Você está na página 1de 11

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

Escola de Engenharia - Departamento de Engenharia Química

Bruno Teixeira Silva


Bruno da Cruz Veloso
Henrique Sepúlveda Del Rio Hamacek

DETERMINAÇÃO EXPERIMENTAL DO COEFICIENTE DE DIFUSÃO DO ÁLCOOL PROPÍLICO


NO AR POR MEIO DO AJUSTE DA EQUAÇÃO DE STEFAN

Professora: Kátia Cecília de Souza Figueiredo


Disciplina: Transferência de Massa

Belo Horizonte
11/04/2017
RESUMO

Com o objetivo de se determinar o valor do coeficiente de difusão do álcool propílico em ar


(DAB), uma determinada quantidade álcool propílico PA foi colocada em uma proveta aberta e
deixou-se que o álcool evaporasse e se difundisse pelo ar. A proveta foi sempre deixada sobre
uma balança eletrônica analítica para que se pudesse observar a perda de massa em função do
tempo. Os dados obtidos foram ajustados pela equação de Stefan, obtendo-se o valor DAB =
0,18983 cm²/s, com um coeficiente de correlação muito bom (R= 0,9944). Ao se comparar o
valor obtido com o valor teórico para o coeficiente de difusão calculado por Chapman-Enskog,
obteve-se um desvio de 65,37%, mostrando que o valor obtido não foi satisfatório e, isso pode
ter ocorrido devido a vários erros experimentais. Além disso, levantou-se a hipótese de que foi
utilizado, na verdade, álcool isopropílico ao invés do álcool n-propílico. Dessa forma, conclui-se
que não foi possível obter um valor satisfatório para o coeficiente de difusão do álcool propílico
em ar.

PALAVRAS-CHAVE

Difusão, álcool propílico, Stefan, evaporação, perda de massa, unidimensional.


INTRODUÇÃO

Pela teoria cinética dos gases, sabe-se que um gás é descrito como átomos ou moléculas que
estão em constante movimento aleatório que surge devido às várias colisões entre as próprias
partículas e as paredes recipiente. Baseando-se nessa teoria, o processo de difusão refere-se ao
movimento das partículas de uma região de alto potencial químico para uma região de baixo
potencial químico[1]. A taxa com que esse movimento ocorre é em função da temperatura, da
pressão e do tamanho/massa das partículas, como é observado na equação abaixo:

3 1
𝐾′×𝑇 2 1 1 2
𝐷𝐴𝐵 = ×( + )
𝑃 ×𝐴 𝑀𝐴 𝑀𝐵

Onde:
DAB é o coeficiente de difusão;
K’ é uma constante de proporcionalidade;
T é a temperatura absoluta;
MA, MB são as massas molares dos gases A e B;
A é a área da seção transversal média de ambas as moléculas;
P é a pressão do sistema.

O modelo cinético dos gases, então, foi usado como base para o desenvolvimento de diversas
equações semi-empíricas para que se pudesse calcular o coeficiente de difusão em variadas
situações, a exemplo, tem-se a equação de Fuller, a equação de Chapman-Enskog, entre
outras[2].

Um dos modos de se medir os coeficientes de difusão é por meio do “tubo de Stefan” que é um
dispositivo desenvolvido por Josef Stefan em 1874. Um esquema do tubo de Stefan é mostrado
na figura 1, notando-se que não é necessário que exista um tubo horizontal na saída do tubo
vertical. À medida que o líquido A no tubo vertical evapora, seu vapor se difunde e é carregado
pelo gás B[3].

Figura 1 – Esquema do tubo de Stefan

A medida do decréscimo da altura do líquido no tubo em função do tempo é utilizada para se


determinar o coeficiente de difusão do vapor de A no gás B. Entretanto, em condições de
laboratórios de ensino, a medida da altura de um líquido pode ser considerada imprecisa e, por
isso, optou-se pela equação de Stefan que relaciona a massa perdida do líquido A em função do
tempo[4], como é mostrado na equação linearizada a seguir:
𝜌𝐴 ×𝑅𝑇 𝑚𝑜 − 𝑚 𝑚𝑜 − 𝑚
𝑡= ×( ) × (2×𝑧𝑜 + )
1 𝑆×𝜌𝐴 𝑆×𝜌𝐴
2×𝐷𝐴𝐵 ×𝑀𝐴 ×𝑃× ln ( )
1 − 𝑦𝐴0

Onde:
t é o tempo do experimento;
ρA é a densidade do líquido;
R é a constante universal dos gases;
T é a temperatura ambiente;
DAB é o coeficiente de difusão do vapor A no gás B;
MA é a massa molar da espécie A;
P é a pressão atmosférica local;
yA0 é a fração molar de A (álcool propílico) na interface gás/líquido;
m0 é a massa inicial do sistema no tempo t=0;
m é a massa do sistema no tempo t;
S é a área transversal da proveta;
z0 é a altura inicial da coluna de ar da borda da proveta até a interface gás-líquido.

Várias suposições devem ser feitas para que se possa considerar essa equação, sendo as
principais: o líquido e o vapor A não são solúveis no gás B no tubo nem reage com ele; o
decréscimo no volume do líquido A e o aumento do volume do gás B podem ser desprezados; o
fluxo de A em qualquer tempo do experimento é permanente e constante; o fluxo é
unidimensional e na direção vertical; a fração molar de A no final do tubo vertical é zero; e,
finalmente, B não se difunde pelo tubo[3].

Todas essas hipóteses permitem que o sistema seja modelado pela Lei de Difusão de Fick ou
pela Difusão de Maxwell-Stefan.

Optou-se por utilizar o álcool propílico como líquido A devido a seu pequeno ponto de ebulição,
facilitando a evaporação natural, assim como sua baixa toxicidade a pequenas concentrações
quando inalado.
OBJETIVOS

O objetivo dessa prática foi determinar o coeficiente de difusão do álcool propílico em ar, por
meio do ajuste da equação de Stefan que relaciona a massa evaporada com o tempo, analisando
os fenômenos envolvidos e os fatores relevantes na determinação. Além disso, determinar a
aproximação do valor do coeficiente de difusão obtido com o valor calculado por equações semi-
empíricas ou dados tabelados.

MATERIAIS

Álcool propílico, uma balança eletrônica analítica, uma proveta graduada, paquímetro e
termômetro

MÉTODOS

1. Transferiu-se o álcool propílico para a proveta.


2. Mediu-se, com auxílio de um paquímetro o diâmetro interno da proveta e a altura da
camada gasosa (z0).
3. Aguardou-se cerca de 3 minutos para que o álcool propílico evapore das paredes da
proveta.
4. Iniciou-se a contagem de tempo e medir a massa do sistema durante 40 minutos, com
intervalos de 4 minutos entre as leituras.
5. Determinou-se o coeficiente de difusão utilizando a equação de Stefan linearizada.
RESULTADOS E DISCUSSÃO

Foi montado um gráfico para que se pudesse realizar a análise dos resultados obtidos nesta
prática. Com isso, todos as tabelas com os dados e cálculos realizados estão explicitadas no
Anexo 1 deste relatório.

A Figura 2 representa a linearização da equação que descreve a equação de Stefan, mostrada


na introdução deste mesmo relatório.

0,09
0,08
0,07
0,06
R² = 0,9833
Y (cm²)

0,05
0,04
0,03
0,02
0,01
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)

Figura 2 – Linearização da Equação de Stefan

É possível perceber que um dos pontos obtidos está muito distante da reta de tendência e,
portanto, decidiu-se eliminá-lo para que se pudesse realizar uma análise melhor. O novo gráfico
é mostrado na figura 3, a seguir.

0,09
0,08
0,07
0,06
Y (cm²)

0,05
0,04
y = 3,23440E-05x + 1,53675E-03
0,03 R² = 9,944E-01
0,02
0,01
0
0 500 1000 1500 2000 2500 3000
Tempo (s)

Figura 3 – Linearização da Equação de Stefan desconsiderando um ponto

Com o gráfico da figura 3, obteve-se uma reta com um coeficiente de correlação mais
satisfatório (R=0,9934). Dessa forma, utilizando a equação da reta obtida, determinou-se a
inclinação da reta para experimento:
𝐴 = 3,2344×10−5 𝑐𝑚2 /𝑠
Considerando A, calculou-se o coeficiente de difusão DAB para o álcool n-propílico em ar. O valor
obtido foi o seguinte:

𝐷𝐴𝐵 = 0,18983 𝑐𝑚2 /𝑠


A nível de comparação calculou-se o coeficiente de difusão do álcool n-propílico em ar pela
equação de Chapman-Enskog apresentada abaixo e, em seguida, calculou-se o DAB por meio
desta equação semi-empírica:
3 1
1,858×10−27 ×𝑇 2 1 1 2
𝐷𝐴𝐵 = 2 ( + )
𝑃×𝜎𝐴𝐵 ×𝛺𝐷 𝑀𝐴 𝑀𝐵

Onde:

T é a temperatura absoluta;
P é a pressão atmosférica;
MA é a massa molar da espécie A;
MB é a massa molar da espécie B;
σAB é o diâmetro de colisão;
ΩD é a integral de colisão;

Com isso, obtém-se DAB:

𝐷𝐴𝐵 = 0,1148 𝑐𝑚2 /𝑠

O desvio relativo (Ɛ) entre o valor experimental obtido e a equação semi-empírica foi calculado
por meio da expressão:
|𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜 − 𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑒𝑥𝑝𝑒𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑎𝑙|
𝜀= ×100
𝑅𝑒𝑠𝑢𝑙𝑡𝑎𝑑𝑜 𝑡𝑒ó𝑟𝑖𝑐𝑜
Obteve-se, então, o erro relativo (Ɛ):

𝜀 = 65,36%
Essa enorme diferença pode ser explicada por diversos fatores. Um deles seria a variação de
temperatura durante o experimento e, por isso, decidiu-se utilizar a média das temperaturas
anotadas durante a prática. Além disso, erros de cálculo e vibrações sobre a balança eletrônica
podem ter ocasionado leituras de massa diferentes das massas que realmente existiam sobre o
prato, por ser um equipamento muito sensível. Outro fator importante seria o desvio da
realidade criado pelo uso das várias suposições consideradas no início deste mesmo relatório
que, por exemplo, não é capaz de considerar a pureza do líquido e a falta (ou o excesso) de
ventilação no laboratório do experimento.
CONCLUSÃO

O experimento obteve valores muito afastados dos valores esperados pela equação semi-
empírica de Chapman-Enskog para o coeficiente de difusão do álcool propílico em ar. O valor
obtido foi de DAB = 0,18983 cm²/s, enquanto que o valor teórico é DAB = 0,1148 cm²/s, o que
representa um erro de 65,3%.

Dessa forma, pode-se concluir que não foi possível obter um valor aceitável para o coeficiente
de difusão do álcool propílico em ar pela experiência realizada. Entretanto, foi possível entender
e aprender a técnica de determinação experimental do coeficiente de difusão para gases.

Com o objetivo de se tentar explicar o erro obtido, calculou-se o DAB experimental para o álcool
isopropílico e obteve-se valores muito próximos do valor esperado, com erro menor que 5%. O
que levanta a possibilidade de os alunos terem utilizado o líquido errado por engano ou ter
havido algum tipo de contaminação no álcool propílico utilizado.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] GAS Diffusion and Effusion. Disponível


em: <https://www.boundless.com/chemistry/textbooks/boundless-chemistry-textbook/gases-
5/diffusion-and-effusion-670/gas-diffusion-and-effusion-266-8361/>. Acesso em: 26 abr. 2017.

[2] FIGUEIREDO, Kátia Cecília de Souza. Transferência de Massa para Engenharia Química. 1.
ed. Belo Horizonte: [s.n.], 2017. 85 p.

[3] STEFAN Tube. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Stefan_tube>. Acesso em: 26


abr. 2017.

[4] FIGUEIREDO, Kátia Cecília de Souza; GONÇALVES, Bruno José Arcanjo; ABREU, Danielly
Cristina Alves; BRANDÃO, Evelin Campos Verdolin. Aulas práticas para a disciplina de
transferência de massa. 2017. 28 p. Universidade Federal de Minas Gerais, Escola de
Engenharia, Belo Horizonte, 2017.
ANEXO

1. Tabela utilizada para a construção do gráfico

massa
t (min) t (s) ∆m ∆m/SρA 2z0 + ∆m/SρA (∆m/SρA)( 2z0 + ∆m/SρA)
medida (g)
0 0 44,4453 0 0 11,69 0
4 240 44,4446 0,0007 0,00074 11,69074 0,008647
8 480 44,444 0,0013 0,001374 11,69137 0,016059
12 720 44,4433 0,002 0,002113 11,69211 0,024708
16 960 44,4423 0,003 0,00317 11,69317 0,037066
20 1200 44,4413 0,004 0,004227 11,69423 0,049426
24 1440 44,4414 0,0039 0,004121 11,69412 0,04819
28 1680 44,4408 0,0045 0,004755 11,69475 0,055607
32 1920 44,4401 0,0052 0,005494 11,69549 0,064261
36 2160 44,4398 0,0055 0,005811 11,69581 0,06797
40 2400 44,4388 0,0065 0,006868 11,69687 0,080335

2. Linearização da Equação de Stefan

𝑦 = 𝑎𝑥 + 𝑏
1
𝑚0 − 𝑚 𝑚0 − 𝑚 2×𝐷𝐴𝐵 ×𝑃×𝑀𝐴 × ln (1 − 𝑦 )
𝐴,0
( ) × (2×𝑧0 + )= ×𝑡
𝑆×𝜌𝐴 𝑆×𝜌𝐴 𝜌𝐴 ×𝑅𝑇
O significado de cada variável se encontra na introdução deste mesmo relatório

3. Expressão encontrada para DAB


𝜌𝐴 ×𝑅𝑇
𝐷𝐴𝐵 = 𝑎×
1
2×𝑃×𝑀𝐴 × ln (1 − 𝑦 )
𝐴,0

𝑃𝐴𝑠𝑎𝑡
𝑦𝐴,0 =
𝑃

Onde: a = 3,2442 x 10-5 cm2/s P = 0,9 atm

ρA = 0,803 g/cm³ MA = 60,10 g/mol

R = 82,057 cm³.atm/K.mol PAsat = 20,08 mmHg = 0,0264 atm

T = 299,35 K
4. Cálculo do valor de DAB teórico

3 1
1,858×10−27 ×𝑇 2 1 1 2
𝐷𝐴𝐵 = 2 ( + )
𝑃×𝜎𝐴𝐵 ×𝛺𝐷 𝑀𝐴 𝑀𝐵
𝜎𝐴 + 𝜎𝐵
𝜎𝐴𝐵 =
2
1
𝜀𝐴𝐵 𝜀𝐴 𝜀𝐵 2
=( × )
𝑘𝐵 𝑘𝐵 𝑘𝐵
𝑇
𝛺𝐷 𝑐𝑜𝑟𝑟𝑒𝑠𝑝𝑜𝑛𝑑𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑎 𝜀
𝐴𝐵
𝑘𝐵

Onde: T = 299,35 K σB = 3,711 x 10-10 m

P = 0,9 atm ƐA/kB = 576,7 K

MA = 60,10 g/mol ƐB/kB = 78,6 K

MB = 29 g/mol ΩD = 1,233

σA = 4,549 x 10-10 m

Você também pode gostar