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Disciplina: ECV023 - Saneamento Básico

Introdução ao saneamento básico

Vivemos no mesmo planeta: casa comum – responsabilidade comum.


Quando lançamos nossas excretas (esgoto, lixo, etc.) elas vão para nossa casa comum.
Portanto, a responsabilidade pelo saneamento é de todos nós.

A história do saneamento
Podemos destacar dois episódios da história que trazem implicâncias ao
saneamento desde os dias de hoje:
A Cloaca Máxima – Uma das mais antigas redes de esgoto do mundo. Foi construída
para levar o esgoto e lixo de Roma ao rio Tibre. Essa atitude de afastar os esgotos como
uma forma de “se livrar” do problema remete à “síndrome do gatinho” (que enterra as
fezes).
A revolta da Vacina – Tal episódio, acontecido no Brasil no início do século XX, foi
fruto da imposição de medidas sanitárias na população, a mesma se revoltou por não
compreender tais medidas. Isso nos traz como lição a necessidade de incluir o diálogo
franco e a participação da população nas intervenções, principalmente nas obras de
saneamento.

O que é o saneamento?
Segundo a Lei 11.445 de 2007 (Diretrizes Nacionais para o Saneamento Básico),
o saneamento é o conjunto de serviços, infraestruturas e instalações operacionais de:
-Abastecimento de água potável;
-Esgotamento sanitário;
-Limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos; e
-Drenagem e manejo das águas pluviais urbanas.
Entre os princípios do saneamento, temos:
-universalização do acesso;
-integralidade, segurança e qualidade dos serviços;
-sustentabilidade;
-controle social; e
-integração e articulação com outros planos e peculiaridades locais e regionais.

A realidade do saneamento
Cerca de ⅓ da população mundial se encontra sem acesso ao saneamento
adequado (2,4 bilhões).
No Brasil, cerca de 17% da população não possui acesso a água tratada e em
torno de 50% tem serviços de coleta de esgotos, sendo eles apenas 40% tratados.

Alguns problemas relacionados com a falta de saneamento


Existem muito organismos patogênicos no esgoto (bactérias, vírus, protozoários,
helmintos, etc.) a escassez de saneamento leva a prevalência do ciclo de vida desses
organismos e das infecções provocadas por eles.
Também existe a disseminação de doenças pela água contaminada por excretas
humanas ou de animais ou pela presença de substancias químicas nocivas a saúde.
O despejo irregular de resíduos sólidos pode manter água parada, restos de
alimentos e demais condições que favorecem a proliferação de vetores de doenças.
Assim como a percolação do chorume no solo pode atingir o lençol freático e
contaminar os mananciais subterrâneos.
A falta de, ou mal dimensionados, sistemas de drenagem, aliada à ocupação
desordenada das cidades, aumenta o risco de enchentes, deslizamentos, e demais
problemas com a chuva.

Doenças relacionadas com a água


As doenças relacionadas com a água são de origem hídrica ou de transmissão
hídrica.
As de origem hídrica são originadas pela presença de substancias químicas
presentes em concentrações elevadas. Já as de transmissão hídrica são quando a água
atua como agente infeccioso.
As principais formas de transmissão são:
-Ingestão de água contaminada;
- Contato da pele/mucosas com água contaminada;
- Práticas precárias de higiene; e
-Vetores que se desenvolvem na água.
Algumas dessas principais doenças são: cólera, febre tifoide, hepatite A, doenças
diarreicas agudas de varias etiologias, esquistossomose, leptospirose, ascaridíase,
helmintíase, dengue, febre amarela, filariose, malária e encefalite.
A Organização Mundial da Saúde – OMS define saúde como: o estado de bem-
estar físico, mental e social, e não apenas ausência de doenças.
Também define saneamento como: controle de todos os fatores do meio físico
do homem, que exercem ou podem exercer efeito deletério sobre seu bem estar físico,
mental e social.
Basicamente, podemos dizer que para cada R$ 1,00 investido em saneamento, é
equivalente a R$ 3,00 em gastos com saúde pública.
O saneamento também reflete as questões socioeconômicas. Os estados
brasileiros que possuem as maiores porcentagens de rede de esgoto, por exemplo, são
também os que possuem a maior renda média domiciliar per capita.

Como melhorar
Alguns exemplos de ações coletivas:
-Implantação, manutenção, investimento e gestão de obras de saneamento;
-Seleção mais criteriosa das tecnologias necessárias;
-Aumento de políticas de incentivo ao saneamento;
-Educação ambiental.
Alguns exemplos de ações individuais:
-Utilizar os sistemas corretamente;
-Separar lixo;
-Separar óleo de cozinha;
-Evitar desvios clandestinas de água;
-Evitar ligações de água pluvial na rede de esgoto;
-Plantar árvores e manter áreas verdes;
-Coletar água de chuva;
-Limpar periodicamente a caixa d’água;
-Evitar água parada;
- Hábitos de higiene comuns.

Exercício 1

As cidades A e B estão construindo seus respectivos planos municipais de


saneamento. Ambos deverão captar água e despejar seus esgotos no mesmo rio,
conforme o esquema:

As linhas tracejadas 1,2,3 e 4 representam adutoras ou emissários.

De acordo com a capacidade técnica, financeira e operacional dos municípios, A


e B podem construir as seguintes unidades:
ETA 1 – Estação de tratamento de água com eficiência de 98% de remoção de
Giárdia spp.;
ETA 2 – Estação de tratamento de água com eficiência de 87% de remoção de
Giárdia spp.;
ETE 1- Estação de tratamento de esgoto com remoção de 70% de DBO5,20; e
ETE 2- Estação de tratamento de esgoto com remoção de 82% de DBO5,20

Para a melhor segurança sanitária de ambas as cidades, determine em quais


localizações (1,2,3 e 4) as estações de tratamento de água e de esgoto deverão estar
dispostas. Discuta a viabilidade das demais configurações.
Sistemas de Abastecimento de Água

Todos sabemos que a água é um bem essencial para a vida. Precisamos de água
para praticamente tudo.
Nosso planeta é conhecido como “planeta água”, mais de 70% da superfície
terrestre é coberta por água.
Mas, se há tanta água assim, por que existem tantos problemas de escassez de
água?
Para que a água seja usufruída pela população, é preciso que sejam equacionados
corretamente dois fatores fundamentais: quantidade e qualidade.

Quantidade de água
Atender a quantidade de água significa fornecer a vazão suficiente para o
consumidor, ou seja, que ele tenha água na torneira.
Para isso, é preciso uma fonte\manancial, seja ele superficial ou subterrâneo.
Uma vez tendo essa “fonte”, basta construir obras para vencer as distancias e levar a
água para onde precisa. Assim, é projetado todo o conjunto de tubulações, bombas e
demais equipamentos necessários, em função da vazão.
Porém, esse processo de retirada da água dos mananciais pode envolver
inúmeros impactos: reservatórios e aquíferos reduzindo seus níveis, principalmente em
tempos de estiagem quando a quantidade retirada é maior do que a recarregada;
conflitos quanto ao uso da água, quando há disputas pela mesma reserva; descontrole
das captações; etc.
Por isso, além de saber dimensionar a vazão parar atender a quantidade de água,
o engenheiro projetista deve observar cuidadosamente a escolha do manancial e os
limites naturais e institucionais (planos diretores, de bacia hidrográfica, etc.)
envolvendo sua utilização.

Qualidade da água

A água precisa estar em condições que não ofereçam riscos à saúde e atendam as
exigências do consumidor. Neste sentido, existe o conceito de potabilidade.
O padrão de potabilidade é o conjunto de valores permitidos como parâmetro da
qualidade da água para o consumo humano.
No Brasil, a Portaria 2914 de 2011 é a que regulamenta o padrão de potabilidade
nacional.
Além de apresentar os limites que asseguram a proteção da saúde do
consumidor, a 2914 também inclui os padrões organolépticos, que asseguram a
aceitação do consumidor (exemplo: água sem cor).

Sistemas de abastecimento de água

Para prover a qualidade e a quantidade de água necessária, existem os sistemas


de abastecimento de água. Assim definidos pela Portaria 2914: “instalação composta
por um conjunto de obras civis, materiais e equipamentos, desde a zona de captação até
as ligações prediais, destinada à produção e ao fornecimento coletivo de água potável,
por meio de rede de distribuição (...)”.

De forma simplificada, o sistema é composto de:

Captação

Conjunto de estruturas e dispositivos destinados a captar determinada vazão do


manancial.

Formas de captação: Subterrânea e superficial.

A água, uma vez captada por vertedores ou outros meios, geralmente passa por
gradeamento, para remoção de galhos e demais materiais sólidos existentes. Após isso,
passa pelo desarenador, onde são removidos os materiais em suspensão. Com isso, se
protege, principalmente do desgaste por abrasão, as tubulações, bombas e demais
acessórios posteriores do sistema.

Estação elevatória

Conjunto de equipamentos que fazem o recalque da água até as unidades


seguintes do sistema. Seus principais componentes são: tubulação de sucção, bomba,
motor e tubulação de recalque.

A estação elevatória nem sempre é necessária, pois, dependendo das condições


locais, a água pode ser conduzida por gravidade.

Adutora

Canalização que conduz a água entre as unidades que precedem a rede de


distribuição.

Existem adutoras por gravidade, por recalque e mistas.

Algumas peças e acessórios de adutoras: válvula de retenção, ventosas e válvula


anti golpe de aríete.
Estação de tratamento de água

Conjunto de unidades destinado a tratar a água de modo a adequar suas


características aos padrões de tratabilidade.

Além da remoção das impurezas da água, geralmente por processos físico


químicos, também se realiza a desinfecção visando a inativação de patógenos na água.

Reservatório

Unidade de acumulação de água tratada que tem por finalidade regularizar as


variações entre as vazões do sistema, atender as demandas de emergência e condicionar
as pressões da rede de distribuição.

Rede de distribuição

Tubulações e órgãos acessórios para fornecer água de forma contínua em


quantidade e pressão recomendada.

Alguns acessórios da rede: ventosas, hidrante e válvula de manobra.

Tipos de rede: ramificada e malhada.

Previsão da população

Os sistemas de saneamento são implantados com o objetivo de durar certo


tempo, ou seja, há um período de projeto estipulado. Porém, a população atendida
geralmente varia com o passar do tempo, aumentando seu número de habitantes. Tal
fato acarreta em aumentar também as vazões de água e esgoto dos sistemas.

Nesse sentido, é importante que se faça uma previsão da população para o ano
de alcance do projeto. Mas, prever tal número é algo subjetivo e impreciso. Para
“chutar” a previsão da população, existem vários métodos, tais como:

Método dos componentes demográficos: Tal método consiste em equacionar a


população (P), através de: população inicial (Po), quantidade de nascimentos no período
de projeto (N), quantidade de óbitos (M), número de imigrantes (I) e número de
emigrantes (E).

P = Po + N – M + I - E

Método de extrapolação gráfica: Consiste em traçar uma curva arbitrária, imitando o


crescimento de outra localidade, que possui características semelhantes e população
maior.
Métodos matemáticos: São métodos nos quais se realizam equações a partir de dados
registrados da população anteriormente.

Entre os métodos matemáticos mais conhecidos temos:

Método aritmético: Sabendo dados de dois períodos (Po, P1,to e t1), é possível calcular
um crescimento linear.

Método geométrico: Calcula-se um crescimento exponencial.

Exercício

A cidade X possui o seguinte histórico populacional:

População (habitantes) Ano


5671 2007
10047 2017

Calcule a estimativa populacional para o ano de 2037 utilizando:

a-) método aritmético

b-) método geométrico

Resposta:

a-)
ka = (P1 – P0)/( t – to ) = (10047 – 5671)/(2017 – 2007) = 437,6

P = 10047 + 437,6x(2037-2017) = 18799

b-)

kg = [ ln(10047) - ln(5671) ] / (2017 – 2007) = 0,0572

P = 5671x exp[0,0572x(2037-2007)] = 31535

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