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A redução na ingestão dos alimentos complementares pode ocorrer devido à monotonia dos
alimentos ofertados, deficiência de micronutrientes e/ou fatores emocionais envolvidos.
Uma dieta pobre em micronutrientes pode acarretar uma série de danos especialmente ao
indivíduo em acelerada fase de crescimento e desenvolvimento. Uma das conseqüências da
inadequação de alimentos oferecidos nessa fase é a anemia carencial ferropriva, principal
carência nutricional nos primeiros anos de vida, atingindo cerca de 50% dos lactentes
brasileiros. A deficiência de ferro compromete o crescimento, desenvolvimento motor e
cognitivo, favorece a ocorrência de processos infecciosos e leva a conseqüências tardias,
inclusive no desempenho escolar, força de trabalho e qualidade de vida.
A fortificação de alimentos, em diferentes estudos, é apontada como uma das medidas mais
eficazes no combate à carência de micronutrientes. Nesse contexto, os cereais infantis
exercem importante papel, especialmente na fase de alimentação de transição, por serem ricos
em vitaminas do complexo B (tiamina, B6, B12, niacina, riboflavina e ácido fólico), fósforo e
possibilitarem a fortificação com outros micronutrientes como ferro e vitamina C.
Especial atenção deve ser dada ao uso de cereais integrais impróprios para lactentes e
crianças devido ao alto conteúdo de fitatos que podem comprometer a biodisponibilidade dos
minerais e micronutrientes.
Assim, a partir dos 6 meses de vida, recomenda-se a introdução inicial de cereais à base de
arroz, que são livres de glúten, com menor conteúdo de sódio e com menor poder alergênico.
Em seqüência, introduzem-se os demais tipos de cereais, incluindo as preparações compostas.
Os cereais podem dar variedade e auxiliar na composição de uma dieta equilibrada, evitando
monotonia.
A maior parte dos cereais (arroz, milho, aveia, centeio, cevada e trigo) pertence à família das
gramíneas. Eles são ricos em carboidratos, em especial amido (70 a 75%), e pobres em
lipídeos (exceto aveia e milho); contêm quantidade variável de proteínas, minerais, certas
vitaminas do complexo B (tiamina, B6, niacina e riboflavina), fósforo e fibras alimentares. As
proteínas dos cereais são incompletas em termos de aminoácidos essenciais e, quando em
associação com proteínas de origem animal, resultam em combinação de melhor valor
nutricional. Exemplo: cereais consumidos com leite.
Consideração importante diz respeito ao conteúdo total de sódio das preparações com cereais
que requerem leite ou que já venham acrescidas de leite. A oferta excessiva de sódio entre 6 e
12 meses de vida contribui sobremaneira para elevação da carga renal potencial de soluto e
favorece o desenvolvimento de hipertensão na vida adulta. Assim, é importante verificar o
conteúdo total de sódio da dieta oferecida ao lactente.
A absorção do ferro e zinco da dieta pode ser gravemente comprometida pelo alto conteúdo de
fitatos, fibras e polifenóis encontrados em cereais não refinados (integrais). Sabe-se que um
mol de ácido fítico pode quelar 3 a 6 moles de cálcio, formando complexos insolúveis no
intestino. Essa mesma capacidade faz com que o ácido fítico forme também uma variedade de
sais insolúveis com cátions di e trivalentes em pH neutro (Zn, Cu, Mn e Fe), impedindo que
esses minerais sejam absorvidos no intestino.
Nos cereais próprios para uso infantil não há fitatos. Há duas formas de melhorar a
biodisponibilidade do ferro nos cereais infantis: uma diz respeito à forma de ferro inorgânico
acrescido e a outra à presença de fatores facilitadores da absorção do ferro, como a adição de
ácido ascórbico.
As formas de ferro acrescidas aos cereais levam em conta não só a biodisponibilidade como
eventuais problemas organolépticos. Assim, o sulfato ferroso, freqüentemente utilizado nas
fórmulas infantis, apresenta problemas que incluem a oxidação da gordura e rancificação, não
sendo utilizado nos cereais infantis.
O fumarato ferroso apresenta boa biodisponibilidade. Estudos mostram que a ingestão de uma
porção de cereal contendo fumarato ferroso provém em média 102 µg de Fe biodisponível,
equivalente a 14% da necessidade diária de Fe para crianças entre 6 e 12 meses. Assim, a
ausência de fitatos, a forma de ferro (fumarato ferroso) adicionado e o acréscimo de ácido
ascórbico favorecem sobremaneira o aproveitamento do ferro, tornando os cereais infantis
alimentos importantes na composição da dieta, especialmente para prevenção da anemia
carencial ferropriva.
A alimentação complementar deve ser iniciada a partir do sexto mês. Uma preocupação na
introdução precoce de alimentos, especialmente cereais, diz respeito ao desenvolvimento
futuro de doença celíaca (DC), diabetes mellitus tipo 1, entre outras doenças. Alelos
semelhantes aos encontrados em pacientes com doença celíaca também conferem aumento
para o desenvolvimento de diabetes tipo 1 e, portanto, parentes em primeiro grau desses
indivíduos também apresentam risco para o desenvolvimento de DC.
Não há evidências suficientes que sustentem a idade de introdução do glúten como fator de
risco independente para o desenvolvimento de DC. Alguns estudos reforçam a importância da
introdução gradual do glúten, enquanto o aleitamento materno ainda se processa, como fator
importante na prevenção da DC; embora o mecanismo do efeito protetor do leite materno ainda
não esteja totalmente elucidado, é conhecido seu papel relevante como imunomodulador.
Outro aspecto importante a ressaltar diz respeito ao potencial alergênico dos cereais. Estudos
salientam a importância de avaliar a alergia a esses alimentos, especialmente em crianças com
alergia à proteína do leite de vaca com má evolução.
Assim, analisando os estudos existentes, embora com limitações metodológicas e fatores de
confundimento, podemos inferir que o aleitamento materno exclusivo deva ocorrer até os 6
meses devido aos inúmeros benefícios além dos enfocados neste tópico, e que a introdução
dos cereais não deveria acontecer antes dos 4 meses de vida.
Considerações Finais
Bibliografia recomendada