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AS AÇÕES
O termo “ação” serve para designar um título representativo do capital de
sociedades anônimas. Representa uma fração ou uma unidade do capital
social, aspecto este que leva a enquadrar a ação como título de crédito de
participação. Enquadra-se como um título de crédito, pelo qual o seu titular
participa da vida societária e tem direito a uma parte do capital social. Pertence
àquele que se apresentar para exercer os direitos relativos à ação.
Existem vários tipos de ações, como as ordinárias, as preferenciais e as de
fruição.
As ações ordinárias são aquelas que conferem aos titulares direitos iguais
de participação nos lucros da empresa, além de representar uma participação
no capital e de assegurar o direito a voto nas deliberações das assembleias.
As ações preferenciais conferem vários privilégios, podendo, no entanto,
privar o acionista do direito de voto. Os privilégios consistem na prioridade na
distribuição dos dividendos da sociedade, na prioridade do reembolso do
capital, dentre outras vantagens.
O art. 17 da Lei nº 6.404, de 15.12.1976, com as modificações da Lei nº
10.303/2001, discrimina algumas preferências ou vantagens, como segue
transcrito:
“As preferências ou vantagens das ações preferenciais podem consistir:
I – em prioridade na distribuição de dividendo, fixo ou mínimo;
II – em prioridade no reembolso do capital, com prêmio ou sem ele; ou
III – na acumulação das preferências e vantagens de que tratam os incisos I e
II”.
As ações de fruição, antigamente denominadas ações de gozo, são
aquelas que resultam da amortização das ações comuns ou preferenciais.
Atribuem-se aos acionistas que amortizaram as ações que tinham. O art. 44, §
5º, da Lei nº 6.404, contempla-as, prevendo que as ações comuns ou
preferenciais integralmente amortizadas poderão ser substituídas por ações de
fruição, com as restrições que o estatuto ou assembleia geral da sociedade
estabelecer. Na liquidação da sociedade, os titulares dessas ações concorrem
ao acervo líquido unicamente depois de assegurado o respectivo valor às
ações não amortizadas dos outros sócios, com a devida correção monetária.
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Não possuem capital, posto que operou-se a sua amortização, ou a entrega do


valor correspondente. Distribui-se aos acionistas a quantia que lhes tocaria no
caso de liquidação da sociedade.
Relativamente à circulação ou transferência, classificavam-se as ações em
nominativas, endossáveis, ao portador e escriturais, persistindo no direito
brasileiro unicamente as nominativas, por força do art. 20 da Lei nº 6.404, de
1976, em redação trazida pela Lei nº 8.021, de 12.04.1990, o qual estabelece
que as ações devem ser nominativas. Por outro lado, o art. 33 da Lei nº 6.404,
que tratava das ações ao portador, restou revogado pela mesma Lei nº 8.021.
No entanto, as ações ao portador, por sua tradição, merecem alguma análise.
Consideram-se aquelas ações, segundo lição de José Edwaldo Tavares
Borba, “representadas por certificados dos quais não constava qualquer
referência ao nome do titular; esses certificados legitimavam o detentor a
exercer os direitos de sócio. Quem quer que se apresentasse perante a
sociedade de posse de ações ao portador, estaria habilitado a receber
dividendos, bonificações ou quaisquer outras prestações a que fizesse jus o
acionista”.1
As nominativas consistem nas ações em que aparece o nome do
proprietário originário, procedendo-se a transferência através de termo lavrado
em livro próprio da sociedade anônima, devendo assinar o cedente e o
cessionário. Como assinala De Plácido e Silva, “a propriedade das ações
nominativas presume-se pela inscrição do nome do acionista no livro de
registros das ações nominativas, onde, obrigatoriamente, devem ser
averbadas. E, assim, claramente, não se faz fundamental a presença da ação
para demonstração da qualidade de acionista nominativo perante a
sociedade”.2
As endossáveis correspondem às ações que, como o nome indica, são
objeto de cessão ou transferência pelo mero endosso. Não se requer o termo
de transferência ou cessão, e muito menos a inscrição em livro da empresa.
Presumem-se de propriedade daquele que detém a posse. Conforme visto
acima, não mais existem no direito brasileiro.
As ações escriturais são aquelas que apenas constam escrituradas em
livro especial da instituição financeira, que o mantém na Comissão de Valores
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Mobiliários ou na Bolsa de Valores. O registro confere a propriedade. Não há a


corporificação em um certificado emitido pela companhia que as emite. Sua
transferência se faz por meio de um termo lavrado num livro onde se faz o
registro.

2.AS DEBÊNTURES
As debêntures, instituídas originariamente pelo Decreto nº 177-A, de
15.09.1893, e atualmente reguladas pelos artigos 52 a 74 da Lei nº 6.404, de
15.12.1976 (Lei das Sociedades Anônimas), são títulos de crédito
representativos de empréstimos que as sociedades comerciais contraem junto
ao público, conferindo aos seus titulares direito de crédito contra elas. Para
Theophilo de Azeredo Santos, as debêntures são uma espécie do gênero
empréstimo: “É o contrato de mútuo, que se distingue do simples mútuo,
definido no art. 247 do Código Comercial, pela divisão da quantia mutuada em
frações, expressa por títulos... nominativos endossáveis...”. 3
Trata-se de uma forma das sociedades comerciais conseguirem capital
perante os investidores em geral, à semelhança do que ocorre com o Poder
Público, que lança títulos ao mercado para angariar fundos ou capital para
determinadas finalidades. Ilustra José Edwaldo Tavares Borba que “constituem
uma alternativa para aumento de capital, sendo indicadas nos casos em que o
mercado não se encontre predisposto à absorção de ações, ou, ainda, quando
aos antigos acionistas não convenha aumentar o capital próprio.” 4
O debenturista não se torna sócio da empresa, mas apenas seu credor,
constituindo-se entre as partes uma relação de mútuo. De Plácido e Silva bem
define as debêntures: “É permitido às sociedades por ações (anônimas ou
companhias e comandita por ações) contraírem empréstimos em dinheiro,
emitindo para garanti-los obrigações ou títulos ao portador.
A estes títulos ou obrigações é que se dá o nome de debêntures.
A debênture, pois, representa o documento ou título em que se faz
uma promessa de pagamento em dinheiro, a ser cumprida nas condições que
no próprio título se mencionam”.5
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Acrescenta-se que o documento expedido, constituindo-se de um título de


crédito, possui a natureza de abstrato, não ligado à relação causal.
Rubens Requião explica a finalidade das debêntures: “A fim de evitar os
inconvenientes de pequenos e constantes financiamentos em curto prazo e a
altos juros, no mercado financeiro, as sociedades por ações têm a faculdade
exclusiva de obter empréstimos, tomados ao público em longo prazo e a juros
mais compensadores, inclusive com correção monetária, mediante resgate a
prazo fixo ou em sorteios periódicos. A característica dessa operação, que
fundamenta e dá causa à emissão das debêntures, como explica Carvalho de
Mendonça, é que o empréstimo é um só, os mutuantes são muitos, sujeitos
todos, porém, às mesmas condições gerais e correndo os mesmos riscos. A
cada fração, todas do mesmo valor, corresponde um certificado, e em seu
conjunto são oferecidos ao público, coletando-se, dessa forma, no mercado de
capitais, a poupança popular. Cada debênture tem vida jurídica autônoma, e se
presta a negociação e circulação isoladas”.6
As debêntures podem se materializar em certificado, o qual será o
instrumento do crédito. Consoante o art. 64 da Lei nº 6.404, o certificado
deverá conter a denominação, sede, prazo de duração e objeto da companhia;
a data da constituição da companhia e de seu arquivamento e publicação dos
atos constitutivos; a data da publicação da ata que autorizou o empréstimo que
ela representa; a data e ofício do registro de imóveis em que foi escrita a
emissão; a denominação “debênture” e a indicação de sua espécie, com
dizeres que se refiram à garantia, à preferência ou não preferência; a série a
que corresponde; o número de ordem; o valor nominal e a cláusula de correção
monetária, se houver; as condições de vencimento, amortização, resgate,
juros, participação no lucro ou prêmio de reembolso e a data em que serão
devidos; as condições de conversibilidades em ações, se for o caso; o nome do
debenturista; o nome do agente fiduciário do debenturista, se houver; a data da
emissão do certificado e a assinatura de dois diretores da companhia; a
autenticação do agente fiduciário.
Cada debênture é autônoma, ou seja, constitui um negócio jurídico,
valendo por si, independentemente das demais debêntures emitidas e relativas
ao mesmo empréstimo. Como refere Pontes de Miranda, “cada debênture é
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cártula de negócio jurídico unilateral. Há tantos negócios jurídicos unilaterais


quantas as debêntures subscritas”.7
O debenturista, com a aquisição do título, passa a fazer jus às vantagens
que dele advém, como a percepção de juros e a participação de lucros na
empresa emissora, como salienta Fran Martins: “O principal direito dos
debenturistas é a percepção de juros por parte da sociedade, podendo esses
ser fixos ou variáveis; mas podem os debenturistas também ter participação no
lucro da companhia emissora, ou gozar de prêmio de reembolso, se assim
estiver estipulado na escritura de emissão”. 8
Passa-se a destacar, além dos já observados, os principais aspectos das
debêntures, de acordo com a Lei nº 6.404, com as alterações introduzidas pela
Lei nº 10.303, de 31.10.2001.
Deve o título conter o valor nominal expresso em moeda nacional,
admitindo-se, nos casos permitidos em lei, a estipulação em moeda estrangeira
(art. 54). Poderá prever a correção monetária do valor, na forma do § 1º do art.
54. O § 2º permite ao debenturista a opção de escolher receber o pagamento
do principal e acessórios, quando do vencimento, amortização ou resgate, em
moeda ou em bens.
Na escritura de emissão e do certificado da debênture constará a época do
seu vencimento, admitindo-se previsão de amortizações parciais de cada série
e a criação de fundos de amortização com a reserva do direito de resgate
antecipado, parcial ou total, dos títulos da mesma série (art. 55).
De acordo com o art. 56, faculta-se assegurar ao titular da debênture o
recebimento de juros, fixos ou variáveis, bem como a participação no lucro da
companhia e prêmio de reembolso.
Na forma do art. 57, a debênture é conversível em ações, nas condições
constantes da escritura de emissão, especificando-se as bases da conversão
(inc. I), a espécie e a classe das ações em que poderão ser convertidas (inc.
II), o prazo e época da conversão (inc. III) e outras condições aplicáveis à
conversão (inc. IV). Quando a emissão da debênture contiver a cláusula de
conversibilidade em ações, os acionistas terão direito de preferência na
subscrição das mesmas, na forma do § 1º. No período em que a debênture
puder ser convertida em ações, a mudança do objeto da companhia e a criação
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de ações preferenciais ou modificação de vantagens existentes que possam a


vir causar prejuízo das ações em que são conversíveis as debêntures
dependerá de prévia aprovação dos debenturistas (§ 2º).
A debênture, de acordo com o art. 58, poderá ter garantia real ou flutuante,
não gozar de preferência ou ser subordinada aos demais credores da
companhia. José Edwaldo Tavares Borba explica que as garantias se
constituem englobadamente para todas as séries da emissão, ou
“especificamente para determinadas séries. Constituídas inicialmente para uma
determinada série, não se poderá posteriormente estendê-las a outras”. 9
Em consonância com o art. 59, à assembleia-geral da pessoa jurídica
compete fixar as condições sobre emissão da debênture, a quantidade, o valor,
o número, as garantias, a correção monetária, a conversibilidade ou não em
ações, a época do vencimento e amortização ou resgate, a época do
pagamento dos juros, a participação nos lucros, o modo de subscrição. Na
companhia aberta, consoante o § 1º do mesmo art. 59, na redação da Lei nº
12.431/2011, faculta-se ao conselho de administração da companhia a emissão
de debêntures não conversíveis em ações, salvo disposição estatutária em
contrário.
A emissão, pelo art. 61, constará de escritura pública ou particular de
emissão, assinalando-se os direitos conferidos, as garantias e demais
cláusulas ou condições. Em seguimento, o art. 62 elenca uma série de outros
requisitos, como o arquivamento no registro de comércio, a publicação da ata
de assembleia ou do conselho de administração que deliberou sobre a
emissão, e o registro no Registro do Comércio da escritura de emissão –
redação da Lei nº 10.303.
Os parágrafos do art. 62 tornam responsáveis os administradores da
companhia pelas perdas e danos causados à companhia ou a terceiros,
sempre que houver o descumprimento de obrigações relativas ao arquivamento
e ao registro dos atos de emissão. Os registros de comércio manterão livro
especial para a inscrição das emissões.
Prevê o art. 63 a emissão de debêntures ao portador ou endossáveis,
devendo as últimas ficar registradas em livro próprio. Outrossim, contempla-se
a emissão de certificado de depósito. Todavia, a Lei nº 9.457, de 1997, afastou
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as debêntures ao portador e endossáveis, como expõe José Edwaldo Tavares


Borba, nos seguintes termos: “Revogadas, porém, as formas ao portador e
endossável, o que conduz as debêntures para as formas nominativa (agora
expressamente prevista na Lei nº 9.457/97) e escritural, únicas hoje
existentes..., posto que as debêntures nominativas e escritural encontram-se
sujeitas a registro”.10
Outrossim, a Lei nº 10.303 alterou os §§ 1º e 2º do art. 63, cuidando
aquele do registro das debêntures endossáveis, e o último facultando que a
escritura de emissão pode estabelecer que as debêntures sejam mantidas em
conta de custódia, em nome de seus titulares, na instituição que designar, sem
emissão de certificados. Assim, pela nova redação, são trazidas regras do
depósito das debêntures emitidas com certificado, facultando-se que sejam
mantidas em contas de custódia em instituição que for designada, sem
emissão de certificados.
O art. 65 admite a emissão de certificados múltiplos de debêntures.
O art. 66 trata do agente fiduciário, que é um representante legal dos
debenturistas perante a companhia emissora, incumbindo-lhe agir como se ele
fosse o titular das debêntures. Compete-lhe proteger os interesses, elaborar
relatórios sobre a realidade dos títulos e providenciar em medidas de proteção
contra a companhia emissora, dentre outras funções, inclusive a execução das
garantias e a falência da emitente. Vem a ser um fiscal que atua em favor dos
debenturistas. Permite o art. 67 a substituição do agente fiduciário, cuja
regulamentação prática está a cargo da Comissão de Valores Mobiliários. O
art. 68 delineia seus deveres, respondendo, inclusive, pelos danos que
decorrerem de sua atividade, desde que proceda com culpa ou dolo.
Dentre outras regras, há a previsão de assembleia dos debenturistas (art.
71), e a permissão de se emitirem cédulas garantidas pelo penhor de
debêntures, conferindo aos seus titulares direito de crédito contra o emitente
(art. 72). Pelo art. 73, está regulada a emissão de debêntures no exterior, com
garantia real ou flutuante de bens situados no Brasil. No caso de extinção, é
obrigatória a anotação em livros próprios da companhia, que ficarão arquivados
pelo prazo de cinco anos, juntamente com os documentos relativos à extinção,
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aos certificados cancelados e aos recibos dos titulares das contas das
debêntures (art. 74).
Finalmente, a debênture, constituindo um título de crédito, sujeita-se à
execução de título extrajudicial, na forma do art. 585, inc. I, do CPC/1973, e no
art. 784, inc. I, do CPC/2015, no que já foi referendado pelo Superior Tribunal
de Justiça.11
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