Você está na página 1de 21
| OBRAS PUBLICADAS NESTA COLECCAO: e + 10 Mito do Estado, Ernst Cassirer . | 2pATeorla da Literatura, René Wellek Austen Warren 3A Matemética Moderna, Irving Adler » 4 Sociologia dat Doengas ‘Mentais, Roger Bastide § ~Grupo-dnilise Terapéutica, 8. H. Foulkes $7708 Grandes Socialistas e @ Educagdo, Maurice Dommanget 10 Paradigma Perdido: a Natureza Humana, Edgar Monn 8—Teoria Politica ¢ Socialismo, Umberto Cerroni 9—As Leis Naturais do Casamento, Wolfgang Wickler 10-20 Pensamento Juridico Soviético, Umberto Cerroni 11 — Historia da Psicologia—I. Da Antiguidade a Bergson, FL. Mueller '2— Historia da Psicologia—Il. A Psicologia Contemporance -L, Mueller 13—Ditos Portugueses Dignos de Meméria, autor desconhecido “sq. Ketualizagiio, introdugio ¢ comentarios de José H. Saraiva) 14— Histiria da Africa Negra—t, Joseph Ki-Zerbo Se cesch receber, gratuta e periodicamente, informarder biliogréficas {sobre a ctividade de Publicapdes Europa-Amiricae sobre o movimete ik, torial do Pats edo estrangeiro, queira enviar-nos, num simples poste gag ‘nome'e a sua morade JOSEPH KI-ZERBO HISTORIA DA AFRICA NEGRA-I Edigfo revista e actualizada pelo autor PUBLICAGOES EUROPA-AMERICA INTRODUGAO As tarefas da histéria na Africa Records! A recordogdo sth che de esi mente itt, Nov tur recht existe 0 ncsrio ‘para mitigar a sede de Gite dos que senbam beer.» Supt Yava, citado por Es Saad ao. Tarih ee Souda. «A bistria det on dla a, a A Aivica etreverd «ax priria bstria. Parnes Louse Go skin area 3 me) Nio é preciso ser historiador para observar que nfo se passa mits nenhum no mundo sem que scjam publicados vétios livros sobre a hiss toria da Aftica, A valorizago do passado deste continente & win simal dos tempos. © motivo subjectivo € evidente. Para os Afticanos trataese dh procura de wma identidade por meio da reunite dos elementos dis- pertos de tina meméria eolectiva. Este ardor subjectivo tem, cle proprio, Pete funcionamento objectivo no aceso a independéncia de numerosos palses afieanos, Durante a colonizagio, a sua histéria no pasava de mern apéndice, de acrescento a histéria do pais colonizador. +O Senegal, meerdcule Xue, era essencialmente «a obra. de Faidherbes. Quebrado que foi o paréntese colonial, estes pafses assemelhamese um pouco a0 cscravo libertado que se pde a procura dos seus ¢ quer saber a origem dos ante passados, Quer também transmitir aos flhos aquilo gue encontrou. Dat PrVontade de integear a historia afticana nos programas cscolares ‘De resto, a Aftica, safda da sombra para passar a0 primeiro plano na cena internacional, tornou-se um tema de interesse. Muitos sac homens, em todos os continentes, entre os especialistas da politica int nacional, no grande pablico, até nos santufrios da finanga, que pergun- fam a si mesmos: «Mas, no fundo, 0 que sio cstes Afficanos, que estio no ponto fuleral da actualidade? Que fizeram até aqui? Donde vem? Porque 36 € possivel conhecer bem um povo, como um individuo, sc cose conhecimento alcanga uma certa dimens¥o histériea. Para julgar ou ‘xtrapolar nio é suficente-o conhecimento da realidade actual. Eo conhe- ‘eimento de toda a curva que conta. \ JOSEPH KI-ZERBO Outro clemento objective desta revalorizagio ¢ constituldo plas descobertas recentes que 4 histéria e a arqueologia acumularam, pondo a dlescoberto cviizagdesinteiras (Ife, Nok, vale do Rife, et) © 6 papel. -motor desempenado em muitas stapes pela Aca m hisia ni ‘Em suma, todo um piblico de jovens & busca do seu patciménio, de gente interessada que qucr compréender melhor 0 que se passa conhe~ ccendo 0 que se passou, de estudantes ¢ de investigadores nio_africanos, consti uma imensa procura potencial, sempre com tendéncia para cres- cer, Raramente ums disiplina benefciou de casio too magna, Mas teredo cm-conra az difeullades que ¢ preciso vencer para dar emma res- posta autorizada a csta expectativa, constitui também esta ocasiio um esafio a0 historiador da Africa e a0 historiador em geral. Como accitar este desafio da mancira mais satisfat6ria, mais conforme as regras © 0s ideais da histéria? Este & 0 problema. Anac,porén, de lancatmos una vita de oles sobre a flies ¢ a8 modafidades’ da investigacio histérica em Africa. urge desmantclar Tapidamente a barragem de mitos erguidas contra essa histtia 4) A BARRAGEM DOS MITOS A posigfo mais radical a este respeito é a que consiste em dizer que a histohin da Affi (Negra) nfo exit. No sett Curso sabre a Filosfi da ‘Histéria, em 1830, declarava Hegel: «A Africa no & uma parte hist6riea do mundo, Nio’ tem movimentos, progress a mostrar, movimentos Heicos pedprios dela. Quer isto dizer gue a sun parte setensional pex= tence ao mundo curopeu ot asiético. Aquilo que entendemos precisamente pela Africa & 0 espirito a-histérico, 0 espinito nio dlesenvolvido, ainda Exvolto em condigses de natural ¢ que dave ser aqui apresentado apenas como no limiar da hist6ria do. mundo» Coupland, no seu manual L'Histoire de l'Afrique Orientale, escrevia (em 1928, € verdade): «Até D. Livingstone pode-se dizer que a Africa proptiamente dita nfo tivera hist6ri, A maior parte dos ses habitants Eatin permanecido, durante tempos imemorias, mergulhados na bar- Darie. Tal fora, a0 que parece, o designio da naturcza. Eles permaneciam no extagnamento, sem avangat nem focus» uta citagio caracteristica: #As ragas africanas propriamente ditas —A excepeio do Egipto « de uma parte da Africa Menor — nio partci- param na hist ca.como a eneendem os hinoriadores- No me recipe 2 accitar que tenhamos nas veias algumas gotas de um sangue afticano (Ge afticano de pele provavelmente amarels), mas devemos confessar que aquilo que delas pode subsistir € muito dificil de encontrar. Portanto, 10 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 apenas dias ragas humanas que habitam Africa desennpenharamn ed Mel digno de nota na histéria universal: em primeito Tuga © ft Pan considerdvel, 0s Egipcios; depois, os povos do Norte nee rc Em 1957 foi P. Gaxotte que cscreveu sem pestanejar, i en Paris: «Estes povos [estinse a ver de que povos se (rita J nad 7 ann Immanidade. E deve ter cae ee # ge a a Nada prod, Nem Bagh en fran oad po enh oN wralidade, Bala Fascké, 0 griot? malingués de Sunde, nfo te Jhamava Homero. Mas que homens cultos, ¢ para, mate storiadore, fenham escrito sem emogio inépcias deste calibre poderia fazer pede dassemos do valor da ow sisciplna capaz de ae “ ns a Algae sae oF ns en honor europe. Un grande historador como Charles-André Julien, chega 20 ponte! e i AL’ Afrique, pays sins Histoires um pardgrafo da sua obra bem Ee “y eAtate Bedye ats «A Ain Neg a verdndsien Afi farts 3 sta car muitos ots storadre, Com sito, 0 to tes imbufdos de um preconccito racista encontramese mesic supe te faqueles que tém uma ideia acmhada das provas que 9 eC 8 ae eS ‘a histéria. Aproximamrss, de resto, © ‘bastante curiosamente, oe tos historiadores marsistag que iam cons sles também, “e om igid - © ge Mord espns de moon ace A gan ioe ze embriondria. E por isso que, 10 q ree pias te P no se pode falar aire Hira, no sentido cintifico arena Site o aparecimento dos usurpadores europeus.* are ee a historia i frica ees tem uma, i ti forque confirma de mancira brilhante ¢ com impor ae 2 ain oe a May Li ay ne no campo das cincias histéricass*. ‘Assinala cle, no entanto, 4 2 La Revue de Bars, Quadro 61 Fon sia muito mis do que simples fetes x gina angie de comilcitos dow pric (Nts T) ha, is oe eae Ajige Note, Akademia Kialo, Budapess, 1 " JOSEPH KI-ZERBO onde cada qual encontra aquilo que para Ié leva... Talvez seja, de resto, essa a razo por que af se nos deparam tantos clientes tic heteréclitos. Agucles que nfo articulam teses to radicais em relagio & nossa his. ‘t6ria arquitectam mitos tanto mais venenosos quanto mais matizados sto, inc s-mitos.é ividade._histérica_dos_povos afticanos, patter Encontease xs ie sok cma forme ‘ou outra, em quase todas as obras dos mestres curopeus da cigncia hist6- rica afticana. Nenhuma on quase nenhuma dinimica progressiva nestas sociedades ow ragas desfavorecidas. E com frequéncia se é amivel (ou astuto ..) a ponto de atirar para cima do sol e dos mosquitos a responsa- bilidade deste attaso, Foram os Hamitas caucassides que, infiltrando no Sul da Africa, Ihes levaram os conhecimentos da domesticagio da natureza pelas técnicas. As minas de ouro, os processos de modelacio com cera perdida, o estilo naturalista de Ife, as pedras de Aigris, a idcia da orga- nizagio estadual, etc., tudo isso provém de brancos, eventualmente de vermelhos ou de morenos, mas que no passam de brancos «mal identi~ ficadow. «Foi provavelmente pelos Arabes que a técnica da modelacio ‘com cera perdida, praticada em toda a Eurdsia desde a Idade do Bronze atravessou o Sara. A hipétese de trabalho mais corrente comsiste em atrair artesios irabes 4 corte dos soberanos negros ¢ em fazer quie ensinassem as suas técnicas as ragas alids admiravelmente dotadas do Sul da Nigerian’ «Com feito, a histéria da Aftica ao sul do Sara é em grande parte, a hist6ria da sua penetragio no decorrer das idades pela civilizagio cami sean (D. Palme pda he Site 20 ul do Sata exabelecramese estados ¢ pds ne lados por grupos de invasores de pele clara (berberes, judcus), vindos da fiea’do Norte, ou por negron que dles ‘sam aprendide’ oo metodo: de guerra. Em: geral, a Aftica ocidental comportouse como um vasto beco sem sada, recebendo, diluindo e, finalmente, assimilando ou esterilizando an «A Nigéria € 0 que é porque foi, se assim se pode dizer, uma colénia nodtersneas (Gautier ® © Negro matéris-prima malaxada no decorrer dos tempos pelas influtncias extetiores, vindas dos Fenicios, dos Gregos, dos Romanos, dos Judeus, dos Arabes, dos Persas, dos Hindus, dos Chineses, dos Indo- 3 Comevin, Hire des peuples de Afrique Noire, Berger Levraulk, 1980, p. 231 & Ringsworth. Aiea South ofthe Sahara, Cambsdge, 196 p44 1 S$. Trimingham, Hisory of lilam in Wet Afce, 1963, pV 8 ELF, Gautier, L'Afique Noire ecdentale, Pars, 1963, Ed, Latot, p. 127. © mesmo autor cxreve: Temas o drsto de perguntar © que culivava ecomia's Afficn ante de Cris tévio Colombo, hi tes culos apenas Thid, p90 2 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 cus, tal é a tela de fando que serve nigsios ¢ (last but not least!) dos Europeus,t a de fndo ge sre de ponto de partida para 2 investigagio de certs historiadoresafsianos de pom ide parte ios historiadores ndo atieanos. N30 msg wm hie opittor de tendme, © Dr. Fage, da expressio shomem vermelho», com Tisha trdigo. da origein dos MossieDagombas, para supor ue os fozepasados ess pos aa parte dos fvasorey a nos ce tint os ecinor kmrenba, haga ersonent? Ora, hoje, ainds um, preto de {Ce clara & chamado shomem vermelhs (guia em sano, kyelé em ban sora siongha em mor). Da mesma maneira, pretende outro autor we “os mabres nous aprescntam tragos siiticos mito scentuados, que vain de nogrdides. E Eliot Skinncr replica, muito a propdsito, es sestcingiscmor aos 1285 gtimos mghounabas, se eonehuiia pelt generalizagio igualmente falsa de que os principes Ge eram nai smedides do que o povo cm geral, «Se distinguimos ordinariamentes, sae eve R. Comnevin, ventre estes caucasdides africanos, os camitas 0 SAESSS camassetentrionais eos Semitas, que teriam servido de fermento Se eaarrgea admitecse, contro, que © fcemO coir tem apenas umn valor cultural ¢ linguistico.» : . jimanto, false ainda correntemente de sragas morenaye © wm arquoslogo anglosando nfo hesita em falar de «populagio de gneve “ean verdoge que xe tata do mesmo que prtehde gue os Negros sin um excess de pigmento por debaiso a ple que cin nai {iPeua , Mas este moreno ideal este peut de Pht, naneaninguém o enconteon AS linhas de demarcagio rai s6 existe ma imaginaon dos seus autores Por favor, acabeanos com esta histria de boridros ou cle veteriniios, que mito se parece com o pedigree dos eavalos de raga ‘Outros partem da austneia de revolugio faycamental nas sociedades nogras para dat rarem concludes racists, quando um ininimo de, conher tlinente da evolugio das sockedades humnanas ceo pacticuae, das, Pr Condigies tcenceondmicas de qualgucr revolugioos tera dssuadide de fais abecragoes, Além do mais, o argumcnso. we lat ac a Aion Fican in6vel desde-hi mulénios no -pasale-umrsofinss que lonata a. nossa ignos al qua is tansfonnasics qu = operaramn tn hist africans. No entanto, 0 pouco que dehas sabomos indi CE forma eloquentetansformagéesaficana anon, verdadeias ym clingas de rumo efectuadas seja sob a influgncia de mut " dongs ceimeergics sgh pelo poder erador de persomalidades de Stevo, como Mamary Culibaly, Anokye, Osci Tutu, Usman dan Fodio, niveal, bastasnos elt as invengbes tecnias afecanas do Paleoltico, 1 importincia do ouro ¢ dos negociantes do Sudio no comércio euro- 2B JOSEPH KI-ZERBO asittico da Idade Média, a participagio do capital-trabalho negro no desenvolvimento da revolugio industrial c o papel planer dccompe- hado pelos Affo-Americanos na formagio do sentido artistico desde hi mais de meio século para cd. Ao dizer isto, nfo somos movidos por nenhum complexo, nem de superioridade nem de inferioridade, mas por tum ecomplexor de igualdade, No negamos, de resto, as influéncias rece- bidas pela Aftica quando clas sfo cientificamente comprovadas, como scja 10 ca80 da introdugio do camelo, da mandioca ¢ do tabaco americano, ete Dizemos, porém, que estamos fartos da hist6ria racista, sob qualquer forma ‘que se apresente. No admitimos as influéncias em sentido tinico, crigidas, em sistema, Nio admitimos ser considerados como instrumentos perpetta- mente passivos, nem que sc extrapole a partir do capitalismo triunfante do século x1x curopen para fazer de toda a hist6ria africana um rcflexo excabroso do universo, um beco sem safda em que se vém extinguir as infludncias civilizadoras de todos os continentes. ‘A maior parte destas extravagincias resultam, evidentemente, dos reconceitos dos scus autores. Resultam também da conjuntura neoco- lonialista em que mergulham ainda or pafece om que trabslham muitos dos investigadores. Mas, sobretudo, estas aberragdes revelam 0s pontos obscuros eas dificuldades da investigagio histériea em Africa 5) DIFICULDADES E METODOS 1. As fontes escritas Todos os bons historiadores sabem que a musa Clio no deixa trans parecer faclmente os seus segredos, Os historiadores da. Affi sabemeno muito em particular. A dificuldade que nos ocorre imediatamente & a pretensa austncia de documentos. A histéria, diz-se, ¢ feita com documen- tos escritos. Ora em Africa nio existem quaisquer destas fontes, ou existem ‘muito poucas. Portanto, de nada, nada se tira. Apesar de todos os anos se publicarem, no entanto, bastantes livros sobre a historia da Africa Com efeito, a dificuldade principal aqui também € que nio nos coloci- ‘mos ainda perante 0 problema hist6rico africano numa perspectiva pra mente cientifica, humanista e africana. Os documentos escritos, de que se deplora a raridade, sio de facto ‘muito menos numerosos de que nos outros continentes. Mas estio sobre- ‘tudo mal distribuidos por periodos e por regiocs. ‘As fontes cscritas podem scr classficadas nas grandes categorias 1 seguir indicadas 7] HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 © Fontes antigas (egipcias, nibias © greco-latinas). @ Fontes drabes. fe Fontes europcias ou sovitticas (narrativas ou de arquivos). fe Fontes afficanas «recentes (meroitas, etfopes, em lingua ow em cscrita Stabe, em cscrita afticana moderna, em lingua europe!a ‘@ Fontes asifticas ou americanas. s fontes drabes contamese entee as mais importantes por varias razbes. em waded porque podem elucidar grandes: periodos obscuros desta histévin, c estamos fonge de haver extraido delas toda a mocla hist6riea ‘om at substancias que nos oferce. " eros ie ‘shtores (Gue no sf0 todos drabes) sio Masui, Ibn Hawtalte AP Bskrill, Al ldsst2, Abulfeda!9, AL Omarit, tbn Barita!S, > hn uci cn Dane ¢ ci oe ms ar aa: asi se ida Ii. China Tone Ras coma tins es a O' r as PHy, . .dos capitulos 3 Africa oriental. Trad, francesa de C. Warbier de Meyn: Chae de Cour Sheen aey Mines de Peres réies, Pat 161-0877, Ma Ge Shine: Pasa, t839, Imprinere Impirisle. Tad. francesa de V. Montell — Ré Is | JOSEPH KI-ZERBO Tbn_Khaldun's, Al Hasan (J. Leko-o-Afticano)!7, Mahmud Katil8, Es Saadil9, Por toda a Aftica, nos nossos dias, equipas de cientistas se langaram 2 procurs de documentos estos alguns dos quis relitam aconteciven- tos passados por vezes hi seiscentos anos ¢ mais. O Instituto de Estudos Africanos do Gana descobriu centenas. Entre cles encontrs-sc, por cxen plo, um documento haga deserevendo as origens dos reinos moss. Também as Universidades de Ibadio e de Kaduna constitufram. um corpus ainda mais importante destes documentos. As pegas em suatli sio igual mente procuradss com interesse, ¢ nas bibliotecas do Magrebe, do Pré- ximo ¢ do Médio Oriente provdvel que as publicagdes dos centros Universtitios medievals do Sudo ocidental, hoje desaparceldas,cxstam, pelo menos, sob a forma de reprodugdes ¢ de tradugdes em turco, em persa, ete, ‘Que dizer entio das fontes europeias a partir da dade Média, desde gue © imperador do Mali (Rex Mell) foi representado com majestade ho partulana de Abrsfa Cresques? Trata-se de uma mina inesgotivel. quer, por assim dizer, complementar das fontes drabes, pois fomcc, sobre a parte menos tocada pelos Arabes, uma quantidade de elementos de toda a natureza, dos quais o Prof. Mauny péde tirar bom partido para reconstituir 0 Tableau géographique de Uouest afticain au Moyen ge. Mas quantos fundos privados nio permanecem ainda intactos nas fami- 16 thn Khaldun (r332-1406): nacido em Tunes, Suceuivamente secretitio, chefe da chanedata, ministro, recrutador de mercenivos, prsioneito, embaixader, grande’ eit, core testo, etritor, ete. Bercorteu + Affica do Norte'em todor of tentidor, de Tunce a Fez ¢ de ‘Bogla oa Tlemcen ao Cairo. Eaadas em Sevilha e Granada, Escreveu: Al Mugaddima (Or Prolgimeno); Hltiia Universal (Kitab al Tar), 1382; Hlvdia ds Berbers. Toa Khaldun & ‘um dor maiores hstoradores de todes os tempos ¢ © fundador da historia clones, Tad francea de M. G, de Slane Histire dr Bekies, Pari, P. Geathner, 1925-1956, 4 vol; trad. frances de V. Montell ¢ fon Khaldun, Dicous sur Hits Univevell, Al Mugaddien, Beirte, 1968, 3 vols, «Coll. Unesco —- Euvres Représentatives 17" Al Bisan (chamado Leio-o-Africano) (148-1554): mascea em Granada. Estudoo em Fer, Atraveuou o Sudo de um extremo 20 ottto pot volta de 1507. Ceres de 1517 exeve hho Bgipto e-em Meca, Capturado por um pitta seilano, ¢ oferecido a0 paps Leio %, que ‘ converte e 9 baptisou na Basia de Sio\Pedro com o nome de Johannes Leo de Médie \Veie 2 ter profewor na Univenidade de Bolonha. Acsbou por deixar 2 Ilia e regresou 2 ‘Tunis, onde se reconvertew 20 ito. A sus obra principal, ue inspirou os Europeus at 20 elo kik, 62 Desig de Affine dat Coiss Notives Que a Se Encniram, Roms, 1536. Tad francesa de A. Epauled, Description de Afrique Trad, do isliana e anoteds por A. Epasla’, ‘Th. Monod, H. Lhote ¢ R. Mauny, Par, 1936, Ed. Maisonneuve, 2 vol. 18” Mabmud Kati: hstoriadot soni de Tombueta que di informacdes sobre 0 rel~ ado do Atkin Mebaisticd, de quew for vomselety, © sob maroquine A partie ‘de 2330 compe Terkh eleva (Crince de Buscador), que serdnctalizado por um dos seus parent por velta de 2600. 19 Es Szidi (Abdeshamane): de origem moura, comp8e 0 Tart es Soudan (Crince sd Pale dos Negros) cera de 1655. 16 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—* i a missionsrias, nos lias dos portos negreiros, nas casas-mies das sociedades missionérias, tas eos do atmo © com herds dor primcos ves! At ry crortuguesas 96 agora comegam a revelar-sc. E deve ter-se em co fortes Porib lceratura da América Latina (Brasil, Haiti, Cuba, ete) tue se pode explorar a este respeito?. . aque s¢ pods explorat Malmente os documentos de origem propriamente afeicana, como as arativashistrieas do sutdo Njoya, cm ingen barman fica fica Negea, sem miais nem menos, que foi um pats sem lingua = aes 'Nio foi jt rlembrado que também durante 2 fade Média europeia, ¢ em todo 0 €as0 até 20 6 uma fnfima ede ge vincerada sabia ler ¢ excrever? Grande, mimero de bardes Bide condes eram analfabetos. Em Africa, s6 a classe dos mongeseseriba ano os ulemis do Tombuctu medieval, teansmitia a chama do saber fe da bist6ria2! ca eetdade sera! dos documents estes, represent 0 catano, tum dos principais problemas para a historiografia africana. Convids-nos un dos prince Pr Grom 8 cacols trina moderna mai SBangrecnsiva, mais progresiva, mis si de possbiidedes para a CxRlo™ SeeES do. pussalo: a dos defensores da histéria total, Tudo pode ier ts Télico part @ historiador atento. Tudo, ¢ nip apenas as datas de betas covicager da dpa, considera: © arqucslogo que no quiser ser apenas um coleccionador de ps ve eae ae vollos estes apoios para apreender com inteligencia os com- Flexor de objectos que descobre. Complexos horizontals (num mesmo Frees) que gxigem ma andlise sincrGnica, Complexos dindmicos ¢ ver- see NS de wiras camadas, que dependem de uma andlise diaerénics seal rcconstitugio permite sugerit uma cronologia reativa, O mésodo ce eee ataface estas dus exigenias, Complexosespe~ caine cfm, se scleccionarmos 2 cvolugo de uma técnica ou de um cae ce pode ser submetdo ontio a uma anise extatistien chia de interesse Tee su sc trata aqui de uma dependéncia unilateral da arqueologia. A intytpendénc € eral, Impge ela um sistema de trabalho inter isiplinag por vezes transdisiplinat E iso tanto mais quanto as soce= Seas quae aqui nos dtigimos estio poderosamente integradas crs daa as clus aspectos. © problema consiste em saber se, como o desea, to que parcce com faz, J. D. Clark este método de teabalho implica 0 20 Guy Panmanto. de projectos integrados ¢ polivalentes com wma coope- rai. tetas discplinas, em todas as ses, ou se, como quer M. Guthrie, EP especialsa deve levar a cabo independentemente as suns invest gs> Ses pra chegar em seguida apenas a unva confrontagio de sintse vida a6. CEJ. Desmond Cla, Langage ad History i Ac, Fen Cas 1705 8 6B 26 CE} Desmond ca ccf ttnove en Agu, Bln et erp, U.N. B.S.C.O. ea oe are Bi de a Bacon, vl: iy 4 197, PD 539 © 8 23 JOSEPH KI-ZERBO 5. A lingnistica No qmgo dr linguistics temos de nos precaver contra as ilusBes do ouvido. £ necessério desconfiar das consonincias apressadamente relacio~ huadag © aseegurar um conhecimento descritivo aprofundado das linguas. B necessério evitar o grande erro de confundir raga ¢ cultura ou lingua. (On que censuram certos africanos de confundirem em demasia estes dados pecam, eles mesmos, com frequéncia pelo mesmo defeito. Um deles, por Bremplo, poe a questio seguinte: «Se os Eglpeios antigos cram negros, [por que razio os negros que conhecemos ao sul do Sara no desenvol- Perard-at mesmas teonicas que 0s cus congéneres do vale do Nilo? Con- fasio grave entre raga e civilizagio. Um outro conoluird sistematicamente da pastorea 2 nfo negritude. No entanto, embora o utenslio lingulstico cai wma ‘dexteridade de cirurgiio, nio deixa de consttuir um bom escal- pelo para diswcar 0 pasado. A citncia lingustca fer progressos prodi- gions deve ‘algum tempo ¢, gragas a ela, pode-se chegar deduzir ‘parentesco lingufstico um parentesco étnico ou de origem, Depuis de ‘uttos linguistas, como Westermann ¢ Homburger, J. Greenberg props Gltimamente uma nova classificagio das inguas africanas que deita por terra certos dogmas histéricos lingufsticos ou étnicos a propSsito dos Ban- tos, por exemplo. £ claro, esta casificagio nfo € aceite por todos, mas fornice uma hipétese cientifiea de trabalho. Abre perspectivas espantosas, {ntrigantes ¢ estimulantes ao historiador, que vé 0 parentesco lingustico do hatica e do egfpcio antigo, do songaf ¢ do masai. Taistrabalhos podem permitir, pelo estudo genético ¢ comparativo das gramiticas, reconstitlr, Pomo n0 caso das inguas indo-europeias, 0 protétipo tedrico, tronco da evolugio. Ni ealidade, quando se tem ein couta que existe em Africa ceres de tum milhar de Iiaguas ou dialectos, numerosos dos quais nio fixados ou tentio #6 hd pouco tempo escritos, 20 passo que a forte faculdade de assi- milagio dos ne os submete 3 snot contin, tarefa apresentarse complicads. Certos linguistas (Boas) pretendem, com efito, fie das Iinguas ndo escritas se nfo pode tirar qualquer, dado histérico fos pensam 0 contririo ¢ sublidham que «1 ideniicagio do indo- “europea como familia linguistica se produziu num momento em que 2 Gnilise descritiva das Iinguas europeias no estava mais avangada que a de numerosas Knguas no escritas. A comparacio dos diversos estidios de uma Ifngua escrita é limitada em Aftica. Mas a comparacio das linguas Gparentalas ca reconstrugdo interna si0 métodas aplicavcis jd utiliza~ © protobanto, que assim foi definido, permite dizer que os lon~ sginguos bantofones uswvam um certo némero de nomes de érvores ¢ de Shimais que, através do tempo, ressuscitam 0 cenfrio apaixonante do Gquadto f'sico, climatico, téenico e social no qual essas gentes se moviam mw FR HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 Da mesma mancita, o estado de certas palavras-chave do ponta de. visa Da a por exemplo a palavra cavalo em varias lingua, pode Pov aeaneenr o eaminho percortido por este animal através dos procesios & adopeio lingufstica, _ : se angreeg pbs assim em relevo as contribuigdes, do kamuri. para © ees pe ey ceca mia ae valorizam a influén~ case Tmpério Bornuano no desenvolvimento dos re acoular'a deignagio das dinsias boruanas com os Snr: amis, Parco amma, magia, hadgas. Em 25 JOSEPH KI-ZERBO evolugio € conhecids, define-se a constante r como sendo a taxa de GAO. eadas as litatestes dos vocabulérios de base de duas linguas apsrentadss, resulta C como cendo a pereentagem de ‘vocébulos comuns. Fea eC, deduazse a distancia temporal 1) desde a separacio des daas linguas pela formula: fog € (= Talore ‘esta formula, que seria uma expéce. de rel 08 de sonda erono- togica plas lingua, tom sido muito cicada. A sua apisgio, pot ‘Swi logis Preuas woltaieas deixou cépticos of espectalists.C. S. Bice nue) des Bs lings ve go no Semindrio sobre Linguas ¢ Hst6ria'cm Ati. eepors a estbilidade singular dos dialectos mandeus com + instabilidade Soar sos viinhos (dalectos dogons). Rejitaudo a tcorin genes!66ie= 4c otimgeae, aublinka que nfo sf0 tanto os fonemas ou vocabules que as ena antes ab cotruturas ¢ as regras que Tegem cssas estruriras QUE se adapam em fete “fe uma sétie de factotes, alguns dos quais si0 extrin- ‘Seow fpeopea lingua. Demonstra, assim, que, n9 cso Jo ‘mandekan (lin~ wee mmakdea) a eabilidade politica, 2 intensidade das trac corner Bes spliidadesintdxica, mas também o vigor da petsonalidads Cie © forga sociocultural da casta eacadémica» ‘Bos grits, conteibuiram para 2 fone occ ingua, Conclui pondo em divida a possbilidade de SRtnefiee por uma eonstante a exa de retengo inguhick Apes de tudo, 2 glotocronoogia ou Texicostatistiea, pode prestar servos, sugerindo {do Hordes na cabo istics das ingnos, Por outro lad, Petey ste papel bastante contestado, a lingusties presta ser¥oe de fo oes slots aficana. O grande néimero de inguas africana, que Prove igprcidade inventiva dos povos, dficultou com exter 0 ‘Jescnvolvi- 2a gal Hoje, 0 seu eatudo sistemdtico pode ajudar a resolver ceros tnigmas desse mesmo desenvolvimento hist 6. Aetnologia e a antropologia cultural Em emologia ou antropologia (c preferimos a antropolog) 0 méiode conrate emt mes bascarmor nos tragns culeuais comparados pars SSB" * ontutdo das sociedades cas rlagBes entre clas. Com eli, om de parentesco das formas, hi apenas és hipéteses dupla invengio aut6- BaD, Dalby, Lenuae ond History in A, Landes, Frask Cas, 197 PP: 18 © 18 6 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 noma, origem comum ou transmissio. A regra de quate mulheres no momimno e de cinco preces quotidianas, existente no ‘Senegal e na Indonésia, no oferece ines Pides de incerpretacio, pois a ponte do islio ¢ dema- nie of abecda para que possam restar davidas: Mas que Povey dos xilo- Fase aatenemal ¢ da Indonésa, sobretudo se ambos ofstecre mes tras gamas musicais? Dizem ums que, dada 0 ‘complexidade deste instru- imag Sent obretudo o facto de 3s diferentes notss estar! ‘eunidas num mento» ecto, iso exclui a dupla invengio, E dit ‘concluit-se logo que foram os Africanos que receberain © xilofone da Asia. im 0s Africa espeito, no expirito de certs invesigadores sentido nico permanente. Ora & dificil isolar os tragpe ‘calturais do seu conjimto, Separar 0: influxos sucesivos a partir do fealidade actual. © difasionismo per pode pronunciar a partir de alguns tragos esPorsey Exige que ree opr conta a totalidade do quadro cultural de pov® ert «questio, sem ome Suparmos tnicamente 20s aspectos sociais, O Que Pir monogra- nos aPerivas, Por outro lado, pafa tentar uma hipoeese de difusio ou de fas yg anuiupologo nie se pode contentag com Wm CO cestitico Transeo’ aa vida cultural de um povo. A anise deve 5 sinusnies, 0 sel, mas também diacr6nica, ou sea dindmice Pode-se entio, nO ence tent hipéteses de difusio, mas também com fer Murdock em seers vesos, alas contestados, tentar extrapolar No pasado a curva da evolugio deste povo. 7. Marte Neste campo, 2 anilise da cultura artista ofercce importincia mite particular, As condigdes de conservagio| as obv24 de arte africanas rmuito Fp defetuosas por causa doe factares climitions (humidade, acidez Se aanpas das tcrmitas, da sccura excessiva, 4. MUS "Africato, © patti= essa “G Negro aficano, ¢ fortemente dotaco pera 8 207 ‘dese tno ha présnioria, come nos nossos Ui Vet papel riador neste Renlhog hyo o demionstram os centos asticos de PINE & ravuras tapsstrey da Aftica tropical e meridional. No Saray Tnagnificas pinturas © ruber, poste 2 descoberto e publicadas por 1h ‘Lhote, langaram nova faz sobre a pré-historia e a histéria desta imensa regito da Africa do Norte, Tar sobre Sudio. Pela anise exltica destas obras pperam ser deter do oe, tases ou idades (cagadores, bovideos, corfos, fr.) abrindo um aimed Fae da ocupagio humana e das rocas, Assiny¢ Ne Ue cabega Terra eieccacntada de perfil com os,cormos de frente BITS Ce 0 proto tipo ds configaragoessemelhantesexstenses 99 do Nilo. Como regra. we cote as minis das vere as obras de arte africans APN) de mancira sara stata, © nko diacrénica € dintmica, * ‘velhas obras de arte care as coleegBes antigas de Portugal, do Vaticano, da Suécia, ete, 7 JOSEPH KI-ZERBO permitiriam enriquecer a andlise neste campo. Além disso, os meios cien~ tificos, como 0 radiocarbono, ajudario a resolver ou, pelo menos, a por correctamente os problemas de parentesco ¢ de antecedéncia, por exemplo entre Nok arte oa, Mas a comparasdo no poderis assent em apro- ximagSes puramente subjectivas, expressas por formulas como «um rea- ismo surpreendente> ou uma sorte estilizagios. E imperioso entrar no or ¢ analisar a feitura, a profundidade do traco, as dimensbes dos diversos elementos. © mesmo se passa em musicologia. ‘A arte 16gia é uma fonte historica mais directa ainda, pois € um teste~ munho vivo dos acontecimentos ¢ das estruturas. Sio'zssim as estétuas jas de Ife ou dos Kubas. Sio assim os baixos-relevos do palicio de mé ¢ as cenas que transbordam de vida consttufdas pelos baixos-rele- vos de bronze no Benim, No pals messi, as estatuetas votivas dos mogho- -nabas defuntos, se fossem acessives, permitiriam estabelecer com. pre- cisio a cronologia desta dinastia. Da mesma maneira, os pesos-provérbios da Achantia ou do Baulé evoeam com frequéncia, na medida em que os urives eram fimcionirios do rei, declaragoes de principes que podem cer tum interesse histérico. Mas a arte africana exprimiu-se sobretudo na ma- deira, matéria eminentemente feigil nas latitudes tropicais. £ altura de mencionar aqui o estado penoso dos museus afficanos, onde por vezes 0 salalé e a traga abrem milhares de orificios em pecas magnifica, orficios pelos quais se escapa uma poeira amarela, que € arte em decomposigio. Enfim, neste dominio culeural sublinhemos a ajuda preciosa que a histéria pode trazer para uma interpretago correcta dos dados fornecidos pelo artista, pelo antropélogo, pelo estudante de religides, ete. Por exem- plo, o facto de sabermos que no Benim cra a mesma corporacio de artis- tas que trabalhava o marfim e a madeira, enquanto uma outra utilizava ‘a terracula cv bronze, é um dado histérico importante para a interpretagio dos estilos. Mas aqui, como nos outros campos, nfo é frequente chegar-se a conclus6es evidentes: a explicagio por invengio auténoma, por conver- géncia ou difercnciagio, ter de ficar com frequéncia sujcita a causio. Bor veres, no entanto, hi casos privilegiados, como, por exemplo, o da jrafa, de que a Aftica tem 0 monopélio ¢ que foi objecto de representa~ (G6es artfsticas nos outros continentes, permitindo assim pér o dedo num Contacto preciso e por vezes cronologicamente definido com a Africa. 8, Ontras ciéncias Outras citncias podem ocasionalmente ajudar o historiador na sua tio irdua tarefa, Pot exemplo, a emobotinica, a etnozoologia e a paleo- botinica. A difusio da banana, do arroz, do milho vulgar ou do milho mitido sob certos aspectos, mais importante que a do ferro ou da pél- 28 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—t ‘yora, embora nio devam ser dissociadas. As téenicas ligadas as culturas, como 0 tratamento das colheitas, a construgio de celeiros, a mancira de mungie as vacas © de preparat os alimentos, devem ser examinadas no mesmo quadro para permitirem a interpretagio mais cicntfica destes Tulae, A’fiors, a fauna e a geogtafia do Sara pré-histérico puderam ser parcialmente reconstitufdas gragas 3s sementes © 20s estos fosstlizados, © Que permitiu a0 historiador falar, n3o de fantasmas, mas de homens de HMalheres 2 evolufrem num quadro ein que se segue agora o percurso das Aguas que cotriam entio ¢ os lagos em que se espelhavam as silhuctas ggigantes ou hitsutas dos animais e das gentes. 9. A antropologia fisica Quanto 4 antropologia fisca, tratase de um campo em que 2 Africa Negia, mais sof com os preconcitos, Com feito, a tendznlt cont” ante ¢ paca multiplicar sem limites as eatagorias de negros, a fim de clas~ Sificar como nio sendo verdadciros negros todos aqueles que apresentemt tuma aparéneia que realce as suas qualidades. Distinguir-sc-do assim os yerdadviros Negros, os Negros, os Negrdides, etc. Sctia curioso classifi- Car da mesma maneira todos aqueles que na’ Europa apresentam tragos tio diferentes na cor dos olhos ¢ do cabclo, na forma do crinio, a esta- tara, mate, ec, Todos, no entanto, so consierados brancos. Em Africa, Uesde que haja uma ligeira diferenga, fala-se de morenos, de mesticos Ghucwdides, ee. DA vontade de sortir so ouvirmos arquesiogos falarem sfltamiente de raga esura depois de ffem ¢ muita, custo consertado algumas mandibulas escaqueiradas. Suponhamos que, depois de um cata~ elfsmo, um arquedlaga racista do ano 4090 escava em cidades mortas como Joanesburgo ou Salisbiria, Se encontrar discos de jazz, sobreeudo nos bsit- os brancos, concluiré logo que o jazz foi inventado pelos Brancos ¢ tra ‘ido por esta minoria de conquistadores. E, s¢ nko houver esqueletos de brancos, encontrard naturalmente alguns esgucletos de mestigos © atri- Duird a esta misteriosa raga trigucira a introdugio do jazz na sociedade dos Zulus. | Temese © costume (¢ as tradigSes so tio coridecas na Europa como em Affical) de subdividir os povos afticanos em Nilotas, Hamias, Etiopes, Bantos, Hotentotes, Bosquimanos, Peules, Negros guincenses e sudaneses (verdadeiros Negros), ete. Todos eles considerados como ragas variadas. “ais distingSes, declara J. Hiernaux num texto importante, mo podem convir como unidades dé estudo biologicos?®. Os Peules nw wonsticucm 29 J, Hiernaux, La diverse biologique des groupes ethiquen, in Histoire Génie de PASpigue Noire, v0.1, P. U. B, 1970, PP. 53 © 28% 29 JOSEPH KI-ZERBO tum grupo biolégico, mas cultural. Os Peules dos Camardes do Sul, por cexemplo, tém os patentes biolégicos mais préximos nos Hayas da Tan- Zinia. Quanto 3 proximidade biolégica entre 0s Mouros ¢ os Warsingalis da Somilia, cla é incrente tanto 4 sua hereditariedade como 20 biétopo semelhante que os condiciona: a estepe drida. ‘Or dadar propriamente biolégiens, consrantomente 4 alreratemace desde hi milénios pela selecgio ou pela derivagio genética, nfo fornecem gualquer pono de referéni sido para una cassieaio, no que septs quer 20 grupo sanguineo, quer 4 frequéncia do gene Hibs, que determina tint hertoglobine normal e que, abodado a am gene normal, reforea 1 resistencia ao paludismo. Tal é'0 papel capital da adaptacio 10 meio natural. Por exemplo, a estatura mais elevada e a bacia mais larga coinci- dem com as zonas de maiores secas ¢ de mais intenso calor. Neste 250, a morfologia do crinio, mais estreito © mais alto (dolicocefalia), é uma adaptago que permite menor absorgio de calor. (Os caracteres recentemente apresentados como distinguindo biologica- mente os Khoisans (pele amarclada ou morena, face sem grande salitn- ias, ete.) nfo passam para J. Hicenaux de evatiagdcs sobre um tema afti- ano comums. Do ponto ‘de vista antropométrico, como do ponto de vist da genética do tanguc, nfo se pode singularizar os Khoitans. A estea~ topigia%, em particular das mulheres, ¢ apenas 0 caso-limite de uma carac- tei comm aos Negroes ‘ (© parentesco lingufstico (que em principio nfo devia figurar aqui) auda te a ver coms queedo" Porgee’ on Seadawis da Tanaluia que sc aparentam com os Khoisans nio apenas pela lingua, mas também pelo seu género de vida de cagadores-recolectores, se parecem biologicamente muito mais com os Djolas, os Bassaris e os Hadas ‘Quanto aos pretensos "Hamitas, considerados por Seligmann como caucaséides brancos (Tutsis, Eriopes, Nilotas), & parte uma certa mesti- pré-histérica ou drabe, que se encontra, aliés, em Espanha ou no Sul da‘Ieilia, nada os distingue substancialmente dos outros negro-afti- ceanos. E J. Hiernaux aponta neles, a0 contrario, «a acentuacio de certas particularidades prOprias da Africa subsariana: por exemplo, a pele bem 2 cintura fin (© fisico dos Tutsis, diz ele, corresponde a0 pélo da escala morfol6- fit ligde ao plo de sours de conta sonal da eval clinica ‘nota a proximidade biolégica dos Nueres (Nilotas) © dos Coniaguis da Guing, Apesar de tudo, certos aafticanistas cmpedernidos contintam a dat livre curso as suas quimeras raciais em Africa ‘As coisas sfo sempre nenos simples que nas teorias © as, Ao que 30 FormasZo volumoss¢ salleate uos misculos das nidegs 0 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 rece, existe hoje um teste (Glas € C.) para detectar, em caso de mesti- eee recente, a percentagem de sangue caucasiano ¢ negro! Mas, sem Contar qu isso limita o interesse histérico ete sata ‘tal género de esquisa oferece muito poucas vantagens pata a hist6ria, cujo movimento, Ba fim de contas, nao Bepende da a da pele dos homens, ae re ‘causa dos preconceitos, o factor racial seja por vezes um agente podcroso Ges Peco congo Mac Bsa sida deve jnétode ser aplicado num sentido dindmico. As medigSes dos indices orgi~ icos ¢ sométicos nada significam por clas préprias. Observaram-se evo- lugdes da dolicocefalia & raguice falia em certos grupos. E, 36 por si, a hereditariedade nio poderia fornecer uma explicagio suficiente, pois 0 meio & com frequéncia factor preponderante 10, Os quadros geogréficos sm que quadros geogrificos cronolégicos deve ser encarada esta ise eet Bootes provincine ow fren cltuais chistricos. Tendo em conta a tecrivel complexidade do problema afticano, estas delimitagies nfo podem deixar deserabitiias a partiz do momento cm + fornia. Constituem, portanto, no mefhor dos easos, aproxi~ ‘muito geossciras, a fim de fornecerem um ponto de refe~ Fineia a0 espitito. NZo podem em caso nenhum set consideradas como (quadros verdadeiramente cientificos. O mais real sio os reinos, cuja exten SEO eno cntanto, mal conhecida, por causa da falta de documentos escritos 2c uma administragio muito pouco desenvolvida. Mas, para os habitantes, « sobretuddo para os dirigentes destes reinos, 0 espago gcogrifico e politico Gra com frequigneia conhecido com bastante precisfo pela presenga de uma Srauinha, de um fio, de um Lago, de uma floresta, ete. Foi assim que Samori, 20 constituir o seu reino, conclufra um acordo com Seré Brema para escolher o rio Dion como fronteira. Da mesma forma que juridic Rlemte nfo hi quase nunca terras desocupadas, também podcriam existir zonas de baixa pressio, mas nio de vazio politico. . ‘ que cu disse destas coleetividades politicas © da integragio semina- ional du nacional que as caracterizava permite concluir que no se pode ceerever a historia da Africa numa base puramente tribal. Os Zulus nzo cram apenas Zulus. O seu préprio nome, que significa sas gentes do Céur, Mio ¢ una refersncia étniea, mas quase um programa. Quanto 20 Gans, no Mali e 20 Song todos sem gue nos identifi uma tribo, ‘mesmo se um determinado grupo étnico aparentemente, MISE Sonata o seu nucle entra. © guacro caibl fimbémn por uma razio politica actual, na medida em 4 se no queira findar nagdes africanas, ou uma nova nacio africana, cujos membros 31 JOSEPH KI-ZERBO tenham uma visto cacofénica ou antagénica do seu passado. E necessirio, fesudar os reinos afticanos, deixando-lhes, quando necessirio, POjenominacdo étnica, mas sem alimentar ilus6es quanto ao conteido dessa designagdo e tratando-os, antes de mais nada, como organisms poli Geos onde a influéncia clinica é apenas um factor entre outros, sendo com Hguincs preponderance os fetores econdmios, psicolgicor ov ol surais. Deste ponto de vista, os quadros da Conferéncia de Berlim, se con vem 3 Affica desde a sua colonizacio, nio poderiam constituir as estru- tturas globais para a hist6ria da Africa independente, porque os espasos plies de antanho ultrapassavam entio as fronteiras tragadas em Berm, ronteiras essas que os retalharam em vérios pedagos. 11, Os quadros cronolégicos © quatro cronvlégico da histéria da Afvica pe tamhém um pro~ blema muito delieado: tudo depende da regiio considerada. Certos sec~ tores, como a costa oriental ou a orla ao sul do Sara, evoluiram durante longos petlodos, a par e paso com 0 mundo érabe, Outros, desde o inicio do eifico de escravos (a costa da Guind), estiveram estreitamente ligados 4} Buropa. Enquanto certas regides apenas tomardo contacto com o mundo vodere no século xx. A data de 1591 (Tondibi), tio significativa para 0 Sadie ocidental, nZo tem o mesmo valor para os rcinos Luba ou Lunda. Mas, por outro lado, datas como a tomada de Constantinopla (1453), gue ndo exerceram qualquer influéncia directa na histéria da ‘Africa, no Aidlem ser uizadas como pontos de referénca. As expresses lade Média Portmeaimento nio terio, portanto, 0 mesmo seutidy (s algum tes) fra nowa hhistéris. Da mesma maneira, as datas da Magna Carta inglesa, $ RevolugSes Americana ¢ Francesa, da Revoluglo Soviética de Outu bbro, por muito significativas que sejam para 2 historia universal, nto ‘ervir de marcos especificos para a histéria da Africa, Mesmo a vada colonizacio, #20 importante para a histéria recente da Aftica ¢ pars a delimitago das actnis froneiras dos Estados, nfo constiui a Gnica Fem a principal chameira em tomo da qual se ordenaria toda a histéria ‘estes palses. O nico método justo consistria, 20 que parece, em ‘estabe~ lccer dyvisdes de base que englobem as grandes épocas histéricas dominadas pelo mesmo complexo de fenémenos. No interior dessas épocas é neces Fito demurcar tegibes histOrias caracterizadas por situagbes € codiyocs Fe Serer no decorrer de todo 0 periodo, ¢ apenas no decorrer dele. immo interior de cada regido histrica, em primeiro lugar’analisada como tals € preciso observar as entidades politias que oferecem wma ori- 32 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 ginalidade suficiente. Tendo em conta estes principios, poder-se-iam dis: tinguir as fases seguintes: ey As eivilizagSes paleoliticas caracterizadas por um leadership incon testivel da Africa. TS K revolucio neolftica ¢ as suas consequéncias (desenvolvimento demogrifive, migragSes, ete). TEA revolugio dos metas ou a passagem dos clis a reinos ¢ impé- rios. “4° Os séculos de reajustamento: primeiros contactos curopeuss trifico de eseravos ¢ stias consequéncias (séculos xv-x14), vee A ocupagio curopeia e a8 reacgdes afficanas até 20 movimento de libertagio apés a segunda guerra mundial. 6°. A independéncia e 0s seus problemas, $ bem evidente que nunca, existe uma separagdo perfeitamente nitida ¢ que nem todas as regides de ‘Africa entram ao mesmo ritmo em cada um dates periodos, Mas © cenirio geral nfo deixa de ser este. Eee divicio tem a vantagem de pér em realce-os principais elementos spotores de olga humana, ou aja, os fictots sodewusiiees prin razio que 2s grandes viragens nio podem ser assinaladas pelos Eapios marcos cronologicn em que a data Bede ‘tual leva Aine flings de capitulo em cettos compéndios excolares. De resto, ainda que sen lsene ulzar datas precisa, iso seria 25 mais das vezes impose, SAE dizer, por esse motivo, que seja impossivel escrever uma his Borla da Africa, em que se tenham de fazer tantas histérias quantas a5 regides com ritmo de evolucio diferente, Nio se cicreveram. histérias BE Buropa quando, por exemplo, a revolugio industrial em Inglaterra precede por vezes de um século a sua chegada 2 Europa meridions © Preeed Als, mesmo no interior de cada pals ndo se véem ritmos his- cenrra’’ spsolttamente diferentes? Nao acederam certas regidee 4 vida modema um ou dois séculos depois de outras? ‘Poder-se-d0 assim distinguir como grandes regides os paises da Africa acid eee Kanem, subdividindo talvez os pases da sayana ¢ os da Senetts os palses da Africa do Norte, da Africa oriental, da Africa central cols Africa do Sul. No entanto, deve-se sublinhar de forma bem clara que se trata apenas de divisSes, digamos, operacionais, metodolégicss, pare Jor comodidade. Com eftito, as relagbes que uniram fortemente todas Thins parts integrantes sfo suficientes, apes dos obsticuos naturals e do nivel mediocre das téeneas de deslocagéo, para. que se pow, afirmar que em havido, desde a pré-hist6ria, uma certa solidariedade hist6rica conti- rental entre o Vale do Nilo © o Sudio até & floresta guincen: mesmo vale ¢ a Africa oriental, com, entre outras coisas, Twos; entre 0 Sudio a Africa central pela difspora dos Bantos; entre ‘a Africa central ¢ a Aftica oriental pelo comércio ‘transcontinental, etc. 33 BU-u—3 JOSEPH KI-ZERBO Houve trocas interafticanas que constituem um puzzle apaixonante ¢ 7 cxplicam as-analogias surpreendentes que se verifcam através do conti-” nente do ponto de vss das estruturas politicas e das culzuras materiais fou aristicas. ©) A CONCEPGAO DA HISTORIA A ia concepgio da hist6ria deve ser discutida a ito da Africa. Com frequéncia se disse que a histéria é uma ate que os ‘Aficanos nao deviam fazer dela uma paixio, Esta distingio é eminente- ‘mente pobie no seu esquematismo, A hist6ria é uma ciéncia humana que fanda iuprocura de um certo grau de certeza chamada moral ou de proba~ filidad? que Ihe permita reconstituir e explicar 0 passido do homem. (A histéria é uma verdadeira ciéncia, ¢ nfo apenas uma spequena eiéncia conjecturals, Mas.» histéria nfo é apenas cigncia. Seria, inconsciéncia ow hhipocrisia pretendé-lo, porque, mesmo nas ciéncias chamadas exactas, pecdade permancce relativa. © destino do homem consiste em procurar 3 Neldade fem se aproximar o mais possivel deste ideal, Mas aqueles que pretendem ser cientistas ¢ que olham para 4 histéria como um, Iiquido incolor, inodoro e sem sabor, de laboratério, em ver de a reconhecerem ‘tomo tim Ho vivo, aqueles que, porque alinharam alguns silogismos basea~ Gos em cettas descobertas esparsas, falam sobranceiramente de. ciéncia, ‘ou so ingénuos ou. Imaginam abragar a musa Clio, quando Spenas_manipulam uma miragem descarnada. Os melhores hitonndores tEconhecem também que set historiador é escolher o seu tema, os seus Centros de documentacio, as suas fontes, 08 scus argumentos, a sun apre- Sentagio, 0 seu estilo... ¢ 0 seu publico. Todos estes [actorcs de cleigfo, aaeptar com a forsa violenta e obscura do subconsciente ¢ com 0 peso Sipil do ambiente social e dos. preconccitos, mostram, bem a parte de Subjectividade do trabalho hiseSico. A partir do momento em que ctcolhe seedos estes escal6es, 0 historiador procura nfo somente a Verdade, mas dambém a «sug» verdade, Foi por essa razio que os maiores historiadores sempre omen partido nos seus livros, como na sua vida. O grande Drak. Mare Bloch, fuzlado pelos nazis, 6 um excmplo entre muitos outros, ‘No entanto, iso no significa que o historiador deva cultivar o papel de focnscedor de atmas para as querclas ¢ as guerras dos nossos dias. Relembrar os crimes ¢ a cago dos nazis como se faz nos compéndios Mads tem de antiiswéxico. Pelo contrério. E o historiador deve pér inte Higéncia, mas também determinasio, nesta dentincis. Nao deve equiibrar deutamente os argumentos pré ¢ contra c deixar 0 seu leitor, como © ‘burro de Buridan, perante uma crucl ¢ mortal altemativa. Nao se escon- derd por detrés de uma “éneia exacta para alinhar factos fridos sem significado, pois um robot poderia fazer melhor. Perante acontecimentos 34 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 desta envergaduta, nfo se'pode quedar neutro, pois & entfo, 20 mesmo tempo, testemnha do eis iiftsunls dé homem. © historiador wre Mftica, sem aer um mercador de 6dio, deve dar 8 opressio do tréfico Ge scravos e 4 exploragio imperialista 0 lugar que clas realmente ocupac ee ete evolugdo do continents ¢ que tantas veres e tio habilments é Tainimizado. por certos historiadores europeus, com resultados tersiveis pam 2 mentilidade dos jovens afranos que nics bancos das escola #¢ Hlimentaram. destes manjares envenenados. ‘Quando um general romano. manda executar o seu filho por raze Jplina pro pati, levacs iso & conta de herofsmo patriético. Quando rochdeda mesma mancira, clama-se que é barbirie..O resultado Seo'feasds como estas que encontrei em dois tergos dos exercicios de alunos Sfoicanos em 3964: «Samori era um homem sem f€ nem lei, um sangul> aren Pelismente, foi eliminado pelos Franceses» Onde aprenderam eles ado isto? Nos livros escritos por. gente que considera a hist6ria como uma WSencie, Nem robot nem visiondrio propulsando no passado cendrios extraf- joe do seu proprio subconsciente, o historiador é mais simplesmente um ‘da realidade passada. [sto significa que deve estar bem equi~ rte e ser portador de uma chama que ilumine e — porque nao! — aloe também ao resultado da sua pesquisa. A histria é uma maré ia Gfun, Nio nos podemos inclinar sobre ela como sobre wm insecto nm Miseu, nem como umn guimico sobre as suas retortas. O historiador no Film computador que digira as datas do radiocarbono numa sala islada ‘ic todg a pocira exterior, Com efeito, até mesmo as datas do radiocat= bono devem ser interpretadas. ‘Por outro lado, é claro que 0 historiador jé ndo pode falar da Africa como falava no tempo da rainha Vit6ria ou de Jules Ferry. Porqué? Bor Ge este passado € um pedago da Africa viva, que mucou muito desde o Selo aux, e também porque nem. conhecimento mais profundo deste Nottmente, nem as mentalidades agora mais exclarecidas, 0 tolefariam, O historiador da Aftica nio. se pode, evidentemente, tomar tum simples fimcondrio do Ministério da Informagio ou da Propaganda. TRexide af justamente a grandeza e 0 papel dificil do historiador, que deve simultanicamente participar’no seu tempo © na sua comunidade ¢ cere cia distincia necassria pata conservar 0, seu papel de testemunba, "O historiador afticano empregard os mesmos métodos que os seus colegas de todos os paises. & a esse titilo que asta matéria pode ser tratada por todos os homens de boa vontade, venham eles donde vier, Mas Por ahecerso-l que, cmbore aeja normal que se exerca a assstencia tée— ae dominic, das barragens ¢ das estradas, anormal seria que ela se Impose na definigio ena dedsfo do plano de desenvolvimento rar) ‘Por outro lado, embora seja necessério o concurso de todos os cientistas para produsic monografas e mesmo extudos gerais sobre 2 hiséria de 38 JOSEPH KI-ZERBO fica, deve'a interpretagio geral desse passado e a preparacio dos com- poe de hia Er Affies para uso dos jovenscidabtosaffcanos incem= ic, antes de mais nada, a historiadores africanos. Estes tém vocagio para ceducar os seus concidadios. Talvez ‘mesmo trazer alguns enrique- cimentos & ciéncia histérica universal pela metodologia da investigagio ¢ da exposigio. Hi, com efit, no método de exposigio histérica, cm Africa, um modo de proceder’que dé a narrativa um papel de primeira mndeza. Os bisroriabores aftcanos, por muito recoreridos que este- jam aos seus mestres de Oxford, da Sorbonne, dos Estados Unidos, da 'U.R.S.S., etc., nfo devem pura ¢ simplesmente reeditar nos trdpicos agueles augustos modelos. No plano pritico impde-se-thes uma accio de salvagio pablica, a eles e a todos quantos querem ajudar a Aftica ¢ {que estZo convencidos de que um povo no pode verdadeiramente enfren= tar o seu futuro sem ter uma visio do seu préprio pasado, Nio se pode viver com a meméria dos outros. Ora a histéria ¢ a meméria colectiva dos poyos. Xie, porém, preocupada com 0 problema do su desenvolvimento, nfo te ocups muito em ressuscitar 0 seu patsado. Ax desperse neste sector so consideradas um luxo. E, contudo, 0 conhecimento da histéria afri- cana deve ser olhado como uma parte integrante do desenvolvimento, mesmo econdmico. Com efeito, como pedir a um camponés que aumente a produtividade ¢ que se lance na batalha econémica, se nio sabe, pelo menos sumariamente, 0 que est em causa? Para alguém se sentir empe- nhado na construcio do futuro é preciso que se sinta herdeiro de um pas~ sado, Importa pois que o homem de Estado africano se interesse pela ie tbria como parte essencial do patriménio nacional que cle deve geric. Sentimo-nos tremer quando pensamos que numerosas pessoas se vio reunir em Adis Abeba ou no Caito ¢ encontrar etfopes e egipcios sem conhe- cerem absolutamente nada da histéria destes paises, a ndo ser talvez a res- peito dos acontecimentos dos dois ditimos decénios. Apessr das afirma- (bes de fraternidade, sfo estranhos que se encontram. A unidade africana pressupbe 0 conhecimento de toda a Africa por todos os afticanos. i pata isso é necessério que haja historiadores ¢ bons historiadores afvicanos. Ora é imposstvel havé-los se, desde a escola priméria ¢ socun dicia, os jovens no tm nas mios compéndios de hist6ria africana. Cinco anos ap6s a independéncia, os cursos secundérios de certos pafses africanos contindavam a utilizar os mesmos livros de histéria do tempo da colo- nizagio, livros nos quais nada se dizia sobre o passado da Africa. Viu-se mesmo num destes paises um investigador de um pafs superdesen- vvolvido propor-se para escrever a histria nacional. Sio desenraizados que se continuam assim a preparar para tomat nas suas maos os destinos deste continente. Com certeza que serio precisos brain-trusts de investigadores, poderosas casas editoras, mercados bastante vastos, pata centralizar c jus- 36 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 tificar todo este esforgo. Mas os auxilios intemacionais, multilaterais ou bilaterais, no faltariam, sem divida, se os paises afticanos propuscssem, todos juntos, um plano pormenorizado, racional ¢ razodvel de salvamento ¢ de renascimento do seu passado. Porque cada dia que passa vé desapare- cer testemunhas preciosas. Cada velho que morte leva para a Sepultura jum pedaco das antigas feigdes deste continente. No decorrer de férias cescolarcs tive ocasizo de ouvit uur deles cantar um trecho que uma guer~ reira africana de renome entoara diante dos muros da sua aldcia a0 ver recuar os homens, antes de tomar ela propria o comando das operagdes. Era um canto épico, de rude beleza. Como nfo tinha entfo magnetofone, prometi a mim mesmo que o levaria nas férias seguintes. Dois anos depois edi noticias do meu velho informador. Disseram-me que morrera. Antes que seja demasiado taide, devem constituir-se grupos de trabalho para reunirem 0 mdximo de vestigios deste passado afticano. Devem cons truit-se muscus, devem ser promulgadas leis em todos os pafses, como se fez na Nigéria ¢ noutros, para proteccio dos locais e dos objectos. Devem ser concedidas bolsas a numerosos estudantes para se especializarem nas tdenieas da arquenlogia. Ox programas « or diplomas devem ser reformar dos de tal maneira que um diploma em asstntos africanos (lingufstica, histi, antropologia}deixe de ser olhado como um sanudos de Segunda cordem, Torna-se necessirio que sejam rapidamente preparados compén- dios. £ claro, como se sabe, que para um dia de sintve 30 indispensl vis anos de andlise, Ea sintese nao esté ainda talvez madura cm numerosos sectores. Mas, como, de qualquer maneira, nunca se encontra definitiva- mente adguitida, podem-se fazer sinteses provis6rias para as geragdes que ascendem. © ardor nacional baseado no conhecimento do passado aftieano nfo pode ser detido porque determinado arquedlogo hesita ainda num dos doze parimetros que lhe permita pronunciar-se sobre a «raga» de um erfnio pré-histérico, nem pelos escripulos de um linguista que procura ‘uma versio suplementar antes de se. pronunciar sobre o sentido exacto da palavea zany Para mais, nfo & 0 passado aos retalhos ¢ demasiado especializado das monografias, no entanto necessérias, mas quase sempre inacessfvcis 20 piiblico, que pe'mitird 3 massa dos Africanos ter uma visio de con- Junto do seu passado colectivo. ate taballisqigantescoT igo! w| pode cfeciuarunicamcons 90] ql dro das fronteiras da Conferéncia de Berlim, que € um momento capi- tal, mas um momento apenas na hist6ria da Africa, Por miltiplas razdes, deve este trabalho ser levado a cabo num plano continental. Devers ser empreendido com espirito cientifico, porque existem suficientes grandes coisas nesta histOria para que scjam necessirias invengSes scm funda- mento. a7 JOSEPH KI-ZERBO A histéria africana deve ser uma fonte de inspiragio para as novas geragdes, para os politicos, os poetas, os escritores, os homens de teatro, (05 miisicos, os cientistas em todos os campos ¢ também simplesmente para ‘0 homem ‘da rua. O que impressiona nos paises curopeus é este auto- investimento continuo do passado no presente. Nao € quebrada a conti~ nuidade, Os homens politicos citam ot autores do séeulo xvt, ou mesmo (05 escritores greco-latinos. O nome dos avides ressuscita as. realizagdes do pasado: crave fate, ete, Ot mavios ot bats fasem reviver 2» grandes figuras ou batalhas hist6ricas: Richelieu, Pasteur, Jlio Verne, Trafalger, etc. Da mesma maneira, o historiador da Africa, trazendo vida 0 pasado deste continente, cria um capital espiritual que constituiré ‘uma fonte multiforme ¢ permanente de inspiragio. O sacrificio de Aura Poku, fundando o povo baulé, animaré romancistas ¢ dramaturgos. As misérias da escravatura, a tragédia das divisbes que enfraqueceram os pales affcanos, 2 saga tntencial do tervel Chal, eado isto consti tima riqueza inestimdvel. E por tal motivo que a histéria deve ser viva e escrita sobretudo para os jovens, na idade em que a imaginacto constr6i sonhos que moldam as almas pata a vida. E preciso que o jovem afticano fuga piafar ¢ relinchar os cavalos levados pela firia religiosa dos talibés de Usman dan Fodio. £ preciso que respite a atmosfera sufocante dos pordes dos navios negreiros e ouga encapelarem-se & sua volta as vagas o oceano por onde seguem os earregamentos de escravos. E preciso que, através do ticto dos crinios pré-histéricos amontoados, comungue no mistério dos sacrificios humanos. [Nesta tarefa considerivel si0 chamados a colaborar todos os cien- tistas, ¢ nfo apenas 0s historiadores, porque, tendo em conta as dificul- dades especiais da historiografia afficana, s6 0 trabalho interdisciplinar prodiath futon, Todos ests invesigadors fo exortdos 1 emprecndr fuma ferceira descoberta da Africa, este continente tio pouco conhvcido, to desprezado. Apés a descoberta pelos conquistadores do século xv, apés a chegada dos exploradores do século xx, a que se seguiram, nos fois casos, fases muito duras e com frequéncia negativas para a Aftica, tis que surge 0 tempo dos investigadores desinteressados. Para 03 jovens trata-se de um empreendimento to apaixonante como viajar no espagp. Mas este grande designio deverd ser uma obra de pesquisa hunianista fo de conquista opressiva. 'A histtia da Africa nfo seri escrita realmente por frenéticos da rci- vindicagio, Sé-lo-4 ainda menos pelos diletantes sem simpatia, desejosos simplesmente, na melhor das hipéteses, de preencherem os sus lazeres de ehadtos de pies soperdesenvovidn, Serf cia yor alo ‘que tenham posto de lado a libré imperial dos «ivilizadoress para toma- rem a vestimenta mais modesta, mas muito mais bela, do humanista Homens destes sio nossos amigos e, a0 mesmo tempo, amigos da verdade. 38 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 ‘Aos outros dizemos-lhes simplesmente isto: «Nio vos damos consclhos seca totmna de interpret a historia de Cromwell, de Napoleio, de ‘Washington ou de quem quer que seja. No pretendemos que no-los deis sobre a forma de interpretarmos a histéria de Sundjata.s Esta historia sera escrita sobretudo pot afticanos que tenham com- preendido que as glérias como as misérias da Africa, 0s altos ¢ o baixos, Be fastos como os aspectos populares c quotidianos, constituem todo um Conjunto no qual as novas hagSes podem © devem haurir energias espi- rituais © razdes de viver. \ / 39 BIBLIOGRAFIA Buoy, Ma Apolo pour sro le Mate ior, Pais Calin 142 (Edicdo' poreuruesa feagbes Europa-Américn, como titulo Inrdugto Fiindri, cok cater, n° 39) ‘ " Ev-xertant, M. I. ‘TEaziznaseits de YOccident Afticain dans les bibliotheques du Maroo», Hep. “Tam, 9 (1968, pp. 7-83 L:Hlsiteet sts methods, Paris, «Encyclopédie de la Pliader, N. R. F., 1961 uum, L: Py Pour une trade dela toponymie de V4.0. F. Dacar, Faculié des ates, publicaglo da secgao «lingua ineratura, 1957-1. aura, EF. Denk cenies dinfvence méditerrangeane qui-rendent intligible Afrique “Deeldentalen, Bul. Ast S. Geogr. Fr. T/T, 1953. Gu barbie dt Monte Nr Yad Dison ds Aes Co pox IE nan Cui haere, Pi, Colin 196 Hoyons, Ou Document arabes rears 8 Hore di Soudan. Basis, Leroux, Soo aor eee ei par adh San Pa Meroe Fesle KoZemo, Je “Elie et conscience ntaren, Préxence Acute (1D. ti teaditon orale en tnt que source pour histoire atricinen,Dioréne (6), Sulno-Outubro de 1969, pp. 127-102. say Ay Blois gurate Buca, IFAN, CR re contrence salt & TOuest, Mac Catt, F. D., Africa in time perspective. Gahna Univ. Press, 1964. ‘Mac Gnecon, 3.’A., «Some notes on Nsibidin, J. roy. Anthrop. Ins, 39, 1909. Matcou, XX.” On afro American history, Nova Torque, Merit. Publishers, 1967. ‘MannoU, De'la connatssance historique, Paris, Seul, 1954. Massagvot, M., «The Val people and their syllabic writings, J. Afr. Soc., 1911, tr etn Pe 8 kre IE, ore 28 PE yates tides ea Sika Gre date fa fn wae ee Sai on aie eA wasnt Shane ontans” SS Te ele eis ai FU Rn, Se eee ea NOS ARE GEE a So ol tina tn ps ee asin se Aa, Ce a ean cong Aton hovered einen” me Ceo ee ar ee apt 9, soon kas mn ema tr Fhe aos 40 HISTORIA DA AFRICA NEGRA—1 Sauvacet, J., Historiens Arabes, Paris, A. Maisonneuve, 1946 Unesco, L'art de Pecrture. Pais, 198. Fee ope la Tradition ovale, Essai de méthode historique. Tervuren, Musée ‘Royal d'Afrique centrale, 1961 (Mémoires du M. R. A. C.— 36). Vanbioas We Ja MAUNY, R., e THoMas, L. V., The Historian in Tropical Africa, Londies, 1, A. 1, O. U. P. edit, 1964 Winks: Ly aTribal History and Myth, Universitas (2-3), 1956. OBRAS GERAIS. ‘Aaavt, Je Fs An @ Eset, 1, A thousand years of West African History. Weadio, Univ. ress and Nelson, i970. ‘Aursanbae, P.y Langues et langages en Afrique Noire, Paris, Payot, 1972, ‘Aunen, He "Prohitwire de l'Afrique. Paris, N. Boubée, 1955, Tiontde PAfrique Noire. Friburgo, Office du Livre. K Laat Nene. Presence Africaine. i ‘Ants pe UAPugue Nome Akont, Car, Llslam nor. Paris, Geuthner, 1924 ‘Assneitt, O., L’Afrique polyglotte. Paris, Payot, 1950. ASOT ADIKO, € CLERICH, Aw Histoire des Peuples Noirs. CEDA, 1963 i Raunt, A, a Islam in Africa, Its effects, religious, ethical and social, Nova Torque, Gi. bulman sons, 1899. BaLanbitk, G., Sociologie actuelle de Afrique Noire. Paris, P. U. F. FaenetER, Gye MaQueT, J}, Dictionnaire des civilisations afriaines. Patis, Hazan, 1988, i BaTrEN,T. R., Tropical Africa in world history. Londres, O. U: P. edi, 1962: | BAULIN, J. The Arab role in Africa. Londres, Penguin Books, 1962. Batuakae Westexuann, Les peuples ef les civilisations de I Afrique, seguido de “Les langues et 1 Education. Trad. franc. Paris, Payot, 1967, [BLANchoo, Fp Les maurs ranges de 'Afrique Noire, Vausana, Payot, 1948, Buypex, Dr. E. W. ‘Chnlstaniy, Islam and the Negro race. Londres, W. B, Wittingham, 1887, West Africa before Europe. 1908, omit, MA, Weasten, J. B., The Growth of African Civilization. West Africa ince! 1800. Lenamane, 1970, Boric, M., Theorie general des coutumes afrcaines. Toulouse, 1953, tese de Direlto ‘roneo). CARDAIRE, “Contribution a (étude de U'Islam noir, Duala, FAN, 1949. islam et le terroir afrieain. Daca, IFAN, 1954 Consein INTERNATIONAL DES ARCHIVES. Guide des sources de I'Histoire de l'Afrique Pvcls, Inter Documentation Company AG. ZUG-Switverland, Conton. W.F, Weet Africa in History. Londres, George Allen and Unwin Coon, C. 8, The origin of Races. Nova Torque, Knopf, 1963. The living Races of Man. Nova torque, Knopf, Cornevin, R. "Mavoire des peuples de l'Afrique Noire, Paris, Berger Levrault, 1960. Histoire de F ajrique. Patis, Payot, 1964. Histoire de U'Afrique. Paris, Payot, 1966 (t. 1); 1967 (t. 0). ‘Cassono, 5. M., Histoire de I Afrique Occidentale. Paris, Prés. Aftic., 1967, 965. 4 JOSEPH Kl-ZERBO eu: Mire apigce, Far, BU. F196. Ihe gromh of dean Chto Fable Chiiaton: Weit Aico ongmans i gah Gd t Afea (100-1800). Longmans, 1966 Aftean Glory. Walker and Co., Nova Tongue, 195, African Empires of the Past, Paris, Prés. Aftic., 1957. Desctnams, ‘L'Afrique Tropicale aux XVII"-XVIII° siéeles. Paris, C. D. U., 1964. Ldfite Nobe Pricooate, BU. F163. Hiaore genre de aftoue Nore or cols). P. U.F, 1970, 2 tomes skegardl sur Patriquen Diotne (9), 1962, Dior, € Aue Unt care de Afigue Notre: ris Afri. 1958 Duuavosm, Ton ence Niger. Pats, Larose, 1912 @. 1 2 € 9 Len Noirs de afin Pas, Pay, 1927. {es Chilsatons ntro-afteaine, Paris, Stock, 195, 1s Peonats B,P, Manel sienifue de Afro Note Paris, Payot, 19 Bovant Choco of can Troat Consres 0-0: Pcie, 2 Bu Bos, W. © The sous of Block Folk, Mac Chir, 1903. Fic Fen nd vo Nova org Hol, 944, Exosn,G-Muslnsgns of royalty in West Aticay 14 Se, 4 16 de Julho de 190 Elna. O07 La nae dr Soh contaner fica Manchester Ua. Bet, 30 1956, trad. Prés, Afric. * Exaoron, E The sultre of Aca, Thames and Hudson, 1958 Faoe, 3. tn baroducton tothe Hiory of West Africa, Cambridge ("e982 ‘tn ales of freon History. Loess, dw: Aono, 1985. Fan, Wa Selves fries, Par Hazan, 19862 vols) Fonot, Dy ican Words, 0.0. Pe, 1954 Fong bi. Evans Pacman, Ahan Pol Sates, Londres. . Pei Fronts, L. Tore dla civlaaonAfregine, Pais, Gallimard, 1982 The votes of dren, Londen Sena Bison, 131 Mttolope eV aot. Pris, Payor, 199 Frou d.C “Gnimtines, Pais Edt, de TOrate, 1964, ee misalnane Apis Nowe, Fai, eit, de FOr Govt Au Elan dant 4.0, F, Pais, tarose, 1952 «Etude sur fa classification des langues africaines», BIFAN, B, xt, 1954 Guenniee, F., L'apport de U Afrique a la pensée humaine. Paris, Payot, 1952 Hate, PoE H., A Misiary af Weet Afrien Londres, Faward Arnold, 1989 Hanoy, G., Vae générale de Histoire de "Afrique, Pacis, A. Colin, 1923 Hersxovrrs, M. ‘he culture areas of Attica», Africa, 3 (1), 1930. The Human factor in changing Africa. Nova Torque, 1963. The economic life of primitive peoples, Nova Torque © Londres, Aknopf, 1940. 42 HISTORIA DA AFRICA NEGRA Hoxmuacer, J. P. "Les lanpies négrowafricaines. Paris, Payot, 1941. ‘Le verbe en Peul et en Masair, Anthropol, 46, 1936. ‘aEléments dravidiens en Peub», J. Soc. Afr. 18 (2), 1948-1950. {Le Bantou et le Mandé», Bull. Soe. Ling., 138, 43. les Diatectes copte et mandén, Bul, Soc. Ling. 3 (1), 1930. Hina, J ‘Deliny Afriky (Hist. de UAfrique), Praga, 1966, 2 vols. Bisoiee de F Afiique au XIX® siete et au début du XX° siéele. Moscovo, Institut ‘Att, de TURSS, 1967, 1, A. international African Institute), Handbook of African Languages, 1948-1967. Jann Jy Munn, am outline of neo-African culture. Londres, Faber and Faber, 1961 Joos, C.D. ‘Bréve Histoire de l'Afrique Noire, Paris, Edit. du Chéne, 1963 (reed), Brose Histoire contemporaine de Afrique Noire. Edit. Saint-Paul, 1964, JULIEN, CH. A. Histoire de Afrique. Paris, P. U. F., 1941 Histoire de Afrique du Nord. Payo', 1964, 2 vols. Juutts, CH. A., Bounotn, Crouzer © RENoUvIN, Les politiques d'expansion impé- Tialite. Patis, P. U. Fy, 1949, reraphtca Afric et Aegypti. Cairo, 1926-1951, $ tomes, G. W., Africa South of the Sahara, Cambridge Univ. Press, 1967. 2 Monde Africain Noir. Paris, Hatier, 1968 A vaLexico statistics s0 far», in Current Anthropology, t. 1 de Janeiro ‘de 1960, pp. 44 Lanourer, Hoe Histoire des Noirs d'Afrique. Patis, P. U. F., 1980. Lavoe, J, Les Aras de [Afrique Noire. Paris, «Le Livre de poche», 1966. Lavaciutny, Hs Statuaire de Afrique Noire. Neuchatel, Edit. de ta Baconniére, 1954, Lesnou, Dr. G., Le Noir d'Afrique. Raciologe. Paris, Payot, 1943, Leis, Mas Les négres Afrique et les arts seulpturaicx. Paris, Us N. E. 8. C. Oxy 1983, Leinis, M., € DetaNor, J., Afriwe Noire. La eréation plastique. Paris, Gallimard, 1961, Lenin, V. 1. 0., Lipéviatisme, stade supréme du capitalise. Pari, Edit. Sociales, 1945, LenZincer, L Afraue, Liat des peuples noirs. Paris, Albin Michel, 1962. Lupo, P. C., Africa in Social Change. «Penguin books», 1967 Matinovsin, Bi, Methods of study of eulture contact in Aftica. Londres, O. U. P. “edit, 1938, Maguer, J es cvilisaions noives. Paris, «Marabout», 1982 “Africanite tracltionnelle 6t moderne. Prés.. Ai Manwot, L. DE, L'Afrique, Paris 1967. Trad. por N. P. d’Ablancourt Maunies, R., Sociologie coloniale, Domat-Montchrétien, 1932, Maury, R, ‘Tableou eéveraphique de ("Ouest Afrieain an Moyen Ace. Dacar, IWAN, 1961, Les sieles obseurs de F Afrique Noire. Pati, ayardy 1971 Munnar, E. G., an Introduction to the phonology of the Banty Languages Mevsten, O. Car L'Afrique Noire. Paris, E. Flammarion, 1914 Monet, V., L'lsiam noir. Paris, Seuil, 1964 e 1970. Mouttn, A.. LAffigue o travers les dges. Paris, Ollendo{, 1919 43 JOSEPH KLZERBO ont He ti Cs pa, MT He toe ts oe, Muxarovsxy, H., L'Afrique d’hier et daujourd’hui. Paris, Casterman, 1964. wR ry PERI nnn nt Se lec Ook Eat, ty, Lins nt of mar, Hi, ta ee Radon en Moy, oe R., ¢ Fagt, M, D., A Short history of Africa, «Penguin books», 1962. ..€ Atmort, Africa since 1800. Cambridge Univ. Press, 1967. The ‘African, His Antecedents, his genius and his destiny. The African Publicas ‘tion Society, 1967. ‘The forgotten great Africans 3000 B. C. 10 A. D. 1959. 1965. ‘«Panafricanisme ou communisme’s, Présence Africaine, 14 La Religion en Afrique Occidentale. U. C., Ioadio. ‘Les sculptures de V Afrique Noire. Pavis, P. U. F., 1956. Les civilisations afticaines, Paris, P. U. F., 1960, Parures africaines. Hachette, 1936. Prry DE THOZEE, CH., Théorles de la colonisation au XIX® sidele et rile de I Etat dans le développement. Bruxelas, Imp. de Hayez, 1902. PeyROUTON, M., Histoire générale du Maghreb. Patis, Albin Michel, 1966. Pugeotés De 1A’ Cow, Relation universelle de I'Afrique anclenne et 'maderne. Lito, ‘T, _Amaulry, 1688, 4 tomos. Pas, Sin A., The financlal and economic History of the African Tropical territories ©. U. Bi, 1940. ‘Ouver, Ouvan, sant Negron, ‘SHioumuge & Richard Molard (13), 1933. “Le teaval en Afrique>. sd" et 2 Congres des Ecrivains et Artistes Négres,Paris-Rome Rapcurre-Brown © D. FORDE, Sysiémes familiaux e1 matrinoniaux en Afrgue Paris, P. U. F. RAINIO, R, Stora del? Aria del epoca cola a ge. Tari, 1966, vuimAub, J.B. Des rapports de ia laague yorouba avec la langue dela famille trundle, Bul. Soe. Ling (0), 1897. me RicHARD-MOLARD, L'A. 0. F. Pars, Berger-Levrault, 1949, Roraena, I. R., Poltical history of Tropeal africa. 0. U.P. edit. 1963 Roussead, My ntrodution d Ta comaisrance de Prt prise. 0. U. P. cit. 1963 Rayeumes africans (Les). Col «Les grandes époques de Thome) Russer Wannsn, HL, Black Arica. New African Library, 1967 ScuNELL, R., Planies alimentaires et agricole de "Afrique Noire, Pats, Larose, 1957. ‘Suaw, A. T., The study of Africa's Past, Londres, 1946. ‘Sumwaue, M., Ancient African Kingdoms. Edward Arnold, 1968. Staamerots, W., Déjiy Kolniatismy (Histoire du Colonialsme). Praga, Ortis, “4 HISTORIA DA AFRICA NEGRA— SuRET-CANALt, J “Afrique Noire Occidentale et Centrale. L'ére coloniale 1900-1945. Edit. Sociales, 1964, Ldfrigue Noire. Paris, 1988 (col. aLa Culture et les Hommes») Tostpiuas, RM (Mg2). L’Aveme mur dans Egle. Paris, Prés, Afric. 1963 Temas, R. P, P.. La philosophie bancoue. Paris, Pres. Airic., 1965, 3" 6d. Tennis, An. L'djpique de POuest, bereeou de Part négre. Tutte, A., Les Arts de Afrique, Arthavsd TRIMINGHAN, S.J A history of Tolam in West Africa. O. U.P. edit, 1962 ‘ Vattois, HV. ‘Les Races humaines. Paris, P. U. Fa. 1948. ‘Race et Racismen. Conf. UNESCO Moscovo-Paris. L'Anthropo..t. 69, 1965, ‘a 162, VAN Overnenom, C., Les négres d'Afrique, Geogr. Humaine. Bruxclas, 1913. H W.E.F,, A history of Africa. Londres, Ruskin House, 1960, t.'. , CL.) L'Afrique des Africains. Invencaire de la Négritude. Paris, Seuil, i Westenwann, D., Noirs et Blancs en Afrique, Paris, Payot, 1937. Wironer, D.'L.,"L'Afrique Notre avant la colonisation. Nouveax Horizons, 1962. Zuonen, FE. ‘A History of domesticated animals. Londres, Hutchinson, 1968. Dating the past. An introduction to Geochronology. Londres, Methuen, 1946. ZwourR, J ‘Sociolagie de la Nowelle Afrique. Paris, Gallimard, 1964 The study of Africa. Londres, brochura da Universidade, Methuen, 1967 Tradition et modernisme en Afrique Noire. Paris, Seuil, 1965. REVISTAS Afrika (Munique. ‘Africa Annual Survey and Documents .° 1, 1969 (C. Legum ¢ J. Drysdale). ‘Africa. Orgio do International African Institute (I. A. .) (Londres). t ‘Aprica und Ubersee (Harsbure0), ‘African Abstracts African Affairs } ‘African Studies Bulletin (Universidade de Béston), African Studies Ballerin (Nova Tora). ‘Afrique contemporaine (Pati). Bulletin de UInstitar Fondamental d’ Afrique Noire (BIFAN) (Daca), Ghana’ Notes and Queries (Acra). Journal de la Socité des Africanistes (Pais ournal of the Historical Society of ‘Nigeria (bad). Touma of the Royal Anthropological Institute ‘Tournal of the Schoo! of Orlental and African Studies. Journal of Negro History (E. U. A), Les Cahiers d'Outre-Mer (Bordéus). Man. ‘Notes Africaines (N. A.) (Dacat). Od (badio). Présence Aficaine (Pati) Publicagées dos Institutes of African Studies de Legon, Acra e Tbadio. Sierra Leone Studies (Freetown). eo JOSEPH KE-ZERBO Tanganyika Notes and Records (Dar es-Salam). The Jounal of African History (Lontres). ‘The Uganda Journal (U. J. Kampala). Transactions of the Historical Society of Ghana (Acra). Transactions of the Kenya Historical Society (Nairobi). Garcia Cs West Africa (Lonétes) Journal of African Hisiory (Cambridge). 46 1 __ A pré-histéria. A Africa, patria do homem L TRODUGAO Em Africa, mais do que em qualquer outra parte, caminhamos sobre © nosso passado, A maior parte da hist6ria africana estd enterrada c, para intexrogar seriamente 0 passado deste continente, € preciso procurar absixo da terra, Mas no se deve ir i sem guia nem desordenadamente, porqui «quando nio se sabe o que se procura, nao se compreende o que se encontray, A arqucologia e a paleontologia afticanas adquiriram jé as suas cartas de nobreza ¢ contribuftam largamente para o progresso geral destas duas contologia humana estuda os restos ésseos dos seres humanos clasdadot pels amnrepologis. Os restos leases conssem em etinion ieletos compl parciais, associados ou nio a detritos ou sinais de flora © de fauna. £ por isso que 2 paleontologia animal ‘mento normal da paleontologia humana, pois os restos de midos servem para revelar o regime aliscutar dus huscus pro © até para datar a sua existencia. Quanto 4 arqueologia pré-hist6rica, cla ‘studa codos 05 vestigios da actividade humana: cinzss, armas, restos de habitat, utcnsflios de pedra, de ossos ou de tartaruga, objectos artisticos, etc. Apesar dos resultados espectaculares jd aleangados, a Africa pré-histérica apenas revelou até agora uma infima parte dos seus tesoutos. Muito raros sio os paises afticanos que tém um programa de escavagdes sistemiticas, Nestas condigdes, devem estar sempre presentes no espirito os princfpios seguintes @ A partir de alguns vestigios esparsos é arriscado esbocar um quadro coerente da pré-histria africana @ A partir de alguns oss0s ou fragmentos de oss0s devemo-nos abster de nos pronunciar definitivamente por extrapolagio sobre 0 conjunto do exgueleto ausente ¢, sobretudo, de Ihe determinar a «raga. Isto porque io inecessitios outros elementos de ordem socicconémica, climética ou biolégica para situar correctamente esses vestigios a

Você também pode gostar