ENGELS 26 refere-se também à luta da democracia contra a aristocracia como uma luta pela «social-democracia». Com
uma impregnação partidária mais acentuada e uma estreita ligação com o «movimento operário», a «social--
democracia» contrapõe-se à «democracia política» ou «burguesa». O princípio democrático-social é considerado
como um «princípio proletário», um «princípio de massas» 27.
b) «Movimento constitucional», «Questão social» e «direitos sociais»
A extensão da ideia de democracia no sentido da «socialidade» é histórica e politicamente ininteligível se a não
relacionarmos com a «Questão Social» do séc. Xix, a qual, na sua essência, se reconduzia a uma «questão do
trabalho» 28. O movimento constitucional liberal orientara a sua luta contra o absolutismo estadual, o arbítrio do
poder, as sobrevivências feudais e o proteccionismo mercantilista. Lema fundamental: liberdade e propriedade.
Contra a unidimensionalização individualista, egoísta e proprietária do liberalismo, contra a proletarização crescente
das classes trabalhadoras, o movimento operário reclama justiça social e igualdade: segurança social, fim da
«exploração do homem pelo homem». Isto é hoje indiscutivelmente considerado como o primeiro e mais importante
«background» histórico-social do moderno princípio da democracia económica e social29 (cfr. arts. 2.° e 9.7c da
CRP).
c) O Estado de direito social como «extensão do pensamento do Estado de direito material»
Profunda influência — pelo menos teórica — para a consagração constitucional da ideia de socialidade teve o
pensamento de H. HELLER quando, ainda na época de Weimar, defendeu que a ideia de democracia social reclamada
pelo «proletariado» «representava a extensão do pensamento do Estado de direito material à ordem do trabalho e dos
bens» 30. Tratava-se já de uma proposta política programática, no sentido de uma profunda democratização da econo-
mia através da reestruturação da ordem de domínio patrimonial. E é neste sentido que alguns autores continuam a
interpretar o pensamento do Estado de direito social e democrático: «o Estado de direito da democracia implica uma
26
Cfr. ENGELS, «Die Lage Englands. Die Englisch Konstitution», 1844, in MEW, Vol. 1,1975, p. 592.
27
Cfr. ENGELS, «Fest der Nationen in London», in MEW, Vol. 2, p. 613.
28
Cfr. BADURA, «Das Prinzip der sozialen Grundrechte und seine Verwirklichung im Recht der Bundesrepublik
Deutschland», in Der Staat, n.° 14 (1975), pp. 17 ss.
29
Cfr., por ex., MAUNZ-DÚRIG-HERZOG, Grundgesetz, Kommentar, art. 20, n.° 157; K. LÔEWENSTEIN,
Verfassungslehre, 2.ê ed., p. 342. No plano constitucional positivo, é de assinalar o carácter pioneiro das constituições
francesas de 1793 e 1848 (onde se consagrou o direito ao trabalho) e da Constituição mexicana (1919) com um amplo
programa de socialização. Cfr. VITAL MOREIRA, Economia e Constituição, cit., pp. 77 ss.
30
Cfr. H. HELLER, Rechtsstaat oder Diktatur?, cit., p. 149.