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Você está em: Início » Schopenhauer e a psicanálise: do egoísmo e
crueldade dos homens

Schopenhauer e a psicanálise:
do egoísmo e crueldade dos
homens
Podemos fazer uma simplista
comparação entre Schopenhauer e
Nietzsche: o segundo tem amor
fati* à vida, isto é, ama, a rma e
diz “sim!” à vida com todo o seu
horror e sofrimento presentes, o
que representa uma a rmação da
alegria do viver; já o primeiro não tem amor fati à vida, ela é um horror e
um mar de sofrimento e o mundo é dor, dor e mais dor, salvo alguns
breves, muito breves e passageiros, relances de prazer.

Cioran é outro personagem para o qual o mundo também é dor, a


existência é um mau gosto da matéria. Não podemos dizer que
Schopenhauer é um Nietzsche sem amor fati, são formas de pensar bem
distintas. Já uma análise simplista entre Nietzsche e Cioran, podemos
dizer que o lósofo romeno é um Nietzsche sem amor fati. Ambos são
pensadores da aparência, não há nenhum princípio na natureza; já
Schopenhauer é metafísico, o princípio está na vontade.

Mas algo em comum esses três pensadores possuem, e mesmo o leitor


mais desatento é capaz de perceber. A linguagem utilizada por eles é
“pesada”, usam de palavras e metáforas que são capazes de tirar nosso
mundo dos trilhos e colocar o planeta em chamas. Provocadores,
sarcásticos, irônicos e artistas com as palavras; ao mesmo tempo em que
são capazes de oferecer profundos saberes sobre o homem, a natureza e
as relações entre ambos.
Seus pensamentos e idéias exigem do leitor uma sensibilidade muito
além do que aquela insensatez das quais os “educadores” não cansam de
dizer, e que tão útil é à civilização: aprendizagem – é aí que pensam estar
a chave do “progresso” para a barbárie chamada civilização. A leitura de
ambos exige ser feita pelo corpo como um todo, siologia e espírito são
necessários. Talvez decorra daí um dos fundamentos para parte da
explicação de que, em tempos tão desvairados das quais poderíamos nos
enriquecer com esses pensadores, poucos são aqueles que têm o prazer
de descobrí-los. Com as exceções dos cursos de Filoso a, nas outras
ciências humanas me parece ser coisa tão rara ocorrer uma aula sobre
os conteúdos desses lósofos. – Na minha experiência restrita, em
determinado meio acadêmico, é difícil encontrar alguém para dialogar
com tais pensamentos “explosivos”.

Mas não é por falta de in uências que essa situação ocorre. Na


Psicologia, por exemplo, Schopenhuaer é a base sem a qual a psicanálise
talvez não existisse. Não estou contestando pensamentos em suas
originalidades, creio eu ser isso impossível, cada um é in uenciado por
várias fontes, um homem não pensa por si só. Não há nenhuma idéia
original no sentido radical do termo – daí, reconheço os méritos de Marx
ao dizer que nada, absolutamente nada que o homem produz não
pertença também a humanidade. Patentes? Direitos autorais? Tudo isso
pertence sim a seu respectivo singular, mas também a humanidade.
Todavia, não é essa a intenção desse texto.

Retomando a relação entre Schopenhauer e a psicanálise, não quero


dizer que o lósofo alemão é original, nem desmerecer a psicanálise.
Muito pelo contrário, méritos aos “sistemas” teórico-conceituais que
bebem da sábia fonte losó ca.

Quero, contudo, deixar registrado o quanto Freud foi in uenciado por


Schopenhauer. Isso, talvez por uma insatisfação própria, na qual, durante
o meu curso de Psicologia, não vi nenhum psicanalista sequer citar o
nome de Schopenhauer quando falaram de inconsciente, pulsões, ego,
superego, desejo, etc., entre outros elementos que fazem parte do
desenvolvimento da base psicanalítica.

Entre os vários aforismos de Schopenhauer na qual podemos perceber


“Freud”, está algo que as pessoas não costumam gostar muito de ouvir:
homens e mulheres não são criaturas dóceis e românticas. Para
Schopenhauer toda ação humana não se faz sem egoísmo, maldade (que
vai até à crueldade) e piedade.

Poderá o leitor se perguntar, se o mundo é um horror e as pessoas são


criaturas terríveis para Schopenhauer, sua loso a não é um cântico do
niilismo? – Muito pelo contrário.
O homem, para Schopenhauer, pode encontrar meios de satisfação, por
mais que fugazes, através de algumas formas. A música e a arte são duas
delas. Já no ascetismo, o homem “castra”, por assim dizer, a vontade, e
consegue encontrar a plenitude vivendo em um mundo de ilusão. A
piedade, que para o lósofo também é produto inalienável da natureza
do homem, está para a cólera tal como a chuva está para o fogo.

Schopenhauer constata que já basta o sofrimento e a dor presentes


naturalmente na vida, portanto, para ele, os homens deveriam investir
em formas cada vez mais agradáveis e e cazes de se relacionar uns com
os outros; isso deveria ser possível utilizando-se do princípio da razão. Os
homens deveriam agir de forma a não ser tão ressentidos, o que somos
demasiadamente, bem como nossa cultura está repleta do cultivo ao
ressentimento. Diz-nos: “Aconselho àquele que não deseja preparar-se
remorsos, que quando pense em vingar cruelmente uma injúria, imagine
sob as mais vivas cores a sua vingança já realizada, represente-se a sua
vítima presa de sofrimentos físicos e morais, em luta com a miséria e a
necessidade e diga a si próprio: eis a minha obra. Se há alguma coisa no
mundo que possa extinguir a cólera, é com certeza este pensamento.”

Diante desse breve exposto, encerro com o aforismo e as citações


abaixo, e deixo por conta do leitor as suas re exões.

“ O egoísmo inspira um tal horror que inventamos a delicadeza


para o ocultar como uma parte vergonhosa; mas ele rasga
todos os véus, e trai-se em todo o encontro em que nos
esforçamos instintivamente por utilizar cada novo
conhecimento a m de servir alguns dos nossos inúmeros
projetos. O nosso primeiro pensamento é sempre saber se tal
homem nos pode ser útil para alguma coisa. Se não nos
poder servir, não tem já valor algum… Suspeitamos a tal
ponto este sentimento nos nossos semelhantes, que se nos
suceder pedir-lhe um conselho ou um esclarecimento,
perdemos toda a con ança no que nos disserem, se
supusermos por um momento que tem aí um interesse
qualquer; porque pensamos imediatamente que o nosso
conselheiro quer servir-se de nós como um instrumento; e
atribuímos o seu parecer não à prudência da sua razão, mas
às suas intenções secretas, por muito grande que seja a
primeira, por muito fracas e distantes que sejam as segundas.
/ O egoísmo, por natureza, não tem limites; o homem só tem
um desejo absoluto, conservar a existência, eximir-se a
qualquer dor, a qualquer privação; o que quer é a maior
soma possível de bem-estar, é a posse de todos os gozos que é
capaz de imaginar, e que se esforça por variar e desenvolver
incessantemente. Qualquer obstáculo que surja entre o seu
egoísmo e as suas cobiças excita-lhe a raiva, a cólera, o ódio:
é um inimigo que é preciso esmagar. Desejaria tanto quanto
possível gozar tudo, possuir tudo; não o podendo, quereria
pelo menos dominar tudo: “Tudo para mim, nada para os
outros”, é a sua divisa. O egoísmo é colossal, o universo não
pode contê-lo. Porque se dessem a cada um a escolha entre o
aniquilamento do universo e a sua própria perda, é ocioso
dizer qual a resposta. (…)” – Schopenhauer, Dores do mundo.
Ed.: Edições e publicações Brasil.


 

“ Muita gente seria capaz de matar um homem para se


apoderar da gordura do morto e untar com elas as botas.
(idem)


 

“ (…) elemento que as pessoas estão tão dispostas a repudiar, é


que os homens não são criaturas gentis que desejam ser
amadas e que, no máximo, podem defender-se quando
atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes
instintivos deve-se levar em conta uma poderosa quota de
agressividade. Em resultado disso, o seu próximo é, para eles,
não apenas um ajudante potencial ou um objeto sexual, mas
também alguém que os tenta a satisfazer sobre ele a sua
agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem
compensação, utilizá-lo sexualmente sem o seu
consentimento, apoderar-se de suas posses, humilhá-lo,
causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matá-lo. (…) – Freud, S.; O
mal-estar na civilização.


Quem quiser provocar um pouquinho o pensamento de Nietzsche pode
usar muito de Schopenhauer para contradizer a possibilidade do amor
fati. Embora, o amor fati, consiste em justamente de aceitar a existência
tal como ela é, trágica e absurda.

*Imagem: Friedrich Nietzsche und Arthur Schopenhauer. Öl auf Leinwand,


40 x 60 cm, Kreta 2000.

*Amor fati tem suas raízes no pensamento dos lósofos estoicistas,


representa para Nietzsche um “Não querer nada de diferente do que é,
nem no futuro, nem no passado, nem por toda a eternidade. Não só
suportar o que é necessário, mas amá-lo.” Representa antes de tudo ser
um forte para suportar essa condição.

 1 comentário |  Filosofia |  5 de março de 2009


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egoismo-e-crueldade-dos-homens/] |  adv
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