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QUEM SÃO?
Eguns nada mais são do que os espíritos que já desencarnaram, e os Quiúmbas são
exatamente a mesma coisa. Apenas se dá entre eles uma diferença de evolução.
Senão vejamos:
Eguns, são todos os que desencarnaram, tiveram vida humana, em contraposição aos Orixás
que são forças da natureza. Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças e Exús, são Eguns. (No Candomblé,
Exú é considerado como Orixá, sendo reverenciado e cultuado desta forma).
Quiúmbas são Eguns ainda muito atrasados na escala de evolução espiritual, que são
considerados negativos e que por vezes, se fazem passar por outras entidades, normalmente Exús,
trazendo inclusive um ponto de vista muito negativo para estas entidades, os Exús, por eles
mistificados.
É sabido que o termo evolução é extremamente relativo e dentro de uma mesma qualidade de
entidades poderá variar muito o grau de evolução entre cada um deles. O que queremos dizer é que
entre os Caboclos, assim como entre os Pretos-Velhos e outras entidades, sempre haverá um que
esteja um pouco acima, e um outro um pouco abaixo no nível de evolução. O certo, no entanto, é que
estas entidades, Caboclos, Pretos-Velhos, Crianças, Exús e algumas outras, já chegaram a um nível
de evolução tal que os permitem diferenciar o certo do errado e procurarem humildemente ajuda e
colaboração das entidades de níveis mais altos, no sentido de auxiliar aos filhos que os procuram,
nos momentos em que seus conhecimentos, permissão ou capacidade são impotentes para a ajuda.
Normalmente se ouve:
” – Você está com o encosto de um egun muito perigoso!”
” – Você precisa fazer uma obrigação para despachar este egun que está complicando sua
vida!”
Isso realmente pode acontecer, pois como já dissemos, egun é todo espírito desencarnado. E
pode acontecer até, que por ignorância do espírito (egun), ele possa estar muito próximo,
principalmente de seus entes queridos quando em vida, tumultuando a vida deles, principalmente
pela diferença de vibração de suas energias. Este egun, precisa certamente ser esclarecido e
afastado. Várias doutrinas se ocupam deste mister de maneiras diferentes, comprovando que é
necessário que os níveis de vida mantenham suas independências: o encarnado e o desencarnado.
Nota-se a diferença então entre os eguns, Entidades e quiúmbas. Na realidade egun é a
qualificação de todo e qualquer espírito desencarnado. O seu nível de evolução é que o especificará!
Quando se refere aos espíritos vamporizadores, aos incitadores ao vício ou àqueles que se
aproximam de nós sempre para o mal, os quais são comprados por quem tem a alma maculada pela
maldade, para nos impor males ou feitiços, esses serão certamente os quiúmbas, mas numa
generalização muito comum, sempre nos referimos a eles como eguns.
E até pela vaidade e muitas vezes pela ignorância, não admitimos que possamos estar sendo
mediunizados por um egun, qual seja, um Caboclo, um Preto-Velho ou mesmo um Exú, para um
trabalho de caridade.
Desmistifiquemos então o conceito de egun. E tentemos de todas as maneiras, pela caridade,
pela fé, pela oração e pelo trabalho espiritual, elevarmos cada vez mais nossos eguns de fé para que,
pelo trabalho deles, possam ser cada vez mais atraídos para os caminhos de luz, aqueles eguns, os
quiúmbas, que ainda se encontram nos lamaçais da espiritualidade.
• o abalá, que é uma armação quadrada ou redonda, como se fosse um chapéu que cobre
totalmente a extremidade superior do Babá, e da qual caem várias tiras de panos coloridas, formando
uma espécie de franjas ao seu redor;
• o kafô, uma túnica de mangas que acabam em luvas, e pernas que acabam igualmente em
sapatos; e
• o banté, que é uma tira de pano especial presa no kafô e individualmente decorada e que
identifica o Babá.
O banté, que foi previamente preparado e impregnado de axé (força, poder, energia
transmissível e acumulável), é usado pelo Babá quando está falando e abençoando os fiéis. Ele
sacode na direção da pessoa e esta faz gestos com as mãos que simulam o ato de pegar algo, no
caso o axé, e incorporá-lo. Ao contrário do toque na roupa, este ato é altamente benéfico.
Na Nigéria, os Agbá-Egum portam o mesmo tipo de roupa, mas com alguns apetrechos
adicionais: uns usam sobre o alabá mascaras esculpidas em madeira chamadas erê egungum;
outros, entre os alabá e o kafô, usam peles de animais; alguns Babá carregam na mão o opá iku e, às
vezes, o ixã. Nestes casos, a ira dos Babás é representada por esses instrumentos litúrgicos.
Existem várias qualificações de Egum, como Babá e Apaaraká, conforme sus ritos, e entre os
Agbá, conforme suas roupas, paramentos e maneira de se comportarem. As classificações, em
verdade, são extensas.
Nas festas de Egungum, em Itaparica, o salão público não tem janelas, e, logo após os fiéis
entrarem, a porta principal é fechada e somente aberta no final da cerimônia, quando o dia já está
clareando. Os Eguns entram no salão através de uma porta secundária e exclusiva, único local de
união com o mundo externo.
Os ancestrais são invocados e eles rondam os espaços físicos do terreiro. Vários amuxã
(iniciados que portam o ixã) funcionam como guardas espalhados pelo terreiro e nos seus limites,
para evitar que alguns Babá ou os perigosos Apaaraká que escapem aos olhos atentos dos ojés
saiam do espaço delimitado e invadam as redondezas não protegidas.
Os Eguns são invocados numa outra construção sacra, perto mas separada do grande salão,
chamada de ilê awo (casa do segredo), na Bahia, e igbo igbalé (bosque da floresta), na Nigéria. O ilê
awo é dividido em uma ante-sala, onde somente os ojé podem entrar, e o lèsànyin ou ojê agbá
entram.
Balé é o local onde estão os idiegungum, os assentamentos – estes são elementos litúrgicos
que, associados, individualizam e identificam o Egum ali cultuado -, e o ojubô-babá, que é um buraco
feito diretamente na terra, rodeado por vários ixã, os quais, de pé, delimitam o local.
Nos ojubô são colocadas oferendas de alimentos e sacrifícios de animais para o Egum a ser
cultuado ou invocado. No ilê awo também está o assentamento da divindade Oyá na qualidade de
Igbalé, ou seja, Oyá Igbalé – a única divindade feminina venerada e cultuada, simultaneamente, pelos
adeptos e pelos próprios Eguns (veja Mitos Oyá-Egum).
No balé os ojê atokun vão invocar o Egum escolhido diretamente no assentamento, e é neste
local que o awo (segredo) – o poder e o axé de Egum – nasce através do conjunto ojê-ixã/idi-ojubô. A
roupa é preenchida e Egum se torna visível aos olhos humanos.
Após saírem do ilê awo, os Eguns são conduzidos pelos amuxã até a porta secundária do
salão, entrando no local onde os fiéis os esperam, causando espanto e admiração, pois eles ali
chegaram levados pelas vozes dos ojê, pelo som dos amuxã, brandindo os ixã pelo chão e aos gritos
de saudação e repiques dos tambores dos alabê (tocadores e cantadores de Egum). O clima é
realmente perfeito.
O espaço físico do salão é dividido entre sacro e profano. O sacro é a parte onde estão os
tambores e seus alabê e várias cadeiras especiais previamente preparadas e escolhidas, nas quais
os Eguns, após dançarem e cantarem, descansam por alguns momentos na companhia dos outros,
sentados ou andando, mas sempre unidos, o maior tempo possível, com sua comunidade. Este é o
objetivo principal do culto: unir os vivos com os mortos.
Nesta parte sacra, mulheres não podem entrar nem tocar nas cadeiras, pois o culto é
totalmente restrito aos homens. Mas existem raras e privilegiadas mulheres que são exceção, como
se fosse a própria Oyá; elas são geralmente iniciadas no culto dos orixás e possuem
simultaneamente oiê (posto e cargo hierárquico) no culto de Egum – estas posições de grande
relevância causam inveja à comunidade feminina de fiéis.
São estas mulheres que zelam pelo culto, fora dos mistérios, confeccionando as roupas,
mantendo a ordem no salão, respondendo a todos os cânticos ou puxando alguns especiais, que
somente elas têm o direito de cantar para os Babá. Antes de iniciar os rituais para Egum, elas fazem
uma roda para dançar e cantar em louvor aos orixás; após esta saudação elas permanecem sentadas
junto com as outras mulheres. Elas funcionam como elo de ligação entre os atokun e os Eguns ao
transmitir suas mensagens aos fiéis. Elas conhecem todos os Babá, seu jeito e suas manias, e
sabem como agradá-los(ver quadro: oiê femininos).
Este espaço sagrado é o mundo do Egum nos momentos de encontro com seus descendentes.
Assistência está separada deste mundo pelos ixã que os amuxã colocam estrategicamente no chão,
fazendo assim uma divisão simbólica e ritual dos espaços, separando a “morte” da “vida”. É através
do ixã que se evita o contato com o Egun: ele respeita totalmente o preceito, é o instrumento que o
invoca e o controla. às vezes, os mariwo são obrigados a segurar o Egum com o ixã no seu peito, tal
é a volúpia e a tendência natural de ele tentar ir ao encontro dos vivos, sendo preciso, vez ou outra, o
próprio atokun ter de intervir rápida e rispidamente, pois é o ojê que por ele zela e o invoca, pelo qual
ele tem grande respeito.
O espaço profano é dividido em dois lados: à esquerda ficam as mulheres e crianças e à
direita, os homens. Após Babá entrar no salão, ele começa a cantar seus cânticos preferidos, porque
cada Egum em vida pertencia a um determinado orixá. Como diz a religião, toda pessoa tem seu
próprio orixá e esta característica é mantida pelo Egun.
Por exemplo: se alguém em vida pertencia a Xangô, quando morto e vindo com Egum, ele terá
em suas vestes as características de Xangô, puxando pelas cores vermelha e branca. Portará um oxê
(machado de lâmina dupla), que é sua insígnia; pedirá aos alabês que toquem o alujá, que também é
o ritmo preferido de Xangô, e dançará ao som dos tambores e das palmas entusiastas e
excitantemente marcadas pelo oiê femininos, que também responderão aos cânticos e exigirão a
mesma animação das outras pessoas ali presentes.
Babá também dançará e cantará suas próprias músicas, após ter louvado a todos e ser
bastante reverenciado. Ele conversará com os fiéis, falará em um possível iorubá arcaico e seu
atokun funcionará como tradutor. Babá-Egum começará perguntando pelos seus fiéis mais
frequentes, principalmente pelos oiê femininos; depois, pelos outros e finalmente será apresentado às
pessoas que ali chegaram pela primeira vez.
Babá estará orientando, abençoando e punindo, se necessário, fazendo o papél de um
verdadeiro pai, presente entre seus descendentes para aconselhá-los e protegê-los, mantendo assim
a moral disciplina comum às suas comunidades, funcionando como verdadeiro mediador dos
costumes e das tradições religiosas e laicas.
Finalizando a conversa com os fiéis e já tendo visto seus filhos, Babá-Egum parte, a festa
termina e a porta principal é aberta: o dia já amanheceu. Babá partiu, mas continuará protegendo e
abençoando os que foram vê-lo.
Esta é uma breve descrição de Egungum, de uma festa e de sua sociedade, não detalhada,
mas o suficiente para um primeiro e simples contato com este importante lado da religião. E também
para se compreender a morte e a vida através das ancestralidades cultuadas nessas comunidades de
Itaparica, como um reflexo da sobrevivência direta, cultural e religiosa dos iorubanos da Nigéria.