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A Revista Olh@res entrevistou o sociólogo e professor Bernard Lahire, da

Universidade de Lyon II, na França e diretor do Grupo de Pesquisa sobre


Socialização (CNRS). No Brasil, conhecido principalmente pela obra Sucesso
Escolar nos Meio Populares as razões do improvável, Lahire tem influenciado
sociólogos, pesquisadores das mais diversas áreas da Educação, além de
psicólogos e linguistas aplicados. Dedicou-se a estudos sobre as formas
populares de apropriação da escrita; a relação entre o sucesso escolar e a
necessidade de criação de condições culturais e pedagógicas satisfatórias às
crianças e suas famílias, entre outros. Atualmente, segundo o próprio autor,
afastou-se provisoriamente da sociologia da educação e vem se aproximando de
estudos sobre práticas culturais, mais especificamente, sobre as condições de
vida de escritores.

Mesmo assim, seus estudos sobre a escola, o fracasso e o sucesso escolar de


crianças das classes populares têm mobilizado pesquisas que analisam a
situação em que se encontra a educação básica brasileira. Nessa direção, para o
autor, em grande parte, o sucesso escolar de crianças dos meios populares
exigem a implementação de políticas mais complexas, globais e locais, que
sigam a lógica da realidade social e não a lógica burocrática que fragmenta os
problemas sociais, dos da educação, da cultura, da habitação, entre outros.

Ao relacionar seus estudos à realidade brasileira comenta que o que mais lhe
chama a atenção aqui é o baixo número de horas de aula que se é oferecido aos
alunos nos anos iniciais e a má remuneração dos professores que atuam nos
anos iniciais. Defende que melhorando a qualidade e a remuneração de seus

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professores e aumentando o número de horas no Ensino Fundamental I, o Brasil
mudaria radicalmente a relação dos cidadãos para com o saber e a cultura.

Esses e outros temas forma tratados na entrevista com o professor Lahire,


traduzida gentilmente pela professora Dra. Marcia Romero do Departamento de
Educação da UNIFESP.

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Há pesquisas no Brasil que têm
associado o baixo desempenho dos Vou responder evocando três grandes
alunos ao local em que se encontram as diferenças. A primeira é o fato de que a
escolas públicas. Crianças com o escolarização na França é, desde os anos
mesmo capital cultural possuem iniciais (de 6 a 10 anos), em tempo
desempenho inferior quando o entorno integral, enquanto que, no Brasil, o tempo
da escola apresenta alta é apenas parcial. Isso tem efeitos sobre a
vulnerabilidade social. Se esta intensidade da socialização escolar e
realidade não se altera, você acredita sobre os efeitos cognitivos e
que estas crianças não terão comportamentais da escolarização. A
oportunidade de sucesso? instituição escolar tem muito mais peso
em um país como a França, sobretudo na
As explicações causais, nas ciências fabricação social dos indivíduos. A
sociais, devem ser sempre manuseadas segunda diferença está relacionada a uma
com prudência, mas o que podemos dizer singularidade francesa: a importância da
é que a probabilidade de uma criança ter escolarização da criança pequena (entre 3
sucesso do ponto de vista escolar diminui e 6 anos). A França privilegiou
à medida que as dificuldades familiares, historicamente a educação infantil e isso
econômicas, culturais etc. se acumulam. reforça, aqui também, a influência da
Lutar contra a precariedade econômica, escola na estruturação da personalidade
contra as dificuldades familiares, é, das crianças. A terceira e última
indiretamente, lutar contra o fracasso especificidade que vou evocar diz
escolar. Uma política de luta contra o respeito ao ensino superior: a França tem
fracasso escolar só pode ser uma política um ensino superior que repousa na
complexa, global, econômica e familiar, seleção dos melhores alunos após o
tanto quanto escolar. Não se pode ter a exame de finalização do ensino médio1:
pretensão de lutar com eficácia – salvo a os melhores vão para as “classes
acreditar no milagre social – contra as preparatórias para as grandes écoles”2, em
desigualdades escolares por meio de seguida para as grandes écoles, enquanto
dispositivos isolados ou pela os outros vão para a Universidade. É uma
implementação de políticas parciais, que
seguem muito mais a lógica burocrática 1
Nota dos Trad. O referido exame, realizado ao
da separação das funções ministeriais término do Ensino Médio, permite a entrada nas
(ministério da cultura, da educação, da Universidades francesas.
habitação, da família, do trabalho etc.) do 2
Nota dos Trad. As grandes écoles são
que a lógica das realidades sociais. estabelecimentos de ensino superior que admitem
estudantes por meio de exames próprios e
asseguram formação de altíssimo nível,
encontrando-se sob a tutela de um Ministério. Se
O que considera específico da escola e considerarmos que o exame de finalização do
da cultura escolar francesas quando Ensino Médio consiste, por si só, no acesso à
comparada às de outros países (Brasil, Universidade francesa, no caso de uma grande
se possível)? école, há um exame de acesso diferenciado, o que
explicaria a existência de classes preparatórias.

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forma de elitismo que não deixa de trazer Em vários dos seus livros e pesquisas, a
problemas, pois se dá finalmente muito cultura escrita aparece como tema
(tempo, atenção, recursos humanos e central para refletir sobre o fracasso
financeiros) a um pequeno número de e/ou sucesso escolar, a forma escolar, a
estudantes, ao passo que as cultura dos indivíduos, as relações
Universidades, se comparadas, familiares com a escola e a própria
permanecem relativamente pobres. construção dos saberes escolares. Por
que compreender o mundo da escrita e
sua relação com outras linguagens
tornou-se central em suas pesquisas
Suas pesquisas têm demonstrado que sociológicas?
as causas do sucesso e do fracasso
escolar são sociais e bastante Se eu quisesse, hoje, condensar o
heterogêneas. Nessa perspectiva, para o propósito de minha tese de doutorado, eu
enfrentamento do fracasso, o que a diria que procedi a uma releitura da
escola e o poder público não podem realidade escolar (e das desigualdades
deixar de fazer? escolares) a partir dos trabalhos do
antropólogo inglês Jack Goody ao
Na minha opinião, as instituições públicas considerar a escola como o lugar central
devem, como se diz, “atirar para tudo em que algo como uma “razão gráfica” é
quanto é lado”: melhorar a situação inculcada com uma grande
escolar (menos alunos, mais professores sistematicidade. Mas poderia igualmente
ou assistentes para conduzir e encorajar inverter o propósito e dizer que as teses
os alunos com maiores dificuldades, uma célebres de Jack Goody sobre os efeitos
pedagogia explícita, racional, que não cognitivos e organizacionais da escrita
pressupõe que as crianças sabem fazer e eram, na verdade, particularmente
compreendem facilmente o que lhes é adaptadas à realidade escolar, isto é, a um
solicitado etc.), auxílios fora do horário uso da escrita e a uma socialização
de aula (com ações de apoio escolar para escritural ao mesmo tempo explícita,
os deveres escolares), auxílios familiares sistemática, intensiva e durável.
(dar às famílias a possibilidade de ter Durante esta primeira pesquisa, ficou
acesso à cultura, ao livro etc.), oferecer bastante claro para mim que o vínculo à
ações culturais gratuitas e de proximidade linguagem, constituído no âmbito de uma
(espetáculos de teatro, de música, cinema cultura escrita escolar, estava no coração
etc.), cuidar de ajudar as crianças das dos processos de sucesso escolar. Com
famílias economicamente menos efeito, a escola exige a prática de uma
favorecidas etc. Multiplicando as ações relação reflexiva à linguagem que supõe
virtuosas, produziremos necessariamente um distanciamento de uma linguagem-
uma espiral virtuosa. objeto, estudada em si e por si a partir dos
diversos saberes escriturais constituídos
sobre a língua (alfabético-fonológico,
lexical, ortográfico, gramatical, textual).
O psicólogo russo L. S. Vygotsky tinha
razão em insistir sobre o fato que a

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linguagem é, na escola, objeto de atenção modo, a tratar da questão da divisão das
e trabalho específicos, de uma tarefas de escrita doméstica entre homens
manipulação consciente, voluntária e e mulheres (um tema que se impôs, de
intencional. Explicando por meio das fato, para mim no decorrer de minhas
palavras de Ludwig Wittgenstein, que fez, pesquisas), da especificidade desses usos
ele mesmo, a experiência de ensinar nos domésticos da escrita – primeiro, no seio
anos iniciais e que se serve de exemplos dos meios populares, depois, nos meios
de situações escolares para desenvolver com maior capital escolar (classes médias
suas reflexões, os alunos que fracassam e altas) –, e, por fim, da transmissão
nestes ciclos, e, mais particularmente, os intergeracional das culturas familiares da
que tropeçam desde as primeiras escrita.
aprendizagens da escrita, sentem as Mas pode-se perguntar, no momento em
maiores dificuldades para pôr em prática que eu me engajava nessas pesquisas (e é
o tipo de “jogos de linguagem” que a uma pergunta que eu mesmo me fazia),
escola lhes pede para fazer. Eles não qual legitimidade seria preciso conferir a
conseguem adotar a atitude adequada que tais objetos de pesquisa. É razoável para o
lhes permitiria dar sentido às formas de sociólogo consagrar seu tempo de
vida escolares. Mas para adotar a postura pesquisa buscando compreender práticas
adequada, é preciso ainda ter vivido tão banais e aparentemente anódinas
anteriormente ou paralelamente ao quanto o lembrete, a lista de compras ou a
universo escolar, e, mais particularmente, escrita de bilhetes entre os membros da
no âmbito familiar, formas de relações família, que parecem bem distantes das
sociais e tipos de práticas de linguagem preocupações sociológicas comuns? Se
relativamente similares. Ora, as atitudes deixarmos de lado as práticas de leitura,
reflexivas que a escola solicita estão que, rapidamente, encontraram seu lugar
distribuídas com desigualdade nos no interior da sociologia da cultura,
universos familiares segundo o volume e somos levados a constatar, com efeito,
a natureza do capital escolar acumulado que as práticas de escrita permaneciam
pela família (os pais, mas também os objetos de estudo pouco frequentes em
avós, irmãos e irmãs, tios e tias etc.). sociologia, Elas podiam, assim, ser vistas
A oposição entre “domínio prático” e pelo entendimento acadêmico como um
“domínio simbólico” que Pierre Bourdieu objeto “estranho”, “insignificante” e sem
e Jean Claude Passeron mobilizavam nas grande interesse face aos “grandes
interpretações da Reprodução me parecia problemas” ou aos “grandes temas”
poder ser melhor compreendida e instituídos. Não é por acaso se foi mais do
estudada ao nos aproximar da lado dos antropólogos franceses da escrita
materialidade das práticas e dos gestos e da história cultural que pude, então,
escolares levando-se em conta a questão encontrar os meios para uma troca
da escrita, dos saberes escriturais e da científica bem sucedida.
“razão gráfica”. Mas minhas pesquisas no campo das
Em um segundo momento de meu escritas domésticas tocavam
percurso, quis esclarecer o que o primeiro definitivamente em temas sociológicos
olhar deixava fatalmente no escuro: as clássicos (divisão sexual das tarefas
práticas familiares da escrita. Vim, desse domésticas, transmissões intergeracionais

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dos saberes, processos de racionalização ou em uma amostra representativa desta
das atividades etc.) e permitiam, na minha população) não são, em si, algo ruim: elas
opinião, trabalhar grandes questões permitem mesurar as competências, e,
teóricas (a questão do sentido prático, dos sobretudo, os distanciamentos, no que se
efeitos da objetivização da cultura etc.). refere às competências, entre alunos. Sem
As práticas de escrita as mais anódinas se a medida destes distanciamentos, os
mostraram, desse modo, preciosos discursos ideológicos sobre a igualdade
indicadores de determinados vínculos das oportunidades não têm como ir
com a prática, a linguagem, o tempo e o adiante. Colocar em evidência os
outro. Elas funcionam como operadores distanciamentos entre as performances é,
práticos de modos de organização das portanto, a condição para que se tome
atividades familiares e acompanham ou consciência das desigualdades escolares.
constituem, segundo a idade do praticante Entretanto, não basta mesurar as
(pode-se inculcar um vínculo de diferenças entre as performances. É
planificação ao tempo ao acostumar as preciso também saber interpretá-las e,
crianças a fazer uso de agendas ou de para tanto, analisar as diferenças à luz das
listas de coisas a serem feitas), propriedades sociais dos alunos: o sexo
determinadas atitudes sociais racionais, dos alunos, as profissões dos pais, seus
reflexivas, que planificam. Poderia níveis de escolaridade, de renda, suas
resumir o ponto central destas pesquisas situações geográficas etc. Se nos
ao dizer que as práticas escriturais e contentarmos de constatar as diferenças
gráficas essencialmente domésticas que para reforçar os estereótipos sociais, isso
estudei me pareceram introduzir uma pode se tornar muito perigoso
distância entre o sujeito falante ou o ator politicamente.
e sua linguagem e lhe conferir os meios Por outro lado, para serem
de dominar simbolicamente o que ele, até verdadeiramente pertinentes, é preciso
este momento, dominava de modo que estas avaliações sejam acompanhadas
prático: a linguagem, o espaço, o tempo. de uma reflexão sobre os dados: houve as
mesmas condições de realização das
provas em todos os lugares? Os
exercícios ou os problemas propostos aos
Provavelmente você conhece as alunos avaliam o que pretendem avaliar?
práticas de avaliação do sistema Para resumir, estas avaliações são
desenvolvidas em diversos países no necessárias, mas necessitam de uma
mundo. Aqui no Brasil temos o SAEB – imensa atenção por parte dos que as
Sistema Nacional de Avaliação da comentam e dos que delas fazem uso.
Educação Básica. O que acha sobre
avaliações desenvolvidas em larga
escala? De que forma podem colaborar
para a mudança na educação escolar
pública?

As avaliações em grande escala (na


totalidade de uma população escolarizada

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Qual a relação que pode ser Melhorando a qualidade e a remuneração
estabelecida entre formação de de seus professores e aumentando o
professores e o fracasso/sucesso número de horas no Ensino Fundamental
escolar? I, o Brasil mudaria radicalmente a relação
dos cidadãos para com o saber e a cultura.
Não acho que haja relações diretas e
facilmente mensuráveis entre o nível de
formação ou a natureza da formação dos
professores e o nível de sucesso escolar Você foi um dos formuladores do
dos alunos. Por exemplo, pessoas conceito de "forma escolar",
altamente diplomadas podem ser desenvolvendo um fecundo argumento
professores muito medíocres. A na companhia de Gui Vincent e Daniel
pedagogia é um saber muito particular e Thin. Em relação àquela maneira
saber organizar as condições adequadas original de pensar a educação na forma
de transmissão dos saberes é uma “arte de escolar há novas perspectivas? Há
agir” que não se tem naturalmente. alguma revisão em relação ao que
Quanto mais os professores chegarem a considerava na ocasião?
uma sala sabendo como proceder (quais
modos de agir em sala, quais técnicas O que estudamos com o conceito de «
pedagógicas utilizar, de quais dispositivos forma escolar » nos anos 1980-1990 não
se servir etc.), mais estarão aptos a era o produto de um modismo pedagógico
auxiliar os alunos a terem sucesso. Mas é ou de uma conjuntura escolar. Meu
também de interesse dos professores trabalho se apoiava principalmente em
conhecerem os alunos com os quais estão uma história pluri-secular da forma
lidando, assim como seus familiares, para escolar e da alfabetização na França,
evitar projetar sobre eles estereótipos e desde as escolas do Antigo Regime
imaginários sociais. E, aqui, as ciências reservadas à elite até a escola pública
humanas e sociais (sociologia, primária do fim do século XX. A
antropologia, sociolingüística, história descrição e a análise das relações
etc.) podem ser muito úteis. socialmente diferenciadas à cultura escrita
escolar e das dificuldades vivenciadas
pelos alunos mais afastados das lógicas
escolares abarcam, portanto, extensos
Durante sua permanência no Brasil, o períodos e continuam a ser pertinentes.
que mais lhe chamou a atenção em Enquanto houver formas escolares de
relação à educação escolar? aprendizagens, formas escolares de
cultura escrita e de ensino da língua
O que mais chamou minha atenção foi o escrita e desigualdades sociais e culturais
baixo número de horas de aula que se é iniciais (que contribuem para a sua
oferecido aos alunos nos anos iniciais, se reprodução no seio das famílias, depois,
compararmos com o que conhecemos na na escola), observaremos os mesmos
Europa. E, o que não deixa de ter relação fenômenos de sucesso escolar
com o que foi dito, a má remuneração dos socialmente diferenciado.
professores que atuam nos anos iniciais.

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falam os sociólogos é mais
Qual seu interesse de pesquisa frequentemente um adulto (jovem ou
atualmente? não), mas bem raramente uma criança. Os
pesquisadores dão assim a impressão de
Nos últimos anos, me afastei um pouco que “os atores” são um pouco como
da sociologia da educação e da escola adultos que jamais teriam sido crianças.
para trabalhar sobre as práticas culturais Ao mesmo tempo, vários sociólogos
(La Culture des individus. Dissonances reconhecem a importância dos efeitos da
culturelles et distinction de soi, Paris, socialização familiar precoce sobre o
Éditions la Découverte, Coll. « destino das crianças, Há, portanto, aqui,
Laboratoire des sciences sociales », uma “falta” que a sociologia deveria se
2004), sobre as condições de vida dos esforçar em preencher. Acho que isso vai
escritores (La Condition littéraire. La ocupar uma boa parte de meu tempo de
double vie des écrivains, Paris, Éditions pesquisa nos próximos anos.
la Découverte, Laboratoire des sciences
sociales, 2006) e até sobre as lógicas da
criação literária (Franz Kafka. Éléments
pour une théorie de la création littéraire, Como vê a recepção de seu trabalho
Paris, La Découverte, Laboratoire des sobre o sucesso escolar no mundo
sciences sociales, 2010). Estou acadêmico. Tem havido consequências
trabalhando nesse momento sobre a práticas a partir dele para pensar
história pluri-secular de um quadro de projetos ou políticas educacionais?
Nicolas Poussin (La Fuite en Egypte).
Isso pode parecer estranho em um mundo Tive o prazer de constatar que meus
acadêmico em que, quando se faz uma trabalhos de pesquisa publicados no início
tese em sociologia da educação, se dos anos 1990 continuam, no dias de
permanece a vida inteira “sociólogo da hoje, a ser mobilizados por sociólogos,
educação”! É uma situação de hiper- pesquisadores em ciência da educação e
especialização muito problemática que por pessoas do campo da didática. Acho
analisei e critiquei em uma obra que é uma motivação objetiva para
epistemológica recente (Monde pluriel. abordar com seriedade (teoricamente,
Penser l’unité des sciences sociales, Paris, metodologicamente e empiricamente)
Seuil, Couleur des idées, 2012). questões substanciais independentemente
Mas, em breve, vou retomar dos modismos acadêmicos. Quando se
assuntos relacionados à sociologia da trabalha dentro desse espírito, temos uma
educação. Na verdade, gostaria de chance menor de ser esquecido
trabalhar sobre a socialização dos bebês e imediatamente após a publicação de
crianças pequenas (0-5 anos). A infância nossos trabalhos. Em contrapartida, posso
é um período da vida que permanece dizer que os efeitos políticos ou sociais de
ainda amplamente negligenciado pelos meus trabalhos são quase nulos. Não sou
sociólogos, sendo muito mais de interesse um “político” e nunca procurei
dos psicólogos, que se tornaram, com os (essencialmente por incompetência e
pediatras, os experts mais influentes no pouco gosto pelo poder, mas também para
tema. O “ator” ou “o agente” do qual proteger minha independência de

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pesquisador) dialogar com os atores
políticos para influenciar as políticas
educativas. A única coisa que propus
publicamente, foi que as ciências do
mundo social fossem ensinadas desde os
anos iniciais (in L'Esprit sociologique,
Paris, Éditions la Découverte, Coll. «
Laboratoire des sciences sociales »,
2005). Isso me parece indispensável em
uma democracia. Por enquanto, isso não
deu certo, mas eu não esperava por um
efeito imediato ao que propus: o tempo da
política, o da ciência e o da utopia sensata
têm ritmos muito diferentes.

Tradução por Márcia Romero


Julho de 2013

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