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Como pai e como educador, estou em boa posição para perceber muito bem, por várias
razões, a importância da família no desenho da personalidade de cada um de nós; tive dois
pais e dois avós maternos inexcedíveis a quem devo a minha inteligência, a minha capacidade
emocional, a minha espiritualidade, o sentido da honradez e o valor da coragem. Como criança
fui criado sem mácula, livre, mas aprendendo a respeitar os valores; nunca vi os meus pais em
conflito, nem os meus avós, e a menos de uns pequenos açoites maternais relacionados com a
minha irrequietude e com aventuras que havia que controlar, nunca conheci a violência quer
física quer psicológica. É à vivência desta infância de amor e de equilíbrio que devo o homem
que sou.
Para além das famílias naturais, sempre houve crianças cuja educação era assumida por
instituições a que hoje chamamos de solidariedade social, como era o caso dos conventos e
misericórdias, em cuja roda eram lançados filhos indesejados, muitos deles entregues a
famílias que os pudessem criar a troco de uma tença; como ouvia dizer em menino, tudo se
criava.
Apesar de muitas pressões, até internacionais, a lei não passou, e bem, na Assembleia da
República; neste caso também me parece que nem sempre a criança possa ficar a ganhar e,
assim, o legislador, embora de forma pouco clara, não aceitou que o parceiro de uma relação
homossexual pudesse coadotar uma criança filha ou adotada pelo outro. Compreendo os
argumentos que suportavam tal requerimento, mas é facto que, garantidamente, nem sempre
os interesses da criança podem ser acautelados com este regimento. Na adoção está em causa
um mal menor, mas na coadoção pode estar em causa um mal maior; na coadoção a passagem
dos direitos de parentalidade ao outo elemento do casal, nos mesmos termos em que é feita a
adoção, não assegura à criança direitos fundamentais, como, por exemplo, o direito à
identidade.
Os interesses dos indivíduos mudam ao longo dos tempos e do mesmo modo as suas relações
afetivas; a criança, atingida a fase adulta, tomando consciência de que tem outra família, é
impelida a procurá-la, pois é aí que estão as suas raízes e a sua identidade.
Dar aos casais homossexuais os mesmos direitos de adoção que aos casais heterossexuais é
mais um resultado de uma doença infantil de esquerda que ignora a importância das raízes
familiares e do próprio instituto de família, na formação da personalidade e identidade do
indivíduo adulto, a fazer recordar o tempo e condições em que a família foi completamente
desvalorizada.