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A autobiografia de Melanie Klein, em poder do Melanie Klein Trust, é inédita.

Entretanto,
em 1983, um precioso acervo de dados a respeito da importante psicanalista foi obtido a
partir de uma coletânea de cartas de família descoberta no sótão da casa de seu filho mais
novo, Erich. Coube a seus biógrafos a constatação de que o conteúdo de tais cartas
conflita com a autobiografia que, segundo Melanie, seria sua história oficial. Enquanto
apenas uma carta de seu marido subsiste, a maioria das escritas por sua mãe e seu irmão
parecem ter sido conservadas. Destas, mãe e irmão emergem como pessoas muito
diferentes daquelas descritas por Melanie Klein.

Melanie Klein nasceu em Viena em 30 de março de 1882, filha de Moritz Reizes e Libussa
Deutch. Moritz Reizes era um judeu polonês nascido em Lemberg (hoje Lvov), na Galícia.
Por muitos anos foi um estudioso do Talmude, mas provavelmente influenciado pelo
Haskalah, um movimento de emancipação judaica, rompeu com a ortodoxia religiosa e
formou-se em medicina. Culto, fluente em vários idiomas, nunca conseguiu sucesso em
sua carreira em virtude primeiro de ser judeu e, também, de origem polonesa, o que
significava pertencer a uma classe desfavorecida dentro da hierarquia social judaica.
Moritz foi casado duas vezes. O primeiro casamento foi desfeito quando ele contava 37
anos de idade. Aos 45 conheceu e casou-se com Libussa, também judia, de origem
eslovaca, 24 anos mais moça que ele, descrita por Melanie em sua autobiografia como
uma jovem culta, espirituosa e interessante. Depois do casamento, o casal estabeleceu-se
em Deutsch-Kreutz, Áustria. Em algum momento no período entre o nascimento das duas
últimas filhas, a família mudou-se para Viena, na esperança de melhorar sua difícil
situação financeira. Em Viena, o Dr. Reizes trabalhou como assistente de um dentista e,
para complementar sua renda, como consultor médico de um teatro de variedades.

O casal teve quatro filhos: Emilie (1876), Emanuel (1877), Sidonie (1878) e Melanie
Reizes. Dentro da família, Emilie era a predileta do pai, Sidonie a mais bonita e Emanuel
uma espécie de gênio. E embora a mãe tivesse em Melanie sua filha preferida, confessou-
lhe que ela não fora desejada. Libussa amamentou os três primeiros filhos, mas Melanie
teve uma ama-de-leite que, segundo ela, “me amamentava a qualquer hora que eu
pedisse”. Ainda segundo Melanie Klein em sua autobiografia, “nessa época, Trub King
ainda não fizera sua obra devastadora”, referindo-se ao pediatra neozelandês que
defendia um regime alimentar severo para os bebês. Com relação ao pai ela diz:_”Não me
lembro de alguma vez ele ter brincado comigo. Doía-me pensar que meu pai era capaz de
afirmar com toda franqueza e sem consideração por meus sentimentos que preferia minha
irmã mais velha, sua primogênita.” Desde cedo Melanie exibia uma notável autoconfiança.
Na velhice dizia às pessoas que “não era tímida em absoluto” e, de fato, nunca se deixara
passar despercebida durante toda a sua tumultuada e importante vida.

Melanie Klein sentia grande atração pela atmosfera cultural da família de sua mãe, filha de
um rabino. Tanto o pai quanto o avô de Libussa eram muito respeitados tanto por seu
saber quanto por sua tolerância. Melanie herdou da família a vontade de aprender e logo
se tornou uma estudante ambiciosa, consciente de suas notas. Sonhava em estudar
medicina e especializar-se em psiquiatria, o que nunca se realizou em virtude da situação
financeira da família, agravada com a morte do pai em 1900. Ela chegou a estudar arte e
história na Universidade de Viena, mas não chegou a graduar-se. O irmão Emmanuel foi
seu grande mentor intelectual. Ele iniciou o curso de medicina que abandonou para se
dedicar às artes. Era muito doente, portador de cardiopatia conseqüente a doença
reumática, tuberculose e depressão. No final da vida tornou-se viciado em drogas.
Emmanuel tinha para com suas irmãs um relacionamento com matizes incestuosos e, para
com a família em geral, um vínculo marcado pelo êxito em provocar culpa e vitimizar-se.
Para Melanie, ele teria sido um pai substituto, um companheiro íntimo e um amante
imaginário e ninguém em sua vida jamais conseguiu substituí-lo. No período compreendido
entre 1887 e 1902, Melanie Klein sofreu grandes perdas: a irmã Sidonie, em 1887, de
tuberculose; o pai, em 1900, de pneumonia; o irmão Emmanuel, em 1902, de cardiopatia.

Em 1903, logo após completar 21 anos, ela casou-se com Arthur Steven Klein, engenheiro
químico de caráter sombrio e tirânico de quem estava noiva desde 1899. Arthur era seu
primo em segundo grau por parte de mãe e amigo de Emmanuel. Sua família residia em
Rosemberg, na parte eslovaca da Hungria. Nada se sabe sobre a cerimônia. Em um texto
intitulado “Chamado de Vida”, que seus biógrafos consideram autobiográfico, Melanie
Klein escreve sobre o choque vivido por uma moça, Anna, na noite de núpcias: “E,
portanto, tem de ser assim, a maternidade tem que começar com repugnância?” O casal
passou a lua-de-mel em Zurique e se estabeleceu na cidade do noivo. Dois meses depois
do casamento, Melanie descobriu que estava grávida e em 19 e janeiro de 1904 nasceu a
primeira filha, Melitta. Melanie teria dito que estava gostando de ser mãe, mas sua
autobiografia contém o seguinte trecho: “Lancei-me o máximo que pude no papel de mãe e
no cuidado de minha filha. Sabia o tempo todo que não estava feliz, mas não havia saída”.
Em 2 de março de 1907 nasceu Hans, o segundo filho, cuja gravidez foi marcada por um
estado de profunda depressão. Em 1908 os Klein mudaram-se de Rosemberg para
Krappitz; no ano seguinte para Hermanetz e em 1910 para Budapeste, o que possibilitou a
convivência de Melanie com a parte da família do marido estabelecida naquela cidade,
com a qual manteria uma sólida ligação afetiva.

Durante a infância dos filhos, Melanie Klein teve vários episódios de depressão e se
afastou da família por longos períodos, para viagens de repouso ou para internação em
clínicas especializadas. Durante tais ausências, sua casa e família ficavam a cargo de sua
mãe, que se colocava em sua vida de forma intrusiva e autoritária. A mãe a via e fazia com
que ela própria se visse como uma pessoa doente, neurastênica e incapaz. Mãe e filha
mantinham entre si um relacionamento estreito e afetuoso, porém marcado por atitudes e
sentimentos ambivalentes: amor e ódio, apoio e intrusão, liberdade e controle,
dependência e autonomia.

O ano de 1914 foi marcado por grandes acontecimentos na vida de Melanie Klein. Em 1º
de julho nasceu seu último filho, Erich Klein. Em 6 de novembro morreu sua mãe, Libussa.
Além disso, aos 32 anos de idade ela encontrou-se com a psicanálise: leu o texto “Sobre
os Sonhos”, de Sigmund Freud, e provavelmente iniciou sua análise com Sandor Ferenczi,
buscando livrar-se da depressão. Para Melanie Klein, antes de se tornar uma profissão ou
um interesse intelectual, a psicanálise foi uma experiência de crescimento e um caminho
de cura pessoal.

O ano de 1918 foi importante para o início da carreira de psicanalista. Foi realizado em
Budapeste o 5º Congresso Internacional de Psicanálise e Sandor Ferenczi foi escolhido
para a presidência. Durante o Congresso, encantada, Klein ouviu Freud ler “Linhas de
Avanço em Terapia Psicanalítica”. Já no ano seguinte, em julho, ela apresentou à
Sociedade Húngara de Psicanálise seu primeiro artigo, “Der Familienroman in statu
nascendi”, relato da análise de uma criança, depois do qual foi admitida como membro. O
aspecto insólito do artigo era que descrevia a análise de Erich, seu último filho, cuja
identidade foi encoberta nas versões posteriores. O objetivo era mostrar os resultados
obtidos quando uma mãe cria o filho de acordo com conceitos psicanalíticos esclarecidos.
A Sociedade de Psicanálise de Budapeste, considerada por Freud o principal centro de
psicanálise da época, seria dizimada pouco tempo depois por razões políticas. A queda do
Império Austro-Húngaro foi seguida por um regime comunista de duração breve que, por
sua vez, deu lugar a um regime branco, o Terror Branco, francamente anti-semita, o que
teve como consequência a expulsão dos psicanalistas judeus da Sociedade e sua
dissolução. Assim, em 1919, Melanie Klein saiu de Budapeste com os filhos para
estabelecer-se por um curto período em Rosemberg com os sogros. Seu marido, do qual
se divorciaria em 1923, mudou-se por razões profissionais para a Suécia, onde
permaneceu até 1937, novamente casado e depois divorciado. Morreu na Suíça em 1939.

Em 1921, Melanie Klein mudou-se para Berlim, também um importante centro tanto de
atividade como de formação psicanalítica. Em 1922, aos 40 anos, tornou-se membro
associado da Sociedade Psicanalítica daquela cidade. Em 1924, iniciou sua segunda
análise, com Karl Abraham, como Ferenczi, um destacado discípulo de Freud. A morte
precoce de Abraham (1925) privaria Melanie de seu analista e protetor, encorajando seus
detratores a se declararem abertamente, mostrando desprezo pela ascendência polonesa,
ênfase na falta de estudos universitários e ironia perante uma mulher que se pretendia
mestra e, além disso, analista de crianças. Sem Abraham, ela ficaria exposta às críticas
dos membros mais conservadores da Sociedade de Berlim, contrários, sobretudo, às suas
idéias relativas ao atendimento de crianças, originais e ousadas. Tais idéias contrariavam
o pensamento de Sigmund Freud e de sua filha Anna, a qual também se dedicava à
psicanálise infantil. Enquanto Anna via a psicanálise numa perspectiva pedagógica,
Melanie Klein mostrava-se determinada a explorar o inconsciente infantil. Para isso,
introduziu uma modificação técnica essencial, substituindo a palavra pelo brincar,
garantindo a maior proximidade possível entre a psicanálise de adultos e de crianças. Na
época, o assassinato de Hermine von Hug-Hellmuth, por um sobrinho que havia sido seu
paciente, também serviu para reforçar a oposição à psicanálise de crianças.

Numa postura diferente da adotada pelos alemães, os ingleses receberam a proposta de


trabalho de Melanie Klein com respeito, curiosidade e entusiasmo. Ainda no ano de 1925,
avisado de suas qualidades por James Strachey, o célebre tradutor e editor de texto da
Standard Edition das Obras de Freud e um dos animadores do famoso grupo londrino de
Bloomsbury, Ernest Jones a convidou a proferir palestras em Londres. Para essa cidade
mudou-se no ano seguinte e ali viveu até o fim de sua vida, desenvolveu-se plenamente
no âmbito profissional e fundou uma escola frutífera até os dias atuais. Em 1927, tornou-se
membro da Sociedade Psicanalítica Britânica.

Em 1932, Melanie Klein publicou seu primeiro livro, a coletânea “A Psicanálise de


Crianças”, ao qual fará referências ao longo de toda a sua obra. Mas, no âmbito afetivo, a
década de 30 lhe traria duas experiências devastadoras: a morte de seu segundo filho,
Hans, ao escalar uma montanha, e a deterioração definitiva de seu relacionamento com a
primogênita Melitta, que se tornara analista e também ingressara na Sociedade Britânica.
Na elaboração da perda de Hans, Melanie Klein escreveu o texto “Uma contribuição para a
psicogênese dos Estados Maníaco-Depressivos” (1935). Em 1940, publicou “O Luto e
suas Relações com os Estados Maníaco-depressivos”.

A mudança da família Freud de Viena para Londres, no final dos anos 30, em virtude da
Segunda Grande Guerra, faria com que a Sociedade Britânica se dividisse
ideologicamente em dois grandes grupos: o dos adeptos de Melanie Klein, que tinha à
frente Susan Isaacs, Paula Heimann e Joan Rivière, e o dos adeptos do freudismo
clássico, entre os quais figurava Melitta. Um terceiro grupo, composto por analistas
independentes, não alinhados com nenhum dos dois anteriores, se formaria depois, num
período marcado pela polêmica. Apesar da contundência dos debates, Klein e seu grupo
permaneceram na Sociedade Britânica e na Associação Internacional de Psicanálise (IPA).
Não foram expulsos, como viria a acontecer com Lacan na década seguinte, nem abriram
uma dissidência contra Freud, como haviam feito Adler e Jung anteriormente.

Na verdade, a escola kleiniana expandiu conceitos freudianos e, em meio à turbulência da


época, definiu um período de produção teórica exuberante. A década de 30 ficaria
marcada pelo conceito de posição depressiva e a de 40 pela posição esquizoparanóide.
Em 1946, Melanie Klein publicou um de seus textos mais importantes: “Notas sobre os
Mecanismos Esquizóides”. No início da década seguinte o grupo kleiniano lançou o livro
“Desenvolvimentos em Psicanálise”. Em 1957, Melanie Klein publicou “Inveja e Gratidão”,
seu último livro com grandes novidades teóricas. O texto “Narrativa da Análise de uma
Criança, no qual Melanie Klein trabalhou até poucos dias antes de sua morte, em 22 de
setembro de 1960, seria editado logo em seguida.

Ao longo de sua obra, Melanie Klein formulou uma teoria que possibilitou a compreensão
da vida mental primitiva e abriu novos horizontes dentro do campo da psicanálise. Para
Julia Kristeva, que dedicou à psicanalista o segundo volume da coleção “O Gênio
Feminino”, a clínica da infância, da psicose e do autismo, em que predominam nomes
como Bion, Winnicott e Frances Tustin, seria inconcebível sem a inovação kleiniana.
Melanie Klein seria em seu entender a refundadora mais ousada da psicanálise moderna.
Segundo Luís Cláudio Figueiredo e Elisa Maria de Ulhôa Cintra, “se perguntássemos aos
estudiosos da área qual teria sido, depois de Freud (1856-1939) e ultrapassando-o, o autor
que mais contribuiu para que se compreenda o funcionamento psíquico inconsciente, não
haveria dúvida: Melanie Klein, seguida de seus discípulos Wilfred Bion (1897-1979) e
Donald Winnicott (1896-1971). A estranheza das formações do inconsciente e das
primeiras experiências desafia todas as medidas de bom senso. Melanie Klein ensinou a
por de lado a razão e o senso de medida para compreender o caráter autônomo e
demoníaco das fantasias inconscientes e angústias.”

Biografia de winnicott
Winnicott nasceu em Plymouth, Devon, Inglaterra em 7 de abril de 1896, filho de Elizabeth
Martha (Woods) Winnicott e do Sr. John Frederick Winnicott, um comerciante que se tornou
cavaleiro em 1924 após servir duas vezes como prefeito de Plymouth.

A família era próspera e aparentemente feliz, mas atrás desse verniz, Winnicott se viu como
oprimido por uma mãe com tendências depressivas como também por duas irmãs e uma babá.
Foi a influência do seu pai, que era um livre-pensador e empreendedor que o encorajou em sua
criatividade. Winnicott se descreveu como um adolescente perturbado, reagindo contra a
própria auto-repressão que adquirindo sua capacidade de cuidar ao tentar suavizar os
sombrios humores de sua mãe. Estas sementes de autoconsciência se tornaram a base do
interesse dele trabalhando com pessoas jovens e problemáticas.

Decidindo se tornar um médico, ele começou a estudar medicina em Cambridge mas


interrompeu seus estudos para servir como cirurgião aprendiz - residente em um navio
(destroyer) britânico, o HMS Lúcifer, durante a Primeira Guerra Mundial. Ele completou sua
formação em medicina em 1920 e em 1923, no mesmo ano do seu primeiro casamento com
Alice Taylor, foi contratado como médico no Paddington Green Children's Hospital em Londres.
Foi também em 1923, que Winnicott iniciou sua análise pessoal com James Strachey (1887 –
1967), o tradutor das obras de Sigmund Freud para o inglês.

Em 1927 Winnicott foi aceito como iniciante na Sociedade Britânica de Psicanálise, qualificado
como analista em 1934 e como analista de crianças em 1935. Ele ainda estava trabalhando no
hospital infantil e posteriormente comentou que... ”naquele momento nenhum outro analista era
também um pediatra, assim durante duas ou três décadas eu fui fenômeno isolado…" O
tratamento de crianças mentalmente transtornadas e das suas mães lhe deu a experiência com
a qual ele construiria a maioria das suas originais teorias. E o curto período de tempo que ele
poderia dedicar-se a cada caso o conduziu ao desenvolvimento das suas "inter - consultas
terapêuticas." outra inovação da prática clínica que introduziu.

Um acontecimento relevante da vida desse autor foi a chegada em Londres, no ano 1926, de
Melanie Klein (1882-1960), uma das mais importantes analistas de criança da sua época, logo
fazendo escola e seguidores. Winnicott aproximou-se e fez uma análise adicional com um
deles, Joan Rivière ( - ). A convicção do Kleinianos na importância suprema, para saúde
psíquica, do primeiro ano da vida da criança, foi compartilhada por Winnicott. Contudo esta
visão diverge um pouco da de Freud e de sua a filha Anna Freud (1895—1982)- ela mesma
uma analista de crianças, que também vieram para Londres em 1938, refugiados do Nazismo
na Áustria. Esboçando-se uma divisão dentro da Sociedade Psicanalítica Britânica entre os
Freudianos ortodoxos e o Kleinianos; mas ao final da Segunda Guerra Mundial, em 1945, um
acordo tipicamente britânico estabeleceu três cordiais grupos: os Freudianos, o Kleinianos e
um grupo “conciliador" ao qual Winnicott pertenceu juntamente com Michael Balint ( - ) e John
Bowlby (1907–1990).

Para Freud, ao brincar, a criança tem prazer na aparente onipotência que adquire ao manipular
os objetos cotidianos associando-os a símbolos imaginários como no jogo fort-da que evocava
a presença da mãe na análise infantil que realizou. Não há dúvidas, porém que foi Melanie
Klein quem efetivamente trouxe a brincadeira para o trabalho psicanalítico com crianças. Klein
reconhecera uma similitude entre (1) a atividade lúdica infantil e o sonho do adulto, e (2) as
verbalizações da criança ao brincar e a associação livre clássica. Discípulo de Klein, Winnicott
redimensiona a brincadeira, situando o brincar do analista e o valor que essa atividade possui
em si, instituída como uma atividade infantil, e que também faz parte do mundo adulto. Para ele
os analistas infantis por se ocuparem tanto dos possíveis significados do brincar não possuíam
um claro enunciado descritivo sobre o brincar. Para ele “Brincar é algo além de imaginar e
desejar, brincar é o fazer.

Durante os anos de guerra trabalhou como consultor psiquiátrico de crianças seriamente


transtornadas que tinham sido evacuadas de Londres e outras cidades grandes, e separado de
suas famílias. Ele continuou trabalhando ao Paddington Green Children's Hospital nos anos
1960.

Depois que a guerra Winnicott tornou-se um médico contratado do Departamento Infantil do


Instituto de Psicanálise durante 25 anos; foi presidente da Sociedade Britânica de Psicanálise
por duas gestões; membro da UNESCO e do grupo de experts da OMS; atuou como professor
no Instituto de Educação e na London School of Economics, da Universidade de Londres;
dissertou e escreveu amplamente como atividade profissional independente.

Ele divorciou-se de sua primeira esposa em 1951 e, nesse mesmo ano, casou-se com Elsie
Clare Nimmo Britton, assistente social psiquiátrica e psicanalista. Morreu em 28 de janeiro de
1971, após o último de uma série de ataques de coração e foi cremado em Londres.
[editar] Teoria sobre importância e efeitos do cuidado materno

Para Winnicott, cada ser humano traz um potencial inato para amadurecer, para se integrar;
porém, o fato de essa tendência ser inata não garante que ela realmente vá ocorrer. Isto
dependerá de um ambiente facilitador que forneça cuidados que precisa, sendo que, no início,
esse ambiente é representado pela mãe suficientemente boa. É importante ressaltar que esses
cuidados dependem da necessidade de cada criança, pois cada ser humano responderá ao
ambiente de forma própria, apresentando, a cada momento, condições, potencialidades e
dificuldades diferentes.

Segundo esse autor a mãe suficientemente boa (não necessariamente a própria mãe do bebê)
é aquela que efetua uma adaptação ativa às necessidades do bebê, uma adaptação que
diminui gradativamente, segundo a capacidade deste em aquilatar o fracasso da adaptação e
em tolerar os resultados da frustração. (Winnicott, 1971)

Assim, podemos pensar que, se amadurecer significa alcançar o desenvolvimento do que é


potencialmente intrínseco, possíveis dificuldades da mãe em olhar para o filho como diferente
dela, com capacidade de alcançar certa autonomia, podem tornar o ambiente não
suficientemente bom para aquela criança amadurecer. Não basta, apenas, que a mãe olhe
para o seu filho com o intuito de realizar actividades mecânicas que supram as necessidades
dele; é necessário que ela perceba como fazer para satisfazê-lo e possa reconhecê-lo em suas
particularidades.

Num artigo intitulado “A mãe dedicada comum”, escrito em 1966 e publicado numa colectânea
de conferências e palestras radiofónicas, Winnicott descreveu um estado psicológico especial,
um modo típico que acomete as mulheres gestantes no final da gestação e nas semanas que
sucedem o parto. Nessa palestra, o autor nos conta como, em 1949, surgiu quase que por
acaso a expressão "mãe dedicada comum", que serviu para designar a mãe capaz de vivenciar
esse estado, voltando-se naturalmente para as tarefas da maternidade, temporariamente
alienada de outras funções, sociais e profissionais.

Trata-se, pois, de uma condição psicológica muito especial, de sensibilidade aumentada, que
Winnicott chega a comparar a uma doença, uma dissociação, um estado esquizóide, que, no
entanto, é considerado normal durante esse período. Observe-se também que não é raro um
surto psicótico típico nesse período, o que se denomina psicose puerperal.

Winnicott afirma que, na base do complexo de sensações e sentimentos peculiares dessa fase,
está um movimento regressivo da mãe na direcção de suas próprias experiências enquanto
bebê e das memórias acumuladas ao longo da vida, concernentes ao cuidado e protecção de
crianças.
Tão gradualmente como se instala, em condições normais, o estado de “preocupação materna
primária” deve dissipar-se. Essas condições incluem a saúde física do bebé e da mãe, após um
parto não traumático, uma amamentação tranqüila e pouca interferência de elementos
stressantes.

Após algumas semanas de intensa adaptação às necessidades do recém–nascido, este


sinaliza que seu amadurecimento já o torna apto a suportar as falhas maternas. A mãe
suficientemente boa deve compreender esse movimento do bebé rumo à dependência relativa
e a ele corresponder, permitindo-se falhas que abrirão espaço ao desenvolvimento.

De fato, na obra de Winnicott (1979/1983; 1988/2002) encontramos que a capacidade das


mães em dedicar a seus filhos toda a atenção de que precisam, atendendo suas necessidades
de alimentação, higiene, acalento ou no simples contacto sem actividades, cria condições para
a manifestação do sentimento de unidade entre duas pessoas. Da relação saudável que ocorre
entre a mãe e o bebé, emergem os fundamentos da constituição da pessoa e do
desenvolvimento emocional-afetivo da criança.

A capacidade da mãe em se identificar com seu filho permite-lhe satisfazer a função sintetizada
por Winnicott na expressão holding. Ela é a base para o que gradativamente se transforma em
um ser que experimenta a si mesmo. A função do holding em termos psicológicos é fornecer
apoio egóico, em particular na fase de dependência absoluta antes do aparecimento da
integração do ego. O holding inclui principalmente o segurar fisicamente o bebé, que é uma
forma de amar; contudo, também se amplia a ponto de incluir a provisão ambiental total
anterior ao conceito de viver com, isto é, da emergência do bebé como uma pessoa separada
que se relaciona com outras pessoas separadas dele.

Winnicott (1979/1983) também coloca que a mãe, ao tocar seu bebé, manipulá-lo, aconchegá-
lo, falar com ele, acaba promovendo um arranjo entre soma (o organismo considerado
fisicamente) e psique e, principalmente ao olhá-lo, ela se oferece como espelho no qual o bebé
pode se ver.

Na visão winnicottiana, já nos primórdios da existência, é fundamental para a constituição do


self o modo como a mãe coloca o bebé no colo e o carrega; dá-se, assim, a continuidade entre
o inato, a realidade psíquica e um esquema corporal pessoal.

O holding é necessário desde a dependência absoluta até a autonomia do bebé, ou seja,


quando os espaços psíquicos entre este e sua mãe já estão perfeitamente distintos.

Winnicott (1976/1983), visando mostrar a pais leigos a importância do que eles faziam
naturalmente, traz uma descrição mais concreta do que está envolvido no holding:

Protege da agressão fisiológica, leva em conta a sensibilidade cutânea do lactente – tacto,


temperatura, sensibilidade auditiva, sensibilidade visual, sensibilidade à queda (acção da
gravidade) e a falta de conhecimento do lactente da existência de qualquer coisa que não seja
ele mesmo. Inclui a rotina completa do cuidado dia e noite, e não é o mesmo que com dois
lactentes, porque é parte do lactente, e dois lactentes nunca são iguais. Segue também as
mudanças instantâneas do dia-a-dia que fazem parte do crescimento e do desenvolvimento do
lactente, tanto físico como psicológico. (Winnicott, 1979/1983, p.48)

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