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Artículo Científico Original

TRÁFICO DE PESSOAS
E TRABALHO FORÇADO: UMA SINERGIA NEGATIVA
Waldimeiry Corrêa da Silva
Silva

TRÁFICO DE PESSOAS E HUMAN TRAFFICKING


TRABALHO FORÇADO: AND FORCED LABOR: A
UMA SINERGIA NEGATIVA NEGATIVE SYNERGY

Waldimeiry Corrêa da Silva

RESUMO ABSTRACT
O presente artigo visa discutir a siner- The purpose of this article is discussing
gia negativa existente entre o Tráfico de the negative synergy that co-exists within
pessoas para fins de exploração sexual e human trafficking and forced labor. Our
o trabalho forçado, representando uma starting point is a humanist conception
forma manifesta de forma contemporâ- of the necessity of safeguarding human
nea de escravidão. Partimos de uma con- rights in our society through the protec-
cepção humanista de salvaguarda dos tion of the basic conditions for a decent
direitos humanos na sociedade mediante work that will grant the individual eman-
as condições para o exercício do traba- cipation in society. Therefore, our founda-
lho digno, no qual acreditamos permitir a tion is grounded on an emancipatory and
emancipação do indivíduo em sociedade. critic perspective that humanizes the inter-
Diante do exposto, teremos como funda- national law of human rights in order to
mento uma perspectiva emancipatória e guarantee the active protection of human
crítica desde a humanização do direito dignity, considered under this grounds
internacional dos direitos humanos de the central axis of human rights. This hu-
modo a alcançar a proteção da dignida- man dignity represents the possibility of
de humana como eixo motor dos direitos human auto-determination and the legal
humanos. Dignidade esta que represen- authority of having a full life, with the
ta a possibilidade de autodeterminação right to physical and psychical integrity
do ser humano, e a potestade de ter uma allowing the auto-realization as a social
vida plena, com direito à integridade fí- and individual being in the framework of
sica e psíquica que venha permitir a auto a Welfare State.
realização social e individual da pessoa Key Words: Human trafficking; Forced
em um marco de um estado social de labor; Contemporary slavery; Sexual ex-
direito. ploitation; Human dignity.
Palavras chave: Tráfico de pessoas.
Trabalho forçado. Forma contemporâ-
nea de escravidão. Exploração sexual.
Dignidade humana.

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1. Introdução Para esse fim, examinaremos a situação
O Tráfico de pessoas não é um fenômeno de trabalho forçado no tráfico de mulhe-
res para fins de exploração sexual, ten-
novo, possui raízes históricas no processo
do a devida consideração de observar
de escravidão e, na atualidade, estabe-
a existência de seus elementos constitu-
lece conexões diretas com o crime trans-
tivos. De modo a observar a existência
nacional organizado, a violência contra a
de aludidas práticas e, com vistas a ter
mulher, trabalho forçado e a exploração
presente à importância da claridade con-
sexual. Antigamente se traficava com es- ceitual, temos consciência das complexas
cravos, processo que foi intensificado atra- diferenças de caráter histórico, fático,
vés do lucrativo comercio transatlântico de jurídico, social e econômico entre o tra-
escravos, mediante da Convenção sobre a balho forçado, o Tráfico de Pessoas e ou-
escravatura de 1926 tal prática recebe a tras práticas análogas à escravidão. No
condena e proibição por parte da comuni- contexto do Tráfico de pessoas coincidi-
dade internacional. Nesta primeira etapa mos com a ideia de Molina para quem a
de proibição do comercio de seres huma- exploração sexual é a vitimização sexual
nos, se determina a proibição do comércio de uma pessoa ligada a uma remunera-
ou mercantilização de escravos. A comuni- ção econômica ou outro tipo de benefício
dade internacional vem trabalhando para e regalias entre a vítima, o explorador e
erradicar esta prática mediante distintos os intermediários. O corpo da pessoa ex-
normativos internacionais. Transpassando plorada se utiliza como mercadoria para
a questão racial (tráfico negreiro e de proveito econômico do explorador e pra-
mulheres brancas) ou a questão de gêne- zer do usuário – denominado cliente ou
ro (tráfico de mulheres), generalizando a “prostituidor” –. (MOLINA, 2008, p. 27)
censura a todo tipo de comercio ou mer-
Usamos metodologicamente o enfoque
cantilização com o ser humano (Tráfico de
dos direitos humanos para determinar os
pessoas). Entendemos que o mencionada
conceitos estabelecidos pelos normativos
modalidade de tráfico fomenta e fortalece
internacionais para o tráfico de pessoas e
uma cultura de normalidade da escravidão
trabalho forçado. Neste sentido, recorre-
como resposta aceitável para sair adiante mos a uma análise descritiva e comparada
da pobreza (provocada pelas desigualda- para estudar os normativos internacionais
des sociais) e a falta de aceso aos recursos e outros instrumentos internacionais. Vale
básicos de milhões de mulheres e crianças, enfatizar que temos em consideração a
convertendo-lhe em uma “massa humana” perspectiva de gênero no presente arti-
vulnerável (não tendo seus direitos respei- go, contemplando as variáveis de gêne-
tados) ao domínio e a exploração. Neste ro e Tráfico de pessoas e os estereótipos
contexto podemos observar o poder do co- de gêneros (papéis atribuídos a homens e
mercio internacional do sexo que se funda- a mulheres por razoes socioculturais) que
menta na mercantilização do corpo humano são favorecedores da desigualdade, da
como um bem para ser explorado, compra- dominação patriarcal e favorece a pros-
do e vendido sem consenso do proprietário tituição e o tráfico de mulheres.
(CACHO, 2012, p.19).
O Tráfico de pessoas tem como finalida-
de distintas formas de exploração. Para 2. Algumas precisões conceituais sobre
o presente artigo teremos como escopo o Tráfico de Pessoas e Trabalho forçado
uma análise da sinergia negativa entre a Inicialmente, apresentamos os concei-
exploração sexual e o trabalho forçado. tos internacionalmente aceitados para
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Tráfico de pessoas e para trabalho for- utilizado qualquer um dos meios refe-
çado com o objetivo de deixar claro ridos na alínea a);
que estamos diante de duas instituições c) O recrutamento, o transporte, a
jurídicas distintas para o direito inter- transferência, o alojamento ou o aco-
nacional. Sem prejuízo, de que o Tráfico lhimento de uma criança para fins
de pessoas também pode apresentar os de exploração serão considerados
elementos de trabalho forçado. Para res- “Tráfico de pessoas” mesmo que não
saltar esta sinergia negativa entre esta envolvam nenhum dos meios referidos
forma de exploração do trabalho e vio- da alínea a) do presente Artigo;
lação dos direitos humanos destacaremos
os elementos constitutivos de cada um dos Conforme assevera a definição do
conceitos de modo a brindar uma devida Protocolo de Palermo o Tráfico de pes-
claridade conceitual. soas possui três elementos constitutivos: 1.
O primeiro deles, o conceito de Tráfico de A ação que ocorre mediante o movimen-
pessoas é definido nos termos do Protocolo to (sendo o consentimento irrelevante); 2.
adicional à Convenção das Nações Por meio de coação, engano, ou violên-
Unidas Contra o Crime Organizado cia; 3. Com o fim de exploração do tra-
Transnacional relativo à Prevenção, balho alheio (grifo nosso).
Repressão e Punição do Tráfico de pes- Já o trabalho forçado é definido interna-
soas, em especial Mulheres e Crianças de cionalmente mediante o Convênio Nº 29
2000 (Protocolo de Palermo), que em seu
sobre trabalho forçado ou obrigatório da
artigo 3 define:
Organização Internacional do Trabalho
(OIT), que define o trabalho forçado ou
a) A expressão “Tráfico de pessoas” obrigatório como aquele que “[...] de-
significa o recrutamento, o transpor- signa todo trabalho ou serviço exigido a
te, a transferência, o alojamento ou o um indivíduo sob a ameaça de uma pena
acolhimento de pessoas, recorrendo à qualquer e, para o qual, o dito indivíduo
ameaça ou uso da força ou a outras não tenha se oferecido voluntariamen-
formas de coação, ao rapto, à fraude, te.” (OIT, 1932, art. 2.1). Para a OIT “La
ao engano, ao abuso de autoridade amenaza de una pena incluye amenazas
ou à situação de vulnerabilidade ou de violencia física contra un trabajador
à entrega ou aceitação de pagamen- o sus familiares, confinamiento físico y
tos ou benefícios para obter o con- negación de derecho”(OIT, 2005, p. 5).
sentimento de uma pessoa que tenha Deste modo, podemos observar que pos-
autoridade sobre outra para fins de sui dois elementos constitutivos: 1. “traba-
exploração. A exploração incluirá, no lho ou serviço exigido a um indivíduo sob
mínimo, a exploração da prostituição
a ameaça de uma pena qualquer”; 2.
de outrem ou outras formas de explo-
“para o qual este indivíduo não se ofere-
ração sexual, o trabalho ou serviços
forçados, escravatura ou práticas simi- ceu voluntariamente” (grifo nosso). Para
lares à escravatura, a servidão ou a Jordan, o trabalho forçado geralmente
remoção de órgãos; ocorre mediante uma falsa promessa de
b) O consentimento dado pela vítima emprego, na qual ilude a suposta vítima
de Tráfico de pessoas tendo em vista com um trabalho em boas condições e
qualquer tipo de exploração descrito remunerações, que logo não são cumpri-
na alínea a) do presente Artigo será das. Além de, em muitos casos, nem serem
considerado irrelevante se tiver sido remunerados, também são submetidas a
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violência física e psicológica, e ainda so- econômicos que sustentam esta atividade.
frem restrições de liberdade e movimento Dentro da demanda, também incluímos
(JORDAN, 2011, p. 5), configurando com os proxenetas, dado que são os respon-
isso o trabalho forçado. sáveis por captar as vítimas sob engano,
Apresentados os conceitos e elementos ademais de coagirem às vitimas a man-
constitutivos do Tráfico de pessoas e do terem a atividade sexual, e obterem be-
trabalho forçado passamos agora para nefícios econômicos da exploração do
trabalho alheio. Por outro lado, temos a
um segundo momento, no qual apresenta-
vítima, que é a pessoa que tem vulnera-
remos como se configura o trabalho for-
dos seus direitos humanos.
çado no tráfico de mulheres com fins de
exploração sexual. Observamos que a lógica da exploração
no tráfico geralmente ocorre mediante o
trabalho forçado. Que de acordo com a
3. Sinergias negativas: O Trabalho Organização Internacional do Trabalho
forçado no Tráfico de mulheres com fins (OIT) este, “generalmente será desar-
de exploração sexual rollado mediante condiciones de traba-
O tráfico de mulheres para fins de explo- jo inferiores a las normas establecidas
ração consiste na utilização de mulheres por la ley” (OIT, 2001, pgf. 146), o que
no comércio sexual, que dentre outros as- acomete em aspectos que supõe o traba-
pectos, contempla, serviços sexuais, indús- lho forçado (idem, pgf. 141). Em geral,
tria do sexo, pornografia, turismo sexual, o trabalho forçado resultante no Tráfico
espetáculos sexuais ou atividades simila- de pessoas, costuma comprometer as pes-
res. Neste contexto, o traficante se be- soas que se encontram em situação admi-
neficia dos lucros da exploração sexual nistrativa irregular, ou as que trabalham
alheia. Conforme colocamos em evidência na economia submergida. Ao mesmo tem-
através da definição internacionalmen- po, a OIT adverte:
te aceitada, que deriva do Protocolo de
Palermo, o consentimento da vítima é ir- “La trata de personas resulta a veces
relevante, já que os meios usados (coação bastante compleja y requiere un exa-
e/ou engano, uso da força ou violência) men «no sólo de la manera en que un
com um determinado fim, caracterizam o migrante haya entrado en el país, sino
delito, e a pessoa sujeita ao mesmo, será también de sus condiciones de trabajo
a vítima. y de si el migrante ha consentido en la
Segundo dados do Informe Global sobre entrada clandestina y/o en esas con-
o Tráfico de pessoas da ONU 2009 a diciones de trabajo (…) Los tratantes
prostituição é a atividade final mais en- manipulan a la persona para sacar
fatizada dentro do tráfico para fins se- dinero del trabajo forzoso al que aca-
xuais comerciais. A prostituição é a ati- ban obligándola.” (ibídem, pgf. 145).
vidade a que se dedica quem mantém
relações sexuais com outras pessoas, em Ainda que os conceitos de Tráfico de pes-
troca de dinheiro. Acompanhando as leis soas e de trabalho forçado estejam inter-
do mercado, no contexto do Tráfico, faze- conectados, como evidenciamos são con-
mos referência a um comércio onde existe ceitos diferentes de acordo com o Direito
uma oferta e uma demanda. Em mencio- internacional, embora, na prática, suscite
nado comércio, o cliente é um ator chave, grande confusão. Apesar de ambos con-
já que é o sujeito que promove os fundos terem componentes de trabalho forçado,
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não estamos diante de instituições jurídi- servamos que essa contém duas caracte-
cas idênticas e sim, inter-relacionadas. rísticas principais: Primeiro – O trabalho
Por isso, se faz necessário ter presente o é exigido mediante a ameaça de uma
conceito de trabalho forçado, de modo a pena; Segundo – O trabalho é realiza-
possibilitar uma orientação para a coope- do de forma involuntária (OIT, 2005, pgf.
ração entre os países e tendo como obje- 14). Destarte o Tráfico de pessoas com fins
tivo o cumprimento das convenções N.29 de exploração sexual é, portanto uma ti-
e N.105 da OIT, bem como o respeito de pologia do trabalho forçado. Neste senti-
direitos e princípios que favoreçam a com- do, a OIT identifica seis elementos substan-
preensão do que se entende por explora- ciais que podem evidenciar circunstâncias
ção. Deste modo, a utilização do conceito de trabalho forçado relacionados com o
de trabalho forçado e o componente de Tráfico: 1. Ameaça de violência física ou
exploração, podem ajudar a análise de sexual – neste contexto pode também in-
distintos contextos de Tráfico de pessoas cluir a violência psicológica, a chantagem,
e concomitantemente uma aproximação tortura emocional, linguagem vexatório e
mais ampla das situações de abuso e vio- degradante-; 2. Restrição de movimentos
lência em que se encontram submetidos do trabalhador/a a uma zona limitada ou
os trabalhadores, especialmente aqueles reclusão no lugar de trabalho; 3. Condição
explorados sexualmente. De acordo com análoga à escravidão, servidão por dívi-
o “Grupo de trabalho contra o Tráfico de das – “Se da cuando una persona pasa a
pessoas” da ONU, ser la garantía o fianza de un préstamo
–”; 4. Retenção dos salários ou negativa
em pagar ao trabalhador; 5. Confiscação
“La noción de explotación laboral en de passaportes e documentos de identida-
la definición de la trata de personas de; 6. Ameaça de denúncia às autorida-
permite establecer un vínculo entre el des das trabalhadoras e dos trabalhado-
Protocolo contra la trata de personas res migrantes em situação administrativa
y el Convenio de la OIT, relativo al tra- irregular (OIT, 2006, pp. 20-21).
bajo forzoso u obligatorio y deja claro
que en la definición de trabajo forzoso O considerar a presença desses compo-
u obligatorio que contiene el Convenio nentes, as consequências da imigração,
se abarca la trata de personas con desde o trabalho forçado, supomos que a
fines de explotación.”(ONU: CTOC/ coação ocorre indiretamente, em virtude
COP/WG.4, 2010, pgf. 13) da imigração “clandestina” em um país, e
por isso as vítimas se mostram receadas
em denunciar o trabalho forçado já que
Quando uma pessoa está submetida a um
se encontram em situação administrativa
trabalho contra sua vontade, sob ameaça
irregular e são constantemente coagidas
de violência ou qualquer forma de coa-
pelo explorador que lhe recordando que
ção ou castigo, se encontra restringida
cometeram um ilícito contra o Estado.
sua liberdade, além de exercer sobre ela Ademais, a Declaração da OIT sobre
os atributos do direito de propriedade os princípios e direitos fundamentais no
ou alguns desses; fato que se contempla trabalho, agrupa o trabalho da OIT no
desde o Tráfico de pessoas e sua explo- enfrentamento ao Tráfico de pessoas e
ração mediante trabalho forçado, como para benefício dos direitos dos traba-
forma contemporânea de escravidão. lhadores, por meio de quatro princípios:
De acordo com a definição estabelecida Primeiro – Eliminação de todas as for-
pelo Convênio N. 29 (1930) pela OIT, ob- mas de trabalho forçado ou obrigatório;
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Segundo – Abolição efetiva do trabalho fico com fins de exploração sexual frente
infantil; Terceiro – Eliminação da discrimi- ao laboral. O comércio sexual geralmen-
nação em matéria de emprego e ocupa- te circunscreve espaço público para atrair
ção; Quarto – Liberdade de associação aos possíveis clientes, e por isso, é mais
e sindical e reconhecimento efetivo do di- visível; enquanto que exploração laboral
reito de negociação coletiva. geralmente ocorre em fábricas clandesti-
A grande maioria das vítimas de tráfico nas, no serviço doméstico ou em “enclaves
com fins de exploração sexual se encon- étnicos” de difícil visibilidade.
tram em situação de trabalho forçado, Diante dessa realidade de ausência de
seja por aceitar um trabalho no exte- proteção efetiva, a OIT corrobora que:
rior, sem conhecer as condições reais de
trabalho, ou por se comprometerem com
uma dívida inicial com o traficante que a “El escaso grado de cumplimiento de
levou ao lugar de destino onde se encon- la legislación puede atribuirse a la
tra explorada, ou ainda, porque exerce ausencia de mecanismos de protección
um trabalho sob “ameaça”. Diante deste de las víctimas, así como al desconoci-
contexto a OIT chama a atenção para o miento de lo que realmente son el tra-
fato de que: bajo forzoso y la trata entre las auto-
ridades encargadas del cumplimiento
de las leyes y del poder judicial. Las
“En algunos países es muy corriente que autoridades no siempre dan una in-
las migrantes soliciten un «visado para terpretación uniforme a su propia le-
espectáculos». Estos visados son des- gislación, sobre todo cuanto se trata
de hace varios años blanco de muchas de distinguir entre las leyes sobre la
críticas porque sirven de cobertura le- inmigración (en las que suele preverse
gal a la trata de mujeres con fines de la expulsión inmediata de los trabaja-
explotación sexual. […] Otro método dores inmigrados en situación irregu-
habitual de reclutamiento con fines de lar) y aquellas por las que se tutelan
explotación sexual es la publicación de los derechos humanos y laborales y,
anuncios en los que los traficantes fingen más concretamente, los derechos fun-
ser amigos o parientes, o bien agencias damentales de las víctimas de trata.”
matrimoniales.” (OIT, 2005, pgf. 244) (OIT,2005, pgf. 277)

De acordo com o informe de 2009, Assim sendo, para que seja alcançada a
apresentado pelo Escritório das Nações proteção a todas as vítimas de Tráfico de
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), pessoas, se considera fundamental o cum-
o tráfico com fins de exploração sexual primento efetivo do Direito internacional
é mais facilmente detectado por três aplicável sobre a matéria, ou seja: “O
motivos (UNODC, 2009, p.51): Primeiro direito a não ser submetido a trabalhos
– Devido a própria legislação, já que os forçados constitui um dos valores demo-
Estados, em sua grande maioria, tipifica- cráticos da sociedade que não permite
ram o tráfico com fins de exploração se- restrição de nenhum tipo”. Não obstante,
xual, não fazendo menção a sua relação se faz importante relacionar o Tráfico de
com fins de exploração laboral; Segundo pessoas ao trabalho forçado, a servidão
– A relação direta que restringe o tráfico por dívidas e/ou a escravidão já que a
somente aos fins de exploração sexual; ausência desta relação propicia um en-
Terceiro. Pela facilidade e detectar o trá- foque enganoso e restrito destas formas
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contemporâneas de escravidão que ge- Transnacional Relativo à Prevenção, Repressão e


ralmente se encontram em constante si- Punição do Tráfico de pessoas, em Especial Mulhe-
res e Crianças.
nergia negativa.
CAUCHO, Lydia. Esclavas del Poder. Un Viaje al
corazón de la trata sexual de mujeres y niñas en el
4. Considerações Finais mundo. Ed. Debate. Barcelona, 2010.
Como buscamos evidenciar estamos diante CCEM. Actes du colloque. Esclavage moderne et
de dois conceitos diferentes e com elemen- trafic d’êtres humains, quelles approches européen-
tos constitutivos próprios dentro do escopo nes? Paris : Comité Contre l’esclavage Moderne/
do direito internacional público, não obs- Centre de Conférences Internationales. 17 de no-
vembre 2000.
tante se faz visível a sinergia existente na
exploração do trabalho (forçado) na ação CORREA DA SILVA, Waldimeiry. Formas Contem-
de tráfico de pessoas. Diante de tais as- poraneas de Esclavitud : Trata de Mujeres. Sevilla,
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2011, 481p.
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exploração do trabalho no atual mercado DECAUX, E. Les Formes contemporaines de l’esclavage.
que tem suas bases na divisão social de Recueil des Cours: Collected courses of the Hague
trabalho, na falta de oportunidades, na Academy of International Law. Leiden/Boston: Mar-
dificuldade do acesso ao mesmo, nas desi- tinus Nijhoff Publishers, 2009. (Tome 336)
gualdades de poder fundadas no gênero, JORDAN, A. La esclavitud, el trabajo forzado, la
na discriminação e na estigmatização de servidumbre por deudas, y la trata de personas : de
algumas ocupações. Como consequência, la confusion conceptual a de soluciones acertadas.
dessas bases poderia alcançar uma for- Center For Human Rights & Humanitarin Law. Do-
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ma mais efetiva de enfrentar o Tráfico de em: <http://rightswork.org/wp-content/uploa-
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pela promoção e pela proteção dos di- acesso em: 25/04/2012.
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tipo de trabalho forçado e/ou obrigatório, MOLINA, M.L. Explotación sexual. Evaluación y tra-
tamiento. Buenos Aires : Ed. Dunken, 2008.
para assim conseguir ações que protejam
com maior firmeza os direitos humanos. ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABA-
Neste ínterim se faz imperativo o estabe- LHO. Convención Nº 29 sobre trabajo forzoso u
lecimento “sinestésico” entre o respeito as obligatorio de la OIT. Adoptado en la Conferen-
cia General de la Organización Internacional del
normas de proteção aos direitos humanos Trabajo (sesión 14). Convenio relativo al trabajo
bem assim correlacionar o respeito às leis forzoso u obligatorio, del 28 de junio de 1930,
laborais, com vistas a garantir o trabalho Ginebra.
digno na construção de uma sociedade
__________.Convención Nº 105 de la OIT sobre
que dilacera e usurpa a dignidade do ser
la Abolición del Trabajo Forzoso de 1957. Adop-
humano por via de formas contemporâ- tado en la Conferencia General de la Organiza-
neas de escravidão. ción Internacional del Trabajen (sesión 40), 25 de
junio de 1957, en Ginebra.

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