéncia. ~ Ao invés disso, a capacidade de estabelecer_lacos emacionais intimos com Outros individuos, as vezes no. papel da figura_que busca_ser.cuidada, € considerada como o traco principal do efetivo funcionamento da personali- dade e satide mental Via de regra, buscar cuidado é traco de um individuo mais fraco e menos experiente em relacdo a outro considerado mais forte e/ou mais sdbio. Uma crianca ou uma pessoa mais velha, no papel de quem busca cuidado, mantém, em relaco ao protetor, um grau de proximidade ou de rapido acesso de acordo com as circunstancias; até entao, este é 0 conceito de comportamento de apego. Q_cuidar, o papel mais importante dos pais e complementar_ao comportamento de apego, é considerado sob a mesma luz em que foi consi- derada a busca de cuidado, quer dizer, como um_ componente, da natureza 4 humana (ver Conferéncia-1), Finlorar « moin amhionto incliindn ac hrinradoirac o 26 virias ativide- des com criangas da mesma idade, é visto como um terceiro componente basico e como antitese do comportamento de apego. Quando um individuo (de qualquer idade) esta se sentindo seguro, ele tende a explorar para longe de sua figura de apego, Quando alarmado, cansado ou sentindo-se mal, sente urgéncia da proximidade. Vernos, entao, 0 modelo tipico de interagao entre uma crianca e um dos pais, conhecido como exploracao a partir de uma base segura, descrito, primeiramente, por Ainsworth (1967). Uma crianga sauda- vel_sente-se suficientemente segura para explorar, quando sabe que seus pais estado acessiveis e serdo receptivos quando requisitades. Inicialmente, esas exploragées sao limitadas tanto em tempo quanto em espaco. Por volta da metade do terceiro afio, entreanto, wna crianga segura comega a tomar-se suficientemente confiante para aumentar tanto 0 tempo quanto a distancia — primeiro para metade de um dia e, mais tarde, para dias inteiros. A medida que entra na adolescéncia, suas excursées se estendem para semanas e meses, porém, um lar considerado base. segura continua sendo indispensdvel para um funcionamento timo, assim como para a satide mental. Devemos observar que 0 conceito de base segura é um traco central na teoria da psicoterapia proposta Durante os primeiros meses de vida, uma crianca mostra muitas das respostas que, mais tarde, transformar-se-ao em comportamento de apego, embora o modelo organizado nao se desenvolva até a segunda metade do UMA BASE SEGURA 119 primeiro ano. Do.nascimento em_diante, -a.crianca mostra uma capacidade ® crescente_para Se_engajar_na_interac4o social e sentir Prazer em fazé-lo (Stem, 1985.) Dessa forma, n&o existe fase autista ou narcisica. Em poucos satisfac4o. Durante 0 segundo més, entretanto, 0 sorriso social atua podero- epee mes = oot a mae em sua tarefa e o repertorio de emocior la crianca se amplia idez ; Emde, 1983), ca iplia com rapidez (Ilzard, 1982; Como 0 desenvolvimento do comportamento de apego € um. sistema organizado, que tem como objetivo _a manutenco da proximidade ou do acesso a uma figura matema iscriminada, requer da crianga o desenvolvimento de sua capacidade cognitiva para que mantenha sua mie na meméria quan- do esta nao esta presente; essa capacidade se desenvolve durante a segunda metade do primeiro ano de vida. Dessa forma, dos nove meses em diante, a grande maioria das criancas respondem com protesto e choro ao fato de serem deixadas com uma pessoa estranha e, também, ficando de mau-humor € rejeitando o estranha por tempo mais ou menos prolongado. Essas obser- vacées demonstraram que, durante esses meses, a crianca esta se tomando capaz Ge represeniagdes e que 0 modelo iuncional, que eia ier ae sua mae, esta se tomando disponivel com 0 propésito de comparacao durante sua « auséncia e reconhecimento depois do seu retorno. Complementando o modelo que.a_crianca tem_de sua mae, ela desenyolve um modelo funcional de_si mesma_em interacdo.com a mée,-da mesma forma que com o pai. Um dos aspectos mais relev da teoria do apego ¢ a hipétese de que_o_comportamento. de apego € organizado por meio de um sistema de controle inscrito_no sistema nervoso central, .de forma andloga aos sistemas de controle fisiologicos, que mantém medidas fisiolégicas tais como presséo sangUinea e temperatura do corpo. Dessa forma, a teoria propde que, de forma andloga a homeostase fisiologica, o sistema de controle do ) comportamento de apego_mantém a relacéo da pessoa com sua figura de apego dentro de certos limites de distancia e acessibilidade, usando, para fazé-lo, métodos extremamente sofisticados de comunicacao. Assim, 0 efeito dessa operacSo pode ser considerado como um exemplo do que, pode ser chamado, de forma util, de homeostase ambiental (Bowlby, 1969, 1982). Ao postular um sistema de controle desse tipo (sistemas andlogos controlam outras formas de comportamento), a teorla do apego_contémem_si_uma_ teoria da motivacdo, que pode tomar o lugar de teorias tradicionais, que invocam energia ou impulso. Em meio as muitas vantagens da teoria do controle, esta o fato de que é dada tanta atenc4o as condicées que finalizam ib ‘0 John Bowlby uma seqléncia comportamental quanto as que a iniciam, assim como oferece uma estrutura fértil para pesquisas empiricas. A presenca de. um sistema de controle do comportamento de apego e sua ligacao com os modelos funcionais do self ¢ da(s) figura(s) de apego, que sdo. elaborados. na mente durante a infancia, é considerada_como.tracos centrais do funcionamento da personalidade durante toda a vida. Modelos de apego e condicdes que determinam o seu desenvolvimento A segunda area, a que a teoria do apego dedica atengao especial, & quanto ao papel dos pais da crianga em determinar como ela se desenvol- vera. Existem, hoje em dia, evidencias impressionantes e crescentes de que o modelo de apego, que um individuo desevolve durante os anos de imaturidade — primeira infancia, infancia e adolescéncia — & profundamente influencia- do pela maneira como seus pais (ou outras figuras parentais substitutas) o tratam. Essas evidéncias derivam de um grande numero de estudos e pesqui- sas sistematicas, sendo os mais impressinantes os estudos prospectivos do desenvolvimento sécio-emocional durante os cinco primeiros anos, feitos por psicdlogos do desenvolvimento, que sto também clinicamente sofisticados. Tais estudos, que tiveram Mary Ainsworth como pioneira (Ainsworth, Blehar. Waters e Wait, 1978; Ainsworth, i985) e que foram notaveimente expandi- dos por Main (Main, Kaplan e Cassidy, 1985), Sroufe (1983, 1985) nos Estados Unidos e por Grossmann (Grossmann, Grossmann e Schan, 1986) na Alemanha, vém agora se multipticando rapidamente. As descobertas s80 bastante consistentes e claras, no que se refere ao significado clinico. Trés modelos principais de apego, primeiramente descritos por Ainsworth e seus colegas em 1971, so agora identificados juntamente com as condi- __g6es familiares que os promoveram. O primeiro desses modelos é 0 do apego seguro, onde © individuo esta confiante de que seus pais (ou figuras paternas) estarao disponiveis oferecendo resposta ¢ ajuda, caso ele se depare com alguma situac3o adversa ou amedrontadora. Essa seguranca faz com que ele se sinta corajoso para explorar 0 mundo. Esse modelo € promovido por um dos pais, especialmente a mae,_nos primeiros anos, quando esta esta imediatamente_disponivel, sensivel aos sinais da crianca ¢ com_respostas amaveis, sempre que ela procura protecao e/ou conforto. Um segundo modelo. é 0 do apego. resistente e , individuo se mostra incerto quanto a disponibilidade, a possibilidade de receber resposta ou mesmo ajuda por parte de seus pais, caso necessite. Por causa dessa incerteza, ele tende, constantemente, a ansiedade de separacao, a ficar “grudado” e a ficar ansioso quanto a exploracao do mundo. Esse modelo, onde fica evidente.o confita, é pr or pais que se mostram disponiveis UMA BASE SEGURA 2 e_prestatives em _algumas_ocasi -N&o_em outras, € promovido po! separacdes e, como mostram_as descobertas clinicas, Por ameacas de abar _dono_usadas como meio de controle. 73 = rceiro_modelo € 0 do apego, ansioso_ com @vitac4o, onde o indi- Hae -tho- Lem -Denhuma-confianca.de.que “Quando, procurar cuidado. tera Tespos ajuda, , a0 contrario, espera ser rejeitado. Quando em _grau alto, 0 individuo procura viver sua vida sem 0 amor ea ajuda de outros, ie tomar-se_emocionalmente auto-suficiente e, mais tarde, talvez, seja diagnosticado como narcisista ou false-self do tipo descrito por Winnicott se lo, onde 0. confflito ésté mais. escondido, .¢ resultado. de te rejeicao por parte da mae, sempre que o individuo a procurava a fim de_obter conforto e protec4o. Os casos mais extremos so resultado de Atejeigdes_repetidas. Embora, na maioria dos casos, 0 modelo observado condiga com um outro dos tres modelos distintos, existem algumas excegdes. Durante os procedimentos iniciais, usados nesses estudos (Situacao Estranha de Ainsworth), onde a crianca e a mae sao observadas em interacéo durante uma série de epis6dios curtos, algumas criancas pareceram estar desorientadas e/ou_de- sorganizadas. Uma crianca parecia estar tonta; outra parecia ter congelado, de tao imével; uma terceira engajou-se em alguma estereotipia; uma quarta crianga comecou um movimento e o interrompeu incontaveis vezes. Depois -de muito estudo, Main e seus colegas concluiram que tais formas peculiares de comportamento ocorrem em criancas aue estan exihinda: ima version desorganizada de um dos trs modelos tipicos, sende que com mais trequen- cia 0 modelo resistente é ansioso (Main e Weston, 1981; Main e Solomon, no prelo). Alguns exemplos séo vistos em crianca’ que foram submetidas a abuso fisico e/ou foram completamente negligenciadas pelos pais (Crittenden, 1985). Outros tipos ocorrem nas diades ondé a mae sofre de uma forma severa de uma doenca afetiva bipolar e trata seu filho de forma errada e imprevisivel (Radke Yarrow et al., 1985). Outras formas sao apresentadas por criangas cujas maes estao preocupadas com o luto referente a perda de uma figura parental, cuja merte ocorreu durante sua infancia e por mes que- sofreram abusos fisicos ou sexuais enquanto criancas (Main e Hesse, no prelo). Os casos que apresentam estes modelos anormais so, sem diivida, de grande importancia clinica e recebem, hoje em dia, muita atengao. O conhecimento das origens desses modelos anormais confirma, de forma bastante clara, a influéncia que a maneira como os pais tratam a crianga exerce no seu modelo de apego. Outras provas, que confirmam esta hipétese, s4o provenientes de observacdes detalhadas da forma como diversas mies tratam seus filhos durante sessdes de laboratorio, que ocorrem quando a crianca tem dois anos e meio (Matas, Arend e Sroufe, 1978). Neste estudo @ dada & crianca uma tarefa pequena, porém dificil, cuja solugdo requer alguma assisténcia e a mae se encontra livre para interagir com ela. Nesta 122 John Bowlby . eses antes. , a mae de uma crianca considera- da, anteriormente, como Seguramente_apegada.é vi te i vel & atuacdo dessa crianca, assim olerece eee a quanto as dificuldades da crianga, de forma encorajadora e amiga. De fora Oposta, a mae de uma crianca anteriormente considerada como insegura é vista como menos atenta e/ou menos sensivel. Em alguns casos, as respostas dessa mae s4o fora do tempo ou inateis; em outros, ela toma pouco conhe. cimento do que a crianca est fazendo ou de como ela esta se sentindo; em Outros casos ainda, ela pode efetivamente desencorajar ou rejeitar seus pedi- dos de ajuda @ conforto. Cabe observar que o modelo de interacao adotado _.., Pela mae de uma crianca segura oferece um excelente exemplo para o | 2-74 modelo de intervencdo terapeutica adotado e defendido aqui Ao sublinhar a grande influéncia que a mae de uma crianga tem em seu desenvolvimento, faz-se necessario considerar o que levou a mae a adotar o £stilo de matemagem que adata. E, também, de grande influéncia a quantidade Sse" de suporte emocional, ou a falta dele, que a mae recebe. A forma de 7 maternagem que a mae recebeu quando crianca também é de grande influen- -cia. Uma vez que esses fatores sejam reconhecidos, como h& muito tempo vem sendo por muitos clinicos analiticamente orientados, a idéia de culpar os pais desaparece dando lugar 4 abordagem terapéutica. Ja que os problemas SMCS 53 Pais, Urluiius de seu -passadv, & Os Scus-eleilos. sobre as criangas tomaram-se um campo de pesquisa sistematica, uma breve descri- So do trabalho atual é feita no final da Conferencia 8 (éncia dos modelos Se nos voltarmos para os modelos de apego, ja observados em criangas de um ano de idade, veremos que os estudos prospectivos demonstram que cada modelo, uma vez desenvolvido, tendé_a_persistir. Uma das razdes para - isto € que a forma como os pais tratam a crianca tende a continuar, mesmo que as consequéncias nao sejam previsiveis. Uma outra raz4o € que cada _-.» Modelo tende a ser autoperpetuante. Entdo, uma crianga segura € mais feliz, "mais cooperativa no cuidado e menos exigente do que uma crianca ansiosa. Uma crianca_ansiosa ¢. ambivalent tende a ser. “resmungona’’.e agarrada, enquanto uma crianca_ansiosa ¢_evitante mantém-se @ distancia etende a implicar_com_outras criancas. Nestes dois ultimos casos, 0 comportamento da érianca tende a favorecer uma resposta desfavoravel por parte dos pais, dando inicio, assim, ao desenvolvimento de um circulo vicioso. Fen tmbora por_essas raz6es 0s modelos formados estejam aptos a per- € necessariamente assim. As evidéncias mostram que durante ‘sistirem, no 123 UMA BASE SEGURA os dois ou trés primeiros anos, o mod relac&o, por exemplo, ean ou a de apego € uma propriedade da tratar a ctianga de formna diferente, o modele tater ne modi en de que a estabilidade do modelo, quand lo também se modifica. As provas ao temperamento inato da crianca, eat nao podem ser alribuidas esto, entre outras, revisadas por Srouf ey aeieme® teres coer: crianga cresce, o modelo se ie a fe (1985). No entanto, a medida que a car, oa aga ic catas store Sgme 7 ee como com uma professora, uma mae substi- - _eaareae ener pprocesso, de_intemalizagSo so evidentes num estu- a. que mostra que o modelo de apego caracteristico do par mae- _tilho, ave quando a crianga estava com doze meses é altamente facilita- dor para a previsto de como esta crianca se comportaré num grupo de cre- che (com a mae ausente) tres anos e meio mais tarde. Desta forma, as crian- J gas que apresentaram um modelo seguro com a me aos doze meses, tendem a ser descritas pelas pessoas.da creche como. cooperativas, populares entre as outras criancas, fortes e capazes. Aquelas que apresentaram um_modelo ansioso_e evitante_tendem a_ser.descritas.como emocionalmente afastadas, hostis_ou_anti-sociais.e, paradoxalmente, buscando excessivamente atencao. ‘Aquelas que apresentaram.um modelo ansioso e resistente tendem a ser des-- critas, também, como buscando excessivamente atencao e ora tensas, impul- sivas e tacilmente frustradas, ora passivas e incapazes (Srouie, 1983). Tendo em vista estas descobertas, 6 pouco surprendente que em dois outros estudos prospectivos, sendo um deles um estudo pioneiro na Califomia (Main ¢ Cassidy, no prelo) e 0 outro, semelhante, na ‘Alemanha (Wartner, 1986), 0 modelo de apego avaliado aos doze meses tenha sido considerado altamente previsivel, assim como os modelos de interacao com a mae, cinco anos mais tarde. : Embora © repert6rio de comportamento de uma crianca de seis anos em relac&o a um dos pais seja muito maior do que o de uma crianga de um __. ano, 0s modelos. de apego iniciais s40. prontamente discerniyeis, numa idade oY mais. avancada, por um observador treinado. n Assim, as eriangas que s8o classificadas como seguramente apegadas ‘aos seis anos s4o aquelas que tratam seus pais de uma forma relaxada e amigavel, estabelecem intimidade com eles de forma facil e sutil e mantém um_fluxo livre de conversacao, As _criangas, classificadas como ansiosas @ resistentes, mostram_uma _mistura de inseguranga que inclui tristeza e medo, 2 intimidade alternada com hostilidade, as vezes sutil e as vezes extrovertida. Em alguns destes casos, o comportamento da crianca parece, ‘ao observador, autoconsciente ou mesmo artificial. Embora elas sempre estejam antecipando uma resposta negativa por parte dos pais, tentam “aparecer” como “boazin- has"_ou. especialmente. charmosas (Main e Cassidy, no prelo; Main, comunicacao pessoal). 124 John Bowlby . mmantey anvas de sels anos clasicadas como ansiosas ¢ evtantestendem rapldzs, os pal See: As saudacées, se ocorrem, sto formals e a topicos de conversacéo permanecem impessoais. A crianca ‘ocupada com brinquedos ou alguma outra atividade e ignora, ou se = desatenta, as iniciativas dos pals, criangas, que aos doze meses, parecem ser desorganizadas e/ou desorientadas s4o aquelas que, cinco anos mais tarde, eats ae como mostrando, com evidéncia, sua tendéncia para controlar ou dominar os Pais. Uma das formas de fazé-lo é tratar os pais de forma humthante ou Tejeltadora; uma outra é sendo solicito e protetor. Estes s40 exemplos claros da- quilo que os clinicos rotularam como inversio ou reverso dos papéis da crian- a e dos pals. As conversas entre eles sto fragmentadas, as frases que sto inicladas permanecem inacabadas e os tépicos abordados se transformam abruptamente. Considerando a persisténcia do modelo de interac&o de uma crianga de seis anos com seus pais e com outras figuras parentais, surge uma questao crucial: em que medida os modelos estao, nesta idade, enraizados na perso- nalidade da crianca e em que medida eles sao um reflexo da forma como os Pais ainda a tratam? A resposta que a experiéncia clinica aponta é que, por volta desta idade, as duas influéncias esto atuando de forma que as inter- veng6es mais efetivas:séo aquelas que levam as duas em consideracées, e.9. Dor meio de terapia de familia ou por meio de aiuda aos pais e a crianca paralelamente. Ainda assim, sabe-se muito pouco sobre a influéncia no desenvolvimen- to da personalidade das interagées com a mae comparada com as interac6es com 0 pai. Seria pouco surpreendente se as diferentes facetas da perso- nalidade, manifestadas em diferentes situagdes, fosseri influenciadas ‘dife- rentemente. Além disso, as respectivas influéncias em homens tenderao a ser distintas das respectivas influéncias em mulheres. Certamente € uma 4rea complexa, que requer muita pesquisa. Enquanto isso, parece que pelo menos durante os primeiros anos de vida de um individuo, 0 modelo do self em interacao com a mae € o que exerce a maior influéncia. Isto ndo causaria muita surpresa, J que em todas as culturas conhecidas, a grande maioria dos bebés e criancas interage muito mais com a mae do que com 0 I. 2 Deve-se reconhecer que, até agora, os estudos prospectivos acerca da relativa persistencia dos modelos de apego e dos tracos de personalidade caracteristicos de cada um ainda ndo foram realizados depois do sexto ano. Mesmo assim, dois estudos transversals de jovens adultos mostram que os tragos de personalidade caracteristicos de cada modelo durante os primeiros anos também so encontrados em jovens adultos (Kobak e Sceery, 1987; ‘Cassidy e Kobak, no prelo; Hazan e Shaver, 1987); e é mais do que provavel que eles tenham estado continuamente presentes, exceto nos casos em que a UMA BASE SEGURA id relacao familiar tenha mudado substancialm« i iar tenha n ente nesse intervalo. T nossas experiéncias clinicas dao forte suporte a esse ponto de vista. = Uma teoria de internalizacao \ ee a ee de explicar a tendencia dos modelos de apego de se t , de forma intensa, uma propriedade da crianga, a teoria do apego invoca © conceito de modelos funcionais do self e dos pais, j4 descritos. Os modelos funcionais, que a crianga constroi de sua mae e da forma como ela se comunica e se comporta em relacdo a crianca, junto a um modelo compa- ravel do pai e aos modelos complementares de si mesma em intera¢ao com cada um deles, S80 construidos pela crianca durante os primeiros anos de sua vida e, postula-se, toram-se rapidamente estabelecidos_como _estruturas ivas i! tes (Main, Kaplan e Cassidy, 1985). As formas que assumem, sugerem déncias ja amplamente revistas, ‘paseiam-se-na experiencia a. vida_real_da_crianca, no_que. conceme_a_sua_in' Subsequentemente, o modelo ue ela constrOi dé imagem _que.os pais tem dela, imagem que. comunicada nao. como a tratam, mas, tambem, pelo que cada um diz sobre ela. Esses mod @nitao, governiam o-que @la sente ‘em relacao.a.cada um dos pais, em relagao a ela mesma, a forma como ela espera que cada um a trate e a forma como pianeja seu proprio comportamento em. relagao.a eles. Esses modelos tambem governam os medos, assim como os desejos expressos em suas fantasias. ‘Uma vez construidos, sugerem as ‘evidencias, os modelos dos’ pais € do self em interagao tendem a persistite,acredita-se, passam a operar em nivel inconsciente. A medida que_a crianga_seguramente apegada.cresce.€ seus pais a tratam_diferentemente, corre uma atualizacao.gradual clos modelos. Isto quer dizer que apesar do periodo de tempo transcorrido, seus modelos funcionais continuam a ser representagées relativamente boas de si mesma & _de seus pais em interagao. No caso da crianca ansjosamente. apegada, em constraste, essa atualizacde gradual de modelos é, em aigum grau, obstruida ges discrepantes. [sto quer pela exclusto defensiva de expariencias e informac Fiver que o modelo de interacd0, POF ter se tomado habitual, generalizado e ‘menos imutavel, mesmo ie o tratam de forma conte, persiste num estado mals 08 quando ele era “hol bastante inconsci quando 0 individuo, na vida ‘madura, lida com pessoas qu completamente diferente daquela adotada por seus pais, crianga. ‘na pista para a compreensao dessas diferencas de grau em que os modelos 30 atualizados deve ser encontrada nas profundas diferencas QvT™ fo a liberdade de comunicacao entre ove filho, que caracterizam pares dos doist ipos. Esta é uma variavel para 2 qual Bretherton (1987) chamou especial atengao. 126 John Bowlby ee Observaremos itudi ir wot cea ee eae observado no par que cinco anos antes tnha apresentado um modelo de apego seguro & bastante diferente daquele observado num. ee iicrrrienes avis sptechiedoimnimnedels inssainet aan an coe ee se engaja numa conver i ; alee aatetd u rsa que flui livremente, e é entrelacada de expres- sées de sentimento e aborda uma variedade de t6picos, incluindo os pessoais, 08 pares inseguros n3o o fazem, Em alguns pares, as conversas s40 frag mentadas e os topicos mudam abruptamente. Em outros, especialmente nos pares evitantes, a conversa é limitada, os topicos mantém-se impessoais e todas as referencias a sentimentos s40 omitidas. Essas diferengas marcantes, no grau em que a conversa é livre ou restrita, s80 postuladas como sendo de grande relevancia para a compreensio das razbes que levam uma crianca a se desenvolver de forma saudavel e outra de forma perturbada. Alem disso, nao passaré desapercebido que essa mesma variavel — 0 grau em que a co- municac&o entre dois individuos @ restrita ou relativamente live — é ha muito reconhecida como de central importancia na pratica da psicoterapia analitica. Para que a relacao entre dois individuos prossiga harmoniosamente, caida’ um deve estar ciente dos pontos de vista, objetivos, sentimento ¢ intengGes do outro’e cada um deve ajustar seu préprio comportamento de re Isto ena um possua modelos de si e do outro razoavelmente aprimorads e que sejam regularmente atualizados pela comunicacao livre entre eles. E aqui que as mas de criancas seguramente apegadas sao eficazes, enquanto que as das criancas inseguras so deficientes. Uma vez focalizado em que grau a comunicagao entre o par pai/mae- filho flui livremente ou nao, tomarse rapidamente visivel, desde os primeiros dias de vida, que 0 grau de liberdade de comunicacao nos pares destinados a desenvolver um modelo de apego seguro € muito maior do que naqueles em que ists nao ocorre (Ainsworth, Bell e Stayton, 1971; Biehar,-Lieberman e qiasworth, 197). Uma das caracteristicas da mae, cujo filho se desenvolverd seguramente, @ estar continuamente controlando 0 estado de seu filho e, sempre que ele sinalizar um pedido de atencao, registrar e atuar de acordo, rT sta, a mae mais tarde sera descrita como ; Se ‘apegada, tende a controlar 0 estado de sou filho de forma esporadica e, quando percebe os sinais, responde tardiamente e/ou de forma Tnedequada. Quando a crianca chega a seu primer aniversirio essa fe rengas quanto a liberdade de comunicagae ja se tomaram evden es, como fos demonstra 0 procedimento da Situaca0 strana de Ainsworth (Grosso, Crossan e Swan, 1980), Meso To como ol bs? ‘i ao juntas e sozinhas, OS 7 crlanga mae 0 cag ae, através dos oars eames? 127 UMA BASE SEGURA a facial, da vocalizag4o e mostram ou i do que os pares considerados ee ibe eas aumenta, aumentam também . que 0 stress da crianca ‘ as diferencas entre os episédio de reuniso, depols da pares. Desta forma, no pares seguros se ci segunda separacao, quinze dos dezesseis omunicaram de forma direta, em contraste com uma minoria dos pares inseguros, Além disso, houve uma outra diferenca igualmente relevante. Enquanto cada crianga, classificada como segura, era usta em comunicagao direta com a mae quando estava contente assim como em situagdes de aflicao, as criancas classificadas como evitantes 6 estabeleciam comunicaco quando estavam contentes. Ent&o, com aproximadamente doze meses, existem criangas que ja nao expressam para suas mes suas mais profundas emogdes ou 0 igual- mente intenso desejo de conforto e seguranca que as acompanha. Nao é dificil ver que isso representa um sério colapso da comunicagao entre a crianca e a mae. Nao somente isso, posto que o modelo do eu que a crian- ga tem @ profundamente influenciado pela forma como a mae a ve é tra- ta, © que quer que a mae deixe de reconhecer na crianga também esta deixara de reconhecer em si. Desta forma, postula-se, a maior parte da personalidade em desenvolvimento de uma crianga pode tomar-se separada, quier dizer, sen comunicac4o com aquelas outras partes da sua personali- énhece e oferece résposias e que, em alguns casos, lidade, a eiadarmont 3 ost. ¢ esta, cr nga. O resultado dessa anélise 6 que a obstrugdo da comunicac4o entre as diferentes partes ou sistemas dentro de uma personalidade, que j& desde o inicio Freud apontou como problema crucial a ser resolvido, € vista agora como 0 reflexo de respostas e comunicacdes diferenciadas da mae para com seu filho, Quando a mae oferece respostas favorveis a somente algumas das comunicagées emocionais de seu filho e d4 as costas ou efetivamente desencoraja outras partes, fica estabelecido um modelo em que a crianca se identifica com as respostas favoréveis € descarta as outras. Seguindo essas linhas é que a teoria do apego explica o desenvolvimen- to diferenciado de personalidades resistentes e mentalmente saudaveis, assim como de personalidades que tendem a ansiedade e depressio, a0 desenvolvimento de um false-self ou outra forma de vulnerabilidade para a doenca mental. Talvez nao seja uma coincidéncia o fato de alguns, daqueles que lidam com problemas de desenvolvimento da personalidade e psicopato- logia de um ponto de vista cognitivo, mas que também do peso ao poder da emocao, e.g. Epstein (1980, 19860) e Liotti (1986, 1987), terem formulado teorias que séo essencialmente compativeis com esta. 128 John Bowlby Variagdes na forma em que a mie relembra suas experiéncias infantis A concluséo a que chegamos até aqui, acerca do papel da livre comunicacao emocional e cognitiva na determinac4o da satide mental, é fortemente apoiada por uma descoberta recente e muito importante a partir do estudo longitudinal de Main. Como resultado da entrevista com as mes das criancas que fizeram parte do estudo, Main encontrou uma forte corre- ¢ lagdo entre a forma como a mie descreve seu relacionamento com seus pais durante sua prépria infancia e o modelo de apego que seu filho agora estabelece com ela (Main, Kaplan e Cassidy, 1985; ver também Morris, 1981 e Ricks, 1985). Enquanto a mae de uma crianca segura € capaz de falar livremente e com emoc&o sobre sua propria infancia, a mae de uma crianga insegura nao o faz. Nesta parte do estudo, um entrevistador pede a mae que faa uma descrig&o de suas primeiras relagées, de eventos de apego e de que forma, no seu ponto de vista, essas relagées e eventos afetaram sua personalidade. ‘Ao considerar os resultados, muita atencdo 6 dada a forma como a mae conta sua historia e lida com as questdes que investigam essa hist6ria, assim como 0 material hist6rico que ela descreve. Em nivel mais simples, descobriu- se que a mae de uma crianca segura tende’a relatar uma infancia relativa- qmonte faliz @ 3 eo mnctrar cana da falar enhre isen nrontamente e em detalhes, colocando’ no lugar certo os eventos infelizes que porventura aconteceram, assim como os felizes. De forma oposta, a mae de uma crianca insegura tende a responder ao inquérito de uma entre duas diferentes maneiras: uma delas, apresentada pelas maes de criangas ansiosas e resistentes, descrevendo um relacionamento dificil e infeliz com sua propria mie, 0 que Claramente ainda a perturba e a mantém mentalmente presa e caso sua mae ainda esteja viva, fica evidente que ela esta presa a ela, também, na reali dade. A outra maneira, apresentada pelas maes de criangas consideradas ansigsas e_exitantes, ¢:a de. dar a nitida impressto de que: tiveram uma ~ infancia feliz, mas ndo s6 se mostram incapazes de apresentar detalhes que sustentem esta descricho, como referem-se a epis6dios que apontam para a diregdo oposta. Com frequencia, tais maes insistem que a0 conseguem lembrar de quase nada de suas infancias e muito menos da forma como eram tratadas. Assim, a forte impressto do clinico, de que a mae que teve a infancia feliz, tende a ter um filho que apresenta um apego seguro ns de que uma infancia infeliz, mais 2 eg asa pela incapaci dades, 6 amplamente sust . rake Ces segunda descoberta, no menos interesante ¢ ¢ 7 gan de relevancia, surgiu de um estudo das excegdes as rearas in mies que disseram ter tido uma infancia multo, infel, mas que, no entanto, tom {hos que demonstram apegos Seguros a elas. Uma caracteristica . 129 UMA BASE SEGURA ue as di i i descreve-lo, s& , No periodo da infancia, levando-as a chorar 20 par , S40 capazes de contar suas hist6rias de forma coerente ¢ fluente, na econ eel Positivos de suas experiéncias tomam o lugar correto e an grados com os que foram negativos. Na capacidade de equilibrio, s Se assemelharam as maes de criancas seguras. Isto deu aos entrevistadores e aos que tiveram acesso as informagdes, a impresséo de que essas maes excep” cionais tinham pensado muito sobre suas experiéncias. ‘infelizes, do-inicio-da_ vida, assim como sobre a forma como esas experiéncias as afetaram a longo \ prazo e, também, sobre o porque de seus pais as terem. tratado da forma que ,, 0 fizeram. De fato, elas pareciam ter aceito suas proprias.experiéncias. De forma oposta, as maes de criancas cujo modelo de apego em relacao a elas era inseguro e que também descreviam uma infancia infeliz, 0 faziam sem fluéncia ou coeréncia: as contradicées eram abundantes e passavam como que desapercebidas por elas, Além disso, a mae que falou de incapa- cidade para relembrar sua infancia e o fez repetida e intensamente, foi aquela cujo filo era inseguro em sua relagao com ela." A luz dessas descobertas, Main e seu grupo concluiram que © livre acesso e uma organizacao coerente de_ informacao relevante ao apego tem ‘um papel determinante no desenvolvimento de uma personalidade segura, na vida adulta. Para aqueles que tiveram infancias felizes, nenhum ‘obstaculo po- wone do trie ine Gord inierfetir No liste B93 B08,B5-8) ‘ formacoes. Para aqueles que sofreram muita infelicidade ou cujos pais Os proibiram de tomar ‘conhecimento ou mesmo lembrar de alguns eventos ad- . Persos, 0 acesso & doloroso e dificil e, sem ajuda, poder mesmo ser impossi- vel. No entanto, embora seja dificil, ‘quando uma mulher consegue preservar ‘ou recuperar 0 acesso a memérias tao infelizes e reprocessé-las, de tal forma que possa, entao, elaboré-las, ‘la estaré n3o menos apta a responder ao com portamento de apego de seu filho, de forma que ele desenvolva um apego se- guro a ela, do que uma mulher cuja infancia foi feliz. Esta é uma descoberta que oferece grande -encorajamento- aos muitos terapeutas, que ha tempos Tentam ajudar maes exatamente desta forma. Referencias adicionais, sobre a técnica para auxiliar mées perturbadas, s4o feitas no final da Conferéncia 8. Caminhos para o desenvolvimento da personalidade Existe mais um aspecto, no qual a teoria do apego difere das teorias psicanaliticas tradicionais, especialmente, a rejeico aos modelos de “Em um exame mais profundo dos dados, descobriu-se que todas essas relagdes também se aplicam aos pais (Main, comunicagso pessoal) 120, John Bowlby desenvolvimento nos quais 0 individuo é visto como passando por uma série de estdgios, em cada um dos quais ele pode tomar-se fixado ou retornar e a sua substituicgo por um modelo no qual o individuo € visto como uma pregress30 ao longo de um ou outro grupo de caminhos potenciais de desenvolvimento. Alguns desses caminhos s40 compativeis com o desenvol- vimento saudavel; outros, desviam-se em uma ou outra direcao, em formas incompativeis com a saide. Todas as variantes do modelo tradicional, que invocam fases de desenvolvimento, s40 baseadas na afirmativa de que em algumas fases do desenvolvimento normal, uma crianca mostra tracos psicolégicos que, em in- dividuos mais velhos, serao considerados como sinais de patologia. Entao, um adulto, cronicamente ansioso e agarrado, pode ser considerado como tendo se fixado ou regredido 4 uma fase postulada como sendo de oralidade ou de simbiose; enquanto que um individuo profundamente introvertido pode ser considerado como tendo regredido a fase postulada como autismo ou narcisimo. Estudos sistemSticos e sensiveis de criancas, como os relatados por Stem (1985), fizeram com que o modelo defendido aqui se tomasse indiscutivel. As observagbes mostram que as criangas respondem socialmente desde 0 nascimento. Bebés, com desenvolvimento saudavel, nao apresentam um agarramento ansioso, a menos que estejam amedrontados ou perturbados: nos outros momentos, eles exploram com confianca tendo, desde nascimento, um grupo de caminhos potenciaimente abertos para ele; aquele ao longo do qual ele ira caminhar sera determinado, a todo momento, pela interagSo entre como cle é agora e 0 meio ambiente cm que ele se encontra. Cada crianca é considerada como tendo seu proprio grupo de caminhos potenciais para o desenvolvimento da personalidade que, exceto para as criancas nascidas com certos tipos de danos neurolégicos, incluem muitos que s80 compativeis com a sade mental e outros que $40 incompa- tiveis, © caminho especial, que a crianca vai percorrer, é determinado pelo meio ambiente que ela encontra, especialmente pela forma como os pais (ou pais substitutos) a tratam e como ela responde a eles. As criancas, Cujos pais sho sensivels e olerecem respostas, esido capacitadas a se desenvolverem ao longo de um caminho saudavel. Aquelas, cujos pais s4o insensivels, N30 oferecem respostas, S40 negligentes ou as rejeitam, tendem a se desenvolver ao longo de um caminho anormal que, em certo grau, € incompativel com a saude mental e que as tomam vulneraveis a um colapso, caso se deparem com situac6es adversas. Assim mesmo, desde que 0 curso do desenvolvimen- to subsequente nao esteja estabelecido, as mudancas na forma como a crian- ¢a é tratada podem alterar 0 seu caminho para uma direcdo mais favoravel ‘ou menos favoravel. Embora a capacidade para mudanc¢as no desenvoinen to diminua com a idade, estas mudangas continuam durante todo 0 ciclo wital, de forma que mudangas para pior ou para melhor sAo sempre Passes UMA BASE SEGURA 131 132 John Bowiby Mk oe le ee Be bsnlet ome laces hk eed Conferéncia 8 Apego, comunica¢ao e o processo terapéutico Na segunda parte de minha conferéncia, em Maudsley, em 1976, “Formacao e Rompimento dos Lagos Afetivos” (1977), descrevi algumas das minhas idéias sobre as implicacées terapéuticas da teoria do apego. Muito do que foi aprendido desde entéo fortaleceu minha confianca nesta abordagem. O presente texto, portanto, pode ser considerado como uma ampliagéo do anterior. Neste, dou uma atengdo mais detalhada @ maneira como as experiéncias iniciais dos pacientes afetam a relagdo transferencial e discuto mais profundamente 0 objetivo do terapeuta como sendo o de capacitar seu paciente a reconstruir os modelos funcionais de Si mesmo e de sua(s) figurals) de apego, de forma que ele se submeta menos 4 magia das tristezas esquecidas e fique mais capacitado a reconhecer companheiros, no presente, pelo que eles sdo. aquilo que nao foi compreendido inevitavelmente reaparece; como um fantasma que n&o pode descansa, até que o mistério tenha sido resolvido e o 2ncanto quebrado. ‘Sigmund Freud, 1909 Aqueles que nao podem se lembrar do passado estao condenados a repeti-lo. George Santayana, 1905 UMA BASE SEGURA 133 Cinco tarefas terapéuticas A teoria do des i senvolvimento da i ‘ 7 eae eer personalidade e psicopatologia esboca- das trés formas principais de psi Seen sr Oe ee eeecicnae) ee ee analitica, usadas hoje em dia — , ia de famil i i ik Mente com a primeira, ila terapia de grupo. Eu, a To so Um terapeuti i one peuta que usa a teoria do apego vé seu papel como sendo o de as condigbes nas quais seu paciente pode explora seus Tepresentacionais de si mesmo. figuras de ome modelos ee NT e-de sias figuras de apego, com o objetivo de_ sees eT ide fuz da nova compreensao que ele agora tem 2, cane experiencia wie relagao terangutica. Ao ajudar seu paciente , © papel do terapeuta it it prinéipais~ par apeuta pode ser descrito em co ‘opicos O primeiro & oferecer ao paciente yma_base segura, 2 partir da qual ele possa explorar os.diversos aspectos infelizes ¢ dolorosos de sua vid da e presente, muitos dos quais ele considera dificeis ou talvez impossiveis de Serem pensados ou reconsiderados, sem um companheiro confidvel, que ofereca suporte, coragem, simpatia e, quando necessario, orientacao. (O segundo é assistir 0 paciente em suas exploracoes, eficore| jando-0. gonsiderar, as formas nas quais ele se engaia inas_relades .com Higuras ‘seus sentimentos € significativas de sua. vida, quals 6 expectativas acerca a a tendéncias inconscientes que ele pode comportamentos dos outros: au estar trazendo, quando ‘seleciona a pessoa com a qual ele espera estabelecer tuma relacao intima ¢ quando cria situacbes que podem acabar mal pare ele Uma & cial, que © terapeuta ‘encoraja seu paciente a exami f ar, constitui 0 terceiro topico — a relagao estabelecida entre ‘os dois. Nesta y Jelacao o paciente val trazer todas aquelas percePsces ‘construcdes @ expec c f ‘ativas de como uma figura de ‘apego tende a sentir © @ 5 comportar em | qh telacac a ele, que OS seus modelos funcionais dos pais e de si determinam \ © quarto t6pico @ encorajar ipaciente a considerar como 3%. “suas percepcoes, expectativas, sentimentos € a¢Oes atuais podem ser.o procuto ve nciou durante sua infancia ¢ adoles- tanto de eventos e situacOe® que ele vivenc pais, quanto “am produto daquilo que mente aqueles com seus —Trequentemente, \ply cerca. ‘especial / ale pode ter, repetidaments ‘ouvido deles. Esse processo peuta que permita que se paciente consi timentos em relacao 2 seus pais J Bae SOTO no possiblidades as Wéias © O° 5% ue ele, até entdo, considera\e 2 & ainsves ¢ impensavels. AO fa26l0, 0 paciente pode achar-se ‘movido por fortes emocoes @ urgencias de acao, NM Fides a seus pais e outras 20 meta, aguas das quais ele

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