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A assim chamada Primeira Epístola de Pedro _ forma filiar de uma carta,

como as que já conhecemos da autoria de Paulo Ela é dirigida aos


cristãos de uma região específica, embora extensa, do mundo antigo..1
A epístola dá conta de uma ampla situação, que a grosso modo
podemos supor como válida para leitores em geral, independentemente
de uma ocasião específica, do tipo da que encontramos, por exemplo,
na carta aos coríntios. As circunstâncias concretas apresentadas
referem-se a ataques aos cristãos, os quais constituem provações
dolorosas (lPe 4,12).

 A curta epístola usa o verbo sofrer aproximadamente doze vezes,


mais do que em qualquer outro livro do Novo Testamento,. Os
sofrimentos estão de fato acontecendo, não são somente uma
ameaça no horizonte. Mas são na maior parte insultos e
tratamentos duros de outras pessoas, como as afrontas que
escravos recebem de mestres impiedosos (lPe 2,18-20), e não um
tipo de ação oficial do Estado, Mas, uma vez que a possibilidade
de sofrimento é comparada ao castigo de homicidas ou ladrões
(lPe 4.15), pode ser que a perseguição fosse uma possibilidade .
 Os destinatários participam de congregações cristãs lideradas por
presbíteros (lPe 5.1), mas as tarefas do ministério são realizadas por
qualquer membro da congregação que seja devidamente
dotado por Deus (lPe 4.10-11).Temos a impressão de uma igreja
que teve tempo suficiente para se espalhar por todo o mundo (lPe
5,9), mas, ao mesmo tempo, o caráter do ensino sugere que entre
os leitores se incluíam aqueles que tinham se tornado crentes
recentemente — as congregações solidamente estabelecidas
incluiriam naturalmente novos crentes.
Talvez a maioria dos estudiosos contemporâneos defenda que a epístola
é posterior a Pedro, mas procede de um grupo que evidentemente sabe
que suas análises poderiam perfeitamente ser relacionadas com o
apóstolo. No entanto, não há nada na epístola que aponte para o
alonimato,3 e podemos muito bem ter aqui um testemunho valioso do
pensamento do próprio Pedro. O objetivo de Pedro nessa epístola é
encorajar e ensinar os leitores em geral, quase do mesmo modo que um
sermão moderno não se dedica a um conjunto especifico de problemas
de seus ouvintes, mas lhes oferece uma exortação geral que está, como
um todo, relacionada à vida cristã, podendo, no entanto, tender para
alguma direção particular. O tema principal, então, é o modo como os
crentes cristãos devem viver no mundo, apesar da hostilidade que sofrem
por parte dos descrentes: Como com tantos escritos cristãos, não é fácil
discernir a lógica detalhada do discurso. Há algumas claras rupturas, mas
também há extensas linhas onde o autor passa de um tópico a outro com
uma lógica que não é a nossa; em particular, ele tem o artifício de marcar
uma expressão ao final de uma oração e então torná-la o tema da
próxima (por exemplo, lPe 1,9/10). Entretanto, há uma estrutura integrada
de teologia e exortação, em que "a declaração teológica sustenta a
exortação, e então a exortação remete à declaração sobre a salvação".

 A epístola começa com uma saudação e ação de graças (lPe 1,1-


12) e apresenta uma despedida (lPe 5.12-14). No meio, podem-se
distinguir três seções principais que tratam das características
básicas da vida cristã (lPe 1., 13—2 10), da conduta social (lPe 211-
3.12) e da atitude cristã com respeito à hostilidade (lPe 313-5.11).
A NARRATIVA TEOLÓGICA

Saudação e berakah (lPe 1.l-12), A saudação inicial emprega o mesmo


conceito da dispersão cristã, conforme encontrado em Tiago.

Os leitores são descritos mais adiante como eleitos de Deus. Eles são assim
pela presciência de Deus, que é um modo de dizer que o Senhor tomou
a iniciativa de trazer a igreja para a existência; através da santificação
forjada pelo Espírito, que molda o seu caráter a fim de que seja
apropriado ao povo de Deus; e com o propósito que os crentes sejam
obedientes e aspergidos com o sangue de Jesus, sendo estes os sinais de
que estão agora em aliança com Deus (como os israelitas em Ex 24).,
Como o proceder cristão não é fácil e envolve sofrimento, uma boa parte
da epístola é dedicada a pesquisar a natureza da salvação cristã, de
uma forma que encoraje os seus leitores,

O tom da epístola é o adequado a um louvor a Deus pelo dom da


salvação (lPe 1,3), A seção de abertura da epístola leva a forma de uma
extensa fórmula de louvor a Deus"' e serve para lembrar os leitores da
natureza desse dom (lPe 1.3-12).

Pedro enfatiza que, embora os leitores possam estar sofrendo agora de


todas as formas, eles podem esperar confiante mente por um futuro no
céu e, assim, durante o sofrimento, desfrutar de uma segura esperança
naquilo que Deus lhes prometeu, Há, portanto, um contraste entre o
sofrimento presente e a bênção futura.

 Um dos propósitos em apresentar assim o assunto é indicar que há


um sentido nas presentes provações dos leitores, que são
permitidas por Deus como meio de testar e fortalecer a sua fé,
Nesse momento, eles vivem pela fé em Jesus Cristo e não pela
possibilidade de o ver, Tudo isso poderia nos fazer pensar que Pedro
está trabalhando com um simples contraste entre o sofrimento
presente, sustentado pela esperança, e a realização futura dessa
esperança. Esse seria um engano sério sobre a epístola Também há
um elemento forte de salvação presente no texto, A revelação de
Cristo ocorre nesse "fim dos tempos" (lPe 1.20), A vinda de Jesus é o
começo do fim e assim traz uma era nova na história mundial,
 Os leitores já experimentaram um novo nascimento (lPe 1.3,23), E a
perspectiva do futuro causa uma grande alegria nos leitores. Assim,
embora ainda esperem a vinda de Cristo (lPe 1.7; 5.4), aqui e agora
eles sabem o que é amá-lo e crer nele, e essa experiência causa
intensas emoções de alegria (lPe 1.8), Quando Pedro afirma que
eles estão recebendo a meta de sua fé, a salvação de sua alma
(lPe 1.9), o tempo presente deve ser levado a sério e não
depreciado em razão do futuro.
 Os crentes já provaram que o Senhor é bom, pois obtiveram as
evidências do cuidado divino para com eles (lPe 2.3). Percebe-se,
então, que Pedro usa o contraste agora-depois para dar ênfase à
necessidade da vida devota durante o período que conduz à
revelação final da salvação. Ele está preocupado com o modo
dos crentes viverem nesse período interino, motivando-os através
da esperança do que está por vir.
 O autor usa a esperança para o encorajamento dos leitores, ao
realçar a certeza de seu cumprimento. Isso é realizado ao fundar a
esperança na ressurreição de Jesus, um evento que os leitores
consideravam como fato histórico (lPe 1. 3), O encorajamento
também é alcançado pela afirmação de que os sofrimentos de
Cristo e as glórias seguintes foram os temas das profecias, e de que
os profetas souberam por Deus que a sua mensagem era em prol
de uma geração futura, à qual os leitores pertencem (lPe 1,10-12),
Assim os leitores podem estar seguros de serem as pessoas para
quem as bênçãos foram preparadas. As características básicas da
vida crista (lPe 1.13-2J0). A luz dessa declaração sobre a condição
dos leitores como objetos da graça de Deus, Pedro pode passar à
exortação.
 Apesar de suas presentes provações, os fiéis devem fixar sua visão
no futuro, O elemento da esperança futura, realçado em lPedro
1,3, reaparece em lPedro 1.13. Ao longo do período de confiante
espera, os leitores devem ser santos, como santo é o seu Deus (Lv
11.44-45)., Aparece o elemento do temor ao Senhor. Deus é o seu
Pai, mas um Pai também pode ser um juiz,3 e Deus é o juiz imparcial
de seu povo (lPe 117; cf. IPe 2.23; 4.5)
 Dessa forma, o texto oferece um incentivo para o crente viver de
um modo que obtenha a aprovação divina.. Mas Pedro não se
demora muito tempo nesse tema e volta a encorajar os leitores,
referindo-se ao modo pelo qual foram libertados de seu antigo e
futil modo de vida e de suas conseqüências pelo derramar do
sangue de Jesus, que é a contrapartida das vítimas sacrificiais no
AT,.
 Aqui, a redenção não se refere simplesmente às conseqüências do
pecado, mas também do modo pecador de vida. Entretanto o
apelo não se baseia apenas no fato da libertação, mas no grande
custo com que foi alcançada. Tão precioso dom não deve ser
menosprezado com o prosseguimento de vidas inúteis.
 O resultado é uma vida nova, em que a fé e a esperança
repousam em um Deus no qual se confie completamente, Se a
declaração serve para assegurar a certeza da salvação dos
leitores, também serve para os encher de um poderoso motivo de
gratidão por seu sustento durante a peregrinação.
 A exortação continua com um apelo ao amor sincero dentro da
comunidade cristã (IPe 1,22), o que não é desenvolvido em
detalhes. Em vez disso, há uma declaração adicional sobre o novo
estado dos crentes, agora usando a metáfora do renascimento
para a vida eterna através da Palavra de Deus.
 O novo quadro permite a Pedro desenvolver brevemente a idéia
do sustento espiritual pelo leite, que é apropriado às crianças
recém-nascidas. Em seguida, a imagem é trocada de novo, e
Pedro agora desenvolve uma metáfora mais extensa dos crentes
como um edifício espiritual, sendo Cristo a pedra angular. O edifício
é especificamente um templo, cujo propósito é oferecer sacrifícios
espirituais a Deus, e os leitores parecem ser compreendidos ao
mesmo tempo como as pedras do edifício e também como os
sacerdotes que ministram no templo. A imagem serve ainda como
outra fonte de encorajamento, pois os textos sobre a pedra se
referem à posição segura dos que acreditam na pedra angular, ao
contrário dos que não crêem e são assim rejeitados. O que conduz
a uma declaração sumária: os leitores são vistos como o novo
Israel, uma nação sacerdotal cuja tarefa é louvar a Deus. A
linguagem utilizada para Israel no AT é aqui diretamente aplicada
à congregação dos crentes.
 A conduta social dos crentes (IPe 2.11- 3.12), O apelo para a
conduta cristã fica mais concreto agora, à medida que Pedro
desenvolve a necessidade por parte dos leitores de viver de um
modo que seja reconhecido como um benefício para o mundo ao
redor, Uma conduta, que em geral seria aceita como benéfica, é
aqui incentivada e levada a um nível mais alto por meio do suporte
teológico.

Todos os crentes devem se submeter às regras e honrar todas as pessoas


por causa do Senhor, A obediência a Deus requer a obediência e o
respeito às autoridades que ele estabeleceu no mundo, Os servos devem
obedecer a seus senhores, não importando se estes são bons ou maus,
Aqui, Pedro desenvolve o pensamento de que o sofrimento imerecido
traz créditos com Deus, apoiando esse ponto no exemplo de Jesus,
descrito nos termos do Servo sofredor (Is 5.3). Mas o exemplo se funde
com a lembrança de como o Servo sofredor, Jesus, suportou os pecados
dos leitores e os curou, Tomando uma outra metáfora do mesmo
contexto, os leitores são vistos como ovelhas desgarradas, que agora são
obedientes a seu pastor. As esposas também devem ser submissas aos
maridos, uma atitude exigida pela cultura do tempo e que ajudaria a
recomendar o evangelho a cônjuges não cristãos. Os maridos, por sua
vez, devem mostrar a devida consideração pelas esposas e não agir de
forma egoísta.

A igualdade entre ambos como herdeiros da salvação de Deus é


enfatizada. Tudo isso conduz ao ápice da exortação ao amor mútuo e à
renúncia em responder o mal com o mal, com base no Salmo 34. A
atitude dos crentes em relação à hostilidade (lPe 3.13-5Al), O resto da
epístola está preocupada com a situação dos crentes em um mundo
hostil, sobre o qual várias indicações foram dadas na parte inicial da
carta Este se torna agora o tema por excelência. Os crentes são
encorajados pela informação de que o sofrimento, que inevitavelmente
virá sobre eles, de fato não os poderá prejudicar..

Portanto, eles não deveriam se assustar com a oposição, mas se preparar


para agüentar o testemunho de sua fé Pedro repete seu argumento de
que não há vantagem em se suportar o castigo merecido, mas se uma
pessoa sofrer inocentemente, ou seja, padecer por ser uma pessoa boa
ou um crente, isso é valioso. Novamente o exemplo de Jesus como o
sofredor inocente é invocado. Porém, agora a articulação é elaborada
em uma direção diferente, recorrendo à forma como ele foi devolvido à
vida e pregou aos espíritos aprisionados que haviam sido desobedientes
no tempo de Noé. Naquele momento, Deus estava agindo para salvar a
Noé e sua família, e hoje está agindo para salvar os crentes pelo
"batismo", que corresponde à "salvação" das pessoas na arca através da
água. Parece haver um paralelismo implícito entre Noé, que era
pregador de justiça (2Pe 2 .5), e os crentes cristãos como testemunhas
em um mundo hostil.

Mas Deus resgatou Jesus de entre os mortos e os poderes inimigos foram


por ele dominados. Deus salvou a Noé, e Deus salva os crentes. A vitória
de Jesus encoraja assim os crentes a serem sua testemunha: eles sabem
que, no final das contas, as forças que os combatem são impotentes.
Dessa forma, os crentes podem ser incentivados, pois seus sofrimentos se
mostrarão benéficos a eles.

Os leitores não devem recair em seu antigo modo de vida, em que


estavam livres da perseguição, porque sua vida era igual ao do mundo
que os cerca. Ao contrário, eles devem viver de forma diferente, mesmo
sabendo que poderão ser maltratados por isso, já que serão justificados
ao fim de tudo, enquanto seus oponentes serão julgados por Deus. Em
contraste com a vida pecadora que praticavam antes, é proposta a
alternativa cristã: uma vida de sobriedade, oração, amor e serviço
mútuos, na qual eles usam os dons que Deus lhes dá para ministério em
comum que, como o seu evangelismo (IPe 2 .9), trará glória a Deus.

Novamente os leitores são advertidos para esperar por oposição, mas


que deverá ser vista como uma forma de provação e como um caminho
que conduzirá à participação na glória de Cristo, A perseguição pode
ser entendida como um dos meios que Deus usa para purificar a igreja,
separando assim o crente do infiel, Os sofrimentos podem ser
considerados, portanto, corno um tipo de julgamento feito por Deus (IPe
4.17), através dos quais o seu povo é purificado do pecado. Em tal
situação, a igreja precisa de líderes para cuidar do rebanho, e de
membros preparados para serem humildes em suas atitudes para um os
outros.

Eles também devem ser humildes em relação a Deus, submetendo-se ao


modo que ele estabelece para suas vidas, A situação pode ser assim
resumida: a igreja está mundialmente sob ataque do Diabo, que procura
destruí-la, mas seus membros estão sob os cuidados de Deus, que os
fortalecerá para a resistência ao ataque e para a obtenção da glória,
da mesma maneira como exaltou Cristo depois de seus sofrimentos,
TEMAS TEOLÓGICOS

O caráter geral da teologia, O tema dominante da epístola é o


encorajamento para que os leitores vivam firme e positivamente como
crentes cristãos no mundo, apesar dos sofrimentos e da oposição que
encontrem, Pedro anima-os pondo ênfase na esperança futura, que lhes
está garantida, no modo como Cristo os resgatou e na experiência que
os crentes tem da graça e da força de Deus aqui e agora, como também
pelo estímulo à vida comunitária na condição de povo de Deus, A
teologia serve, portanto, para motivar a vida cristã,
 Em primeiro lugar, Pedro ilustra bem a estrutura da fé e da
experiência cristãs nos termos de três categorias: doxológica,
antagônica e soteriológica. A vida cristã é expressa em louvor,
adoração e ação de graças a Deus, é vivida em oposição a
Satanás e ao mal, e deriva sua força da salvação concedida por
Deus em Cristo e através do Espírito Santo, Vimos como a nota
dominante ao início da epístola é o louvor a Deus, O ensino
teológico é exposto na forma de um louvor a Deus em razão de
suas realizações. O efeito de relatar as grandes ações de Deus é
provocar expressões espontâneas de ação de graças a Deus, Por
trás da ação de graças, há dois elementos da obra de Deus no
mundo. Há a vitória divina sobre as forças de mal, que são,
portanto, derrotadas,
 No coração da epístola se encontra a passagem enigmática sobre
duas fases na vitoriosa viagem de Cristo após sua morte: primeiro,
a sua mensagem triunfante aos espíritos em prisão e, segundo, a
sua entronização ao lado de Deus como governante supremo
sobre os anjos, autoridades e poderes (lPe .3„19,22). Os crentes
entram de seu modo na luta contra as paixões malignas que estão
em guerra dentro deles (lPe 2,11), mas Pedro os assegura que estão
lutando contra um inimigo derrotado., E, por fim, há a libertação
do pecado, concedida por Cristo aos crentes, para os trazer a
Deus e à promessa de sua herança futura.
 A linguagem da redenção é usada para descrever como os
crentes foram libertos de sua vida passada por meio da morte de
Cristo (lPe 118-19).. A influência do Antigo Testamento. Uma
considerável importância é dada â Palavra de Deus escrita e
anunciada como o meio pelo qual Deus salva e fortalece o vseu
povo (lPe 1,.2,3-25*, 3.1); aqui nós temos a principal declaração do
NT a respeito do caráter profético e da permanente relevância do
AT (lPe 110-12),
 A epístola é notável pelo extenso uso de citações e indicações do
AT, que aparecem de vários modos. Primeiro, o AT é usado para
explicar quem é Jesus e o que ele faz, Nós temos aqui o uso mais
pleno de Isaías 53 que já foi feito por qualquer outro autor do NT:
Jesus é proeminentemente o Servo Sofredor, que não somente é
um exemplo de como responder à perseguição, mas, acima de
tudo, suportou os pecados da humanidade para que os homens
pudessem morrer para o pecado e viver para a justiça (lPe 2.21-
25).. Ele também é comparado a um cordeiro sacrificial, cujo
sangue foi derramado para resgatar ou libertar as pessoas de sua
antiga e pecadora vida e de suas conseqüências,
 A insinuação parece se ligar principalmente ao cordeiro pascal,
mas como as descrições dos vários sacrifícios no AT são similares,
não deveríamos fixar a referência de uma forma muito inflexível.
Podemos inclusive comparar a alusão, por exemplo, à descrição
da oferta queimada em Levítico 22,17-25. A linguagem faz parte
de uma aplicação geral da idéia de um novo êxodo e de uma
compreensão das exigências da vida cristã como correspondente
à doutrina da santidade do povo de Deus em Levítico, Segundo,
no começo da epístola, na definição teológica dos leitores que faz
parte da saudação, eles são descritos então como o povo
escolhido de Deus, tornado santo por seu Espírito, destinado à
obediência a Deus e aspergido com o sangue de Cristo como o
equivalente a Israel no Sinai: ela se estabelece em continuidade
com o povo de Deus do AT, sendo agora esse povo.. O que o AT
ensina sobre o povo de Deus pode ser usado para moldar a
exposição sobre os fundamentos que garante aos leitores que são
eles o povo de Deus e que, portanto, as promessas e as exortações
do AT se aplicam aos crentes. Por conseguinte, a meta imediata
da vida cristã pode ser descrita em termos de santidade (lPe L15-
16), usando a terminologia inspirada em Levítico 11.44-45, 19.2 e
20.7. É notável que a questão sobre a situação dos judeus que não
participam da igreja cristã não seja discutida. O lugar da igreja
como sucessora de Israel no AT é dado como verdadeiro. Terceiro,
alguns estudiosos sugerem que certas seções da epístola usam
partes do AT como fio condutor,
 O que é evidente no uso constante de Isaías 5.3, mas também há
a menção do Salmo ,34 em 1 Pedro 3 e de Levítico em 1 Pedro 1-
2. Certos materiais, como as citações em 1Pedro 2.6-8, também são
utilizados de maneira independente por outros autores do NI,
provavelmente lançando mão de um estoque comum de textos
interpretados de forma cristã, entretanto há também materiais
privativos dessa epístola, Em todo caso, a compreensão do êxodo
do Egito e do estabelecimento da aliança, com sua
correspondente doutrina sobre como o povo de Deus deve viver,
foram vistos como o protótipo da redenção cristã,
 Pedro, em outras palavras, usa a tipologia como um meio de
aplicar a revelação do AT; O significado de Jesus Cristo„ A pessoa
de Jesus é de importância central, particularmente em seu papel
como o Servo Sofredor, que morreu para resgatar os leitores, mas
também como o Senhor ressuscitado e exaltado, que será
revelado na glória. Pedro, como Tiago, contém um número
significativo de ecos do ensino de Jesus, introduzidos sem
identificação específica de sua fonte, A doutrina mais ética de
Jesus se ajusta confortavelmente com o AT, formando uma base
de como os crentes deveriam viver. Quaisquer que tenham sido as
disputas teológicas sobre a observância da Torá como o modo de
ser justo diante de Deus, na prática os cristãos adotaram o AT como
um guia da vontade de Deus para o viver santo, :
 Obviamente o interesse principal de Pedro está na morte e
ressurreição de Cristo e, especificamente, em seu significado para
as vidas dos leitores,mas ele aborda isso de três modos, to (lPe 1.2).
A última frase é construída em particular a partir da descrição da
cerimônia da aliança em Êxodo 24, e demonstra como Pedro
considera a igreja Primeiro, o autor fala de Jesus como o escolhido
por Deus antes da criação do mundo, mas que foi revelado nos
últimos tempos por causa dos leitores (lPe 1.20), Aqui há o familiar
contraste do NT entre o que Deus planejou antes de criação e o
que fez para realizar depois o seu plano, entre o que era no
princípio escondido e secreto, e posteriormente foi revelado aos
seres humanos. Uma concepção que enfatiza a iniciativa de Deus
na salvação e sua decisão de executar seu plano no tempo
devido, Ele escolheu Jesus antes da criação para ser o Salvador e,
então, enviou-o ao mundo para levar a cabo sua tarefa, Embora
a linguagem possa indicar apenas que Deus realizou um plano
preconcebido, é mais provável que Pedro esteja pensando em um
ser preexistente, a quem Deus designou para sua tarefa mesmo
antes da criação, e então o revelou ao mundo. No entanto, Pedro
não desenvolve a relação de Jesus Cristo com Deus, seu Pai (lPe
1,3), de nenhuma forma — ele simplesmente toma essa relação
como verdade. Segundo, Pedro desenvolve a narrativa do que
aconteceu depois da morte de Jesus,
 O Senhor foi morto "na carne" mas trouxe a vida "pelo Espírito". Tal
formulação concisa é difícil de elucidar, mas parece significar que,
no nível humano, em relação à esfera física da existência, Cristo
morreu: seu corpo morreu fisicamente, Mas no nível divino, em
relação à esfera espiritual da existência, ele foi vivificado para uma
vida que não é física, ou não é apenas física, mas espiritual e,
portanto, eterna, não limitada pelos constrangimentos da matéria,
 Quando os cristãos afirmam hoje sua fé na ressurreição física de
Jesus e consideram importante fazê-lo, o que eles negam com tal
declar ação é que o corpo físico de Jesus tenha perecido na
sepultura e que apenas algum tipo de entidade espiritual haja
retornado à vida, O que os fiéis afirmam é que o corpo físico de
Jesus morreu, mas voltou à vida em um novo modo do reino
espiritual, como um corpo espiritual, Dessa forma, a importância do
físico é preservada: ele não é somente uma concha para o
espiritual, podendo ser jogada fora quando não for mais
necessária, mas uma parte essencial da pessoa como um todo.
Porém, Pedro vai mais adiante e informa a seus leitores que, nesse
modo espiritual de existência, Cristo fez uma viagem à prisão onde
se encontram os espíritos e pregou para eles, Os espíritos devem ser
compreendidos como o mal, os poderes sobrenaturais mantidos
aprisionados por Deus até o dia do juízo (2Pe 2.4; Judas 6),
 A principal interpretação alternativa é que estes sejam os espíritos
ou almas de pessoas mortas, que se separaram do corpo, o que no
entanto se trata de um uso muito incomum para o termo, Alguns
comentaristas defendem tal interpretação propondo que a
referência em lPedro 4.6 se reporta aos mesmos seres, porém é mais
provável que o versículo se refira a como o evangelho foi pregado
aos crentes que depois morreram e estão destinados a viver com
Deus, Em geral se entende que a prisão é o mundo subterrâneo,
mas em alguns textos os oponentes de Deus são mantidos em
sujeição num lugar inferior no céu (cf, Ap 12.7 sobre o Diabo), O
termo "pregar", em si mesmo, não nos revela qual era a mensagem
de Cristo; normalmente o verbo é usado no sentido de proclamar
o evangelho, mas no presente contexto a proclamação mais
provável seria a da vitória de Cristo, Toda a passagem pretende
apresentar dois pontos,
 O primeiro é que os poderes maus são identificados com os seres
malignos, cujos pecados e rebelião levaram ao dilúvio. Da mesma
maneira que Deus salvou a Noé e seus companheiros apesar do
dilúvio — quase, poderia se dizer, através do dilúvio, pelo qual a
arca de Noé navegou seguramente —, assim Deus salva as pessoas
que se submetem à água do batismo de perecer junto com seus
inimigos.
 O segundo ponto informa que os poderes que ameaçam os
crentes foram derrotados e que Cristo tem domínio supremo sobre
eles. Portanto, o propósito da passagem é encorajar os crentes a
enfrentar as hostilidades, ressegurando-os de sua salvação e da
derrota de seus inimigos. Pedro garante aos leitores o contínuo zelo
de Cristo por eles, referindo-se ao Salvador como o Pastor que
cuida de suas ovelhas (lPe 2.25; 5,4)..
 Finalmente, como nos textos de Paulo, Cristo é a fonte de todas as
bênçãos da salvação, e isso é expresso pelo uso da característica
expressão paulina: "em Cristo", Deus envia seu chamado às
pessoas, como diríamos, "em e por Cristo": ele é o canal da
comunicação de Deus (lPe 5,10).
 A bênção final é endereçada a todos os que estão "em Cristo" (lPe
5,14): a idéia é que eles estão unidos tão estreitamente a Cristo
pela fé, que este determina o modo de vida dos crentes. Logo, o
bom modo de vida cristão é descrito como "em Cristo" (lPe 3il6): ele
é em todos os sentidos determinado por Cristo, pelo seu exemplo,
e ocorre como o resultado da confiança e da obediência dos
crentes ao Salvador, Pedro não chega de fato a falar em "morte e
ressurreição com Cristo", à maneira de Paulo, mas se aproxima
disso com seu ensino sobre morrer para o pecado e viver para a
justiça (lPe 2.24). O Espírito Santo. Não há nenhuma ênfase
particular quanto ao Espírito Santo, Há uma discussão sobre se, em
lPedro .3 .18, Jesus foi vivificado "pelo Espirito" (A21) ou (o mais
provável em minha visão) "no [reino do] espírito" (cf AR), Quando
Pedro se refere aos dons que habilitam os crentes para ministério,
não fica claro se a palavra que ele usa {charisma, lPe 4,10) pode
despertar associações automáticas com o Espírito ou não, embora
lCoríntios 12 faça essa ligação de forma bastante explicita. Outras
referências são totalmente claras. O Espírito é mencionado como
o inspirador de profetas e pregadores cristãos (lPe 1,11-12), como
o agente da santificação dos crentes (lPe 1.2) e, de forma
interessante, como o Espírito da glória e de Deus, que repousa
sobre os crentes durante a perseguição (lPe 4.14).
 Aqui nós temos uma poderosa reafirmação do tema relativo ao
Espírito que auxilia os crentes quando são levados às barras do
tribunal (Mc 1.3.11). A igreja como povo de Deus, A experiência da
salvação atual fornece a base e a , motivação para o novo
comportamento dos crentes. Ela também congrega os fiéis como
povo de Deus, Pedro dá como certo o fato de que de os crentes
coletivamente formam o povo de Deus, embora nunca use o
termo "igreja" {ekklêsiu).

Em vez disso, ele aplica um lote inteiro de expressões que, conforme


vimos, indica sua compreensão dos crentes cristãos como os que formam
agora o povo de Deus. Eles são o rebanho de Deus (lPe 5.2).. Essa
expressão retoma em particular a imagem em Jeremias e Ezequiel que
relaciona Israel a Deus.,

Pedro entende a liderança cristã como a atividade de pastores auxiliares


sob o comando do Pastor principal. Eles não só deveriam cuidar de forma
abnegada do rebanho, mas também deveriam — quebrando assim os
parâmetros da metáfora — ser o exemplo para suas ovelhas (lPe 5 2-4),
Os crentes também formam a ema de Deus (IPe 4.17), a palavra poderia
se referir a uma "casa" (conforme a A21), ou, como é muito mais provável,
ao lugar onde Deus está presente, o seu templo, O que se ajusta à mesma
imagem em IPedro 2,4-5 e às passagens em que a idéia aqui se inspira
(Ez 9,6; cf Ml ,3), Em IPedro 2.1-10, nós encontramos uma das declarações
mais poderosas do NT, a que identifica a congregação dos crentes como
o povo de Deus, A linguagem que descrevia a posição privilegiada dos
judeus como povo de Deus no AT é agora aplicada deliberadamente
aos leitores, de forma que eles são identificados como tal povo.

Os crentes são a casa de Deus e o povo de Deus. A identificação é assim


tão marcada, que a congregação cristã é declarada como sendo tanto
templo quanto sacerdócio, com a tarefa de oferecer o correspondente
espiritual dos sacrifícios a Deus, Os sacrifícios são evidentemente o louvor
a Deus através das palavras e da vida honrada neste mundo, o que
glorifica a Deus (IPe 2.4-10), Na esfera prática, os crentes formam uma
comunidade de amor mútuo, Eles demonstram esse amor através da
hospitalidade recíproca. A oração também faz parte de sua vida, o que
implica em uma atividade coletiva e individual (IPe .3.7; 4.7). O texto
assume ainda que os leitores compartilham entre si do ensino cristão e
servem-se uns aos outros, Eles não são instruídos a fazer essas coisas, mas
antes são estimulados a fazê-las da melhor forma, e assim podem
proceder porque a graça de Deus lhes dá a perspicácia e a força de
que precisam. Aqui nós temos um importante paralelo às declarações de
Paulo em Romanos 12 e lCoríntios 12, sobre os dons espirituais para o
ministério.

Conforme Paulo, Pedro entende que qualquer membro da


congregação pode ser habilitado desse modo para o serviço, sabendo
com certeza que o ministério desse tipo era praticado, embora houvesse
pessoas reconhecidas como presbíteros nas congregações. Além do
mais, a posse de um dom espiritual exige responsabilidade em seu uso, A
marca externa de admissão à igreja é o batismo (lPe ,3,21), sobre o qual
se diz que salva os leitores.

Provavelmente a linguagem vigorosa se justifica por ser o batismo


considerado seriamente como o sinal de aceitação na igreja e, acima
de tudo, como um penhor de se viver uma nova vida, ou uma súplica a
Deus para que isso aconteça,1-1 A antiga idéia de que a epístola como
um todo aborda aquilo que era dito no serviço batismal já não é mais
aceita com seriedade, mas a hipótese é interessante por indicar como a
carta de fato reflete sobre a teologia da conversão. Não há nenhuma
menção na epístola sobre a ceia do Senhor.

 As características dos crentes. Na descrição dos cristãos, nós


observamos um elemento poderoso de esperança (lPe 1.3,13,21; 3
.5,15), embora isso não substitua a fé (lPe 1.5,7,8,9,21; 2.6-7; 5,.9,12;
cf lPe 4.19).
 As duas qualidades, nessa epístola, são apropriadas para
indivíduos compreendidos como "peregrinos e estrangeiros". Eles
estão no mundo como residentes temporários e realmente não
pertencem a ele, Na verdade, o mundo os vê como pessoas muito
estranhas, pois seus prazeres não são os seus prazeres, embora
destes os crentes já tenham desfrutado uma vez (lPe 4,1-4). A idéia
aqui é diferente da de Hebreus, que estava mais preocupado com
a jornada ou com a corrida que constituem a vida cristã. Não
obstante, a esperança é importante, como também a confiança
em um Criador não visível (lPe 4.19) e em Cristo (lPe 18).
 E a firme ênfase nos crentes como povo de Deus lhes dá um status
e um amor-próprio que contrastam fortemente com sua situação
frente ao mundo. No entanto, ao lado da fé e da esperança, o
amor a Deus, a Cristo (lPe 1.8) e o amor mútuo (lPe 1.22; 2,17; 4.8-9;
5,14), além da santidade (lPe 1.2, 1516; 2,5,9; 3.5), erguem-se em
conjunto como as qualidades ou características que os cristãos
precisam apresentar, refletindo assim a vida de Deus, Em lugar de
referir-se ao amor de Deus, Pedro comenta repetidamente sobre a
sua graça, usando esse termo para resumir toda a série de eventos
e dons espirituais pelos quais a vida foi trazida ao mundo (lPe
1.2,10,13; 3.7; 4.10; 5.5,10,12; cf„ o uso de "misericórdia", lPe 1.3).
Vida no mundo.
 O tema principal da epístola é o modo como os crentes cristãos
devem viver no mundo, apesar da hostilidade que sofrem por parte
de alguns não-cristãos. Pedro faz uso de um padrão doutrinário
encontrado em outras epístolas, especialmente em Tito, onde os
crentes são instruídos sobre como se comportar em relação a
outras pessoas e instituições na sociedade. Tal ensino também é
encontrado em fontes não-cristãs e aborda as relações dentro do
lar antigo e com respeito ao estado. Encontramos esse tema no NT,
em especial nas cartas aos Efésios, Colossenses e Tito.. No
desenvolvimento de Pedro, o padrão apresenta duas palavras-
chave. Uma é "fazer o bem" (lPe 2.15,20; 3.6,17),
 O termo é particularmente importante por deixar claro que Pedro
está interessado em prescrever uma atitude cordial e positiva para
a vida em sociedade, apesar de muito cristãos serem alvos de
hostilidades, O outro termo importante é "submissão" (lPe 2.13,18;
.3.1; 5.5), ele expressa a atitude apropriada em relação a pessoas
que, de uma maneira ou de outra, estão colocadas acima de seus
leitores — as autoridades governamentais, os senhores de escravos,
os maridos e os presbíteros da igreja (lPe 2.13-17,1825; 3,1-7; 5.5).
Não há nada de surpreendente nisso, considerando-se a estrutura
existente na sociedade antiga, em que essas relações estavam
estabelecidas.
 Nos três primeiros casos, Pedro está pensando em particular nas
situações em que os superiores não sejam necessariamente
cristãos, e ele insiste que, nessas circunstâncias, os cristãos devem
mostrar as conseqüências de sua obediência ao Senhor, vivendo
de acordo com as normas da organização social. Ao mesmo
tempo, o autor tem algo a dizer às pessoas do outro lado Ele insiste
que os maridos cristãos devem mostrar consideração pelas
esposas, pois são herdeiros em comum do dom da vida (lPe 3,.7),
Pedro também exige que os presbíteros evitem as falhas
características dos líderes e clama a todos os membros da igreja
que sejam humildes uns com os outros (lPe 5.5b; cf. IPe 3,8-12),.
 O conceito de responsabilidade mútua era conhecido no mundo
antigo, mas Pedro certamente vai além, ao enfatizar a
mutualidade em direção ao reconhecimento de que os crentes
são fundamentalmente iguais no Senhor, Nada se comenta sobre
os deveres dos governantes em relação a seus subordinados ou
sobre os senhores e seus escravos — ao menos no primeiro caso,
podemos entender que os governantes, não sendo cristãos, não
seriam atingidos por uma epístola cristã, Em todo caso, como Pedro
está se dirigindo particularmente a pessoas que sofrem, os ensinos
para dirigentes e senhores de escravos seriam pouco apropriados
aqui,
 O público de Pedro, é certo, incluía pessoas, provável e
especialmente gentios, que haviam passado por uma profunda
conversão ao tornarem-se cristãos, A linguagem do novo
nascimento é usada no inicio da epístola para expressar a
novidade da existência dos cristãos (IPe 1.3,23). O autor sabe que
entre os seus leitores há pessoas que já viveram como o resto da
sociedade pagã e, agora, espera que elas vivam de maneira
sóbria (lPe 4,3). Por essas e outras razões, os cristãos devem esperar
a agressividade da parte de outras pessoas, No entanto, se não há
nenhum mérito em se sofrer castigos ou agressões por haver
cometido coisas erradas, os crentes, fazendo o que é certo e
sofrendo por isso, serão dignos de louvor aos olhos de Deus (IPe
2.20; 4,15-16), A recusa em tomar parte do modo pecador de vida
não significa a mesma coisa que se retirar do mundo. Ao contrário,
os cristãos devem fazer o bem no mundo e nas situações sociais
particulares em que se encontrarem (lPe 2.15), Deve haver assim
uma atitude completamente positiva em relação às
oportunidades de se viver no mundo, Parece haver também um
olho aqui na missão cristã, pois se espera que, com as boas ações
dos crentes, os não-cristãos sejam levados a glorificar Deus (lPe
2.12),
 Tal comportamento se vincula à prontidão que os cristãos devem
demonstrar ao responder às pessoas que os questionem sobre sua
fé (IPe ,3.15-16), Por tais instruções, podemos perceber que Pedro
pressupõe que as autoridades humanas devem sua posição a Deus
e, portanto, elas e a ordem sociopolítica que encarnam devem ser
respeitadas e obedecidas.
 Ao desenvolver as razões para o comportamento cristão nessas
circunstâncias, o pensamento de Pedro é dominado pelo papel de
Cristo. A atitude dos crentes será determinada pela lealdade a
Cristo como seu Senhor (lPe 2.13). Além disso, quando vier o
sofrimento, Cristo funcionará como o exemplo do sofrimento
inocente, suportado na confiança de que Deus justificará seu povo
fiel. Quando os cristãos sofrerem devido a sua fe, eles estarão
participando dos sofrimentos de Cristo (lPe 4.1.3).
CONCLUSÃO

 A Primeira Epístola de Pedro apresenta uma teologia explícita,


usada constantemente para encorajar os leitores e oferecer
instruções práticas. A densidade da teologia dessa epístola é por
demais notável: é uma rica fonte para se entender a natureza da
vida cristã em um mundo hostil. Comparada com Tiago, é mais
uma epístola de encorajamento do que de instrução prática, A
epístola é característica por não se envolver em qualquer
polêmica com os leitores ou com os grupos que entre eles
estivessem difundindo falsas doutrinas e idéias sobre o
comportamento cristão.
 Há advertências contra o fracasso em se cumprir os padrões
cristãos, bem como estímulo para aqueles cujas esperanças são
fracas, mas não há vestígios sobre falsas concepções que
precisariam ser corrigidas, A teologia do NT nem sempre é
administrada numa arena de debates, A estrutura de pensamento
na epístola parece ser claramente a de outras epístolas
neotestamentárias,
 O principal tema teológico é a natureza da vida cristã em tempos
de provação: os crentes, chamados para uma esperança viva,
devem viver vidas santas no temor de Deus e no amor mútuo,
respeitando a sociedade em que estão colocados, mas evitando
suas tentações e mantendo-se firmes em face à perseguição.
Temas significativos que merecem destaque:

1. Sua teologia se expressa numa forte dependência do AT e na


consciência de que os crentes agora formam o povo de Deus,

2. A ênfase sobre o aspecto da esperança que há na fé: a crença no


Deus que ressuscita e guarda o seu povo..

3. A compreensão de Jesus Cristo segundo as imagens da pedra e do


servo.

4. A informação sem precedentes de Cristo pregando aos espíritos na


prisão,

5. O reconhecimento da perseguição como uma oportunidade para o


testemunho e da atitude positiva de se viver de forma cristã no mundo,
apesar de sua pecaminosidade e oposição.

Em resumo, Pedro tem uma atitude muito positiva ao longo da epístola


sobre o que Deus está fazendo aos leitores: as suas promessas serão
cumpridas e a vida dos leitores no mundo terá uma influência constaitiva.
O sofrimento existe, mas é relativizado pelas promessas de Deus, que se
cumprem agora e no futuro. A designação "epístola da esperança" é
completamente apropriada para essa epístola.

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