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DO PÓS-MODERNO
EM MÚSICA
A incredulidade nas
metanarrativas e o saber
musical contemporâneo
JOÃO PAULO COSTA DO NASCIMENTO
ABORDAGENS DO
PÓS-MODERNO EM
MÚSICA
CONSELHO EDITORIAL ACADÊMICO
Responsável pela publicação desta obra
Gisela G. P. Nogueira
Martha Herr
ABORDAGENS DO
PÓS-MODERNO EM
MÚSICA
A INCREDULIDADE NAS
METANARRATIVAS E O SABER
MUSICAL CONTEMPORÂNEO
© 2010 Editora UNESP
Cultura Acadêmica
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N195a
Nascimento, João Paulo Costa do
Abordagens do pós-moderno em música: a incredulidade nas
metanarrativas e o saber musical contemporâneo / João Paulo Costa do
Nascimento. - São Paulo : Cultura Acadêmica, 2011.
il.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7983-098-3
1. Lyotard, Jean-François, 1924-. 2. Pós-modernismo. 3. Música -
Filosofia e crítica. 4. Música e sociedade. 5. Música - História e crítica.
I. Título.
Editora afiliada:
AGRADECIMENTOS
Introdução 9
Contexto 21
A especificidade de Jean-François Lyotard 23
Sociedade pós-industrial e cultura pós-moderna 25
O vínculo social e o vínculo do conhecimento 29
Pragmática do saber narrativo e pragmática do saber
científico 34
As metanarrativas de legitimação 38
A deslegitimação 45
A legitimação da ciência pós-moderna 50
O sublime pós-moderno e a paralogia 56
tários sobre música e pós-modernismo. Porém, essas passagens não são sufi-
cientes para um detalhamento dessas relações. Elas contribuem para a monta-
gem de uma paisagem artística da então recém-lançada noção de pós-moder-
nismo e não como um exame específico de suas relações mais profundas com a
música. Esse é o caso, por exemplo, de algumas passagens de Ihab Hassan so-
bre John Cage (Hassan, 1981, p.34; 1971, p.12-20).
5 Consideramos esse termo como qualquer manifestação musical que se deno-
mine música clássica ocidental, música erudita ou música contemporânea, desde
que entendida como herdeira das tradições de sala de concerto.
6 Como exemplo desse tipo de enfoque sobre música e pós-modernismo, pode-
mos citar Music as symbol, music as simulacrum: postmodern, pre-modern, and
modern aesthetics in subcultural popular musics (Música como símbolo, música
como simulacro: estética pós-moderna, pré-moderna e moderna nas músicas
populares das subculturas), de Peter Manuel. Algumas passagens dos textos de
Susan McClary e de Júlio López também se dedicam a esse tipo de abordagem;
porém, são significativos seus comentários referentes à música de concerto.
ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA 17
Contexto
Este estudo tem por objetivo a condição do saber nas sociedades mais
desenvolvidas. Decidiu-se nomeá-la “pós-moderna”. A palavra está em
uso no continente americano, na escrita de sociólogos e críticos. Ela de-
signa o estado da cultura após as transformações que afetaram a regra
dos jogos da ciência, da literatura e das artes a partir do fim do século
XIX. Essas transformações serão situadas aqui relativamente à crise das
narrativas. (2003, p.11)
Desde antes de seu nascimento, nem que seja pelo nome que lhe
dão, a criança humana está já situada como referente da história que seu
meio conta e em relação à qual ela terá mais tarde de se afastar [...] a
questão do vínculo social, enquanto questão, é um jogo de linguagem, o
da interrogação, que posiciona imediatamente aquele que a coloca, aque-
le a quem ela se dirige, e o referente que ela interroga – esta questão é já,
por isso, o vínculo social. (Lyotard, 2003, p.42)
E Malpas o interpreta:
As metanarrativas de legitimação
4 Essa separação kantiana será retomada e analisada por Lyotard em Lições sobre
a analítica do sublime (1993). Nessa obra, tal separação contribui para a formu-
lação de uma estética guiada pela distinção entre o sentimento de belo e o senti-
mento de sublime. Apesar de propor superações em relação à filosofia kantiana,
torna-se explícito na obra de Lyotard o seu vínculo mais significativo com a
filosofia de Kant quando comparada com a filosofia de Hegel. Isso desman-
charia uma possível impressão de que o comentário de Lyotard a respeito da
formulação máxima das metanarrativas na filosofia hegeliana apontaria uma
ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA 41
ro, mas (2) em uma análise cerrada, contradições emergem nele que,
quando trabalhado exaustivamente, resulta (3) em um mais alto con-
ceito que inclui ambos o original e sua contradição. Isso significa que o
conhecimento está constantemente em progresso. A meta do conheci-
mento é o que Hegel denomina o “Absoluto”. (2003, p.26)
A deslegitimação
5 Lyotard utiliza uma comparação realizada por Wittgenstein para mostrar a ina-
bilidade da linguagem na captação de seu referente. A prova dessa inabilidade é
o surgimento ou proliferação, no século XX, de diversos códigos de notação mais
distantes dos códigos de linguagem verbal (linguagens-máquina, a linguagem
do código genético, as matrizes das teorias dos jogos, os grafos das estruturas
fonológicas, as notações das lógicas não denotativas – temporais, deônticas,
modais –, dentre outras). Em um primeiro momento, essas novas possibilidades
poderiam fornecer a impressão de uma maior capacidade de apreensão da natu-
reza por meio de lógicas e linguagens não verbais. Talvez elas revelem, como
tendência de época, uma tentativa de suprir a dificuldade da ciência em apreen-
der seu objeto, fornecendo outros tipos de códigos que pareçam mais imediatos
na representação e descrição dos fenômenos. Com o devido afastamento de tal
posição, Lyotard se empenha em mostrar como essa proliferação das lógicas dos
conhecimentos particulares está vinculada a um primeiro momento do contexto
de deslegitimação da ciência. A isso ele dá o nome de nostalgia da unidade das
narrativas (p.86) e sobre isso nos deteremos mais adiante.
ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA 47
8 Vale salientar que Lyotard também tem passagens nas quais tece comentários a
respeito da música. Porém, esse assunto não toma proporções muito grandes
dentro de sua obra.
9 Esse texto foi publicado pela primeira vez na revista Critique 419, em abril de
1982, três anos, portanto, após a primeira edição de La Condition postmoderne,
pela Les Edition Minuit de Paris, em 1979. Na primeira edição norte-america-
na da obra, ele foi adicionado como um apêndice dirigido às questões do pós-
-moderno na arte.
ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA 57
Posteriormente, o pós-moderno:
to, ela é uma resultante posterior de uma ideia mais geral contida nas
análises das metanarrativas, quando se olha o pós-modernismo e as
explicações de Lyotard a partir de A condição. O exame dos critérios
artísticos (como dos científicos e políticos) deve levar em considera-
ção o mesmo pano de fundo sobre o qual a sua negociação constante
se realiza, o vínculo social. Portanto, a compreensão das afirmações
sobre o sublime necessita, anteriormente, da compreensão da incre-
dulidade nas metanarrativas decorrente da heterogeneidade dos jo-
gos de linguagem negociados a partir das comunidades de sabedores
(jogadores).
Mediante tal posição, torna-se necessário compreender qual re-
lação o modernismo musical mantém com as metanarrativas de le-
gitimação do saber apontadas por Lyotard como características do
contexto do saber moderno. Para isso, uma definição mais clara do
que se entende por modernismo musical torna-se necessária. E essa
tarefa será feita tomando-se por base as definições encontradas nos
escritos sobre o pós-moderno em música, possibilitando a compreen-
são dos pontos de ancoragem sobre os quais esses mesmos escritos
estabelecem sua visão do pós-modernismo. Vejamos, primeiramen-
te, como algumas das abordagens sobre o pós-moderno em música
caracterizam a modernidade musical:
no domínio das artes, que não são nem saber, nem narrativas, pode-se
fazer aproximações [ao fim das metanarrativas] apenas por metáfora.
As visões globalizantes tornam-se as linguagens e gramáticas comuns,
os estilos, as formas e funções ou todo outro sistema, como o sistema
serial ou pós-serial, que visa uma coerência totalitária. Essas visões
globalizantes se dispersaram em “nuvens de elementos linguageiros”
de diversas naturezas. (idem, ibidem)
nós podemos agora fechar o círculo e ler nossa proposta “além” da escuta
estrutural não como um deslocamento cronológico mas como uma re-
15 Susan McCLary é autora de Feminine Endings (1991), obra na qual aborda ques-
tões relativas ao cruzamento entre política e sexualidade nas interpretações
musicais.
ABORDAGENS DO PÓS-MODERNO EM MÚSICA 119
E acrescenta:
O que a vida pessoal tem a ver com a música? Ela é a imagem privile-
giada e privilegiadora, ela é o pacote de imagens, a coletora de imagens, e
compor não é mais do que dispor destas imagens privilegiadas para que
outros as ouçam, e encadeá-las – ou sobrepô-las – de modo que se pren-
da a atenção de alguém que esteja por perto. E para se prender a atenção
valem algumas estratégias: cortes, transições graduais, um pouco de hu-
mor ou um pouco de melancolia, tanto faz. Talvez deveria dizer que uma
outra imagem de música se desvela aqui: nem ouvir estruturas para se
mostrar inteligente, nem levar-se no sentimentalismo, ou decifrar uma
anedota, mas simplesmente manter-se atento, voltar o ouvido e deixar-
-se levar ou penetrar por imagens sonoras. (idem, p.96-7)
trata-se de insistir que sua música [de Schoenberg] não naturaliza tota-
lidades funcionais (como é o caso da música tonal), mas expõe clara-
mente seu processo de construção através da posição do plano e do es-
quema. Tal afirmação é feita na expectativa de levar o sujeito à
necessidade de ouvir a estrutura e o plano construtivo. Este é o sentido
fundamental da “audição estrutural” exigida por Schoenberg. (idem,
p.7, grifos do autor)
Adams teria certamente uma outra versão para tal ecletismo pres-
suposto pelo discurso da disponibilização integral do material. Em um
tom claramente afirmativo, ele falaria da multiplicidade que compõe
a “América” enquanto espaço livre das hierarquias e distinções que
marcaram a “velha Europa”. O ecletismo de sua música seria apenas
o resultado de um “retorno à experiência ordinária” que, na era da ur-
banidade, tudo mistura, e às formas musicais enraizadas em práticas
comunais de interação social. [...] É desta forma que Adams pode afir-
mar: “Eu logo percebi que a música dodecafônica estava muito divor-
ciada da experiência comunal”, sem problematizar o fato de que este
divórcio era o resultado do esvaziamento da própria noção de “expe-
riência comunal” na era da universalização da forma-mercadoria. (op.
cit., s. p.)
1 Vale lembrar que Dhomont realiza uma listagem de tais procedimentos de for-
ma muito semelhante (Dhomont, 1990, p.36 e 40).
164 JOÃO PAULO COSTA DO NASCIMENTO
Gravações
Partituras
Bibliografia
EQUIPE DE REALIZAÇÃO
Coordenação Geral
Marcos Keith Takahashi