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Safo: Fragmento 1

Safo, Fragmento 1

Afrodite imortal de trono multicor,


filha de Zeus, tecelã de intrigas, suplico-te:
não dobres a sofrimentos e angústias,
senhora, meu coração;

mas aproxima-te, se jamais no passado


ouvindo meu grito de longe
atendeste, e deixando o palácio dourado
do teu pai, vieste,

tendo atrelado o carro: trouxeram-te belos


pardais velozes sobre a terra escura,
e, turbilhonando as asas no ar
celeste,

logo chegaram; e tu, Bem-Aventurada,


com um sorriso no rosto imortal,
perguntaste por que sofro agora e por que
de novo te chamo,

e o que é que mais almeja


meu louco coração. "Quem, agora
convenço para o teu amor? Quem,
ó Safo, te faz mal?

Pois, se ela foge, logo perseguirá;


se recusa presentes, presentes oferecerá,
se não ama, logo amará,
mesmo sem querer."

Vem para mim também agora, livra-me


deste sofrimento atroz, realiza tudo o que meu
coração deseja realizar: sê de novo
minha aliada.

Safo 137 L-P


quero dizer-te uma coisa, mas me tolhe
o pudor [
...
fosse, o teu, um desejo por algo nobre e bom
não te estalassem na língua umas palavras feias,
nenhum pudor velaria os teus olhos
[e o que é certo tu dirias]

Tradução: Joaquim Brasil Fontes


Fonte: FONTES, J.B. Eros, tecelão de mitos. São Paulo: Iluminuras. 2002.

Safo: fragmento 2 L-P

Vem de Creta até este puro santuário,


onde há para ti um querido bosque
de macieiras, altares que se acen-
-dem com incensos:

Lá águas frescas murmuram através de ramos


de macieiras, sombreia-se com rosas
todo o solo, e de trementes folhagens
derrama-se um feitiço: o sono.

Lá viceja um prado, pasto de corcéis,


com flores de primavera, e os ventos
sopram docemente:

Aqui, Cípris, tu conquistaste


néctar mesclado a festividades
vertendo-o com delicadeza
em nossos dourados cálices.

Outras fontes do fragmento:

Hermógenes, As formas do estilo, 2.34:


"E (sc. sobre os prazeres) pode-se descrever com simplicidade aqueles que não são torpes, como a
beleza de uma região, plantas diversas, a variedade dos rios e tantas outras coisas. É que estes
incutem prazer aos olhos, ao serem vistos, e aos ouvidos, quando alguém os anuncia, como fez
Safo:
“ à sua volta, águas frescas murmuram através de ramos de macieiras”, e “das trementes folhagens
derrama-se um feitiço: o sono”. e o que mais é dito antes desses versos e depois.
Ateneu, o Banquete dos eruditos:

E segundo a bela Safo:

“Vem, Cípris,
Vertendo com delicadeza
Em nossos dourados cálices
Néctar mesclado a festividades”

Aos meus e aos teus companheiros.

(Tradução de Rafael Brunhara)

'Safo': Antologia Grega


1. (7.489)

Eis as cinzas de Timas: morta pouco antes de casar-se,


Perséfone a acolheu em seu quarto sombrio.
Assim que ela morreu, as amigas, tão jovens quanto ela,
cortaram-se os cabelos com ferro afiado.

2. (7.505)

Menisco, pai de Pelagon, pescador, deixou-lhe na tumba


rede e remo, mementos de sua vida mísera.
Tradução: José Paulo Paes. in: Poemas da Antologia Grega ou Palatina. São Paulo: Companhia das

Safo: Fragmentos 49, 55, 102 e 130

49
Eu te amava, Átis, outrora...
...parecias-me pequenina e sem encantos.

55
Morta, jazerás: e não mais memória de ti
haverá então, nem saudade; pois não tiveste parte nas rosas
da Piéria. Invisa no palácio de Hades
vaguearás, entre débeis cadáveres esvoaçante.

102
Doce mãe, já não posso mais tecer a trama
por desejo a um rapaz domada pela esguia Afrodite.

130
Eros, de novo, que os membros deslassa, perturba-me:
doce e amargo, invencível monstro.

(Tradução: Rafael Brunhara)

Safo 34 V
Astros ao redor da bela lua
De pronto ocultam sua luz fanal
quando plena ela mais fulge
argêntea
sobre a terra.

(Tradução: Rafael Brunhara)

Safo – Epitalâmio

Ao alto o teto
hímen!
erguei, carpinteiros.
hímen!
Vem-se o esposo: rival
hímen!
é de Ares, e homem
mais alto do que alto!
hímen!

Tradução: Pedro Alvim, in: Safo de Lesbos. SP: Ars Poética. 1993.

Safo 31 - Tradução de Elpino Duriense


Igual aos Deuses me parece aquele
Que defronte de ti se assenta, e te ouve
De perto docemente conversando,
Docemente sorrindo.

Isto no peito o coração me assombra,


Que depois que te eu vi, jamais me veio
Voz alguma à garganta, antes quebrada
A língua se entorpece,

Eis já de veia em veia sutil fogo


Lavrando vai: c'os olhos nada vejo;
E sinto de contínuo em meus ouvidos
um túrbido zumbido.

Geladas bagas por meu corpo correm,


Um frígido tremor me toma toda;
O rosto amarelece (*), e quase morta
Nem respirar já posso.

(*) Nota do tradutor: O texto diz: "Estou mais verde que a erva"; mas esta imagem por muito vulgar
não sairia bem em nossa língua; como já notou o douto tradutor português de Longino, pelo que lhe
substituímos o rosto amarelece, lembrando-nos da Eglóga X, dos Segadores de Ferreira, que nos diz
na altepenúltima oitava: "A mão te treme, o rosto amarelece,"
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segunda-feira, dezembro 24, 2007
Safo: fragmentos
Não minto: eu me queria morta.
Deixava-me, desfeita em lágrimas:

"Mas, ah, que triste a nossa sina!


Eu vou contra a vontade, juro,
Safo". "Seja feliz", eu disse,

"E lembre-se de quanto a quero.


Ou já esqueceu? Pois vou lembrar-lhe
Os nossos momentos de amor.

Quantas grinaldas, no seu colo,


— Rosas, violetas, açafrão —
Trançamos juntas! Multiflores

Colares atei para o tenro


Pescoço de Átis; os perfumes
Nos cabelos, os óleos raros
Da sua pele em minha pele!
[...]
Cama macia, o amor nascia
De sua beleza, e eu matava
A sua sede" [...}

Cai a lua, caem as plêiades e


É meia-noite, o tempo passa e
Eu só, aqui deitada, desejante.

— Adolescência, adolescência,
Você se vai, aonde vai?
— Não volto mais para você,
Para você volto mais não.

Tradução: Décio Pignatari

Safo 50 D
O amor - súbita brisa
que nas folhas tropeça -
meu coração deixou tremente.

[Tradução de Jorge de Sena]

Safo - fr.170
Morrer é um mal – assim decidiram os deuses
eles que não morrem.

[Tradução: Joaquim Brasil Fontes]

Safo- fr. 2 L-P


Há um murmúrio de águas frescas, através
dos ramos das macieiras, as rosas ensobram
todo o solo, e das folhas trémulas
escorre o sonho.

[vv.5-8. Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira]

Safo 105 L-P


Tal uma doce maçã rubra, que brilha no alto dos ramos,
mesmo no cimo de tudo, esquecida dos que andavam na colheita,
- esquecida não, é que não conseguiram antingi-la.

[Tradução de Maria Helena da Rocha Pereira]

Safo: gênese do poema


vem
lira quelônia
divina:
vira
sompoema

(Tradução: Haroldo de Campos)

Safo 5
Morto o doce adônis
e agora citeréia
que nos resta?
lacerai os seios donzelas
dilacerai as túnicas

(Tradução Haroldo de Campos)

Safo, fr. 31 - Outra tradução


Ditosa que ao teu lado só por ti suspiro!
Quem goza o prazer de te escutar,
quem vê, às vezes, teu doce sorriso.
Nem os deuses felizes o podem igualar.

Sinto um fogo sutil correr de veia em veia


por minha carne, ó suave bem querida,
e no transporte doce que a minha alma enleia
eu sinto asperamente a voz emudecida.

Uma nuvem confusa me enevoa o olhar.


Não ouço mais. Eu caio num langor supremo;
E pálida e perdida e febril e sem ar,
um frêmito me abala... eu quase morro... eu tremo.

Tradução: Décio Pignatari

Safo - fr.55 LP
Quando morreres, hás-de jazer sem que haja no futuro
Memória de ti nem saudade. É que não tiveste parte
Nas rosas de Piéria. Invisível, andarás a esvoaçar
No Hades, entre os mortos impotentes.

Tradução: Maria Helena da Rocha Pereira.

Safo Fr.34
Em torno a silene esplêndida
os astros
recolhem sua forma lúcida
quando plena ela mais resplende
alta
argêntea
[Fr.34 LP]
Tradução: Haroldo de Campos

Safo - Ode a Anactória


Dizem: O renque de carros ou de soldados
ou de navios é sobre a terra negra
a suprema beleza. Digo: é aquilo que
se ama.

Muito fácil fazer isto compreensível


a todos: - Helena, a que superou
toda beleza de humanos, ao mais nobre
marido

deixou atrás e foi a Tróia num navio.


Nem da filha nem dos pais queridos
nada se recordou, mas seduziu-a
Cípris.

Nas mãos de Cípris, é maleável a mente.


Eros faz nosso pensamento revirar-se
leve e faz-me lembrar agora Anactória
longe.

Quisera eu ver o encanto de seu andar


e a luz brilhante de seu rosto,
não carros da Lídia ou guerreiros
com armas.

(Tradução de Jaa Torrano)

Safo - Hino a Afrodite


Afrodite imortal de faiscante trono
filha de Zeus tecelã de enganos peço-te:
a mim nem mágoa nem náusea domine
Senhora o ânimo

Mas aqui vem - se há uma vez


a minha voz ouvindo de longe
escutaste e do pai deixando a casa
áurea vieste

atrelado o carro. Belos te levavam


ágeis pássaros acima da terra negra
contínuas asas vibrando vindos do céu
através do ar,

e logo chegaram. Tu ó venturosa


sorrindo no rosto imortal indagas
o que de novo sofri, a que de novo
te evoco,
o que mais desejo de ânimo louco
que aconteça. "Quem de novo convencerei
a acolher teu amor?" "Quem, Safo, te faz sofrer?"

"Se bem agora fuja, logo te perseguirá,


se bens teus dons recuse, virá te dar,
se bem não ame, logo amará - ainda que
ela não queira."

Vem junto a mim ainda agora, desfaz


o áspero pensar, perfaz quanto meu ânimo
anseia ver perfeito. E tu mesma - sê
minha aliada.

(Tradução de Jaa Torrano)

Safo
Parece-me par dos deuses
ser o homem que ante de ti
senta-se e de perto te ouve
a doce voz

e o riso desejoso. Sim isso


me atordoa o coração no peito:
tão logo te olho, nenhuma voz
me vem

mas calada a língua se quebra,


leve e sob a pele um fogo me corre,
com os olhos nada vejo, sobrezum-
bem os ouvidos

frio suor me envolve, tremo


toda tremor, mais verde que relva
estou, pouco me parece faltar-me
para a morte.

Mas tudo é ousável e sofrível...

(Tradução de Jaa Torrano)

Fragmento de Safo
Eis as cinzas de Timas: morta pouco antes de casar-se,
Perséfone a acolheu em seu quarto sombrio.
Assim que ela morreu, as amigas, tão jovens quanto ela,
cortaram-se os cabelos com ferro afiado.

(tradução de José Paulo Paes)

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