Você está na página 1de 65

Atanásio de

Alexandria
Santo Atanásio de Alexandria

Ícone de Santo Atanásio


Papa de Alexandria; Confessor; Doutor da
Igreja (Doctor Incarnationis)[1]
Nascimento c. 296 em Alexandria, no Egito
Morte 2 de maio de 373 (77 anos) em
Alexandria, no Egito
Veneração Praticamente todas as
por confissões cristãs
Principal Catedral Ortodoxa Copta de São
templo Marcos no Cairo, Egito
Igreja de São Zacarias, Veneza,
Itália
Festa 2 de maio (cristianismo
litúrgica ocidental)
15 de maio na Igreja Ortodoxa
Copta
18 de janeiro (demais igrejas
orientais)
Atribuições Bispo discutindo com um pagão;
Bispo segurando um livro aberto;
Bispo pisoteando um herético
derrotado
Portal dos Santos

Atanásio de Alexandria (em grego:


Ἀθανάσιος Ἀλεξανδρείας;
transl.: Athanásios Alexandrías; em latim:
Athanasius), dito o Grande ou o
Confessor, chamado também de o
Apostólico na Igreja Ortodoxa Copta, foi
o vigésimo arcebispo de Alexandria
(como Atanásio I de Alexandria). Seu
episcopado durou 45 anos (c. 8 de junho
de 296 – 2 de maio de 373), dos quais
dezessete ele passou exilado, em cinco
ocasiões diferentes e por ordem de
quatro diferentes imperadores romanos.
Atanásio foi um importante teólogo
cristão, um dos "padres da Igreja", o
principal defensor do trinitarismo contra
o arianismo e um grande líder da
comunidade de Alexandria no século IV.
O conflito contra Ário e seus seguidores,
apoiados muitas vezes pela corte em
Roma, moldou a carreira de Atanásio. Em
325, com 27 anos, começou a luta contra
os arianos como assistente de seu
arcebispo, Alexandre, no Concílio de
Niceia, convocado pelo imperador
Constantino I entre maio e agosto de 325
para tratar da tese ariana de que o Filho
de Deus, Jesus de Nazaré, e Deus Pai
seriam de substâncias (ousia)
diferentes.[2] Três anos depois de Niceia,
Atanásio sucedeu ao seu mentor como
arcebispo.

Além do conflito contra os arianos, que


incluía o poderoso e influente partido
liderado por Eusébio de Nicomédia, ele
lutou também contra os imperadores
Constantino, Constâncio II, Juliano, o
Apóstata e Valente e, por isso, era
conhecido como "Athanasius Contra
Mundum" em latim.

Apesar disso, poucos anos depois de


sua morte, Gregório de Nazianzo
chamou-o de "Pilar da Igreja". Suas obras
foram celebradas por todos os padres da
Igreja que vieram depois dele, tanto no
ocidente quanto no oriente, que
ressaltaram sua rica devoção ao Verbo-
encarnado, sua grande preocupação
pastoral e seu profundo interesse no
nascente monasticismo. Atanásio
aparece entre os quatro grandes
doutores da Igreja orientais da Igreja
Católica Romana.[3] Na Ortodoxia, ele é
chamado de "Pai da Ortodoxia". Algumas
denominações protestantes chamam-no
de "Pai do Cânon".

Biografia
Primeiros anos

Atanásio nasceu em Alexandria ou,


possivelmente, na cidade de Damanhur,
perto do delta do Nilo, no Egito romano
em 296.[4] Alguns acadêmicos ocidentais
consideram que seu domínio do grego,
língua que Atanásio utilizou na maioria
das obras sobreviventes, evidenciam que
ele seria de origem grega. Porém, na
literatura copta, ele é considerado como
sendo o primeiro patriarca de Alexandria
a fazer uso do copta juntamente com o
grego em suas obras.[5]

A Enciclopédia Católica[4] afirma que


Atanásio teria nascido entre c. 296 e
antes de 298. O argumento para esta
última data começa com uma análise do
compilador das famosas "Cartas
Pascoais" logo depois de sua morte.
Este autor, anônimo, afirmou que os
arianos haviam acusado Santo Atanásio,
entre outras coisas, de não ter ainda
atingido a idade canônica (30 anos) e,
por isso, não poderia teria ter sido
ordenado patriarca de Alexandria em
328. Como ele não foi julgado
novamente por essas acusações,
Atanásio deve ter pelo menos parecido
ter mais de 30 anos em 328 para a
acusação ser minimamente plausível.[6]
Além disso, em duas passagens
distintas (Hist. Ar., lxiv e De Syn., xviii),
Atanásio afirma não se lembrar de ter
sido testemunha ocular do início da
grande perseguição pelos tetrarcas
Diocleciano e Maximiano em fevereiro de
303. Ao fazer referência a estes eventos,
ele nunca menciona lembranças próprias
e se volta para as tradições, o que tende
a indicar juventude (menos de 10 anos
de idade) em 303.[4]

Educação

Alexandria era o mais importante centro


comercial de todo o Império Romano
durante a infância de Atanásio.
Intelectualmente, moralmente e
politicamente, a fervilhante cidade
egípcia era o retrato da diversidade
étnica do mundo greco-romano, mais do
Roma, Constantinopla, Antioquia ou
Massilia (Marselha, na França).[7] Sua
famosa escola catequética, sem
sacrificar em nada sua famosa paixão
pela ortodoxia doutrinária que vinha dos
tempos de Panteno, Clemente, Orígenes,
Dionísio e Teognosto, já havia começado
a adquirir uma característica quase
secular e contava com estudiosos da
cultura pagã entre os seus membros.[8]

Rufino[9] relata a ocasião quando o bispo


Alexandre convidou seus colegas para
um café da manhã depois de um
importante serviço religioso. Enquanto
esperava pelos convidados na janela, ele
assistiu alguns jovens brincando na
praia. Ele logo percebeu que eles
estavam imitando o elaborado ritual
cristão do batismo. Ele mandou chamar
os garotos e descobriu que um deles
(Atanásio) era o "bispo" do grupo.
Alexandre determinou que os batismos
de mentira fossem considerados reais e
estimulou Atanásio e seus companheiros
a se prepararem para receber funções
clericais.[7]

O próprio Alexandre ordenou Atanásio


diácono em 319.[10] Em 325, Atanásio
serviu como secretário do bispo no
Concílio de Niceia. Já reconhecido como
teólogo e asceta, ele era uma escolha
óbvia para suceder seu velho mentor
como patriarca,[11] apesar da oposição
dos seguidores de Ário e de Melécio de
Licópolis.[10] Enquanto ainda era diácono
à serviço de Alexandre ou nos primeiros
anos de seu patriarcado, é possível que
Atanásio tenha se encontrado com
alguns dos eremitas do deserto egípcio,
principalmente com Antônio, o Grande,
cuja hagiografia acredita-se que ele
tenha escrito.[7]

Ele havia tido uma boa educação e era


versado em gramática e retórica e,
apesar de ainda jovem e de não ter ainda
alcançado o episcopado, já dava provas
aos que o conheciam de sua sabedoria e
sagacidade".[12]

A primeira obra de Atanásio, "Contra os


Pagãos - Sobre a Encarnação " (escrita
antes de 319), revela traços da influência
do origenismo no pensamento
alexandrino (como a citação frequente
de Platão e a utilização de um definição
originada no "Organon" de Aristóteles),
mas de forma ortodoxa. Atanásio
conhecia também as teorias das
diversas escolas filosóficas e, em
particular, os principais avanços do neo-
platonismo da época. Apesar disso, em
obras subsequentes, Atanásio cita
Homero mais de uma vez.[13] Em sua
carta a Constâncio II, ele apresenta uma
defesa de si com traços evidentes da
influência da obra "De Corona", de
Demóstenes.

Atanásio conhecia o grego e admitia não


saber nada de hebraico.[14] As
passagens do Antigo Testamento que
ele cita frequentemente são quase todas
da Septuaginta grega.[15]

Início da controvérsia ariana

Por volta de 319, quando Atanásio era


diácono, um presbítero chamado Ário
entrou em conflito direto com o bispo
Alexandre de Alexandria. Ao que parece,
Ário teria repreendido o bispo pelo que
entender que doutrinas heréticas
estariam sendo ensinadas por ele.[16] A
visão teológica de Ário (o pouco que
sobrevive de sua obra são citações feitas
por inimigos) parece ter estado
firmemente enraizada no cristianismo
alexandrino e seus pontos de vista
certamente não eram radicais[17]: ele
defendia uma cristologia
subordinacionalista (que defendia que o
Filho de Deus, o Logos, era "criado" e não
"gerado eternamente", "subordinado",
portanto, ao "criador"), fortemente
influenciada por pensadores
alexandrinos como Orígenes,[18] uma
visão comum na cidade na época.[19] O
apoio de bispos poderosos como
Eusébio de Cesareia[20] e Eusébio de
Nicomédia[21] ajudam a entender como a
cristologia de Ário era compartilhada por
diversos outros cristãos por todo o
império.

Patriarca
Gravura de Santo Atanásio sendo perseguido.

O episcopado de Atanásio começou em


9 de maio de 328 depois que o sínodo de
Alexandria elegeu-o para suceder o idoso
Alexandre. Este concílio também
denunciou várias heresias e cismas,
problemas que ocupariam Atanásio
durante os 45 anos que ocuparia o trono
em Alexandria. Ele passou dezessete
fora de sua sé em cinco exílios
diferentes ordenados por quatro
imperadores romanos, sem contar
aproximadamente seis outros incidentes
nos quais Atanásio teve que fugir da
cidade para fugir da população que
pretendia matá-lo. Estes eventos deram
origem à expressão "Athanasius contra
mundum ("Atanásio contra o mundo").
Porém, durante seus primeiros anos
como bispo, visitou as igrejas de seu
território, que abrangia todo o Egito e a
Líbia. Ele também estabeleceu contato
com os eremitas e monges do deserto,
incluindo Pacômio, o que lhe seria muito
útil no futuro. Porém, logo em seguida
Atanásio se envolveu nas variadas
disputas contra o Império Bizantino e o
arianismo que tomariam o resto de sua
vida.[11]

Primeiro exílio (11 de julho de


335—22 de novembro de 337)

O primeiro problema de Atanásio foi


Melécio de Licópolis e seus seguidores,
que não aceitaram o resultado do
Concílio de Niceia, que havia
anatemizado Ário. Um antigo adversário
de Atanásio, Melécio já havia tentado
tomar o trono de Alexandria antes e era
considerado um lapsi.[22] Acusado de
maltratar os arianos e os melecianos,
Atanásio se defendeu das acusações
num sínodo em Tiro, o Primeiro Concílio
de Tiro, em 335. Durante os trabalhos, o
líder ariano Eusébio de Nicomédia e seus
aliados depuseram Atanásio.[10] Em 6 de
novembro, ambos os lados da disputa se
encontraram com Constantino I em
Constantinopla.[23] Na reunião, Atanásio
foi acusado de tentar interferir com o
suprimento de cereais do Egito e, sem
nenhum julgamento formal, Constantino
exilou-o em Augusta dos Tréveros
(Tréveris, na Alemanha), na Gália
Bélgica.[10][11]

Segundo exílio (16 de abril de


339—21 de outubro de 346)

Quando Constantino morreu, Atanásio


recebeu permissão para retomar sua sé
em Alexandria. Logo depois, em 338, o
filho de Constantino, o novo imperador
Constâncio II, renovou o banimento de
Atanásio. Ele seguiu para Roma e passou
a ser protegido por Constante, o
imperador romano do ocidente. Nesta
época, Gregório da Capadócia foi
instalado no trono de Alexandria,
usurpando o direito de Atanásio que,
contudo, manteve-se em contato com
seu povo através das suas "Cartas
Pascoais" anuais, nas quais ele também
anunciava a data da Páscoa
anualmente.[11]

Além disso, em 340, cem bispos se


reuniram em Alexandria e se declararam
a favor de Atanásio, vigorosamente
rejeitando as críticas feitas pelo partido
de Eusébio em Tiro. O papa Júlio I
escreveu para os aliados de Ário
exigindo fortemente que eles
reinstalassem Atanásio, mas sem
sucesso. O papa Júlio II convocou um
sínodo em Roma em 341 para tratar do
impasse e o resultado foi que Atanásio
foi inocentado de todas as
acusações.[11][1]
“ No início de 343, encontramo-lo ”
em corajoso exílio na Gália, para
onde ele havia ido para se
consultar com o santo Ósio, o
grande campeão da ortodoxia no
ocidente. Os dois seguiram juntos
para o Concílio de Sárdica que
havia sido convocado em
deferência aos desejos do sumo
pontífice. Nesta grande reunião de
prelados, o caso de Atanásio foi
retomado novamente; e
novamente sua inocência foi
reafirmada. Duas cartas
conciliares foram preparadas, uma
para o claro e os fieis de
Alexandria e a outra para os
bispos do Egito e da Líbia, onde o
desejo do concílio se fez conhecer.
Enquanto isso, o partido de
Eusébio havia seguido para
Filipópolis e, lá reunidos, emitiram
um anátema contra Atanásio e
seus aliados. A perseguição contra
o partido ortodoxo reiniciou com
renovado vigor e Constâncio II foi
induzido a preparar medidas
drásticas contra Atanásio e os
padres que ainda lhe eram fieis.
Ordens foram recebidas indicando
que se o Santo [Atanásio] tentasse
retomar sua sé episcopal, deveria
ser executado. Atanásio, por conta
disto, fugiu de Sérdica para Naísso
na Mísia, onde celebrou a Páscoa
de 344.[4]

Em 346, quando o detestado usurpador,


Gregório, morreu, Constante usou sua
influência para permitir que Atanásio
retornasse para Alexandria. A maior
parte dos egípcios já havia então
passado a considerar o bispo como uma
espécie de herói nacional e sua recepção
foi calorosa. Este foi o início de uma
década de paz e prosperidade na região,
durante a qual Atanásio reuniu diversos
documentos sobre seus exílios e
retornos numa obra chamada "Apologia
Contra os Arianos". Porém, com a morte
de Constante em 350, outra guerra civil
se iniciou e o pró-ariano Constâncio II
acabou tornando-se o único imperador.
Um concílio local em Alexandria em 350
reafirmou (ou recolocou) Atanásio em
sua sé.[4]

Terceiro exílio (10 de julho de


356—21 de fevereiro de 362)

Mapa do Império Romano em 337. Em verde-escuro,


o território do aliado de Atanásio, o imper ador
Constante. Contudo, a sé de Alexandria ficava no
Egito, no território do ariano Constâncio II (verde
água), o que resultou em diversos exílios do
patriarca de Alexandria.
Constâncio II, retomando suas políticas
anteriores em prol dos arianos, baniu
Atanásio de Alexandria mais uma vez.
Para tanto, emitiu uma carta que foi
levada até o Egito pelo conde Heráclio e
o prefeito augustal Catafrônio, que
chegaram à cidade em 10 de julho.[24] Ao
exílio se seguiu, ainda em 356, uma
tentativa de prendê-lo durante uma
vigília. O bispo deposto fugiu para o Alto
Egito e se escondeu em diversos
mosteiros e eremitérios entre monges e
eremitas com quem havia mantido
contato. Foi neste período que Atanásio
completou sua obra "Quatro Orações
contra os Arianos" se defendeu na
"Apologia a Constâncio" e "Apologia por
sua Fuga". A persistência do imperador
em sua luta contra Atanásio combinada
a relatos de perseguições contra os
cristãos não-arianos pelo novo bispo de
Alexandria, o ariano Jorge de Laodiceia,
estimularam Atanásio a escrever a
emotiva "História dos Arianos", na qual
ele descreve Constâncio como o
precursor do Anticristo.[11]

Em 361, depois da morte do imperador,


seguida logo depois pelo assassinato do
tremendamente impopular Jorge,
Atanásio retomou sua sé. No ano
seguinte, ele convocou um novo concílio
em Alexandria e o presidiu juntamente
com Eusébio de Vercelli. Atanásio pediu
união a todos os cristãos, mesmo que
diferissem em questões de terminologia,
preparando o caminho para sua
definição do que seria a doutrina
ortodoxa da Trindade. Porém, o concílio
também tratou dos que negavam a
divindade do Espírito Santo, a alma
humana de Cristo e a divindade de
Cristo. Acordaram-se medidas leves
contra os bispos que se arrependeram,
mas penas severas foram decretadas
contra os principais líderes dos grandes
movimentos heréticos.[25]

Quarto exílio (24 de outubro de


362—5 de setembro de 363)
No mesmo ano, o novo imperador
Juliano, conhecido por sua rejeição ao
cristianismo, ordenou que Atanásio
deixasse Alexandria novamente. Ele
seguiu para o Alto Egito e lá ficou até a
morte do imperador em 363.

Quinto exílio (5 de outubro de


365—31 de janeiro de 366)

Dois anos depois, o imperador Valente,


que também era favorável aos arianos,
exilou novamente Atanásio. Desta vez,
porém, Atanásio se escondeu nos
subúrbios de Alexandria, onde
permaneceu por uns poucos meses até
que as autoridades locais convenceram
Valente a mudar de ideia.[11] Alguns
relatos indicam que ele teria passado
todo este período no túmulo ancestral de
sua família.[10]

Anos finais

Depois de retornar para o trono no início


de 366, Atanásio passou seus últimos
anos arrumando os danos provocados
pelos sucessivos períodos de violência,
dissenção e exílios na sé de Alexandria.
Ele voltou a escrever e a pregar
livremente e, caracteristicamente, re-
enfatizou a visão sobre a Encarnação
que havia sido definida em Niceia. Em 2
de maio de 373, tendo consagrado o
papa Pedro II de Alexandria, um de seus
presbíteros, como sucessor, Atanásio
morreu dormindo, rodeado de fieis e
aliados.[7]

Obras
Obras teológicas e polêmicas

Atanásio não era um teólogo


especulativo. Como ele mesmo afirmou
na sua "Primeiras Cartas a Serapião", se
agarrava "à tradição, ensinamentos e fé
proclamadas pelos apóstolos e
guardadas pelos padres".[10] Ele defendia
não apenas que o Filho de Deus era
consubstancial com o Pai, mas que
também o era o Espírito Santo, uma ideia
que teve grande influência no
desenvolvimento de doutrinas
posteriores sobre a Trindade.[10]

Sua "Carta sobre os Decretos do Concílio


de Niceia" (De Decretis) é um importante
relato histórico e teológico sobre os
procedimentos do concílio. Outra, de
367, é a mais antiga conhecida listando
os livros do Novo Testamento que inclui
todos os livros aceitos universalmente
como parte do Novo Testamento[10] (há
listas mais antigas que variam pela
omissão ou adição de um ou outro livro;
veja Desenvolvimento do cânon do Novo
Testamento).
Atanásio também escreveu uma obra em
dois volumes. "Contra os Pagãos" e
"Sobre a Encarnação do Verbo de Deus".
Provavelmente escritas no início de sua
vida, antes da controvérsia ariana,[26]
elas são as primeiras obras clássicas de
uma teologia ortodoxa mais
desenvolvida. Na primeira parte,
Atanásio ataca diversas práticas e
crenças pagãs. Na segunda, ele
apresenta sua tese sobre a redenção.[10]

Entre as demais estão suas "Cartas a


Serapião", que tratam da divindade do
Espírito Santo numa polêmica contra os
macedonianos, e uma carta a Epiteto de
Corinto, na qual Atanásio antecipa a
controvérsia futura sobre a humanidade
de Cristo. Outra carta, esta para um tal
Dracôncio, clama ao monge que deixe o
deserto para assumir encargos mais
ativos como bispo.[11]

Hagiográficas

Relíquias

Sepulcro de Sepulcro de
Santo Atanásio Santo Atanásio
na Igreja de São na Catedral
Zacarias, em Ortodoxa Copta
Veneza. de São Marcos,
no Cairo.
Uma hagiografia de Santo Antão (ou
"Antônio, o Grande"), intitulada Vita
Antonii em latim[27] é sua obra mais
popular. Traduzida para diversas línguas,
ela teve um importante papel na
disseminação do ascetismo entre os
cristãos do ocidente e do oriente.[11] Ao
representar Antão como um homem
santo e analfabeto que, através de sua
existência num ambiente inóspito,
mantinha uma conexão absoluta com a
verdade divina, a hagiografia dele lembra
a de seu biógrafo, Atanásio.[28]

Literatura copta
Na literatura copta, Santo Atanásio é o
primeiro patriarca de Alexandria a fazer
uso, além do grego, da língua copta em
suas obras.[5]

Obras incorretamente
atribuídas a Atanásio

Há várias outras obras atribuídas a ele,


mas nenhuma outra conte com a
aceitação geral dos estudiosos. Entre
elas está o Credo de Atanásio que se
acredita hoje em dia ter se originado no
século V.[10]

Cânon do Novo Testamento


Atanásio foi também a primeira pessoa a
identificar os mesmos 27 livros do Novo
Testamento utilizados hoje em dia como
canônicos. Até então, listas similares de
obras a serem lidas nas igrejas eram
utilizadas. Um marco no
desenvolvimento do cânon do Novo
Testamento é a sua carta pascoal escrita
em 367, conhecida geralmente como
"39ª Carta Pascal". O papa Dâmaso I,
bispo de Roma em 382, promulgou uma
lista de livros que continha os mesmos
livros propostos por Atanásio.[29] Um
sínodo em Hipona, em 393, repetiu a lista
de Atanásio e Dâmaso (sem a Epístola
aos Hebreus) e um concílio em Cartago
em 397 repetiram-na novamente.
Porém, estudiosos debatem se a lista de
Atanásio em 367 era ou não a base das
listas posteriores. Como o cânon de
Atanásio é, dentre os padres da Igreja, o
que mais se parece com o cânon
utilizado pelas igrejas protestantes
modernas, muitos teólogos protestantes
apontam Atanásio como o "Pai do
cânon". Eles são idênticos, exceto que
Atanásio inclui o Livro de Baruque e a
Epístola de Jeremias, além de incluir o
Livro de Ester entre os "sete livros que
não fazem parte do cânon, mas que
devem ser lidos", juntamente com a
Sabedoria de Salomão, Sirácida, Judite,
Tobias, a Didaquê e o Pastor de
Hermas.[30]
Veneração
Atanásio foi originalmente sepultado em
Alexandria, mas seus restos foram
depois transferidos para a Igreja de São
Zacarias, em Veneza, Itália. Durante a
visita do papa Shenouda III a Roma entre
4 e 10 de maio de 1973, o papa Paulo VI
presenteou o patriarca copta com uma
relíquia de Atanásio[31] which he brought
back to Egypt on 15 May,[32] que está
atualmente preservada na nova Catedral
Ortodoxa Copta de São Marcos, no Cairo.
Porém, a maior parte dos restos de
Santo Atanásio permanece em
Veneza.[33]
São Gregório de Nazianzo (330—390), ele
também um Doutor da Igreja, afirmou em
sua "Oração 21": "Quando elogio
Atanásio, a própria virtude é meu tema: eu
nomeio cada virtude com virtude com a
mesma frequência com que nomeio a ele,
que possuía todas as virtudes. Ele era o
verdadeiro pilar da Igreja. Sua vida e
conduta eram a regra dos bispos e sua
doutrina, a regra da fé ortodoxa".[7]

Personalidade
Aliados

Muitas denominações cristãs


reverenciam Atanásio como santo,
professor e "pai". Elas citam sua defesa à
cristologia descrita no primeiro capítulo
do Evangelho de João (João 1:1-4) e a
importância de suas obras teológicas[34]
como evidências de sua virtude. Elas
também enfatizam a já citada relação
próxima com Santo Antão, que é
universalmente reverenciado.

São Cirilo de Alexandria (370—444), em


sua primeira epístola, diz: "Atanásio é um
dos confiáveis: ele não diria nada que não
estivesse de acordo com as sagradas
escrituras" (Ep 1).

Críticos
Por toda vida, Atanásio teve muitos
detratores. O estudioso clássico Timothy
Barnes relata as acusações da época
contra Atanásio: desde poluir um altar a
vender os cereais que a Igreja havia
destinado à alimentação dos pobres
para obter ganhos pessoais, passando
por atos violentos e até mesmo
assassinatos para calar oponentes, nada
faltou no rol das acusações.[35] Atanásio
utilizava o termo "ariano" para descrever
os seguidores de Ário, mas também
como um termo político depreciativo
contra seguidores de ideias que ele
considerava tão ruins quanto as
dele.[36][37]
Estudiosos atualmente acreditam que o
"partido ariano" não era monolítico,[38]
mas que defendia diversas visões
teológicas drasticamente diferentes que
abrangiam todo o espectro teológico
cristão.[39][40][41] Ele apoiava os princípios
do pensamento e da teologia
origenista[42] e pouco mais em comum.
Além disso, muitos dos chamados
"arianos" não se consideravam
seguidores de Ário.[43]

Ver também
Atanásio de Alexandria
(328 - 339 / 346 - 357 / 361 - 363 / 363 -
378)
Lista dos
Precedido Sucedido
patriarcas /
por: por:
papas de
Alexandria
Alexandre I Gregório da
Gregório da Capadócia
Capadócia (ariano)
(ariano) Jorge I de
Jorge I de Alexandria
20.º
Alexandria (ariano)
(ariano) Lúcio de
Lúcio de Alexandria
Alexandria (ariano)
(ariano) Pedro II
Referências
1. "St. Athanasius" Enciclopédia
na edição de 1913 Católica (em
da Enciclopédia inglês). Nova
Católica (em Iorque: Robert
inglês). Em domínio Appleton Company
público. 4. Clifford,
2. Durant, Will. Cornelius, Catholic
Caesar and Christ. Encyclopedia 1907,
New York: Simon Volume 2, Pgs: 35–
and Schuster. 1972. 40 "Athanasius".
3.  Herbermann, 5. «Encyclopædia
Charles, ed. (1913). Britannica» .
«Doctors of the Britannica.com.
Church». Consultado em 25
de setembro de Volume 2, Pgs: 35–
2012 40 "Athanasius".
6. Rubenstein, 8. Eusébio de
Richard E., When Cesaréia. «19».
Jesus Became God: História
The Epic Fight over Eclesiástica .
Christ’s Divinity in Circumstances
the Last Days of Related of Origen.
Rome (New York: (em inglês). VI. [S.l.:
Harcourt Brace & s.n.]
Company, 1999), 9. Hist. Ecl., Rufino,
105–106 I, xiv
7. Clifford, 10. Encyclopedia
Cornelius, Catholic Americana, vol. 2
Encyclopedia 1930, Danbury,
Connecticut: Grolier
Incorporated, 1997. Suggestion,
ISBN 0-7172-0129- Athanasius
5. receives the
11. Encyclopædia Throne; and an
Britannica, 15th Account of his
edition. Chicago: Youth; how he was
Encyclopædia a Self-Taught
Britannica, Inc. Priest, and beloved
ISBN 0-85229-633- by Antony the
9 Great. (em inglês).
II. [S.l.: s.n.]
12. Sozomeno.
«17». História 13. Hist. Ar. 68;
Eclesiástica . On Orat. iv. 29
the Death of 14. Veja, por
Alexander, Bishop exemplo, a 39ª
of Alexandria, at his
Carta Festiva de Vol. XXXV, no. 1-2.
Santo Atanásio (Santiago de
15. ᾽Αλεξανδρεὺς Compostela, 1990),
τῷ γένει, ἀνὴρ 398
λόγιος, δυνατὸς ὢν 17. Williams,
ἐν ταῖς γραφαῖς Rowan, Arius:
16. Kannengiesser, Heresy and
Charles, “Alexander Tradition (London:
and Arius of Darton, Longman
Alexandria: The last and Todd,
Ante-Nicene 1987),175
theologians”, 18. Williams, 175
Miscelanea En 19. Williams 154–
Homenaje Al P. 155
Antonio Orbe
20. "Carta de Ário a
Compostellanum
Eusébio de
Cesareia" Politics in the
21. "Epístola Constantinian
Católica de Empire (Cambridge,
Alexandre de Mass: Harvard
Alexandria" University Press,
1993), 23
22. "Meletius of
Lycopolis" na 24. Martindale
edição de 1913 da 1971, p. 418.
Enciclopédia 25.  Herbermann,
Católica (em Charles, ed. (1913).
inglês). Em domínio «Councils of
público. Alexandria».
23. Barnes, Timothy Enciclopédia
D., Athanasius and Católica (em
Constantius: inglês). Nova
Theology and
Iorque: Robert da "Sobre a
Appleton Company Encarnação..." data
26. Justo L. a obra em 318, por
Gonzalez in A volta da época da
History of Christian ordenação de
Thought lembra Atanásio ao
(p292) que E. diaconato (St
Schwartz data a Athanasius On the
obra para depois, Incarnation,
por volta de 335, Mowbray, England
mas "seus 1953)
argumentos não 27. «Vita Antonii»
tem sido (em inglês)
geralmente 28. Dag Øistein
aceitos". A Endsjø Primordial
introdução à landscapes,
tradução da CSMV
incorruptible Ccel.org. 13 de
bodies. Desert julho de 2005.
asceticism and the Consultado em 25
Christian de setembro de
appropriation of 2012
Greek ideas on 31. «Metropolitan
geography, bodies, Bishoy of
and immortality. Damiette» .
New York: Peter Consultado em 25
Lang 2008. de setembro de
29. Hahn, Paul 2012
Prof., "Development 32. «Saint
of the Biblical Athanasius» .
Canon" Avarewase.org.
30. «Excerpt from Consultado em 25
Letter 39» .
de setembro de Athanasius on the
2012 Incarnation.
33. «The Incorrupt Translated and
Relics of Saint edited by Sister
Athanasios the Penelope Lawson,
Great» . published by
Johnsanidopoulos. Mowbray 1944. p.9
com. Consultado 35. Barnes, Timothy
em 2 de maio de D., Athanasius and
2014 Constantius:
34. C.S. Lewis Theology and
afirma que "Sobre a Politics in the
Encarnação do Constantinian
Verbo de Deus" é Empire (Cambridge,
uma "obra prima"; Mass: Harvard
Introduction to St. University Press,
1993),37
36. Barnes of Nicaea”, Harvard
"Athanasius and Theological Review
Constantius",14, LIII (Cambridge
128 Mass: 1960),173
37. Barnes 40. Williams, 63
"Athanasius and 41. Kannengiesser
Constantius",135 "Alexander and
38. Haas, Arius", 403
Christopher, “The 42. Kannengiesser,
Arians of “Athanasius of
Alexandria”, Vigiliae Alexandria vs.
Christianae Vol. 47, Arius: The
no. 3 (1993), 239 Alexandrian Crisis”,
39. Chadwick, in The Roots of
Henry, “Faith and Egyptian
Order at the Council Christianity
(Studies in and James E.
Antiquity and Goehring
Christianity), ed. (1986),208
Birger A. Pearson 43. Williams, 82

Bibliografia
Martindale, J. R.; Anatolios,
A. H. M. Jones Khaled 2004.
(1971). The Athanasius.
Prosopography London:
of the Later Routledge.
Roman Empire, [Contains
Vol. I AD 260- selections from
395. [S.l.]: the Orations
Cambridge against the
University Press Arians (pp. 87–
175) and Letters
to Serapion on Peabody, MA:
the Holy Spirit Hendrickson
(pp. 212–33), Schaff, Philip;
together with the Henry Wace
full texts of On (1903). A Select
the Council of Library of Nicene
Nicaea (pp. 176– and Post-Nicene
211) and Letter Fathers of the
40: To Adelphius Christian Church:
(pp. 234–42)] St. Athanasius:
Schaff, Philip Select Works and
(1867). History Letters . 4th.
of the Christian New York:
Church: Nicene Scribner
and Post-Nicene Thompson,
Christianity, AD Robert W, 1971.
311–600 . 3rd.
Athanasius. Alexander of
Contra Gentes-De Alexandria
Incarnatione, text "Catholic
and ET, Oxford: Epistle", The
Clarendon Press Ecole Initiative,
On the ecole.evansville.
Incarnation by edu
Athanasius of Arnold, Duane
Alexandria, on W.-H., The Early
theologynetwork. Episcopal Career
org of Athanasius of
Letters to Alexandria
Serapion (on the (1991)
Holy Spirit) at Arius, “Arius’
archive.org letter to
Eusebius of
Nicomedia”, 1993). ISBN 0-
Ecclesiastical 14-051312-4.
History, ed. Barnes, Timothy
Theodoret. Ser. D., Athanasius
2, Vol. 3, 41, The and Constantius:
Ecole Initiative, Theology and
ecole.evansville. Politics in the
edu Constantinian
Attwater, Donald Empire
and Catherine (Cambridge,
Rachel John. The Mass.: Harvard
Penguin University Press,
Dictionary of 1993).
Saints. 3rd Barnes, Timothy
edition. (New D., Constantine
York: Penguin, and Eusebius
(Cambridge, MA: "Athanasius",
Harvard Catholic
University Press, Encyclopedia
1981) Vol. 2 (1930),
Bouter, P.F. 35–40
(2010). Chadwick, Henry,
Athanasius (em “Faith and Order
holandês). at the Council of
Kampen: Kok Nicaea”, Harvard
Brakke, David. Theological
Athanasius and Review LIII
the Politics of (Cambridge
Asceticism Mass: Harvard
(1995) University Press,
1960), 171–195.
Clifford,
Cornelius,
Endsjø, Dag Athanasius of
Øistein. Alexandria
Primordial (Leiden: Brill,
landscapes, 2004).
incorruptible Haas,
bodies. Desert Christopher.
asceticism and “The Arians of
the Christian Alexandria”,
appropriation of Vigiliae
Greek ideas on Christianae Vol.
geography, 47, no. 3 (1993),
bodies, and 234–245.
immortality.
Hanson, R.P.C.,
(New York: Peter
The Search for
Lang, 2008)
the Christian
Ernest, James D., Doctrine of God:
The Bible in
The Arian Compostela,
Controversy, 1990), 391–403.
318–381 (T.&T. Kannengiesser,
Clark 1988) Charles
Kannengiesser, “Athanasius of
Charles, Alexandria vs.
“Alexander and Arius: The
Arius of Alexandrian
Alexandria: The Crisis”, in The
last Ante-Nicene Roots of Egyptian
theologians”, Christianity
Miscelanea En (Studies in
Homenaje Al P. Antiquity and
Antonio Orbe Christianity), ed.
Compostellanum Birger A.
Vol. XXXV, no. 1- Pearson and
2. (Santiago de James E.
Goehring (1986), God: The Epic
204–215. Fight over
Ng, Nathan K. K., Christ’s Divinity in
The Spirituality of the Last Days of
Athanasius Rome (New York:
(1991) Harcourt Brace &
Company, 1999).
Pettersen, Alvyn
(1995). Williams, Rowan,
Athanasius. "Arius, Heresy
Harrisburg, PA: and Tradition"
Morehouse (London: Darton,
Longman and
Rubenstein,
Todd, 1987).
Richard E., When
Jesus Became

Ligações externas
"St. Athanasius" na
edição de 1913 «Sinaxário copta
da Enciclopédia comemorando a
Católica (em morte de Santo
inglês). Em Atanásio, o
domínio público. Apostólico (7
«Atanásio» (em Bashans, 89
inglês). Site A.M.) língua =
oficial do inglês» ֡
Patriarcado Atanásio. Migne,
Grego Ortodoxo ed. Patrologia
de Alexandria e Graeca ֡ .
Toda África Opera Omnia
F. A. Forbes. (em inglês). [S.l.:
«Atanásio» (em s.n.]
inglês)
Obtida de "https://pt.wikipedia.org/w/index.php?
title=Atanásio_de_Alexandria&oldid=50860449"

Última modificação há 3 meses po…

Conteúdo disponibilizado nos termos da CC BY-


SA 3.0 , salvo indicação em contrário.

Você também pode gostar