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Sandra Dias
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na questão da relação do sujeito com o Outro. Hamlet, o filho dedicado à vingança do pai
morto apresenta uma estrutura que põe em jogo, “a própria dimensão subjetividade
humana” (Lacan, lição 15, 18/03/1959), tornando-se assim um personagem emblemático de
um sujeito desejante, da emergência da dimensão trágica da estrutura do desejo
inconsciente. A tragédia de Hamlet, príncipe da Dinamarca, é essencialmente tragédia do
desejo “(Lacan, lição 14, 11/03/1959)”.
O que distingue Hamlet como paradigma do herói moderno em contraste com o
herói-trágico Lacan da antiguidade, Édipo, é a sua posição frente ao saber: ele conhecia o
assassino de seu pai, revelação que expõe algo de fundamental na articulação inconsciente.
Enquanto Édipo não sabia de seu desejo parricida nem de seu wunsch incestuoso; ele faz
sem pensar, sem saber (Lacan , lição 16, 08/04/1958); contudo Hamlet sabe, porque se o pai
sabia, ele também o sabe e isto tem efeitos na subjetividade, ele sabe e não age.
No ato II, cena 1, Ofélia, mulher por quem Hamlet estava apaixonado e era
correspondido, relata ao pai, Polônio, o encontro que tivera com o amado: “...Hamlet me
surgiu. Com o gibão todo aberto, Sem o chapéu na cabeça, os cabelos desfeitos. As meias
sujas, sem ligas, caídas pelos tornozelos. Branco como a camisa que vestia. Os joelhos
batendo um contra o outro, E o olhar apavorado De quem foi solto do inferno.Pra vir contar
cá em cima os horrores que viu” (Shakespeare, 1997, 40). Esta descrevia os efeitos da
aparição do pai morto e da revelação da verdade. Efeitos que desorganizam não só Hamlet,
provocam a desordem do mundo como também afetam a relação entre eles: “Me pegou
pelo pulso e me apertou com força. Depois se afastou à distância de um braço E, com a
outra mão na fronte, Ficou olhando meu rosto com intensidade, Como se quisesse gravá-
lo. ... E aí me soltou. Com a cabeça virada para trás Foi andando pra frente como um cego,
Atravessando a porta sem olhar, Os olhos fixos em mim, até o fim” (Shakespeare, 1997,
40). È a imagem um homem em delírio de amor, interpreta Polônio. O ponto sobre o qual
todos na corte concordam: a metamorfose de Hamlet . É um homem aflito e enlouquecido
(Shakespeare, 1997, 44). Qual seria a causa de sua loucura? Qual seria a causa de sua
aflição? O amor por Ofélia, a morte do pai e o apressado matrimônio?
Mas a causa da perturbação do príncipe encontra-se no que ele chama de “o meu
destino”. Destino que se articula com um saber, o que Horácio designa com “algo de podre
no reino da Dinamarca” , e que Hamlet indica como um saber que o amigo ignora “Há
mais coisas no céu e na terra, Horácio, Do que sonha a tua filosofia” (Shakespeare,
1997,36). Um saber: a revelação do fratricídio e a cumplicidade da esposa, o incesto e a
traição e uma demanda: a demanda paterna: “Não desejo pena, só teu ouvido atento Ao que
vou revelar”... “E também para me vingar, depois de ouvir” (Shakespeare, 1997,30). O bom
filho, perde todo o interesse nos assuntos do mundo, preocupado em levar a cabo o
juramento, mas sem conseguir realizá-lo. Porque o encontro com a verdade revelada,
esse saber não é suficiente para que Hamlet faça o que é esperado na sua condição de filho
que ama o pai, um homem idealizado como rei e como pai, tão cruelmente ultrajado.
Lacan adianta não se trata nem covardia nem de razão. E porque Hamlet não pode
obedecer ao mandato paterno, porque ele não age? Ele rejeita a tese freudiana do braço
paralisado pela culpa, pois matar o tio, o homem que realizou os desejos edipianos, serviria
para ele encontrar aí “a ocasião de estancar sua própria culpabilidade, encontrando fora dele
o verdadeiro culpado“ (lição 15, 18/03/1958). O deve ser considerado aí, “aquilo com o
qual Hamlet se bate é o desejo, o desejo não por sua mãe, mas o desejo de sua mãe”. O
verdadeiro ponto pivô é aquele do encontro com sua mãe, após a play scene (Lacan, lição
15, 18/03/1959).
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Temos então na peça: o encontro de Hamlet com Horácio, o encontro de Hamlet
com o espectro do pai morto, o encontro com Ofélia e o encontro com a mãe, entre estes
dois últimos, a play scene - o teatro no teatro. Lacan destaca aí algo de novo e de misterioso
na peça de Shakespeare, a significação do objeto feminino (Lacan, lição 14, 11/03/1959) e a
função do cena na cena.
Lacan aponta que na revelação pelo pai da verdade sobre sua morte foi levantado
algo como um véu: “O pai sabia, e pelo fato de que ele sabia, Hamlet também sabe”
(Lacan, lição 13,04/03/1959). Ele tem a resposta. O que quer dizer que o Outro tem a
resposta. Lacan diz que isto implica em que na relação do sujeito com o Outro, a resposta
deve ser articulada em dois níveis: no nível do discurso e no nível além do discurso, da
questão do sujeito. Enquanto que no primeiro se coloca a questão do significado do Outro,
s(A), no segundo se coloca o significante do Outro barrado, ali onde ele acede ao sentido.
A revelação do fantasma incita a função do pai como garantia da ordem, mas o
adiamento põe o pai em causa. Porque? Qual o sentido que Hamlet apreende da verdade
revelada pelo pai? O sentido da traição absoluta, do amor mais puro desse rei por sua
mulher, “aquele que ia até afastar as rajadas de vento sobre seu rosto”, revela que a verdade
de Hamlet é uma verdade sem esperança, nenhuma possibilidade de redenção ou elevação.
O encontro com o espectro do pai revela uma verdade que aponta uma falta no Outro, não
há garantia no Outro, não há Outro do Outro, há uma falta na ordem significante.
O drama de Hamlet difere do drama de Édipo porque enquanto neste o crime se dá
na geração do herói, na tragédia hamletiana, o crime se produziu na geração precedente. O
pai é a vítima, que dormindo é surpreendido na flor de seus pecados, “um golpe vem
derrubá-lo, partindo de um ponto de onde ele não o espera, verdadeira intrusão do real”
(Lacan,lição 19, 29/04/1959). Na forma normal do Édipo, o pai é a encarnação do Outro,
aquele que é autor da lei e ao mesmo tempo aquele que não pode garanti-la, que sofre a
barra e que como pai real é um pai castrado e que pode transmitir uma dívida-herança ao
filho. Ora, o pai de Hamlet, pelo crime entrou no domínio do inferno, isto é: de uma dívida
inexpiável. Esse é o sentido mais terrível e angustiante da revelação paterna, o pai não pode
mais responder por isso.
O pai sabe que está morto, se o Outro sabe o sujeito não se realiza como faltante,
pois esse Outro não está marcado pela falta, o que faz com que o real retorne inarticulado
ao simbólico, indicando a marca do não acesso à castração.Hamlet no encontro com o
“ghost”, não encontra o significante do Outro barrado que lhe permitiria aceder a
significação do Desejo do Outro e a falta no campo significante. Esse pai ideal não da as
proibições da Lei que poderiam fazer subsistir seu desejo, incapaz de transmissão da
castração na linha sucessória, barra a articulação do desejo na geração seguinte. A ausência
de rituais funerários e a série de mortes na tragédia – nove mostram uma insistência
repetitiva que visa inscrever no simbólico o que se perdeu no real que se sucedem a partir
do encontro com o pai.
A peça é articulada desse modo como “um drama do desejo na relação com o desejo
do Outro, e como ela é dominada por este Outro que é aqui o desejo” da mãe, isto é do
sujeito primordial da demanda (Lacan, lição 17, 15/04/1959). Trata-se do desejo do Outro,
o desejo da mãe que se apresenta como um desejo que, entre um objeto eminente, (o objeto
idealizado, exaltado que é seu pai) e este objeto depreciado, desprezível (que é Cláudio, o
irmão criminoso e adúltero) não escolhe (Lacan, lição 17, 15/04/1959). Lacan põe acento
aqui na relação do desejo do sujeito ao desejo do Outro como a dimensão permanente e
responsável pelo drama de Hamlet.
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O encontro com esse desejo, o desejo do Outro, que sai da boca do pai que pena no
limbo, é responsável pela grande desordem de Hamlet em sua postura, da desorganização
subjetiva, o qual Lacan situa como “o momento em que alguma coisa vacila no fantasma,
momento de uma experiência de despersonalização em que “os limites imaginários entre o
sujeito e o objeto se encontram a mudar, no sentido próprio do termo, na ordem daquilo que
se chama o fantástico” (lição 17, 15/04/1959). A tarefa de Hamlet é árdua, pois o que o
pobre homem tem a fazer é endireitar-se frente a algo que tem relação com sua posição
frente ao falo.A suspeita de Hamlet torna-se convicção. Neste ponto do seminário VI,
Lacan interpreta a rejeição, a depreciação, o desprezo lançado sobre Cláudio como
denegação de Hamlet, pois Cláudio encarna o Falo real. Mesmo após a morte do rei, o falo
está lá, e Hamlet só faz reprovar à mãe por ter-se preenchido com ele, mal seu pai é morto.
(lição 19, 29/04/1959). Lacan nos incita a traduzir a frase shakespeariana “O corpo está
com o rei, mas o rei não está com o corpo” (Shakespeare, 1997, 95) por “O falo está com o
rei, mas o rei não está com o falo”, indicando o lugar central que ocupa na trama o Falo.
(lição 19, 29/04/1959. Mas destaca que essa frase é seguida de outra “O rei é uma coisa,
uma coisa de nada”. Estamos aqui na questão do desejo do Outro, no desejo feminino, no
mistério que se encontra na peça, da intensa perturbação do herói e na impossibilidade de
assumir seu destino.(Lacan, lição 19, 29/04/1959). Momento em que ele enuncia a famosa
frase: Ser ou não ser (Shakespeare, 1997, 63) que seguindo essa lógica inconsciente pode-
se traduzir: ser ou não ser o falo do Outro”.
A questão fundamental desse herói passa assim pela pergunta “Quem era o pai para
a mãe, substituído de um dia para outro pelo irmão. No ato III, a cena de Hamlet com a
mãe em que ele demanda” ... não vá para a cama de meu tio.... Simula uma virtude, já que
não a possui.... Isto tornará mais fácil a próxima abstinência “(Shakespeare, 1997, 89),
momento em que o herói em nome da dignidade articula uma demanda ao Outro materno.
Mas ao mesmo tempo vê-se, a vacilação e consentimento ao desejo da mãe, diante desse
encontro com o Desejo do Outro. Hamlet não é um homem que não sabe o que quer, ele
sabe o que quer, vingar a morte do pai, o que o aprisiona é que ele sabe o desejo do Outro.
Ali onde o pai não pode responder numa herança simbólica , como ele leu o desejo da mãe
- o desejo do Outro”.
O espectro convoca Hamlet não apenas para vingar seu assassinato, mas também
para deter o escândalo da luxúria da rainha (Shakespeare, 1997, 33). Lacan ao situar essa
tragédia no grafo do desejo aponta que Hamlet só pode receber como mensagem, o que está
no andar inferior do grafo: o significado do Outro, um Outro sem barra e que se situa como
“Sou o que sou, uma verdadeira genital, eu não conheço o luto, quando um parte, o outro
chega” (Lacan,lição 15, 18/03/1959). Então não se trata só de traição, questão do gozo
fálico, mas de uma mulher que não pode reservar seu luto e que se entrega ao melhor
proponente fálico, o que faz com que esse desejo de falo seja lido pelo filho como algo da
ordem de uma voracidade, de um apetite insaciável, de uma glutonaria, ou seja: o gozo
fálico da mãe será retraduzido como o arrasador Gozo do Outro. Se seu pai não foi um
digno varão para a sua mãe, mas um repasto da sua voracidade, o que pode ser ele para uma
mulher. Por isso Ofélia é rejeitada, desprezada, humilhada e maltratada. Ao casar com o
cunhado, a mãe deserda o filho do trono que lhe cabia legitimamente. O falo simbolizável
na coroa, não se há de transmitir como emblema de pai a filho, Hamlet se torna o rival
potencial de Cláudio. O sentido da vida escapa ao varão, quando as funções relacionadas à
dignidade do falo não são respeitáveis, os brasões imaginários não podem cobrir o real,
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Hamlet cai da posição de objeto amável, quando a mãe não respeita o tempo do luto e lhe
pede que o ignore.
Um pai que clama por vingança e que denuncia que morreu na flor dos pecados, é
um pai em dívida com o significante. Esse pai, não é um pai que sustenta a estrutura do
desejo com a lei e que faz de seu pecado, sua herança. Antes, esse pai que não pagou pelo
crime de existir, transfere ao filho o peso dos pecados: “Maldita a sina. Que me fez nascer
um dia pra consertá-lo!” (Shakespeare, 1997,36).O pai ao invés de fazer-se o privador do
gozo da mãe se torna seu cúmplice: “Não contamina tua alma deixando teu espírito.
Engendrar coisa alguma contra tua mãe” (Shakespeare, 1997, 33, 88).Ao sancionar o crime
sem comprometer a mãe que é co-autora, nós encontramos um pai real que não é afetado
pela barra e que deixa o filho aprisionado a paixão pela imagem do pai morto, tentando
neutralizar o gozo da mãe imaginária, objeto primordial, mítico, inaccessível, que o
transforma em objeto de seu desejo. Ser ou não ser, eis a questão, questão do falo, ser ou
não ser o falo. O pai idealizado se sustenta de sua própria imagem ideal, mas não basta para
que o processo se inicie: o cumprimento da promessa de vingança e retomada do usurpado.
Resta ao filho barrar esse desejo voraz.
É nesse momento que a play scene toma o seu lugar, ou seja, o teatro no teatro, a
cena na cena. Mas é a estrutura de ficção da verdade que se joga na cena do teatro,
momento em que Hamlet imagina surpreender Claudio e fazê-lo denunciar-se, ao lado da
esperança de que possa levar sua mãe ao arrependimento, resolvendo assim o conflito.
Lacan toma a verdade como estrutura de ficção, ficção não como ilusão, mas
equivalente ao simbólico. È na dimensão da linguagem, do simbólico, ou seja: na
articulação do discurso, que a verdade embora antinômica a ele, se estrutura como ficção.
A play scene, o teatro no teatro em que Hamlet usa uma troupe de atores, é um dos
principais momentos da peça. O uso do teatro para revelar um drama: a verdade revelada
pelo pai. A verdade aqui se revela à luz da pantomima, isto é: é o artifício da representação
que traz a luz à verdade indicando que a revelação do crime deve ser feita pelo simbólico,
pela palavra. A alethéia do primeiro tempo da trama se coloca como verdade disfarçada no
texto teatral.
A função do inconsciente, definida como discurso do Outro, cadeia que enlaça o
desejo do sujeito, se presentifica no discurso, proferido pelo ator que o encarna e lhe
empresta o corpo. A cena com os atores, chamada “A ratoeira”, a isca para agarrar a
consciência do rei, é uma cena de assassinato onde o sobrinho mata o rei. No seminário X
“A angústia” Lacan esclarece: “O que Hamlet faz representar sobre a cena (...) é ele mesmo
realizando o crime de que se trata” (lição 3, 28/11/1962). O real não atravessado pela
história, o crime da geração precedente e o pai real, precisam entrar na cena, substitui-se
um pai real por outro pai real.
A representação dos atores tem a função de levar o mundo à cena, isto é submetê-lo
às leis significantes, isto é entrar na dimensão da história. O que Lacan destaca aí é a
dimensão da fantasia, mostrando que em se tratando de sujeito falante, o mundo não é outra
coisa senão a estrutura da fantasia. Um mundo a ser construído como uma bricolagem, com
restos do visto e ouvido, Hamlet como um “bricoleur” configura uma cena a partir do que
dispõe, para sair da captura da cena. O personagem cujo desejo só pode animar-se para
realizar a vontade do ”ghost”, do espectro do pai, este personagem tenta dar corpo a algo, e
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aquilo a que tem que dar corpo passa por sua imagem aqui verdadeiramente especular. Sua
imagem, não na situação, não no modo de realizar sua vingança, mas como modo de
assumir primeiro o crime que se tratará de vingar “(Lacan, lição 3, 28/11/1962)”.
O recurso ao teatro cumpre a função de um espelho em que Hamlet busca produzir a
imagem especular. Hamlet produz através do artifício da representação teatral, um duplo de
si, um duplo representado pelo i´(a). No momento da reprodução da cena, Lacan indica a
agitação que se apossa de Hamlet, a cena, a representação lhe devolve a imagem do
assassino, mas só a imagem não basta, por isso o assassino tem que ser o sobrinho que faz o
que Hamlet não faz: matar o tio. Toda identificação na ordem especular exclui a falta,
exclui a perda constitutiva do objeto, o sujeito não consegue a resposta sobre sua posição de
causa no desejo do Outro. Esta identificação, identificação como i´(a) não o liberta da
inibição há que se passar por outra identificação, que só se cumpre no final, com a morte de
Ofélia, aquela mais fundamental que se relaciona ao objeto como perdido. Porque o que é
central nesse drama é que o espectro do pai, o ghost, esta totalmente submetido ao desejo
da mãe, um homem consagrado a satisfazer plenamente as aspirações e que não consegue
responder a demanda da rainha de saciar seu desejo. O que horroriza Hamlet é o fracasso
do pai como causa do desejo da mãe.
Protegendo a mãe de sua própria raiva implora, revelando saber do poder materno: a
possibilidade sedutora dela: “Mãe pela graça divina, Não passa em tua alma esse enganoso
ungüento, De que não é o teu delito que fala, mas a minha demência” (Shakespeare, 1997,
89). Esse é o ponto em que a trágica anulação do desejo pela tirania da onipotência do
desejo materno, mantém sua ambivalência e reforça o conflito entre o desejo imperioso e
sua interdição. Lacan toma Hamlet como paradigma da relação do neurótico com o desejo,
destacando que o impasse com o desejo é de ordem estrutural, que ao interrogar-se sobre o
que quer fica paralisado entre o saber e o ato. A inibição como sintoma aponta que o que
quer o sujeito é manter o falo da mãe. Ele nega, recusa à castração ao Outro, pois não quer
perder sua dama, colocando-a na posição de falo idealizado, dúvida entre: Ser ou não ser...
o falo, remetendo a dialética e assunção da castração.Essa impossibilidade, decorrente da
ambigüidade do desejo e ambivalência conflitiva levam o herói à não realização do luto,
ficando preso na trama imaginária narcísica que paralisa sua ação e impede o deslocamento
do desejo. Estabelece-se uma confusão entre a realidade psíquica e a realidade material, e
um cenário imaginário que expressa o desejo em uma demanda impossível, que precisará
da passagem de uma nova ação psíquica, instauradora da alteridade.O neurótico acredita
que através da imagem chegará ao desejo, esse é o engano de Hamlet e de seu pai.A loucura
de Hamlet é efeito defeituoso de uma causa, não é a tragédia impulsionada pelo destino. O
drama de Hamlet é o drama do homem, o drama de que o objeto seja desdobrado entre
digno e indigno.
O rei é envenenado. As palavras do espectro são veneno.A rainha morre envenenada
quando o tio queria envenenar Hamlet. Morrem todos, no final dessa tragédia, contam-se
nove cadáveres. A peça termina com Hamlet dizendo a Horácio que leve sua palavra a
Fortimbrás: que ele fique com o reino. Ali onde esse varão não pode assumir seu lugar na
cadeia transgeracional, ele passa essa herança, como dom, a um filho que perdeu um pai; ao
custo do próprio sacrifício. Termino com a frase de Lacan “Levar a cabo a verdade de seu
desejo, embora seja o que há de mais vital na existência, implicará sempre um encontro
com a morte” (lição 13, 04/03/59).
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Bibliografia