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NOÇÕES DO DIREITO PENAL BRASILEIRO
SUMÁRIO
DIREITO PENAL – NOÇÕES GERAIS
HISTÓRIA DO DIREITO PENAL
HISTÓRIA DO DIREITO PENAL BRASILEIRO
DIREITO PENAL - Conceito
CARACTERES DO DIREITO PENAL
CARACTERÍSTICAS
PRINCÍPIOS LIMITADORES DO PODER PUNITIVO ESTATAL
TEORIA DA NORMA (Arts. 1º ao 12 CP)
INTERPRETAÇÃO DA LEI PENAL
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
ANALOGIA
NORMA PENAL EM BRANCO
VIGÊNCIA E REVOGAÇÃO DA LEI PENAL
DA LEI PENAL NO TEMPO
TEMPO DO CRIME
DA LEI PENAL NO ESPAÇO
EXTRATERRITORIALIDADE
LUGAR DO CRIME
TEORIA DO CRIME
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO
FORMAS DE ADEQUAÇÃO TÍPICA
SUJEITOS DO DELITO
CLASSIFICAÇÃO DOUTRINÁRIA DOS CRIMES
Diferenças entre crimes instantâneos, permanentes, habituais e continuados
CRIME CONSUMADO E CRIME TENTADO – art. 14, I e II do CPB
CRIME IMPOSSÍVEL (QUASE-CRIME) – ART. 17 CPB
CRIME DOLOSO, CULPOSO E PRETERDOLOSO - arts. 18, I e II e 19 do CPB
ERRO – art. 20 do CPB
CULPABILIDADE
EXCLUSÃO DA ILICITUDE
CONCURSO DE PESSOAS – ART. 29 DO CP
EXERCÍCIOS
REFERÊNCIAS
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. RT. São Paulo. 2010
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Direito Penal – Parte Geral
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Nos tempos remotos, o que vigorava era a justiça com as próprias mãos. O ofendido tinha o
direito, inclusive sob o aval da igreja de vingar-se de seu ofensor e assim, se fazia o Direito.
Tempos depois, com a evolução, reprimiu-se a vingança privada, vindo a prevalecer então a
composição com a vítima (preço da paz), para em seguida assumir o Estado o monopólio da
justiça primitiva.
O Direito Romano é a base para todos os ramos do Direito inclusive para o Direito Penal.
A lei das XII tábuas, promulgada em 453 até 51 a C. Constam as disposições penais nas tábuas
VII à XII, estipulando de um modo geral a pena do TALIÃO: “olho pro olho, dente por dente”.
Só com o tempo, é que tais conceitos foram se modificando, passando então a punição a ser
competência do Estado.
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Há época da descoberta do Brasil estavam em vigor as Ordenações Afonsinas e, logo em
seguida, as Manuelinas. Todavia, a situação da Colônia, com o sistema de Capitanias, tornava
nula a possibilidade de aplicação desse direito, pela ausência de poder público juridicamente
limitado e de um mínimo de organização repressiva. A partir dos governos gerais é que se pode
dizer tenha começado a ser aplicada no Brasil a legislação do reino.
A legislação penal do Livro V, que era utilizada pelo Brasil era realmente, terrível, o que não
constitui privilégio seu, pois todas as legislações da época, deixavam a desejar. A morte era a
pena comum e se aplicava a grande número de delitos, sendo executada muitas vezes com
requinte de crueldade. Eram previstas:
Pena de morte natural cruelmente – que dependia da imaginação do executor e do arbítrio dos
juízes;
Pena de morte natural para sempre – enforcamento, ficando o cadáver pendente até o
apodrecimento.
Havia ainda penas infamantes, mutilações, confisco de bens e degredo. As penas dependiam da
condição dos réus e empregava-se amplamente a tortura.
O sentido geral dessa legislação é o da intimidação feroz, puramente utilitária, sem haver
proporção entre as penas e os delitos, confundindo-se os interesses do Estado com os da
religião. Tais ordenações representaram a legislação de nosso país mesmo depois da
Independência, sendo revogada com o advento do primeiro código penal de 1830.
O código de 1830 foi o primeiro CP autônomo da América Latina, sendo transformado em Lei
em 16 de dezembro de 1830. Sofreu influência das idéias que dominavam a Europa na época, ou
seja, dos princípios liberais do iluminismo e utilitarismo.
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A reparação do dano causado pelo delito, estabelecida pelo próprio juiz criminal (mais tarde foi
modificado, transferindo tal competência para o juízo cível);
Em 1932 foi promulgado o código de processo criminal, que completou o sistema de nossa
legislação penal.
Embora elaborado durante um regime ditatorial (o chamado Estado Novo, que vigorou no
Brasil de 1937 a 1945), o CP de 1940 incorpora fundamentalmente as bases de um direito
punitivo democrático e liberal.
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A legislação penal foi completada com o aparecimento da Lei das Contravenções Penais (1941),
bem como de demais Leis extravagantes: Código Penal Militar, e 1944, substituído pelo código
de 1969; Lei de Imprensa, de 1953, substituída pela Lei nº 5.250 de 1967, entre muitas outras.
O CP sofreu algumas modificações em 1977, quando alterou-se disposições sobre a pena e sua
execução, revogando de vez o código de 1969.
Conceito: é o ramo do Direito Público que define as infrações penais, estabelecendo as penas e
as medidas de segurança.
Criminologia: é a ciência que se volta ao estudo do crime, como fenômeno social, bem
como do criminoso, como agente do ato ilícito, em visão ampla e aberta, não se
cingindo à análise da norma penal e seus efeitos, mas sobretudo às causas que levam à
delinqüência, possibilitando, pois, o aperfeiçoamento dogmático do sistema penal. A
criminologia envolve a antropologia criminal (estudo da constituição física e psíquica
do delinqüente) – inaugurada por Lombroso com a obra O homem delinqüente -, bem
como a psicologia criminal (estudo do psiquismo do agente da infração penal) e a
sociologia criminal (estudo das causas sociais da criminalidade). Roberto Lyra afirma
que, enquanto a criminologia “considera, verticalmente a criminalidade (conceito
criminológico)”, o Direito Penal “considera, horizontalmente o crime (conceito
jurídico).1
1
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. RT. São Paulo. 2007.
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Direito Penal Objetivo: conjunto de normas penais. O Código Penal propriamente dito e as leis
especiais, tais como a Lei de Crimes Hediondos, Contravenções Penais, Tráfico ilícito de
entorpecentes, etc.
Direito Penal Subjetivo: é o direito de punir do Estado. O estado é o titular do Direito penal.
O D. Penal regula relações jurídicas em que de um lado surge o Estado com o jus
puniendi, o que lhe dá o caráter de D. Público.
Mesmo nos casos em que a ação penal se movimenta por iniciativa da parte ofendida
(ação privada), não se outorga o jus puniendi ao particular. Este exerce apenas o jus
persequendi in juditio, não gozando do direito de punir o sujeito.
O D.P. é ciência:
- Cultural: visa o dever ser e não o ser;
- Normativa: finalidade de estudar a norma;
- Valorativa: atua para resguardar os valores mais importantes, fundamentais da
sociedade;
- Finalista: defende a sociedade na proteção de bens jurídicos fundamentais (vida,
honra, patrimônio);
- Sancionador: cominação de sanções.
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- Dogmático: sua manifestação têm por base o D. Positivo. Expõe o seu sistema através
de normas jurídicas, exigindo o seu cumprimento sem reservas. Obrigatoriamente. 2
CARACTERÍSTICAS
Conforme sustentam os autores, a lei penal possui uma prevalência sobre as demais normas
jurídicas devido à importância dos bens e interesses protegidos, e pela severidade das sanções
impostas ao infrator.
Diante disso, a lei penal há de ser clara e precisa, afim de que seus mandamentos sejam
entendidos por todos, até porque, convém lembrar, “o desconhecimento ou a errônea
compreensão da lei isenta da responsabilidade criminal”.
A norma penal possui caráter “positivo”, significando que cada tipo descreve a conduta que
materializa o crime “matar alguém”; teria um caráter negativo se fosse dito “não matar
alguém”.
São dois os preceitos da norma penal incriminadora: o “preceito primário”, também conhecido
como prótase, que é a descrição da conduta proibida (matar alguém), e o “preceito secundário”,
ou apódose, que é a sanção (pena-reclusão de 06 a 20 anos).
- CLAREZA E PRECISÃO: seus mandamentos devem ser entendidos por todos, até
porque, convém lembrar, “o desconhecimento ou a errônea compreensão da lei não
isenta da responsabilidade criminal”.
- POSITIVA: cada tipo descreve a conduta que materializa o crime “matar alguém”;
teria um caráter negativo se fosse dito “não matar alguém”.
2
JESUS, Damásio Evangelista de. Direito Penal: São Paulo: Saraiva, 2009.
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- IMPERATIVA: Porque a realização da conduta descrita no preceito primário acarreta a
aplicação da pena;
- GERAL: Porque se destina a todas as pessoas, erga omnes, sem qualquer distinção,
alcançando inclusive os inimputáveis, aos quais pode ser imposta uma medida de
segurança;
- EXCLUSIVA: Porque somente a lei penal pode definir crimes e impor sanções.
Nenhum fato pode ser considerado crime e nenhuma pena criminal pode ser aplicada sem que
antes da ocorrência desse fato exista uma lei definindo-a como crime e cominando-lhe a sanção
correspondente. A lei deve definir com precisão e de forma cristalina a conduta proibida. (Art.
5º, XXXIX, CF; art. 1º, CPB).
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suficientes medidas civis ou administrativas, são estas que devem ser empregadas e não as
penais. Por isso, o D. Penal deve ser a ultima ratio, isto é, deve atuar somente quando os demais
ramos do direito revelarem-se incapazes de dar a tutela devida a bens relevantes na vida do
indivíduo e da própria sociedade.
→ Fragmentariedade = o D.P. limita-se a castigar as ações mais graves praticadas contra os bens
jurídicos mais importantes, decorrendo daí o seu caráter fragmentário, uma vez que se ocupa
somente de uma parte dos bens jurídicos protegidos pela ordem jurídica.
→ D. Civil
→ D. Penal
PIRÂMIDE MINIMALISTA
ROGÉRIO GRECO3
3
GRECO. Rogério.O Crime Organizado e a Pirâmide Minimalista. Revista Jurídica Consulex. Ano XIII
– nº 301 – 31 julho 2009. p. 22/24.
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Refere-se ao fato de ser possível ou não a aplicação de uma pena ao autor de um fato típico e
antijurídico, isto é, proibido pela lei penal. Para isso, exige-se a presença de uma série de
requisitos – capacidade de culpabilidade, consciência da ilicitude e exigibilidade da conduta - que
constituem os elementos positivos específicos do conceito dogmático de culpabilidade. A
ausência de qualquer desses elementos é suficiente para impedir a aplicação de uma sanção
penal.
→ Humanidade = é o maior entrave para adoção da pena capital e da prisão perpétua. Esse
princípio sustenta que o poder punitivo estatal não pode aplicar sanções que atinjam a
dignidade da pessoa humana ou que lesionem a constituição físico-psíquica dos condenados. A
proscrição das penas cruéis e infamantes, a proibição e a obrigação imposta ao Estado de dotar
sua infra-estrutura carcerária de meios e recursos que impeçam a degradação e a
dessocialização dos condenados são corolários do p. de humanidade. (art. 5º, XLIX, XLVII, CF).
Contudo, tal p. vige somente em relação à lei mais severa. Admite-se no direito intertemporal: a
aplicação retroativa da lei mais favorável (art. 5º, XL, CF). Assim, pode-se resumir a questão no
seguinte princípio: o da retroatividade da lei penal mais benigna. A lei nova que for mais favorável
ao réu sempre retroage.
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durante sua vigência. São leis de vida curta e cujos processos, de regra, estendem-se para além
do período de sua vigência. Retirar-lhes a ultra-atividade afastar-lhes-ia a força intimidativa.
Welzer depois de muito refletir aceitou tal princípio como p. geral de interpretação.
Jescheck, afirma que “a idéia de adequação social resulta, num critério inútil para restringir os
tipos penais, quando as regras usuais de interpretação possibilitam a sua delimitação correta.
Nestes casos, é preferível a aplicação dos critérios de interpretação conhecidos, pois dessa
forma, se obtém resultados comprováveis, enquanto que a adequação social não deixa de ser
um princípio relativamente inseguro, razão pela qual só em última instância deveria ser
utilizado.
→ Insignificância = a tipicidade penal exige uma ofensa de alguma gravidade aos bens
jurídicos protegidos, pois nem sempre qualquer ofensa a esses bens ou interesses é suficiente
para configurar o injusto típico. Segundo esse princípio, que Klaus Tiedermann chamou de p.
da bagatela, é imperativa uma efetiva proporcionalidade entre a gravidade da conduta que se
pretende punir e a drasticidade da intervenção estatal. Amiúde, condutas que se amoldam a
determinado tipo penal, sob o ponto de vista formal, não apresentam nenhuma relevância
material. Nessas circunstâncias, pode-se afastar liminarmente a tipicidade penal porque em
verdade o bem jurídico não chegou a ser lesado.
Assim, a irrelevância ou insignificância de determinada conduta deve ser aferida não apenas em
relação à importância do bem juridicamente atingido, mas especialmente em relação ao grau de
sua intensidade, isto é, pela extensão da lesão produzida, como, por exemplo, nas palavras de
Roxin, “mau-trato não é qualquer tipo de lesão à integridade corporal, mas somente uma lesão
relevante; uma forma delitiva de injúria é só a lesão grave a pretensão social de respeito. Como
força deve ser considerada unicamente um obstáculo de certa importância, igualmente também
a ameaça deve ser sensível para ultrapassar o umbral da criminalidade”.
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→ Ofensividade ou Lesividade = para que se tipifique algum crime, em sentido material, é
indispensável que haja, pelo menos, um perigo concreto, real e efetivo de dano a um bem
jurídico penalmente protegido. Somente se justifica a intervenção estatal em termos de
repressão penal se houver efetivo e concreto ataque a um interesse socialmente relevante, que
represente, no mínimo, perigo concreto ao bem jurídico tutelado. Por essa razão, são
inconstitucionais todos os chamados crimes de perigo abstrato, pois, no âmbito do D.P. de um
Estado Democrático de Direito, somente se admite a existência de infração quando há efetivo,
real e concreto perigo de lesão a um bem jurídico determinado. Em outros termos, o legislador
deve abster-se de tipificar como crime ações incapazes de lesar ou, no mínimo, colocar em
perigo concreto o bem jurídico protegido pela norma penal. Sem afetar o bem jurídico, no
mínimo colocando-o em risco efetivo, não há infração penal.
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Todos esses princípios, hoje insertos, explícita ou implicitamente, em nossa Constituição (art.
5º), têm a função de orientar o legislador ordinário para a adoção de um sistema de controle
penal voltado para os direitos humanos, embasado em um Direito penal da culpabilidade, um
Direito Penal Mínimo e garantista.
A expressão “fonte” é utilizada para exprimir a nascedouro do direito; onde nasce o direito a
fim de se impor como conduta social.
Relativamente ao Direito Penal, fonte quer significar de onde provém, de onde se origina a lei
penal.
Fontes Materiais
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O parágrafo único do art. 22 fala em competência suplementar, vez que, somente Lei Federal
pode regular matéria penal. No entanto, quando se tratar de matéria de cunho local, leis
complementares, quando houver lacuna na lei federal, poderão, nos casos de interesse
específico, legislar, como por ex. a proteção da vitória - régia na Amazônia.
Fontes Formais
As fontes formais são aquelas que exteriorizam o direito, que lhe dão forma substancial, e se
dividem em DIRETAS (Imediatas) e INDIRETAS (Mediatas ou Subsidiárias).
Em razão do Princípio da Reserva Legal, a Lei é a única fonte direta ou imediata do Direito
Penal.
Regra escrita pelo legislador com a finalidade de tornar expresso o comportamento considerado
indesejado e perigoso pela coletividade.
Ao legislador, portanto, não cabe proibir simplesmente a conduta, mas descrever em detalhes o
comportamento, associando-lhe uma pena, de maneira que somente possam ser punidos
aqueles que pratiquem exatamente o que está descrito. A lei é, por imperativo do princípio da
reserva legal, descritiva e não proibitiva. A norma sim é que proíbe. Pode-se dizer que enquanto
a norma , sentimento popular não escrito, diz “não mate”, a lei opta pela técnica de descrever a
conduta, associando-a a uma pena, com o fito de garantir o direito de liberdade e controlar os
abusos do poder punitivo estatal. Assim, quem mata alguém age contra a norma “não matar”,
mas exatamente de acordo com a descrição feita pela lei “matar alguém”.
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Conforme ensina Júlio Mirabete, “o costume é uma regra de conduta praticada de modo geral,
constante e uniforme, com a consciência de sua obrigatoriedade”.
O costume, como fonte indireta, evidentemente não enseja a criação ou a revogação de crimes,
mas se apresenta como importante fator na elaboração e interpretação da norma penal. Na
descrição de várias figuras penais, o legislador se refere a condições, condutas e conceitos cuja
identificação depende dos usos e costumes observados no meio social. Assim é que, certas
noções, como por exemplo “honra”, “dignidade” e “decoro’ – Art.140 CP, “inexperiência e
justificável confiança” – Art.217 (sedução) e 219 (mulher honesta) CP (revogados pela Lei nº.
11.106/2005), - Art.233 (ato obceno), etc, só podem ser aquilatadas através dos costumes.
Classificações
As leis penais se classificam sob vários aspectos, destacando-se as “gerais e especiais”, “comuns
e especiais”, “ordinárias e excepcionais”, “incriminadoras e não incriminadoras”, sendo que
estas (as não incriminadoras) se dividem em “explicativas” e “permissivas”.
- GERAIS E ESPECIAIS - são aquelas editadas para vigorar em todo o território nacional, e
especiais àquelas promulgadas com eficácia restrita a certas regiões do País. No Brasil, ao
contrário dos Estados Unidos, a lei penal possui caráter “geral”, não havendo, pois, a lei penal
“especial”, embora a Constituição Federal não proíba a edição de tal tipo de lei.
- ORDINÁRIAS E EXCEPCIONAIS – leis penais “ordinárias” são aquelas editadas para vigorar
em qualquer situação, e “excepcionais” são aquelas editadas para vigorar em situações
anormais, como por exemplo, uma lei que entrasse em vigor durante o estado de guerra.
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- INCRIMINADORAS E NÃO INCRIMINADORAS – “incriminadoras”, também denominadas
de “leis penais em sentido estrito”, são aquelas que definem as condutas delituosas e impõem
as respectivas sanções. As leis penais “não incriminadoras” se dividem em “explicativas” e
“permissivas”. Explicativas são aquelas que emitem conceitos, tais como a norma do Art. 63 do
CP - “reincidência”, a norma do Art. 327 do CP – que conceitua “funcionário público”, e
permissivas são aquelas que afastam a ilicitude ou isentam de pena o autor de um fato típico,
apresentando-se como exemplos, dentre vários outros, os Artigos 23, 26, 128 e 142, todos do
Código Penal.
Conforme o antigo Mestre Magalhães Noronha, interpretação é o “processo lógico que procura
estabelecer a vontade contida na norma jurídica”.
Advertem os mestres do Direito da necessidade de se interpretar a lei por mais clara que seja.
Relativamente a esta, sustenta Damásio de Jesus que “a própria conclusão de ser clara a lei
depende de ser interpretada. Assim, a verificação da clareza, ao invés de afastar o trabalho
exegético, implica e pressupõe o seu uso. Como saber se uma lei é clara, senão depois de
interpretá-la?”.
Espécies de Interpretação
A) Autêntica (legislador)
B) Doutrinária (doutrina)
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C) Judicial = Jurisprudencial (tribunais)
A) Autêntica
É aquela realizada pelo próprio órgão que elaborou a lei, podendo ser “contextual” e
“posterior”.
- Contextual é a interpretação que o legislador faz no próprio texto da lei a ser interpretada. O
exemplo clássico é aquele do Art. 327 CP, que emite o conceito de funcionário público para
efeitos penais.
- Posterior é aquela realizada pela mesma fonte de onde provém a norma a ser interpretada,
com o fim de elidir incertezas e dubiedades.Exemplo é aquele do Art. 120 do CP, introduzido
pela reforma penal de 1984 (lei 7.209/84), com a finalidade de esclarecer a natureza jurídica e o
alcance da sentença concessiva do perdão judicial.
B) Doutrinária
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É aquela realizada pelos mestres do Direito Penal através dos comentários à lei.
C) Judicial
O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça editam “súmulas” que, hoje em
dia possuem força vinculante, constituem em preciosa fonte de orientação e interpretação da lei.
A lei penal deve ser de fácil compreensão para se eximir da responsabilidade penal.
Contudo, a interpretação literal não deve abster o exame de todo o sistema, com vista a se
apurar a real vontade da lei, uma vez que, não raro, a mera literalidade do texto tem levado a
conclusões absurdas.
B) Lógica ou teleológica
Conforme a advertência dos doutos, a simples interpretação literal pode levar a uma
equivocada compreensão do texto legal. É preciso buscar a vontade ou a intenção da lei através
da interpretação lógica ou teleológica.
Consiste a interpretação teleológica em investigar os motivos pelos quais a lei foi editada, as
necessidades e o princípio superior que lhe deram origem, o que os mestres do Direito chamam
de ratio legis.
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Deve, pois, o exegeta buscar a razão e a finalidade para a qual a norma penal foi editada.
Observe-se que a interpretação deve ser única, ou seja, a norma deve ser interpretada
conjugando-se, de forma harmônica, os meios gramaticais e teológicos.Em havendo divergência
entre a interpretação literal e teológica, deverá prevalecer a conclusão que atenda às “exigências
do bem comum” e aos “fins sociais”.
Advirta-se, por derradeiro, que a interpretação teleológica não consiste em se indagar a vontade
do legislador, vontade esta que, muita das vezes, é de caráter puramente político. Após a
entrada em vigor da lei, à vontade do legislador não é mais considerada, devendo-se buscar a
vontade e a finalidade que extrai da lei.
C) Sistemática: Aquela feita com a análise de toda a Legislação e não de parte dela.
E) Progressiva: o intérprete ajusta a lei ao momento de sua aplicação, fazendo com que a
legislação atenda aos costumes e aspectos sociais existentes quando de sua incidência. Art. 181,
I, CP (escusa absolutória). Valerá também para o companheiro e não só para o cônjuge. (art. 226,
§ 3º, CF)
Após a utilização dos demais mecanismos de interpretação, o exegeta chega a um resultado que
pode ser “declarativo”, “extensivo” ou “restritivo”. Fala-se, então, em interpretação
“declarativa”, “extensiva” e “restritiva”.
A) Declarativa
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Damásio de Jesus exemplifica a interpretação declarativa: “Determina o Art. 141, III, do nosso
Código, que nos crimes contra a honra (calúnia, difamação e injúria) as penas são aumentadas
de um terço se o fato é cometido na presença de várias pessoas. Qual é o mínimo exigido: duas
ou três? Deve entender-se que o mínimo é superior a duas, porque sempre que a lei se contenta
com duas pessoas di-lo expressamente. (Arts. 150, § 1º; 226, I, 155, § 4º, IV, 144, § 3º, 288,
137)”.4
B) Restritiva
Como sugere a rubrica, a interpretação restritiva busca limitar o alcance da lei, que, por vezes,
parece dizer mais do que realmente pretende dizer.
Mais uma vez se busca socorro no mestre Damásio de Jesus: “Diz o Art. 28, I e II, que não
excluem a imputabilidade penal a emoção, a paixão ou a embriaguez voluntária ou culposa. O
dispositivo deve ser interpretado restritivamente, no sentido de serem considerados esses
estados quando não patológicos, pois, de outra forma, haveria contradição com o Art. 26 caput.
Se o estado for patológico, aplicar-se-á o Art. 26 e não o 28”. .5
C) Extensiva
Existe uma norma regulando a hipótese, de modo que não se aplica a norma do caso análogo;
contudo, tal norma não menciona expressamente essa eficácia, devendo o intérprete ampliar seu
significado além da que estiver expresso.
4
Damásio de Jesus. Direito Penal - vol.1- Saraiva- 2009 - p. 40/41.
5
Ob. cit. 2009. p. 41
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Ex2.: Art. 130 CP: O tipo fala apenas em “expor alguém... a contágio de moléstia
venérea”, cabendo ampliá-lo para punir também o efetivo “contágio venéreo”.
Ex3.:Art. 235 CP, Bigamia: pode ser Poligamia também. O art. É o mesmo. Não há
concurso de crimes. O autor responde por apenas um crime.
INTERPRETAÇÃO ANALÓGICA
Na interpretação analógica, existe uma norma regulando a hipótese ( o que não ocorre com a
analogia) expressamente (não é o caso da interpretação extensiva), mas de forma genérica, o que
torna necessário o recurso da via interpretativa.
São inúmeras as hipóteses de normas penais que apresentam formulações genéricas após outras
específicas, sendo necessário o uso da interpretação analógica.
Cita-se, como exemplo, o Art. 171 do Código Penal, cujo tipo, após mencionar, de forma
casuística, os modos de realização do crime (mediante artifício ou ardil), apresenta a fórmula
genérica “qualquer outro meio fraudulento”.
Nessa hipótese, somente através da interpretação analógica é que se pode estabelecer o alcance
da expressão “qualquer outro meio fraudulento”, isto é, comparando o meio empregado pelo
agente com as fórmulas casuísticas “artifício ou ardil”.
Ou ainda: crime praticado mediante paga, promessa de recompensa ou outro motivo torpe, a
expressão “outro motivo torpe” é interpretada analogicamente como qualquer motivo torpe
equivalente aos outros casos mencionados.
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Outra Hipótese é a do Art. 28 inc. II do Código Penal:
Cabe reproduzir aqui a lista de dispositivos do Código Penal, nos quais deve ser empregada a
interpretação analógica:
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- Art. 272, § 1º - de qualquer forma;
- Art. 273, § 1º - de qualquer forma;
- Art. 274 – ou qualquer outra;
- Art. 276 – qualquer forma;
- Art. 278 – qualquer forma;
- Art. 284, II – qualquer outro meio;
- Art. 291 – qualquer objeto;
- Art. 293, I e IV – qualquer papel – qualquer outro documento;
- Art. 301, caput – qualquer outro bem móvel;
- Art. 336 – de qualquer forma;
- Art. 343 – qualquer outra vantagem;
- Art. 357 – qualquer outra utilidade;
ANALOGIA
No tocante a “analogia” (aplicação de uma hipótese não regulada por lei por outra
disposição relativa a um caso semelhante), entretanto, impõe-se algumas considerações:
- In malam partem em norma penal incriminadora: não tem sentido e seria um contra-
senso a sua aplicação em relação às normas de caráter permissivo. Tal aplicação fere o
princípio da reserva legal, uma vez que um fato não definido em lei como crime estaria
sendo considerado como tal. Imagine considerar típico o furto de uso (subtração de
coisa alheia móvel para uso), por força da aplicação analógica do art. 155 CPB (subtrair
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coisa alheia móvel com ânimo de assenhoramento definitivo). Neste caso, um fato não
considerado criminoso pela lei, passaria a sê-lo, em evidente afronta ao princípio
constitucional do art. 5º, XXXIX.
Ex1.: O art. 12, § 1º, II, da L. 6368/76 (Revogada pela nova lei de drogas L. nº 11.343/06),
incriminava o agente que semeava, cultivava ou fazia a colheita de planta com efeito
psicotrópico, sem distinguir se a conduta era praticada com o fim de tráfico ou consumo
pessoal. Tratava-se de figura equiparada ao tráfico ilícito de entorpecentes, apenada
com igual severidade, estando previstas as mesmas penas.
Como não existia previsão específica do plantio para o uso próprio, a solução aparente
seria jogar a conduta na vala comum do plantio, figura equiparada ao tráfico. Assim,
para evitar um mal maior, aplicava-se a analogia com relação às figuras do art. 16
(trazer consigo, guardar e adquirir para uso próprio, e nele se enquadra o plantio para
fins de uso. Criando-se, assim, um caso de analogia in bonam partem de norma penal
incriminadora.
Atualmente, com o advento da nova lei nº 11.343/06, em seu artigo 28, § 1º, tal
discussão deixou de existir, pois o legislador infraconstitucional inseriu no texto a
discussão dirimindo-a por completo.
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Direito Penal – Parte Geral
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Regime Integramente LCH, por ferir os 2/5 – réu primário;
Fechado princípios: 3/5 – réu reincidente.
-Dignidade Humana;
-Igualdade;
- Individualização da
Pena.
FATO FATO
Ex1.: analogia in bonam partem cabível no tipo permissivo do Art. 128, II, do Código
Penal: Não se pune o aborto praticado por médico:
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da
gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Com a revogação do art. 214 e a inclusão do texto legal como hipótese de estupro no art.
213, não se faz necessário empregar, atualmente a analogia.
Ex2.: Art. 156, § 2º: Não é punível a subtração de coisa comum fungível, cujo valor não
excede a quota a que tem direito o agente. Pode-se empregar a analogia na hipótese de
dano de coisa comum fungível.
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Direito Penal – Parte Geral
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- Em norma penal de caráter excepcional (aquelas que têm por fundamento um motivo
de política extra-penal). Não é admitida no D.P. ex.: art. 181, II, CP (Sobrinho).
Enquanto a maioria das leis penais incriminadoras apresentam um conteúdo completo, não se
fazendo necessária a complementação, existem algumas outras que representam um “preceito
primário” genérico e incompleto, carecendo, em conseqüência, da complementação que se
busca em outra norma jurídica (leis, decretos, portarias, regulamentos, etc.) para a sua efetiva
aplicação.
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Direito Penal – Parte Geral
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Exemplo clássico de norma penal em branco é aquela do Art. 33 da Lei Antitóxicos – 11.343/06,
que define várias condutas que materializam o crime de tráfico de drogas. Após descrever as
várias condutas nucleares (vender, ter em depósito, fornecer, entregar...), a referida norma
conclui “... entregar a consumo ou fornecer drogas, ..., sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar”. A lei não define o que seria ou quais seriam as
“drogas”, sendo necessário que se complemente a norma do Art. 33 através de uma Portaria
editada pelo Ministério da Saúde que elenca as substâncias tóxicas definidas comodrogas.
As normas penais em branco apresentam uma divisão: - “em sentido estrito” e “em sentido
amplo”.
Normas penais em branco em sentido estrito (próprias ou heterogêneas) são aquelas cujo
complemento se busca em outra norma jurídica procedente de uma instância legislativa diversa
daquela de onde provém a norma a ser complementada. É o caso do exemplo citado acima, em
que a norma penal incriminadora do Art. 33 da lei 11.343/06 é complementada por uma regra
de conteúdo administrativo, proveniente do Ministério da Saúde. Atualmente, Resolução da
ANVISA regula o art. 33 da Lei 11.343/06.
Normas penais em branco em sentido amplo (lato, impróprias ou homogêneas) - são aquelas
que encontram o complemento de que necessitam “na própria lei” ou “em outra lei do mesmo
nível”. Exemplo da Primeira é o crime do Art. 316 do CP – “concussão”, praticado por
funcionário público, cujo conceito é encontrado no próprio código penal – Art. 327. Exemplo da
segunda é o delito do Art. 237 CP - “conhecimento prévio de impedimento”, que vai encontrar a
complementação no Art.1521 do Código Civil.
Salvo a hipótese de lei “temporária” - Art. 3º CP, a lei é editada para vigorar por tempo
indeterminado.
Entretanto, como ocorre em relação a tudo e a todos, a lei, nasce, vive e morre.
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Direito Penal – Parte Geral
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Chama-se “PROMULGAÇÃO” o ato do Chefe do Executivo que declara a existência da lei e
ordena a sua execução.
A lei deixa de existir com a sua “REVOGAÇÃO”, que pode ser “expressa” ou “tácita”. Verifica-
se a revogação expressa quando a lei posterior, em seu próprio texto, declara a revogação da
anterior. A “tácita” quando lei posterior disciplina a matéria regulada pela anterior.
Consoante o princípio “tempus regit actum” , a lei penal, via de regra, se aplica aos fatos
praticados durante a sua vigência, não podendo, em tese alcançar fatos ocorridos anteriormente,
nem tampouco ser aplicada após a sua revogação.
Dispõe o Art. 1º do Código Penal: - “NÃO HÁ CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA.
NÃO HÁ PENASEM A PRÉVIA COMINAÇÃOLEGAL”.
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Direito Penal – Parte Geral
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- Reserva Legal significa que somente a lei, elaborada na forma prevista na Constituição
Federal, pode-se determinar o que é crime, e impor a pena cabível.
- Anterioridade da Lei Penal significa que a conduta humana, para ser considerada criminosa,
tem de estar previamente descrita na é indispensável que a vigência da lei que define a conduta
como delituosa seja anterior à própria conduta.
Também não retroagem as normas que, mesmo sem incriminar condutas, prejudicam a situação
do agente.
Em resumo, havendo conflito de leis penais com o surgimento de novas normas após a prática
do fato delituoso, será aplicada sempre a lei mais favorável. Isto significa que a lei penal mais
benigna tem extratividade (possui retroatividade e ultratividade) e, ao contrário, a lei mais
severa não tem extratividade (não é retroativa nem ultrativa).
A lei nova que incrimina o fato cometido anteriormente à sua regência não se aplica a
tal fato anterior.
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Direito Penal – Parte Geral
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Exemplo: suponha-se que hoje, o indivíduo pratica incesto, relacionando-se
sexualmente com sua própria filha; posteriormente, sendo a conduta criminalizada, a lei
nova incriminadora não retroagirá.
- Abolitio Criminis:
É a hipótese do Art. 2º do Código Penal: “Ninguém será punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos
penais da sentença condenatória”.
Ex.: Art. 217 CP – Sedução. Lei posterior deixa de considerar a conduta como delituosa.
Se ainda não tiver sido processado, não o será; se já estiver em curso o processo, o
mesmo será extinto (ocorrerá a extinção da punibilidade – do Art. 107, III, Código
Penal). Na hipótese de já estar condenado e cumprindo pena, deverá ser posto em
liberdade, também ocorrendo a extinção da punibilidade, consoante o dispositivo
acima.
Trata-se de aplicação retroativa da lei penal mais benigna. A lei nova posterior é de ser
considerada mais perfeita do que a anterior, restando, pois, demonstrando que não se
faz mais presente o interesse da sociedade na punição do sujeito.
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Direito Penal – Parte Geral
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A situação é de lei nova mais severa que a anterior - lex gravior. A lei nova posterior
mantém a mesma definição do crime, mas agrava a sua pena. Tal lei nova não retroage.
Exemplo: o Código Penal comina ao furto simples – Art. 155 caput do CP, a pena de 01
(um) a 04 (quatro) anos de reclusão. Surgindo lei nova mantendo a mesma definição,
mas agravando a pena para, 02 (dois) a 08 (oito) anos de reclusão, a lei nova não
retroagirá. Só será aplicada para os furtos praticados posteriormente ao início da
vigência da lei nova.
Ex.: 213, §§ 1º, 2º, 215; 216, § 2º, 217-A, §§ 1º, 3º, 4º, 218, 218-A, B, 225, 228, 229, 230, §
2º -L. 12015/09
A hipótese é de lei nova posterior menos severa que a anterior - lex mitior. A lei nova
mantém a mesma definição do crime, mas diminui as conseqüências penais. No caso é
de se fazer retroagir a lei posterior ao fato cometido antes da sua vigência:
Ex.: violação de domicílio (Art. 150 do CP), punido com detenção de 01 (um) a 03 (três)
meses. Posteriormente, lei nova mantém a mesma definição, mas diminui a pena para
15 dias a 02 meses.
A lei nova irá retroagir, mesmo em decisão transitada em julgado (art. 66, I, LEP e art. 2º
do CP).
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Juízo competente:
- P. Conhecimento - Juiz singular;
- Sentença com recurso no TJ: (X)
a) se a aplicação da lex mitior comportar apenas análise objetiva, o Órgão judicial competente
para aplica-la é Tribunal. Ex.: pena, majorante.
b) se a aplicação da lex mitior envolve juízo valorativo de cunho subjetivo, o Tribunal não pode
aplica-la de plano e de pronto, pois, em o fazendo, incorrerá em supressão de instâncias e
ofenderá o princípio do duplo grau de jurisdição. Neste caso, ao Tribunal caberá converter o
julgamento em diligência para que o magistrado de primeiro grau complemente a decisão,
analisando a nova lei que beneficia em tese, o réu. Ex.: substituição da pena privativa de
liberdade para restritiva de direitos em determinadas hipóteses. Lei 9.714/98, modificou os arts.
43 a 48 do CP o requisito subjetivo é da circunstância judicial do art. 59 CP. Se o Tribunal julga
sem poder, gera para o recorrente o direito de impetrar HC para anular decisão pela ofensa aos
princípios do duplo e da supressão do juízo. Mas não para reformar a decisão, pois não há
recurso próprio. Anulando a decisão do TJ no STJ, o processo desce para julgamento no juízo a
quo.
Se a lex mitior surge na execução, o juízo competente é o da LEP (art. 66, I), bem como Súmula
611 do STF. Porém, não será competente quando a aplicação da lex mitior exigir um reexame
valorativo das provas constantes do processo criminal. Ex.: art. 155, § 1º, majorante do repouso
noturno. Não há horário específico no CP, sujeitando-se aos costumes do local. Como será
necessária a revisão criminal, não cabe ao juiz da execução. Neste caso será competente o TJ.
Ex.: 231 caput (na pena, pois o tipo está mais abrangente), 231-A (idem). L. 12015/09
A abolitio criminis e a lex mitior podem ser aplicadas no período da vacatio legis? (X)
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2) o Prof. Alexandre Carvalho discorda, pois no Brasil, há a insegurança jurídica, revogação da
lei no período de vacatio, o que traria muitos problemas.
Dispõe do Art 3º do Código Penal que “a lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplicam-se ao fato
praticado durante a sua agência”.
- Lei Excepcional: é aquela que é editada para vigorar em situações ou condições sociais
anormais, sendo que o período de sua vigência fica subordinado à duração da anormalidade
que a motivou.
- Lei Temporária: é aquela que possui o tempo de sua vigência determinado no próprio
dispositivo.
Em razão da peculiaridade dessas normas, não há que se falar em retroatividade da lei posterior
mais benigna. Assim, cometido o fato delituoso durante a vigência da lei excepcional ou
temporária, o infrator não se beneficiará da retroatividade da lei posterior que seja mais
favorável. No caso em tela a lei será ultra-ativa.
TEMPO DO CRIME
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- Teoria da atividade, também chamada de “teoria da ação”: considera-se tempo do crime mo
momento em que se pratica a A/O. (adotada no CPB).
- Teoria do resultado, também conhecida como “teoria do efeito”: considera-se tempo do crime
o momento do resultado, ou possível resultado.
É por demais importante a fixação do momento do crime para se determinar à aplicação da lei
vigente na hipótese de sucessões de leis, e para a aferição da imputabilidade do agente.
Com relação à lei vigente, suponha-se que o agente cometa um crime de estupro no ano de 1989,
cuja pena é de 03 (três) a 08 (oito) anos de reclusão. O processo se arrasta por dois anos. Em
1990, entra em vigor nova lei (lei 8.072/90) que aumenta a pena do estupro para 06 (seis) a 10
(dez) de reclusão. Ao sujeito não deverá ser imposta pena de 06 a 10, mas sim de 03 a 8 vez que
ao tempo do fato (1989), a lei impunha aquela pena.
Crime Permanente: é aquele cujo momento consumativo se prolonga no tempo. Ex.: art. 159. se
entrar em vigor lei mais gravosa enquanto durar a conduta esta lei será a utilizada. Súmula nº
711 STF.
Crime Continuado: é uma ficção jurídica que se encontra prevista no art. 71 CP (política
criminal). Considerar-se-á tempo do crime, todo o período de prolongamento de continuidade
delitiva. Súmula 711 STF.
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Crime Habitual: é aquele que se consuma pela prática reiterada de atos que, isoladamente são
atípicos. Art. 284 CP. O tempo do crime se configura a partir do segundo ato até o último ato
(corrente majoritária na doutrina).
Ex.: se A contrata B para matar C e B só pratica o fato algum tempo depois, se nesse período for
publicada nova lei, tal só valerá para o executor e não para o mandante do crime.
A exceção é ditada pelo próprio Art. 5º, não se aplicando a Lei Penal Brasileiro quando
dispuser em contrário tratado ou convenções internacionais, sendo o caso da imunidade
diplomática.
- Imunidades Parlamentares:
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Relativamente às pessoas, há de se destacar, ainda, as IMUNIDADES PARLAMENTARES,
sendo assegurados aos membros do Congresso Nacional a ampla liberdade de expressão no
exercício de suas funções, e a proteção contra abusos por parte de membros dos outros poderes.
A Carta Magna, no § 1º do referido Art. 53, estabelece a IMUNIDADE RELATIVA, que consiste
na impossibilidade de prisão, salvo em flagrante por crime inafiançável.
- Deputados Estaduais
As imunidades dos membros do Congresso Nacional também são estendidas aos deputados
estaduais, conforme previsão nas Constituições dos Estados. Ressalve-se, contudo, que as
imunidades dos deputados estaduais são válidas somente em relação à autoridades judiciárias
estaduais, não podendo ser invocadas em face do Poder Judiciário Federal (nesse sentido, vide a
Súmula 3 do Supremo Tribunal Federal).
- Vereadores
- Território Brasileiro
Conforme advertem os Mestres, dentre eles Celso Delmanto, a expressão “território brasileiro”
deve ser entendida em seu sentido jurídico, compreendendo todo o espaço terrestre, fluvial e
marítimo, embarcações e aeronaves brasileiras.
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- Os navios e as aeronaves públicas brasileiras, onde quer que se encontrem, mesmo espaço
aéreo ou marítimo estrangeiro.
Com relação aos navios e aeronaves estrangeiras de propriedade privada, somente se aplica a
lei penal brasileira quanto aos crimes cometidos a bordo quando se encontrarem nas condições
do parágrafo 2º, do Art. 5º, do Código Penal.
EXTRATERRITORIALIDADE
- Condicionada - são as hipóteses do inciso II, alíneas “a”, “b” e “c” e do parágrafo 3º, ficando a
aplicação da Lei Brasileira condicionada a certos requisitos ou condições indicadas nas alíneas
dos parágrafos 2º e 3º.
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Princípios:
1) Da defesa/ proteção/ real ou tutela:
Aplica-se a lei penal de um país, ao crime cometido no estrangeiro, que tenha ofendido bem
jurídico cuja tutela interesse ao país. Art. 7º I, a, b e c;
2) Nacionalidade Ativa:
Aplica-se a lei penal de um país, ao crime cometido no estrangeiro, por um nacional. Art. 7º, II,
b.
3) Nacionalidade Passiva:
Aplica-se a lei penal de um país, ao crime cometido no estrangeiro, contra um nacional. Art. 7º,
§ 3º. (X) – Universal.
Obs.:
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► Expulsão: saída compulsória do território nacional do estrangeiro considerado inconveniente
aos interesses nacionais. Ex.: fraude para entrar ou permanecer no Brasil. Impossibilidade de
retorno ao Brasil. Ministério da Justiça instaura inquérito e a decisão fica com o Presidente da
República, que o faz por decreto.
► art. 7º, I: “HONRA” do Presidente da República, pois apesar de estar na alínea “a ”, não gera
a extraterritorialidade incondicionada (doutrina Maj).
► § 1º, art. 7º → v. art. 8º (princípio da reserva penal / detração penal). Abate a pena já
cumprida no exterior. Se idênticas (cômputo). Se distintas (atenuação. A lei não previu o
quantum, o critério é discricionário do juiz).
► Prisão Perpétua: em qualquer país do mundo admite-se o Livramento Condicional.
► o art. 8º fala em gênero e não em quantidade (qualidade) da pena (espécie). Assim, deve-se
verificar se a pena é: privativa, restritiva, ou de multa, e não quantos anos irá ficar.
R.: O CPB estabelece no art. 8º o princípio da reserva penal, ou seja, hipótese de detração penal.
Portanto:
- penas idênticas = cômputo;
- penas diversas = atenuação.
LUGAR DO CRIME
Para a aplicação da regra da territorialidade, o Código Penal, em seu Art. 6º, define o lugar do
crime, APRESENTANDO-SE TRÊS TEORIAS A RESPEITO:
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Direito Penal – Parte Geral
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- Teoria da ubiqüidade, também denominada “teoria da unidade” ou “teoria mista”, é a
conjugação das duas teorias anteriores.
Suponha-se que o sujeito, estando no território nacional, remeta pelos correios uma bomba para
uma pessoa que se encontra no estrangeiro, e no estrangeiro ocorreu o resultado.
Pelo Art. 6º em exame, em ambas as hipóteses há de prevalecer o império da Lei Penal
Brasileira, sujeitando-se os infratores ao nosso Código Penal.
a) crimes de espaço mínimo: são aqueles praticados e consumados no mesmo lugar. Ex.:
Manaus > Manaus.
b) Crimes de espaço máximo:
b.1) crimes plurilocais: são os que tocam os territórios de duas ou mais comarcas. Ex.:
Manaus > Itacoatiara. Utilizar o art. 69 e 70 do CPP.
b.2) crimes à distância: são aqueles que tocam os territórios de dois ou mais países. Art. 70, §
1º, CPP.
TEORIA DO CRIME
Conceitos de crime
1) Legal: art. 1º LICP: é crime a infração punida com reclusão ou detenção isoladamente ou uma
dessas penas privativas em cúmulo ou em alternatividade com a pena de multa.
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Direito Penal – Parte Geral
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Crime
Infração Penal
Contravenção
O art. 28 da L. 11.343/06 não disciplina qualquer pena. Assim, tal art. É crime ou contravenção?
R.: é crime anômalo (foge da padronização comum), por interpretação sistemática do art. 26 da
lei cujo título III fala em usuários de drogas e o cap. III fala em crimes e penas. Portanto, apesar
de discussões quando da publicação da lei, o art. 28 é crime.
2) Formal: crime é fato proibido pela lei penal ao qual se associa uma pena.
3) Material: fato que lesiona ou expõe a risco de lesão um bem juridicamente tutelado (princípio
da lesividade ou ofensivilidade).
4) Analítico:
Para que uma conduta humana seja considerada crime, não basta que se amolde a um tipo
incriminador. Não basta que encontre uma descrição daquela conduta na lei penal
considerando-a criminosa.
Suponha-se que, de certa distância, observa-se a conduta de “A” efetuando disparos de arma de
fogo na direção de “B”, vindo a causar-lhe a morte. O fato de “A” se amolda de forma precisa
no tipo incriminador do art. 121 do CPB – matar alguém. Entretanto, já no local em que ocorreu
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o evento, descobre-se que “B” estava armado e era iminente a sua agressão em relação a “A”,
não tendo este outra alternativa que não a de matar aquele em legítima defesa.
Observa-se de início que o fato de “A” é típico, eis que se amolda ao tipo incriminador do art.
121 do CPB. No entanto, não é antijurídico – não contraria o ordenamento jurídico e nem ofende
a consciência de quem tomar conhecimento do fato, eis que praticado em legítima defesa.
A conduta humana descrita na norma penal incriminadora será antijurídica ou ilícita na medida
em que não for expressamente declarada lícita. Assim, o conceito de antijuridicidade ou
ilicitude de um fato se descobre por exclusão: será antijurídico todo o fato típico que não for
declarado lícito por uma das causas de exclusão da antijuridicidade ou da ilicitude – art. 23 CP.
Presente, portanto, uma causa de exclusão o fato será típico, mas não antijurídico e, em
conseqüência, não há se falar em crime, que é o fato típico e antijurídico.
Conceituar fato típico é tarefa complexa, eis que a sua noção envolve quatro elementos:
conduta, resultado, nexo de causalidade e tipicidade. Assim, há de se adentrar no exame de
cada um dos elementos para se estabelecer a exata noção do instituto.
1) Conduta: não há crime sem conduta “nullun crimem sine conducta”. É a ação ou omissão
consciente e voluntária dirigida a determinada finalidade.
A conduta que integra o fato típico como um dos seus elementos, é aquela do homem, não dos
animais irracionais.
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Direito Penal – Parte Geral
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A voluntariedade é um outro requisito da conduta, que pode consistir num movimento
corporal (ação) ou na abstenção do movimento corporal (omissão).
Para a teoria finalista da ação, como todo comportamento humano tem uma finalidade (um
querer algo), a conduta é uma atividade final humana e não um comportamento simplesmente
corporal. O propósito de Welzel, ao elaborar o finalismo, foi o de trazer todo o elemento
psíquico para a ação.
Para que a ação seja penalmente relevante e se apresente como um dos elementos do fato típico,
é preciso ver o propósito com que foi praticada, isto é, necessário se faz verificar se a ação tinha
ou não, como fim, o objetivo de realizar o fato típico.
Como no finalismo a conduta não é um comportamento meramente casual, mas sim uma
atividade dirigida a um fim, o dolo, que antes habitava os domínios da culpabilidade, agora,
após a reforma de 1984, reside no tipo incriminador, apresentando-se como o seu elemento
subjetivo.
2) Resultado: para que se configure o crime, não basta a conduta; é preciso que ocorra o
segundo elemento do fato típico, resultado.
Nem todo crime possui resultado naturalístico, uma vez que há infrações penais que não
produzem qualquer alteração no mundo natural.
Material: é aquele cuja consumação só ocorre com a produção do resultado naturalístico. Arts.
121, 312, 157...
Formal: é aquele em que o resultado naturalístico é até possível, mas irrelevante, uma vez que a
consumação se opera antes e independentemente de sua produção. Ex.: extorsão mediante
seqüestro. 159, 158...
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Direito Penal – Parte Geral
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Mera Conduta: não admite em hipótese alguma resultado naturalístico, como a desobediência
(330), que não produz nenhuma alteração no mundo concreto. Ex.: 135, 269, 150...
Causa e Resultado: Não há crime sem resultado, diz a lei. Resultado é a lesão ou perigo de
lesão do bem jurídico, protegido pela lei penal. A relação de causalidade (nexo causal) liga a
conduta ao resultado.
Nexo de Causalidade: possivelmente o mais complexo dos elementos do fato típico. É o elo de
ligação entre a conduta e o resultado. É o liame que autoriza a conclusão de que o resultado
decorreu daquela determinada conduta.
Para resolver a questão do nexo de causalidade o CP em seu art. 13 – 2ª parte, adotou a teoria da
equivalência das condições - conditio sine qua non – condição sem a qual o resultado não teria
ocorrido. Todos os antecedentes que concorreram para o resultado são causa do resultado, não
se distinguindo entre causa e condição. Assim, todos os antecedentes causais se equivalem na
sua eficácia causal.
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Direito Penal – Parte Geral
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A teoria sofreu severas críticas, indagando-se até onde se deveria considerar os antecedentes
como causa do resultado, já que se poderia chegar ao infinito. Sustentaram os críticos que, na
hipótese de um homicídio, seria causa do resultado morte a fabricação e a comercialização da
arma, e até mais remotamente a extração do minério com a qual foi produzida.
Tais críticas, entretanto, são infundadas, pois a teoria da conditio sine qua non é “temperada” pela
tipicidade e especialmente pelo elemento subjetivo (dolo e culpa), não bastando, por
conseguinte, a simples causação do resultado. Se assim não fosse, o absurdo da hipótese acima
se materializaria, responsabilizando-se o fabricante da armas de fogo toda vez que alguém
cometesse um homicídio com a arma que produziu, ou do construtor da ponte toda vez que
alguém cometesse suicídio atirando-se da mesma.
Para saber se uma conduta é causa do resultado, basta excluí-la mentalmente da série causal. É
o chamado processo hipotético de Thyrén. Se, excluída aquela conduta antecedente, o resultado
mesmo assim se produziu, conclui-se que tal conduta antecedente não é causa.
Damásio de Jesus, cria uma hipótese a respeito do processo hipotético da eliminação de Thyrén:
“suponha-se que A tenha matado B. A conduta típica do homicídio possui uma série de fatos.
Adverte Damásio que o processo hipotético de Thyrén precisa ser bem entendido. O importante
é fixar que em se excluindo determinado acontecimento o resultado não teria ocorrido “como
ocorreu”; a conduta é causa quando, suprimida mentalmente, o evento in concreto não teria
ocorrido no momento em que ocorreu.
Tendo o CPB adotado a teoria da equivalência dos antecedentes, não há sentido estabelecer
distinção entre causa, concausa, ocasião ou condição. Qualquer conduta que, de algum modo,
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ainda que minimamente, tiver contribuído para a eclosão do resultado deve ser considerada sua
causa.
Nexo normativo: para a existência do fato típico, no entanto, não basta apenas a existência de
um elo físico (nexo causal) entre a ação e o resultado. De acordo com interpretação do art. 19 do
CPB, é imprescindível que o agente tenha concorrido com dolo ou culpa (quando admitida),
uma vez que sem um ou outro não haveria fato típico. Assim, para a existência do fato típico
são necessários: o nexo causal físico, concreto, e o nexo normativo, que depende da verificação
de dolo ou culpa.
Nexo causal nos crimes: o nexo causal só tem relevância nos crimes cuja consumação depende
do resultado naturalístico.
1) crimes omissivos próprios e de mera conduta : não há, pois inexiste resultado
naturalístico; arts. 135, 269 e 150 do CPB e art. 304, L. 9.503/97 CTB
2) crimes formais: o nexo causal não importa para o Direito Penal. Art. 158, 159.
3) Crimes materiais: há, em face da existência de resultado naturalístico. Art. 121, 312, 314,
155, 157...;
4) Crimes omissivos impróprios ou comissivos por omissão: a omissão só tem relevância
causal quando presente o dever jurídico de agir. Embora não tenha causado o resultado,
o omitente, entretanto, será responsabilizado por ele, sempre que, no caso concreto,
estiver presente o dever jurídico de agir. Art. 13, § 2º.
Superveniência causal
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O § 1º do art. 13 do CPB atua como mecanismo de restrição à aplicação da teoria da conditio sine
qua non: “ a superveniência de causa relativamente independente exclui a imputação quando,
por si só, produziu o resultado; os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou”.
Exs:
1) A desfecha um tiro em B, que vem a falecer pouco depois, não em conseqüência dos
ferimentos recebidos, mas sim porque antes ingerira veneno;
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2) A fere B no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por força de um
colapso cardíaco;
3) A ministra veneno na alimentação de B que, quando está tomando a refeição, vem a falecer
em conseqüência de um desabamento.
Nas duas primeiras hipóteses as causas (hemofilia e colapso cardíaco não excluem a linha de
desdobramento físico desenvolvida, de modo que o agente responde pelo resultado morte. Já
no último caso, o motorista não responde pela morte do passageiro, mas somente pelos atos
anteriores, se tipificados como infração penal, aplicando-se o § 1º, do art. 13 do CPB.
Caso fortuito (imprevisível – homem médio), Força maior (inevitável – força da natureza;
coação física): O DP não responsabiliza ninguém (agente) pelos resultados decorrentes de tais
fenômenos. Excluem a própria conduta, por ausência de dolo ou culpa. Não atuam, sobre o
nexo causal. “Não se pode Punir quem não age, mas é agido” Frederico Marques.
Coação Moral Irresistível (vis compulsiva): há vontade, porém é viciada. Ausência de
culpabilidade;
Coação física irresistível (vis absoluta): exclui a conduta pela absoluta falta de vontade, fato
atípico. Ex.: bombeiro é segurado para não entrar no fogo.
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Cabe, de início, afastar a idéia de que a omissão possa produzir o resultado. Se do nada surge,
não há como se possa perceber causalidade na omissão.
A causalidade na omissão só pode ser concebida pela equiparação. Equipara-se o não evitar ao
causar.
Assim, coloca-se, hipoteticamente, a ação esperada do sujeito, e se com ela o resultado seria
evitado, então se considera que a sua omissão foi causal.
Fato Típico – é o fato concreto que reúne em si todos os elementos da definição legal de um fato
proibido.
Tipicidade Conglobante: O fato típico pressupõe que a conduta esteja proibida pelo
ordenamento jurídico como um todo, globalmente considerado.
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Ocorre quando o fato se amolda diretamente ao tipo incriminador, não havendo necessidade do
uso de qualquer mecanismo de adequação. Vale dizer, o fato realizado pelo sujeito encontra um
modelo legal que descreve a sua conduta: Caio efetua disparos de arma de fogo contra Tício,
matando-o fato se amolda de forma direta ou imediata no tipo do art. 121 do CPB.
Para se afirmar que o fato se enquadra de forma direta no modelo legal, é necessário não só a
adequação ao elemento objetivo, mas também ao elemento subjetivo (dolo ou culpa). Caio mata
Tício, com vontade de matar.
Ocorre quando o fato não se amolda diretamente ao tipo incriminador, necessitando se fazer
uso de uma norma de adequação. Num primeiro momento se verifica que o fato não se
encontra descrito na Lei Penal, mas a tipicidade se materializa através de uma outra norma.
O mesmo se aplica nos casos de participação – o art. 29 do CPB. Suponha-se que Mévia,
desejando matar seu marido Caio, pede emprestada a arma de fogo de Tício, ciente este de que
a arma se destina ao cometimento de um ilícito. Dias após, Mévia realiza o crime. A conduta de
Mévia se amolda diretamente ao tipo incriminador do art. 121 CPB, matar alguém. A conduta
de Tício, todavia, não encontra um modelo incriminador na lei. Entretanto, tício também
responderá por homicídio, eis que sua conduta vai se amoldar de forma indireta o mediata no
tipo do art. 121, através da norma de adequação do art. 29, do mesmo código.
Atipicidade
Se tipicidade é adequação do fato concreto ao tipo, a atipicidade é o inverso: o fato humano não
se adequa a determinado tipo, ou não se adequa a tipo algum.
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Atipicidade absoluta (ou específica) – ocorre quando, analisado ao fato que seria típico num
determinado modelo incriminador, verifica-se que nele falta algum elemento (objetivo ou
subjetivo), fundamental à tipicidade, de modo que sem esse elemento não se pode concluir pela
tipicidade.
Exemplo da atipicidade absoluta é a hipótese relativa ao delito do art. 316 do CPB. Um dos
elementos do crime de concussão é a qualidade do agente de funcionário público. Retirado esse
elemento, essa qualidade do sujeito ativo, tem-se a atipicidade absoluta, eis que o fato não vai se
amoldar em qualquer outro tipo incriminador.
Exemplo clássico é a hipótese relativa ao delito de peculato, art. 312. o tipo exige que o sujeito
ativo seja funcionário público. Faltando essa qualidade ao agente o fato não se amolda no
referido tipo, mas vai se enquadrar no tipo do art. 168, do mesmo codex.
SUJEITOS DO DELITO
Ativo – é aquele que pratica a conduta descrita na norma penal incriminadora. Só o homem
(gênero) pode ser sujeito ativo, porque só ele é capaz de realizar a conduta.
É de se observar que o sujeito ativo é quem de qualquer forma realiza o crime, seja, portanto, na
condição de autor, seja na condição de partícipe.
Os fatos típicos podem ser realizados por qualquer pessoa. Existem, todavia, crimes em que a
autoria está limitada a determinadas pessoas que apresentam certas qualidades jurídicas ou de
fato, ou que se achem em situações especiais. Chama-se comuns (delicta cmmunia), os crimes que
podem ser praticados por qualquer pessoa. Denominam-se especiais ou próprios (delicta
própria), aqueles crimes que só podem ser praticados por determinadas pessoas.
As qualidades e situações relativas ao sujeito ativo nos crimes denominados próprios, podem
ser de fato ou jurídica.
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É de se observar que a qualidade do sujeito ativo exigida pela lei deve estar presente no
momento da ação, e o agente deve ter consciência dessa qualidade.
É de se destacar, ainda, os crimes de “mão própria”, nos quais somente o sujeito ativo deve
realizar a ação típica, não podendo utilizar um terceiro na prática do crime. São casos de crime
de mão própria o adultério e o falso testemunho – respectivamente. Art. 240 e 342 do CPB.
Pessoa Jurídica: pode ser sujeito ativo em determinados crimes: sistema financeiro e ao meio
ambiente. Arts. 225, § 3, 173, § 5º da CF
Formal: é o Estado enquanto titular do direito subjetivo à observância dos preceitos penais.
Material: é o titular do bem jurídico penalmente tutelado que sofre de forma direta a lesão
decorrente da prática delituosa.
Próprios = exigem do sujeito ativo uma condição particular. Ex.: funcionário público; gestante;
Mão própria ou atuação pessoal = aqueles que só podem ser praticados pelo sujeito em pessoa.
Não admitem co-autoria, somente participação. Ex.: falso testemunho (art. 342, CPB);
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Perigo = consumam-se só com a possibilidade de dano. Ex.: omissão de socorro (art. 135, CPB;
incêndio (art. 250, CPB);
Materiais = aqueles que causam uma modificação no mundo externo (resultado). Ex.: homicídio
(art. 121, CPB);
Mera conduta: não há resultado, a lei descreve, tão somente, o comportamento do agente. Ex.:
violação de domicílio (art. 150, CPB);
Comissivos por omissão ou omissivos impróprios = aqueles em que o sujeito, mediante uma
inação (omissão), permite a produção do resultado. Em regra, a simples omissão não constitui
crime. Porém, em determinados casos, aplica-se o disposto no art. 13, § 2º do CPB;
Conduta mista = fase inicial positiva e omissão na fase final. Ex.: apropriação de coisa achada
(art. 169, p.u., II, CPB);
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Instantâneos de efeitos permanentes = caracterizam-se pela índole duradoura de suas
conseqüências; a permanência dos efeitos independe da vontade do agente. Ex.: furto (art. 155,
CPB), homicídio (art. 121, CPB);
Complexos = reunião de dois ou mais tipos penais, constituindo outro, como elementares. Ex.:
extorsão mediante seqüestro (art. 159, CPB); um delito integra o outro, funcionando como
circunstância qualificadora. Ex.: 157, § 3º, final do CPB – homicídio qualificando o crime de
roubo – latrocínio;
Progressivos = para alcançar-se a produção de um resultado mais grave, passa-se por outro de
menor gravidade. Ex.: homicídio (antes do resultado morte há lesões ou lesão à integridade
física da vítima);
Subsidiários = aqueles que só se aplicam ante a inexistência de crime mais grave. Ex.: perigo
para a vida ou a saúde de outrem (art. 132, CPB);
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Plurissubsistentes = aqueles que se perfazem em vários atos; podem ser fracionados no tempo;
Plurissubjetivos = há concurso de várias pessoas. Ex.: quadrilha ou bando (art. 288, CPB);
Bilaterais = exigem o concurso de duas pessoas, mesmo que uma delas não seja culpável. Ex.:
bigamia (art. 235, CPB), adultério (art. 240, CPB);
Concurso eventual = aqueles que necessitam de uma só pessoa para sua prática, mas,
eventualmente, podem ser cometidos por mais de uma. Art. 29, CPB;
Vagos = aqueles que têm como sujeito passivo entidades desprovidas de personalidade jurídica.
Família, coletividade. Ato obsceno (art. 233, CPB);
Conteúdo variado ou de ação múltipla = o tipo faz referência a várias modalidades de ação. Ex.:
induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio (art. 122, CPB);
Forma livre = podem ser cometidos por qualquer meio. Ex.: homicídio;
Forma vinculada = quando a lei, de forma particularizada, descreve a atividade do agente. Ex.:
curandeirismo (art. 284, CPB);
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Transeuntes = aqueles que não deixam vestígios;
Instantâneo
O resultado é determinado na linha do tempo
Ação
Omissão Resultado (...)
Permanente
O resultado se arrasta na linha do tempo sem necessidade de novas ações do agente
Ação
Omissão
Resultado (...)
Habitual
O resultado é o conjunto de ações/omissões que demonstram habitualidade, ou seja, um
estilo de vida próprio.
Ação + Ação
Omissão Omissão
Ação
Omissão Cada A/O,
destacada do
conjunto constitui 56
fato atípico.
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Resultado
Crime Continuado
Há várias ações e resultados fáticos. Mas que são unificados em face do disposto no art. 71
Ação Ação
Resultado Resultado
Omissão Omissão
+
Cada parte (A/O –
Ação resultado), se destacado
Resultado do conjunto, constitui
Omissão crime autônomo.
Iter criminis
Iter é o caminho percorrido pelo agente na obtenção da meta perseguida (meta optata). O agente
iniciando o percurso do iter criminis e não alcançando sua meta, diz-se que o crime foi tentado,
ou seja, não ocorreu a consumação.
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cogitação atos preparatórios atos executórios consumação Exaurimento
Inadmissibilidade da Tentativa
Também não admitem a tentativa os crimes ditos unisubsistentes (aqueles que se praticam num
só ato), isto porque não se pode fracionar o processo de execução – ex.: injúria verbal – art. 140.
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Tentativa imperfeita: quando o processo executório é interrompido por circunstâncias
alheias à vontade do agente, fala-se em tentativa imperfeita ou
tentativa propriamente dita;
Não se trata de causa de isenção de pena, mas de causa geradora de atipicidade, pois não se
concebe queira o tipo incriminador descrever como crime uma ação impossível de se realizar.
Impropriedade absoluta do objeto material – pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta é
absolutamente inidônea para a produção de algum resultado lesivo. Ex.: matar cadáver. Se
relativa a impropriedade, responde por tentativa. Ex.: pivete enfia a mão no bolso errado para
pegar dinheiro, sendo que está no outro bolso.
Crime Doloso
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O dolo caracteriza-se pela consciência volitiva na busca da realização de uma conduta típica.
Relaciona-se com a consciência inequívoca da ação do agente com o fim de alcançar um
objetivo.
Consciência – conhecimento por parte do autor da infração penal de que sua conduta é prevista
em lei como conduta delituosa. Com isso não se quer afirmar que ele precisa conhecer
tecnicamente os termos da lei, mas sim, agir em desacordo com os elementos essenciais do tipo
penal;
Vontade – resolução do agente em praticar a conduta típica acima referida, com o intuito de
alcançar aquele resultado por ele perseguido.
Dolo Direto – vontade consciente dirigida exatamente à realização da conduta típica havendo
uma exata coincidência entre a vontade do agente e o resultado alcançado.
Dolo Indireto – a vontade do agente não está bem expressa; o agente não quer o resultado
diretamente, mas aceita o risco de produzir um resultado lesivo contra alguém.
Alternativo - o agente dirige sua ação a resultado incerto, não lhe importando qual venha a ser
o alcançado.
Eventual - o agente assume o risco de produzir um resultado que não deseja diretamente, mas
sabe que é provável que aconteça.
Crime Culposo
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A culpa caracteriza-se pela falta de dever de cuidado, que cerca o homem médio, discriminadas
na legislação como: negligência, imprudência e imperícia. Incapacidade,falta de conhecimento
técnico, não levando em consideração o agente o que deveria saber.
Culpa inconsciente – o agente sequer imagina que possa causar dano a alguém;
Culpa consciente – o sujeito prevê o resultado, porém, espera que este não aconteça. Confia
erroneamente sabendo que poderá causar dano.
Compensação de Culpas
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Concorrência de Culpas
Hipótese que se verifica nos delitos de trânsito em que cada um dos motoristas envolvidos no
evento é, ao mesmo tempo, agente e vítima.
Consoante se vê em relação a vários delitos, o legislador, após descrever o crime em sua forma
simples, acrescenta-lhes resultados mais graves, aumentando-lhes abstratamente a pena. São os
crimes qualificados pelo resultado, vendo-se exemplos em várias passagens da Parte Especial
do CP: arts. 127, 129, § 1º, II, § 2º V, § 3º.
O CP, após descrever as figuras do crime de aborto nos arts 125 e 126, determina no art. 127 que
“ as penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
conseqüência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão
corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte”.
Outro exemplo é o do agente que, desejando apenas lesionar a vítima, desfere-lhe um soco no
rosto; na queda, em razão da violência do soco, a vítima bate com a cabeça no meio fio, vindo a
falecer.
Nestes dois exemplos – art. 127 e 129, § 3º, as hipóteses são de crimes qualificados pelo
resultado ou preterdolosos.
Esse resultado mais grave que qualifica o delito pode ser doloso ou culposo.
Na hipótese do resultado agravador se verificar a título de dolo, a capitulação poderá ser outra
(nos casos acima – art. 127 e 129, § 3º, a morte da gestante e do agredido se foi requerida pelo
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agente, terá ocorrido homicídio). Se, entretanto, o resultado agravador ocorrer a título de culpa
(imprudência, negligência ou imperícia), materializa-se, então, o crime preterdoloso, também
dito preterintencional, onde existe dolo no antecedente (figura básica), e culpa no conseqüente
(resultado mais grave).
Em contrapartida, se o resultado mais grave não ocorreu a título de dolo ou de culpa, mas sim,
v.g., por “caso fortuito”, o agente não responderá pelo fato agravado, tendo incidência o art. 19
do CP: “pelo resultado que agrava especialmente a pena, só responde o agente que o houver
causado ao menos culposamente”.
O agente responderá pelo resultado mais grave somente se lhe deu causa ao menos
culposamente.
Não é admitida a tentativa. Exceção: art 127 e tentativa de latrocínio que é punível como
consumado.
Distinção entre dolo eventual e culpa consciente: no dolo eventual o agente consente no
resultado, sendo irrelevante o dano causado. A vontade de praticar o ato sobrepõe-se à
possibilidade de dano, sendo, pois, caracterizado pela indiferença ao resultado. Na culpa
consciente, o agente prevê a possibilidade de prejuízo a outrem, mas confia nas circunstâncias
ou em sua perícia. Nesta, pune-se a imprevidência do agente; no dolo eventual, pune-se o livre
propósito de ser indiferente ao resultado.
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ERRO – art. 20 do CPB
Espécies de erro
1) Erro de tipo essencial: quando a falsa noção da realidade incide sobre alguns dados da figura
típica (elementares (123), circunstâncias, qualificadoras (§ 2º, 121)). Ex.: sujeito atira num
arbusto pensando ser um animal e mata uma pessoa (erro de tipo quanto ao elemento alguém
do art. 121);
Sujeito que leva o código do colega pensando ser seu (subtração de coisa alheia móvel).
Conseqüências:
- se vencível (evitável, inescusável, indesculpável): responde por culpa, nos crimes em que a
culpa é admitida;
- se invencível (inevitável, escusável, desculpável): o fato é atípico – exclui a tipicidade.
2) Erro de tipo acidental: incide sobre dados irrelevantes da figura típica. Não impede a
apreciação do caráter criminoso do fato. O agente sabe perfeitamente que está cometendo um
crime. Por esta razão é um erro que não traz qualquer conseqüência jurídica. O agente responde
pelo crime como se não houvesse erro.
Espécies:
Erro sobre o objeto = objeto material de um crime é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a
conduta. Tal erro é absolutamente irrelevante, na medida em que não traz qualquer
conseqüência jurídica. Ex.: o sujeito ou invés de furtar café, subtrai feijão. Responde pelo mesmo
crime, furto.
Erro sobre a pessoa = erro na representação mental do agente, que olha um desconhecido e o
confunde com a pessoa que quer atingir. Em outras palavras, nessa espécie de erro acidental, o
sujeito pensa que A é B. Tal erro é tão irrelevante que o legislador determina que o autor seja
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punido pelo crime que efetivamente cometeu contra terceiro inocente (vítima efetiva), como se
tivesse atingido a pessoa pretendida (vítima virtual), isto é, considera-se, para fins de sanção
legal, as qualidades da pessoa que o agente queria atingir, e não as da efetivamente atingida
(art. 20, § 3o).
Erro na execução do crime (aberratio ictus) = Art. 73, CPB, o agente não se confunde quanto à
pessoa que pretende atingir, mas realiza o crime de forma desastrada, errando o alvo e
acertando vítima diversa. Responde da mesma forma que no erro sobre a pessoa.
Resultado diverso do pretendido (aberratio criminis) = art 74, CPB, o agente quer atingir um
bem jurídico, mas por erro na execução atinge bem diverso. Não se trata de atingir uma pessoa
ao invés de outra e sim de cometer um crime no lugar de outro. Ex.: um sujeito joga pedra na
vidraça e acaba acertando uma pessoa, em vez do vidro. Responderá por lesão corporal culposa.
Se, por acaso quebrar o vidro e lesionar a pessoa, responderá em concurso formal (art. 70, CPB)
pelo crime mais grave (lesão corporal), acrescido de 1/6 até a metade.
Descriminantes = é a causa que descrimina, isto é, que exclui o crime, ou seja, a ilicitude do fato
típico.
Conceito – é a causa excludente da ilicitude erroneamente imaginada pelo agente. Ela não existe
na realidade, mas o sujeito entende que sim, porque está errado. Ex.: legitima defesa putativa;
estado de necessidade putativo; exercício regular de direito putativo. O agente acha que está
amparado por lei, norma permissiva.
Erro sobre a ilicitude do fato – erro de proibição: o erro de proibição sempre exclui a atual
consciência da ilicitude. No erro de tipo, o agente tem uma visão distorcida da realidade, não
vislumbrando, na situação que se lhe apresenta a existência de fatos descritos no tipo como
elementares ou circunstâncias. No erro de proibição, ao contrário, há uma perfeita noção acerca
de tudo o que se está passando. O sujeito conhece toda a situação fática, sem que haja distorção
da realidade. Seu equívoco incide sobre o que lhe é permitido fazer diante daquela situação, ou
seja, se é lícito praticar tal ato na circunstância em que se encontra.
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O erro de tipo exclui o dolo e, quando inescusável, a culpa; o de proibição pode ser causa de
exclusão da culpabilidade.
CULPABILIDADE
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Apesar de não excluírem o crime, podem funcionar como atenuantes genéricas (art. 65, III, c) ou como
causa de diminuição de pena (art. 121, § 1º), desde que acompanhadas de outros requisitos.
Embriaguez (art. 28, II)
Não acidental:
- Voluntária: agente quer se embriagar;
- culposa: age com imprudência, ingerindo doses excessivas;
Segundo a teoria da actio libera in causa, não exclui o crime.
Acidental: exclui a imputabilidade.
- caso fortuito (imprevisível): pessoa bebe sem a consciência de que a substância irá deixa-la embriagada.
- força maior (inevitável): a pessoa sabe, mas é obrigada a beber. Coação.
Preordenada: embriaga-se para cometer o ilícito: agravante genérico (art. 61, II, l).
Patológica (doentia): exclui a imputabilidade (art. 26) isenção de pena.
Dependência de substância entorpecente: art. 28, sgts Lei 11.343/06.
Potencial Conhecimento da Ilicitude
Em regra, quem tiver imputabilidade, tem potencial conhecimento da ilicitude, salvo em uma hipótese:
pessoa que incide em erro de proibição invencível. Fica isento de pena.
Exigibilidade de Conduta Diversa (art. 22)
Coação moral irresistível:
- física (vis absoluta): violência – exclui a tipicidade;
- moral (vis relativa): grave ameaça – exclui a culpabilidade.
Obediência hierárquica:
- ordem manifestamente ilegal: ambos responderão pelo crime;
- ordem não manifestamente ilegal: exclui-se a culpabilidade do subordinado, respondendo pelo crime o
superior hierárquico).
Sistema Biopsicológico:
EXCLUSÃO DA ILICITUDE
Ilicitude
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Alguns autores definem a ilicitude como relação de contrariedade do fato típico com o
ordenamento jurídico.
Um fato pode ser típico, pode se adequar a um modelo incriminador, mas não ser ilícito.
Suponha-se que o sujeito saque da sua arma de fogo e efetue um disparo contra uma pessoa,
matando-a tal fato se encaixa no modelo previsto no art. 121 – matar alguém. De início, a
conclusão é de que este fato é ilícito, ou seja, contraria o ordenamento jurídico e ofende a
consciência social. No entanto, após a apuração do que efetivamente ocorreu, descobre-se que o
sujeito matou em legítima defesa, circunstância que afasta daquele fato típico a sua ilicitude,
significando dizer que o fato, embora típico, não contraria o ordenamento jurídico, e não ofende
a consciência social.
Para que a conduta humana seja considerada criminosa, não basta que seja típica, não basta que
se amolde a um tipo incriminador. É preciso, também, que seja ilícita, ou seja, que contrarie o
ordenamento jurídico, que ofenda a consciência do social.
A afastar a ilicitude do fato típico, o CP, em seu art. 23 elenca as causas de exclusão de ilicitude,
também denominadas pelos mestres de “causas de justificação”, de “justificadoras” ou ainda de
“tipos permissivos”.
São coisas legais de exclusão de ilicitude: legítima defesa, estado de necessidade, estrito
cumprimento do dever legal e o exercício regular de direito.
Para que a conduta humana seja considerada criminosa, não basta que seja típica, não basta que
se amolde a um tipo incriminador. É preciso, também, que seja ilícita, ou seja, que contrarie o
ordenamento jurídico, que ofenda a consciência do social.
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A afastar a ilicitude do fato típico, o Código Penal, em seu Art. 23, elenca as causas de exclusão
da ilicitude, também denominadas pelos mestres de “causas de justificação”, de “justificantes”
ou “justificadoras” ou ainda de “tipos permissivos”.
As causas legais de exclusão da ilicitude podem ser encontradas tanto na lei penal, como nas
leis extra-penais, sendo de se observar que se o fato estiver “justificado” em qualquer ramo do
Direito, estará justificado para todo o ordenamento jurídico. Como exemplo, cita-se a hipótese
do Art. 65 do Código de Processo Penal.
As causas de justificação da lei penal vêm expressas em tipos (modelos descritivos), que
possuem requisitos de ordem objetiva e subjetiva:
REQUISITOS OBJETIVOS – são aquelas circunstâncias definidas na lei que devem estar
presentes no fato para justificá-lo.
Da Legítima Defesa
- NATUREZA JURIDICA
Segundo os mestres do direito, a legítima defesa é, na sua essência, “direito público subjetivo
conferido pela norma penal”.
- REQUISITOS
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Define-se agressão como toda a conduta humana que expõe a perigo, ou tende a lesionar um
bem jurídico.
A agressão que materializa a causa da exclusão deve ser “injusta” sob o aspecto objetivo, ou
seja, não importa se o autor da agressão é um inimputável (irresponsável penal – menos de 18
anos ou doente metal), Embora a conduta destes não seja punível, justificam a legítima defesa,
significando dizer que ninguém está obrigado a se deixar imolar ante a agressão de um louco.
A justificante exige que a agressão, seja “atual” ou “iminente”. Atual é aquela agressão que está
ocorrendo; iminente é aquela que está prestes a ocorrer. Não está em legítima defesa aquele que
atua contra uma agressão futura, ou contra uma agressão que já cessou.
A legítima defesa pode ser “própria” ou “de terceiro”, não se exigindo quanto a esta (de
terceiro), qualquer vinculação, grau de parentesco ou relação de afinidade entre aquele que
exercita a defesa e o titular do bem ou interesse objeto da agressão injusta.
Inicialmente se entendeu que “meio necessário” era aquele que guardava paridade com o meio
utilizado na agressão – faca versus pedaço de pau; arma de fogo versus arma de fogo, ... Já se
sustentou que o meio necessário era aquele que causasse o menor dano possível no autor da
agressão, dano esse que fosse indispensável à defesa do direito próprio ou de terceiro.
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Modernamente e de forma majoritária, se entende que “meio necessário” e aquele que o agente
dispõe no momento em que repele a agressão injusta, podendo ate mesmo ser desproporcional
com o meio utilizado no ataque, desde que seja o único à sua disposição.
Aquele que de defende de uma injusta agressão deve ser “moderado” no uso dos meios
necessários. Isto significa que o “uso moderado” e aquele suficiente a fazer cessar a agressão.
Havendo excesso ou visível desproporcionalidade, desnatura-se a legítima defesa.
É admissível a LD:
1) LD putativa X LD putativa;
2) LD real X LD putativa;
3) LD real X agressão dolosa ou culposa
(excesso);
4) LD putativa X LD real;
LD putativa X agressão acobertada por
exclusão de culpabilidade (erro de proibição);
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Do Estado de Necessidade
- NATUREZA JURÍDICA
- REQUISITOS
Para que se caracterize o estado de necessidade, é preciso que o bem jurídico esteja em perigo, e
que o sujeito pratique o fato típico para evitar um mal que pode ocorrer se ele não o fizer.
Esse perigo não precisa ser provocado pelo homem, podendo advir de força da natureza
(furacão, inundação, etc.) ou de um animal. Cita-se fato de ter o sujeito de praticar o delito de
invasão de domicilio para se salvar de uma ameaçadora inundação, ou para fugir de um animal
bravio.
É necessário que esse perigo seja “atual”, isto é, que seja presente e imediata a probabilidade de
dano ao bem jurídico. Existe divergência na doutrina a respeito do perigo “iminente”,
admitindo-o para fins de estado de necessidade o mestre Damásio de Jesus.
O perigo que autoriza o estado de necessidade há de ser inevitável, naquela situação em que o
agente não podia, de outro modo, evitá-la.
Tal como na legitima defesa, o estado de necessidade pode ser exercido para resguardar direito
próprio ou alheio, também não se exigindo qualquer vinculação, afinidade ou grau de
parentesco quando se exercita a causa de justificação em prol de terceiro.
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Impõe a lei que só há estado de necessidade quando não seja “razoável”, exigir-se o sacrifício do
bem ameaçado e que foi preservado pela conduta típica.
- A primeira aponta para o estado de necessidade quando se sacrifica um bem menor para
salvar um bem maior, ou mesmo quando se sacrifica um bem de valor idêntico ao preservado.
- A segunda, adotada pelo Código Penal Militar, indica a existência de estado de necessidade
como excludente da ilicitude quando se salva bem maior em detrimento de bem menor, e
estado de necessidade como causa de exclusão da culpabilidade, sob o prisma da
inexigibilidade de conduta diversa, quando se tratar de bens de idêntico valor.
O Código Penal adotou a teoria unitária, de modo que haverá estado de necessidade quando se
sacrifica bem menor em prol de bem maior, ou quando o valor dos bens é idêntico. A propósito
do tema, citam os autores o exemplo do homicídio praticado pelo náufrago para se apoderar da
tabua de salvação.
Para que se configure o estado de necessidade como causa de exclusão da ilicitude, é preciso
que o agente não tenha provocado o perigo por sua vontade. Como exemplo da inexistência de
estado de necessidade Julio Fabrini Mirabete cita o caso do sujeito que incendeia o imóvel para
receber o seguro, e mata alguém para escapar do fogo. (in Manual de Direito Penal – Volume 1 –
Editora Atlas – 7º edição – pagina 170).
Convém deixar claro, contudo, que não afasta o estado de necessidade a conduta culposa que
causou o perigo. É que o Art. 24 do Código Penal fala em “vontade”, que pressupõe a
intencionalidade. Na culpa em sentido estrito não há vontade quanto à ocorrência do resultado.
Assim, fazendo um paralelo com o exemplo citado acima pelo mestre, suponha-se que o sujeito,
de forma imprudente, queime o lixo no porão de sua residência, vindo incendiar a casa; estará
em estado de necessidade se, para fugir das chamas, for preciso matar alguém.
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O dever mencionado é aquele derivado da lei, e não aquele meramente moral, Exemplos
clássicos são aqueles dos policiais, bombeiros, guarda vidas, etc.
No tocante a este requisito, e de se observar que este não é o dever de se deixar imolar ante o
sacrifício de um bem jurídico. Não se pode exigir de um bombeiro que este enfrente a morte
para evitar a lesão ao patrimônio alheio.
Tal como na legítima defesa, exige-se o ânimo do sujeito; e preciso que atue com consciência dos
pressupostos do estado da necessidade.
E flagrante a lógica da justificação sob o prisma do “estrito cumprimento de dever legal”, já que
uma conduta não pode ser exigida de alguém como um dever legal, e, ao mesmo tempo,
constituir um ilícito.
Requisito da justificante é o fato de que o dever há de ser legal, ou seja, imposto ao agente por
lei, decreto, regulamento, etc., não se confundindo com os deveres éticos, morais, sociais ou
religiosos.
De forma manifesta, a justificante tem como destinatários os agentes do poder público, tais
como policiais, oficiais de justiça, etc., estendendo-se, em certas circunstâncias, aos particulares
investidos de um dever legal.
O próprio texto legal fixa os limites da justificação, quando impõe que o cumprimento seja
“estrito”, significando dizer que, se a execução do ato se afastar das estritas condições a que se
subordina, haverá o excesso punível.
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A ilicitude somente pode se verificar na hipótese do agente exceder os limites fixados pela lei
para o exercício do direito.
Exige a norma que o exercício seja “regular”, ou seja, que se contenha nos limites impostos pela
lei.
A expressão “supra legal” é utilizada para indicar o que está fora do ordenamento jurídico
Mencionam os mestres, dentre eles o emérito professor Damásio de Jesus, que essas condutas,
embora típicas, são consideradas justas pela consciência social.
Exemplo clássico é o do professor que, naquela comunidade interiorana faz uso da palmatória
para corrigir o aluno faltoso, causando-lhe lesões corporais de natureza levíssima.
A hipótese que, num grande centro urbano seria levada à justiça naquela comunidade é
socialmente adequada, isto é, a consciência social empresta seu assentimento ao comportamento
do professor, de modo que o fato, embora típico, não e antijurídico (ilícito).
Aplicando os princípios gerais do direito, e tendo em vista os costumes, o juiz emite uma
sentença absolutória em prol do professor.
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Dispõe o parágrafo único do Art. 23 que o agente respondera pelo excesso doloso ou culposo
nas discriminantes.
Relativamente à legítima defesa, sendo um dos seus requisitos a moderação no uso dos meios
necessários para repelir a injusta agressão, pode ocorrer à hipótese em que o agente se exceda
na reação.
Esse excesso pode se verificar na escolha dos meios defensivos, ou no uso desse meio, sendo de
se observar que, mesmo escolhendo um meio inicialmente abusivo, não haverá excesso quando
deste se utilizar o agente de forma moderada.
Exemplo de excesso: Caio, munido de uma faca, investe contra Tício. Este, com o fito de se
defender da injusta agressão que se apresenta iminente, saca de sua arma de fogo e atira contra
o agressor, o atingido na perna, derrubando-o e, assim fazendo cessar a agressão. Até esse
momento a conduta de Tício se encontra plenamente justificada na órbita da legítima defesa.
Ocorre, entretanto, que Tício, tendo Caio à sua mercê, ferido na perna e caído ao chão, efetua
novos disparos, não há mais se falar em legitima defesa, sendo punível a conduta de Tício em
razão do excesso.
- DOLOSO, quando, com “consciência da desnecessidade”, o agente escolhe meio que, por sua
natureza, já é abusivo, ou emprega de forma abusiva o meio escolhido.
- CULPOSO, quando o excesso se deve a um erro culposo na escolha dos meios ou na medida
da reação.
No que se refere a punibilidade do excesso, o agente responderá pelo delito na forma dolosa ou
culposa, conforme tenha sido o excesso – doloso ou culposo.
Situação curiosa pode surgir do excesso: aquele que inicialmente era o agressor injusto, ao
defender-se do excesso do agredido, atua legitimamente, ocorrendo o que a doutrina denomina
de LEGÍTIMA DEFESA SUCESSIVA.
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No que diz respeito ao estado de necessidade, desde que ocorra uma situação de perigo não
provocada pelo agente, que não se pode de outra forma afastar, e que não seja razoável exigir o
sacrifício do bem ameaçado, a conduta típica estará justificada.
Se o dano causado acaba sendo maior do que aquele que seria necessário para afastar o perigo,
tem-se o excesso.
Tal como na legítima defesa o excesso pode ser doloso ou culposo, verificando-se a punibilidade
do excesso a título de dolo ou de culpa, conforme o caso.
No que se refere ao estrito cumprimento de dever legal ou exercício regular de direito, desde
que o agente não se mantenha dentro dos limites traçados pelas leis, ocorrerá o abuso ou
excesso, punível a titulo de dolo ou de culpa, conforme o caso.
Ofendículas
Divergem os mestres a respeito da natureza jurídica dos ofendículos; para uma corrente
doutrinária, destacando-se Julio Fabrini Mirabete, trata-se de “exercício regular de um
direito”(art. 1210, § 1º CCB). Para outra corrente, na qual perfila Damásio Evangelista de Jesus,
configura “legítima defesa predisposta ou preordenada”.
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Sem embargo do eminente penalista Damásio E. de Jesus, cremos acertada a primeira corrente,
que conclui pelo “exercício regular de direito”, eis que, garantindo à lei a inviolabilidade do
domicilio, é facultado ao cidadão o regular direito de proteção de sua propriedade.
Não nos parece acertada a conclusão de que se trata de “legítima defesa”, exatamente por faltar
o requisito da “consciência do atuar justificado”, isto sem falar na ausência da “atualidade” ou
“iminência” da agressão.
De qualquer sorte, seja “exercício regular direito”, conforme pensamos, seja “legítima defesa”,
segundo o mestre Damásio de Jesus, não se pode olividar a possibilidade do excesso,
respondendo o sujeito por crime doloso ou culposo, como, por exemplo, a morte de um menor,
provocada pela violenta descarga da cerca eletrificada, que visava proteger um simples pomar.
Violência Desportiva
São comuns os esportes violentos – futebol, artes marciais, etc.. Ocorrendo um resultado
danoso, não haverá crime pois o sujeito atua em “exercício regular de direito”, desde que
observadas as regras esportivas, respondendo o sujeito criminalmente na hipótese inversa.
Responde por homicídio doloso, por exemplo, o lutador de boxe, que após soar do gongo
continua a golpear o adversário, prostrando-o de modo fatal.
Teoria Monista ou Unitária: todos que deram causa ao resultado, são responsáveis. – Co-
autoria.
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Requisitos:
- Pluralidade de condutas;
- Relevância causal de cada uma das ações;
- Liame subjetivo entre os agentes;
- Identidade de fato.
- Concurso posterior: não existe no Ordenamento jurídico Brasileiro; irá configurar outro
delito. Ex.: Elemento acolhe objeto furtado (receptação, art. 180, CP);
- Concurso material: A e B executam crime em comunidade de desígnios;
- Concurso Intelectual (mentor intelectual – partícipe): A influi para que B pratique o crime;
não realiza, porém , a ação nuclear do tipo.
Conceito de Autor
Teoria Formal-Objetiva:
Autor é aquele que pratica a conduta típica inscrita na lei, ou seja, aquele que realiza a ação
executiva, a ação principal. É o que mata, subtrai, falsifica.
# Autoria Mediata: quando o autor consegue a execução através de pessoa que atua sem
culpabilidade. Longa manus.
Ex.: enfermeira, por ordem do médico ministra veneno ao paciente supondo que se trata de
medicamento.
# Co-autoria: Co-autor é quem executa, juntamente com outras pessoas, a ação ou omissão
que configura o delito. A co-autoria é, em última análise, a própria autoria. Funda-se ela sobre
o princípio da divisão do trabalho; cada autor colabora com sua parte no fato, a parte dos
demais, na totalidade do delito e, por isso, responde pelo todo.
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# Autoria Colateral ou imprópria: ocorre quando inexiste a consciência de cooperação na
conduta comum, não havendo concurso de pessoas. Caso duas pessoas, ao mesmo tempo,
sem conhecerem a intenção uma da outra, dispararem sobre a vítima, responderão cada uma
por um crime se os disparos de ambas forem causas da morte. Se a vítima morreu apenas em
decorrência da conduta de uma, a outra responderá por tentativa de homicídio. Havendo
dúvida insanável quanto à causa da morte, ou seja, sobre a autoria, a solução deverá obedecer
ao princípio in dúbio pro reo, punindo-se ambos por tentativa de homicídio.
# Participação: é a atividade acessória daquele que colabora para a conduta do autor com a
prática de uma ação que, em si mesma, não é penalmente relevante. O partícipe não comete a
conduta descrita pelo preceito primário da norma, mas pratica uma atividade que contribui
para a realização e chefia, auxílio moral, adesão sem prévio acordo, etc. A doutrina considera
as seguintes espécies: V. art. 62
- Instigação: instiga aquele que age sobre a vontade do autor, fazendo crescer neste a idéia da
prática do crime, de modo determinante na resolução do autor.
Ex.: Crime omissivo puro – instigação para que outrem não pague pensão alimentícia. Ambos
respondem por abandono material – art. 244 CP;
- Auxílio: ajudar, com recursos seus, a idéia já existente. Ex.: emprestar ao autor uma arma.
- Cumplicidade: cúmplice é aquele que contribui para o crime prestando auxílio ao autor ou
partícipe, exteriorizando-se a conduta por um comportamento ativo (o empréstimo de uma
arma, a revelação do segredo de um cofre).
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# Omissão em crime comissivo – ex.: empregado não fecha a porta da empresa, para que
mais tarde terceiro entre e furte. Age como partícipe, pois tinha dever jurídico de impedir
subtração.
# Concurso em crime culposo: duas pessoas preparam fogueira para festa, causando incêndio
por negligência.
# Autoria incerta: não se pode vislumbrar qual dos autores praticou o ato. Respondem por
tentativa.
Elementar: é todo componente essencial da figura típica, sem o qual esta desaparece ou se
transforma. O termo origina-se de elemento, que significa tudo o que constitui e integra. Ex.:
infanticídio.
Circunstância: é todo dado acessório agregado à figura típica, cuja função é tão-somente
influir na sanção penal. A circunstância apenas circunda o crime, nunca o integra com sua
essência. Ex.: furto agravado pelo repouso noturno, art. 155, § 1º.
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≠ Autoria Colateral ≠ Autoria desconhecida.
EXERCÍCIOS
1) Em princípio, a lei penal rege os fatos ocorridos na sua vigência, mas, se a lei penal for
modificada durante o processo penal:
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d) o réu será absolvido por conflito legal.
a) no momento do resultado;
b) no momento da ação ou da omissão;
c) no momento dos atos preparatórios;
d) tanto no momento da ação quanto do resultado.
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c) crime é toda conduta humana que expõe um bem jurídico legalmente tutelado em perigo;
d) para caracterizar o crime doloso, se faz necessária a vontade dirigida ao resultado danoso
(dolo) ou que o agente assuma o risco de produzi-lo;
6) José Paulo, dono de um bar, serviu uma bebida alcoólica ao menor de 10 anos, dentro de
seu estabelecimento, às 15 horas de um sábado. No momento em que, com o copo às mãos, o
menor ia tomá-la, ocorreu uma “batida policial”, o que o impediu de ingeri-la. José Paulo
cometeu:
a) quando iniciada a execução do crime, este não se consuma por motivos alheios à vontade do
agente;
b) quando iniciada a execução do agente, voluntariamente, desiste em prosseguir na execução;
c) quando por ineficácia absoluta do meio empregado para a prática do crime, o agente não
alcança o resultado desejado;
d) quando nele encontram-se reunidos todos os elementos de sua definição legal.
8) A, tendo previsão de B, todavia, acreditando sinceramente que não ocorrerá, porque a ela
não é indiferente, com sua conduta mata B, a conduta de A configura:
a) dolo direto;
b) dolo eventual;
c) culpa consciente;
d) dolo eventual.
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9) A, limpando a sua arma, descuidadamente, em dado momento, sem querer, esta dispara,
indo ferir B e C. B foi atingindo levemente no braço esquerdo, mas C quase morreu,
salvando-se por milagre:
a) tentativa de homicídio;
b) homicídio culposo;
c) lesão corporal dolosa;
d) lesão corporal culposa.
10) Tríbio, para não perder o início de um jogo de futebol, dirigia seu veículo com excesso de
velocidade, em ruas movimentadas. Percebeu a possibilidade de atropelar alguém, mas
confiando em sua perícia e nos bons freios do carro, acreditava poder chegar a tempo, sem
maiores transtornos. O acidente, porém, ocorreu com o atropelamento e morte de um
transeunte, pelo veículo dirigido por Tríbio. O exemplo apresenta uma hipótese de ;
a) dolo eventual;
b) culpa inconsciente;
c) caso fortuito;
d) culpa consciente;
e) erro na execução.
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14) Quando o sujeito prevê o resultado criminoso da sua conduta, mas espera, levianamente,
que tal não ocorra ou que possa evitá-lo, tem-se a figura do (a):
a) dolo intencional;
b) dolo eventual;
c) dolo sentimental;
d) culpa inconsciente;
e) culpa consciente.
03. Assinale a opção correta: Dois investigadores pretendem revistar uma casa às 22:00 horas e
o proprietário opõe resistência. O Delegado havia dado mandado de busca e apreensão. O
proprietário:
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3) cometeu crime de Desacato.
4) Nenhum delito.
5) Sem resposta.
a) Antijuridicidade:
b) Ilicitude:
c) Culpabilidade:
d) Atipicidade.
Antônio e José escalavam uma montanha quando perceberam que a corda que os sustentava
estava prestes a romper-se. Ante o perigo iminente, José, para salvar-se, empurrou António no
precipício, lesionando-o mortalmente.
Nessa situação, José agiu amparado pela excludente de ilicitude da legitima defesa.
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Jonas, visando defender-se de agressão à faca proveniente de Júlio, sacou seu revólver e efetuou
um disparo contra o agressor. No entanto, o tiro atingiu apenas Joaquim, transeunte que, em
decorrência do tiro, faleceu.
Nessa situação, acusado de homicídio, Jonas, para defender-se, poderá argüir legítima defesa
real, pois se encontram presentes todos os elementos de sua definição legal.
e) Inadimite-se a legítima defesa contra aquele que, sob coação moral irresistível, esteja prestes a
agredir a vítima,
04. Um jovem de 20 anos começa a namorar uma moça de 15 anos de idade e chega a propor-
lhe casamento. Quando a jovem completa 17 anos, revela gostar de uma vida faustosa e
começa a solicitar dinheiro de seu noivo. Este, surpreso, dá-lhe algum dinheiro, até que um
dia, pretendendo experimentá-la, disse que só continuaria dando-lhe dinheiro se ela fosse
para a cama com ele. Sem maiores obstáculos ela concordou. Dias após a conjunção carnal, o
jovem rompeu o noivado. A jovem apresentou ocorrência na Delegacia da Mulher para
instaurar o Inquérito Policial, sendo que o jovem ao ser intimado pelo Investigador ofereceu
uma proposta ao policial para rasgar o processo, tendo o dito funcionário público recebido
certa quantia. Nessa circunstância, assinale a opção correta.
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l - Para a existência do delito de receptação, e imprescindível que o fato anterior constitua crime.
Sendo simples contravenção, a receptação será fato atípico.
II - Frente ao princípio da imunidade penal absolutória, será isento de pena o neto que cometer
crime de roubo contra o avô.
III - No crime de corrupção passiva haverá co-autoria entre o corrupto e o corruptor.
IV - Salvo disposição em contrário, a determinação, instigação e o auxílio somente serão
puníveis se o crime chegar, ao menos, a ser tentado.
a) 1. b) 2. c) 3. d) 4.
REFERÊNCIAS
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. RT. São Paulo. 2007
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