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Ação Civil Pública

Outubro

2002

INTRODUÇÃO

Um dos bens públicos tutelados pela ação civil pública, e na nossa opinião, o mais importante, é o
meio ambiente. Desta forma, não podemos adentrar ao tema sem antes fazermos um comentário a
respeito deste outro tema introduzido na Lei 7.347, de 24.07.85.

O patrimônio público, formado pelos bens que pertencem ao Estado, instituído para atender a seus
próprios objetivos ou para servir à produção de utilidades indispensáveis às necessidades coletivas,
nem sempre foi devidamente protegido ou defendido de depredações nocivas à sua conservação ou
preservação.

O homem sempre teve certa preocupação em melhorar suas condições de vida, não só
aperfeiçoando os mecanismos de produção, mas também criando maiores e melhores instrumentos
de sobrevivência em face das investidas do próprio progresso tecnológico, que nem sempre tem
respeitado a vida humana.

No entanto, o avanço da técnica, a ambição do homem e a falta de fiscalização dos órgãos


públicos criaram uma mentalidade destruidora do próprio direito ambiental, patrimônio da
coletividade. As múltiplas atividades vêm contaminando o ar que respiramos, a água que bebemos,
o ambiente em que vivemos.

O que constituía perigo para algumas cidades industriais, no que diz respeito às diversas formas de
poluição, passou a ameaçar todo o País, com várias contaminações e devastações, e expandiu-se
pelo mundo, hoje castigado pelas grandes empresas poluidoras, que causam tantos males ao meio
ambiente e aos seres vivos, fazendo-os desaparecer e ameaçando inclusive o homem na sua
qualidade de vida.

Diversas atividades humanas, com objetivos especuladores e com fins imediatistas, não têm
procurado preservar a vida futura da humanidade, que se vê assim seriamente ameaçada. Exige-se
então o controle estatal, através de leis recentes e modernas em defesa do meio ambiente cuja
finalidade é evitar danos irremediáveis ao ser humano e aos animais disciplinado a caça e a pesca,
protegendo a fauna e preservando as florestas.

O mundo preocupa-se com o progresso que agride a natureza, pois o lixo tóxico espalha dejetos
industriais químicos ou radioativos que precisam ser contidos, e os responsáveis pela sua
exportação devidamente responsabilizados e punidos.

A mudança climática provocada pela emissão de gases oriundos da queima de petróleo e do


carbono, que resulta no efeito estufa, tem ameaçado a qualidade de vida nas grandes cidades,
com seus agentes poluidores.

Muito se falou na Eco-92, realizada no Rio de Janeiro, de 3 a 13 de junho, sobre a biodiversidade,


em que estariam em jogo normas para preservação e uso racional das plantas e dos animais, que
vivem ameaçados e que precisariam ser resguardados de países industrializados.

Em reportagem sobre a Eco-92, a revista Veja destacou que "desde a última reunião ecológica
realizada em Estocolmo em 1972 o mundo cresceu 1,7 bilhão de pessoas — 1,5 bilhão das quais
nasceram em países do Hemisfério Sul". E continua: "O efeito estufa é uma amostra desse divórcio
em termos mundiais. O desastroso aquecimento anormal do planeta que muitos cientistas prevêem
em conseqüência desse efeito tem como causa o acúmulo de gases de carbono na atmosfera. Os
países industrializados lançam dez vezes mais gás carbônico na atmosfera do que os países
pobres. ... o documento básico da ONU para o meio ambiente, que se espera seja aprovado na
conferência do Rio, deixa claro que os ricos vão ter que ceder mais, consumir menos, gastar menos
energia e ainda pagar a conta da limpeza global" (Veja, 3-6-1992, p. 54-5).

Na mesma revista, Thomas Lovejoy salienta que "o desafio ecológico é mais extenuante porque
tende a englobar quase todas as questões sociais. Os problemas são criados pelas pessoas. As
soluções também devem ser. É parte integrante do dilema ecológico a questão da eqüidade,
entendida como a disposição de se reconhecer igualmente o direito de cada um: eqüidade no
impacto ecológico per capita, eqüidade entre nações ricas e pobres — e dentro de uma mesma
nação. Existem problemas econômicos e de contabilidade. O meio ambiente não pode mais ser
tratado como um bem gratuito. É muito mais vantajoso pagar um preço ambiental menor já do que
uma conta muito maior mais tarde, quando o custo para se livrar do lixo tóxico será alto. Ajustes
sérios se fazem necessários" (Veja, cit., p. 100).

A realização da Eco-92 no Rio, que reuniu representantes de mais de cem países, ricos e pobres,
demonstra claramente a preocupação de todos com a saúde da Terra e seus habitantes,
seriamente prejudicados e ameaçados com essa tecnologia destrutiva, que deveria ser colocada a
serviço de todos os seres terrestres e não contra seus interesses.

Em excelente artigo publicado na Revista Veja, que merecia ser transcrito integralmente, diz o
jornalista Luiz Weis: "Chega a ser inquietante que ao lado dos temas com acesso privilegiado ao
plenário do Riocentro — mudanças climáticas, poluição do ar, desflorestamento, desertificação,
erosão do ozônio, degradação urbana, extinção de espécies e ameaças ao suprimento de água
potável — o problema da população humana possa não merecer um lugar de honra. Como se a
colossal empreitada de conter a destruição da natureza e melhorar a existência de três quartos da
humanidade pudesse dispensar algum tipo de compromisso internacional acerca de princípios de
política demográfica".

E continua: "Um mínimo de respeito aos fatos torna impossível fingir que a proliferação humana
não seja uma das causas primárias dos desastres ambientais que estão na ordem do dia. Nos
últimos quarenta anos, a população mundial mais do que dobrou, passando de 2,5 bilhões para os
atuais 5,4 bilhões. A população urbana, esta então, cresceu de forma exponencial. Não terá sido
por mero capricho estatístico que de meados da década de 50 a meados da década de 80 os índices
de concentração de dióxido de carbono na atmosfera tenham se expandido no mesmo ritmo das
taxas demográficas. O dióxido de carbono é o principal responsável pelo efeito estufa, o
aquecimento da Terra projetado para a primeira metade do próximo século" (Veja, 3-6-1992, p.
158).

Não há dúvida que o crescimento demográfico é resultante da ignorância de famílias carentes, que
desconhecem os anticoncepcionais ou não têm acesso aos meios preventivos, como as famílias
esclarecidas, o que tem originado, nos países pobres, famílias numerosas, que passam a ser vítimas
da fome, da miséria e do abandono, como verdadeira poluição humana.

Mesmo em nosso país as famílias prolíferas têm sido fruto de um sistema hipócrita, que não leva
aos mais carentes as devidas informações para um planejamento familiar sério e responsável.
Enquanto casais esclarecidos limitam sua prole a dois ou três filhos, as famílias humildes procriam
sem planejamento, o que futuramente vai concorrer para aumentar as fileiras da prostituição e da
criminalidade, se conseguirem sobreviver a uma infância carente e marginalizada.

É preciso, portanto, que se faça alguma coisa para controlar a explosão demográfica e conter a
pobreza humana, espalhada por vários países do mundo, a mais chocante poluição aos nossos
olhos.

CONCEITO DE AÇÃO CIVIL PÚBLICA

A ação civil pública constitui, sem dúvida, grande conquista em defesa do patrimônio publico e
social, pois trata-se de instrumento constitucional importante á proteção de bens e interesses
coletivos.
Embora prevista no art. 3º, III da lei Complementar nº 40/81 (Lei Orgânica do Ministério Público
Federal), a ação civil pública só passou a ter realmente existência com a Lei nº 7.341, de 24 de
julho de 1985, que disciplina sua aplicação por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor,
bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, e dá outras
providências.

Posteriormente, a Constituição Federal vigente contemplou-a expressamente no art. 129, III,


dispondo ser função institucional do Ministério Público "promover o inquérito civil e a ação civil
pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses
difusos e coletivos."

A experiência tem demonstrado que a maioria das ações civis públicas tem sido promovida pelo
Ministério Público, o que não deixa de ser alentador, pois demonstra que essa "instituição
permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem
jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis" (art. 127,
caput), está firme e atuante em defesa dos bens e interesses coletivos.

DOS BENS TUTELADOS

A ação civil pública tutela a defesa do meio ambiente, do consumidor, do patrimônio cultural e de
qualquer outro interesse coletivo ou difuso.

Como ensina o competente Hugo Nigro Mazzilli: "Difusos são interesses de grupos menos
determinados de pessoas entre as quais inexiste vínculo jurídico ou fático muito preciso. Em
sentido lato, os mais autênticos interesses difusos, como o meio ambiente, podendo ser incluídos
na categoria do interesse público. Outro exemplo clássico de interesse difuso é o dos destinatários
de propaganda enganosa".

E continua: "Por sua vez, os interesses coletivos compreendem uma categoria determinada ou pelo
menos determinável de pessoas. Em sentido lato, englobam não só os interesses transindividuais
indivisíveis (que o Código do Consumidor chama de interesses coletivos em sentido estrito), como
também aqueles que o Código do Consumidor chama de interesses individuais homogêneos. Estes
últimos se caracterizam pela extensão divisível ou individualmente variável do dano ou da
responsabilidade (ex.: uma série de produtos defeituosos entregues a consumo)".

Meio ambiente é o conjunto de elementos da natureza – terra, água, ar, flora e fauna – ou criações
humanas essências à vida de todos os seres e ao bem-estar do homem na comunidade (CF, art. 225
e parágrafos).

Consumidor é todo aquele que se utiliza de produtos, atividades ou serviços de outrem,


merecendo proteção do Estado (CF, arts. 5º, XXXII, e 170, V).

DO INQUÉRITO CIVIL

Dispõe o § 1º do art. 8º da Lei n. 7.347/85 que o Ministério Público poderá instaurar, sob sua
presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer organismo público ou particular, certidões,
informações, exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez dias
úteis.

Por sua vez, o art. 10 da mesma lei prevê como crime, punido com pena de reclusão de um a três
anos e mais multa, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à
propositura da ação civil, quando requisitados pelo MP.

Entre as funções institucionais do MP, a Constituição Federal vigente prevê que lhe cabe "promover
o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos" (art. 129, III).
Embora extremamente útil, não é o inquérito necessário à propositura da ação. Em havendo
elementos necessários, a ação principal ou cautelar poderá ser ajuizada mesmo sem ele, seja pelo
MP, seja pelos demais legitimados o art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. Suponha-se uma ação
cautelar satisfatória que vise a evitar um dano; muitas vezes será ajuizada entes ou
independentemente do inquérito. Ou então suponhamos já conte o órgão ministerial com os dados
necessários para a propositura da ação, à vista de representação documentada ou diante de
documentada ou diante de documentos e informações que tenham recebido na forma dos arts. 6º e
7º da Lei de Ação Civil (CF, art. 129, VI e VIII; Lei Complementar 40/81, art.15, I).

A finalidade do inquérito civil é justamente colher elementos e informações para a propositura da


ação civil pública. Mas, desde que já se tenham esses elementos, perfeitamente dispensáveis sua
instauração, que, em muitos casos, viria até a retardar a propositura da ação civil pública.

Aliás, existe até um contra-senso na própria lei que criou a ação civil pública, ao prever a ação
cautelar (arts. 4º e 5º) e a liminar (art. 12), que são medidas de urgência e necessidade ao lado do
inquérito civil (art. 8º, §1º e 9º). Este procedimento demanda gasto de tempo, que pode ser
prejudicial à própria ação civil pública.

A instauração de inquérito civil só se justifica quando há necessidade de colher melhores


elementos a respeito de determinados fatos em face de representações destituídas ou
desacompanhadas de documentos.

Cabe ao próprio órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, convencer-se da


inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promover o arquivamento dos autos
do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente (art. 9º, caput).

Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena de se
incorrer em falta grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do Ministério Público, que
homologará ou rejeitará a promoção de arquivamento (art. 9º, §1º e 2º), devendo na segunda
hipótese designar outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação (art. 9°, § 4º).

Com a propriedade que lhe é peculiar, o ilustre Procurador da Justiça Hugo Nigro Mazzilli observa:
"Nessa matéria, registrem-se ainda, por expresso, mais duas observações. Em primeiro lugar, não
só o arquivamento do inquérito civil se sujeita ao controle a que vimos aludindo:

na verdade, também o arquivamento de peças de informação, ainda que não formalizadas em


inquérito civil, deverá ser revisto pelo Conselho Superior do Ministério Público (1º do art. 9º da Lei
7.347/85). De outro lado, mesmo que o arquivamento do inquérito civil ou das peças de
informação tenha partido do Procurador-Geral de Justiça, terá o Conselho Superior o dever de
rever o ato de arquivamento praticado por qualquer órgão de execução do MP (art. 9º, caput, da
Lei da Ação Civil Pública)".

Observa-se assim que o controle do arquivamento do inquérito e das peças de informações sempre
está afeto ao Conselho Superior do Ministério Público já que cabe privativamente ao Ministério
Público a instauração e o arquivamento do inquérito civil.

PARTES LEGITIMADAS

A Lei n. 7.347/85 deu legitimidade ativa ao Ministério Público e às pessoas jurídicas estatais,
autárquicas e paraestatais, assim como às associações destinadas à proteção do meio ambiente ou
à defesa do consumidor, para proporem a ação civil pública nas condições que especifica (art. 5º).

Também a Lei Orgânica do Ministério Público Federal (LC n. 40, de 14-12-1981) estabelece normas
gerais a serem adotadas na organização do Ministério Público estadual, dispondo: "Art. 3º São
funções institucionais do Ministério Público: III — promover a ação civil pública, nos termos da
lei’’.
Posteriormente, a Constituição Federal vigente estabeleceu. expressamente, dentre as funções
institucionais do Ministério Público, a de "promover o inquérito civil e a ação civil pública" (art.
129, III).

Não há dúvida que o Ministério Público está mais bem aparelhado, dispõe de maior independência,
conta com pessoal mais capacitado para promover a ação civil pública do que as demais partes
legitimadas.

No entanto, não devem também os membros do Ministério Público expor-se demasiadamente em


propositura de ações civis públicas que possam prejudicar a própria ação administrativa, com
verdadeira interferência nos demais Poderes, mormente o Executivo, o que não deixa de ferir o
princípio constitucional da independência e harmonia dos Poderes.

Adverte o saudoso Hely Lopes Meirelles: "Esses poderes atribuídos ao Ministério Público para a
propositura da ação civil pública não justificam o ajuizamento de lide temerária ou sem base
legal, nem autorizam a concessão de liminar suspensiva de obras e serviços públicos ou
particulares, regularmente aprovados pelos órgãos técnicos e administrativos competentes, sob a
simples alegação de dano ao meio ambiente. A petição inicial há de vir embasada em disposição de
lei que tipifique a ocorrência ou o fato como lesivo ao bem a ser protegido, apresentando ou
indicando as provas existentes ou a serem produzidas no processo, não bastando o juízo subjetivo
do Ministério Público para a procedência da ação".

As demais partes legitimadas — pessoas jurídicas de direito público interno, entidades da


administração indireta e associações civis dotadas de representatividade adequada (Lei n.
7.347/85, art. 5º —, embora não disponham da estrutura e da independência do Ministério Público,
também deveriam promover a ação civil pública, com a devida fiscalização dessa instituição.

A Constituição Federal vigente conferiu também aos sindicatos legitimação extraordinária para que
assumam em juízo a defesa não só dos interesses individuais como dos coletivos da categoria (art.
8º III), o que lhes daria legítimo interesse de defender em juízo os da categoria, até mesmo por
meio da ação civil pública.

E, como lembra o ilustre Hugo Nigro Mazzilli, "o Código do Consumidor ampliou o rol dos
legitimados ativos às ações coletivas, para alcançar até mesmo entidades e órgãos da
administração direta e indireta, ainda que sem personalidade jurídica, desde que destinados à
defesa dos interesses de que cuida aquela lei. De outra parte, tornou dispensável o requisito de
pré-constituição há mais de um ano para as associações, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido (art. 82, § 1º, da Lei 8.078/90)" .

Tem sido controvertida a questão referente à desistência da ação civil pública desde que proposta
pelo Ministério Público, pois se foi requerida por outra parte legitimada, que venha a desistir,
ainda que totalmente, caberá ao parquet dar-lhe continuidade.

No entanto, quanto ao membro do Ministério Público, tem havido entendimento jurisprudencial de


que não lhe cabe desistir, em face do principio da indisponibilidade: "Proposta ação civil pública
pelo Ministério Público, não pode mais dela desistir, devendo prosseguir até o encerramento do
processo, isto é, até a prolação da sentença, uma vez que, partindo-se do conceito da
obrigatoriedade de propô-la, decorre, naturalmente, a indisponibilidade desta mesma ação"(RT,
635:201).

É de se ver, porém, que a indisponibilidade da ação deve ser bem analisada, pois pode ocorrer
que, com sua simples propositura, venha a alcançar o fim desejado, com realização do serviço
pretendido. Isso não impede possível acordo entre as partes, que pode ser homologado pelo juiz.
Não poderá ocorrer a desistência pura e simples sem obtenção do resultado pretendido, o que,
todavia, não impedirá possível transação em favor de interesses coletivos ou difusos.

Se o Ministério Público ou qualquer outra parte legitimada vem a perder a ação civil pública, por
carência ou improcedência, não há falar em condenação às custas e honorários de advogado, por
atuar em defesa dos interesses da coletividade (RJTJSP, Lex, 118:304).
DA COMPETÊNCIA

Dispõe o art. 2º da Lei n. 7.347/85 que "as ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do
local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Parece-nos que tal regra deve prevalecer ainda que haja interesse da União, pois, apesar do fato
de haver previsão constitucional de que aos juizes federais compete processar e julgar as "causas
em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição
de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as
sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho" (art. 109, I), não se pode esquecer também o
disposto no § 3º do art. 109, que diz: "Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do
domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência
social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada
essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela
justiça estadual".

A 1º Turma do Tribunal Regional Federal da 4º Região, à unanimidade, decidiu que o "art. 2º da Lei
n. 7.347, de 24 de junho de 1985, está recepcionado pelo § 3º do art. 109 da Constituição Federal,
em ordem a justificar a competência do juízo local mesmo se a ação civil pública for proposta pela
União Federal" (Lex, 2:394).

Aliás, sempre entendemos que a ressalva constitucional deveria ser bem mais ampla, pois, onde
não houvesse vara federal, a justiça local deveria ter competência supletiva, já que não se
entende deslocar o julgamento de muitas questões, ainda que também de interesse da União, para
a Capital, o que sempre traz pesados ônus à parte interessada bem como procrastinação na
decisão da demanda, quando na localidade existe, muitas vezes, mais de um juiz local também em
condições de decidir.

Em se tratando de ação civil pública, a previsão do foro do local onde ocorre o dano não deixa de
ser significativa, já que a reparação deve ser urgente e imediata. E não se pode esquecer também
que os bens protegidos não devem ser enquadrados apenas como de interesse da União, mas
também do Estado e do próprio Município, como, por exemplo, reservas florestais, bosques
municipais e outros.

Como salienta Paulo Affonso Leme Machado, "em muitas ações vamos encontrar interesses
conflitantes personalizados na União e na Sociedade. Sabe-se que a defesa dos interesses difusos
nominados na Lei 7.347/85 necessita de rapidez, pois as decisões judiciais terão que intervir a
tempo de impedir a degradação, a mutilação ou a deterioração dos bens coletivos. Dessa forma,
mais do que disputar competência, o art. 2º há de ser visto como um farol mostrando, em cada
caso, a senda mais apta para os fins sociais procurados pela lei’’

Por sua vez, a Câmara Especial do Tribunal de Justiça de São Paulo, por unanimidade, entendeu
que a ação civil publica, em vista da regra do art. 2º da Lei federal n. 7.347 85, é de competência
absoluta, o que afasta a conexão com outras demandas (RTSP. 133:151).

Por outro lado, se houver conflito de competência entre juizes subordinados a tribunais diversos,
bem como entre tribunal e juizes a ele não vinculados, ficará entre outras hipóteses vinculado ao
Egrégio Superior Tribunal de Justiça (art. 105, I, CF).

Nos termos do art. 108 da Constituição Federal de 1988. compete aos Tribunais Regionais Federais:
a) processar e julgar, originariamente, os conflitos de competência entre juizes federais
vinculados a eles; b) julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juizes federais e pelos
juizes estaduais no exercício da competência federal.

LEI No 7.347, DE 24 DE JULHO DE 1985.

Disciplina a ação civil pública de responsabilidade por danos causados ao meio-ambiente, ao


consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico
(VETADO) e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a
seguinte Lei:

Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos causados:

l - ao meio-ambiente;

ll - ao consumidor;

lll - a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV - (VETADO).

Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde ocorrer o dano, cujo
juízo terá competência funcional para processar e julgar a causa.

Art. 3º A ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o cumprimento de
obrigação de fazer ou não fazer.

Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando, inclusive, evitar o
dano ao meio - ambiente, ao consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico (VETADO).

Art. 5º A ação principal e a cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União,
pelos Estados e Municípios. Poderão também ser propostas por autarquia, empresa pública,
fundação, sociedade de economia mista ou por associação que:

l - esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;

II - inclua, entre suas finalidades institucionais, a proteção ao meio-ambiente, ao consumidor, ao


patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico (VETADO).

§ 1º O Ministério Público, se não intervier no processo como parte, atuará obrigatoriamente como
fiscal da lei.

§ 2º Fica facultado ao Poder Público e a outras associações legitimadas nos termos deste artigo
habilitar-se como litisconsortes de qualquer das partes.

§ 3º Em caso de desistência ou abandono da ação por associação legitimada, o Ministério Público


assumirá atitularidade ativa.

Art. 6º Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério
Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-
lhe os elementos de convicção.

Art. 7º Se, no exercício de suas funções, os juizes e tribunais tiverem conhecimento de fatos que
possam ensejar a propositura da ação civil, remeterão peças ao Ministério Público para as
providências cabíveis.

Art. 8º Para instruir a inicial, o interessado poderá requerer às autoridades competentes as


certidões e informações que julgar necessárias, a serem fornecidas no prazo de 15 (quinze) dias.

§ 1º O Ministério Público poderá instaurar, sob sua presidência, inquérito civil, ou requisitar, de
qualquer organismo público ou particular, certidões, informações, exames ou perícias, no prazo
que assinalar, o qual não poderá ser inferior a 10 (dez) dias úteis.

§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada certidão ou informação,
hipótese em que a ação poderá ser proposta desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao
juiz requisitá-los.

Art. 9º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as diligências, se convencer da


inexistência de fundamento para a propositura da ação civil, promoverá o arquivamento dos autos
do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o fundamentadamente.

§ 1º Os autos do inquérito civil ou das peças de informação arquivadas serão remetidos, sob pena
de se incorrer em falta grave, no prazo de 3 (três) dias, ao Conselho Superior do Ministério
Público.

§ 2º Até que, em sessão do Conselho Superior do Ministério Público, seja homologada ou rejeitada
a promoção de arquivamento, poderão as associações legitimadas apresentar razões escritas ou
documentos, que serão juntados aos autos do inquérito ou anexados às peças de informação.

§ 3º A promoção de arquivamento será submetida a exame e deliberação do Conselho Superior do


Ministério Público, conforme dispuser o seu Regimento.

§ 4º Deixando o Conselho Superior de homologar a promoção de arquivamento, designará, desde


logo, outro órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.

Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três) anos, mais multa de 10
(dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento
ou a omissão de dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados
pelo Ministério Público.

Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva,
sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.

Art. 12. Poderá o juiz conceder mandado liminar, com ou sem justificação prévia, em decisão
sujeita a agravo.

§ 1º A requerimento de pessoa jurídica de direito público interessada, e para evitar grave lesão à
ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o Presidente do Tribunal a que
competir o conhecimento do respectivo recurso suspender a execução da liminar, em decisão
fundamentada, da qual caberá agravo para uma das turmas julgadoras, no prazo de 5 (cinco) dias a
partir da publicação do ato.

§ 2º A multa cominada liminarmente só será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão
favorável ao autor, mas será devida desde o dia em que se houver configurado o descumprimento.

Art. 13. Havendo condenação em dinheiro, a indenização pelo dano causado reverterá a um fundo
gerido por um Conselho Federal ou por Conselhos Estaduais de que participarão necessariamente o
Ministério Público e representantes da comunidade, sendo seus recursos destinados à
reconstituição dos bens lesados.

Parágrafo único. Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro ficará depositado em
estabelecimento oficial de crédito, em conta com correção monetária.

Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano irreparável à parte.

Art. 15. Decorridos 60 (sessenta) dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a
associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público.

Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, exceto se a ação for julgada improcedente
por deficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Art. 17. O juiz condenará a associação autora a pagar ao réu os honorários advocatícios arbitrados
na conformidade do § 4º do art. 20 da Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973 - Código de Processo
Civil, quando reconhecer que a pretensão é manifestamente infundada.

Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis


pela propositura da ação serão solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo da
responsabilidade por perdas e danos.
Art. 18. Nas ações de que trata esta Lei não haverá adiantamento de custas, emolumentos,
honorários periciais e quaisquer outras despesas.

Art. 19. Aplica-se à ação civil pública, prevista nesta Lei, o Código de Processo Civil, aprovado pela
Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973, naquilo em que não contrarie suas disposições.

Art. 20. O fundo de que trata o art. 13 desta Lei será regulamentado pelo Poder Executivo no
prazo de 90 (noventa) dias.

Art. 21. Esta lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 22. Revogam-se as disposições em contrário.

Brasília, em 24 de julho de 1985; 164º da Independência e 97º da República.

JOSÉ SARNEY

Fernando Lyra

Modelo de petição de Ação civil pública

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA COMARCA

(mínimo 12 espaços)

O representante do Ministério Público, com fundamento no art. 5° da Lei n° 7.347, de 24.07.1985,


vem propor contra o_ (nome da empresa), com sede nesta cidade_ (endereço), ação civil pública
de responsabilidade, pelos motivos de fato e de direito que passa a expor:

1. A Empresa adquiriu a chácara denominada __, onde se encontra sediada., pretendendo ali
instalar oficina de conserto de suas máquinas e depósito de material e de destroços de veículos
acabados.

2. O local, conforme se pode verificar das fotografias inclusas, é dos mais aprazíveis do bairro,
composto de vivendas ajardinadas, algumas antigas, com arborização feita a capricho, ali
funcionando duas escolas, justamente confinantes com o terreno da Empresa.

3. Consoante se pode concluir, a obra construída constitui-se em legítima agressão ao meio


ambiente, à estética e à paisagem da Rua da Fonte, agressão verificável a um simples exame das
fotografias ora exibidas.

4. Regem-se pela Lei n°7.347 de 1985, as ações de responsabilidades por danos causados: I. a este;
I. a consumidor; III. a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico
(art. 1°). A ação poderá ter por objeto a condenação em dinheiro, ou cumprimento de obrigação
de fazer ou não fazer (art. 2°).

5. Face ao exposto, requer:

a) a citação da (nome da empresa), na pessoa de seu representante legal (nome), para responder,
sob pena de revelia, aos termos da presente ação, que visa à obrigação de não fazer a obra acima
mencionada.

b) a concessão de medida liminar para que se suspendam os serviços de reparo da construção;

c) que, a final, seja a ré condenada a abster-se da realização do ato danoso aos interesses da
comunidade e a pagar as custas e honorários de advogado.
Dá a causa o valor de

Protesta por prova pericial e oral,

Termos em que Pede e Espera Deferimento

_ de _ de 20.

Assinatura com n.º na OAB.

Obs.:

1. A ação principal e a ação cautelar poderão ser propostas pelo Ministério Público, pela União,
pelos Estados e pelos Municípios. Poderão ser propostas por autarquia, empresa pública, fundação,
sociedade de economia mista ou por associação que: I. esteja constituída há pelo menos um ano,
nos termos da lei civil; III. inclua entre suas finalidades institucionais a proteção ao meio
ambiente, ao consumidor, ao patrimônio estético, histórico, turístico e paisagístico (Lei
n°7.347/85, art. 3°).

2. Qualquer pessoa poderá e o servidor público deverá provocar a iniciativa do Ministério Público,
ministrando-lhe informações sobre fatos que constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os
elementos de convicção.

EXEMPLOS DE AÇÕES CIVIS PÚBLICAS

Direito do Consumidor

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DESTA CAPITAL.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA

DISTRIBUIÇÃO EM REGIME DE URGÊNCIA

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, por seus Promotores de Justiça do DECOM, no final
firmado, vem com todo respeito perante V. Exa. Com fundamento no art. 129, inciso III da
Constituição Federal, art. 130, inciso III da Constituição do Estado do Ceará, e art. 25, inciso VI da
Lei nº 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), além do art. 1º da Lei nº
7.347/85, acrescido do inciso IV pela Lei nº 8.078/90, interpor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA
contra BOAT PROMOÇÕES E EVENTOS LTDA., CGC nº 00923122-0001-50, com endereço à Av.
Senador Virgílio Távora, nº 867, Loja 05, pelas fundamentações fáticas e de direito adiante
expostas:

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

O art. 129, inciso III da nossa Carta Magna, dispõe que:

"Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público (III) promover o inquérito civil e ação
civil pública, para a proteção do patrimônio público social, do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos."

Como regulamentação ao referido preceito, várias são as leis a lhe outorgar a substituição
processual, mormente aquela que lhe regulamentou – lei n 7.347/1985, que em seu art. 1º, assim
preceitua:

"Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta lei, sem prejuízo da ação popular, as ações de
responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I – ao meio ambiente;

II – ao consumidor;

III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico;

IV – a qualquer outro interesse difuso e coletivo;

V – por infração de ordem econômica.

A Lei Orgânica do Ministério Público também cuidou de legitimar-lhe a substituição, como


estabelecido na Capítulo IV, Seção I da Lei nº 8.625/92, da seguinte forma:

"Art. 25. Além das funções previstas na Constituição Federal, na Lei Orgânica e em outras leis,
incumbe, ainda, ao Ministério Público;

(...)

IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na forma da lei;

19670. para a proteção, prevenção e reparação dos danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, aos bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico e a
outros interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;

19671. para a anulação e declaração de nulidade de atos lesivos ao interesse público ou à


moralidade administrativa do Estado ou de Município, de suas administrações indiretas ou
fundacionais ou de entidades privadas de que participem;

Mas importância dos interesses sob os auspícios da referida legislação é de tal forma meritório,
que nela é admitida, no decorrer de ações de cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, a
ingerência do magistrado a fixar, "motu proprio", multa suficiente ou compatível, mesmo que o
autor não a tenha requerido, ou feito de modo bastante. Acrescente-se, ainda, que a sentença
civil fará coisa julgada "erga omnes".

Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva,
sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou
compatível, independentemente de requerimento do autor.

A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", exceto se a ação for julgada improcedente por
deficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

Dos Fatos

A Lei Municipal de nº 6.498, de 29 de setembro de 1989, em anexo, nos seus arts. 1º e 2º, garante
aos estudantes, portadores de identidade estudantil, redução de 50% (cinqüenta por cento) do
valor do ingresso cobrado pelos estabelecimentos exibidores de espetáculos teatrais, musicais,
cinematográficas e circenses, in verbis:

"Art. 1º. Ficam assegurados aos estudantes regularmente matriculados em estabelecimentos de


ensino oficiais ou reconhecidos oficialmente pelo Poder Público, 50% (cinqüenta por cento) de
abatimento nas casas exibidoras de espetáculos teatrais, musicais, cinematográficos e
circenses."

"Art. 2º. A identificação do estudante, para gozo do benefício estabelecido nesta lei, será feita
através de identidade estudantil expedida pelas entidades representativas dos estudantes, na
forma da Lei nº 6.062, de 25 de março de 1.986."
Posteriormente,, veio a lume a Lei nº 6.701, de 01 de agosto de 1990, dispor sobre a incidência da
referida Lei em qualquer que seja o valor do ingresso cobrado, INCLUINDO AÍ, AS PROMOÇÕES,
acrescentando ao retro mencionado "Art. 1º da Lei nº 6.498, o parágrafo único, abaixo transcrito:

"Parágrafo único. O abatimento a que se refere o "CAPUT" deste artigo incidirá sobre qualquer
que seja o preço do ingresso, inclusive promoções." ( Grifo Nosso)

O direito do estudante à "meia –entrada ", também está previsto pela Lei Estadual nº 12.302, de 17
de maio de 1994, in verbis:

"Art. 1º Fica assegurado o abatimento de cinqüenta por cento (50%) do valor efetivamente
cobrado para o ingresso em casas de diversões, de espetáculos teatrais, musicais, circenses em
casas de exibição,

similares das áreas de cultura e lazer do Estado do Ceará, aos estudantes regularmente
matriculados em estabelecimentos de ensino de primeiro, segundo e terceiro graus, existentes
no Estado do Ceará."

Como se vê, o direito ora pleiteado está fartamente amparado pelas leis, Municipal e Estadual,
que tratam a matéria de forma clara e direta.

Ocorre, que tal exigência legal vem sendo abusivamente desrespeitada, muito embora haja o
requerente, bem como A Comissão de Defesa do Consumidor, em audiência pública, tomado a
iniciativa de alertar os Estabelecimento ora Requeridos para o cumprimento da lei.

O Requerido, está promovendo show do JORGE ARAGÃO, no dia 14 de julho do corrente ano,
na Casa do Engenho, em total desrespeito a legislação vigente, não respeitando o direito dos
estudantes portadores de identidade estudantil a meia entrada. Os ingressos são vendidos
antecipadamente nas Farmácias Pague Menos, pelo preço único de R$ 15,00 ( quinze reais),
como comprova ingresso anexo (Doc. 01). Tal conduta comprova o descaso a Legislação Pátria
pelo promovido.

Desta forma, necessária se faz a presente ação, para requerer que o Poder Judiciário, através
deste Douto Juízo, arbitre as penalidades argüidas, tanto liminarmente, como em decisão
definitiva.

Do Pedido liminar

Não há que se questionar sobre a presença dos pressupostos legais ensejadores do deferimento da
medida liminar.

A violação aos dispositivos invocados é flagrante, daí resultando danos irreparáveis ou de difícil
reparação aos estudantes portadores de identidade estudantil que poderão vir a sofres as
conseqüências do suposto desrespeito às leis vigentes, como efetivamente, já vem ocorrendo.

Em caso de improcedência, "ad argumentandum tantum", o Requerido, continuará a negar ao


estudante o direito ao pagamento de 50%(cinqüenta por cento) do valor do ingresso, sujeitando-os
a uma situação abusiva e constrangedora.

ISTO POSTO, Requer a Vossa Excelência o seguinte:

Seja a presente ação recebida, autuada, e decidido o pedido de ordem liminar inaudita altera
pars, com vistas a serem resguardados os interesses de todo o universo de estudantes por esta
alcançados.

Como pedido de ordem liminar, se digne arbitrar a multa em R$1.000,00(hum mil reais) por cada
estudante preterido em seu direito ao abatimento de 50%(cinqüenta por cento) do valor do
ingresso nas vendas realizadas antecipadamente ou no local onde será realizado o presente
evento, inclusive nas promoções, comprovado, "per capita", mediante reclamação instaurada no
DECOM, com o devido contraditório e ampla defesa.

Dado o alcance desta ação, erga omnes, seja citado o Requerido, para, querendo, responder a
presente ação, no prazo legal, sob pena de revelia, devendo da carta citatória constar a
advertência de que não sendo contestada a ação presumir-se-ão como verdadeiros os fatos
articulados, ensejando o julgamento antecipado da lide, como prescreve o art. 330, inciso I, do
Código de Processo Civil, vez que se trata de matéria unicamente de direito.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito permitidos, se
necessário for.

Finalmente, pugna o Ministério Público, seja a presente ação julgada PROCEDENTE, tornando
definitiva a liminar nos moldes em que foi requerida.

Requer, ainda, que no caso de reincidências, em shows de datas distintas realizados pela mesma
produtora, , sejam as multas cobradas em dobro.

Dá-se a causa, para os efeitos fiscais, o valor de alçada.

Termo em que

Espera Deferimento.

Fortaleza, 12 de julho de 2001.

Antônio Carlos Azevedo Costa João Gualberto Feitosa Soares

Promotor de Justiça Promotor de Justiça

Ministério Público do Ceará Ministério Público do Ceará

Patrimônio Público/Social

Exm.º Sr. Dr. Juiz Federal da Vara da Seção Judiciária do Estado do Espírito Santo.

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelos Procuradores da República que esta subscrevem, vem, nos
termos do art. 129, inciso III, da Constituição Federal c/c o art. 6º, inciso VII, letra "b" e inciso XIV,
letra "f" da Lei Complementar n.º 75/93 c/c a Lei n.º 8.429/92, propor

Ação ordinária

pela prática de atos de improbidade administrativa, com pedido de liminar em face de

LINCOLN DA ROCHA JÚNIOR, brasileiro, solteiro, funcionário público federal, portador da CI n.º
1.126.659-SSP/ES e do CPF n.º 027.759.847-89, filho de Lincoln da Rocha e Dinair Assis Rocha,
residente na Rua Professora Alcina Nascimento Gomes, 39, Goiabeiras, Vitória/ES.

GUTERMANN CARNEIRO DA SILVEIRA, brasileiro, separado judicialmente, funcionário público


federal, portador CI n° 05787866-2 – SSP/RJ e do CPF n.º 801.144.377-53, filho de Floraildes
Carneiro da Silveira, residente na Rua Pequim, 81, Araçás, Vila Velha – ES.

ANTÔNIO ALEXANDRE BISPO SANT´ANNA, brasileiro, casado, portador da CI n° 821.917-SSP/ES e


do CPF n.º 843.961.997-91, residente na Rua João Cipreste Filho, 32, Parque das Gaivotas, Vila
Velha – ES (endereço comercial: R. General Osório, 119-A, salas 505/506 – Ed. Galerão, Centro,
Vitória).
ANA PAULA BISPO SANT´ANNA, brasileira, portadora do CPF n° 981.430.857-91, residente na Rua
Francisco Fajardo, 77, Realengo, Rio de Janeiro – RJ ou R. General Osório, 119-A, salas 505/506 –
Ed. Galerão, Centro, Vitória – ES.

ITAMAR BARBOSA SANTOS, brasileiro, portador do CPF n° 022.867.597-90 e da CI n° 938.760


(SSP/ES), residente à II Etapa – Ed. Guaraná, Coqueiral de Itaparica, Vila Velha – ES.

pelas seguintes razões de fato e de direito a seguir expostas:

Dos Fatos

Em razão do grande volume de denúncias recebidas pela Superintendência de Polícia Federal neste
Estado, noticiando a existência de uma quadrilha especializada em fraudar a Previdência Social,
tendo como modus operandi a montagem de tempo de serviço fictício para instruir processos de
concessão de benefício previdenciário, com ramificações em todo o Estado e dentro do próprio
INSS, com a participação efetiva de servidores, foi instaurado em 30 de março do corrente, através
de portaria, inquérito policial para apuração desses fatos (doc. 01).

Concluído o inquérito policial e identificado os réus como os responsáveis pela fraude, foi proposta
pelo MPF, no dia 19 de julho do corrente, em face dos mesmos a ação penal n.º 99.0002654-3, em
curso na 7ª Vara (doc. 02).

Consta daqueles autos que o Instituto Nacional da Seguridade Social – INSS, ao realizar auditoria
extraordinária em procedimentos de concessão de benefícios deferidos no Posto de Vitória,
constatou inúmeras fraudes, as quais causaram enormes prejuízos à autarquia previdenciária,
prejuízo estes que ainda estão sendo apurados pela autarquia previdenciária.

No mencionado apuratório verificou-se que os pedidos de averbação de tempo de serviço e de


aposentadoria tinham como referência comum um escritório de "advocacia" (Escritório Carvalho e
Santanna), onde os três últimos réus exerciam atividades supostamente lícitas.

Os clientes (vítimas) contratavam com o referido escritório, pagando altas somas a fim de que
pudessem obter, junto ao INSS, a averbação do tempo de serviço outrora prestado e, então,
alcançar os benefícios da aposentadoria (v. termos de declaração em anexo – doc. 04).

Entretanto, ao invés de utilizarem as informações e documentos fornecidos de boa-fé pelas


vítimas, os três últimos, por iniciativa própria, passaram a fabricar e a utilizar documentos
material ou ideologicamente falsos junto à autarquia previdenciária, iludindo, ao mesmo tempo,
suas vítimas (clientes) e a autarquia.

Uma vez "preparados" tais documentos (material ou ideologicamente falsos) eram os mesmos
utilizados junto ao INSS, possibilitando a obtenção fraudulenta da averbação do tempo de serviço e
aposentadoria das vítimas (clientes), com o auxílio dos dois primeiros réus, servidores públicos
federais lotados no setor de concessão de benefícios, que colaboraram com o golpe.

Com efeito, LINCOLN e GUTERMAN, ao analisarem os documentos provenientes do escritório


Carvalho e Santanna, ratificavam sua validade, embora soubessem de antemão que eram falsos.

Além disso, procuravam instruir, fora da sede do INSS, através de encontros furtivos, os clientes a
mentir junto ao INSS por ocasião das respectivas tomadas de declaração (v. declarações em anexo
– doc. 04).

É certo que os dois primeiros, na condição de servidores, tinham a obrigação de cuidar da lisura
dos procedimentos e de proteger os interesses do órgão a que estavam (e ainda estão) vinculados.
Entretanto, ratificavam os atos espúrios praticados pelos outros réus. Pretendiam, assim, dar um
aspecto de legalidade às atividade ilícitas por eles desenvolvidas.
O INSS, através de sua Procuradora-Chefe, encaminhou ao MPF a relação parcial dos benefícios
concedidos pelos servidores LINCOLN e GUTERMAN, sendo que dos benefícios já suspensos pela
Auditoria neste Estado, oitenta e três (83) foram concedidos por aquele e cinqüenta e oito (58) por
este (doc. 03).

Para demonstrar a estrutura montada para a consumação dos delitos, vale transcrever trecho do
interrogatório de Lincoln da Rocha Júnior prestado perante a autoridade policial, verbis:

"QUE em maio de 1997 ITAMAR lhe apresentou uma pessoa de nome ANTÕNIO ALEXANDRE BISPO
SANTANA, o qual no primeiro contato lhe propôs uma ajuda mútua, ou seja, ALEXANDRE lhe
ajudaria a conseguir um emprego naquelas empresas e em troca o declarante deveria fazer vista
grossa nos processos de aposentadorias que passassem em suas mãos; QUE, ALEXANDRE também
disse, que lhe daria uma ajuda financeira, para que os processos analisados por ele fossem
analisados sem qualquer rigor (...), que nesse período todo recebeu aproximadamente quinze mil
reais de ALEXANDRE, que foram pagos parte em dinheiro e parte em cheques; QUE sabe informar
que ALEXANDRE tinha um contato no Posto de Vila Velha/ES chamado CEBOLINHA, posteriormente
identificado como GUTERMANN CARNEIRO DA SILVEIRA (...) QUE, após o fechamento do Posto de
Vitória/ES e o início das auditorias em processos concessórios de benefícios, resolveu fazer
contato com ANA PAULA; QUE, ANA PAULA procurou lhe tranqüilizar ."(destaque do Parquet)

Assim, através dos elementos colhidos pela Polícia Federal, INSS e pelo próprio MPF, logrou-se a
apurar de forma inequívoca a prática por parte dos servidores LINCOLN DA ROCHA JÚNIOR e
GUTERMANN CARNEIRO DA SILVEIRA e dos terceiros ANTÔNIO ALEXANDRE BISPO SANT’ANA, ANA
PAULA BISPO SANT’ANA e ITAMAR BARBOSA SANTOS, de atos de improbidade que importaram
enriquecimento ilícito, causaram lesão ao erário e atentaram contra princípios da administração
pública, sendo que é exatamente a punição pela prática desses atos e o ressarcimento dos
prejuízos causados o que se pretende através da presente.

II

Dos atos de improbidade

A Carta Constitucional de 1988, em seu artigo 37, estabelece os princípios que devem nortear as
ações da Administração Pública: legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência,
prevendo em seu parágrafo 4º que "os atos de improbidade administrativa importarão a suspensão
dos direitos políticos, a perda da função pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento ao
erário, (...)".

Com a edição da Lei n.º 8.429/92, foram regulamentados dispositivos constitucionais, mormente
quanto ao disposto no citado parágrafo 4º, do art. 37, criando-se mecanismos extremamente
importantes para a preservação e a eficácia dos referidos postulados constitucionais. Visou-se,
sobretudo, coibir a prática de atos de improbidade, com mecanismos eficazes, tais como seqüestro
de bens, afastamento do agente político, ação para o devido ressarcimento ao erário e aplicação
de sanções estabelecidas em linhas gerais na Carta Magna.

Com efeito, descumprindo seu dever básico de "fiscalizar", infringindo normas constitucionais
legais e administrativas contidas na Carta Magna e em normas de hierarquia inferior, aceitaram
documentos evidentemente falsos como se verdadeiros fossem, utilizaram-se ainda de diversos
outros meios fraudulentos já descritos para, prevalecendo-se das funções que exerciam,
facilitarem a concessão de benefícios administrativos sem as formalidades legais, além de
permitirem e concorrerem para que terceiros se enriquecessem ilicitamente (Lei n.º 8.429/92, art.
10, inciso VII e XII). Note-se que a atuação dos réus, no sentido de obtenção/concessão de
aposentadorias de forma fraudulenta foi consciente e previamente concertada

Os demais réus concorreram para a prática desses atos de improbidade, deles se beneficiando
diretamente, razão pela qual aplica-se aos mesmos o disposto no artigo 3º da aludida lei, sendo
certo que todos os réus receberam vantagem econômica, e, em decorrência de suas atividades
espúrias, a autarquia previdenciária sofreu evidentes prejuízos patrimoniais, prejuízos estes que
serão totalmente apurados no decorrer da presente.
De outra parte, ressalte-se também que, em última análise, as condutas de LINCOLN e GUTERMAN
caracterizam, de forma inequívoca, a hipótese prevista no art. 11, inciso I, da Lei 8.429/92,
segundo o qual constitui ato de improbidade praticar ato visando fim proibido em lei ou
regulamento, pois ao ratificarem a validade de documentos falsos, e, desta forma, facilitando para
que outros obtivessem vantagem ilícita junto ao INSS, praticaram os crimes previstos no art. 171,
caput e § 3° e também art. 304, todos do Código Penal, já denunciados pelo Parquet Federal,
como se vê da cópia da denúncia em anexo (doc. 02).

De tudo o que se expôs até agora, extrai-se, cristalinamente, que servidores-réus não agiram
apenas em benefício dos três outros réus. Com certeza, juntamente com estes auferiram vantagem
patrimonial. O esquema montado pressupunha mais do que a mera conivência a participação ativa
dos réus, que, à toda evidência, foram muito bem remunerados por aqueles que beneficiaram.

É certo, pois, que receberem eles vantagem econômica para concessão indevida daqueles
benefícios previdenciários, incidiram, com isso, na prática de ato de improbidade administrativa
descrita no artigo 9º da Lei de improbidade, segundo o qual , "constitui ato de improbidade
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de vantagem patrimonial indevida em
razão do exercício do cargo, mandato, função ou emprego (...)".

Portanto, as condutas descritas, o espaço temporal dentro do qual foram perpetradas, o número
de vezes que se repetiram, enfim, tudo o que até agora se demonstrou são mais do que suficientes
para caracterizar a ofensa contra os princípios da administração pública, discriminados no artigo
37 da CF, ficando, assim, caracterizada também a hipótese do artigo 11, da Lei n.º 8.429/92

Assim, conclui-se que as condutas protagonizadas pelos réus caracterizaram atos de improbidade,
previstos nos arts. 9°, 10 e 11, impondo-se, com fundamento nos artigos 5° e 6°, a aplicação das
cominações previstas no art. 12, todos da Lei 8.429/92, e que serão ao final discriminadas.

III

Do Dano

O prejuízo causado ao erário público como se vê é incontestável e não é só patrimonial. Valores


morais restaram amesquinhados na medida em que a fraude na Previdência Social passa a ser vista
como algo absolutamente aceitável, maculando, assim, não só a imagem da Administração Pública,
mas também a de seus servidores.

Assim, o dano causado pelos réus ultrapassa o âmbito meramente material, para adentrar a seara
da ética e da moral. E esse dano moral, resultado das condutas improbas dos réus há de ser
também ressarcido, ao esteio do disposto no artigo 5º, V e X, da CF, do caput do art. 1º, da lei n.º
7.347/85, e art. 6º, VI, da Lei n.º 8.078/90, de pacífica jurisprudência de nossos Tribunais,
inclusive simulada, no sentido de que "são cumuláveis as indenizações por dano material e dano
moral oriundos do mesmo fato (Súmula 37 do STJ), afastando, assim, a certeza da impunidade que
incentiva mais e mais a prática de atos intoleráveis como os narrados nesta peça.

IV

Do pedido liminar/cautelar

Cumpre ressaltar que foram instaurados, além do Inquérito Policial n° 92/99 (o qual serviu de base
para que o MPF ingressasse com a ação penal n.º 99.0002654-3), outros sete inquéritos em face das
mesmas pessoas que aqui figuram como réus (doc. 05), fato que demonstra não só a gravidade dos
atos de improbidades por eles praticados, como, especialmente, a existência de antecedentes
gravemente desabonadores das condutas de LINCOLN e GUTERMAN enquanto servidores.

A propósito, convém informar a esse Juízo que os réus LINCOLN DA ROCHA JÚNIOR e GUTERMANN
CARNEIRO DA SILVEIRA continuam lotados no INSS, com acesso a documentos e pessoas que, sem
dúvida, serão objeto de análise e oitiva, durante a instrução processual.
A fim de que se garanta, portanto, uma instrução processual isenta e transparente, requer seja
determinado, com fulcro no § único do art. 20, da Lei n.º 8.429/92, o AFASTAMENTO imediato dos
dois primeiros réus de suas funções.

Por outro lado, como restou fartamente demonstrado, os elementos coligidos até agora são mais
do que suficientes para caracterizar a responsabilidade dos réus, que causaram dano ao patrimônio
público, tendo, ainda, se enriquecido ilicitamente.

Daí porque aplicável o disposto no art. 16, da lei n.º 8.429/92, ora invocado para se requerer,
liminarmente, sem justificação prévia, ao esteio o disposto no § 1º, do mesmo artigo, c/c os
artigos 823 e 816, I, do CPC, o SEQUESTRO dos bens já identificados (automóveis – relação anexa –
doc. 06), de propriedade dos réus, comunicando-se ao DETRAN para que se proceda aos registros e
averbações necessários:

Requer, ainda, com fundamento no parágrafo 2º do artigo 16 da mesma lei:

a) a expedição de ofício ao MM. Juiz Corregedor dos Registros de Imóveis da Capital para que
determine aos Cartórios respectivos que informe sobre todos os imóveis registrados em nome dos
réus e seus cônjuges, discriminados em anexo;

b) a expedição de ofício ao Banco Central do Brasil, determinando-lhe que identifique, junto às


instituições bancárias e financeiras as contas e aplicações mantidas pelos réus e seus cônjuges,
fornecendo os extratos respectivos dos últimos três anos;

c) a expedição de ofício ao DETRAN/ES, para que informe os veículos cadastrados em nome dos
réus e seus cônjuges;

d) a expedição de ofícios às administradoras de cartão de crédito MASTERCARD, DINERS, VISA,


AMERICAN EXPRESS e SOLLO, para que remetam cópias dos extratos dos últimos três anos, relativos
aos cartões de crédito mantidos pelo réus e seus cônjuges.

Justifica-se plenamente este procedimento, já que "quando possível, por economia processual, o
pedido liminar de medida cautelar pode ser deduzido em local próprio, na própria inicial da ação
civil pública, uma vez que lá estarão os fatos e a fundamentação jurídica do pedido, sendo pois
mais plausível que forme a convicção positiva do magistrado, no sentido de concedê-la sem oitiva
da parte".

Deferido o pedido, requer-se sejam cópia desta petição, bem como do despacho deferitório,
autuados em apartado, a fim de que a esses autos sejam juntadas as informações que forem
fornecidas, evitando-se, com isso, tumulto processual.

Do pedido principal

Ante o exposto, requer:

a) a citação dos réus para, querendo, contestarem a presente ação;

b) a intimação do INSS e da União, nos termos do art. 17, § 3º, da Lei n.º 8.429/92;

c) a procedência do pedido, condenando-se os réus:

c.1) Lincoln da Rocha Júnior e Gutterman Carneiro da Silveira, às penas previstas no artigo 12, I,
II e III da Lei n.º 8.429/92, ou seja:

I. perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;


II. ressarcimento integral do dano;

III. perda da função pública;

IV. suspensão dos direitos políticos por dez anos;

V. pagamento de multa civil no valor equivalente a três vezes o valor do acréscimo patrimonial, de
até duas vezes o valor do dano e de até cem vezes o valor da remuneração percebida, além dos
danos morais;

VI. proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou
creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

c.2) Antônio Alexandre Bispo Sant’Anna, Ana Paula Bispo Sant’Anna e Itamar Barbosa Santos,
às penas previstas no artigo 12, I, II e III da Lei n.º 8.429/92, ou seja:

I. perda dos bens ou valores acrescidos ilicitamente ao patrimônio;

II. ressarcimento integral do dano;

III. suspensão dos direitos políticos por dez anos;

IV. pagamento de multa civil no valor equivalente a três vezes o valor do acréscimo patrimonial,
de até duas vezes o valor do dano e de até cem vezes o valor da remuneração percebida, além dos
danos morais;

V. proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou


creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja
sócio majoritário, pelo prazo de dez anos.

d) a condenação dos réus nos ônus da sucumbência e nos consectários legais.

Protesta, ainda, pela produção de todos os meios admitidos em Direito, tais como depoimento
pessoal dos réus, pena de confesso, provas documental, pericial e testemunhal. Dá-se à causa o
valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais).

Vitória/ES, 23 de agosto de 1999.

Alexandre Espinosa Bravo Barbosa

PROCURADOR DA REPÚBLICA

Elisandra de Oliveira Olímpio

PROCURADORA DA REPÚBLICA

RELAÇÃO DOS CÔNJUGES/COMPANHEIROS(AS) DOS RÉUS:

• Lincoln da Rocha Júnior, CPF n.º 027.759.000-89


• Gutermann Carneiro da Silveira, CPF n.º 801.000.377-53 e Adriana Zamprogna, CPF n.º
969.666.967-49
• Antônio Alexandre Bispo Sant´Anna, CPF n.º 843.0000.997-91 e Lilian Alves Silva, CPF
n.º 000.027.747-53
• Ana Paula Bispo Sant´Anna, CPF n° 000.430.857-91
• Itamar Barbosa Santos, CPF n° 022.000.597-90
PAISAGISTICO/HISTÓRICO/ARTISTICO/TURÍSTICO

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA CAPITAL.

ASSOCIAÇÃO DE AMIGOS E MORADORES EM DEFESA DA QUALIDADE DE VIDA DA BELA VISTA,


entidade civil sem fins lucrativos legalmente constituída desde 7 de agosto de 1998, (doc. 1) com
sede nesta Capital, à rua dos Ingleses, nº 484, apto. 74, e COMITÊ "VEM PRO BEXIGA", entidade
civil sem fins lucrativos legalmente constituída desde 8 de setembro de 1997, com sede nesta
Capital, à rua dos Franceses, nº 101, ambas neste ato representadas por sua Presidente, Sra.
Ângela M. O. Mello, brasileira, separada, empresária, portadora da cédula de identidade RG nº
4.659.317 (docs. 3/4), ambas por seu advogado infra assinado (docs. 5/6), vêm a presença de V.
Exa. para, com fundamento nos dispositivos da Lei 7.347/85 propor a presente AÇÃO CIVIL
PÚBLICA, com pedido urgente de ordem liminar contra a CAIXA DE PREVIDÊNCIA DOS
FUNCIONÁRIOS DO BANCO DO BRASIL – PREVI, inscrita no CGC sob nº 33.754.482/0001, com sede
no Município do Rio de Janeiro, à Praia do Flamengo, nº 78, CEP 22210-030; a PREFEITURA DO
MUNICÍPIO DE SÃO PAULO, cujos procuradores, com poderes para receber citação, encontram-se à
Av. Liberdade, 113; e contra o GOVERNO DO ESTADO DE SÃO PAULO, cujos procuradores, com
poderes para receber citação, encontram-se à Av. São Luis, nº 99, 4º andar, pelas razões de fato e
de direito a seguir elencadas:

Dos fatos

A presente demanda versa sobre obras de construção de um "shopping center", um edifício de


serviços, um edifício de "flats" e uma mudança parcial no uso das instalações do Hospital Humberto
I, também denominado Hospital Matarazzo, localizado nesta Capital à alameda Rio Claro, 190, Bela
Vista.

Referidas obras, apesar das gritantes, evidentes e gravíssimas ilegalidades de que estão revestidas
(consoante será adiante demonstrado), foram absurdamente aprovadas pelo Conselho de Defesa do
Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado - CONDEPHAAT, cuja consulta
foi necessária em face do tombamento que recai sobre a área, e pela Prefeitura do Município de
São Paulo, que estranhamente atestou a legalidade do empreendimento frente à legislação de uso
e ocupação do solo do Município de São Paulo.

Diante disso, as autoras, levando em conta o evidente prejuízo à ambiência urbana e à


qualidade de vida que as obras podem ocasionar, elaboraram abaixo assinado que contém mais
de 4.000 (quatro mil) adesões (doc. 7). Também foi encaminhada representação à Promotoria de
Habitação e Urbanismo do Ministério Público do Estado de São Paulo (doc. 8).

As ilegalidades que recaem sobre o empreendimento, tanto no que tange ao que se pretende
demolir, que está protegido pelo tombamento, quanto pelo que se pretende construir, o que exige
a observância das normas de uso e ocupação do solo, são facilmente perceptíveis e serão
demonstradas uma a uma. Antes, porém, de tais considerações, faz-se necessário traçar
brevemente o histórico do tombamento do Hospital Matarazzo e de seu "destombamento" efetuado
pelo CONDEPHAAT. Desta descrição já ficarão evidentes algumas das inacreditáveis ilegalidades e
arbitrariedades praticadas pelos réus.

Do Tombamento do Hospital Matarazzo

Para a instrução da presente demanda, o arquiteto e urbanista Dr. Paulo Bastos, que à época do
tombamento era membro do Conselho consultivo do CONDEPHAAT (posteriormente viria a presidir
esse órgão) e teve participação direta no processo de tombamento do Hospital Matarazzo,
elaborou substancioso e brilhante parecer, fartamente documentado (doc. 9), cujo teor as autoras
requerem que seja considerado parte integrante das razões da presente exordial, onde narra
detalhadamente o processo de tombamento do imóvel "sub examine".

Segundo o douto parecerista, a idéia de tombar o Hospital Matarazzo surgiu no ano de 1984,
quando a Sociedade de Beneficência Hospital Matarazzo, então proprietária, tentou obter
autorização para demolir o imóvel em questão e, nesse sentido, encaminhou ofício ao
CONDEPHAAT com tal requerimento, datado de 20 de setembro de 1984 (doc. 2 do parecer do Dr.
Paulo Bastos). A consulta àquele órgão foi legalmente necessária porque, de acordo com o art. 15
do Decreto-lei nº 149/69, todas as obras que se desejem realizar num raio de 300 (trezentos)
metros de um imóvel tombado (o que a lei denomina de "área envoltória"), que possa comprometer
a visibilidade daquele imóvel, necessitam de autorização prévia do CONDEPHAAT, e o Hospital
Humberto I, embora à época não se encontrasse tombado, situa-se na área envoltória do Museu de
Arte de São Paulo – MASP, há muito tempo tombado.

Referido pedido de aprovação de demolição foi analisado pelo Corpo técnico permanente do
CONDEPHAAT e este manifestou-se contrariamente à demolição (doc. 3 do parecer do Dr. Paulo
Bastos), apoiando-se, inclusive, em parecer técnico do Departamento de Patrimônio Histórico da
Prefeitura do Município de São Paulo (doc. 4 do parecer do Dr. Paulo Bastos). De posse desses dois
pareceres, o Conselho rejeitou o pedido de aprovação daquela demolição (doc. 5 do parecer do Dr.
Paulo Bastos). Note V. Exa. que, à época, o Hospital Matarazzo ainda não estava tombado, e
mesmo assim sua demolição já foi impedida pelo CONDEPHAAT, por razões de ordem técnica
que adiante serão melhor explicitadas.

Inconformada com esse indeferimento, a Sociedade Beneficente "Hospital Matarazzo" reiterou o


pedido de demolição (doc. 6 do parecer), tendo sido determinado ao insigne arquiteto Dr. Paulo
Bastos que relatasse tal pedido (doc. 7 do parecer do Dr. Paulo Bastos). Nesse parecer (doc. 8 do
parecer do Dr. Paulo Bastos), referido arquiteto opinou pela manutenção da decisão de
indeferimento.

Por tais razões, num primeiro momento o imóvel ficou livre do risco de sofrer qualquer demolição.
Todavia, analisando o conjunto histórico e cultural do imóvel, de fundamental importância para a
memória urbana da cidade de São Paulo, chamou a atenção daquele órgão a fragilidade de
proteção legal daquele conjunto arquitetônico (o CONDEPHAAT foi consultado apenas porque o
imóvel estava na área envoltória do Masp), razão pela qual iniciou-se o processo de tombamento
do Hospital Matarazzo, seguindo recomendação do diligente arquiteto Dr. Paulo Bastos,
recomendação essa contida no parecer supra referido (doc. 8 do parecer do Dr. Paulo Bastos).

Portanto, em 15 de abril de 1985, o colegiado acatou o parecer do Dr. Paulo Bastos e deu abertura
a um processo para análise do tombamento do Hospital Humberto I (doc. 9 do parecer do Dr. Paulo
Bastos). Em data de 14/05/86, houve parecer favorável do órgão técnico do CONDEPHAAT.

Como Conselheiro Relator, em data de 19 de maio de 1986, o arquiteto Paulo Bastos emitiu
parecer endossando tais conclusões e propondo a aprovação do mesmo, para que o Hospital
Matarazzo fosse tombado, o que foi aprovado pelo conselho do CONDEPHAAT no mesmo dia (doc.
1 do parecer do Dr. Paulo Bastos).

De acordo com a Resolução de tombamento resultante de tal processo (doc. 9-A), os edifícios que
compõem o Hospital Matarazzo sofreram três graus de proteção, a saber:

O grau de proteção 1, de preservação integral, admitindo apenas pequenas reformas, incidiu sobre
a capela e a maternidade Condessa Filomena Matarazzo. O grau de proteção 2, de preservação das
fachadas, coberturas e gabaritos, incidiu sobre diversos outros prédios do conjunto arquitetônico,
e o Grau de Proteção 3, que preserva apenas e tão somente a volumetria dos edifícios sob os quais
incide.

DO "DESTOMBAMENTO" DO HOSPITAL MATARAZZO E DA APROVAÇÃO DO EMPREENDIMENTO

Após o tramite desse processo e já modificada a composição do CONDEPHAAT, fatos inusitados


passaram a ocorrer, podendo-se dizer que teve início um verdadeiro processo de "destombamento"
do bem em questão, sem razões de ordem técnica que justificassem tal "destombamento" e mesmo
sem observância de todo o procedimento legal previsto.

Dessa forma, ainda de acordo com a narração do Prof. Paulo Bastos (narração fartamente
comprovada), em data de 09/12/94, o Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos (doc. 12
do parecer do Dr. Paulo Bastos) enviou ofício onde, por mais absurdo que possa parecer, lê-se:
"Recebemos informações referentes à possibilidade de revisão da decisão que decidiu pelo
tombamento do complexo hospitalar denominado Hospital Humberto I"

Ora, que informações seriam essas? Na folha seguinte do processo, surge documento de lavra do
conselho do CONDEPHAAT (doc. 13 do parecer do Dr. Paulo Bastos) no sentido de "rever" a
resolução de tombamento de acordo com estudos "a serem desenvolvidos".

Ou seja, pasme V. Exa., a decisão de "rever" o processo de tombamento ocorreu sem qualquer
estudo prévio, ao contrário da decisão de tombar o imóvel que, como visto, foi profundamente
analisada. Como se não bastasse, foram indicados técnicos do CONDEPHAAT (doc. 14 do parecer do
Dr. Paulo Bastos) para que, juntamente com o escritório do arquiteto Julio Neves, indicado pela
Sociedade Beneficente Hospital Matarazzo (doc. 15 do parecer do Dr. Paulo Bastos), entrassem em
"entendimentos técnicos necessários", a fim de que fosse elaborado "projeto de intervenção na
área do Hospital". No mesmo dia (doc. 16 do parecer do Dr. Paulo Bastos), o Presidente do
Condephaat determinou que fosse agendada um reunião entre os técnicos do CONDEPHAAT e o
Escritório do arquiteto Julio Neves, por mais espantoso que isso possa parecer!!!!!

Portanto, do que se pode inferir dos documentos que integram o parecer do arquiteto Paulo
Bastos, técnicos de um órgão público elaboraram parecer em conjunto com um escritório de
arquitetura privado, o que evidentemente é uma promiscuidade inaceitável e manifestamente
ilegal, uma vez que a motivação dos técnicos de um órgão público, ainda mais da importância do
CONDEPHAAT, deve ser obviamente o interesse público, e um escritório de arquitetura privado
evidentemente é guiado por outros interesses que, ainda que legítimos, não se confundem com os
interesses da coletividade. Custa a crer que imoralidade e ilegalidade desse porte possam
ocorrer em plena vigência do Estado de Direito.

Após tal procedimento, o "destombamento" foi aprovado, através da aprovação de um tal "plano de
massas". Acerca dessa aprovação, o CONDEPHAAT enviou documentação ao Ministério Público (doc.
10), em resposta a requerimento formulado pelo Dr. Mario Augusto Vicente Malaquias, que atua
em virtude da representação formulada pelas autoras, anteriormente referida. De acordo com tal
documentação, confirma-se que em 19 de dezembro de 1994 foi indeferida proposta
encaminhada pelo escritório técnico Júlio Neves de "liberação parcial" do tombamento do
imóvel (doc. 11). Ainda segundo tal documentação, por mais incrível e estranho que possa
parecer, na mesma data, o Conselho deliberou pela revisão da Resolução de Tombamento do
Hospital Humberto I, conforme supra referido, sem que sejam mencionados quaisquer motivos
e sem que seja feita a mais remota menção acerca das razões técnicas pelas quais entende o
conselho que tal Resolução deveria ser revista!!!!!! (doc. 12).

Sempre mediante a provocação do Escritório técnico do Sr. Julio Neves, em 10 de abril de 1995 o
CONDEPHAAT aprovou o tal "plano de massas", que, segundo consta, permitiria a "revisão parcial"
do tombamento. Novamente não são explanadas razões técnicas em face do interesse público
que justificariam tal revisão ou a aprovação do "plano de massas". (doc. 13).

Finalmente, em 11 de maio de 1998, o CONDEPHAAT aparentemente aprovou o projeto combatido


nos presentes autos e, uma vez mais, não explanou qualquer razão, qualquer justificativa,
qualquer motivo, qualquer conveniência ao interesse público de aprovação do
empreendimento pretendido. (doc. 14) A única razão para a aprovação, certamente um tanto
quanto irônica, para dizer o mínimo, é a de que o projeto poderia ser aprovado porque "atendia o
plano de massas", plano de massas esse que foi aprovado a partir de requerimentos do mesmo
escritório técnico que o responsável pelo empreendimento objeto dos presentes autos.

O projeto também tramitou no âmbito da Administração Municipal, para obtenção dos alvarás de
aprovação e de execução da obra. Verificando-se tais documentos, constata-se a monstruosidade
do projeto e a relutância na sua aprovação por parte de dignos funcionários públicos do município
incumbidos apenas tecnicamente de analisar o projeto.

Assim, o processo administrativo municipal teve início com o requerimento do escritório técnico
Júlio Neves, contratado pela Previ, para realizar "reforma com aumento de área e mudança parcial
de uso das edificações destinadas a Hospital, Centro de compras (shopping center), edifício de
serviços e flat service". Portanto, o que pretendem os réus é a construção no local de
empreendimento imobiliário de tamanho descomunal (doc. 15).
Aqui há outro fato no mínimo curioso. O requerimento de aprovação do empreendimento
pretendido recebeu despacho determinando o prosseguimento do processo administrativo em
15/05/96 (doc. 16), ou seja, após a aprovação, por parte do CONDEPHAAT, do "plano de massas"
mas antes da aprovação, por parte do mesmo, do empreendimento em questão! Ora, porque os
réus já encaminhavam pedido de aprovação de obra à Prefeitura antes mesmo de saber se o
projeto seria aprovado pelo CONDEPHAAT? Tinham certeza da aprovação da obra no
CONDEPHAAT?

Em 24/06/96, o Departamento de aprovações da Prefeitura proferiu despacho (doc. 17)


determinando o cumprimento de várias providências aos pretendentes do empreendimento,
demonstrando que havia constatado algumas ilegalidades que serão adiante esmiuçadas. Nesse
despacho foi determinado que os réus apresentassem certidão de diretrizes da CET, para que fosse
avaliado o impacto no tráfego da região, relatório de impacto de vizinhança, dentre diversas
outras exigências, todas elas estribadas na lei.

Em 31/07/96, os interessados no empreendimento pretenderam cumprir o determinado no


despacho supra mencionado, alegando que não seria o caso de realização de relatório de impacto
de vizinhança e comprometendo-se a apresentar posteriormente a certidão de diretrizes da
Secretaria Municipal de Transportes, dentre outras explicações que julgou pertinentes e oportunas
(doc. 18). A Municipalidade, por sua vez, em franco descumprimento da legislação municipal
(como adiante se verá) dispensou os interessados da apresentação de tal Relatório!!!!! (doc. 19).

Finalmente, a Certidão de Diretrizes da Secretaria Municipal de Transportes foi apresentada, em


data de 5 de setembro de 1996 (doc. 20). Nessa certidão, que é inconclusiva, ou seja, nem
aprova nem desaprova o empreendimento, está detalhado o projeto, e de sua leitura podemos
perceber que pretende-se construir, no total, 165.523,96 m2 (cento e sessenta e cinco mil,
quinhentos e vinte e três metros quadrados e noventa e seis centímetros), excluídas as áreas
destinadas a estacionamento de veículos. De acordo com essa certidão de diretrizes, foi firmado
termo de compromisso entre o pretendente da obra e a Prefeitura (doc. 21), onde a Previ
comprometia-se a financiar pequenas alterações na estrutura viária próxima ao local, que segundo
a Secretaria de Transportes seriam necessárias em virtude da magnitude do empreendimento.

Apesar de todas as ilegalidades, o projeto foi aprovado pela Municipalidade, tendo recebido o
alvará de aprovação nº 670.099.896-4 (doc. 22). Porém, foi constatado pela Municipalidade que a
Previ não cumpriu tudo o que foi determinado como condição para que o projeto pudesse ser
executado (doc. 23), o que motivou a suspensão da licença para a obra. Vários requerimentos de
revalidação do alvará, por parte da Previ, foram formulados, sendo que várias vezes tal
revalidação foi indeferida (docs. 24/30). Todavia, o que tem levado a Prefeitura à não revalidação
do alvará de aprovação e execução pretendidos são problemas de ordem técnica passíveis de
serem sanados, e não propriamente as aberrações e ilegalidades que são apontadas nessa
demanda, evidentemente não passíveis de saneamento.

Cumpre observar, ainda, que o CONDEPHAAT comunicou ao Ministério Público, ao responder a


representação formulada pelo insigne e diligente Promotor da Habitação e Urbanismo, Dr. Mario
Malaquias, o que segue (doc. 10 – já mencionado):

"Esclarecemos que para revisão da Resolução de Tombamento do Conjunto Hospitalar Humberto I,


há necessidade de definição do detalhamento do projeto, que deverá ser desenvolvido pelos
interessados já citados com supervisão deste órgão para posterior apreciação do Egrégio
Colegiado. Face à ausência de decisão final do Conselho quanto à revisão, inexiste documento
de homologação do Senhor Secretário da Cultura sobre a questão".

Ora, afinal, o empreendimento foi ou não aprovado pelo CONDEPHAAT?, se não foi, como pode
estar aprovado pela Municipalidade, que já expediu alvará de construção para o imóvel? Tais
perguntas devem ser respondidas pelos réus! Evidente que, caso a Prefeitura do Município de
São Paulo tenha concedido alvará de aprovação para o empreendimento pretendido sem que o
mesmo estivesse aprovado pelo órgão de tombamento estadual, mais uma ilegalidade estará
presente, e de natureza gravíssima.

De qualquer forma, de acordo com o projeto aprovado, haveria destruição parcial da Casa de
Saúde Francisco Matarazzo, destruição parcial do núcleo original do Hospital Humberto I,
destruição parcial da residência das irmãs, do ambulatório e das enfermarias (todos com nível de
preservação P2, de acordo com a resolução de tombamento aprovada e supra referida) e
destruição total da Cozinha, lavanderia, refeitório, da lanchonete, das lojas e do estacionamento
(todos com nível de preservação P3).

Observando-se tal pretensão, fica evidente a afronta à Resolução de tombamento do próprio


CONDEPHAAT, uma vez que o nível P2, como já mencionado, visa a preservação das fachadas e do
gabarito, e o nível P3, por seu turno, visa a preservação da volumetria dos imóveis, e é fácil
perceber que o empreendimento pretendido possui volume de construção bem maior do que o
conjunto arquitetônico sob o qual incide o nível de preservação P3. O parecerista Dr. Paulo Bastos,
no final de seu parecer, apresenta esquema gráfico mostrando a estrutura atual do complexo
hospitalar e a feição que tal imóvel ganharia se fosse construída a obra pretendida, e tal esquema
gráfico demonstra com clareza a afronta à Resolução de tombamento.

Feitas tais considerações, as ilegalidades que estão presentes no pretenso empreendimento serão
abordadas nos tópicos seguintes, primeiro no que diz respeito ao "destombamento do imóvel",
"destombamento" esse no qual se estriba a pretensão de demolição do conjunto arquitetônico do
Hospital Matarazzo, e posteriormente serão analisadas as ilegalidades que estão presentes na obra
que se pretende construir frente às normas de uso e ocupação do solo do Município de São Paulo.

DO DIREITO DA COLETIVIDADE AO TOMBAMENTO DO HOSPITAL MATARAZZO

O instituto do tombamento vem sendo considerado pela doutrina pátria majoritária como um ato
administrativo vinculado, ou seja, uma vez presentes as razões de ordem técnica para que o
tombamento ocorra, tal ato passa a ser um direito subjetivo da coletividade à preservação de sua
memória histórica e cultural, direito subjetivo esse que impede o órgão responsável de omitir-se
em proteger o patrimônio, não havendo qualquer dúvida acerca da possibilidade de controle
jurisdicional acerca do cumprimento desse direito público subjetivo.

Nesse sentido, é contundente o magistério do Prof. Hely Lopes Meirelles(1):

"Quando o Poder executivo não toma as medidas necessárias para o tombamento de um bem
que reconhecidamente deva ser protegido, em face de seu valor histórico ou paisagístico, a
jurisprudência tem entendido que, mediante provocação do Ministério Público (ação civil
pública) ou de cidadão (ação popular), o Judiciário pode determinar ao Executivo faça a
proteção. De igual forma, a omissão administrativa em concluir o processo de tombamento afeta o
direito de propriedade e lesa o patrimônio individual, justificando, assim, a sua anulação pelo
Judiciário."

O eminente civilista Orlando Gomes preleciona no mesmo sentido(2):

"O Judiciário tem competência para decidir se a coisa tombada tem ou não valor histórico e
artístico; na hipótese afirmativa, subsiste o tombamento, com as restrições que dele decorrem"

O Prof. Antonio A. Queiroz Teles, que elaborou monografia específica sobre o instituto jurídico do
tombamento, leciona no mesmo diapasão, citando, inclusive, V. Acórdão do Egrégio STF para
embasar sua conclusão. Eis suas palavras(3):

"Mas, se o poder público se atribui a obrigação de qualificar, através do parecer, o bem tombado
de características que o tornem suscetível de ser tombado, também é evidente que "ao Judiciário,
cabe decidir se o imóvel inscrito no Serviço do Patrimônio Histórico Artístico Nacional (IBPC)
tem ou não valor histórico ou artístico, não se limitando a sua competência em verificar
apenas se foram observadas as formalidades legais no processo de tombamento" (Julgado do
STF, de 19.8.43, RDA 98/586)."

Pontes de Miranda também entende que(4):

"o ato estatal não é discricionário. Há o pressuposto de ter valor artístico, ou histórico, ou de
beleza natural, o bem que se tomba como monumento ou documento protegido"
O administrativista José Cretela Junior, por sua vez, assim deixa consignado(5):

"Se o tombamento é decretado por motivo histórico, permanece o ato se a história, realmente,
justifica a medida, mas o procedimento se anula se se prova que o bem nada tem de histórico. No
caso o critério histórico limita o arbítrio do administrador, impedindo o desvio de poder, a
arbitrariedade, a ilegalidade. Ultrapassado o mero exame da legalidade formal ou epidérmica,
visível à primeira vista, o poder judiciário desde ao exame da legalidade substancial ou
material"

Cite-se, ainda, o eminente Seabra Fagundes(6):

"É certo que essa matéria envolve a apreciação do mérito de atos administrativos (a valia dos bens
sob aqueles aspectos), mas também ocorre apreciação do mérito nos casos em que, sendo
tombado o bem, se impugnem medidas administrativas, sob o fundamento de que o prejudiquem.
O que acontece é que o alargamento do controle jurisdicional, além do aspecto de
legitimidade, resulta da vontade da lei, porquanto consequência necessária da ampliação do
conceito de patrimônio para fins de propositura de ação popular".

Temos o magistério de Toshio Mukai(7):

"Ora, se é assim, se há um poder-dever da Administração no ato de tombamento, jamais esse ato


pode ser discricionário; ao contrário, sendo vinculado esse ato, se um imóvel tiver valor histórico,
natural ou artístico ou, ainda, arqueológico, não há como a autoridade deixar de tombá-lo, pois,
constitucionalmente, pesa-lhe o dever de fazê-lo. Eis aí a natureza vinculativa do ato de
tombamento".

Não podemos deixar de mencionar o magistério do Prof. Paulo Affonso Leme Machado, um dos
juristas brasileiros que mais se debruçou sobre o estudo do tombamento(8):

"O conceito de arte, de estética, de história, de turismo e de paisagem deve ser somado ao
conceito de valor desses bens e direitos. Essa junção e conceituação muitas vezes não será tarefa
fácil, mas, nem por isso, o juiz poderá furtar-se a fazê-las. A prova documental, pericial e
mesmo a prova testemunhal ajudarão para a devida prestação jurisdicional"

Por fim, temos talvez o mais contundente magistério acerca da possibilidade do Poder Judiciário
determinar o tombamento de um bem quando estão evidenciadas razões técnicas para que o
mesmo se realize, do Prof. José Eduardo Ramos Rodrigues:

"Ora, nem a Constituição, nem a lei determinam que esses bens tenham sido previamente
reconhecidos como culturais pelo Poder Executivo para serem dignos de proteção do Poder
Público. O valor cultural existe como característica intrínseca do bem, desde que reconhecido
como portador de referência à identidade, à ação, à memória de algum grupo formador da
sociedade brasileira (art. 216 da CF). Já a partir daí cabe ao Poder Público, em conjunto com a
comunidade, protegê-lo (art. 216, § 1º)., mesmo que não tenha sido ainda tombado ou
protegido formalmente, por algum outro instrumento jurídico. Portanto, é dever do Poder
Público, seja da união, Estado ou Município, através do Poder executivo, Legislativo ou
Judiciário, proteger os bens integrantes do patrimônio cultural através de quaisquer formas de
acautelamento ou preservação (art. 216, § 1º), desde que tenham algum fundamento legal. (...).
Com fundamento na lei 7.347/85 (Lei dos Interesses Difusos), pode ser ajuizada ação cautelar no
sentido de sustar quaisquer atos que possam vir a causar a descaracterização de um bem não
protegido enquanto estiver "sub judice". Na ação principal, através de perícia poderá o bem ser
declarado protegido para sempre, mantidas as suas características, em virtude de seu valor
cultural."

Também na jurisprudência majoritária dos nossos tribunais essa linha de orientação tem
prevalecido, como no V. Acórdão do Egrégio Supremo Tribunal Federal que passamos a
transcrever(9):
"Ao Judiciário cabe decidir se o imóvel inscrito no Serviço de Patrimônio Histórico e Artístico
Nacional tem ou não valor histórico ou artístico, não se limitando a sua competência em verificar,
apenas, se foram observadas as formalidades legais, no processo de tombamento"

O Egrégio Tribunal de Justiça do Paraná também teve oportunidade de consagrar esse irretocável
entendimento(10):

"Em matéria de tombamento cabe ao Judiciário um duplo controle: da regularidade do processo


administrativo e o controle de mérito referente à existência ou não de valor histórico ou artístico"

No Judiciário Paulista esse magistério é francamente acolhido, como no V. Acórdão abaixo


transcrito, de lavra do saudoso Des. Alves Braga(11):

"É dever do Poder público preservar e não destruir a história viva das cidades. Em nome do
progresso tudo tem sido destruído e as cidades paulistas perderam suas origens e foram
completamente desfiguradas, pouco restando de seu passado. Povo sem memória é povo sem
história. Povo sem História é povo sem alma."

Também em primeira instância tem prevalecido o mesmo entendimento, como na r. sentença do


insigne magistrado da Comarca de Sertãozinho, Dr. Álvaro Luiz Valery Mirra, cuja ementa
transcrevemos(12):

"Imóvel de relevante interesse histórico – Abstenção da realização de alterações, reformas ou


demolições que descaracterizem o bem"

Diante de tais manifestações doutrinárias e jurisprudenciais, evidencia-se que, uma vez presentes
os requisitos de ordem técnica para que determinado bem imóvel seja tombado, é mais do que
legítimo que o Poder Judiciário faça valer seus efeitos, anulando, no caso em tela, o
"destombamento" ilegal e arbitrariamente levado a cabo pelo CONDEPHAAT. Em outros termos,
fica evidenciado (e nem mesmo poderia ser diferente) que, pelo regime jurídico nacional do
instituto do tombamento, não é dado ao órgão tecnicamente responsável (e não politicamente
responsável) tombar e destombar um bem ao seu bel prazer, sem que razões fundamentadas
justifiquem tal decisão, ao sabor dos casuísmos e de interesses escusos.

Aliás, tais atos administrativos, absolutamente ilegais, devem sempre ser repelidos pelo poder
Judiciário, ainda que se tratem de atos discricionários. Nesse sentido, o magistério do Prof. Celso
Antonio Bandeira de Mello(13):

"O plexo de poderes depositados em mãos da Administração, ante o seu caráter serviente,
instrumental, não é para ser manejado em quaisquer circunstâncias, para quaisquer fins ou
por quaisquer formas. Pelo contrário, é previsto como utilizável perante certas circunstâncias,
para alcançar determinados fins e através de especificadas formas. Daí que existe um completo
entrosamento entre os diversos aspectos denominados "elementos" ou "requisitos" ou "pressupostos"
do ato administrativo"

Ocorre que, no caso dos autos, as razões de ordem técnica para o tombamento são bastante
robustas, foram profundamente discutidas e analisadas no processo do tombamento, sensibilizam a
população, conforme visto no abaixo assinado de mais de 4.000 (quatro mil) assinaturas juntado
aos autos e evidentemente não foram abaladas pelo "destombamento" do bem.

A simples descrição de todo o processo de tombamento, desde o seu início, efetuada nos tópicos
anteriores da presente vestibular e melhor detalhado no parecer do Dr. Paulo Bastos, demonstra
com clareza os motivos que levaram o CONDEPHAAT a, naquela época, tombar o Hospital
Matarazzo, não sem antes diversos pareceres de profissionais de áreas de conhecimento distintos
(historiadores, arquitetos, etc.) terem recomendado que o tombamento fosse efetivado.

No curso do processo de tombamento, a arquiteta Maria Lúcia Pinheiro Ramalho e as historiadoras


Marly Rodrigues e Sonia de Deus Rodrigues apresentaram as razões técnicas pelas quais entendiam
necessários o tombamento (doc. 10 do parecer do Dr. Paulo Bastos), que transcrevemos:
"Tendo em conta que o Hospital Matarazzo:

é um remanescente altamente representativo das instituições organizadas pela parcela mais


significativa dos imigrantes fixados na cidade de São Paulo, os italianos;

exerceu papel de destaque no atendimento médico hospitalar da população trabalhadora da


cidade, especialmente no período em que a assistência pública era deficitária;

desenvolveu uma qualidade de atendimento que o fez ser também procurado – em especial a
maternidade – pela população de médio e alto poder aquisitivo;

destacou-se como espaço de formação profissional e de estudo da ciência médica;

teve papel pioneiro em algumas atividades hospitalares;

Torna-se evidente a importância histórica dessa instituição na cidade de São Paulo.

Outro aspecto a salientar é o valor ambiental intrínseco do conjunto de edifícios que compõem o
Hospital Matarazzo – o único sítio de porte que escapou à verticalização pela Avenida Paulista
na região em relação a seu entorno."

Portanto, valores ambientais, urbanísticos, culturais, arquitetônicos e históricos justificaram o ato


de tombamento efetuado pelo CONDEPHAAT, sendo que a presença de tais valores foi amplamente
debatida e corroborada por diversos profissionais. Poucas vezes se encontram imóveis com tantas
razões para o tombamento quanto o Hospital Matarazzo, e poucas vezes um processo de
tombamento é tão profundamente analisado e fundamentado como ocorre no caso em tela.

Em contrapartida a isso, o que temos? Quais as razões alegadas pelo CONDEPHAAT para o
destombamento? Por que razões aprovou as obras em desacordo com a Resolução anterior? Por
mais que se consultem os documentos acerca do processo de "destombamento", não se encontra
nenhuma justificativa, por mais bisonha que fosse, para que o "destombamento" ocorresse.

Acerca desse ponto, e da exótica e estapafúrdia maneira com que foi conduzido o "processo de
destombamento", pedimos vênia para transcrever as considerações do Dr. Paulo Bastos no seu
parecer tantas vezes citado:

"Da mesma forma que são exigidos estudos e critérios consistentes para que se efetue qualquer
tombamento e se estabeleça a regulamentação urbanística do entorno do bem tombado, no
sentido de preservar sua visibilidade e ambiência, o mesmo deve ocorrer com o destombamento ou
alterações significativas da concepção original de tombamento, procedimentos que requerem
fundamentação ainda mais cuidadosa, posto que, como se sabe, a destruição parcial ou total do
bem ou de sua ambiência acaba por assumir, quase sempre, um caráter de irreversibilidade do
dano causado.

No caso analisado, o processo não contém nenhum elemento que indique porque o tombamento
deveria ser revisto, quais os valores por ele reconhecidos que tenham desaparecido ou perdido
significado, ou quais condições teriam sido por ele indevidamente estabelecidas."

Diante disso, é mais do que evidente que o ato pelo qual o CONDEPHAAT "destombou" o imóvel
deve ser anulado, porque contrário ao que foi tecnicamente apurado, e o que foi tecnicamente
apurado, como fartamente demonstrado, possui caráter vinculado para o CONDEPHAAT, não sendo
lícito que tal órgão adote outra solução arbitrariamente.

DA AUSÊNCIA DE MOTIVO E DE MOTIVAÇÃO PARA O "DESTOMBAMENTO" DO IMÓVEL - DESVIO DE


FINALIDADE

Como corolário da ilegalidade apontada no tópico anterior, temos que o ato administrativo que
"destombou" o imóvel em questão feriu requisitos básicos e elementares que devem nortear, num
regime democrático, a edição de todo e qualquer ato administrativo.
Nesse sentido, os requisitos do "motivo" e da "motivação" do ato foram descumpridos. O Prof. Celso
Antonio Bandeira de Mello define o que se deve entender por "motivo", no sentido jurídico do
termo (e não qualquer motivo), que é requisito essencial do ato administrativo(14):

"Se a regra de direito enuncia que um dado ato pode (ou deve) ser produzido quando presente
determinado motivo (isto é, uma dada situação de fato), resulta óbvio ser condição da lisura da
providência adotada que efetivamente tenha ocorrido ou seja existente aquela situação
pressuposta na norma a ser aplicada. Se o fato presumido pela lei não existe, sequer irrompe a
competência para expedir o ato, pois as competências não são conferidas para serem
exercidas a esmo. Os poderes administrativos são irrogados para que, em face de determinadas
situações, o agente atue com vistas ao escopo legal. Donde o motivo é a demarcação dos
pressupostos fáticos cuja ocorrência faz deflagrar em concreto a competência que o agente
dispõe em abstrato"

Mais adiante, conclui o ilustre professor:

"Jamais seria de admitir que a autoridade pudesse expedir um ato sem motivo algum – pois isso
seria a consagração da irracionalidade – ou que pudesse escolher qualquer motivo, fosse qual
fosse, pois redundaria no mesmo absurdo da irracionalidade"

Ora, no caso dos autos, como visto, não houve qualquer alteração nas razões que levaram o
CONDEPHAAT a tombar o imóvel. Com efeito, não perdeu o Hospital seu valor cultural, histórico,
arquitetônico, ambiental e urbanístico, ou seja, não houve qualquer motivo, qualquer situação
fática tão relevante quanto o tombamento que justificasse a autorização para a obra pretendida.

Justamente por causa dessa ausência de motivos, houve ausência de motivação na decisão que
autorizou a obra, ou seja, não houve exteriorização de motivo algum, por mais estapafúrdio que
fosse. Citamos novamente o magistério do Prof. Celso Antonio Bandeira de Mello(15):

"A autoridade necessita referir não apenas a base legal em que se quer estribada mas também
nos fatos ou circunstâncias sobre os quais se apóia e, quando houver discrição, a relação de
pertinência lógica entre seu supedâneo fático e a medida tomada, de maneira a se poder
compreender sua idoneidade para lograr a finalidade legal. A motivação é, pois a justificativa do
ato".

Com visto, portanto, no caso dos autos, em nenhum momento as autoridades públicas preocupam-
se em dar uma satisfação para os interessados, em nenhum momento se preocupam em explicitar
as razões pelas quais autorizaram a realização de obra que destrói patrimônio tombado de inegável
interesse público por seu caráter histórico, ambiental, urbanístico, arquitetônico e cultural.
Mecanicamente, transformando o CONDEPHAAT em órgão meramente homologatório de desmandos
e de arbitrariedades, aprovam a obra e, mais do que isso, determinam aos técnicos do órgão,
altamente qualificados, que elaborem "estudos em conjunto" com representantes de interesses
privados, numa promiscuidade entre o interesse público e o interesse privado sem precedentes.
Trata-se, assim, de um caso clássico, de um caso acadêmico, de desvio de finalidade, por
ausência de motivo e de motivação do ato administrativo.

Acerca do desvio de finalidade, ou também denominado desvio de poder, temos o magistério de


Hely Lopes Meirelles(16):

"O desvio de finalidade ou de poder verifica-se quando a autoridade, embora atuando nos
limites de sua competência, pratica o ato por motivos ou com fins diversos dos objetivados
pela lei ou exigidos pelo interesse público. O desvio de finalidade ou de poder é, assim, a
violação ideológica da lei, ou, por outras palavras, a violação moral da lei, colimando o
administrador público fins não queridos pelo legislador, ou utilizando motivos e meios imorais
para a prática de um ato administrativo aparentemente legal. "

Mais adiante, com mais contundência ainda, conclui o saudoso Professor:

"O ato praticado com desvio de finalidade – como todo ato ilícito ou imoral – ou é consumado às
escondidas ou se apresenta disfarçado sob o capuz da legalidade e do interesse público. Diante
disso, há que ser surpreendido e identificado por indícios e circunstâncias que revelem a distorção
do fim legal, substituído habilidosamente por um fim ilegal ou imoral não desejado pelo legislador.
(...). Dentre os elementos indiciários de desvio de finalidade está a falta de motivo, ou a
discordância dos motivos com o ato praticado"

Ora, é exatamente isso o que ocorre no caso dos autos. Todavia, o Prof. Hely Lopes Meirelles fala
em "indícios" de desvio de finalidade. No caso vertente, existem diversos e inquestionáveis
indícios, sendo eles: a falta de motivo para o "destombamento" do imóvel em questão, a falta de
motivação, a aprovação de "revisão" do tombamento sem qualquer estudo técnico que embasasse
tal decisão, o imoral conluio entre técnicos de um órgão público e de uma entidade privada na
elaboração de um "plano de massas" conjunto, em evidente afastamento do interesse público, a
aprovação da obra pela Municipalidade supostamente sem a aprovação do empreendimento pelo
CONDEPHAAT, etc.

Por essas razões, repita-se, estamos diante de um exemplo clássico de desvio de finalidade.
Mesmo que os réus aleguem que não possuíam intenção escusa alguma de praticar o desvio de
poder, ainda assim o mesmo está inegavelmente configurado, uma vez que a intenção do agente
de cumprir a lei corretamente ou não é absolutamente irrelevante. Para ilustrar tal afirmação,
recorremos novamente ao magistério do nunca assaz citado Prof. Celso Antonio Bandeira de
Melo(17):

Meio Ambiente

Revista do Centro de Apoio Operacional às Promotorias de Justiça de Proteção ao Meio


Ambiente do Estado do Paraná

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE ICARAÍMA - PARANÁ

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO PARANÁ, através de seus representantes legais ao final


assinados, agindo por especial designação do Excelentíssimo Senhor Procurador Geral de Justiça,
com fundamento no artigo 1°, inciso I, 3°, 5° e 12 todos da Lei n° 7.347 de 24 de julho de 1985,
artigos 1°, 19 e 26, alínea "a" da Lei n° 4.771/65, artigo 18 e seu parágrafo único da Lei n° 6.938
de 31 de agosto de 1981, e ainda o disposto no artigo 225 da Constituição Federal e demais
disposições da lei adjetiva civil, vem perante Vossa Excelência, propor:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA DE RESPONSABILIDADE POR DANOS CAUSADOS AO MEIO AMBIENTE, com
pedido de medida liminar, pelo rito ordinário, consistente na obrigação de fazer e indenizar os
danos causados, contra:

FÁFIA DO BRASIL - PRODUTOS NATURAIS LTDA, Sociedade por Quotas de Responsabilidade


Limitada, com sede na Cidade de Porto Rico, neste Estado do Paraná, à Av. João Carraro, n° 227,
centro, e

PLÍNIO JOÃO BORGES, brasileiro, casado, comerciante, residente e domiciliado à Rua Irapuru
s/n°, Distrito de Porto Camargo, comarca de Icaraíma, neste Estado do Paraná, tendo em vista os
fatos e fundamentos que a seguir passa a aduzir:

Em desrespeito a princípios e normas relativas à proteção ambiental, a empresa acima


individuada, vem efetuando a exploração de uma espécie de arbusto nativo nas Ilhas do Rio
Paraná, que é utilizada na indústria farmacêutica e de cosméticos, cuja denominação científica é
"PFAFFIA sp."

Consiste a espécie em questão, em um pequeno arbusto nativo, próprio das regiões de cerrado. No
inverno, perde as folhas, ficando com aparência de morta. Desenvolve raiz subterrânea que em 07
(sete) anos atinge cerca de 02 (dois) metros de comprimento e 10 (dez) centímetros de espessura.
É neste momento que é colhida e industrializada.

A "PFAFFIA" cresce naturalmente nos Estados de Goiás, norte de Minas Gerais e outras áreas de
cerrado e Mato Grosso. Aqui no Estado do Paraná, ela aparece nas Ilhas do Rio Paraná, Arquipélago
Ilha Grande e Bandeirantes. De notar-se que o seu desenvolvimento radicular é, aqui no Paraná,
bem inferior à dos outros Estados da União, atingindo um peso médio de 500 gramas, quando
adultas, a altura de 1,50m (um metro e meio). Ainda, a sua reprodução é feita através de
sementes e raízes.

A importância desta espécie reside também no ponto em que ela faz parte da cadeia alimentar de
animais silvestres que habitam as ilhas e os bovinos que ali se criam, sendo que sua exploração
indiscriminada e mal conduzida poderá ocasionar a extinção da espécie, com o conseqüente
desequilíbrio ambiental.

Mister ressaltar-se que para exploração da "PFAFFIA PANICULATA", cuja parte aproveitada é a raiz,
com efeitos medicinais, é necessária e indispensável a autorização do IBAMA, o que a referida
empresa não possui.

O material é extraído das Ilhas do Rio Paraná, pelo Senhor Plínio João Borges, retro
individuado, sendo depois vendido para a referida empresa para posterior beneficiamento

colaborando assim, para a degradação ambiental.

Importante frisar, que estas áreas se constituem em Reservas Ecológicas, portanto, com regime
especial de utilização nos termos do artigo 18 da Lei n° 6.938/81.

A "PFAFFIA Sp", tem propriedades muito similares ao Ginseng Coreano, por isto mesmo é conhecida
como "Ginseng Brasileiro", porém, com características próprias.

A parte utilizada da planta é a raiz, sendo que uma planta adulta fornece até 500 (quinhentos)
gramas de raízes. Levando-se em conta isto e mais, que são retiradas aproximadamente 30 (trinta)
toneladas de raízes por mês, pode-se concluir que são erradicadas mais de 60.000 (sessenta mil)
plantas por mês, sem a devida reposição, o que fatalmente ocasionará a extinção da espécie.

Este extrativismo realizado pela empresa, bem como pelo requerido, provoca danos ecológicos
irreversíveis, visto que esta planta faz parte de um ecossistema local, onde há integração com
outras espécies de plantas e animais, de notar-se, que a integração e o equilíbrio são
características fundamentais da vida em natureza.

A proteção das diferentes formas de vegetação, em especial a que se nos apresenta no caso em
tela, constitui um fator relevante na qualidade de vida, pela função social que representa no
equilíbrio ecológico, tendo em vista, principalmente, o fato de que o equilíbrio ecológico não é
constituído por uma participação igual entre as diferentes espécies, ou seja, cada ser vivo
desempenha função especifica qualitaviva e quantitativamente nas comunidades vivas que se
interrelacionam no ecossistema, e é justamente nessa participação desigual que se baseia a
estabilidade do sistema.

Pretende-se, com as normas legais sobre meio ambiente, resguardar o direito meta-individual, no
sentido de se proteger o meio em que vivemos, lesado pela atividade nociva da requerida e do
requerido, e o meio ambiente deve ser entendido como sendo um bem jurídico essencial à vida, à
saúde, à felicidade do ser humano, imprescindível à sobrevivência dos indivíduos harmonicamente
reunidos em sociedade, que foi definitivamente consagrado na Constituição Federal, em seu artigo
225, superando as próprias nações tidas como desenvolvidas, as quais não possuem uma legislação
tão eficiente em favor de seus cidadãos, "in verbis".

Art. 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à
coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações".

Ao estabelecer o meio ambiente como sendo um direito de todos, desejou a Lei Fundamental
realizar uma proclamação no sentido de afirmar categoricamente que o meio ambiente saudável é
uma condição inerente à dignidade humana.
O significado deste bem jurídico é de tal ordem que a Conferência das Nações Unidas, reunida em
Estocolmo, Suécia, em junho de 1972, fez proclamar a "Declaração Universal sobre o Meio
Ambiente", a qual em artigo 1° reza:

"O homem tem direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de


vidas adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida
digna, gozar de bem-estar e é portador solene da obrigação de proteger e melhorar o meio
ambiente, para as gerações presentes e futuras".

Com a sua atividade, infringiu a requerida, bem como o requerido, o disposto no artigo 1° da Lei
n° 4.771/65, a saber:

"Art. 1° - As florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação


reconhecidas de utilidade às terras que revestem, são bens de interesse comum a todos os
habitantes do País, exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação
em geral e especialmente esta Lei estabelecem".

No mesmo diploma legal, está estabelecido quais são as áreas consideradas como de preservação
permanente, senão vejamos:

"Art. 2° - Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta lei, as florestas e


demais formas de vegetação natural situadas:

a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto en faixa marginal
cuja largura mínima seja:

5) de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600
(seiscentos) metros".

No seu artigo 19, estabelece o Código Florestal, "verbis":

"Art. 19 - A exploração de florestas e de formações sucessoras, tanto de domínio público como


de domínio privado, dependerá de aprovação prévia do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e
dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, bem como da adoção de técnicas de condução,
exploração, reposição florestal e manejo compatíveis com os variados ecossistemas que a
cobertura arbórea forme".

Mais adiante, em seu artigo 26, alínea "a", assevera:

"Art. 26 – Constituem contravenções penais e puníveis com três meses a um ano de prisão
simples ou multa de um a cem vezes o salário mínimo mensal do lugar e da data da infração ou
ambas as penas cumulativamente:

a) destruir ou danificar a floresta considerada de preservação permanente, mesmo que em


formação, ou utilizá-la com infringência das normas estabelecidas ou previstas nesta Lei".

Não houve a elaboração do estudo de impacto ambiental tanto para a exploração quanto para a
subsistência da biota na região, em descumprimento ao que preceituam os artigos 225, inciso IV da
Constituição Federal e o artigo 1°, inciso III da resolução n° 001/86 do Conselho Nacional do Meio
Ambiente, "verbis":

Art. 225 - (...)

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de


significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade".
"Art. 1° - Para efeito desta Resolução, considera-se impacto ambiental qualquer alteração dlas
propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de
matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam:

III - a biota".

E ainda o disposto no artigo 18 da Lei n° 6.938/81, que determina:

"Art. 18 - São transformadas em reservas ou estações ecológicas, sob a responsabilidade do


IBAMA, as florestas e as demais formas de vegetação natural de preservação permanente,
relacionadas no artigo 2° da Lei n° 4.771, de 15 de setembro de 1965 - Código Florestal, e os
pousos das aves de arribação protegidas por convênios, acordos ou tratados assinados pelo
Brasil com outras nações.

PARÁGRAFO ÚNICO - As pessoas físicas ou jurídicas que, de qualquer modo, degradarem


reservas ou estações ecológicas, bem como outras áreas declaradas como de relevante
interesse ecológico, estão sujeitas às penalidades previstas no artigo 14 desta Lei".

A defesa do meio ambiente, hoje imposição de ordem constitucional e, demonstrado nos autos o
prejuízo da qualidade de vida de uma coletividade, incumbe ao Poder Judiciário exarar comando
eficiente para obstar a degradação ambiental, mesmo que para tanto seja necessário restringir o
uso da propriedade imóvel.

A área indevidamente utilizada pela requerida não é apenas intocável por força de lei, mas
também pela exigência da própria natureza. Não podem, as florestas e demais formas de
vegetação permanente serem manejadas de forma a sofrer cortes rasos, pois deixariam de cumprir
sua missão específica, uma vez que a alínea "a" do artigo retro citado tem como objetivo a
proteção dos mananciais e das águas, visto constituir essa proteção, um fator relevante na
qualidade de vida, pela função social que representa o equilíbrio ecológico.

Assim, temos que a ação agressiva e ilícita da requerida causou evidente dano ecológico, estando,
na hipótese, devidamente configurado o objetivo deduzido desta demanda: o interesse na
preservação do meio ambiente, incluindo-se na categoria dos interesses difusos ou supra-
individuais, posto ser o Meio Ambiente um Patrimônio Público a ser, necessariamente, protegido e
assegurado.

No presente caso, é objetiva a responsabilidade pelo dano ambiental provocado, sendo


desnecessário quaisquer considerações acerca da ilegalidade da ação empreendida pela requerida,
destacando-se que é da Política Nacional do Meio Ambiente, impor ao predador a obrigação de
recuperar e indenizar os danos causados.

O dano, cuja reparação pleiteia-se através da presente ação é, a rigor inestimável, face a grande
dificuldade de se avaliarem todas as repercussões.

Do pedido

Assim, face ao dano ambiental, a agressão permanente e contínua ao meio ambiente, face a
degradação causada com a exploração indiscriminada da área, sem autorização de qualquer órgão
competente, requer-se a concessão de MANDADO LIMINAR, sem a necessidade de justificação
prévia, determinando a paralisação de toda e qualquer atividade degradadora, incluindo-se como
tal a utilização da área para fins extrativistas, bem como o beneficiamento da Pfaffia ilegalmente
obtida, pois a cada dia que passa o dano ambiental vai se tornando irreversível e até irreparável,
isso com fulcro no que estabelecem os artigos 5° e 12° da Lei n° 7.347/85, bem como, a aplicação
de multa diária, no caso de descumprimento da medida, consoante o artigo 11 dessa lei.

Requer-se mais:
a) A citação da requerida, nos termos do artigo 221 da Lei Adjetiva Civil, para, querendo,
contestar ação, no prazo legal, sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos aqui
alegados.

b) A recuperação do dano causado constituído em restituir o local na forma em que se encontrava,


nos termos determinados pela perícia.

c) Desde que impossível ou inviável a recuperação do dano ecológico, a condenação da requerida


ao pagamento de indenização pelos danos causados, a ser apurada em processo de execução, via
arbitramento, a qual ao Fundo, nos termos do artigo 13 da Lei n° 7.347/85.

d) Seja julgada procedente a presente ação em todos os termos do pedido retro, condenando- se a
requerida ao ônus da sucumbência, honorários periciais, e demais comunicações legais.

e) A apresentação de todas as provas em direito admitidas, que se fizerem necessárias, pericial,


testemunhal e depoimento da requerida.

f) A cominação de multa diária para o caso de descumprimento da sentença.

Dá-se à causa, o valor de 10.000.000,00 (dez milhões de cruzeiros) para efeitos fiscais.

Curitiba, 25 de maio de 1992.

SYLVIO ROBERTO DEGASPERI

Promotor de Justiça

SAINT-CLAIR HONORATO

Promotor de Justiça

CONCLUSÃO

Mesmo com um breve leitura do trabalho em questão, chegaremos à conclusão que a Ação civil
Pública, é uma Ação Especial que visa à reparação de danos causados ao meio ambiente, ao
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, sendo
disciplinada pela L. 7.347, de 24.7.1985. O Art. 1º desta lei estabelece que as ações de
responsabilidade por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor e a bens e direitos de valor
artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, regem-se por suas disposições, sem prejuízo
da ação popular. Ora, em que pese o fato de a ação civil pública de responsabilidade e a ação
popular terem finalidades análogas, a legitimidade de agir é diversa, pois, enquanto a ação civil
pública deve ser interposta pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados-membros e
Municípios, bem como por autarquias, empresas públicas, fundações, sociedades de economia
mista ou por associações que estejam constituídas há, pelo menos, um ano, ou que incluam, entre
suas finalidades, a proteção ao meio ambiente, ao consumidor, ao patrimônio artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico, a ação popular somente pode ser proposta por cidadão eleitor
(CF, Art. 5º, LXXIII, e L. 4.717, de 29.6.1965, Art. 1º).

De qualquer forma, ambas têm por objetivo a defesa de interesses difusos, não o direito individual
de seus autores. Vale lembrar que a L. 7.347, de 24.7.1985, tem caráter essencialmente
processual, de forma que tanto o pedido como a condenação devem fundar-se em lei material que
tipifique a infração. O Art. 6º desta lei determina que qualquer pessoa poderá e o servidor público
deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, ministrando-lhe informações sobre fatos que
constituam objeto da ação civil e indicando-lhe os elementos de convicção. Fica facultado ao
Poder Público e às associações supra-referidas, habilitar-se como litisconsortes de qualquer das
partes (Art. 5º, § 2º).

Quando o juiz reconhecer que a pretensão da associação autora é manifestamente infundada,


condená-la-á ao pagamento de honorários de advogado, nos termos do CPC. Considerados
litigantes de má-fé, a associação autora e os diretores responsáveis pela propositura da ação serão
solidariamente condenados ao décuplo das custas, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e
danos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

www.dji.com.br

www.oficinadodireito.com.br

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