Texto 18:
A subjetividade do trabalhador: motivação, satisfação e alienação
É incontestável o fato de que a eficácia e a eficiência empresariais dependem não só
da modernização tecnológica e organizacional, mas sobretudo da eficácia e eficiência do
desempenho das funções do conjunto dos trabalhadores. O bom desempenho das funções
do conjunto dos trabalhadores, por sua vez, depende de sua motivação para o trabalho
que, sem dúvida, nasce da satisfação que lhes proporciona em virtude de sua própria
natureza, isto é, de seu conteúdo, e das condições nas quais se realiza.
Taylorismo e fordismo, onde quer que tenham se instalado como formas
predominantes de organização do processo de trabalho, geraram milhares e milhares de
empregos, elevaram os salários, permitiram a distribuição de muitos benefícios sociais,
fortaleceram os sindicatos, principalmente nos países de antiga tradição industrial,
baratearam as mercadorias e permitiram o ingresso dos trabalhadores na sociedade de
consumo. Ou seja, foram responsáveis pelo crescimento da economia mundial e
melhoraram significativamente as condições materiais de vida da grande maioria dos
trabalhadores por eles atingida. Razões necessárias e suficientes para garantir a
motivação e a satisfação dos trabalhadores? Evidentemente, a resposta é não.
Compensações pecuniárias, por mais importantes que possam ser, não são fatores
determinantes da motivação, da satisfação, do prazer, da alegria dos trabalhadores com o
seu trabalho. E, com certeza, taylorismo e fordismo, por suas características, não podem
satisfazer as necessidades mais íntimas, mais interiores, mais subjetivas e também as
mais fundamentais dos trabalhadores e de todos os seres humanos: a autoestima e a auto
realização.
Não é por acaso que as teorias da motivação para o trabalho surgiram no auge da
universalização do fordismo, ou seja, nas décadas de 1950 e 1960, muito embora questões
referentes à incidência da subjetividade do trabalhador sobre a produtividade do trabalho
já tivessem sido objeto de preocupação da Escola de Relações Humanas dos anos 1920 e
1930. Se aquelas teorias surgiram e exerceram profunda influência sobre os
administradores de empresas, a razão se deve ao fato da constatação de que os
trabalhadores não são apenas “homens econômicos”, como pensava Taylor, e nem mesmo
apenas homens econômicos-consumidores, como acreditava Ford. Os trabalhadores são
seres humanos completos, dotados de corpo e alma, seres de necessidades elementares e,
ao mesmo tempo, de necessidades intelectuais, mentais, espirituais, artísticas,
psicológicas cuja satisfação requer muito mais do que dinheiro, sobretudo as
necessidades psicológicas de autoestima e de auto realização, para que possam se realizar
em plenitude e sentir o valor inestimável de suas próprias vidas.
motivação depende do conteúdo das funções que poderá ou não satisfazer as expectativas
e as necessidades psicológicas de autoestima e de auto realização dos trabalhadores.
Todas essas características são incongruentes com as características que, segundo postulamos aqui,
os seres humanos sadios devem desejar. Elas são muito mais congruentes com as necessidades das
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crianças em nossa cultura. Na verdade, as organizações estão dispostas a pagar altos salários e
proporcionar hierarquia adequada, se os adultos amadurecidos aceitarem, durante 8 horas por dia,
comportarem-se de maneira menos adulta. (ARGYRIS, 1969, p. 79)
A alienação do trabalhador
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:: As novas tecnologias diminuem o tamanho das indústrias e isso ajuda a pôr fim
ao “anonimato e impessoalidade” das relações nas indústrias de produção em
série, isto é, tayloristas/fordistas.
:: Nas indústrias modernas, a unidade básica de trabalho é a pequena equipe. Os
trabalhadores seriam mais integrados à empresa, em parte, pelos laços de
simpatia e lealdade que desenvolvem com seu grupo imediato de trabalho, o que
permite ultrapassar as tendências anômicas da sociedade industrializada. Além
disso, a equipe assume muitas funções antes atribuídas à direção, como a
supervisão da qualidade do trabalho, propiciando um estreitamento das relações
entre direção e trabalhadores. As novas tecnologias substituem um sistema de
supervisão repressiva por uma nova forma de relação baseada na consulta
mútua, removendo, em consequência, uma das mais importantes fontes de tensão
na empresa.
:: Assim, a natureza do trabalho nas indústrias altamente modernizadas não apenas
elimina a repetição, a passividade e a falta de significação do trabalho típicas das
indústrias tradicionais, mas também ofusca a linha de divisão entre trabalho
manual e não-manual, reduzindo o sentimento de que a fábrica é
fundamentalmente dicotômica em sua estrutura e encorajando o
desenvolvimento de um outro sentimento, o de fazer parte de uma comunidade
unificada.
:: Finalmente, Blauner sublinha a importância das condições econômicas
propiciadas pelas novas tecnologias. Porque a maior eficiência e os altos lucros
dependem mais do desenvolvimento da tecnologia do que do aumento da
exploração da força de trabalho, é possível o surgimento de uma nova concepção
de administração que adote uma postura mais humana, levando em consideração
as próprias necessidades dos trabalhadores. Isso conduziria à uma nova
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