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1 NEGÓCIO JURÍDICOS

1.1 CONCEITO
É a manifestação da vontade humana objetivando criar, modificar, conservar
ou extinguir relações jurídicas. É da declaração humana que emana o
negócio.

1.2 PLANOS DO NEGÓCIO JURÍDICO


A doutrina divide os negócios jurídicos em Planos (escada Ponteana). Quais
sejam:

 Existência;
 Validade;
 Eficácia;

Vejamos cada um.

1.2.1 Existência
O plano de existência do negócio jurídico não foi incluso pelo legislador civil
na Codificação, sendo, porém, diuturnamente tratado pela doutrina.

É o plano do Ser do negócio jurídico. Assim, para ser um negócio jurídico,


precisamos de quatro elementos concomitantes:

 Agente;
 Objeto;
 Forma;
 Vontade exteriorizada (consentimento);

1.2.2 Validade
É sinônimo de adequação (um juízo de adequação) ao sistema jurídico,
verificando se o negócio existente pertence ao ordenamento jurídico.

A validade é atestada, preponderantemente, pela adequação do negócio


jurídico aos quesitos elencados pelo art. 104 do CC:

Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:

I - Agente capaz (legitimado);

II - Objeto lícito (possibilidade jurídica), possível (possibilidade material),


determinado (gênero, quantidade e qualidade) ou determinável (apenas
gênero e quantidade);

III - Forma prescrita ou não defesa em lei.

- Acrescentando aqui o Consentimento -


1.2.2.1 Forma
Pela regra geral, a forma do negócio jurídico é livre (liberdade das formas):

Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma


especial, senão quando a lei expressamente a exigir.

Contudo, às vezes os negócios jurídicos precisaram de forma especial para o


seu aperfeiçoamento. É o que chamamos de forma vinculada do negócio,
única ou cogente.

Assim, essa forma pode ser vinculada:

 Pela Vontade (voluntária, convencional) – Art. 109, CC;


 Pela Lei (legal) – Art. 108, CC;

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este (instrumento) é da substância do ato.

Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial


à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência,
modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a
trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.

Obs.: esta regra do art. 108 do CC, não abrange as hipóteses de contratos
preliminares, pois o contrato preliminar tem forma livre.

Ex: contrato de promessa de compra e venda (tem todos os elementos, só


não forma).

Obs.: a forma do negócio jurídico é diferente do modo de aquisição da


propriedade.

A propriedade para ser adquirida exige um modo que, em regra, é o registro.


Esse registro será sempre necessário, independentemente da forma do
negócio.

1.2.2.2 Consentimento válido


O consentimento válido é o consentimento livre, desembaraçado de qualquer
vontade alheia que não a do agente. Esse consentimento pode ser dado de
várias formas.

Contudo, é possível que o silêncio seja consentimento?

 Regra: não, pois o silêncio é neutro;


 Exceção: sim, art. 111 do CC, com base em dois quesitos
cumulativos:

Art. 111. O silêncio importa anuência, quando:

 As circunstâncias ou os usos o autorizarem; e


 Não for necessária a declaração de vontade expressa.
Exemplos de silêncio permitido como consentimento: art. 539 (contrato de
doação) e art. 49 do CDC:

Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou
não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro
do prazo, a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for
sujeita a encargo.

Art. 49 do CDC. O consumidor pode desistir do contrato, no prazo de 7 dias


(se em 7 dias ele não se manifestar, quer dizer que está satisfeito
com o produto) a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do
produto ou serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos
e serviços ocorrer fora do estabelecimento comercial, especialmente por
telefone ou a domicílio.

1.3 TEORIA DAS INVALIDADES


Aqui é quando o agente desrespeita algum dos requisitos da validade: o
agente é incapaz, o objeto é ilícito, a vontade está viciada, etc...

E sobre a teoria das invalidades, duas observações iniciais:

 As nulidades nunca são implícitas (exigem sempre texto de lei).


Não há nulidade, seja absoluta ou anulabilidade (relativa), sem
disposição legal.

 Não há nulidade sem prejuízo (brocardo francês).

As nulidades podem ser (de acordo com a sua gravidade):

 Absolutas (nulidades);
 Relativas (anulabilidades);

O que é importante saber sobre as nulidades absolutas e as relativas e quais


são as suas hipóteses e características:

1.3.1 Nulidades absolutas


As hipóteses de nulidades absolutas (sempre expressas) estão
praticamente todas nos art. 166 e 167 do CC. Vejamos:

Art.166. É nulo o negócio jurídico quando:

I - Celebrado por pessoa absolutamente incapaz;

II - For ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

III - O motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito;

IV - Não revestir a forma prescrita em lei;

V - For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a


sua validade;
VI - Tiver por objetivo fraudar lei imperativa;

VII - A lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem


cominar sanção.

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado (SIMULAÇÃO), mas


subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

§ 1º Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:

I - Aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas


às quais realmente se conferem, ou transmitem;

II - Contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - Os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

1.3.2 Características dos atos nulos


Vistas as hipóteses de nulidade absoluta, quais são as características dos
atos nulos. Vejamos:

 O ato nulo atinge interesse público superior;


 Pode ser arguida:

o Pelas partes;
o Por terceiro interessado;
o Pelo Ministério Público (quando lhe couber intervir);
o Juiz ex ofício (de ofício);

Atenção: apesar de o juiz poder reconhecer ex ofício a nulidade, ele não


tem permissão para supri-la, ainda que a requerimento da parte (art.
168, único, CC/02).

Art. 168, único: As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando
conhecer do negócio jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas,
não lhe sendo permitido supri-las, ainda que a requerimento das
partes.

 A ação declaratória de nulidade é decidida por sentença de


natureza declaratória de efeitos “ex tunc”;

 A nulidade, segundo o novo Código Civil, pode ser reconhecida a


qualquer tempo, não se sujeitando a prazo prescricional
(imprescritível) ou decadencial.

 Não admite CONFIRMAÇÃO (ratificação, saneamento,


convalidação), mas pode ser CONVERTIDO em um ato válido.

Ainda sobre as caraterísticas dos atos nulos, uma última observação: a


nulidade absoluta, para que ela seja arguida nas instâncias superiores da
justiça (STF, STJ), a matéria já deve ter sido pré-questionada.
Nulidades RELATIVAS

Este é um rol mais enxuto, então convém decorar por excelência as


hipóteses de nulidades relativas e responder as questões que as confundem
com as absolutas de forma alternativa, por exclusão. Assim, vejamo-las:

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

 Maiores de 16 e menores de 18;


 Ébrios e Viciados;
 Aqueles que por causa transitória ou permanente não podem exprimir
sua vontade;
 Pródigos;

II - por vício resultante de:

 Erro;
 Dolo;
 Coação;
 Estado de perigo;
 Lesão;
 Fraude contra credores.

Esta segunda hipótese trata do que a doutrina chama de Defeitos do


Negócio Jurídico. Esses defeitos dos negócios jurídicos são assim divididos:

 Vícios de consentimento:

o Erro;
o Dolo;
o Coação;
o Lesão;
o Estado de Perigo;

 Vícios Sociais:

o Fraude contra credores;


o Simulação (nulidade absoluta)

Assim, todos esses vícios geram nulidade relativa, com exceção da


simulação, que gera nulidade absoluta.

CARACTERÍSTICAS das nulidades relativas

Vejamos agora as características das nulidades relativas:

 O ato anulável atinge interesses particulares, legalmente tutelados


(por isso a gravidade não é tão relevante quanto na hipótese de
nulidade);
 Somente pode ser arguida pelos legítimos interessados;

 A anulabilidade somente pode ser arguida, pela VIA JUDICIAL, em


prazos decadenciais:

o De 4 anos (regra geral); ou


o De 2 anos (regra supletiva);

...salvo norma específica sem sentido contrário (art. 178 e 179).

Art. 178. É de QUATRO ANOS o prazo de decadência para pleitear-se a


anulação do negócio jurídico, contado:

I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão,


do dia em que se realizou o negócio jurídico;

III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.

Art. 179. Quando A LEI dispuser que determinado ato é anulável, sem
estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de DOIS
ANOS, a contar da data da conclusão do ato.

 Admite CONFIRMAÇÃO (convalidação, ratificação, saneamento)


expressa ou tácita;

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Então, para não restar dúvida, vejamos em um quadro com as principais


características dos atos nulos e anuláveis.

NULOS ANULÁVEIS

-O ato nulo atinge interesse público -O ato anulável atinge interesses


superior; particulares, legalmente tutelados

-Pode ser arguida: -Somente pode ser arguida pelos


legítimos interessados;
Pelas partes;
Por terceiro interessado;
Pelo Ministério Público (quando lhe
couber intervir);
Juiz ex ofício (de ofício);

-A ação declaratória de nulidade -A anulabilidade somente pode ser


é decidida por sentença de arguida, pela via judicial, em
natureza declaratória de efeitos prazos decadenciais:
“ex tunc”;
De 4 anos (regra geral); ou
De 2 anos (regra supletiva);
...salvo norma específica sem
sentido contrário (art. 178 e 179).

- A nulidade, segundo o novo


Código Civil, pode ser reconhecida a
qualquer tempo, não se
sujeitando a prazo prescricional
(imprescritível) ou decadencial.

Não admite CONFIRMAÇÃO Admite CONFIRMAÇÃO


(ratificação, saneamento, (convalidação, ratificação,
convalidação), mas pode ser saneamento) expressa ou tácita;
convertido em um ato válido.

PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS ATOS

A conservação dos atos pode se dar de três formas:

 Conversão substancial;
 Convalidação (saneamento, ratificação, confirmação);
 Redução:

Conversão substancial

É uma medida sanatória por meio da qual aproveitam-se os elementos


materiais de um negócio jurídico inválido, convertendo-o em negócio válido
de fins lícitos. Está prevista no art. 170 e consiste na recategorização de
determinado negócio para outro de diferente espécie, respeitadas
determinadas circuns-tâncias.

É novidade no código civil atual. O instituto é regulado, então, no artigo 170


do CC:

Art. 170. Se, porém, o negócio jurídico nulo contiver os requisitos de


outro, subsistirá este quando o fim a que visavam as partes permitir
supor que o teriam querido, se houvessem previsto a nulidade.

Assim, podemos tirar algumas conclusões desse confuso artigo:

 A conversão se aplica ao negócio jurídico NULO. Assim, ao negócio


jurídico nulo só é possível a conversão. Não é possível a
confirmação nem a convalidação.
Art. 169. O negócio jurídico nulo NÃO É suscetível de confirmação, nem
convalesce pelo decurso do tempo.

 Para que o ato nulo seja convertido (recategorizado) são precisos


dois requisitos (e estes deverão ser somados):

o O aproveitamento dos elementos materiais do ato nulo


(requisito objetivo);
o O aproveitamento da manifestação da vontade originárias
(requisito subjetivo);

Exemplo: Compra e venda por escritura particular (o art. 108 do CC requer


escritura pública) de imóvel acima de 30 salários: juiz pode reconsiderar o
negócio jurídico convertendo em promessa de compra e venda (no qual a
forma é livre), e depois possibilitando a adjudicação compulsória do bem.

Convalidação (ratificação, saneamento ou confirmação)

A convalidação é o remédio do negócio ANULÁVEL. E essa convalidação


pode se dar de duas formas:

 Expressa (direta);
 Tácita (indireta);

Art. 169. O negócio jurídico nulo não é suscetível de confirmação, nem


convalesce pelo decurso do tempo.

Art. 172. O negócio anulável pode ser confirmado pelas partes, salvo
direito de terceiro.

Redução

Permite que uma invalidade parcial atinja a parte acessória do negócio.


Ex: contratos coligados.

Não há que se falar em redução se a parte atingida pela invalidade diz


respeito a parte principal do negócio jurídico. Tem que atingir o acessório.

Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um


negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for
separável; a invalidade da obrigação principal implica a das
obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação
principal.

EFICÁCIA DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

Tem como elementos acidentais ou acessórios, opostos pela vontade


humana a negócios com fundo patrimonial, os seguintes:
 Condição;
 Termo;
 Modo ou encargo;

Não há obrigatoriedade das suas presenças nos negócios jurídicos, mas,


estando presentes, funcionaram como como fatos de autolimitação
daqueles.

Vejamos cada um em separado.

Condição

A condição é um evento FUTURO e INCERTO , que deriva exclusivamente


da vontade das partes envolvidas no negócio jurídico, e que subordina os
seus efeitos. Vejamos o que diz o CC:

Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando


exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio
jurídico a evento futuro e INCERTO.

Assim, a condição necessita obrigatoriamente de três elementos:

 Futuridade;
 Incerteza (porque se for certo, será um termo e não uma condição);
 Condição dada exclusivamente pelas partes (não há possibilidade
de terceiro impor uma condição);

A condição admitirá, também, algumas classificações. Vejamo-las:

Suspensiva X Resolutiva

 Suspensiva – enquanto não implementa, deixa suspensos os


efeitos do negócio.

Art. 125. Subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição


suspensiva, enquanto esta se não verificar, não se terá adquirido o
direito, a que ele visa.

 Resolutiva – o negócio produzirá seus efeitos automaticamente,


extinguindo-se (se resolve) o negócio quando implementada a sua
condição; assim, o negócio, implementada sua condição, se resolve
automaticamente (não há necessidade de ir a juízo); também, essa
resolução terá efeitos EX-NUNC.

Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar,


vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão deste o
direito por ele estabelecido.

Art. 128. Sobrevindo a condição RESOLUTIVA, extingue-se, para todos


os efeitos, o direito a que ela se opõe; mas, se aposta a um negócio de
execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição
em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde
que compatíveis com a natureza da condição pendente e conforme aos
ditames de boa-fé.

Lícita X Ilícita

 Lícita – O comando geral estará no art. 122:

Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à
ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se
incluem as que:

-Privarem de todo efeito o negócio jurídico;

-Sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

 Ilícitas – O comando está nos artigos 123 e 124:

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III - as condições incompreensíveis ou contraditórias.

Art. 124. Têm-se por inexistentes as condições impossíveis, quando


resolutivas, e as de não fazer coisa impossível.

Puramente Potestativas X Simplesmente/Meramente Potestativas

 Puramente Potestativas (arbitrárias): são ilícitas e não


permitidas no ordenamento jurídico brasileiro (art. 122, parte final)

 Simplesmente/Meramente Potestativas (discricionárias) – são


lícitas.

Avançando, sobre a condição, ainda, duas observações:

Art. 130. Ao titular do direito eventual, nos casos de condição


SUSPENSIVA ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a
conservá-lo.

Ex: João promete imóvel à Maria quando esta se casar com Pedro. Assim,
enquanto não se casar com Pedro, Maria não tomará posse do imóvel.
Contudo, Maria sabe que o imóvel está localizado em local perigoso e constrói
um muro para guardar (praticou ato para conservar a casa) o imóvel (direito
eventual).

Art. 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição


cujo implemento for maliciosamente obstado pela parte a quem
desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não verificada a condição
maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu
implemento.

Ex: Primeira parte do artigo: José, por ter se arrependido e não querer
mais que Maria se case com Pedro, para não lhe dar a casa, mata Pedro.
Segunda parte do artigo: Maria, maliciosamente, se casa com Pedro só
para receber a casa prometida por José, mas depois se divorcia daquele.

Ainda, sobre a Condição, é importante saber:

Art. 126. Se alguém dispuser de uma coisa sob condição suspensiva, e,


pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão
valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis.

Termo

O termo, ao contrário da condição, é um evento furto e CERTO . Esse termo


pode ser Inicial (dies a quo) ou final (dies ad quem):

 Inicial (dies a quo): é aquele que marcará o início do exercício de


um direito. Ex: José compra imóvel na planta e fica acertado que o
imóvel será entregue 10/12. Esta data será a inicial, marcando o início
do exercício do direito.
Contudo, o termo inicial suspende apenas o exercício do direito,
não impedindo sua aquisição.

Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do


direito.

 Final (dies ad quem): é aquele que marca o término do exercício do


direito, o seu prazo final.

O termo é elemento acidental, acessório ou segundo, podendo ou não


estar presente no negócio jurídico.

Mas estando presente o Termo, manifestando-se em prazo inicial e final, o


lapso de tempo entre esses será chamado de PRAZO, contado de acordo
com art. 132 do CC:

Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-


se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.

§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado


o prazo até o seguinte dia útil.

§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu 15º dia.

§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de


início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.

§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

Ainda sobre o termo, para finalizar, é importante saber também:


Art. 133. ...

 Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro;


 Nos contratos, em proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se
do teor do instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se
estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos os
contratantes.

Pois, em relação aos devedores, os termos militam em favor destes, a não


ser que se tenta acertado ao contrário.

Art. 134. Os negócios jurídicos entre vivos, SEM PRAZO, são exequíveis
desde logo, salvo se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou
depender de tempo.

Art. 135. Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições


relativas à condição suspensiva e resolutiva.

Modo ou encargo

É o ônus que há de ser cumprido pela parte para que tenha um benefício que
entenda superior. Ex: doações modais.

A doção modal é aquela acompanhada de exigências, encargos,


imposições ao donatário que devem ser por ele cumpridas quando
aceita o benefício. Normalmente, o doador estipula prazo para a realização
do encargo.

Ex: José promete um carro a Maria, se ela, por 2 anos, leva-lo e trazê-lo do
trabalho.

Sobre este instituto, vejamos o que diz o CC:

Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do


direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo
disponente, como condição suspensiva.

Isso, porque, tomando o exemplo anterior, para que Maria leve e traga José
para o trabalho, é necessário que ela já esteja com o carro em mãos, por
óbvio.

Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo


se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se
INVALIDA o negócio jurídico.

Ex: se José promete carro a Maria impondo como encargo que ela transporte
drogas para ele, como este é o motivo determinante da doação do carro
(da liberalidade), restará INVALIDADO de logo o negócio jurídico.

REGRAS INTERPRETATIVAS DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS


É tema quase que exclusivamente doutrinário. Assim, vejamos as principais
regras interpretativas:

Boa fé

Liga-se a ética, probidade e a confiança. E essa boa-fé poderá ser objetiva


ou mesmo subjetiva.

 Subjetiva (Bona Fides Romana) – vem do direito romano. Ligada


ao interno do indivíduo; Ela é de conhecimento (eu sei ou não sei)
É psicológica. Esta não é propriamente uma regra de interpretação.

 Objetiva (Treu und glauben) – refere-se a lealdade e a confiança,


materializada em atos concretos (direito alemão – BGB). O Brasil
adota essa teoria. Ela é de comportamento. É principiológica, e
sendo principiológica, ela varia de contrato a contrato. É a regra de
interpretação de todo contrato.

Continuando, a boa-fé objetiva, abraçada pelo ordenamento jurídico pátrio,


teria ainda, de acordo com a doutrina, três funções. Quais sejam:

 Interpretativa (art. 113, CC)

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-


fé e os usos do lugar de sua celebração.

E de acordo com o Enunciado 27 do Conselho da Justiça Federal, na


interpretação da cláusula geral da boa-fé, deve-se levar em conta o sistema
do CC e as conexões sistemáticas com outros estatutos normativos e
fatores metajurídicos.

 Integrativa

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do


contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Trabalha com a ideia de que em todos os negócios jurídicos há deveres


anexos, implícitos, satelitários. Deveres que habitam o negócio e
decorrem do princípio da boa-fé.

Esses deveres constaram do negócio jurídico ainda que não se convencione


sobre eles. Estarão, portanto, implícitos. Ex: dever de Informação.

Contudo, há também outros deveres anexos e constam de rol puramente


exemplificativo. Ex: informação, assistência, zelo, lealdade, sigilo (em
alguns negócios).

Contudo, dentro dos deveres anexos dos dois mais famosos são:

o Dever do credor mitigar as próprias perdas ou Duty to


Migate the Loss: assim, o princípio da boa-fé objetiva deve
levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo. Ex:
bate uma pedrinha no para-brisa do meu carro, causando uma
pequena rachadura. Assim, eu não posso tentar agravar mais a
rachadura do para-brisa do carro a fim do seguro, ao invés de
só repará-lo, precisar trocá-lo, saindo eu, assim, no lucro.

o Nemo Potest Venire Contra Factum Proprium (proibição


comportamento contraditório): a pessoa não pode criar uma
expectativa em alguém, e depois, de forma desarrazoada,
quebrar essa expectativa ou essa confiança. Ex: marido vendeu
imóvel sem a anuência de sua esposa. Depois de vendida a casa,
ele pegou metade do dinheiro e colocou na conta dela e a avisou.
Ela, sem dizer ou fazer nada, ficou com o dinheiro, criando uma
expectativa ou certeza em todos que teria aceitado esse
dinheiro. 17 anos depois, com o fim do casamento, esta mulher
quis anular a venda feita lá atrás, dizendo que não a tinha
consentido. Tal pedido foi, por óbvio, negado pelo STF com base
na proibição de comportamento contraditório, pois por 17 anos
criou em todos a expectativa ou até mesmo a certeza que teria
consentido a venda do imóvel por ter aceitado o dinheiro posto
em sua conta.

Continuando, SEGUNDO O STJ, o descumprimento do dever anexo


EQUIVALE AO DESCUMPRIMENTO DO PRÓPRIO CONTRATO
(responsabilidade civil contratual). Assim, por mais que o contrato não tenha
sequer uma linha citando ou falando a respeito de uma dever anexo (ex:
dever de informação), é como esse, mesmo assim, estivesse no contrato.

En. 24 do CJF: em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do


CC, a violação aos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento,
INDEPENDENTEMENTE DE CULPA. (Uma responsabilidade civil
OBJETIVA).

Segundo jurisprudência do STJ:

O descumprimento de tais deveres denomina-se de violação positiva do


contrato ou adimplemento fraco, sendo reconhecido pelo STJ na hipótese
de não observância do dever de informação:

Recurso especial. Civil. Indenização. Aplicação do princípio da boa-fé


contratual. Deveres anexos ao contrato.

- O princípio da boa-fé se aplica às relações contratuais regidas pelo


CDC, impondo, por conseguinte, a obediência aos deveres anexos ao
contrato, que são decorrência lógica deste princípio.

- O dever anexo de cooperação pressupõe ações recíprocas de lealdade


dentro da relação contratual.

- A violação a qualquer dos deveres anexos implica em inadimplemento


contratual de quem lhe tenha dado causa.

- A alteração dos valores arbitrados a título de reparação de danos


extrapatrimoniais somente é possível, em sede de Recurso Especial, nos
casos em que o quantum determinado revela-se irrisório ou
exagerado.

 Restritiva (limitadora)

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-
lo, EXCEDE manifestamente os limites impostos pelo seu fim
econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.

O juiz poderá intervir no contrato para retringi-lo, limita-lo a boa-fé. Ex:


ações revisionais (demanda judicial através da qual o autor busca revisar
determinadas cláusulas de um contrato).

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Falando ainda da boa-fé, faz-se a pergunta: essa se aplica somente ao


negócio jurídico em si, contrato, ou pode-se falar em uma boa-fé pré ou pós
contratual.

Apesar da lei não deixar muito claro isso, a doutrina possui entendimento
pacífico que, sim, a boa-fé se aplica também pré ou mesmo pós contrato ou
negócio.

E. 25 - Art. 422: o art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo
julgador do princípio da boa-fé nas fases pré-contratual e pós-
contratual.

En. 170 – Art. 422: A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na
fase de negociações preliminares e após a execução do contrato, quando
tal exigência decorrer da natureza do contrato.

Exemplo de boa-fé pré-contratual: exemplo da SICA.

Exemplo de boa-fé pós-contratual: exemplo do Zeca Pagodinho.

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Demais regras interpretativas:

Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem
instrumento público, este é da substância do ato.

Art. 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas


consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem.

Art. 114. Interpretam-se RESTRITIVAMENTE:

 Negócios jurídicos benéficos;


 Renúncia;

Além dos negócios jurídicos e a fiança, também se interpretarão


restritivamente:

 Fiança;
 Aval;
 Negócios sancionatórios;

Obs.: no campo do processo civil, o STJ entende que a desistência por


vontade da parte também deve ser interpretada restritivamente.

Súmula 214, STJ – O fiador na locação não responde por obrigações


resultantes de aditamento ao qual não anuiu.

Assim, essas obrigações não vinculam o fiador por conta da interpretação


restritiva.

Art. 117 – Salvo se o permitir a lei ou o representado, é anulável o


negócio jurídico que o representante, no seu interesse ou por conta de
outrem, celebrar consigo mesmo.

Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante
o negócio realizado por aquele em quem os poderes houverem sido
subestabelecidos.

Ex: José quer vender um carro e, não querendo fazer por si próprio, concede
uma procuração a João para vende-lo. Contudo, João, representando José,
vende para si mesmo o carro. Aqui é o auto contrato: João está figurando
nos dois polos da relação, um em nome próprio e no outro em nome de José.

O autocontrato só será anulável quando representar prejuízos ao


representado. Ex: João vende o carro para si mesmo por um preço abaixo
do mercado.

Obs.: se a cláusula de auto contrato decorrer de um contrato de consumo


ou de adesão, o contrato será NULO (e não anulável). Súmula 60 do STJ:

Súmula 60, STJ – É nula a obrigação cambial assumida por procurador do


mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.

NEGÓCIOS JURÍDICOS PROCESSUAIS

Pode-se definir o negócio jurídico processual como:

O fato jurídico voluntário em cujo suporte fático, descrito em norma


processual, esteja conferindo ao respectivo sujeito o poder de escolher a
categoria jurídica ou estabelecer, dentre dos limites fixados no próprio
ordenamento jurídico, certas situações jurídicas processuais.

Ou seja, em outras palavras, é o fato jurídico voluntário em que o sujeito tem


o poder de escolher ou estabelecer certas situações jurídicas processuais,
sempre dentro dos limites permitidos no próprio ordenamento jurídico.

O negócio jurídico processual é produto da autonomia privada e da


autorregulação de interesses, o que implica liberdade de celebração e de
estipulação.

Desta feita, fica evidente, na forma do art. 190 do NCPC, que o legislador
permite a influência do autoregramento da vontade, e, ainda, deixa um
espaço para que os sujeitos do processo possam influir e participar na
construção da atividade procedimental.

Os negócios jurídicos processuais estão ligados ao princípio da licitude da


formação de contratos atípicos (CC 425).

Art. 425, CC: “É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas


as normas gerais fixadas neste Código.”

Assim, sempre foi possível estabelecer contratos atípicos no limite da lei.


Exemplo de limite:

Art. 426, CC: “Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.

Assim, no processo civil é foi admitido a celebração de negócios jurídicos. É


o que se chama de “autoregramento da vontade no processo”, a partir
da autonomia privada.

Os negócios jurídicos podem ser unilaterais, bilaterais, tácitos:

 Negócios jurídicos Unilaterais:

o Desistência de recurso (nCPC 999);


o Renúncia ao prazo (nCPC 225).

 Negócios jurídicos Bilaterais:

o Calendário processual (nCPC 191);


o Acordo para suspensão do processo (nCPC 313, II);
o Escolha de arbitramento como técnica de liquidação (nCPC 509,
I);
o Convenção sobre o ônus da prova (nCPC 373, §§3º e 4º);
o Escolha consensual do perito (nCPC 471);

 Negócios jurídicos Tácitos:

o Prorrogação de competência do juízo relativamente


incompetente (nCPC 65);
o Preclusão (ato incompatível com a vontade de recorrer);
o
 Negócios Jurídicos Plurilaterais:

o Sucessão processual voluntária (nCPC 109).

Assim, tudo isso sempre foi possível no processo civil, mas agora existe uma
cláusula geral de negócios processuais atípicos. É o que dispõe o art.
190 do NCPC:

Art. 190, novo CPC: “Versando o processo sobre direitos que admitam
autocomposição, é lícito às partes plenamente capazes estipular
mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da causa
e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo.

Parágrafo único. De ofício ou a requerimento, o juiz controlará a


validade das convenções previstas neste artigo, recusando-lhes
aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em
contrato de adesão ou em que alguma parte se encontre em
manifesta situação de vulnerabilidade.”

Assim, não se trata de acordo sobre o objeto litigioso do processo (o mérito),


mas tão somente sobre o procedimento. Ex: acordo de impe-nhorabilidade
processual; acordo para superação de preclusão; acordo para admissibilidade
somente de execução definitiva, acordo para reduzir número de testemunhas,
supressão de atos...

O negócio jurídico processual, então, deve se sujeitar ao regime de validade


dos negócios jurídicos em geral (CC 104). Requisitos: capacidade processual
negocial; licitude do objeto (ilicitude do afastamento de regra processual de
ordem pública, cogentes, para proteção de terceiros – ex: intervenção do MP
ou para reserva legal – ex: taxatividade dos recursos – ex: nCPC 994) e
possui forma livre;

DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

Como visto antes, mas agora em tópico específico, os defeitos do negócio


jurídico podem ser divididos em:

 Vícios de consentimento:

o Erro;
o Dolo;
o Coação;
o Lesão;
o Estado de Perigo;

 Vícios Sociais:

o Fraude contra credores;


o Simulação (nulidade absoluta)

Obs.: todos esses vícios geram nulidade relativa, com exceção da


simulação, que gera nulidade absoluta.

Vejamos todos esses defeitos do negócio, um por um.

Erro (ou ignorância)

É uma equivocada percepção da realidade. O erro se comete sozinho. Ex:


vou no supermercado e, sem perguntar a ninguém, pego uma laranja
pensando ser uma tangerina. Assim eu tenho equívoco sobre fato relevante
do negócio.

Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de


vontade emanarem de erro SUBSTANCIAL (principal ou causa
determinante do negócio) que poderia ser percebido por pessoa de
diligência normal, em face das circunstâncias do negócio.

Ainda, além do erro substancial, é possível se verificar um erro acessório,


acidental ou secundário. Diz o art. 142 sobre esse:

Art. 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a


declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto
e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa
cogitada.

Esse erro acessório não possui importância para o direito. Ex: dou um
presente a pessoa por ela ser cega. Depois descubro que ela não é cega.
Assim, este negócio (doação) é anulável, pois, por não ser a pessoa cega, o
erro cometido por mim é substancial (pois só dei o presente a ela por que
acreditava que ela era cega).

Modalidades de erros principais:

Assim, as hipóteses de erro são:

 Error in negotio (sobre o negócio);

A pessoa se equivoca sobra a modalidade do negócio jurídico pactuado. Ex:


a pessoa imagina que está fazendo uma compra e venda, mas está fazendo
uma permuta.

 Error in corpore (sobre o objeto)

Diz respeito tanto a qualidade (compra lactopurga achando que é leite


magnésio) quanto a quantidade do objeto (compra uma caixa de
comprimidos achando que tem 6, mas ele só vem com 4).

 Error in Persona (sobre a pessoa)

É aquele relacionado a qualidades essenciais da pessoa. Ex: imagina que está


contratando uma pessoa, mas contrata outra totalmente diferente.

 Error in Iures (sobre o direito)

Ele não é recusa a aplicação da lei. Ele é o equívoco sobre o alcance da lei.
Ex: pessoa sabe que em determinada cidade há certa área dela onde não
pode haver locação. Contudo, compra um terreno nela sem saber que este
está dentro dessa área. Assim, a pessoa não comprou o terreno de má-fé,
sabendo que nele não poderia edificar, nem muito menos tem intenção de
transgredir tal lei que proíbe as edificações. A pessoa comete apenas um erro
de direito.

Art. 139. O erro é substancial quando:


I – interessa:

 À natureza do negócio;
 Ao objeto principal da declaração; ou
 A alguma das qualidades a ele essenciais;

II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem


se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo
relevante;

III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for:

 O motivo único ou principal do negócio jurídico.

Vejamos, ainda, quatro observações importantes sobre o tema erro:

 Falso motivo

Art. 140. O falso motivo só vicia a declaração de vontade quando expresso


como razão determinante.

 Transmissão errônea da vontade

Art. 141. A transmissão errônea da vontade por meios interpostos é anulável


nos mesmos casos em que o é a declaração direta.

Ex: outorgo procuração a um amigo para que ele aceite determinado negócio
e ele o recusa. Houve aí uma transmissão errônea da vontade, pois disse ao
meu amigo que aceitasse e ele recusou o negócio.

 Erro de cálculo

Art. 143. O erro de cálculo (erro meramente formal) apenas autoriza a


retificação da declaração de vontade.

E por último...

Art. 144. O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a


pessoa, a quem se dirige a manifestação de vontade, se oferecer para
executá-la na conformidade da vontade real do manifestante.

Ex: vou numa loja e compro lactopurga pensando que é leite de magnésio.
Me apercebendo do erro, volto na loja e digo que errei na escolha do remédio,
e o dono da loja diz: Ok, então você queria levar o leite de magnésio? Beleza,
me devolva o lactopurga e pode leve o lei.

Dolo

É o induzimento malicioso para que alguém pratique um ato contra a sua


própria vontade. O dolo, ao contrário do erro que é pessoal (você comete
sozinho), possui interferência de um terceiro na manifestação.

Art. 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a
sua causa.
Dessa forma, o dolo, assim como o erro, só gerará a anulação do negócio
jurídico quando sua causa principal ou o objeto determinante.

Contudo, o dolo acidental (ao contrário do erro incidental) tem, sim,


importância par ao direito.

Art. 146. O dolo acidental (dolo acessório) só obriga à satisfação das


perdas e danos, e é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria
realizado, embora por outro modo.

Assim, para não esquecer:

- Erro acessório: sem consequências para o direito.

- Dolo acessório: gera perdas e danos.

Modalidades de Dolo

 Dolo Negativo/Por omissão (Silêncio Intencional)

Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma


das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja
ignorado, constitui OMISSÃO DOLOSA, provando-se que sem ela o
negócio não se teria celebrado.

 Dolo de terceiro (decorrente de sua conduta)

Art. 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por DOLO DE
TERCEIRO, se a parte a quem aproveite dele (do dolo do terceiro)
tivesse ou devesse ter conhecimento;

Em caso contrário (caso a parte a quem aproveito o dolo de terceiro


não o aproveite), ainda que subsista o negócio jurídico, o terceiro
responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.

Ex: José possui um carro com muitos problemas, mas mesmo assim tenta
vende-lo a João, dizendo que ele está em ótimo estado. João, indeciso e sem
saber se o carro está bom, diz a José que pedirá ajuda a Bruno para que ele
averigue o carro. José, sabendo disso, em antecipação a João, vai até Bruno
e pede que ateste que o carro está em perfeito estado, mesmo que perceba
que ele não está.

Assim, para o que o negócio seja anulado, preciso averiguar duas coisas:

- Se José (a parte a quem aproveita) sabia ou deveria saber do dolo de Bruno


(neste caso ele sabe); dessa forma o negócio será anulado.

- Se José (a parte a quem aproveita) não sabia do dolo de Bruno, o


prejudicado (João) deverá entrar com uma ação de perdas e danos contra
Bruno, pois sendo este o terceiro, responderá por todas as perdas e danos
da parte a quem ludibriou.

 Dolo do representante
E essa representação poderá ser de duas formas: legal (não há escolha, a
lei que impõe) ou convencional (a parte escolhe o representante).

Art. 149. O dolo do representante LEGAL de uma das partes só obriga o


representado a responder civilmente até a importância do proveito que
teve; se, porém, o dolo for do representante CONVENCIONAL, o
representado responderá solidariamente com ele por perdas e danos.

Assim, para não confundir:

o Representado do representante LEGAL: responde até o limite


do proveito;
o Representado do representante CONVENCIONAL: responde
solidariamente por perdas e danos.

 Dolo recíproco/bilateral

Art. 150. Se ambas as partes procederem com dolo, NENHUMA PODE:

 Alegá-lo para anular o negócio; ou


 Reclamar indenização.

O dolo recíproco ou bilateral não traz nenhuma consequência ao direito: não


haverá anulação do ato tampouco perdas e danos, pois ninguém pode se
beneficiar da própria torpeza.

Coação

É a pressão ou ameaça, física ou psicológica, para que alguém pratique um


ato contra a sua própria vontade. A coação se subdivide em duas espécies:

 Absoluta/física/vis absoluta;

Esta modalidade de coação não está regulada no CC. Os autores divergem


sobre as consequências dessa coação, se gera inexistência do ato ou nulidade
absoluta.

 Relativa/moral/psíquica;

Esta que é tratada no CC. Este diz que essa coação poderá viciar o negócio,
desde que atendidos alguns requisitos:

o A coação deve ser a causa do ato;


o Gravidade: a coação deve imputar ao coagido um verdadeiro
temor de dano sério.

Art. 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que
incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à
sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.

o Injusta (ilícita, contrária ao direito, abusiva);

Obs.: Ameaça do exercício normal do direito não é coação, idem temor


reverencial.
Art. 153. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de
um direito, nem o simples temor reverencial.

o Iminência ou Atualidade: A coação deve ser atual ou iminente


(é para afastar a coação impossível); A ameaça remota não
configura coação (ex: ameaça para daqui a 10 anos)

o A coação deve constituir ameaça de prejuízo:

 À pessoa e seus bens;


 Á pessoas da sua família e seus bens;
 Á terceiros e seus;

Obs.: a discussão se dá em função da coação em razão de terceiro, e o CC


disciplina no art. 151, § único:

Parágrafo único. Se (a coação) disser respeito a pessoa não pertencente à


família do paciente, o juiz, com base nas circunstâncias, decidirá se houve
coação.

Ainda, deve-se observar o art. 152:

Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a


condição, a saúde, o temperamento do paciente e todas as demais
circunstâncias que possam influir na gravidade dela.

 Dolo da coação de terceiro

Sobre o dolo de terceiro, vejamos o que diz o CC:

Art. 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela
tivesse ou devesse ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta
responderá solidariamente com aquele por PERDAS E DANOS.

Art. 155, CC – Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de


terceiro, SEM QUE a parte a que aproveite dela tivesse ou devesse ter
conhecimento; mas o autor da coação (o terceiro) responderá por todas
as perdas e danos que houver causado ao coacto.

Assim, para não confundir:

 Coação exercida por terceiro: a parte que aproveita sabe ou deveria


saber  Respondem os dois solidariamente por perdas e danos;

 Coação exercida por terceiro: a parte que aproveita não sabia ou não
deveria saber  Responde só o terceiro;

Lesão

A lesão foi inserida no CC para promover o que a doutrina chamou de


Princípio da Justiça Contratual ou equivalência material das
prestações.
Para que se configure a lesão, dois requisitos são necessários (cumulativos):

 Requisito Objetivo; - é a manifesta desproporção entre as parcelas


pactuadas, verificada no momento da celebração do negócio.

 Requisito Subjetivo; - aqui é a premente necessidade ou inexperiência


de uma das partes.

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade,
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente
desproporcional ao valor da prestação oposta.

§ 1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes


ao tempo em que foi celebrado o negócio jurídico.

Segundo o enunciado 290 do CJF, esses requisitos não se presumem, pelo


contrário: haverão de ser atestados no caso concreto.

Enunciado 290, CJF: A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico


quando verificada, na formação destes, a desproporção manifesta entre as
prestações assumidas pelas partes, não se presumindo a premente
necessidade ou a inexperiência do lesado.

E ainda, segundo o enunciado 150, a lesão não exige dolo de


aproveitamento.

Continuando, uma vez verificada a lesão, dois caminhos são dados:

 Revisão do negócio (art. 157, § 2º), sendo este, sempre, o caminho


preferencial para a solução da lesão, segundo os enunciados 149 e 291
(em homenagem ao princípio da conservação dos contratos):

§ 2º Não se decretará a anulação do negócio, se:

-For oferecido suplemento suficiente;

-A parte favorecida concordar com a redução do proveito.

 Anulação do negócio (art. 171):

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:

I - por incapacidade relativa do agente;

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou


fraude contra credores.

E para fechar:

E. 291 – Art. 157. Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do Código
Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio
jurídico, deduzindo, desde logo, pretensão com vista à revisão judicial do
negócio por meio da redução do proveito do lesionador ou do
complemento do preço.

E. 149 – Art. 157: Em atenção ao princípio da conservação dos


contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível,
à revisão judicial do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo
dever do magistrado incitar os contratantes a seguir as regras do art.
157, § 2º, do Código Civil de 2002.

Estado de perigo

O conceito de estado de perigo está no art. 156 do CC:

Art. 156. Configura-se o estado de perigo quando alguém, premido da


necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família (ou a terceiro),
de grave dano CONHECIDO PELA OUTRA PARTE, assume obrigação
excessivamente onerosa.

Parágrafo único. Tratando-se de pessoa não pertencente à família do


declarante, o juiz decidirá segundo as circunstâncias.

Uma vez verificada o estado de perigo, o caminho a seguir será o da


anulação do ato, de acordo com o art. 171 do CC.

Obs.: diferentemente do caso de Lesão que, antes da anulação do ato,


procedia-se uma tentativa revisão, no caso do estado de perigo, segundo o
cc (letra de lei), não é possível essa revisão (pois do CC não deixa
margem para essa interpretação, cabendo apenas a ANULAÇÃO do ato.

Obs.: Contudo, segundo a doutrina, antes da anulação do ato poderá


haver, sim, uma tentativa de revisão do ato. (Essa informação deve ser
verificada nas questões, para saber se ela tem sido cobrada).

Atenção: NÃO CONFUNDIR a lesão com o estado de perigo. O ponto


nevrálgico que diferencia os dois institutos é que no estado de perigo a
umas das partes do negócio sabe do perigo que aflige a outra parte do
negócio, e, sabendo disso, tira proveito da situação. Na lesão, ao contrário,
o dano é causado a uma das partes do negócio por pura inexperiência desta
ou premente necessidade, mas a outra parte do negócio não sabe disso,
ela apenas é “beneficiada” por isso.

Fraude contra credores

Antes de entrar no tópico propriamente dito, é importante saber que, no


Brasil, a responsabilidade civil é patrimonial. Ou seja, é o patrimônio do
devedor que traz a garantia do crédito. Segundo Alexandre Câmara, é no
patrimônio do devedor que reside a garantia do crédito do credor.

Por conta disso é que o CC se preocupa muito quando o devedor começa a


se desfazer do patrimônio. Pois quando o devedor começa a se desfazer do
patrimônio, em última análise ele está se desfazer da própria garantia. Aí
se insere a fraude contra credores.

E para que haja a fraude contra credores, três são os requisitos


(cumulativos):

 Anterioridade do crédito;

 Eventus Damni (dano ao credor) – esse dano somente se


concretizará quando o devedor começar fazer alienações aptas a
ocasionar a sua insolvência.

 Consilium Fraudis (má-fé) – é a intenção, com as alienações, de


lesionar o crédito do outro.

Sobre o Consilium Fraudis, o CC trabalha com algumas presunções de seu


ocasionamento (se presume a má-fé, a intensão de lesionar).

 Negócios Gratuitos:

o Doação; - Ex: eu devo muito dinheiro a alguém, mas ao invés


de vender meus bens para saldar a minha dívida, começo, ao
invés disso, a doá-los a terceiros.

o Remissão (perdão) – Ex: eu devo muito dinheiro a alguém, mas


ao invés de cobrar os meus devedores para conseguir dinheiro
para pagar a dívida, eu começo a perdoá-los (remi-los) de suas
dívidas.

Art. 158. Os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de


dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles reduzido à
insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores
quirografários, como lesivos dos seus direitos.

§ 1º Igual direito assiste aos credores cuja garantia se tornar insuficiente.

§ 2º Só os credores que já o eram ao tempo daqueles atos podem pleitear a


anulação deles.

Obs.: Os credores quirografários; são aqueles que não possuem


garantia! Isso mesmo, nada possuem para assegurar que receberão algo, a
não ser a fé, esperança, confiança e, também, sorte. São chamados
“quirografários” pois tudo o que existe (teoricamente) para provar
juridicamente a dívida é algo assinado (‘quiro’= mão ; ‘graphos’ =
grafia/escrita).

 Outros casos:

Art. 159. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor


insolvente, quando:

 A insolvência for notória; ou


 Houver motivo para ser conhecida do outro contratante.

Art. 162. O credor quirografário, que receber do devedor insolvente o


pagamento da dívida ainda não vencida, ficará obrigado a repor, em proveito
do acervo sobre que se tenha de efetuar o concurso de credores, aquilo que
recebeu.

Art. 163. Presumem-se fraudatórias dos direitos dos outros credores as


garantias de dívidas que o devedor insolvente tiver dado a algum credor.

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Presunção de Boa-fé

Contudo, o CC nos traz, também, uma presunção de boa-fé, no art. 164:

Art. 164. Presumem-se, porém, de boa-fé e valem os negócios


ordinários indispensáveis à manutenção:

 De estabelecimento mercantil;
 De estabelecimento rural;
 De estabelecimento industrial;

... ou à subsistência do devedor e de sua família.

Assim, mesmo que esteja devendo a alguém, e no caso de eu ter “um


negócio”, não posso deixar de comprar mantimentos necessários a
conservação de seu estoque ou sua estrutura, pois daí se tirará o dinheiro
necessário para o pagamento da dívida.

Também não posso deixar a manutenção da minha família.

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Continuando, estando presente a Fraude contra credores, é necessário o


ajuizamento de uma Ação Pauliana/Revocatória, e está ação se submete
ao prazo decadencial de 4 anos e o objetivará a anulação do negócio.
Contudo, é necessário atentar para o fato que não necessariamente o
crédito conseguido passara as mãos de quem ajuizou a ação pauliana. Pois,
anulado o negócio, o crédito passará para a fila de credores. Assim, o
crédito da ação pauliana nem sempre se reverterá ao autor da ação, mas a
massa de credores, pois a lei trabalhará com uma ordem de créditos e esta
deve ser seguida.

Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é anulável o


negócio jurídico:

II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou


fraude contra credores.

Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a


anulação do negócio jurídico, contado:

II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão,


do dia em que se realizou o negócio jurídico;
Fraude contra credores X Fraude à execução

Obs.: a fraude à execução pode ser reconhecida dentro do processo ou até


mesmo de ofício pelo juiz.

Simulação

Segundo Clóvis Beviláqua, é uma declaração enganosa de vontade. Ela pode


ser dividida, segunda a doutrina, em:

 Absoluta (simulação):
 Relativa (dissimulação):

Na simulação absoluta, há uma declaração enganosa de vontade que não


terá nenhum efeito “prático”, sendo o seu único intuito o de burlar de a lei ou
lesar a terceiro. Esta simulação absoluta terá como consequência a nulidade
absoluta, segundo art. 167:

Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se


dissimulou, se válido for na substância e na forma.

Ex de simulação absoluta: João é casado com Maria. João, com medo de


se separar de Maria e esta ficar com 50% do que lhe pertence, transfere a
terceiros todos os seus bens: casas, carros, terrenos. Contudo, a
transferência fica apenas “no papel”, pois João continua usufruindo de todos
os seus bens normalmente, só não estando mais no seu nome. Assim, o
negócio não tem “efeito prático”, pois os bens não foram efetivamente
transferidos para que os terceiros pudessem usufruir deles, mas tão somente
João, como já fazia antes (ausência de efeito prático).

Já na Dissimulação (simulação relativa), pratica-se um ato simulado de


faixada (que é nulo, pois é simulado e de faixada), cujo objetivo é acobertar
um ato dissimulado que proibido por lei.

Ex de dissimulação: João é casado com Maria, mas esta tem um amante,


o Ricardo. Maria, desejando doar bens ao seu amante, Ricardo, (o que é
proibido pelo art. 550 do CC -A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice
pode ser anulada) faz uma compra e venda simulada (Maria finge que vende
e Ricardo finge que compra), quando na verdade, de forma dissimulada,
escondida em meio ao suposto ato de compra e venda, há uma doação para
o amante, o que já proibido por lei.

Contudo, é necessário que se atente que o negócio dissimulado nem


sempre será nulo (neste caso acima, foi). Assim, fica a regra: o ato
simulado sempre será nulo, mas o dissimulado deverá ser observado no
caso concreto. Por isso que o art. 167 diz, na sua segunda parte, que
subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma.

Assim, como pondera Maria Helena Diniz, “não há que confundir a simulação
com a dissimulação. A simulação absoluta provoca falsa crença num estado
não real, quer enganar sobre a existência de uma situação não verdadeira,
tornando nulo o negócio (CC, art. 167, 1ª parte). Procura, portanto,
aparentar o que não existe. A dissimulação (simulação relativa) oculta ao
conhecimento de outrem uma situação existente, pretendendo,
portanto, incutir no espírito de alguém a inexistência de uma situação
real e no negócio jurídico subsistirá o que se dissimulou se válido for na
substância e na forma (CC, art. 167, 2ª parte)”.

Presunção de simulação

O CC elenca casos nos quais será presumida a simulação, quais sejam:

Art. 167, CC: ...

§ 1º Haverá (se presume) simulação nos negócios jurídicos quando:

I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas


daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem;

II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;

III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.

Reserva Mental (reticência)


Se configura quando uma das partes deixa escondida (na sua mente) a sua
intenção de não cumprir com o pactuado. E qual a consequência da reserva
mental para o direito? Nenhuma! Assim, mesmo que deixe escondida a
intenção de não cumprir o contrato, eu mesmo assim terei que cumprir com
ele.

Contudo, se a reserva mental for externada, aquele que tiver conhecimento


da reserva mental não poderá exigir o cumprimento do negócio (pois se
trataria, assim, de uma simulação – nulidade - do negócio, pois eu já sei
que ele não será cumprido pela outra parte, mas mesmo assim simulo o
negócio para me beneficiar dele depois).

Ex: João perde seu cachorro e sai na vizinha apregoando cartazes


prometendo 300 reais de recompensa pela sua encontrada. Contudo,
voltando pra casa, Maria encontra com João e lhe pergunta: você vai mesmo
pagar 300 reais a quem encontrar o seu cachorro? João reponde: não, não
vou. Quem trouxer o cachorro eu o boto pra dentro e fim de papo.

Se qualquer das pessoas da vizinhança encontrar o cachorro e devolvê-lo,


terão direito a recompensa, pois não sabiam da reserva mental de João.
Contudo, se for Maria quem achar, não terá direito a recompensa, pois já
sabia da reserva mental de João de não pagar a recompensa prometida.

Art. 110, CC – A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor


haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, salvo se dela o
destinatário tinha conhecimento.

PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA

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