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Neoplasias Hematológicas
C83
CLASSIFICAÇÃO
COMO ESTADIAR
Fatores de prognóstico adverso – Idade > 60 anos; estádio Ann Arbor III e IV (avançado);
índice de desempenho pela escala do Eastern Cooperative Oncology Group (ECOG) ≥ 2;
número de locais extranodais > 1; DHL sérico elevado [N Engl J Med 329:987, 1993]. Análise
recente de uma série de estudos alemães sugere a aplicabilidade do IPI na era do rituximabe [J
Clin Oncol 28:2373, 2010].
Risco baixo – Número de fatores: nenhum ou apenas 1; resposta completa (RC) de 87%,
sobrevida em 5 anos de 73%.
Risco intermediário baixo – Número de fatores: 2; RC=67%, sobrevida em 5 anos de 51%.
Risco intermediário alto – Número de fatores: 3; RC=55%, sobrevida em 5 anos de 43%.
Risco alto – Número de fatores: 4 ou 5; RC=44%, sobrevida em 5 anos de 26%.
Recomendação. R-CHOP – rituximabe, 375 mg/m² EV, no D1, em combinação com CHOP
(ciclofosfamida, 750 mg/m² EV, no D1, doxorrubicina, 50 mg/m² EVP, no D1, vincristina,
1,4 mg/m² EV, no D1 [dose máxima de 2 mg] e prednisona, 100 mg VO, do D1 ao D5, repetidos
com intervalos de 21 dias) – por 4 ciclos, seguido de radioterapia (RT) de campo envolvido, 4.000
cGy (com boost até 5.500 cGy).
Nota. Pacientes com doença limitada, mas com pelo menos um fator prognóstico
adverso (DHL elevado, idade > 60 anos, índice de desempenho 2), apresentam
sobrevida de 70% em 5 anos com CHOP x 3 e RT. Pacientes em estádio I sem nenhum
desses fatores prognósticos apresentam excelente sobrevida de 90% em 10 anos. Estudo
0014 do Southwest Oncology Group (SWOG), incluindo apenas pacientes com pelo menos
um fator desfavorável, mostrou benefício em termos de sobrevida livre de progressão
com a incorporação de rituximabe a 3 ciclos de CHOP e RT. A comparação com o controle
histórico SWOG 8736 mostrou sobrevida livre de progressão, em 4 anos, de 88 versus 78% com
e sem rituximabe, respectivamente. A sobrevida em 4 anos foi de 92% com o uso do
anticorpo monoclonal [J Clin Oncol 26:2258, 2008]. Na ASCO 2010, o grupo da Columbia
Britânica mostrou a possibilidade da redução do campo de irradiação com o intuito de
reduzir toxicidade no longo prazo. A irradiação nodal envolvida de 30 a 45 Gy dos
linfonodos afetados com margem de segurança de 5 cm mostrou-se segura em relação
ao clássico campo envolvido [J Clin Oncol 28:abstr 8009, 2010].
Dica. Pacientes com doença volumosa ou outros fatores prognósticos
desfavoráveis devem ser tratados como em estádios avançados (III e IV ). Após o
primeiro ciclo, encurtamos o tempo de infusão do rituximabe para 90 minutos [Leuk
Lymphoma 48:1875, 2007].
Nota. A sobrevida em 6 anos, com 8 ciclos de CHOP, foi de 33% no estudo intergrupo [N Engl J
Med 328:1002, 1993]. Três estudos randomizados e um com controle histórico revelaram
evidente benefício com a associação rituximabe-CHOP. O estudo francês randomizado GELA 98.5
demonstrou superioridade da combinação de CHOP e rituximabe em comparação ao tratamento
com CHOP apenas (RC de 76 versus 63%, p=0,005; sobrevida livre de doença aos 12 meses: 69 versus
49%; sobrevida global (SG) aos 12 meses: 83 versus 68%) [N Engl J Med 346:235, 2002]. Resultados
desse estudo, com 7 anos de acompanhamento, continuam a mostrar superioridade da combinação
de rituximabe-CHOP, mesmo em pacientes com fatores de risco desfavoráveis [J Clin Oncol 25:abstr
8009, 2007]. Análise retrospectiva de subgrupo revelou que pacientes com bcl-2 positivo por IHQ
foram os que mais se beneficiaram da adição do anticorpo monoclonal. O estudo com a participação
de três grupos cooperativos americanos (ECOG, Cancer and Leukemia Group B [CALGB] e SWOG),
incluindo 632 pacientes acima de 60 anos, também revelou aumento significativo da sobrevida
livre de falha ao tratamento, em 3 anos, de 39% com CHOP para 52% com R-CHOP (HR=0,64;
IC de 95%: 0,47-0,85; p=0,003) e da SG de 57 para 67% (HR=0,72; IC de 95%: 0,52-1,00; p=0,05) [J Clin
Oncol 24:3121, 2006]. Uma segunda randomização dos pacientes responsivos foi realizada com um
grupo designado para observação e outro para manutenção com rituximabe, revelando
benefício somente para aqueles tratados com CHOP na fase de indução. Entretanto, preferimos
utilizar o regime francês sem manutenção. Um estudo canadense feito com a população da
Columbia Britânica avaliou os resultados do tratamento de pacientes adultos com linfomas agressivos
antes e após a incorporação do rituximabe ao CHOP na prática clínica. Na era pós-rituximabe, as
taxas de sobrevida foram significativamente superiores [J Clin Oncol 23:5027, 2005]. Para elucidar o
papel do rituximabe associado ao CHOP, em comparação com CHOP, em pacientes de 18 a 60 anos e
com IPI favorável (0 ou 1 fator prognóstico negativo), foi realizado o estudo Mabthera International Trial
(MINT ), que revelou superioridade favorecendo o braço com rituximabe e quimioterapia (QT ) com
CHOP (ou CHOP equivalente – esquemas CHOEP-21, MACOP-B e PMitCEBO), em comparação ao
braço com CHOP (ou equivalente), na primeira análise interina com 326 pacientes. O benefício
foi evidente em termos de remissão completa, tempo para progressão e SG. Esse estudo consagra o
uso de rituximabe e CHOP a cada 21 dias, por 6 ciclos, em pacientes de 18 a 60 anos, com linfoma
difuso de grandes células e IPI favorável [Lancet Oncol 7:379, 2006]. O grupo cooperativo alemão D
eutsche Studiengruppe Hochmaligne Non-Hodgkin-Lymphome (DSHNHL) publicou os resultados de
estudo randomizado em pacientes acima de 60 anos, comparando CHOP a cada 21 dias versus
CHOP com G-CSF com intervalo entre ciclos de 14 dias (CHOP-14) [Blood 104:634, 2004]. Nesse
estudo, a sobrevida em 5 anos foi de 53,3% para CHOP-14 e 40,6% para CHOP a cada 21 dias
(HR=0,58, IC de 95%: 0,43-0,79, p<0,001). Subsequentemente o mesmo grupo demonstrou que a
adição de rituximabe a CHOP-14 melhora significativamente as taxas de sobrevida livre de eventos
e SG. Nesse estudo, denominado Ricover60, o melhor resultado em termos de SG foi obtido com 6
ciclos de RCHOP-14 [Lancet O ncol 9:105, 2008]. A análise inicial de uma comparação direta entre RCHOP-
14 e RCHOP-21 foi apresentada na ASCO 2009 por um grupo britânico. No estudo, randomizado com
1.080 pacientes, as taxas de RC foram semelhantes nos dois braços, assim como a toxicidade. Os
dados de sobrevida ainda não estavam disponíveis [J Clin Oncol 27:abstr 8506, 2009]. Quando utilizamos
RCHOP-14 realizamos apenas 6 ciclos e quando utilizamos RCHOP-21 utilizamos 6 a 8 ciclos. Com o
objetivo de melhorar os resultados do tratamento dos linfomas agressivos com IPI desfavorável, alguns
grupos têm avaliado a utilização de QT em doses altas com transplante autólogo de células progenitoras
como parte do tratamento inicial, obtendo resultados conflitantes [Bone Marrow Transplant 24:271,
1999]. No nosso serviço, consideramos candidatos a esse tratamento mais intensivo pacientes jovens com
IPI de riscos intermediário e alto, respondendo a 6 ciclos de R-CHOP. O regime de QT em doses altas
utilizado é CBV ou BEAM, e o resgate hematológico é realizado com células-tronco periféricas.
Publicação do grupo francês Groupe Ouest-Est des Leucémies Aiguës et Maladies du Sang com
207 pacientes que apresentaram até dois fatores prognósticos adversos do IPI revelou ganho de
sobrevida livre de eventos no grupo que foi transplantado em primeira linha em relação ao grupo
controle, tratado com 8 ciclos de CHOP [N Engl J Med 350:1287, 2004]. Os pacientes com risco
intermediário alto (IPI ajustado para idade), transplantados e tratados com CHOP obtiveram SG, em 5
anos, de 74 versus 44%.
LINFOMAS RECIDIVADOS
Regimes de resgate
R-ICE – rituximabe, 375 mg/m², no D1; ifosfamida, 5 g/m², em infusão de 24 h (mesna 1:1 no
mesmo frasco), no D2; etoposídeo, 100 mg/m², durante 60 minutos, do D1 ao D3, e c
arboplatina, AUC de 5, no D2, durante 1 h [Ann Oncol 14:17, 2003].
R-DHAP – rituximabe, 375 mg/m², no D1; dexametasona, 40 mg EV, do D1 ao D4; cisplatina, 100
mg/m², em infusão contínua durante 24 h, no D1; citarabina, 2.000 mg/m² EV, durante 2 h, de
12/12 h, em 2 doses, iniciadas ao término da infusão da cisplatina no D1. Repetir a cada 21 ou
28 dias [Blood 71:117, 1988].
*as doses de leucovorin no MOC são dadas para a forma DL (dextro-levógira) que é duas
vezes maior que a forma L (levógira). Ambas as formas são igualmente e cazes [Clin Colorectal
Cancer 9:E5, 2010].