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PEQUENAS
ENERgIA
CENTRAIS
SoLAR
HIDRELÉTRICAS
362 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Conceito de PCH

Inicialmente a Resolução n° 394 de 04/12/1998 da ANEEL carac-


terizava como PCH toda a usina hidrelétrica de pequeno porte cuja
capacidade instalada fosse superior a 1 MW e inferior a 30 MW, com
área de reservatório inferior a 3 km².

Por meio da Lei n° 13.097/2015, que, entre outros assuntos, alterou Gerador
Reservatório Linha de transmissão
a legislação do setor elétrico, foram feitas mudanças na regulação das
autorizações para as PCHs. A principal alteração foi aumentar a capa- Vertedouro
cidade mínima dos projetos desses empreendimentos de 1 MW para Transformador
3 MW. De acordo com a nova legislação, o aproveitamento de poten-
Estator
cial hidráulico destinado à produção independente ou autoprodução
de energia, mantidas as características de PCH, passou a ser de potên- Rotor
Eixo
Gerador
cia superior a 3MW e igual ou inferior a 30 MW. Quando o empreendi-
mento for destinado para produção independente ou autoprodução turbina
de energia, mas não tiver a característica de PCH, os limites são: potên-
cia superior a 3 MW e igual ou inferior a 50 MW. Fluxo de
água

Uma PCH típica normalmente opera a fio d’água, isto é, o reser- Paleta

vatório não permite a regularização do fluxo d’água. Com isso, em Água sob pressão
ocasiões de estiagem, a vazão disponível pode ser menor que a ca-
pacidade das turbinas, causando ociosidade. Em outras situações, as Turbina Pás da turbina
vazões são maiores que a capacidade de engolimento das máquinas,
permitindo a passagem da água pelo vertedouro (figura a seguir). Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético

Por esse motivo, o custo da energia elétrica produzida pelas PCHs


é maior que o de uma usina hidrelétrica de grande porte (UHE), onde manual de Diretrizes para Estudos e Projetos de PCHs, publicado pela
o reservatório pode ser operado de forma a diminuir a ociosidade ou Eletrobras no ano 2000.
os desperdícios de água.
A figura a seguir mostra que, para implantação da PCH, parte do
As PCHs são instalações que resultam em menores impactos am- curso do rio foi desviada e a vazão reduzida em parte no curso princi-
bientais e se prestam à geração descentralizada. Comparando com pal, sendo que a vazão normal é retomada após a casa de força.
as UHEs, as PCHs têm vantagens e desvantagens. Por serem menores,
são mais baratas de construir, causam um dano ambiental menor e As usinas a fio d’água são utilizadas quando as vazões de estiagem
podem ser construídas em rios com menor vazão. do rio são iguais ou maiores que a descarga necessária à potência a
ser instalada para atender à demanda máxima prevista. Nesse caso,
Apesar de as PCHs típicas normalmente operarem a fio d’água, despreza-se o volume do reservatório criado pela barragem. Esse tipo
esse tipo de fonte geradora pode ter estrutura de reservatório do de PCH apresenta, entre outras simplificações, a dispensa de estudos
tipo fio d’água ou de acumulação e ser classificada pela capacidade de regularizações das vazões e facilidades na elaboração do projeto
de regularização do reservatório, segundo os conceitos definidos no (figura a seguir).
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 363

As PCHs de acumulação são empregadas quando as vazões de es- A partir do inventário, define-se o dimensionamento econômi-
NESSE MODELO tiagem dos rios são inferiores à necessária ou quando se faz necessá- co-energético da PCH, cujos resultados são apresentados à ANEEL
O CURSO DO RIO
É PRESERVADO rio o controle das vazões de cheia a fim de se evitar as inundações e quando do pedido de registro dos estudos para projeto básico da
para contenção da água. PCH. Só então são definidos a melhor alternativa de localização do
eixo da barragem, o dimensionamento energético e o arranjo físico,
Estudos de dimensionamento econômico-energético de uma PCH objetivando a otimização do aproveitamento energético (compro-
são desenvolvidos durante a fase de projeto básico, quando são ava- vação da viabilidade técnico-econômica e ambiental do empreendi-
liadas sua factibilidade e atratividade para os possíveis investidores mento).
desse tipo de empreendimento, contemplando, inclusive, uma avalia-
ção expedita de sua viabilidade, de acordo com a legislação vigente. Os empreendimentos hidrelétricos podem ser divididos em dois
grupos: os que operam integrados ao SIN e os que atendem a um
Na fase que antecede o projeto e a viabilidade, para implantação mercado isolado. Quando os empreendimentos hidrelétricos ope-
USINA A FIO D’ÁGUA de PCHs, encontram-se os estudos de inventário hidrelétrico da bacia ram de forma interligada, deve ser seguida, para o dimensionamento
e das sub-bacias hidrográficas onde serão implantadas as PCHs, cujo e a avaliação da viabilidade técnica-econômica, a metodologia defini-
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
objetivo principal é avaliar o potencial energético e a economicidade, da na publicação Instruções para Estudos de Viabilidade de Aprovei-
a fim de fornecer subsídios à tomada de decisão de possíveis inves- tamentos Hidrelétricos, da Eletrobras/DNAEE (abril de 1997).
tidores. Para trechos de rio ou sub-bacias que apresentem apenas
As PCHs de acumulação, com regularização mensal do reservató- possibilidades de aproveitamento de seus potenciais hidroenergéti-
rio, pressupõem uma regularização mensal das vazões médias diárias, cos por meio de PCHs, os estudos de inventário poderão ser feitos de
promovida pelo reservatório. A figura a seguir apresenta o esquema forma amplificada, segundo a Resolução ANEEL n° 393, de 04/12/98.
de funcionamento de uma central hidrelétrica.

Vertedouro E = f (Q.H)
NAmax
Op.
Reservatório

DepMax Casa de Força


Vu Linhas de Transmissão HB
NAmin Locallização do
Op. eixo do barramento

Duto Turbina
Qt Cabe esclarecer que as usinas integradas ao SIN, a critério do ONS,
estão sujeitas às suas regras de operação, ou seja, o despacho dessas
Rio usinas é centralizado com operação otimizada. Em contrapartida, o
ONS garante, ao empreendedor do projeto, uma energia assegurada
durante todo o seu período de concessão, energia essa definida por
ocasião do edital de licitação da outorga da concessão.

Usinas de potência menor ou igual a 30 MW, como as PCHs, são


consideradas usinas não integradas, mesmo que estejam eletrica-
364 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

mente conectadas ao SIN. Essas usinas, portanto, não estão sujeitas às to de transmissão reduzido, maior facilidade de integração com Capacidade
regras de operação do ONS. locais isolados e maior facilidade na liberação de licenças ambien- País
Instalada
tais. Além de serem subsidiadas e de possuírem tarifas diferencia-
Brasil ≤= 30 MW
A menos que o empreendedor faça um acordo operativo com o das, o que compensa o valor mais alto do MWh quando compara-
distribuidor/comercializador local, não fica assegurada ao empreen- do às grandes usinas hidrelétricas e outras fontes de geração de Canadá ≤= 50 MW
dedor nenhuma geração complementar à efetivamente gerada no energia (figura a seguir). China ≤= 50 MW
empreendimento, ou seja, em períodos hidrologicamente desfavorá- União Europeia ≤=20 MW
veis, essas usinas não teriam a possibilidade de usufruir do benefício
da interligação elétrica com o SIN. Em outras palavras, a operação oti- Índia ≤= 25 MW
mizada do SIN garante teoricamente um maior aproveitamento do Noruega ≤= 10 MW
potencial hidrelétrico local, pois existem diversidades hidrológicas Suécia ≤= 1,5 MW
entre as diversas bacias hidrográficas que compõem o SIN.
Estados Unidos ≤= 70 MW
Nesse caso, o dimensionamento ótimo do aproveitamento deve Fonte: IPCC, 2011, Different states have different definitions of small hydropower.
ter por base os benefícios incrementais de energia firme de correntes
da sua entrada em operação, sendo esses benefícios de energia firme As PCHs contribuem com cerca de 40 TWh por ano para a deman-
calculados para o período crítico do SIN. da elétrica da Europa, embora haja potencial para se acrescentarem
outros 50 TWh anuais.
Portanto, usinas não integradas, porém interligadas, poderão ser
dimensionadas como se fossem usinas eletricamente isoladas “ótimo
isolado”, a menos que o empreendedor consiga negociar um acordo Atuação das PCHs em alguns países
operativo com o distribuidor/comercializador local para, de alguma
forma, beneficiar-se da operação otimizada, o que lhe garantiria o
suprimento adicional ao efetivamente gerado em situações hidrolo- O desenvolvimento do potencial hidrelétrico de um país pode
gicamente desfavoráveis no local do empreendimento ou, de outra ser relacionado com seu desenvolvimento econômico. Na nota
forma, admitir que a diferença entre a energia firme da usina, calcula- técnica sobre a caracterização técnico-econômica da geração
da como se fosse uma usina integrada, e o efetivamente gerado seria hidráulica (EPE, 2006), fica evidenciado que, de uma forma geral,
contratado no mercado SPOT a preços a serem cenarizados nos estu- países economicamente desenvolvidos apresentam uma taxa de
dos econômico-energéticos. aproveitamento de seu potencial hidráulico bastante superior à
taxa dos países em desenvolvimento. O caso da França é emble-
mático: 100% de seu potencial tecnicamente aproveitável já estão
desenvolvidos. EUA, Noruega, Japão e Alemanha já desenvolve-
PCHs no Cenário Internacional Como possuem características de uma usina hidrelétrica de pe-
ram, pelo menos, 60% de seu potencial. Em contraste, o Congo, na
queno porte, geralmente do tipo fio d’água, ou seja, sem grande ca-
pacidade de acumulação e que aproveitam as quedas já existentes África, que possui o quinto maior potencial do mundo, desenvol-
dos rios, há uma redução dos impactos ambientais. veu apenas 1% de seu recurso.
A energia elétrica no mundo é produzida prevalentemente por
fontes fósseis, as maiores produtoras de gases de efeito estufa. Por No âmbito mundial, as usinas hidrelétricas são classificadas segun- No Brasil, considerando as usinas em operação e aquelas em cons-
isso, há grande preocupação mundial com a substituição de geração do seu tamanho como pequenas hidrelétricas e grandes hidrelétricas, trução ou cuja decisão de construir está tomada (concessão outorga-
de origem fóssil por fontes renováveis. com base na capacidade instalada medida em MW como critério de da), já foram aproveitados pouco mais de 30% do potencial. Mas o
definição. No entanto, não há um consenso mundial sobre definições País mantém-se como detentor do terceiro maior potencial no mun-
Entre as fontes de energia renováveis, destacam-se as PCHs, que a respeito de categorias de tamanho (IPCC, 2011 apud Egre e Mi- do, perdendo para a China e a Rússia. Tomados em conjunto, esses
são, de modo geral, projetos de menor volume de investimentos, lewski, 2002). A tabela a seguir lista algumas das diferentes definições dois países mais o Brasil detêm mais de um terço do potencial tecni-
de simples concepção e operação, menor prazo de conclusão, cus- de PCH com base na capacidade máxima instalada. camente aproveitável do mundo (gráfico a seguir).
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 365

POTENCIAL HIDRELÉTRICO APROVEITADO EUA Além disso, recentemente realizou um estudo com a Escola Técnica
EM PAÍSES SELECIONADOS Superior de Aachen, a Rheinisch-Westfälische Technische Hochschule
(RWTH), demonstrando que um maior número de usinas hidrelétri-
% do potencial tecnicamente aproveitável
O apoio do governo para as energias renováveis incluem progra- cas reversíveis poderia ser colocado em operação na Alemanha como
mas de subvenção, créditos fiscais para produção e investimentos. uma substituição economicamente viável a um grande número de
Congo 1 Além disso, o país introduziu um programa especial, o Renewable usinas convencionais de eletricidade usadas como reserva. A capaci-
Indonésia 4 Portfolio Standards (RPS), que obriga empresas de geração e forne- dade dessas usinas reversíveis adicionais poderia ser aproveitada para
cimento elétrico a ter uma fração específica de sua energia vinda de absorver uma quantidade ainda maior de energia eólica e solar que,
Peru 6
fontes renováveis. Embora não haja uma legislação federal em vigor do contrário, seria perdida.
Rússia 11 sobre o assunto, atualmente 29 estados americanos já adotam o pro-
China 16 grama (Environmental Rules for Hydropower in State Renewable Por- Seja uma turbina-bomba reversível ou uma combinação de turbi-
tfolio Standards). na e bomba, essas máquinas se provaram extremamente duradouras.
Colômbia 18 em construção ou licitada
Em muitos casos, funcionaram de forma confiável por várias décadas.
Índia 18
ALEMANHA
Brasil 26.6 4,5 A Alemanha é um exemplo de país que utiliza o seu banco de de-
Canadá 37 senvolvimento para financiar obras de energias renováveis: o KFW,
A Alemanha possui cerca de 50.000 represas ou açudes, mas ape-
que é o banco alemão que mais realiza empréstimos no setor de
Itália 45 nas 7.000 deles estão equipados com usinas hidrelétricas, o que signi-
energias renováveis, tendo aplicado, somente em 2008, 19,8 bilhões
55 fica que a grande maioria não está sendo aproveitada.
Suíça de euros dentro e fora do país. O programa do KFW concede emprés-
EUA 60 timos com taxas de juros de 1% a 2% abaixo do valor de mercado, a
Atualmente, há um debate na Alemanha sobre a direção que a
serem pagos em prazos de 10 a 20 anos, voltados à geração de ele-
Noruega 61 Energiewende, ou transição energética, deveria tomar. De fato, o
tricidade proveniente de fontes solar fotovoltaica, biomassa, biogás,
Japão 64 setor de energias renováveis está se expandindo rapidamente. Mas
energia eólica, hidrelétrica e geotérmica e à eletricidade e ao calor
uma coisa é certa: a transição rumo a energias mais verdes não será
Alemanha 83 provenientes de fontes renováveis geradas por meio de cogeração.
bem-sucedida sem o eficiente armazenamento de energia.
França 100

0 20 40 60 80 100
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
produção de energia hidrelétrica nos principais países (twh/ano)
CHINA 2.500
países selecionados demais países
(8.854 twh/ano) (6.146 twh/ano)
Na China, as PCHs já desempenham um papel importante no 2.000 1.920

desenvolvimento da economia de algumas áreas rurais remotas. 1.670 59%


A eletrificação rural na China está baseada em energia hidrelétrica 1.500 1.488
TWh/ano

Mundo: 15.000 TWh/ano


em pequena escala, onde existem mais de 45.000 PCHs, que tota-
lizam 55 GW e produzem 160 TWh por ano. Muitas dessas usinas
são usadas em redes centralizadas de eletricidade e constituem 1.000 951
774
um terço da capacidade total de energia hidrelétrica da China, 660
fornecendo serviços para mais de 300 milhões de pessoas (IPCC, 529
500 402
2012 apud Liu & Hu, 2010). 260
200

0
China Rússia Brasil Canadá Congo Índia EUA Indonésia Peru Colômbia

Fonte: Plano Nacional de Energia2030 - EPE


366 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

ÁUSTRIA A energia das ondas é uma fonte de ener-


gia renovável que resulta da transformação da
energia contida nas ondas marítimas em ener-
Cerca de 60% da eletricidade da Áustria é produzida em usinas hi- gia elétrica. Esse tipo de tecnologia, embora
drelétricas e outros 37% provêm da queima de combustíveis fósseis. não se encontre disponível de forma comercial,
Os 3% restantes são gerados por fontes renováveis, tais como eólica, tem sido desenvolvida desde os anos 1970 em
solar e biomassa. um conjunto de países com potencial para ex-
plorar esse tipo de energia, que incluem o Rei-
Medição de Correntes     no Unido, Portugal, Noruega e Japão.
Marinha e Fluvial
Ao contrário do que acontece na energia eó-
Os serviços de medição de correntes (perfilador de correntes acús- lica, existe uma grande variedade de tecnolo-
tico Doppler) são utilizados em estudos de travessias e rios para deter- gias em desenvolvimento para a produção de
minação de velocidade de corrente de rios, mares, lagos, etc. energia das ondas, que resulta das diferentes
formas pelas quais a energia pode ser captu-
A técnica Doppler é um método que permite perfilar o fundo rada e também das diferentes profundidades
de um rio e, simultaneamente, determinar a velocidade do fluxo e características geológicas das localizações
nesse perfil. Para isso, o instrumento registra acusticamente (siste- escolhidas. Dessa forma, pode ser encontrada
ma Doppler) a velocidade bruta (velocidade do fluxo + velocidade mais de uma centena de sistemas de energia
da embarcação), calcula a velocidade da embarcação em relação das ondas em diversas fases de desenvolvi-
ao fundo e, por consequência, avalia a velocidade do fluxo (cor- mento (figura ao lado).
rente) (figura abaixo).
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 367

Estudos iniciais apontam que o litoral brasileiro, com cerca de 8.000 Legislação Ambiental       As PCHs são altamente eficientes na geração de energia, contri-
km de extensão, seria capaz de receber usinas de ondas que produ- das PCHs na Europa buem para a estabilidade da rede e podem ser usadas para a irriga-
ziriam em torno de 80.000 MW. Mas, antes de pensar na implantação ção e o controle de cheias, além de ter um ciclo de vida longo. Essa é
desse tipo de usina, é preciso testar conceitos e comprovar tanto a uma questão central na perspectiva de um investidor, pois uma PCH
viabilidade como a confiabilidade dos projetos. Do ponto de vista tecnológico, as PCHs são maduras e altamen- pode operar por até 100 anos, provendo rendimentos contínuos por
te desenvolvidas. Muitos pontos ainda precisam ser melhorados, décadas.
Com relação ao potencial das correntes fluviais, as técnicas de con- como a necessidade de garantir uma melhor rota de passagem
versão de energia são parecidas, contudo, a maioria dos projetos está para os peixes. O aproveitamento de novos potenciais com usinas de grande por-
em nível experimental e, apesar da alta aplicabilidade, faltam incenti- te é, muitas vezes, impossível por motivos econômicos ou ecológicos,
vos para esse tipo de pesquisa. A figura a seguir mostra a tecnologia Enquanto que usinas eólicas e solares vêm sendo incentivadas por o que torna as usinas menores ainda mais atraentes. As PCHs podem
Lucidenergy para geração de energia elétrica em tubulações de abas- subsídios governamentais, as PCHs vêm sendo deixadas para trás em ser combinadas com geração eólica, pois as turbinas eólicas podem
tecimento de água. alguns países, apesar das claras vantagens dessa tecnologia. Muitas ser conectadas às PCHs reversíveis para permitir que o excedente de
unidades que se encontravam em operação vêm sendo desmonta- eletricidade eólica gerada possa ser aproveitado para o bombeamen-
O sistema de adutora d’água gerando energia elétrica captura das, além disso, tornou-se muito difícil conseguir as licenças para no- to ou, na falta de vento, para a geração de energia. As duas fontes
energia da água que corre pelos sistemas hidráulicos das cidades. A vos projetos. combinadas, PCHs e eólicas, possibilitam realizar um melhor planeja-
água gira turbinas, colocadas dentro dos encanamentos, que acio- mento da produção de energia.
nam os geradores. A energia pode ser utilizada instantaneamente ou Na Europa, legislações como a Natura 2000 e a Water Framework
armazenada em bancos de baterias. É uma forma de energia que não Directive (Diretriz de Estrutura Hídrica) impactaram o setor de PCHs PCHs no Cenário Nacional
causa nenhum impacto ambiental. A energia gerada pode ser utiliza- de forma significativa, pois não consideraram que o setor pode ser
da no próprio tratamento de água, barateando o custo final da água financeiramente sustentável desde que se estabeleçam regras justas
ao consumidor. de mercado. Os formuladores de políticas e legislação precisam ter O número de PCHs em operação no Brasil é de 476, o que repre-
em mente que a hidrogeração traz muito mais do que a simples pro- senta 4.824 MW instalados. Contudo, mais 2.311 MW devem entrar
Apesar da energia gerada pelo sistema não ser suficiente para ali- dução de eletricidade verde. em operação nos próximos 5 anos, conforme informações dos leilões
mentar uma cidade inteira, pode alimentar prédios públicos e parti- realizados e previstos para os dois próximos anos.
culares, residências, escolas, indústrias, etc. Ao contrário da energia
solar ou eólica, o sistema pode gerar eletricidade em qualquer horário Estima-se que um cenário mais atraente de capacidade instalada
ou clima. seria possível se o preço teto para as PCHs fosse um pouco maior do
que os atuais R$ 165,00/MWh. Apenas R$ 21,00 a mais do que esse li-
mite já remunerariam todos os investimentos a serem feitos em PCHs
no País.

Conforme a ANEEL, existem ainda mais 1.800 MW já inventariados


de PCHs que poderiam, em 1 ano, ser transformados em projetos.
368 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

HIDRáULICA No bRASIL Em mw

1.883 mw
EMPREENDIMENTO
EM OPERAÇÃO

EMPREENDIMENTO
EM CONSTRUÇÃO

EMPREENDIMENTO COM

427 mw 4.824 mw CONSTRUÇÃO NÃO INICIADA

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético

Informações da Eletrobras apontam ainda a existência de mais 13.000 MW em PCHs, que poderiam já es-
tar sendo inventariados nesse momento se a ANEEL não tivesse proibido a realização de novos inventários
por meio do Despacho n° 483/2013, que, em 2010, foi justificado com a alegação de que estaria para entrar
em vigor uma mudança na regulamentação atual.

A ANEEL é responsável por registrar, analisar e aprovar os estudos de inventário, de viabilidade e de pro-
jetos básicos dos aproveitamentos hidrelétricos do País. Essas atividades estão fundamentadas no Decreto
n° 4.970/2004, no Decreto n° 4.932/2003 e na Resolução Normativa ANEEL n° 116/2004. É a Superintendên-
cia de Gestão e Estudos Hidroenergéticos (SGH) que exerce essas atribuições, de acordo com o Regimento
Interno da ANEEL.
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 369

Etapas do Planejamento do Setor Hidrelétrico

A figura a seguir mostra as etapas do planejamento do setor hidrelétrico.

Escala de análise
Regional (bacia hidrográfica) local (projeto)
Prazo dos estudos
indeterminado 2 anos 1 ano 6 meses 1 ano 4 anos > 50 anos
Estágio de implementação

Estudos Estudos Estudos Leilão de Projeto


preliminares de viabilidade concessão Básico Construção Operação
de inventário

1 4 6 8
2
Registro ANEEL Aprovação ANEEL Aprovação ANEEL Aprovação ANEEL 9
3 5 7
Aprovação ANEEL
Registro AA* Registro AA* Registro AA*
Registro ANEEL e AA licença prévia licença instalação licença operação

* Ato autorizativo
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético

Etapas de Implantação de um Empreendimento Hidrelétrico

A figura a seguir mostra as etapas de implantação de um empreendimento hidrelétrico.

FASE DE ESTUDOS fase pré-operacional fase operacional

ANEEL ANEEL MME ANEEL ANEEL


ANA ANEEL ANA ANA
OLA EPE OLA OLA

Renovações da LO
LP LI LO

INVENTÁRIO EVTE PROJETO


LEILÃO CONSTRUÇÃO OPERAÇÃO
AAI EIA/RIMA BÁSICO

DESENVOLVEDOR EMPREENDEDOR EMPREENDEDOR

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


370 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

mAPA DE LoCALIzAção DAS PRINCIPAIS PCHS No bRASIL

O gráfico a seguir mostra o mapa de localização das PCHs no Brasil.

MG

MT

RS

SC

GO

RJ

PR

SP

ES

MS

TO

BA

RO

PA

RR

PE

CE

PB

AL Operação

AM Construção

AP
Outorga
MA

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1.000 1.100 1.200

Total de PCHS em operação: 476


PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 371

Depois de concluídos os estudos de inventário, a ANEEL concede • DRDH: Os aproveitamentos hidrelétricos, que demandam Histórico das PCHs no Brasil
registro para início dos estudos de viabilidade técnica e econômica. quantidades importantes de recursos hídricos e podem im-
Paralelamente, ocorrem também os estudos socioambientais e o pactar, de forma significativa, a disponibilidade de água são
processo de licenciamento ambiental. Cabe ao empreendedor obter analisados, outorgados e fiscalizados de forma diferenciada A primeira microcentral hidrelétrica que se tem notícia foi construí-
a licença prévia junto aos órgãos ambientais, IBAMA ou entidades es- pela ANA. da na Irlanda do Norte, em 1883, para fornecer energia para um trem
taduais. Também é necessária a Declaração de Reserva de Disponibi- elétrico a partir de duas turbinas de 52 HP (1HP = 746 W).
lidade Hídrica (DRDH), obtida junto aos órgãos gestores de recursos Nos aproveitamentos hidrelétricos, dois bens públicos são objetos
hídricos, Agência Nacional da Água (ANA) ou instituições estaduais. de concessão pelo poder público: o potencial de energia hidráulica No Brasil, em 1883, foi montado, em Diamantina um esquema para
É do MME a competência para considerar o empreendimento apto a e a água. Anterior à licitação da concessão ou da autorização do uso aproveitamento de energia hidrelétrica com 12 KW, dois geradores
ser licitado e definir o tipo de leilão pelo qual será negociada a conces- do potencial de energia hidráulica, a autoridade competente do setor acionados por roda de água com um desnível de 5 m.
são e também vendida a energia. Essas diretrizes constam de portaria elétrico deve obter a DRDH junto ao órgão gestor de recursos hídri-
ministerial. cos. Posteriormente, a DRDH é convertida em outorga em nome da Desde então, a evolução diversificada do setor energético foi prodi-
entidade que receber da autoridade competente do setor elétrico a giosa e passou a influir em todos os setores da vida cotidiana. Dentro
A partir daí, cabe à ANEEL propor a minuta de edital de licitação, de concessão ou autorização para uso do potencial de energia hidráu- dessa diversidade, permaneceram, mais do que em nenhuma outra,
acordo com as diretrizes definidas pelo MME, como a definição do dia lica, conforme disposições dos arts. 7° e 26°, da Lei n° 9.984, de 2000, as várias modalidades de centrais hidrelétricas.
do leilão, as formas de contratação da energia a ser ofertada e a data art. 23° do Decreto n° 3.692, de 2000, e art. 9° da Resolução CNRH n°
de entrada em operação das usinas a serem licitadas. 37, de 2004. No caso de corpos de água de domínio da União, a ANA As PCHs compõem 3,51% da matriz energética do País, uma im-
emite a DRDH e a converte em outorga conforme os procedimentos portante parte da geração de energia no Brasil. Atualmente, o núme-
Toda essa fase é de competência da Superintendência de Conces- estabelecidos na Resolução da ANA n° 131/2003. ro de PCHs em operação é de 476. A figura a seguir mostra o potencial
sões e Autorizações de Geração (SGC) e da Comissão Especial de Li- hidrelétrico – estados selecionados – 2013 – unidade MW.
citação (CEL), criada para acompanhar todos os processos licitatórios Em rios de domínio dos estados ou do Distrito Federal, o respec-
nas áreas de geração e transmissão. tivo órgão gestor de recursos hídricos é o responsável pela emis-
são da DRDH.
Etapas de desenvolvimento de PCHs potencial hidrelétrico (mw)
• Estudos de inventário: Estudos de engenharia para definição

Individualizado
Remanescente

Total Estimado

Projeto Básico

Inventariado
do potencial hidrelétrico de uma bacia hidrográfica, a partir da

Viabilidade

Construção

Total Geral
Inventário
Estado

Operação
análise de divisão de quedas d’água e da definição prévia do

Total
aproveitamento ótimo desse potencial, ou seja, do número de
aproveitamentos hidrelétricos que, no conjunto, propiciem o Amazonas 6.226 6.709 12.935 7.046 0 7 0 250 7.303 20.238
máximo de energia ao menor custo, com o mínimo de impactos Bahia 0 324 324 1.608 3.038 361 0 6.859 11.865 12.190
sobre o meio ambiente e em conformidade com os cenários de Goiás 2.564 36 2.600 3.582 368 189 0 6.002 10.140 12.640
utilização múltipla dos recursos hídricos. Minas Gerais 973 1.777 2.750 7.259 717 676 35 12.295 20.982 23.732
Mato Grosso do Sul 113 903 1.017 792 0 677 0 3.628 5.097 6.114
• Projeto básico: Compreende a etapa em que há mais detalha- Mato Grosso 4.512 1.234 5.746 10.875 75 821 1.267 1.887 14.924 20.670
mento dos estudos iniciais. No caso das PCHs, o detalhamento Pará 2.379 3.713 6.092 21.342 930 700 12.330 8.500 43.802 49.894
parte dos estudos de inventário. Para outras UHEs, o ponto de Paraná 1.213 271 1.484 3.821 1.954 876 0 15.991 22.641 24.126
partida são os estudos de viabilidade. Em ambos os casos, é ne- Rondônia 1.052 4.254 5.307 488 0 64 85 7.275 7.913 13.220
cessária a concessão da licença prévia. A empresa vencedora de Roraima 4.178 84 4.262 1.301 324 0 0 5 1.630 5.892
leilão ou autorizada pelo poder concedente para implantar o Rio Grande do Sul 491 1.296 1.787 3.391 146 257 5 4.475 8.274 10.079
empreendimento deverá solicitar ao órgão ambiental a licença Santa Catarina 254 222 477 1.918 281 433 24 4.031 6.687 7.163
de instalação para poder iniciar a construção e, posteriormente, São Paulo 441 375 816 879 2.162 240 0 11.059 14.339 15.155
a licença de operação para que a usina possa começar a gerar Tocantins 157 0 157 2.029 2.304 6 0 2.314 6.653 6.809
comercialmente. Total Brasil 25.992 22.253 48.244 69.733 16.735 4.570 14.185 91.392 196.616 245.760
Fonte: Banco de Imagens do setor Energético
372 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

O aumento da exploração do potencial de PCHs no Brasil aconte- da Usina Binacional de Itaipu. As PCHs, contudo, seriam uma Itaipu Em termos de potência já instalada, as PCHs responderam por
ceu a partir do ano de 1997, quando foi extinto o monopólio do Esta- distribuída e de baixos impactos ambientais, devido à diversidade de 5.247 MW em 2014.
do no setor elétrico e centenas de empresas empenharam recursos usinas espalhadas pelo País.
na elaboração de estudos e projetos de geração de energia renovável.

O Brasil, tal como diversos países, implantou políticas públicas de Evolução da capacidade instalada por fonte de geração
apoio às fontes alternativas, entre as quais o desconto mínimo de 50% (MW) no Brasil, em destaque os valores para PCH
na TUST e na TUSD, um subsídio às fontes renováveis e o PROINFA.

Considerado o grande marco para a inserção de fontes renováveis


FONTE 2011(d) 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021
no setor elétrico, o PROINFA, iniciado em 2002 com a aprovação da Lei
n° 10.438/02, tinha como objetivo promover a contratação de proje- Renováveis 97.317 101.057 107.230 111.118 116.553 122.616 128.214 134.151 139.172 144.889 152.952
tos baseados em fontes classificadas como alternativas, como PCHs, Hidro (a) 77.329 78.959 81.517 83.184 87.576 92.352 97.337 101.223 103.476 106.499 111.723
eólicas e térmicas à biomassa, principalmente de bagaço de cana, por
meio da fixação de metas para a participação dessas fontes no SIN. Importação (b) 6.275 6.200 6.120 6.032 5.935 5.829 5.712 5.583 5.441 5.285 5.114
PCH 4.560 5.009 5.221 5.247 5.388 5.448 5.578 5.858 6.168 6.688 7.098
De 1997 até hoje, mais de R$ 1 bilhão foram aplicados por investi-
Biomassa 7.750 8.908 9.164 9.504 9.554 9.604 9.704 10.454 11.404 12.304 13.454
dores privados na elaboração e no licenciamento ambiental de cerca
de 1.000 projetos de PCHs, totalizando mais de 9.000 MW em empre- Eólica 1.403 1.981 5.208 7.151 8.100 9.383 9.883 11.033 12.683 14.113 15.563
endimentos protocolados na ANEEL.
Não Renováreis 19.181 20.766 23.395 27.351 27.351 28.756 28.756 28.756 28.756 28.756 29.456
Urânio 2.007 2.007 2.007 2.007 2.007 3.412 3.412 3.412 3.412 3.412 3.412
PCHS no Setor Elétrico Brasileiro - Gás Natural 10.209 10.350 11.362 12.055 12.055 12.055 12.402 12.402 12.402 12.402 13.102
ano (2014) Carvão 1.765 2.845 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205 3.205
Óleo Combustível 3.316 3.482 4.739 8.002 8.002 8.002 8.002 8.002 8.002 8.002 8.002
Capacidade
PCHS/UHE de Itaipu % Óleo Diesel 1.197 1.395 1.395 1.395 1.395 1.395 1.048 1.048 1.048 1.048 1.048
MW
Em Operação 5.247 37,5 Gás de Processo 687 687 687 687 687 687 687 687 687 687 687
Aprovados pela ANEEL sem Financiamento 427 3,1 TOTAL (c) 116.498 121.823 130.625 138.469 143.904 151.372 156.970 162.907 167.928 173.645 182.408
Paralisados na ANEEL 1.460 10,4 Notas: Os valores da tabela indicam a potência instalada em dezembro de cada ano, considerando a motorização das UHE.
(a)Inclui a pane brasileira da UHE Itaipu (7.000 MW).
Disponível para Apresentação de Projetos 1.880 13,4 (b)Estimativa de importação da UNE Itaipu não consumida pelo sistema elétrico Paraguaio.
(c)Não considera a autoprodução, que, para os estudos energéticos, e representada como abatimento de carga. A evolução da participação da autoprodução de energia é descrita no Capítulo II.
Total 9.014 64,4 (d)Valores de capacidade instalada em dezembro de 2011, incluindo as usinas já em operaçâo comercial nos sistemas isolados.
Usina de Itaipu 14.000 100,0 Fonte: EPE, 2012.

Fonte: Dados da ANEEL

Somados os potenciais de PCHs existentes, ilustrados na tabela


anterior, há um total considerável de potência de, pelo menos, 9.000
MW, o que significa uma quantidade de potência na faixa de 65%
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 373

A grande popularidade da autoprodução de energia elétrica, nos Uma PCH pode trazer inúmeros benefícios socioeconômicos, des- A população de invertebrados no rio também será afetada pelo des-
dias de hoje, deve-se ao fato de que, em grande parte das proprie- tacando-se: vio da água, que pode reduzir suas fontes de alimento.
dades rurais, passam rios com corredeiras ou quedas de água que
podem ser aproveitados para obtenção de energia primária. Essa • geração de empregos; A ictiofauna (conjunto das espécies de peixes que existem em uma
energia é, geralmente, usada para acionamento de máquinas estacio- • aumento da participação da cota do ICMS; determinada região biogeográfica) poderá ser modificada abaixo da
nárias, geração de eletricidade e recalque de água para reservatórios • arrecadação de Impostos Sobre Serviços (ISS); represa, dentro dela e acima dela. A grande maioria das espécies de
mais elevados. Para os microaproveitamentos elétricos, podem-se • atração de indústrias; peixe de valor para o consumo humano é espécie migratória (espé-
utilizar, ainda, as rodas de água ou, dependendo da vazão ou queda • novas oportunidades de negócios; cies de piracema). Elas realizam grandes migrações de desova, além
disponível, as turbinas. • melhoramento da infraestrutura local. de migrações tróficas (migração alimentar que ocorre em direção ao
sítio de alimentação) rio acima, pelas quais o transporte dos ovos e
Impactos Ambientais Impactos sobre a Ictiofauna das larvas rio abaixo é compensado (figura a seguir).

Para elas, as barragens representam um obstáculo insuperável. De


Os principais impactos ambientais causados pelas PCHs são os forma geral, peixes migratórios dos trópicos depositam seus ovos em
mesmos das grandes centrais hidrelétricas, só que em pequena Os impactos de hidrelétricas em pequena escala em ecossistemas afluentes dos rios. As larvas desses animais e os ovos que não eclodi-
escala: aquáticos, de modo geral, podem ser pequenos e localizados, porém ram descem o rio, seguindo a correnteza, e amadurecem no caminho.
os maiores impactos potenciais incidem sobre a população de peixes, Mas, para isso, eles dependem de águas turvas e agitadas, o que as
• ocupação do solo pela formação do lago; pois as hidrelétricas criam (ou aumentam) obstáculos à sua migração. represas, em geral, não têm.
• alteração do leito original do rio;
• alteração da velocidade da água;
• alteração da qualidade da água;
• modificação sobre a fauna e flora aquática;
• vazão residual no trecho seco do rio.

Contudo, as PCHs não se utilizam de volumosas acumulações de


água. O impacto causado em sua disponibilidade pode ser assim be-
néfico ao meio ambiente, dependendo do projeto a ser considerado.

Um projeto capaz de traduzir essas alterações em benefício à na-


tureza, ao homem e ao meio ambiente traz consigo as seguintes ca-
racterísticas:

• pequenos reservatórios;
• impactos controlados;
• quedas naturais preservadas;
• assoreamento reduzido;
• criação/recuperação da APP do reservatório;
• pesquisa científica;
• resgate arqueológico;
• educação ambiental;
• regularização do regime hídrico dos rios (amortece os efeitos
mais fortes das enchentes e, em períodos de seca, fornece água
por meio dos seus reservatórios).
374 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Os peixes adultos também evitam água parada, principalmente na


viagem de volta da piracema (como é chamada a subida para a deso-
va). Para especialistas, a água parada da represa funciona como uma
barreira durante essa subida. Além da barreira imposta pela barragem,
que causa a interrupção do fluxo migratório da ictiofauna, há ainda os
impactos resultantes da diminuição da vazão do rio no trecho entre a
barragem e o canal de fuga.

Geralmente, esse trecho mantém apenas peixes de pequeno por-


te, sendo que a quantidade de animais atraídos para esse trecho de-
pende do período do ano e do volume de água vertido. Um impacto
adicional, representado pela interrupção ou diminuição acentuada do
volume vertido, pode ocasionar o aprisionamento ou mesmo a morte
de peixes atraídos para a área durante o período chuvoso.

Exploração da Mata Atlântica

Em regras gerais, existem grandes diferenças entre o Decreto n°


750/1993 e a Lei n° 11.428/2006 no que diz respeito à exploração da
vegetação. O decreto apenas determinava a observação de alguns
requisitos para a exploração seletiva das vegetações primária e secun-
dária em estágio avançado e médio de regeneração. Já a lei é muito
mais detalhista sobre esse assunto, excepcionando poucas hipóteses
para a exploração das vegetações primária e secundária em estágio
avançado e médio. O art. 20, caput, da nova lei dispõe que a vegetação
primária só pode ser suprimida em caso de utilidade pública, pesquisa
científica e prática preservacionista.

Em todas as hipóteses, o estudo de impacto ambiental e seu respec-


tivo relatório (E-A/RIMA) são essenciais. O mesmo se aplica à vegetação
secundária em estágio avançado de regeneração. Quanto à vegetação
em estágio médio de regeneração, aplicam-se os requisitos citados,
acrescentando-se apenas o interesse social como uma das exceções
à proibição de seu corte. Fragmentos florestais nesse estágio de rege-
normas a ela aplicadas serão as mesmas referentes à vegetação em es- Na nova compensação ambiental, além dos requisitos já mencio-
neração, compostos por mais de 60% de árvores nativas em relação
tágio médio de regeneração na seguinte hipótese: quando o Estado nados, a Lei n° 11.428/2006 condiciona, em seu art. 17, a supressão
às demais espécies ali existentes, podem ser suprimidos, desde que
possuir menos que 5% de sua área original de Mata Atlântica nos está- de vegetação primária e secundária nos estágios avançado e médio
respeitadas a área de preservação permanente e a destinada à reserva
gios de vegetação primária e secundária. autorizada legalmente a uma compensação ambiental. Esta se realiza
legal. Entende-se ser necessária a criação de corredores ecológicos, o
por meio de destinação de área equivalente à extensão da área des-
que pode ser prejudicado por esse dispositivo.

A vegetação secundária em estágio inicial de regeneração pode ser


explorada desde que autorizada pelo órgão estadual competente. As
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 375

matada, com as mesmas características ecológicas, na mesma bacia • a legislação ambiental (figura a seguir):
hidrográfica. Não sendo possível a compensação, em vez do cancela-
mento da autorização e da preservação do ecossistema, deve-se fazer
reposição florestal, com espécies nativas, em área equivalente à des-
Constituição
matada, na mesma bacia hidrográfica. O legislador omitiu-se quanto
Federal
à impossibilidade de reconstruir um ecossistema em bom estado de
regeneração por uma simples reposição florestal. Legislação
Estadual
Há outra compensação ambiental vigente no País determinada
pela Lei n° 9.985/2000, que criou o Sistema Nacional de Unidades de Política Nacional de
Meio Ambiente
Conservação (SNUC), também conhecida como compensação SNUC.
O art. 36, caput desta lei, prevê a compensação ambiental para os ca-
sos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significa- SUDEMA:
tivo impacto ambiental e determina que o montante de recursos a Licenciamento
serem destinados pelo empreendedor para esta finalidade não pode Resolução Resolução
ser inferior a 0,5% (meio por cento) dos custos totais previstos para a CONAMA CONAMA 237/97
001/86 Licenciamento
implementação do empreendimento. A compensação da lei da Mata
EIA-RIMA
Atlântica foi mais bem construída, sendo clara quanto à sua natureza
indenizatória e detalhista sobre como deverá ser paga, o que facilita
sua aplicação e concretização.

• o fluxograma do licenciamento ambiental (figura a seguir):


Sanções Penais
Exigido
Todo agente que gerar dano, por omissão ou por desrespeito, ao EIA e RIMA
meio ambiente será punido penalmente, em especial, pelas normas
da Lei n° 9.605/1998, a Lei de Crimes Ambientais. Isso independe de
ser o autor do ilícito pessoa física ou jurídica. Esse é um mérito do dis- Plano de Audiência Termo de EIA e
positivo, já que a Lei de Crimes Ambientais aplicar-se-ia mesmo que Trabalho Pública Referência RIMA
não houvesse essa norma específica. A explícita legitimidade dada à
pessoa jurídica para estar no polo passivo de uma ação penal ambien-
tal firma a posição do legislador sobre o assunto.
Audiência
Um novo tipo penal é inserido pelo art. 43 na Lei n° 9.605/1998, sob Pública
Licença
o n° 38-A, e afirma como crime a conduta de destruir ou danificar ve- Prévia
getação primária ou secundária, em estágio avançado ou médio de re- CONSEMA
generação, do Bioma Mata Atlântica, ou utilizá-la com infringência das Parecer
normas de proteção. A penalidade pode ser detenção, que varia de 1 Licença de Técnico
a 3 anos, multa, ou a aplicação de ambas simultaneamente. Quando o Instalação
crime for culposo, a pena será reduzida à metade.
LP
O que os agentes devem observar a esse respeito: Licença de Indeferida
Operação
376 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

• o fluxograma do controle ambiental (figura a seguir):

A redução da vazão do rio no trecho entre a barragem e o canal de


Avaliação de Mitigação dos
fuga poderá implicar na restrição do uso múltiplo da água, bem com
Diagnóstico Monitoramento dos
Ambiental Impacto Ambiental impactos ambientais impactos ambientais poderá causar a interrupção do fluxo migratório dos peixes.

Nas centrais a fio d’água, onde o desnível do trecho do curso d’água


Avaliação dos impactos é aproveitado para gerar o potencial hidráulico, ocorre o desvio da
Diagnóstico do
no meio físico. água do rio de seu leito natural, uma vez que a casa de máquinas se
meio físico a partir
do estudo da localiza afastada da barragem, sendo interligadas pelo circuito hi-
• Identificação e previsão das alterações
dinâmica de cada dráulico. A queda é proporcionada em maior parte, aproveitando-se
na dinâmica de cada forma de interação.
forma de interação a queda natural existente no rio. Nota-se uma enorme redução da área
• Avaliação de significância de cada
alteração. alagada, uma vez que a barragem, nesse caso, não tem mais a função
de agregar queda e sim permitir a captação e pequena preservação da
água para operação da central.
Mitigação Monitoramento
A alteração é
Não significativa
sim dos impactos dos impactos Como contrapontos à redução do impacto causado pela redução
no meio físico no meio físico de área, surgem novos impactos associados à formação de um Trecho
de Vazão Reduzida (TVR), compreendido entre a barragem e a casa de
Não há impacto Há impacto no força, afetando o próprio leito natural do rio e também a população
no meio físico meio físico lindeira que faz uso dessa água. A manutenção da vazão mínima nesse
(alteração é desprezível) trecho vem sendo objeto de muita discussão entre empreendedores e
órgãos ambientais, pois a vazão destinada a esse percurso é uma par-
cela que não estará disponível para a geração.
Sob a perspectiva da legislação ambiental, é importante uma am- Configurações Utilizadas Para o caso de PCHs, a Norma n° 4, “Norma de Projetos de Geração
pliação do corpo técnico dos órgãos ambientais, com isso, haveria a
diminuição do tempo de análise e elaboração dos pareceres técnicos de PCH”, no item 3, subitem 3.9, estipula que, na elaboração de estu-
referentes aos pedidos de licenciamento, o que até poderia aproximar dos e na concepção do projeto, deverá ser considerado que a vazão
os dois lados da moeda “empreendedor x órgão licenciador” e, com Partindo da concepção do arranjo da usina, cabe verificar: remanescente no curso d’água, a jusante do barramento, não poderá
isso, conseguir que o processo de licenciamento ambiental não seja ser inferior à vazão mínima média mensal calculada com base nas ob-
um empecilho à implantação de empreendimentos e sim uma forma • se o projeto apresenta trecho curto-circuitado ou não; servações anuais no local previsto para o barramento, de acordo com
de viabilizá-los de forma ambientalmente mais correta. • o regime de operação da PCH e se ela necessita estocar água para o Manual de PCH – Eletrobras/DNAEE (Mortari, 1997).
gerar energia ou não.
Estimularia, também, que os empreendimentos não licenciados O canal de fuga é o canal situado na seção imediatamente a jusante
procurassem os órgãos ambientais para regularização ambiental. Im- Essas características irão se relacionar com a disponibilidade de da PCH, entre a casa de força e o rio, por meio do qual a vazão turbina-
portante também é a exigência de cumprimento integral da Avaliação água e, no caso da dupla negativa, o empreendimento não deverá da é restituída ao rio. A sua elevação é de extrema importância, pois
Ambiental Integrada, instrumento que pode ser muito eficaz, visto que comprometer a quantidade de água no leito natural da corredeira. é um dos fatores que influenciam a queda bruta, que é considerada
a construção de uma hidrelétrica não afeta apenas, de forma pontual, para o cálculo da potência gerada. A alteração do fluxo da água, tal
o local onde é construída, e sim toda a bacia hidrográfica e os agentes como alargamento do leito do rio e redução da corrente, pode condu-
que a compõem, principalmente bacias de relevância ambiental. zir à redução ou substituição de espécies nativas de peixes. Os arranjos
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 377

que causam uma redução na vazão têm o potencial de afetar a con- de hábitat naturais, mas resultará em um hábitat novo que pode atrair
centração dos poluentes transportados pela água e dos organismos outro tipo de fauna. As represas e os açudes pequenos têm outros efei-
patogênicos. tos benéficos na ecologia, incluindo fluxo mais lento.

A ecologia de uma área também pode ser afetada permanente- A vazão defluente de uma usina hidrelétrica é composta por duas
mente pelo estabelecimento do reservatório, que pode inundar áreas parcelas: a vazão turbinada e a vazão vertida. A vazão turbinada é
378 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Importância das PCHs na As PCHs de acumulação com regularização diária do reservatório Essas três ações evoluem a partir de um nível bastante complexo
Regularização da Vazão do Rio são empregadas quando as vazões de estiagem do rio são inferiores para um mais simplificado. Mesmo assim, com relação à comparação
à necessária para fornecer a potência para suprir a demanda máxima sugerida na primeira delas, por mais complexa que seja, é possível de-
do mercado consumidor e ocorrem com risco superior ao adotado no senvolvê-la, devendo-se, para isso, buscar elementos a partir do con-
projeto. Nesse caso, o reservatório fornece o adicional necessário de texto da bacia hidrográfica e seus habitantes.
Quanto à capacidade de regularização do reservatório, os tipos vazão regularizada.
de PCHs são: a fio d’água; de acumulação, com regularização diária Para que não existam problemas com a circulação dos peixes, quan-
do reservatório; e de acumulação, com regularização mensal do re- Por fim, as PCHs de acumulação com regularização mensal do re- do se tratar de uma intervenção antrópica, deveria ser associado ao
servatório. servatório consistem em um projeto que considera dados de vazões conceito de PCH uma exigência legal clara quanto às grades nas bocas
médias mensais no seu dimensionamento energético, analisando as de tomada d’água.
As PCHs de fio d’água são empregadas quando as vazões de estia- vazões de estiagem médias mensais. Pressupõe-se uma regularização
gem do rio são iguais ou maiores que a descarga necessária à potência mensal das vazões médias diárias, promovida pelo reservatório. A partir de uma concepção-padrão de projeto de PCH, com baixo
a ser instalada para atender à demanda máxima prevista. Nesse caso, potencial impactante, sugere-se a padronização ou uniformidade do
despreza-se o volume do reservatório criado pela barragem. O siste- Com relação à agressão ambiental, esta se origina na demanda da processo de licenciamento ambiental, com consequente encurtamen-
ma de adução deve ser projetado para conduzir a descarga necessária água para outros usos conflitivos e na relevância ecológica do trecho to dos prazos para emissão das licenças.
para fornecer a potência que atenda à demanda máxima. impactado. A partir da existência desses fatores, cabe tentar tomar me-
didas para minimizar os efeitos nocivos. Usinas Reversíveis
O aproveitamento energético local é parcial e o vertedouro funcio-
na na quase totalidade do tempo, extravasando o excesso de água. Entre as medidas mitigatórias, está a construção de uma barragem
Esse tipo de PCH apresenta, entre outras, as seguintes simplificações: para peixes, que é uma medida de eficácia duvidosa. Outra medida As usinas reversíveis tiveram as suas origens na Suíça e na Itália, com
dispensa estudos de regularização de vazões e de sazonalidade da que pode atenuar os problemas é a determinação de uma vazão re- a finalidade de armazenarem o excedente de energia produzido no
carga elétrica do consumidor e facilita os estudos e a concepção da manescente que deve permanecer no leito original da corredeira, pos- período noturno, especialmente na madrugada. Atualmente, no mun-
tomada d’água (figura a seguir). sibilitando a captação de água para outros usos e/ou mantendo um do, há 127 mil MW instalados.
nicho ecológico significativo.
As usinas reversíveis utilizam turbina-bomba e normalmente pos-
regularização de vazões Contudo, entre as medidas possíveis de serem tomadas, está o pla- suem um reservatório maior a montante e outro menor a jusante da
nejamento, que deve apresentar melhores resultados do ponto de casa de força. Elas operam nos horários de maior consumo de energia,
vista ambiental. O planejamento deve ser formulado de acordo com turbinando água do reservatório superior para o reservatório inferior.
Qi
interesses locais, a partir de uma visão regional (no âmbito da bacia
hidrográfica), devendo buscar: Nos horários de menor consumo de energia, funcionam bombean-
Qr do parte da água turbinada de volta para o reservatório superior para
Vagão

• valorar e comparar economicamente os impactos ambientais quando for novamente necessária água turbinada.
frente à oferta de energia;
No Brasil, há duas usinas hidrelétricas reversíveis: a Usina Traição
J F M A M J J A S O N D
• escolher o local de inserção mais adequado; com 22 MW, capacidade de bombear 280 m3/s a 5 mca (mca = metros
Mês
de coluna d’água), dotada de turbinas Kaplans; e a Usina Pedreiras com
• definir o regime de operação ótimo, visando o uso final da 108 MW, capacidade de bombear 395 m3/s a 25 mca, dotada de turbi-
Na figura, no período entre abril e setembro, as vazões naturais (Qi) nas Francis, ambas no Rio Pinheiros em São Paulo.
são menores que a vazão regularizada (Qr). Nesse caso, há necessida- energia.
de de armazenar água para atender à vazão regularizada no período
mencionado.
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 379

Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs)


Reserva estratégica
Hidrelétricas reversíveis dispõem de dois
reservatórios para reusar a água na geração de Aproveitamentos dispensados de concessão ou autorização, devendo apenas ser comunicado ao poder
energia e produzir mais eletricidade concedente, para fins de registro, nos termos do art. 8° da Lei nº 9.074/1995, alterado pela Lei n° 13.097/2015
(figura a seguir).

Reservatório superior:
a água desce do lago
e passa pelas turbinas
para gerar eletricidade.
Casa de máquinas
subterrânea
Modo de geração
elétrica

A exemplo das PCHs, as Centrais Geradoras Hidrelétricas (CGHs) também são geradoras de energia que
utilizam o potencial hidrelétrico para sua produção. A diferença é que as CGHs são ainda menores, tanto em
termos de tamanho como de potência. De acordo com a classificação da ANEEL, esses empreendimentos
podem ter o potencial de gerar até 3 MW de energia (Lei n° 13.097, de 19 de janeiro de 2015).

Modo de Com essa ampliação, os empreendimentos que tenham até 3 MW de potência passam a ser classificados
bombeamento
como CGHs e não mais como PCHs. Com isso, respondem também à regulamentação específica dessa cate-
Reservatório
inferior: Em goria. Uma das simplificações decorrentes disso diz respeito às autorizações: as CGHs podem gerar energia
momentos de sem a necessidade de autorização ou concessão do poder público.
menor consumo
de energia, a água
é bombeada para O Brasil conta com 505 unidades de CGHs instaladas em todo seu território, que representam 340 MW de
Turbinas e bombas:
o reservatório as turbinas reversíveis potência instalada. Com essa abrangência, essas centrais geram 0,25% do total da matriz energética do País.
superior para têm a dupla função A ANEEL já autorizou a construção de 68 novas centrais.
ser reusada de gerar eletricidade e
na geração de de bombear água de
eletricidade. um reservatório para o Minas Gerais é o estado que possui o maior número de CGH em operação, com 126 empreendimentos,
outro. seguido de Santa Catarina, com 116, e Rio Grande do Sul, com 47 unidades e 32 MW instalados.

Os aproveitamentos de potenciais hidráulicos de até 3 MW independem de concessão ou autorização,


porém devem ser comunicados ao órgão regulador e fiscalizador do poder concedente para fins de regis-
tro. Esse processo de registro é gratuito, porém não isenta o empreendedor das responsabilidades ambien-
tais e de recursos hídricos.
380 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Dependendo das peculiaridades (localização, obras civis, área de


influência, etc.) do projeto e da estrutura técnica disponível, o proces-
so de licenciamento ambiental envolverá órgãos das três esferas da
administração pública (federal, estadual e municipal).
Canal de
Os aproveitamentos de CGH podem comercializar energia elétrica Adução Barragem
com consumidor ou conjunto de consumidores reunidos por comu-
nhão de interesses de fato ou de direito, cuja carga seja maior ou igual
a 500 kW, observados determinados requisitos. Área
Inundada
A política governamental prevê, para os interessados em explorar
o potencial hidráulico das CGHs, descontos de, no mínimo, 50% nas
tarifas de uso dos sistemas elétricos de transmissão e distribuição.

Microcentrais hidrelétricas Casa de Rio (trecho de


Força vazão reduzida)

As microcentrais hidrelétricas têm a habilidade de produzir energia


suficiente para atender às necessidades básicas de um domicílio rural
mesmo em pequenos potenciais hidráulicos.
Rio
Micro e minigeração distribuída:

• potência limitada a 100 kW na minigeração distribuída;

• potência entre 100 kW e 1 MW no caso de minigeração


distribuída;

• possibilidade de compensação entre geração e consumo direto


com a distribuidora. Frente a esse cenário, a racional implantação de microcentrais hi- • uma queda d’água de um córrego, rio ou igarapé é uma fonte
drelétricas tornou-se uma alternativa plausível para as comunidades hidroenergética natural, renovável e gratuita. Essa energia pode
A figura a seguir mostra projeto de instalação de microcentrais hi- rurais à medida que oferece condições técnico-econômicas aliadas ser transformada e reaproveitada em forma de eletricidade, re-
drelétricas. às novas tecnologias das unidades geradoras, sem contar que hoje duzindo significativamente os custos de uma propriedade;
a realidade, em função da alta demanda e da escassez energética do
Apesar do esforço que o Governo tem feito para levar energia elé- planeta, é muito mais complexa do que se pode imaginar. • a energia cinético-hidráulica derivada dessa queda é convertida
trica no campo por meio de sistemas interligados, ainda assim, em em energia mecânica por meio de uma turbina hidráulica, que,
muitas localidades, isso é inviável, pois problemas como grandes Os pequenos aproveitamentos hídricos voltaram a receber subs- por sua vez, converte-a em energia elétrica por um gerador, sen-
extensões de redes convencionais, sistemas de geração descentrali- tancial atenção por parte dos órgãos federais. do essa energia transportada por sistemas de subtransmissão
zados, redes isoladas ou sistemas individuais culminam na inviabiliza- ou distribuição de energia;
ção de tais projetos. Como funcionam as microcentrais hidrelétricas:
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 381

• as microcentrais hidrelétricas podem fornecer energia elétrica Em 2014, existiam vários projetos de PCHs no Rio Grande do Sul • PCH Serra dos Cavalinhos1 – 25 MW – licença de instalação
para sítios, fazendas, comunidades rurais ou agroindústrias. Em com registros de outorga aceitos na ANEEL, mas vários foram revo- em 2014;
suma, podem possuir várias concepções técnicas; gados em virtude de indeferimentos de licenças de instalação. Isso • PCH Santa Carolina – 10,5 MW – licença de instalação em 2015.
fez com que aproximadamente 14 projetos no RS fossem revogados.
• as turbinas de ação (rodas PELTON) são as recomendadas para Apenas um conseguiu a licença de instalação em 2014 e outro em Outras situações:
as microcentrais hidrelétricas, por se tratarem de tecnologia do- 2015, conforme mostram dados do Banco de Informações de Gera-
minada e já empregada em muitos empreendimentos; ção (BIG) da ANEEL. • PCH Cazuza Ferreira – 9,1 MW – licença de instalação em 2010
(anterior a 2014).
• a configuração das microcentrais hidrelétricas é a fio d’água, não Em grandes números havia, em 2014, algo em torno de 790 MWx • Licenças indeferidas (Linha Jacinto e Linha Aparecida).
necessitando de reservatório para armazenar água; de PCH disponível para ser implantada no RS. Se forem considerados • Aguardando licença de instalação (Jardim e Morro Grande).
os valores médios de mercado para implantar uma PCH, que seriam
• as microcentrais hidrelétricas são compostas de canal de adu- R$ 5 a 7 milhões por MW instalado, ter-se-iam R$ 3,9 a 5,5 bilhões de Contudo, existem cinco projetos de PCHs já outorgados, que já par-
ção, grades de retenção, comporta, câmara de carga, tubulação investimentos. E, posteriormente, ter-se-ia algo em torno de R$ 200 ticiparam de Leilões em 2014 e 2015 e estão com 100% da energia
forçada ou Penstock, casa de máquinas (ou de força) e linhas de milhões/anuais, em retorno de ICMS. vendida. Quatro delas estão com as obras não iniciadas aguardando
subtransmissão e distribuição. licença de instalação da FEPAM-RS. A tabela a seguir mostra as PCHs
Efetivamente, no período de janeiro de 2014 a abril de 2015, so- nos leilões.
PCHs no Rio Grande do Sul mente dois projetos de PCHs obtiveram licença de instalação emitida
pela FEPAM-RS, são eles:

O Estado do Rio Grande do Sul tem vocação para o setor por sua Data de realização Tipo de Leilão Vendedor Empreendimento Rio Investimento Potência
peculiar formação de relevo, com vastas regiões de morros, o que do leilão (R$) (MW)
normalmente resulta em vales bem encaixados, facilitando a implan- 13/12/13 Energia Nova Coogervaapa Linha Aparecida Rio da Várzea 134.476.550,00 24,9
tação dos empreendimentos hidrelétricos e evitando grandes áreas 13/12/13 Energia Nova Coogervajac Linha Jacinto Rio da Várzea 101.616.060,00 17,4
alagáveis. 13/12/13 Energia Nova Jardim Jardim Turvo 35.437.000,00 9,0
13/12/13 Energia Nova Morro Grande Morro Grande Ituim 27.096.000,00 9,8
Contudo, não é atraente, uma vez que sua política ambiental não
30/04/15 Energia Nova Serra dos Cavalinhos I Energética S.A. Serra dos Cavalinhos I Rio das Antas 219.620.880,00 25,0
está alinhada o suficiente para a atração desse tipo de empreendi-
Fonte: CCEE
mento.
A tabela a seguir mostra as usinas do tipo PCH em operação.
Capacidade
Situação das PCHS no RS Número %
em MW Data Potência (kW)
Usina Município Rio
Em Operação 50 559 41,4% Operação Outorgada

Em Construção 3 45 3,3% Buricá - 1.360 Indepedência – RS Inhacorá – RS Buricá


Construção não Iniciada 14 220 16,3% Capigui - 3.760 Passo Fundo – RS Cacequi
Projetos com Aceite da ANEEL 76 525 39,0%
Colorado - 1.120 Tapera – RS Puitã
TOTAL 143 1349 100%
Cotovelo do Jacuí 14/05/2001 3.340 Victor Graeff – RS Jacuí
Fonte: ANEEL
Ernestina - 4.800 Ernestina – RS Jacuí
Obs.:
• Em construção: venceram leilões; Forquilha - 1.000 Maximiliano de Almeida – RS Forquilha
• Construção não iniciada: com suspensão por inviabilidade am- Furnas do Segredo 16/09/2005 9.800 Jaguari – RS Jaguari
biental ou impasses judiciais;
• Projetos aceitos na ANEEL: outorga. Guarita - 1.760 Erval Seco - RS Guarita
(CONTINUA)
382 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

(CONTINUAÇÃO)

Data Potência (kW)


Usina Município Rio
Operação Outorgada

Herval 1.440 Santa Maria do Herval – RS Cadeia

Ijuizinho - 3.600 Entre-Ijuís – RS Ijuizinho

Mata Cobra - 2.880 Carazinho – RS Rio da Várzea

Passo do Inferno - 1.332 São Francisco de Paula – RS Santa Cruz

Passo do Meio 17/10/2003 30.000 Bom Jesus – RS São Francisco de Paula – RS Rio das Antas

Santa Rosa 01/01/1955 1.400 Três de Maio – RS Santa Rosa

Ijuizinho - 1.000 Eugênio de Castro – RS Ijuizinho

Salto Forqueta 03/03/2003 6.124 Putinga – RS São José do Herval – RS Foqueta

Linha Emília 31/01/2009 19.500 Dois Lajeados – RS Carreiro

Cotiporã 23/12/2008 19.500 Cotiporã – RS Carreiro

Caçador 31/10/2008 22.500 Nova Bassano – RS Serafina Corrêa – RS Carreiro

Ferradura 31/12/2003 9.200 Erval Seco – RS Redentora – RS Guarita

Carlos Gonzatto 01/04/2006 9.000 Campo Novo – RS Turvo

José Barasuol (Antiga Linha 3 Leste) 31/12/2003 14.335 Ijuí – RS Ijuí

Esmeralda 23/12/2006 22.200 Barracão – RS Pinhal – RS Bernardo do José

São Bernardo 05/08/2006 15.000 Barracão – RS Esmeralda – RS Bernardo do José

Jararaca 15/04/2008 28.000 Nova Roma do Sul – RS Veranópolis – RS Prata

Da Ilha 15/04/2008 26.000 Antôno Prado – RS Veranópolis – RS Prata

Marco Baldo 20/05/2011 16.550 Braga – RS Campo Novo – RS Turvo

Ouro 08/07/2009 16.000 Barracão – RS Marmeleiro

Braga – RS
Toca do Tigre 23/02/2013 11.840,30 Turvo
Campo Novo – RS

Pezzi 31/10/2012 19.000 Bom Jesus – RS Jaquirana – RS Antas

Caxias do Sul – RS
Palanquinho 13/07/2010 24.165 Lajeado Grande
São Francisco de Paula – RS

Caxias do Sul – RS
Criúva 12/05/2010 23.949 Lajeado Grande
São Francisco de Paula – RS
(CONTINUA)
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 383

(CONTINUAÇÃO)

Data Potência (kW)


Usina Município Rio
Operação Outorgada

Santo Antônio 30/09/2005 4.500 Santa Rosa – RS Três de Maio – RS Santa Rosa

Boa Fé 20/10/2011 24.000 Nova Bassano – RS Serafina Corrêa – RS Carreiro

São Paulo 28/04/2012 16.000 Guaporé – RS Nova Bassano – RS Carreiro

Autódromo 18/11/2011 24.000 Guaporé – RS Vista Alegre do Prata – RS Carreiro

Rio São Marcos 31/12/2004 2.200 Caxias do Sul – RS São Marcos – RS São Marcos

Engenheiro Ernesto Jorge Dreher 03/10/2009 17.870 Júlio de Castilhos – RS Salto do Jacuí - RS Ivaí

Engenheiro Henrique Kotzian 05/03/2011 13.000 Júlio de Castilhos – RS Salto do Jacuí – RS Ivaí

Albano Machado 11/02/2011 3.000 Nonoai – RS Trindade do Sul – RS Lajeado do Lobo

Galópolis 18/02/2009 1.500 Caxias do Sul – RS Arroio Pinhal

Moinho 17/09/2011 13.700 Barracão – RS Pinhal – RS Bernardo do José

Rio dos Índios 04/05/2013 8.000 Nonoai – RS Dos Índios

Tambaú 28/03/2013 8.806 Erval Seco – RS Redentora – RS Guarita

Rastro de Auto 29/06/2013 7.020 Putinga – RS São José do Herval – RS Forqueta

Monte Alegre dos Campos – RS São Francisco de


Serra dos Cavalinhos II 23/02/2013 29.000 Rio das Antas
Paula – RS

Abranjo I 01/05/2014 4.860 Encruzilhada do Sul – RS Abranjo

Morrinhos 20/11/2014 2.250 Barão do Triunfo – RS São Jerônimo – RS Arroio das Cachorras

RS-155 21/08/2012 5.982 Ijuí – RS Das Ijuí

Bela União (Trincheira) 10/04/2015 2.250 Santa Rosa – RS Três de Maio – RS Santa Rosa

Potência Total: 559.393,30 kW


384 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

A tabela a seguir mostra as usinas do tipo PCH em construção. Cabe ainda salientar que no Rio Grande do Sul existem 47 usinas do tipo CGH, totalizando 31.037 MW
(Balanço Energético do Rio Grande do Sul 2013 – ano-base 2012).
Data Potência (kW)
Usina Município Rio
Operação Outorgada No caso do Rio Grande do Sul em específico, a Secretaria de Minas e Energia do Estado, por meio do
Cazuza Ferreira 9.102 São Francisco de Paula -RS Lajeado Grande assim denominado PEE, tem incentivado essa modalidade de empreendimento com programas especiais
André da Rocha -RS para o setor, além do estímulo à reativação de PCHs antigas e da repotenciação das existentes.
Santa Carolina 10.500 Turvo
Muitos Capões - RS
Monte Alegre dos Campos - RS
Serra dos Cavalinhos I 25.000
São Francisco de Paula - RS
Rio das Antas bacias e sub-bacias hidrográficas           
Potência Total: 44.602 kW
do rio grande do sul - 2009
Fonte: ANEEL

13 21
12 Erechim
A tabela a seguir mostra as usinas do tipo PCH com construção não iniciada. Sub-bacia hdirográfica
Santa Rosa
11
1 - Negro
2 - Camaquã 15 20
Data Potência(kW) 3 - Quaraí Cruz Alta
Passo Fundo
Usina Município Rio 22
Operação Outorgada 4 - Santa Maria 14 19
5 - Gravataí
Caxias do Sul
Monte Cuco 30.000 Anta Gorda - RS Guaporé - RS Guaporé 6 - Vacacaí - Vacacai Mirim
7 - Sinos 8 16
9
Quebrada Funda 16.000 Bom Jesus - RS Jaquirana - RS Antas 8 - Caí 10 Santa Maria Santa Cruz 7 25
9 - Pardo Uruguaiana do Sul
Primavera do Rio Turvo 30.000 Ipê - RS Protásio Alves - RS Turvo 10 - Ibicuí Porto Alegre 5
11- Apuê - Inhandava 6 18
Cerro Grande - RS 3 23
12 - Passo Fundo
Linha Aparecida 25.406,91 Liberato Salzano -RS Várzea 13 - Turvo - Santa Rosa - Santo Cisso 4
Novo Tiradentes -RS 14 - Butuí - Icamaquã
15 - Piratini 2
Liberato Salzano - RS 16 - Mampituba Bagé 24
Linha Jacinto 17.801,04 Várzea 17 - Mirim - São Gonçalves 1
Rodeio Bonito - RS 18 - Baixo Jacuí Pelotas
19 - Alto Jacuí 17
Jardim 9.000 André da Rocha-RS Turvo 20 - Iguí
21 - Várzea Rio Grande
Morro Grande 9.800 Muitos Capões - RS Ituim Bacia hdirográfica
22 - Taquari - Antas
Guaíba
Bela Vista 5.500 Vacaria-RS Socorro 23 - Lago Guaíba
24 - Litoral Médio Litorânea
Quevedos - RS 25 - Tramandaí Uruguai
Rincão São Miguel 9.750 Toropi
São Martinho da Serra - RS
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
Cachoeira Cinco Quevedos - RS
16.453 Toropi
Veados São Martinho - RS
Júlio de Castilios - RS
Quebra Dentes 22.360 Toropi Duas ferramentas importantíssimas são o zoneamento prévio e a solicitação de uma autorização
Quevedos -RS
prévia junto ao órgão ambiental, pois isso evita gastos desnecessários e investimentos iniciais mal-
Júlio de Castilhos - RS
Salto Guassupi 12.199
São Martinho da Serra - RS
Guassupi -sucedidos. Tal acompanhamento também está previsto no PEE, pois hoje existem muitos potenciais
investidores. Das 25 bacias hidrográficas existentes, somente três estão devidamente inventariadas
Rincão 10.000 Entre-Ijuís - RS Ijuizinho
na ANEEL.
Touros IV 5.750 Bom Jesus - RS Touros
Potência Total: 220.019,95 kW • Ijuí - Capacidade inventariada 396,90 MW;
Fonte: ANEEL • Taquari-Antas - Capacidade inventariada 1.093,20 MW;
• Alto e Baixo Jacuí - Capacidade inventariada 1.551,85 MW.
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 385

Principais estudos em fase de avaliação/apro-


vação de inventário na ANEEL:
Várzea
• Bacia do Rio Apuaê-Inhandava: 108,8 MW; Passo
Turvo - Santa Rosa Fundo
• Bacia do Rio Pardo: 54,65 MW;
Santo Cristo Apuaê - Inhandava
• Bacia do Rio Camaquã: 94 MW.

Serão abordadas a seguir as principais bacias Piratini Ijuí


hidrográficas do Rio Grande do Sul, bem como
os principais rios cujos potenciais hidrelétricos Butui - Icampaquã Alto Jacuí
ainda não foram explorados.
Taquari - Antas Mampituba
Bacias e Sub-bacias
Caí
hidrográficas do RS Pardo
Ibicuí Sinos

O Rio Grande do Sul é um dos estados brasilei- Vacacaí - Gravataí Tramandaí


ros com maior disponibilidade de águas super- Vacacaí Mirim Lago
ficiais. Seu território é drenado por uma densa Quaraí Baixo Jacui Guaíba
malha hidrográfica superficial e conta com três
grandes bacias coletoras: a Bacia do Uruguai, a
do Guaíba e a Litorânea. A Bacia do Uruguai faz Santa Maria
parte da Bacia do Rio da Prata e abrange em tor- Camaquã
no de 61% da área total do Estado; a Bacia do
Guaíba abrange 29%; e a Bacia Litorânea abran- Litoral Médio
Negro
ge 13% do total (mapa a seguir).

O uso do solo da Bacia do Uruguai está vin-


culado principalmente às atividades agrícolas, Mirim - São Gonçalo
pecuárias e agroindustriais. A Bacia do Guaíba
apresenta áreas de grande concentração indus-
trial e urbana, sendo a mais densamente povoa-
da do Estado, além de sediar o maior número de
atividades diversificadas, incluindo as atividades
Região hidrográfica do Guaíba
agrícolas, pecuárias, agroindustriais, industriais,
comerciais e de serviços. A Bacia Litorânea apre- Região hidrográfica do Litoral
senta usos do solo predominantemente vincula-
dos às atividades agropecuárias, agroindustriais Região hidrográfica do Uruguai Inventário Hidrelétrico     
e industriais. da Bacia do Jacuí
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético

Na Bacia do Jacuí, o Rio Jacuí é um dos principais e possui como


importantes contribuintes os rios: Vacacaí-Mirim, Jacuí Mirim, Vacacaí,
Pardo, Taquari e Jacuizinho.
386 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

aproveitamento hidrelétrico - rio jacuí A Bacia do Jacuí possui uma área de drenagem de 71.600 km2. A
precipitação média anual atinge 1.600 mm nas zonas do curso prin-
cipal do Rio Jacuí até a foz do Rio Jacuizinho, com uma vazão média
na foz da ordem de 1.900 m3/s. O valor mais baixo de precipitação fica
em torno de 1.200 mm por ano nas zonas entre Dona Francisca e o
Rio Taquari (figura a seguir).

UHE Ernestina A Bacia do Jacuí distribui-se ao longo de 65 municípios, sendo que


36 são banhados pelo Alto Jacuí, no Planalto Médio, e 29 pelo Baixo
Jacuí, nas regiões de depressão central e encosta inferior nordeste.
UHE Passo Real
Na região, existe um potencial energético instalado de 971,2 MW
proveniente de quatro usinas hidrelétricas (Jacuí, Passo Real, Itaúba e
Dona Francisca) e duas pequenas hidrelétricas (Ernestina e Cotovelo
UHE Passo Real Jacuí). Contudo, o total inventariado, situação em março de 2003, é de
aproximadamente 1.045,75 MW. Considerando ainda o valor estima-
do de 516,1 MW, que totaliza 1.561,85 MW .

UHE Jacuí

UHE Itaúba

UHE Dona Francisca

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 387

Inventário Hidrelétrico      No Brasil, seus principais afluentes são os rios: Canoas, Pelotas, Pas- Na parte brasileira da Bacia, além de algumas PCHs, os aprovei-
da Bacia do Uruguai so Fundo, Chapecó, Ijuí, Ibicuí e Quaraí. Na Argentina, integram-se na tamentos de porte existentes são as UHEs Passo Fundo, Ita, Macha-
Bacia do Rio Uruguai os Rios Aguapey, Miriñiay e Gualeguaychu; e no dinho, Quebra-Queixo, Barra Grande e Campos Novos. Mais recen-
Uruguai os Rios Daymán Quequay e Negro. temente, entraram em operação: Foz do Chapecó no Rio Uruguai;
A Bacia do Uruguai estende-se entre os paralelos de 27° e 34° Lati- Monjolinho no Rio Passo Fundo. Está prevista também a implantação
tude Sul e os meridianos de 49°30’ e 58°15’ W. Abrange uma área de de Pai Querê, no Rio Pelotas.
aproximadamente 384.000 km2, dos quais 174.494 km2 situam-se no
Brasil, equivalente a 2% do território brasileiro. Sua porção brasileira
encontra-se na Região Sul, compreendendo 46.000 km2 do estado de Tiradentes
Santa Catarina. No Estado do Rio Grande do Sul, é delimitada ao Nor- Doutor do Sul
deste pela Serra Geral, ao Sul pela fronteira com a República Oriental Maurício
Municípios Cardoso Derrubados
do Uruguai, a Leste pela Depressão Central Riograndense e a Oeste gaúchos que terão Porto
pela Argentina. terras inundadas Machado Esperança
Porto do Sul
Mauá
O Rio Uruguai possui 2.200 km de extensão, originando-se da con-
fluência dos Rios Pelotas e do Peixe, onde divide os estados do Rio PANAMBI Crissiumal
Grande do Sul e Santa Catarina. Delimita a fronteira entre o Brasil e a
Argentina após a sua confluência com o Rio Peperi-Guaçu e, depois
de receber a afluência do Rio Quaraí, que limita o Brasil e o Uruguai, Alecrim Tucunduva
marca a fronteira entre a Argentina e o Uruguai até sua foz. Possui Porto
Vera Cruz Tuparendi
uma vazão média anual de 3.600 m3/s e o volume médio de 114 km3
Santo
de água.
GARABI ARGENTINA
Cristo PARQUE ESTADUAL DO TURVO
Porto
Porto Lucena
Xavier
RS
Pirapó Roque
Gonzales
São
Garruchos Nicolau

20 km

Santo Antônio
das Missões

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


388 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Além dos aproveitamentos mencionados, cabe considerar o Com- Os principais cursos de água são o Rio das Antas, Rio Tainhas, Rio agroindústria e à dessedentação de animais. A Bacia do Taquari-Antas
plexo Hidrelétrico (Garabi e Panambi) localizado no Rio Uruguai, Lajeado Grande, Rio Humatã, Rio Carreiro, Rio Guaporé, Rio Forqueta, abrange parte dos Campos de Cima da Serra e Região do Vale do Ta-
trecho internacional com potência de 2.200 MW, com área total de Rio Forquetinha e Rio Taquari. O Rio Taquari-Antas tem suas nascentes quari, com predomínio de agropecuária, e a região colonial da Serra
alagamento de 730 km2 e investimentos de US$ 2,8 bilhões, incluído em São José dos Ausentes e desembocadura no Rio Jacuí. A captação Gaúcha, caracterizada por intensa atividade industrial. A figura a se-
na segunda etapa do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O de água na bacia destina-se à irrigação, ao abastecimento público, à guir mostra a Bacia do Rio Taquari-Antas.
barramento da hidrelétrica de Garabi tem cota de 89 m, localização
no km 863 do Rio Uruguai, e o barramento da hidrelétrica de Panambi
tem cota de 130 m localizado no km 1.016 do rio.

Inventário Hidrelétrico     
da Bacia do Rio Taquari-Antas Altitude (m)
0
Rio Guaporé Rio Carreiro
A Bacia hidrográfica Taquari-Antas está localizada a Nordeste do 75
Estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas de Rio da Prata
150
28°10’ a 29°57’ de Latitude Sul, e 49°56’ a 52°38’ de Longitude Oeste.
225
Abrange as províncias geomorfológicas do planalto meridional e
Rio das Antas 300
depressão central. Possui área de 26.491,82 km², abrangendo muni-
cípios como Antônio Prado, Veranópolis, Bento Gonçalves, Cambará 375
do Sul, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Estrela e Triunfo, com população
450
estimada de 1.207.640 habitantes. Rio Forqueta
525
600
675
750
825
Rio Tainhas
900
975
1.050
1.125

Rio Taquari n 1.200

50 km

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 389

O mapa a seguir mostra os municípios inseridos na bacia hidrográfica do Sistema Taquari-Antas.

Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


390 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Os principais empreendimentos implantados na Bacia hidrográfica Taquari-Antas pertencem à Compa- Identificação do Aproveitamento Características Energéticas
nhia Energética Rio das Antas (Ceran), que é a empresa responsável pela construção e operação do Com-
Potência Potência Energia
plexo Energético Rio das Antas, situado na Região Nordeste do Rio Grande do Sul. O Complexo é formado Nome do Nome do
Municípios Firme MW Instalada Firme
pelas usinas hidrelétricas Monte Claro (130 MW), Castro Alves (130 MW) e 14 de Julho (100 MW). Rio Aproveitamento
méd (MW) (MWh)

A Ceran tem como acionistas a Geração de Energia S.A. (CPFL – 65%), a Companhia de Geração e Trans- Bento Gonçalves e
Antas Monte Claro 57,90 130,00 455.094
Veranópolis
missão de Energia Elétrica (CEEE-GT – 30%) e a Desenvix (5%), organizações com forte reconhecimento e
credibilidade no mercado nacional. Nova Roma do Sul e
Antas Castro Alves 51,60 120,00 421.296
Nova Pádua
O empreendimento agrega 360 MW de potência ao SIN. Essa potência é equivalente ao consumo dos
Muçum, Roca Sales
sete municípios da área de influência do Complexo: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Cotiporã, Flores da Antas Muçum 49,40 112,00 388.284
e Santa Tereza
Cunha, Nova Pádua, Nova Roma do Sul e Veranópolis, além de Carlos Barbosa, Caxias do Sul e Farroupilha.
A energia assegurada pelas três usinas é suficiente para atender a 630 mil famílias, com consumo médio Bento Gonçalves e
Antas 14 de Julho 42,40 98,00 333.264
residencial de 200 kWh/mês. Cotiporã

São Marcos e
A concessão para exploração do potencial energético, por 35 anos, foi objeto do Decreto de Outorga Antas São Marcos 27,40 57,00 215.364
Antônio Prado
datado de 19 de fevereiro de 2001, publicado no Diário Oficial da União em 20 de fevereiro do mesmo ano.
Caxias do Sul e
O Contrato de Concessão que regula as condições para exploração dos aproveitamentos foi assinado em Antas São Manoel 23,90 51,00 187.854
Campestre da Serra
15 de março de 2001, estabelecendo à Ceran a condição de Concessionária de Produção Independente de
Energia Elétrica e atribuindo-lhe todas as prerrogativas, direitos e obrigações pertinentes, nos termos da Antas
Serra dos Jaquirana e Bom
21,90 45,00 172.134
legislação federal em vigor. Cavalinhos Jesus

Antônio Prado e
A tabela a seguir mostra inventário hidrelétrico da Bacia Rio Taquari-Antas (situação em 2013/base 2012). Rio Prata Jararaca 17,20 41,00 135.192
Veranópolis

Antônio Prado e
Rio Turvo Primavera 15,40 36,00 121.044
Protásio Alves

Vacaria e São
Antas Espigão Preto 16,40 34,00 128.904
Francisco de Paula

Antônio Prado e
Rio Prata Da Ilha 15,50 32,00 121.830
Veranópolis

Bom Jesus e São F.


Antas Passo do Meio 14,50 30,00 113.920
de Paula

Guaporé Monte Cuco Anta Gorda 10,80 19,70 84.888

Guaporé Paraíso Anta Gorda 10,70 19,50 84.102

Ituim Saltinho Vacaria 10,30 19,50 80.958

São Marcos e Caxias


Antas São José 10,30 17,90 80.958
do Sul

Antas São Bernardo São Marcos 9,50 16,00 74.620


CONTINUA
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 391

CONTINUAÇÃO CONTINUAÇÃO

Identificação do Aproveitamento Características Energéticas Identificação do Aproveitamento Características Energéticas


Potência Potência Energia Potência Potência Energia
Nome do Nome do Nome do Nome do
Municípios Firme MW Instalada Firme Municípios Firme MW Instalada Firme
Rio Aproveitamento Rio Aproveitamento
méd (MW) (MWh) méd (MW) (MWh)
Casca e Nova Lageado
Carreiro Caçador 8,50 15,60 64.810 Criúva Jaquirana 2,10 2,90 16.506
Bassano Grande

Antas Pezzi Bom Jesus 9,20 15,60 72.312 Lagoa Vermelha e


Santa Rita Boqueirão 1,60 2,70 12.576
Vacaria
Carreiro Linha Irmão Serafina Corrêa 7,20 15,30 60.522
Santa Rita São Pedro Vacaria 1,50 2,30 11.790
Guaporé e Anta
Guaporé Monte Branco 8,70 11,90 68.382
Gorda Nova Prata e
Prata Serrinha 1,40 2,30 11.004
Protásio Alves
Carreiro Cotiporã Serafina Corrêa 7,50 12,70 58.950
Turvo Volta Longa Lagoa Vermelha 1,40 2,20 11.004
Guaporé e Anta
Carreiro Autódromo 6,50 12,00 51.090
Gorda Lageado
Matreiro Jaquirana 1,40 2,00 11.004
Grande
Antas Quebrada Funda Bom Jesus 7,50 12,00 58.950
Carreiro Chapéu Cambará do Sul 1,30 1,90 10.218
Carreiro Boa Fé Serafina Corrêa 4,80 9,30 17.728
Guaporé Nova Esperança Marau 1,10 1,90 8.646
Lageado
Cazuza Ferreira Jaquirana 5,40 9,10 42.444
Grande Cambará do Sul S. J.
Antas Piraquete 1,10 1,90 10.218
dos Ausentes
Carreiro São Paulo Serafina Corrêa 4,70 8,40 16.942
Nova Prata e André
Turvo Chimarrão Antônio Prado 4,50 8,20 15.370 Prata Rio Branco 1,20 1,90 9.432
da Rocha
Turvo Santa Carolina Antônio Prado 4,30 7,80 11.798 Santa Rita Entre Rios Vacaria 1,20 1,80 9.432
Ituim Monte Grande Vacaria 4,10 7,40 12.226 Lageado São Francisco de
Buruti 1,30 1,70 10.218
Guaporé e Anta Grande Paula
Guaporé Pulador 3,50 6,30 27.510
Gorda Guaporé Arranca Toco Marau 0,90 1,60 7.074
Lageado Turvo Passo da Pedra Lagoa Vermelha 0,90 1,50 7.074
Palaquinho Jaquirana 3,50 6,00 25.918
Grande
Santana Boa Vista Cambará do Sul 1,00 1,40 7.860
Cambará do Sul e
Carreiro Grotão 2,90 5,20 22.294
Jaquirana Santana Potreiro Cambará do Sul 0,90 1,40 7.074

Turvo Jardim Antônio Prado 2,80 5,00 22.008 Santa Rita Vacaria Vacaria 0,90 1,40 7.074

Prata Pratinha Nova Prata 2,80 5,00 22.008 Ituim Cinco Cachoeiras Vacaria 0,60 1,20 4.716

Jaquirana e Bom Santa Rita Lageado Bonito Vacaria 0,80 1,20 6.288
Antas Matemático 1,90 1,00 14.934
Jesus
Total 532,80 1.093,20 4.187.808
São José Peão Jaquirana 2,30 1,00 18.078 Fonte: ANEEL
CONTINUA
392 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Inventário Hidrelétrico da Bacia A Bacia do Rio Ijuí tem formato aproximadamente triangular, com estando distribuída em uma superfície de aproximadamente 1.175
do Rio Ijuí dimensão de 185 km no sentido leste-oeste. No sentido norte-sul, a km², que equivale a aproximadamente 11,0% da superfície da Bacia
Bacia tem maior dimensão na porção leste, com aproximadamente hidrográfica.
110 km, reduzindo gradativamente até 15 km na porção oeste da ba-
A Bacia do Rio Ijuí situa-se a Norte-Noroeste do Rio Grande do Sul, cia, junto ao Rio Uruguai. A maior parte dos remanescentes de vegetação arbórea nativa está
entre as coordenadas 27°45’ e 26°15’ de Latitude Sul e 53°15’ e 56°45’ nas margens de cursos d’água e de nascentes, locais com dificuldade
de Longitude Oeste, com uma área de drenagem de 10.649,13 km². Os municípios mais populosos da Bacia são representados por Ijuí, de acesso e/ou baixa aptidão agrícola. O solo da região tem uso princi-
Seus principais formadores são os rios: Ijuizinho, Conceição, Potiribu, com 76.739 e Panambi, com 36.360 habitantes, ambos com influên- palmente em áreas de agricultura, campos e matas. As margens do Rio
Caxambu, Faxinal, Fiúza e Palmeira. cia direta na Bacia. A soma da população de Ijuí e Panambi representa Ijuí apresentam poucos remanescentes de mata ciliar, sendo verificado
aproximadamente 42,2% da população de toda a bacia hidrográfica, o uso intensivo de áreas próximas aos corpos hídricos para agricultura
As atividades econômicas desta Bacia, de maneira geral, estão liga- e pastagem (figura a seguir).
das ao setor primário, predominando as lavouras de soja. Alguns mu-
nicípios desta Bacia apresentam também os setores secundários e/ou
terciários mais desenvolvidos. Destacam-se nesse setor os municípios
de Ijuí, Santo Ângelo e Cruz Alta. Este último é divisor de águas entre as
Bacias do Ijuí e do Jacuí (figura a seguir).

Rio Ijuí

Rio
Po
tiri
bu
Rio
Co
nc
eiç
ão

Rio
Iju
izi
nh
o
Da Bacia hidrográfica do Rio Ijuí, fazem parte, total ou parcialmente,
36 municípios. Considerando a área total dos municípios que fazem
parte da Bacia, a população total é de 450.906 habitantes. Consideran-
do a proporcionalidade da área dos municípios que se encontram na
Bacia, a população estimada é de 267.775 habitantes. Desse total, é
estimado que 203.027 habitantes estivessem em área urbana e 64.748
habitantes em área rural. A Bacia hidrográfica possui uma densidade
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
demográfica de 25,15 habitantes por km2.
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 393

Nos últimos anos, a Bacia do Rio Ijuí foi contemplada com dois im- Já a UHE de São José tem potência de 51 MW também no Rio Ijuí, gião Noroeste do Rio Grande do Sul. A estrutura de barramento foi
portantes empreendimentos hidrelétricos: as usinas hidrelétricas Pas- entre os municípios de Rolador, Salvador das Missões, Cerro Largo construída entre os municípios de Rolador e Salvador das Missões, e
so São João e São José, ambas na Região das Missões. A primeira de e Mato Queimado. A área do reservatório é de 2.346 ha. Esta usina a casa de força foi instalada no município de Salvador das Missões,
propriedade da Eletrobras - Eletrosul e a segunda, do Grupo Alupar também é a fio d’água, com barragem e vertedouro controlado por distante aproximadamente 530 km da capital do Estado. A tabela a
Investimentos. comportas. A UHE São José, no Rio Ijuí, abrange os municípios de seguir mostra o inventário hidrelétrico da Bacia do Rio Ijuí (situação
Salvador das Missões, Cerro Largo, Mato Queimado e Rolador, na Re- em 2013/base 2012).

Identificação do Aproveitamento Características Energéticas


Distância Potência Potência
Energia Firme
Nome do Rio Nome do Aproveitamento da foz Firme Instalada
(MWh)
(km) (MW méd) (MW)
Ijuí IJ-1e - Passo São João 71,40 43,90 81,00 345.054
Ijuí IJ-2´ - São José 130,60 24,00 45,00 188.640
Ijuí IJ-3g - Ressaca 213,75 15,80 30,00 124.188
Ijuí IJ-4a - Linha Onze 334,60 14,10 26,00 110.826
Ijuí IJ-5 - Linha Três 392,60 12,90 24,00 101.394
A UHE Passo São João está localizada no Rio Ijuí, entre os municí- Ijuí IJ-6 - Ajuricaba II 419,10 7,90 14,50 62.094
pios de Dezesseis de Novembro e Roque Gonzales, Noroeste do RS. Ijuí IJ-7 - Barra 455,90 3,50 6,50 27.510
A UHE tem potência instalada de 77 MW e garantia física de 41,1 MW Palmeira PL-1 - Palmeiras 15,20 4,10 7,00 32.226
médios. O empreendimento é constituído de duas unidades gerado-
Palmeira PL-2a - Condor 21,80 2,40 4,30 18.864
ras, com conexão feita na SE Missões por meio de 33,5 km de linhas
de transmissão de 69 kV. Trata-se de uma usina a fio d’água, com bar- Fiuza FZ-1B - Fiúza II 14,80 0,60 1,00 4.716
ragem de seção típica de solo, vertedouro controlado por comportas, Fiuza FZ-2’ - Rincão do Fundo 19,80 1,20 2,00 9.432
situado na margem esquerda e trecho de vazão reduzida com 4.100 Potiribu PT-1 - Sede II 21,20 3,60 7,00 28.296
m. A área do reservatório é de 2060 ha. Potiribu PT-2 - Andorinhas II 37,70 2,90 5,50 22.794
Ijuizinho 12-1 - Rincão 33,50 2,80 5,00 27.008
Ijuizinho 12-2 - Ijuizinho II 42,60 7,10 13,00 55.806
Ijuizinho IZ-3b’ - Rincão de P. Alegre 72,20 4,80 8,00 37.728
Ijuizinho IZ-4 - Fazenda Grande 142,00 2,80 5,00 22.008
Ijuizinho IZ-5a Igrejinha 163,70 1,40 2,50 11.004
Conceição CC-la - Passo da Cruz 16,20 3,80 6,80 29.868
Conceição CC-2 - Antas 44,30 1,70 3,00 13.362
Conceição CC-3 - São Miguel 54,60 1,10 2,00 8.646
Conceição CC-4 - Tigre 63,90 1,10 2,00 8.646
Conceição CC-5a - Serraria 78,80 1,10 2,30 8.646
Caxambú CX-1 São Valentim 6,50 1,60 3,00 12.576
Piratinim PR-lc - Bonito 135,11 9,70 18,00 76.242
CONTINUA
394 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

CONTINUAÇÃO
Identificação do Aproveitamento Características Energéticas
Distância Potência Potência
Energia Firme
Nome do Rio Nome do Aproveitamento da foz Firme Instalada
(MWh)
(km) (MW méd) (MW)
Piratinim PR-2 - Jaguassango 203,11 8,50 15,00 66.810
Piratinim PR-3 - Campestre 246,91 7,40 13,50 58.164
Piratinim PR-4b - Piratinim 291,31 3,20 5,50 25.152
Piratinim PR-5 - Ilha do Lobo 318,71 1,50 2,50 11.790
Inhacapetum IN-1 - Inhacapetum 28,40 2,90 5,50 22.794
Inhacapetum IN-2b - Passo do Tibúrcio 53,30 1,20 2,00 9.432
Icamaquã IC-1 - Passo Novo 78,80 4,00 7,00 31.440
Icamaquã IC-2 - Bom Sossego 124,50 3,60 6,50 28.296
Icamaquã IC-3 - Três Capões 166,30 1,60 4,00 12.576
A área de geração de energia elétrica da Cooperativa Regional
Icamaquã IC-4-Icamaquã 180,50 2,50 4,50 19.650 de Desenvolvimento Teutônia (Certel) constantemente tem apre-
Itacurubi IT-1 - Igreja Baixa 12,40 2,00 3,50 15.720 sentado o inventário hidrelétrico do Rio Pardo junto às lideranças
Itacurubi IT-2- Estrela do Sul 25,60 1,70 3,00 13.362 regionais. Na oportunidade, a Certel tem exposto os benefícios fis-
Total Inventariado 216,00 396,90 1.697.760 cais aos municípios, como: geração de emprego, usos múltiplos da
água, regularização de vazão e redução de enchentes, sendo estas
algumas das principais vantagens que a geração de energia limpa
pode proporcionar.
Inventário da Bacia do Rio Pardo tindo áreas com resquícios florestais em diferentes estados de
O inventário do Rio Pardo, aprovado pela ANEEL, engloba 12 apro-
recuperação, e onde se encontram importantes elementos da
fauna sul-rio-grandense, porção onde se localizam as sedes de veitamentos hidrelétricos, com capacidade para gerar 54,65 MW de
A Bacia Hidrográfica do Rio Pardo está localizada na Região Central Herveiras, Passa Sete, Sinimbu e Vale do Sol; potência instalada.
do Rio Grande do Sul e é parte integrante da Região Hidrográfica do
Guaíba. Sua área de drenagem é de 3.636,79 km² e abrange 13 mu- • a jusante (parte baixa) da Bacia, correspondente também a cerca O Rio Pardo é semelhante ao Rio Forqueta, onde a Certel construiu
nicípios com um total de 232.088 habitantes. A Bacia é dividida em de dois quintos da área total, com áreas de relevo plano e pouco sua primeira hidrelétrica: a Salto Forqueta, entre São José do Herval e
três seções: ondulado, que integram geomorficamente a depressão central, Putinga, cuja potência instalada é de 6,12 MW. O Rio Pardo corre den-
composta por áreas de meandro com várzeas empregadas para tro de um derrame basáltico, em um vale de rocha (perau), começa
• a montante (parte alta) constituída por áreas de planalto me- cultivo de arroz irrigado e áreas mais elevadas utilizadas em pe- no interior de Barros Cassal e segue por Gramado Xavier, Lagoão, Si-
ridional, com altitude superior a 500 m, onde a formação de cuária extensiva e agricultura, especialmente de fumo, milho, nimbu, Passa Sete, Herveiras, Vale do Sol, Candelária e Vera Cruz, desa-
campo predomina, com atividades de pecuária e de pequenas soja e feijão, onde estão concentrados os maiores contingentes guando no Rio Jacuí, em Rio Pardo.
lavouras de subsistência, e onde estão situadas as sedes dos mu- de população e de produção industrial na Bacia, nomeadamen-
nicípios de Barros Cassal, Boqueirão do Leão, Gramado Xavier e te as sedes dos municípios de Candelária, Rio Pardo, Santa Cruz A expectativa é de que a construção de oito PCHs no Rio Pardo,
Lagoão; do Sul e Vera Cruz. com a capacidade de 36 MW, comece em um prazo de 2 anos, pois
ainda depende da elaboração dos projetos ambientais para obter as
• a parte intermediária, que corresponde a cerca de dois quintos Dos municípios que compõem a Bacia, o único que tem sede fora licenças prévias e das licenças de instalações, a serem emitidas pela
da área total, na encosta do planalto meridional em altitude en- dos limites é Venâncio Aires (figura a seguir). FEPAM. A previsão é que todo o processo de licenciamento esteja
tre 200 e 500 m, onde prevalecem propriedades coloniais, exis- concluído até 2017. O investimento previsto para a construção das
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 395

oito usinas é de R$ 240 milhões em um trecho de 55 km do Rio Pardo. inventário da Bacia       


O projeto está em andamento desde 2010, quando a ANEEL autori- DESPACHO N° 3.971, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2010. O SUPE- do Rio Apuaê-Inhandava.
zou a Certel a fazer um inventário hidrelétrico na Bacia do Rio Pardo. RINTENDENTE DE GESTÃO E ESTUDOS HIDROENERGÉTICOS DA
Inicialmente estava prevista a construção de 12 barragens, porém o AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL - INTERINO,
número foi reduzido para oito, onde cada hidrelétrica terá até 7 MW No uso das atribuições estabelecidas no art. 23, V, da Portaria
de potência. A expectativa é que o incremento na oferta de energia MME n° 349, de 28 de novembro de 1997, com a redação confe-
favoreça a atração de investimentos para os pequenos municípios da rida pela Resolução Normativa ANEEL n° 116, de 29 de novem-
região. Até mesmo as prefeituras poderão se beneficiar de royalties bro de 2004, bem como na Portaria n° 1.648, de 09 de novem-
recolhidos pela exploração da energia hidráulica (mapa a seguir). bro de 2010, em cumprimento ao disposto no art. 5° da Lei n°
9.074, de 7 de julho de 1995, nos arts. 3°, 3° - A, 26 e 28 da Lei n°
9.427, de 26 de dezembro de 1996, e no Decreto n° 4.932, de 23
de dezembro de 2003, com suas atualizações posteriores, bem
como na Resolução ANEEL n° 393, de 4 de dezembro de 1998,
com suas atualizações posteriores e o que consta do Processo
n°. 48500.007013/2005-10, resolve:
Barros Cassal
AP
I. Aprovar o Estudo de Inventário Hidrelétrico do Rio Pardo,
afluente pela margem esquerda do Rio Jacuí, localizado na Ba-
cia 85, bacia hidrográfica do Atlântico Sudeste, no Estado do Rio
Gramado Xavier Grande do Sul, apresentado pela empresa CERTEL. A Bacia Hidrográfica Apuaê-Inhandava situa-se a Norte-Nordeste
Lagoão
do Estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas
Boqueirão do Leão II. Cooperativa Regional de Eletrificação Teutônia LTDA, inscri- 27°14’ a 28°45’ de Latitude Sul e 50°42’ a 52°26’ de Longitude Oeste.
AP ta no CNPJ sob o n° 89.777.692/0001-92. Abrange a província geomorfológica planalto me-ridional. Possui
AMP área de 14.599,12 km² e população estimada em 355.521 habitantes,
AMP
MP Herveiras
III. Este estudo identificou um potencial total de 54,65 MW,
Passa Sete correspondente a 12 aproveitamentos, em conformidade com abrangendo municípios como Bom Jesus, Erechim, Lagoa Vermelha,
o quadro abaixo: São José dos Ausentes, Tapejara e Vacaria. Os principais corpos de
Sinimbu água são os Rios Apuaê, I-nhandava, Cerquinha, Pelotas, Arroio Poatã
AP
MP
e Rio Uruguai. O principal uso de água na Bacia se destina ao abas-
Vale do Sol tecimento público. O número total de aproveitamentos hidrelétricos
Candelária BP avaliados foi de 13 (figura a seguir).
A
Vera Cruz
Santa Cruz Potência (MW)
do Sul Usina Município Rio
Outorgada
BP
SMP Barros Cassal 1,6 Anta Gorda - RS Guaporé - RS Pardo
Gramado dos Francos 4,3 Bom Jesus - RS Jaquirana - RS Pardo
BP Gramado Xavier 3,85 Ipê - RS Protásio Alves - RS Pardo
Barra de Ferro 7,6 Cerro Grande - RS Liberato Salzano - RS Novo Tiradentes - RS Pardo
Rios Principais
Rio Pardo Lagoão 3,45 Liberato Salzano - RS Rodeio Bonito - RS Pardo
Sedes Municipais
Unidades de Estudo Passo da Grama 4,95 André da Rocha - RS Pardo
Municípios
Barros Cassal Linha Pinhal 5,25 Muitos Capões - RS Pardo
Boqueirão do Leão
Candelária
Linha Carvalho 5,75 Vacaria - RS Pardo
Gramado Xavier Foz do Biriba 7,25 Quevedos - RS São Martinho da Serra - RS Pardo
Herveiras
Lagoão Costa do Rio 3,3 Quevedos - RS São Martinho - RS Pardo
Passa Sete
Rio Pardo Ponte do Império 3,65 Júlio de Castilhos - RS Quevedos - RS Pardo
Santa Cruz do Sul
Sinimbu
Quilombo 3,7 Júlio de Castilhos - RS São Martinho da Serra - RS Pardo
Vale do Sol
Venâncio Aires
Total 54,65
Vera Cruz Fonte: ANEEL
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
396 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Rio O rio que está com impedimento da FEPAM para empreendimen-


Uru tos hidrelétricos é o Ligeiro (Apuaê) em toda a sua extensão. Segundo
gu
ai o órgão, este rio deve ser livre de barramento. Estudos de inventário
não aprovados pela ANEEL apontam que o potencial de geração des-
te rio chega a 100 MW.

Inventário da Bacia       
do Rio Camaquã

Rio
Ber
Rio Apuaé

Rio

nar
Inh
A Bacia Hidrográfica do Camaquã localiza-se na Região Central do

do
and
Estado do Rio Grande do Sul, entre as coordenadas geográficas 28°50’

Jos
ava

é
a 30°00’ de Latitude Sul e 52°15’ a 53°00’ de Longitude Oeste. Abrange
as províncias geomorfológicas escudo sul-rio-grandense e planície
costeira. Possui área de 21.259,11 km², abrangendo municípios como
Arambaré, Bagé, Caçapava do Sul, Dom Feliciano e Tapes, com popu-
lação estimada em 236.287 habitantes (figura a seguir).
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energética

Desses:
Potência
• cinco constavam do Estudo de Inventário Simplificado do Rio Barragem
(MW)
Santana elaborado pela empresa Engenharia e Empreendimen-
PCH AVANTE 1,0
tos S/A (CESBE);
PCH ESMERALDA 22,2
• três eram do Estudo de Inventário Hidrelétrico de um trecho do PCH FORQUILHA 1 8
Rio Forquilha ou Inhandava, elaborado pela empresa Boca do PCH FORQUILHA 2 6
Monte Energia Ltda.; PCH FORQUILHA 4 12
PCH MOINHO 13,7
• cinco do Inventário do Complexo Hidrelétrico Alto Rio Pelotas,
elaborado pela empresa Performance Centrais Elétricas Ltda.; PCH OURO 12,0
PCH SANTANA 1 3,2
• dois do Estudo de Inventários Hidrenergéticos da Bacia Hidro- Os principais corpos de água são o Rio Camaquã e os Arroios Sutil,
PCH SANTANA 2 4,9
gráfica do Rio Uruguai, elaborado pela Eletrosul/CNEC, e os da Sapata, Evaristo, dos Ladrões, Maria Santa, do Abrânio, Pantanoso,
PCH SANTANA 3A 21,3 Boici e Torrinhas. O Rio Camaquã tem suas nascentes a oeste da Bacia,
demais estavam implantados ou em implantação na época da
conclusão do estudo, em dezembro de 2005. PCH SANTANA 4A 6,1 com desembocadura a leste na Laguna dos Patos. Os principais usos
PCH SANTANA 5A 18,6 da água na bacia se destinam à irrigação e ao abastecimento público
Na tabela a seguir, é apresentado o potencial hidrelétrico da bacia PCH SÃO BERNARDO 15 (mapa a seguir).
estudada sem considerar as hidrelétricas da calha principal do Pelotas TOTAL 108,8
e do Uruguai, existentes na porção da bacia do Apuaê-Inhandava.
Fonte: ANEEL
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 397

SÃO JERÔNIMO

BARRA DO RIBEIRO

BARÃO DO TRIUNFO

CACEQUI
ENCRUZILHADA DO SUL
CERRO GRANDE DO SUL
SENTINELA DO SUL

DOM FELICIANO TAPES


CHUVISCA

LAVRAS DO SUL CAMAQUÃ


SANTANA DA BOA VISTA AMARAL FERRADOR
ARAMBARÉ

CRISTAL

BAGÉ SÃO LOURENÇO DO SUL

OS
AT
CANGUÇU

SP
HUMAITÁ

DO
PIRATINI TURUÇU

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GU
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CANDIOTA PINHEIRO MACHADO

PELOTAS

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NT
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Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético


398 PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS

Há a possibilidade de criação de 13 PCHs no Rio Camaquã. O pro-


cesso está tramitando na ANEEL e disputado, no mínimo, por três em-
presas. Devido a essa disputa entre os empreendedores interessados,
a seleção de alguns estudos de inventário do Rio Camaquã chegou a
ser suspenso, mas a ANEEL já liberou novamente. O inventário do Rio
Camaquã é o primeiro passo. Sobre vários aspectos, ele diagnosticará
a hidrologia, a geologia, entre outros. Depois de aprovado o inventá-
rio pela ANEEL, serão iniciados os projetos básicos. Esses trâmites têm
a previsão de durar em torno de 2 anos.

Ocorre que houve mais de um estudo de inventário, gerando um


processo de seleção por parte da ANEEL. Assim, a recorrente, na forma
das Resoluções Normativas n° 393/1998 e 398/2001, está em disputa
com terceiros para selecionar o estudo de inventário.

A tabela a seguir mostra um resumo dos estudos concorrentes


para o inventário do Rio Camaquã.

Cota Inicial Cota Final Diferença


Queda Bruta
Interessado (Montante, (Jusante, entre
Estudada(m)
El. m) El.m) Quedas(m)
Multilagos 140,0 51,7 88,3 -86,5
Consult 225,0 50,2 174,8 00,0
MSul 166,0 49,0 117,0 -57,8

Os estudos da Multilagos contemplaram cerca de 180 km de ex-


tensão do rio, entre as cotas relacionadas 51,7 e 140 m; o estudo da
Consult, a partir das informações da NT, contemplou a extensão de
234 km, entre as cotas 50,2 e 225 m; e o da MSul contemplou uma
extensão compreendida entre os dois estudos.
Fonte: Banco de Imagens do Setor Energético
No trecho comum estudado entre os concorrentes, foi obtida uma
potência a instalar de 94 MW, conforme estudos apresentados (mapa
a seguir).
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 399

Riscos Hidrológicos         geração total do MRE e, consequentemente, à submersão do GSF, • reforma geral da turbina, incluindo a troca de rotor com novo
e Regulatórios restando às geradoras o pagamento do ônus. perfil das pás (otimização), resultando em correspondente
aumento de potência nominal e rendimento. O ganho em 30
Diante da situação atual do setor elétrico, fica claro que o risco do termos de rendimento médio nas unidades geradoras pode ser
A lógica da operação e despacho das usinas pelo ONS é baseada negócio de geração hidrelétrica tornou-se maior e os motivos fogem computado diretamente como um ganho de energia assegura-
na minimização de custos para o sistema, o que significa que os ge- ao controle do investidor. É preciso corrigir os erros sem afastar os in- do da usina;
radores não têm controle sobre sua geração. O risco dessa operação vestidores em novos leilões e, ao mesmo tempo, não transferir ainda
é rateado entre as usinas hidrelétricas por meio do Mecanismo de mais para os consumidores o ônus de tarifas cada vez mais elevadas, • reforma geral do gerador, com aumento de potência devido à
Realocação de Energia (MRE), que se justifica pela grande extensão provocando mais inflação, perda de renda, desemprego e recessão. substituição do estator e reisolamento das bobinas polares, nes-
territorial do País, com diferenças hidrológicas entre as regiões. te último caso, utilizando isolantes de menor espessura e melhor
Esse é o grande desafio do Governo Federal. A solução é ouvir as condutividade de calor;
Dessa forma, o MRE realoca de forma contábil a energia, transfe- empresas e, em conjunto, encontrar os melhores caminhos e evitar
rindo o excedente daqueles que geraram além de sua garantia física que ocorra ainda mais judicialização. Na falta de um diálogo maior • substituição ou reisolamento de transformadores elevadores.
para aqueles que geraram abaixo. Para assegurar o nível de confia- com a agência reguladora, foi isso o que restou hoje às empresas para Em uma central hidrelétrica, o processo de repotenciação pode
bilidade do sistema, a EPE e o MME estabelecem e atribuem a cada conter os enormes prejuízos. ser estruturado nas seguintes modalidades de intervenção: rea-
usina uma garantia física, a máxima quantidade de energia que cada bilitação, revitalização ou ampliação. Essas modalidades podem
empreendimento pode vender em contratos. O critério da EPE para O contrato de concessão de uma usina hidrelétrica está coberto ser integradas conjuntamente, conforme a realidade do aprovei-
atribuição de garantia física admite um risco máximo de déficit de 5%. pelo princípio constitucional da estabilidade econômico-financeira. tamento hidroenergético, a extensão da melhoria pretendida e
Portanto, quando um ato do Governo causa dano, a concessionária a viabilidade técnica e econômica das intervenções.
Todas as usinas hidrelétricas participam compulsoriamente do prejudicada tem direito constitucional à reparação, fundamentada
MRE, que visa o compartilhamento do risco hidrológico. O Genera- pela teoria da responsabilidade objetiva do Estado. A realidade do aproveitamento hidroenergético diz respeito ao seu
tion Scaling Factor (GSF) é a relação entre o volume de energia efe- arranjo, seu dimensionamento frente ao potencial ótimo, seu estado
tivamente gerado pelo MRE e a garantia física total do mecanismo. Liminares obtidas por geradores em ações judiciais que limitam o de conservação e suas demais particularidades.
GSF a 95% da garantia física das hidrelétricas foram responsáveis pelo
Desde 2014, o GSF tornou-se um pesadelo bilionário para as ge- déficit bilionário na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica A minimização dos custos na execução das intervenções de repo-
radoras hidrelétricas. A primeira causa desse desequilíbrio financeiro (CCEE), que foi repassado ao consumidor por meio da tarifa, conforme tenciação depende de um bom planejamento, que deve integrar pro-
das geradoras se refere aos riscos hidrológicos e comerciais. Em caso prevê o mesmo princípio constitucional da estabilidade econômico- jeto, engenharia, fornecimento, comissionamento e testes.
de baixa pluviosidade ou se houver erro na estratégia de contratação financeira.
de energia das geradoras, estas devem colher recompensas ou pre- Modalidades de intervenção de repotenciação, das quais se pode
juízo. Repotenciação de Usinas destacar:

A segunda causa provém das políticas de expansão e operação im- • ganho real de potência (kW);
postas pelo Governo, que alterou os modelos e as estratégias das ge- A repotenciação pode ser definida como “uma intervenção ou • ganho de energia (MWh);
radoras, deixando-as expostas, de forma involuntária, com a imposi- conjunto de intervenções nas estruturas, circuitos hidráulicos e equi- • ganho de energia assegurada (MWh);
ção de riscos para os quais não há ferramentas de gestão disponíveis. pamentos eletromecânicos envolvidos no processo de conversão • custo total para geração da energia adicional (R$/MWh);
energética de um empreendimento hidrelétrico já construído, com • custo total para incremento de potência (R$/kW);
Com isso, as geradoras hidrelétricas não possuem controle sobre as ganho simultâneo de potência e rendimento, conciliados com bene- • custo de indisponibilidade (R$);
variáveis associadas à política energética do Governo. Ainda assim, o fícios econômicos e socioambientais”. • valor presente líquido (VPL);
risco dessas políticas é conferido à geradora hidrelétrica. • taxa interna de retorno (TIR);
São inúmeras as possibilidades de intervenções a título de repo- • tempo de retorno do investimento e relação receita-custo.
Para recuperar o nível dos reservatórios e garantir a segurança do tenciação em usinas hidrelétricas, entre as quais podem ser destaca-
fornecimento de energia, acionaram-se usinas de fontes não hidráu- das, tomando como base apenas os equipamentos eletromecânicos
licas e se incentivou a redução do consumo, levando à redução da principais, as seguintes:
PEQUENAS CENTRAIS HIDRELÉTRICAS 401

Desempenho das PCHs nos Leilões Os leilões de reserva promovidos até 2009 eram direcionados ape- te pouco desenvolvidas, exigindo custos de implantação elevados e
nas para uma fonte de geração e, em 2010, pela primeira vez, no leilão grandes áreas para seus reservatórios, causando impactos ambientais
de reserva, houve competição entre as fontes alternativas (PCH, eólica e contribuindo com a emissão de gases de efeito estufa.
Conforme o atual modelo regulatório brasileiro, as concessionárias e biomassa), assim, além dos LFAs, as fontes alternativas têm tido con-
distribuidoras de energia elétrica garantem suprimento adequado siderável participação na contratação de energia de reserva. Como há uma forte tendência mundial para a geração distribuída,
aos seus consumidores finais por meio de leilões regulados de com- utilizando fontes de energias renováveis, as PCHs constituem-se em
pra de energia promovidos pela ANEEL e pela CCEE, respectivamente. Conclusão uma importante e promissora oferta de energia elétrica para o País,
Sob o sistema de contratação regulado, as concessionárias distribui- que possui um grande potencial para esse tipo de aproveitamento,
doras de energia elétrica podem contratar energia de novos projetos podendo se beneficiar dos créditos de carbono.
de 3 ou 5 anos antes do começo das operações (chamados leilões A-3 O PNE de 2030, desenvolvido pela EPE, projeta um crescimento
e A-5, respectivamente) e podem também contratar energia de pro- médio de 3,6% ao ano no consumo final de energia até 2030. O PNE No Brasil, entretanto, nos últimos leilões de fontes alternativas de
jetos já existentes 1 ano antes do suprimento (leilões A-1). Os leilões prevê também que 45% da oferta interna de energia em 2030 serão energia e de energia de reserva, observou-se que as PCHs perderam
de ajuste também podem ser promovidos se forem necessários para provenientes de fontes renováveis, além disso, a geração de eletri- competitividade nesse ambiente frente a outras fontes alternativas,
complementar a quantidade de energia contratada para os consumi- cidade, que cresceria a uma taxa média de 4,3% ao ano, continuará em especial, a eólica. Nesses leilões, a energia das usinas eólicas foi
dores finais, respeitando o limite percentual estabelecido. muito dependente das fontes renováveis. A liderança continuará com contratada ao preço médio de R$ 130,00/MWh e a energia das PCHs
a energia hidráulica, mas projeta-se aumento na participação da bio- ao preço médio de R$ 142,00/MWh. O resultado foi a contratação de
Conforme estabelecido pelo Decreto n° 6.048 de 2007, novos pro- massa de cana, centrais eólicas, resíduos urbanos e também de fontes apenas 130 MW de potência instalada de PCHs contra 2.000 MW de
jetos baseados em fontes alternativas podem participar em quaisquer não renováveis (nuclear, gás natural e carvão mineral). usinas eólicas.
dos leilões A-1, A-3 ou A-5. Entretanto, as fontes alternativas tendem a
apresentar um custo mais elevado, tornando difícil a competição com Há que se ressaltar, no entanto, que a concretização desse cená- Levantamentos realizados mostram que há boas perspectivas para
fontes convencionais de energia. Dessa forma, leilões direcionados rio com essa composição de fontes na expansão planejada, predo- o desenvolvimento das PCHs no Brasil, de modo que há possibilidade
apenas para fontes renováveis de energia, que promovem a compe- minantemente renováveis, depende principalmente da obtenção de o atual potencial de geração de energia elétrica de PCH aumentar
tição apenas entre essas fontes, têm sido promovidos desde 2007, de licenças prévias ambientais, de modo que as usinas indicadas dos atuais 5.247 MW até 11.800 MW. Além desse potencial disponível
visando aumentar a participação dessas fontes na geração de eletri- possam participar dos leilões de compra de energia provenien- e do tamanho do mercado, as PCHs apresentam outras vantagens
cidade brasileira. Nesse contexto, nos últimos leilões de fontes alter- tes de novos empreendimentos, previstos em lei. Caso contrário, que devem ser consideradas, como, por exemplo, menor impacto
nativas (LFAs), onde competem PCHs com projetos eólicos e projetos uma expansão concentrada em projetos termelétricos, preferen- ambiental quando comparadas com empreendimentos convencio-
de geração à biomassa, os projetos eólicos têm obtido participação cialmente movidos a gás natural, poderá constituir alternativa de nais, o desenvolvimento social, a geração de empregos e a geração
mais significativa. atendimento à demanda. descentralizada, próxima aos pontos de consumo, assim desoneran-
do o sistema de transmissão e diminuindo as perdas.
Complementando a energia adquirida por contratação regulada, Apesar da participação crescente de outras fontes energéticas na
o Decreto n° 6.353 de 2008 regulamentou a contratação de energia geração de energia elétrica, a hidroeletricidade continua sendo muito Por fim, outro ponto importante a ser considerado é que as PCHs
de reserva por meio dos chamados LERs, que já eram estabelecidos importante na expansão do setor elétrico brasileiro, contudo, deve- apresentam um cenário bastante otimista tanto para a repotenciação
na reforma regulatória do setor elétrico em 2004. O principal objetivo se considerar que os recursos hídricos de maior atratividade já foram e recapacitação de empreendimentos antigos como para o potencial
foi garantir a segurança de suprimento de eletricidade por meio de aproveitados e verifica-se que futuros projetos hidrelétricos de gran- de instalação de novas plantas.
plantas de geração contratadas especialmente para tal propósito. de porte deverão ocupar áreas menos povoadas e economicamen-

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