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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS


INSTITUTO DE PSICOLOGIA
IPSC49 CLÍNICA PSICOSSOMÁTICA
DOCENTE: Maria Angelia Teixeira
ALUNA: Gerusa D’Almeida Córdova

RESUMO: “CONCEPÇÃO PSICANALÍTICA DO TRANSTORNO PSICOGÊNICO DA


VISÃO” Freud (1910).

A cegueira histérica é considerada o caso típico de um transtorno psicogênico da visão.

Quando e em que condições uma ideia se torna tão poderosa que chega a se comportar como uma
sugestão e se transformar em realidade? (...)Não podemos responder a essa questão sem recorrer à
noção de “inconsciente”.

Experimentos demonstraram que os cegos histéricos veem em determinado sentido, ainda que não no
sentido pleno. Estímulos do olho cego podem produzir certas consequências psíquicas, despertar
afetos, por exemplo, apesar de não se tornarem conscientes. Portanto, os histericamente cegos são
cegos apenas para a consciência, enxergam no inconsciente. São observações desse tipo que nos
fazem distinguir entre processos psíquicos conscientes e inconscientes.

Os histéricos não estão cegos em consequência da ideia autossugestiva de que não veem, mas sim
por causa da dissociação entre processos inconscientes e conscientes no ato de ver; sua ideia de
que não vê é a justificada expressão do estado de coisas psíquico, e não a causa deste.

Quis juntar numa composição homogênea os conceitos lançados para a compreensão dos
transtornos psicogênicos — sua origem em ideias muito poderosas, a distinção entre processos
psíquicos conscientes e inconscientes e a hipótese da dissociação psíquica.

Quando um grupo de ideias permanece no inconsciente, (a psicanálise) afirma que a oposição ativa
de outros grupos de ideias causou o isolamento e a inconsciência desse grupo específico. Chama
“repressão” ao processo que ocasiona esse destino para esse grupo, e nele reconhece algo similar ao
que no âmbito da lógica é o juízo de condenação. Demonstra que tais repressões têm papel
extraordinariamente relevante em nossa vida psíquica, e que o fracasso da repressão é a
precondição para que se forme o sintoma.

Nem sempre esses instintos são compatíveis entre si; com frequência têm conflitos de interesses; as
oposições das ideias são apenas expressão das lutas entre os instintos que servem à sexualidade, à
obtenção de prazer sexual, e os outros, que têm por meta a autoconservação do indivíduo, os
instintos do Eu. Todos os instintos orgânicos que atuam em nossa alma podem ser classificados
como “fome” ou como “amor”, nas palavras do poeta. (Obs.: 1º Dualismo Freud na Classificação
das pulsões – Pulsões do Eu, de autoconservação e Pulsões Sexuais, ou Eros e Necessidade, aqui
representado como Amor e Fome; em 1920 será substituído pelo dualismo Pulsão de Vida e Pulsão
de Morte, Eros e Thanatos, sendo que ambas as pulsões de autopreservação e sexuais serão
expressões da pulsão de vida, autodestruição ou agressão/ destruição expressões da pulsão de morte)

O “Eu” se sente ameaçado pelas exigências dos instintos sexuais e defende-se delas por meio de
repressões, que nem sempre têm o êxito desejado, mas acarretam, isto sim, perigosas formações
substitutivas do reprimido e incômodas formações reativas do Eu. Dessas duas classes de
fenômenos se compõe aquilo que denominamos sintomas das neuroses.

O prazer sexual não se acha ligado apenas à função dos genitais; a boca serve tanto para o beijo
como para a alimentação e a comunicação, os olhos percebem não apenas as alterações no mundo
exterior que são importantes para a preservação da vida, mas também as características dos objetos
que os tornam elegíveis como objetos de amor.

Esse princípio tem inevitáveis consequências patológicas quando os dois instintos básicos se
desavêm, quando por parte do Eu se mantém uma repressão contra o instinto sexual parcial
correspondente. A aplicação disso ao olho e à visão é simples. Quando o instinto sexual parcial que
se utiliza da visão — o prazer sexual em olhar — atrai a reação defensiva dos instintos do Eu por
suas exigências excessivas, de modo que as ideias em que se exprimem seus desejos sucumbem à
repressão e são mantidas longe da consciência, a relação do olho e da visão com o Eu e a
consciência é perturbada. O Eu perde seu domínio sobre o órgão, que então se coloca
inteiramente à disposição do instinto sexual reprimido. É como se a relação por parte do Eu fosse
longe demais, como se ela jogasse fora a criança com a água do banho, pois o Eu nada mais
quer enxergar , desde que os interesses sexuais em ver adquiriram tamanho relevo. A perda do
domínio consciente sobre o órgão é a nociva formação substitutiva para a repressão
malograda, que apenas a esse preço foi tornada possível.

Tal relação de um órgão duplamente solicitado — relação com o Eu consciente e com a


sexualidade reprimida — é ainda mais claramente visível nos órgãos motores do que no olho.

A psicanálise jamais esquece que o psíquico se baseia no orgânico, nem todos os distúrbios
funcionais da visão são psicogênicos como os provocados pela repressão do prazer erótico de
olhar. Pode-se perguntar se não deveriam estar presentes condições constitucionais especiais que
antes levem os órgãos a exacerbar seu papel erógeno e assim provoquem a repressão dos instintos.
Teríamos de enxergar nessas condições a parte constitucional da predisposição para adoecer de
transtornos psicogênicos e neuróticos. Esse é o fator que, em relação à histeria, designei
provisoriamente como “complacência somática” dos órgãos.

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