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O debate

NOSSA BÚSSOLA continua no blog

Ricardo Neves de Ricardo Neves


www.epoca.com.br

Ricardo Neves
é consultor O próximo passo das
de inovação e
estratégia e escreve
quinzenalmente
em ÉPOCA. É
multinacionais brasileiras
A
autor do livro Novo PRIMEIRA LEVA DE INTERNACIONALIZAÇÃO do fato de que os 600 principais exe-
Mundo Digital
Digital,
de grandes empresas verde-amarelas é uma das cutivos são brancos, homens e ale-
volume I da trilogia mães. “Eu gostaria de ver um chinês
Renascença Digital
Digital. maiores novidades do desenvolvimento brasileiro administrando na China, um indiano
www.ricardoneves. neste começo do século XXI. Os casos mais visíveis são na Índia.” Mais diversidade de nacio-
com.br. Acesse companhias de renome como Embraer, Vale, Petrobras, nalidades no comando da empresa
www.epoca.com.br/ AmBev, Weg, Odebrecht etc. Mas muitas outras empresas, como forma de representar melhor e
ricardoneves amplamente a base de clientes globais
e mande seu e-mail
de um leque amplo e diversificado de setores, que vai é parte da solução. A globalização
de cosméticos a fast-food, estão dando seus primeiros digital dos negócios, dos processos
passos buscando outros mercados pelo planeta afora. produtivos e da vida cotidiana impõe
que o modelo de gestão controle-e-
Isso não é exclusividade do Brasil. Vamos cada vez comando dê um passo evolutivo mais ambicioso.
mais nos acostumar a fazer negócios, comprar e ven- É quando as empresas passam do estágio de mul-
der produtos de empresas chinesas, indianas, russas, tinacionais para transnacionais. Ser transnacional
mexicanas, sul-africanas e turcas da mesma forma significa, em última análise, abandonar o modelo
que passamos a ver com naturalidade negócios com “comando-e-controle” para adotar o modelo “con-
empresas americanas, européias e japonesas. selhos-e-comitês” (councils & boards). É um passo
No primeiro round de sua globalização, as empresas necessário para encarar a complexidade crescente e
dos países emergentes aprendem a ser multinacionais. evoluir da estrutura rigidamente centralizada e ver-
Uma multinacional é uma empresa que busca adaptar ticalizada para o formato de rede, em que a colabo-
seus produtos e serviços locais para outros mercados ração é mais importante que a hierarquia.
em diversas partes do mundo. As transnacionais são impé-
As multinacionais têm um mo- rios onde o sol nunca se põe.
delo de gestão conhecido como Para manejar a tomada de de-
“comando-e-controle”. Sua di- Nossas empresas estão cisões, centros de pesquisas e
retoria é formada por pessoas no primeiro round da desenvolvimento, operações
do país-sede. Assim, estamos comerciais e de marketing
acostumados a ver empresas globalização. A etapa final é considerando o mercado como
dos Estados Unidos com pre- virarem “transnacionais” sendo um mosaico de até 200
sidentes e diretores americanos países, os executivos das trans-
e que sejam comandadas a partir de sedes em cidades nacionais devem ter outra cultura de relações hie-
americanas, empresas francesas comandadas da Fran- rárquicas e de comprometimento com processos e
ça, e assim sucessivamente. Nossas multinacionais ver- aprender novos papéis. Devem aprender a ser simul-
de-amarelas seguem ainda exatamente essa lógica. taneamente gestores, mentores e pupilos em proces-
Empresas multinacionais fundadas há mais de sos em que nutrir a diversidade é mais importante
um século estão vivendo as dores que as obrigam que impor uma homogeneidade pasteurizante.
a evoluir para um novo patamar em métodos orga- No mais curto tempo, as multinacionais dos paí-
nizacionais e de gestão. Recentemente, Peter Loes- ses emergentes devem aprender a queimar etapas
cher, contratado há menos de um ano como CEO e saltar do modelo comando-e-controle para o
da Siemens, empresa alemã fundada em 1847 e que modelo conselhos-e-comitês. A encarniçada com-
nasceu como multinacional, revelou em entrevista ao petição não vai garantir sobrevivência e sucesso
jornal inglês Financial Times que a prioridade de sua às organizações pela excelência de seus produtos
gestão é aumentar a diversidade global no comando e serviços. É a própria forma de fazer a si mesma,
e na gestão do gigante que emprega diretamente 430 como cultura produtiva e organizacional, que es-
mil pessoas. “Não é uma questão de cotas, mas eu tará em questão como a parte vital da estratégia
gostaria de ver muito mais diversidade”, diz ele diante da empresa. ◆

130 > ÉPOCA , 28 de julho de 2008

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