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Anita Malfatti

Anita Malfatti era filha de Bety Malfatti (norte-americana de origem alemã)


e pai italiano. Estudou pintura em escolas de arte na Alemanha e nos Estados
Unidos (estudou na Independent School of Art em Nova Iorque). Em sua
passagem pela Alemanha, em 1910, entrou em contato com o expressionismo,
que a influenciou muito. Já nos Estados Unidos teve contato com o movimento
modernista.

Em 1917, Anita Malfatti realizou uma exposição artística muito polêmica,


por ser inovadora, e ao mesmo tempo revolucionária. As obras de Anita, que
retratavam principalmente os personagens marginalizados dos centros urbanos,
causou desaprovação nos integrantes das classes sociais mais conservadoras.

Em 1922, junto com seu amigo Mario de Andrade, participou da Semana


de Arte Moderna. Ela fazia parte do Grupo dos Cinco, integrado por Malfatti,
Mario de Andrade, Tarsila do Amaral, Oswald de Andrade e Menotti del Picchia.

Entre os anos de 1923 e 1928 foi morar em Paris. Retornou à São Paulo
em 1928 e passou a lecionar desenho na Universidade Mackenzie até o ano de
1933. Em 1942, tornou-se presidente do Sindicato dos Artistas Plásticos de São
Paulo. Entre 1933 e 1953, passou a lecionar desenho nas dependências de sua
casa.

Obras:

A Boba (1915-16)

A Boba traz referências cubistas, muito embora faça parte do


modernismo.

A obra apresentada hoje é considerada um dos pontos mais altos da


pintura de Anita, fruto de uma fase em que sua pintura, até então expressionista,
absorve elementos cubo-futuristas. A Boba faz parte de um momento de "busca
ativa" da pintora.

A tela é construída com o uso das cores, em uma orquestração de


laranjas, amarelos, azuis e verdes, realçando dessa maneira as zonas
cromáticas delineadas pelas linhas negras, na maioria diagonais - ordenação
cubista. No primeiro plano, uma angulosa e assimétrica figura recebe a aplicação
irregular da cor.
Na fisionomia da figura retratada, a expressão anormal e vaga da jovem
é ressaltada por traços negros, segundo a estética expressionista do irracional e
desarmônica. Já o fundo é elaborado com pinceladas rápidas, o que serve de
contraponto.

A Mulher de Cabelos Verdes (1916)

A Ventania (1917)

Autorretrato 1922

Waldemar Cordeiro

Waldemar Cordeiro era um homem urbano e politizado que procurava


edificar sua arte com um profundo respaldo teórico, sempre atualizando sua obra
com as novas questões contemporâneas. Além de artista plástico, participou
ativamente da vida cultural brasileira em áreas como o design, a ilustração, o
jornalismo, o paisagismo, a crítica de arte e a informática, além de ter sido líder
do movimento de arte concreta em São Paulo nos anos 50, pioneiro no Brasil da
arte eletrônica, no início dos anos 70, e ainda ter realizado experiências com a
fotografia e a nova figuração, na década de 60.

Apesar de ter nascido em Roma, foi registrado no Consulado Brasileiro,


tendo portanto dupla nacionalidade. Na Itália, estudou na Academia de Belas-
Artes, e lia Gramsci, Max Bill, Wolflin, Fiedler e Worringer. Trabalhava como
cartunista, quando veio a São Paulo conhecer seu pai, que era brasileiro, em
1946. No Brasil, em 1947, junto com Bassamo Vaccarini, organizou uma mostra
de artistas modernos, e pintou murais para a Igreja do Bom Jesus, no Brás.
Escrevia críticas de arte na Folha da Manhã, e sua pintura nesta época era de
cunho expressionista.

Ainda em 1947, na exposição 19 Pintores, na Galeria Prestes Maia,


conheceu Geraldo de Barros, Lothar Charoux e Luiz Sacilotto, futuros
companheiros do Grupo Ruptura. Viajou para Roma em 1948, e optou pela
cidadania brasileira. Ao retornar a São Paulo, fundou o Art Club, promovendo
intercâmbio cultural com o exterior. Um dos artistas que Cordeiro trouxe ao Brasil
foi Kazmer Féjer, que anos depois também passou a integrar o Grupo Ruptura.
A obra de Cordeiro vai, no final dos anos 40, aproximando-se cada vez mais dos
ideais construtivistas, que uniam as artes ao universo industrial, e às idéias de
Antonio Gramsci, que propunham às artes papéis mais amplos, como a atuação
política e social. Queria criar um projeto que, por meio da arte, do paisagismo e
do urbanismo, melhorasse a vida nos centros urbanos.
Em 1951, Cordeiro já expunha sua obra concreta Movimento na I Bienal
Internacional de São Paulo. Após a Bienal, os artistas que formariam Grupo
Ruptura se organizaram em torno de discussões e produções artísticas. Em
1952, os resultados deste trabalho foram o Manifesto Ruptura, cujo texto os
críticos atribuem ao próprio Cordeiro, e a exposição inaugural do grupo, no MAM-
SP. Ainda em 1952, aproximou-se dos poetas concretos Décio Pignatari,
Augusto e Haroldo de Campos, e fez alguns estudos de paisagismo. Em 1953,
foi para o Chile e a Argentina, em companhia de Décio Pignatari, onde
estabeleceu contato com o movimento concreto argentino e com o artista Tomás
Maldonado. Durante os anos 50 Cordeiro expôs em diversas mostras de arte
concreta, e defendeu fielmente os princípios do concretismo nas artes, em
polêmicas com críticos como Sérgio Milliet e Ferreira Gullar, publicadas em
jornais e revistas.

Quando, nos anos 70, realizou as primeiras experiências no Brasil com


arte eletrônica, Cordeiro afirmava que “no Brasil a Computer Art encontrou
antecedentes metodológicos na Arte Concreta”.

Obras:
Autorretrato Probabilístico, 1967

Contradição Espacial, 1958

A Mulher Que Não é BB, 1973

Ambiguidade, 1962

Carlos Vergara

Carlos Augusto Caminha Vergara dos Santos (Santa Maria, Rio Grande
do Sul, 1941). Gravador, fotógrafo e pintor. Na década de 1950, transfere-se
para o Rio de Janeiro, e, paralelamente à atividade de analista de laboratório,
dedica-se ao artesanato de jóias, que são expostas na 7ª Bienal Internacional de
São Paulo em 1963. Nesse mesmo ano, volta-se para o desenho e a pintura,
realizando estudos com Iberê Camargo (1914-1994). Participa das
mostras Opinião 65 e 66, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro
(MAM/RJ). Em 1967, é um dos organizadores da mostra Nova Objetividade
Brasileira, que procura fazer um balanço da vanguarda brasileira. Atua ainda
como cenógrafo e figurinista de peças teatrais. Nesse período, produz pinturas
figurativas, que revelam afinidades com o expressionismo e a arte pop.
Durante a década de 1970, utiliza a fotografia e filmes Super-8 para
estabelecer reflexões sobre a realidade. O carnaval passa a ser também objeto
de sua pesquisa. Atua ainda em colaboração com arquitetos, realizando painéis
para diversos edifícios, empregando materiais e técnicas do artesanato popular.
Em 1972, publica o caderno de desenhos Texto em Branco, pela editora Nova
Fronteira. Durante os anos 1980, volta à pintura, produzindo quadros abstratos
geométricos, nos quais explora, principalmente, tramas de losangos que
determinam campos cromáticos. Desde o fim dos anos 1980, emprega
pigmentos naturais e minérios, com os quais produz a base para trabalhos em
superfícies diversas. Em 1997, realiza a série Monotipias do Pantanal, na qual
explora o contato direto com o meio natural, transferindo para a tela texturas de
pedras ou folhas, entre outros procedimentos.

Obras:
Autorretrato com Índios Carajás, 1986

Militantes, 1964

Um dia eles acordarão, 1968

Observador, 1965

Iberê Camargo

Iberê Camargo nasceu na Restinga Seca, RS (18/11/1914) e faleceu em


Porto Alegre, RS (09/08/1994). Em 1928 estuda pintura com Frederico Lobe e
Salvador Parlagreco (1871-1953) na Escola de Artes e Ofícios, em Santa Maria,
Rio Grande do Sul. Entre 1936 e 1939, em Porto Alegre, faz o curso técnico de
arquitetura do Instituto de Belas Artes de Porto Alegre e estuda pintura com
Fahrion (1898-1970). Muda-se para o Rio de Janeiro em 1942 e, com bolsa de
estudos concedida pelo governo do Rio Grande do Sul, freqüenta por pouco
tempo a Escola Nacional de Belas Artes - Enba.

Não satisfeito com a proposta acadêmica, estuda com Guignard (1896-


1962) e funda, em 1943, com outros artistas, o Grupo Guignard. Em 1947 recebe
o prêmio de viagem ao exterior e vai para a Europa no ano seguinte. Em Roma,
estuda com Giorgio de Chirico (1888-1978), Carlos Alberto Petrucci, Antônio
Achille e Leone Augusto Rosa, e em Paris, com André Lhote (1885-1962). Volta
ao Brasil em 1950 e, em 1952, torna-se membro da Comissão Nacional de Artes
Plásticas. Funda, em 1953, o curso de gravura do Instituto Municipal de Belas
Artes do Rio de Janeiro, hoje Escola de Artes Visuais do Parque Lage -
EAV/Parque Lage. Em 1954, participa com Djanira (1914-1979) e Milton Dacosta
(1915-1988), da organização do Salão Preto e Branco e, no ano seguinte, do
Salão Miniatura, ambos realizados em protesto às altas taxas de importação de
material artístico. Promove curso livre de pintura no Theatro São Pedro, em Porto
Alegre, em duas temporadas entre 1960 e 1965.

Em 1966 executa painel de 49 metros quadrados oferecido pelo Brasil à


Organização Mundial de Saúde (OMS), em Genebra. A partir de 1970, leciona
na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio Grande do Sul -
UFRGS. Em 1980 Iberê Camargo mata a tiros um homem que o agride na rua.
É absolvido sob o argumento de legítima defesa, mas o episódio marca
profundamente sua vida e sua obra. Em 1986, recebe o título de doutor honoris
causa da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.

Entre suas publicações, constam o artigo Tratado sobre Gravura em


Metal, 1964, o livro técnico A Gravura, 1992 e o livro de contos No Andar do
Tempo: 9 contos e um esboço autobiográfico, 1988.

Obras:
Autorretrato, 1984

Neste pequeno Auto-Retrato, de 1984, Iberê Camargo (1914-1994)


promove uma espécie de síntese das questões que movem sua arte por mais de
meio século. Aí estão amalgamados o estilo tenso, o gesto expressivo e a
relação carnal com a pintura. Os traços são sucintos, vibrantes, esboçando uma
fisionomia cansada, marcada pelos sinais da idade. O olhar penetrante, que
parece mirar por trás dos ombros do espectador; a grande narina que se abre no
centro da tela; as sobrancelhas erguidas; o queixo amplo; e o rosto largo
remetem imediatamente à imagem do artista, então já consagrado como um dos
grandes nomes da segunda geração modernista brasileira.

Na obra analisada não há uma separação radical entre o rosto


apresentado em close e o fundo conturbado que ocupa as bordas da tela. A
distinção entre os dois campos se dá apenas pelos traços negros que contornam
o rosto de maneira bastante tosca e irregular e, sobretudo, por uma sutil, mas
importante, diferença cromática e de aplicação da tinta. Seu rosto parece estar
enclausurado, ocupando quase a totalidade da tela e travando um embate com
o entorno, também convulsivo. É como se seu trabalho adquirisse densidade
expressiva exatamente dessa indiferenciação. O crítico Rodrigo Naves fala em
“aspecto movediço” ao tratar dessa relação tensa entre o espaço, a figura e as
áreas de cor na pintura de Iberê Camargo.
De forma geral, a pintura é marcada por uma mescla vibrante de tons
indistintos. No entanto, o rosto quase caricatural é marcado pelo uso de traços
mais precisos e delicados, como que desenhados com tinta, num gesto rápido e
com grande reverberação luminosa. Tons de branco e amarelo dão certa
corporeidade à fisionomia. Nas bordas, por sua vez, predominam o azul e o
vermelho. Espalhadas pela espátula, as massas de cor se sobrepõem numa
mescla indistinta e parecem tragar a luz que incide sobre ela.

Hora, 1984

Manequins, 1986

No Vento e na Terra, 1991

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