/
AS CIDADES "PERIFERICAS"
COMO NAS CULTURAIS:
/
Rússia, Austria, érica Latina
Estivemos algum tempofalando de
cidades, wn dos temasfavoritos de Cid,
rom aquela idéia dele de que a cidade não
foi atada pelo bomem, mas lodo O
cvlllrár/o, cvmwllcando essa espécie de
nostalgia arqueológica cvm quefala dos
edtjictos cvmo sefossem seres bwnanos...
G. (;abre"" Infante:, Tres tristes tigres
Norsos cidades n20 têm estilo. Não
obstallle, estamos agora COIlStatando que
elas lb7J o que poderfamos chamar de um
terccjro c;5:Iilo: O eslUo dar colsasque não
tbn esli/o.
Alejo Carpentier, Tlenlosy diferrmclas
stas reflexões sobre "as cidades
como arenas culturais" seguem
uma linha de estudos que interpreta as
cidades como cadinhos de mudança na
era moderna. Todavia, ao iluminar a ên­
f.se comumente cbda às cidades como
•
Nala.· Esre lalO foi public2do Dojollrna/ oj Urban HJslory, vol. 10. nO 04, 310 1984. A
Fn.ncisco de Castro Azevedo, revista por Dora Rocha c Gilbc.no Velho.
l1stu"or Históricos, Rio dc:Jancito. vol. 8. nO 16. 1995. p. 205-225.
Richard M Morse
fontes ou forças mOlrú.es de mudança,
não vagarei à solta no nebuloso dominio
de I.ewis Mumford, O da "cultura das
cidades". Tampouco recorrerei a uma
sociologia que trabalha com cultura eru­
dita, média e popular nos meios urbanos,
ou reconstruirei imagens da vida u rbana
a partir de viajantes, romancistas ou me­
mori.1istas. O que estamos buscando é o
ambiente urnano, não como descrito e
analisado, mas como cxpe rimenL�do e
expresso. As cidades tomam-se teatrOS e
nossos infoffilantcs, atores. Estes últimos
não são repórteres ou especialisL1.S em
diagnósticos, mas participantes en\'Olvi­
dos, que se lançam sobre todas as fonleS
ou recursos intelectuai s e psíquicos de
que dispõem para interpretar, não a con­
dição urnana, mas a condição humana.
NoSSls cicbdes são P-.uis (mas sem
nunca perder Londres de vista); São Pe­
tersburgo e Viena na periferia mediata;
Rio de]aneiro e Buenos Aires na periferia
Induçjo é de::
206
mais arnsrada. Os economistas tal.,cz rei.
vindiquem terem divulgado esse modelo
de ooncerllricidade. Em todo caso, nossa
inves!igação não herda desse modelo ne­
nhuma imputação nece ssária de domina­
ção do centro ou de resposta mimética
da periferia. Estamos � espreita de oon-
traOOilCOtes e mensagens Vd.l'13Jltes.
•
A primeira parIC deste artigo expõe
uma visão das cidades ociden!ai' do r0-
mantismo ao modernismo, dando desta­
que u conrcibuições modemisras de São
Pe lClsb"rgo e V"1Cf\a. F.sses casos suge­
,em as precondiçiies para o modernismo
na América útina e também as resislên­
cjas que podem desviar, acender ou me·
tamorfosear a inspiração modernista. AD
Dostoievskl de São Pelersburgo e ao gru­
po de Viena oon!Capomos o Machado de
Assis do Rio de Janeiro que, por ser con­
fusamente cético em mação à moderni­
dade, só agora pode ser ap reciado como
um pós-modernista. Seu quadro dantes­
co servirá para dar mainr precisão à ver­
são de José Luis Romero da evolução
latino-americana das cidades patrícias
(1830-1880) para as hurguesas (1880-
1930), uma aw1iação que ampliamos
lembrando o surto modemistada déGid.
de 1920. Uma sinopse final lenta definir
o signifocado hislÓrico das cidades latino­
americanas como areoas culturais e !Caça
resumidamente um quadro contempo­
râneo que convida � imerprelação.
To.."as para o modornlsmDI
Paris, São Polorsbur.o, Vlona
AD recuperar a imagem da cidade na
literatura européia e americana do sécu­
lo XVIII ao início do xx, BurlOo Pike
organiza seu rndocíniocm tomo de duas
lendências I A primeira é a mudança da
esrase para o fluxo, da yjs.10 dos monu­
mentos fisicos ou das classes sociais em
n:Iaçóes 6"". para uma montagem de
justaposições fluidas. A ou!Ca é a visão da
comunidade urbana como um todo pa­
dronizado que sucumbe �ela cei1!Cada
no individuo isolado dentro desse pa­
drão. O obsernulor toma-se uma lente
parti cular apontada para a sociedade ur­
bana, isolado como um personagem ex­
cêntríco de Dickens ou o poetaneurotico
de Baud elaire. O obsetv.rdor é alienado
de uma comuni dade que se rcansfonnou
em uma multidio ou eu. uma anticomu­
ni dade dotada de poder mas sem dis­
cernimento. Os arquétipos d<-sses dois
proc.ssos relacionados furam lDodres e
Paris, "ddades mítkas centmis" da EUn?
pa do século XIX, pioneiras de um desti­
no aparentemente universal. Aceitaw.·se
como definitivo que, ao final, o seu futu­
ro se eslenderia � soci edades urlJanas
mais afastadas, reféns de instituições e
sistemas econômicos arcaicos e embebi­
das de cultura regional ou costumbrlsta.
Em seu bmoso ensaio "Paris, capilal
do século XIX" , Walter Benjamin !Catou
aquela cichde como protótipo, sentindo
que seu passado receute ap resentav.l
uma série de fuses encaixadas e lógicas,
de significado profético.2 A seqüência
tem início rum as galerias comerci.1is da
dteada de 1820, as primeiras lojas de
depatlamento a p roclamar a separação
enlCe as melC3dorias !Cadicionais e as
flnwias desejáveis. Depois, a fOlografia
cria ofena e demanda para reproduções
ilusórias de pessoas, lugares e eventos,
sin alizando uma no"" senswilidade em
relação � propria vida. A seguir vêm as
exposições universais, g1orillcrção fln­
rasmag6rica dos valores de troca em de­
trimento dos w.lores int.rínsecos, acom­
panhadas de uma indús!Cia de en!Celeni­
mento que manipula o proprio público
como uma me",!doria. A poesia de nau­
delaite celebra um mundo umano asso­
ciaI, no qual também a arte se toma
mercadoria, é divor ciada da mudmça
tecnológica, sujeila � ondas agitadas da
moda e glo rificada como arIC pela arte.3
Por úbimo, chega Haussmann, para co-

locar a cicL1de fuica sob um rontrole
cen tral, defendê-Ia rontra insurreições,
homogeneizar OS quat1le/S e garan tir o
distanciamento dos parisienses de seu
hábital
No tratarnento evolucionário de Ben­
jamin, cada época sonha rom a próxima
na medida em que Paris caminha in�
rave1mente rumo ao seu momento de
despenar em meio às convulsões da ec0-
nomia de consumo. Reconhecem-se "os
monumentos da burguesia como ruinas
antes mesmo de eles terem ruído". Pode­
se naturaJmente questionar se Paris foi a
"capital do século XIX" ou tão-somente a
capital de um consumismo conspícuo,
pois, pelos padrões de comparaçio do
industrialismo capitalista, a Manchester
de Tocqueville, Engels e Dickens segura­
mente superou Paris Nenhuma cidade
. do e de forma abrupta, capturando e...
poderia ser a sede de todos os ingredien­
tes que forjaram a lêmpera moderna.
Mais ainda, o modernismo nas artes e nas
letcas - parcialmente definível romo um
assalt o cognitivo às contcadiçôes da mo­
dernidade - lIolcsceu sobre ananonis­
mos que se mantiveram não-reconheci­
dos na consumista Paris onde o passado
,
era visto como cumulativo e até certo
ponto era reverenciado, e tudo que era.
novo era !ta última palavran• Os moder·
nistas parisienses pouco se preocu pavam
com a questão da "identidade nacional"
francesa.
As linútações de Bal:mc e BaudeJaire
como profetas do espírito moderno se
tomam aparerotes quando eles são colo­
cados ao lado de DoslOievski, cuja São
Petersburgo, peJa distância mesma em
que se encontrava do eixo Patis-Londres,
estava em posiçio de contriluir com
mensagens de rara penetraçio. Em seu
esrudo sobre O "realismo rom.lnticott ,
Fanger trata Dostoievski como o herdei­
ro imediato de Bal:mc de Dickens e de
, do ao mesmo tempo rotidiano e poético
seu compatriota GogoL4 Os três, afirma
ele, foram os primeiros a C'l'lorar a pro­
messa da metrópole como tema de Ilc-
C1I.TUWI 207
çio, e Dostolevski assoprou suas pelaI>"
ções aré a incandescência. O talento des
te último para vislumbrar as ronseqüên­
cias funtlsticas e irracionais a que o pen­
samento e o esforço racionais podiam
levar derivava em parte da vantagem ar­
bitrária da origem em São PetersbUrgO,
que fora erguida por ordem imperial em
um pânlano finlandês e modelada
"romo uma janela para o Ocidente de
urna cultura atrasada e profundamente
nâo-européia, capital instllltânea de um
vasto império .) O narrador de Memó­
"
rim de um subterrrflneo (1864) chamava­
a de "a mais abstrata e in tencional cirJade
de todo o mundo" uma cidade cujo
I
car:iter ilusionista a escuridão e névoa
faziam ressa'tar, dando-lhe uma vida "at·
mosférica". O capimlismo chegara atrasa­
sua rede mundos sociais autônomos que
no Ocidente estavam desmoronando.
Comunidade e alienação, fenômeno e
abstração, senso romum e espiriwalida­
de colidiam violentamen te. Difelente­
mente de Balzac e DickMlS, DostoJevskl
não cond escendia com a nos1algia e a
eslr.lnbeza do período. Em sua ascensâo
para um rcalismo mais elevado, "o lastro
cômiro foi deixado de lado, .. e o grotes­
.
co e o absurdo - rontra o pano de fundo
da funtástica São Petersburgo - asrumi­
ram uma rigidez existencial, urna belfla
sombria e uma tragédia nova e inquestio­
nável".6 Embora os seus dramas tenham
transrorrido em meio à sordidez e à alie­
nação mais profundas, DostoJevskl nâo
era um escritor naturalista, porque, ao
eliminar o détacbemenl do leilOr das
sin1açóes aberrantes, conquistou o reco­
nhecimento do grotesco como um cami­
nho para a belet;!, do sofrimento para a
felicidade e da humilhação para a liber­
dade. Sua fuçanha de ter tomado o absur­
transformou-se na marca de autenticida­
de do modernismo ocidental e, como se
verá, em uma reveJaçio para Robeno
208 muool Hll1ÓijlOl
Arll, décadas depois, na diswuc periferia
de Buenos Aires.
As iOersôes de sensibilidade de Dos-
1Oie>ski advenem-o os de que o conslrUlO
"ceolrO-periferia" é craiçoeiro para a hislÓ­
ria cultural. Enquan 10 olhamos para Creo Ie
para o modernismo, culminação de um
século de cricicas alusiv.lS, e muitlS wICS
panicularizadas, da cullura capil.lista,
DoslOievski nos prepara para ver i'".uis
como uma arena primordial, e não como
o berço d.� explosão modem isca. Não so­
menle O bappenfng de Paris [cauta pro­
felas itinerancesda Emopa ceolta!e orien­
caJ, da Espanha, da Irlanda e até "....rno
das Américas, corno OS ingrediences para
a prlse de conscúmce há muilO vinham
fcnnentando ao longo de um eixo escan­
dinavo-germ.'inico, que se cscendia de
Oslo e Copenhagen em dircçio ao sul até
Berlim,Zurique e Viena, confonnc procla­
mou O escrilOr din:unarques Gcorg Bran­
des em Mim oflhe modem breaklhrough
7
(1883) Consideraiemos aqui o caso de
V"lCIla porque foi bem estudado e porque
serve à nossa inves�ção Iatino-america­
na. Ao deixumos a São Pelersburgo de
OoslOievski, partimos de um local de oon­
frontaÇÕCS espirituais definitivas para ou­
ICO que põe em oonfronlO idéias filosóficas
8 nais da quadrilha para expressar ondas
e sociológicas.
wgo de início, Jani!< e Toulmin lem­
bram-nos de Kakan ia, o apelido que no.
beCl MusiJ deu à sociedade vienense, cu­
nhado ostensivamente com as iniciais im·
periais e reais K. K. (KafsX!rllch e KDnf­
gllch), 01.15 que L�mbém encerra a cono­
L,çãO excremcnLlI da linguagem infantil.
(Os Lotino-americanos lcmbrar-se-ão da
"VL,gem à cidade escura de Cacodélf)a",
o equivalcnle infemal de Buenos Aires,
que aparece no romance Adán Bueno­
sayres de J..copoldo Marechal, de 1948.)
A preocupação dos es ludos sobre Viena
é que esta capiLlI de um império art:lico
pareci., incapaz de engaL1C-se na
tiva do progresso, de atingir o elhos bur­
guê, da modernidade e da ulOpia Iecno-
- 1995/11
lógica, e de prod'lZir. ponanlO, uma psi-­
cologia de classe mMi_ Os lemas ooro­
Jários desle sáo OS efeilOS da repressão
social sobre a política, a educação, a eco­
nomia, os papéis das mulheres e os h:íbi­
lOS sexuais. A pompa e deg.'incia da vida
pública e da classe superior expressavam
uma "forntalidade pelriDcada" revestin­
do um caos culrural, um "esplendor ner­
9
voso" na fdiz expressão de MOClOn. Exa­
minadas de perco, as glórias supedlciais
uansfo rmam-se em seu OpoSIO. Scborske
afirma que os lileralOS vienenses care­
ciam do espírito antiburgues de seus
equivalences franceses ou do meliorisrno
otimisla dos ingleses. Nem dégagés nem
engagés, des olhavam para o imperador
como um p:u-procelOr distanle; fultando­
lhes independência, buscavam proleção
na arisux:racia. Daí, a preeminência do
anti-semitismo, da opereta, da psicanáli­
se, que manifeslam, lOdos os crês, uma
fuga da fruscração burguesa para um pas­
sado mágico e reveladoro Daí, ca.mbém, o
sentido da valsa vienense - não, como
pode parecer na versão exponada, uma
cerimônia complacenIe e arislOCrática,
mas uma dança demoníaca de exorcis­
mo, que abandona os compassos racio­
de desespero interior eill rodopios verti­
ginosos. Viena era, apropri.1d.,mente, a
cidade de Alfred Adler, que propôs o
"complexo de inferioridade".
O coLopso inevitável da política liberal
em um meio oomo este Jeve dois resulta­
dos. Primeiro, fuvoreoeu o esceticisrno, a
saber, a cransfonmçio da cultura de uma
fonle de valor em uma expressão de valor,
isco é, em uma cultura de hedonismo
nervoso ou de extrema ansiedade. A psi­
cologia subSÚluiu assw a política oomo
foco de inleresse. IsIO produziu a segunda
conseqüência: movimenlOS de massa cujo
ardo políúco residia no sioo.isrno, no an ti-
serrususmo, no pan-germarusmo ou no
• • •
soc:±illsmo crisr;jo, cada um deles, à sua
rn.'UlciLa, uma revolta mntra a razão.
 15 ODADES ·l'ERIftilClS· rolO IlEIIAI UlTUWI
Esses dois desafios convidav.un à aro­
modaçãoe aocontr:ldesafo. Uma impor·
tante acomodação foi a crj;Jção da "Viena
do Ringsuasse", que se comou, como
sugere Schorske, um epíteto tão signifi­
cativo como a "Londres vitorhna" ou a
"Paris do Segundo Império". O plano do
Ringstr:lsse oa um banoco às avessas,
. .
que usava as massas arqunetonu'3s nao
�
..
para dominar o espaço mas para mago.;.
ftcl-lo. O espaço era olJÇooi7:!do sem des­
tinações visíveis. O bulevar em círculo
ampulava a cidade de seus subúrbios e
suprimia as grandes perspectivas em be·
nefício do Duxo circular. Os novos edifí­
cios públicos, baseado s em modelos his­
tóricos considerados apropriados para
cada caso, não se orientavam uns para os
QUUOS estilística e espacialmente. Os ur­
banislaS traduziram em termos físicos as
diretrizes políticas implícilaS de tempo e
lugar: monumencalidade sem coordena­
ção centrai, mobilidade espacial sem in­
tegração social.
O contradesa60 veio de artlslaS e inte­
lectuais que achavam a sociedade vienen­
se patológica por ter erguido barreiras
monstruosas conlCa qualquer discussão
profícua sobre a opressão em suas inú­
mems formas. Eles se julgavam sem as
ferramen IaS ou o idioma de diagnóstico
em um mundo em que cxplcx1iam sinto­
mas: an ti-sentilismo, elevada taxa de sui­
ódios, rígidas coo·.,.cnçóes sexuais, senti­
men Ll1idwe nas artes, ambigüidade p0-
lítica, nadonallimos divisores. Tomada
em seu conjunto, essa sintomatologia de­
nunciava o dhórcio entre as realidades
sociais e os pressupostos consensuais da
arislOCr:Jcia dos Habsburgo. A situação
exigia não persuas50 ou ideologia, ou
-
mesmo análise, e sim, de maneira mais
fundamental, uma ou várias linguagens
que pudessem reSlabelecer o intercâm­
bio entre as circu nstâncias e as tdées
reçues. O arquiteto Adolf Loos despojou­
se da omamenlação para deixar a função
transparente no projelO; Schoenberg ex-
209
plodiu sistematicamente os cãnones
aceitos da composição musical; e Freud
ekl'lirou impledosarnenteos sonb ose os
lapsos lingüísticos da vida co tidiana. Mais
significativo que todos foi Wittgenstein,
cujo Tractatus Janik e Touimin procla­
mam como uma critica abrangente da
própria IinguageilL
Transisão para o Novo Mundo
A Siio Petersburgo de Dostoievsk.i e a
Viena de WlIlgensaein moslCam que uma
sociedade luban a recalcilCaOte pode ins­
pirar . - de vanguarda. A perife­
ria pasw assim a ser ceflUO. O que dizer
então das cidades latino-ameriemas em
uma periferia mais distante, colonial'
Selá que elas não ofereciam solos ainda
mais férteis para mensagens proféticas?
Como sugerirei posteriormente, essas
mensagens existiram, mas expressas em
um idioma tão "caseiro" que só agora sua
força se tomou aparente. Até mesmo
quando surgiu um mestre como o brasi­
leiro Machado de Assis, s"as par:Ibolas
brilha0tes - tivCSSCiü elas enroo trado pú·
boco além-mar - teriam parecido esqui­
sitas ou obscuras às sensibilidades mes­
metindas (para "53r um neologismo da
época) pela Europa capitalista.
Em vez de uma digressão pela história
comparativa, apresentarei, ao acaso,
• •
duas chaves que poderão ajudar a expli­
car a periferia mais distante. Primeiro, se
Pedro, O Grande, criou o que para Dos­
toievski era lia mais abSlJ'ata e intencional
cidade" do mundo, os espanhóis do sé­
culo XVI espalharam centenas de centros
urbanos geométricos através de um vasto
continente e meio. tO Mas, dos pontos de
vista político, socia1, econôntico e ecle­
siástico, esSls ddades e missões, se bem
que plenamente intencionais, estav.un
longe de ser abstraIaS. Seu signifICado
logo se tomou transparente para a popu­
lação nativa amerindia, e assim penn;m e-
210
<eu lanlOpara os grupos privilegia"os
romo para os desen:fa"os. Após a inele-
seto.cs da
InleUI.genlsI.a naSSA, 05 pensadOles b,j,.
no.a.ocrican os não podiam ron trapor à
m<XIunizaçio uma allClllativ.a indígena,
espirilU3l e romulÚlária. Tampouco as
SOl"ied.desurbanas, anleSdo nosso sécu­
lo, estavam 9lflC;.cnteil'ClllC radooa'iza.
das para produzir a puspu:1iv.l particu­
Jarwlda e dissociada do poeta paris.:use
ou do homem do sublerràneo ""'''''
ra e pro...éin da intctpretação sociológica
de Adorno para a m1ísica de rooce rto
_. . 11 ,-,_ H_ a b'a09Ç10
.......�
�.I:l.
.. nuu mO f*"lJLlI,
• -
de MCQ"rt a Bectho'.cn para a glande era
da sioCooQ e da ópera 00010 a paSS"gelll
de um mundo aristoaál.ico, fMIl que as
audições ralir"",Y.lJ1l o status das audibl­
das lestrilas, para um mundo butguês,
em que as ap"'CllIações respondiam às
frustrações e wlIasias de um público de
dasse média. O roosumidof da música
. -
romJnuca se:nla.-se, DOlO cmpcudo e de
•
peruca, JUDto mm seus pares, fMIl uma
•
sa1a iluminada a luzde >ebs, mas perdido
oa escuridão de uma ampla sala de roo­
certos. A música o jmeigcciII umaromu-
' -'-
OHl:t d e OC(JOICíI ao mesmo Iflllpo ctD
• .
que libera Sl!3' fmlasias . Ela
proporciona uma ir.Iização subsliruliv.l
das aspirações de idenlidade comuna! e
pessoal que a vida pública, competitiva,
nega. Tal\'CZ por ser menos e•.,licita e
intdccaualr13da que a U".,lh1ta, a in'1ICO·
ção musical ela mais viva nas periferias
-
mediatlS da Rlíssia, Alahaoba, Ausllil e
Ilália do que 00 eixo J'aris.-loodres. A
América Ialina, oa orla mais dislànle,
apesar da fenilidade de sua cultura mu­
sic!) informal, não dispunha das rondi­
ções sociológicas oecesslrias, quando
não slIOcicnaes, para a inspiração sinffuü..
ca. Q"'odo o Brasil produziu um com­
posilOl" de ópeaa talmtoso, COmO Carlos
MachaoI. ti. Aa1sa
- ..........
Para enIeOder por que as sociedades
ptÓrihns das de DosIok:'Skj, Musi1 e
m(51110 Baudebire, helh()s ronSllltar seu
par brasiltiro, Jmquim Mor;' Machado
de Assis (1839-1908). Machado �>eu
loda a sua vida 00 Rio de Janeiro, cidad e
a aV3leiro de um vaslO qdXDotinente,
ecoam de OVXJ;tanbas tiilr.l vag;l!O &es, ba­
nhada por baías e praias iridesrcDIeS,
...gura em seu pieslÍgio de capiraI impe­
rial ou depo� de 1889, em suas IIKn�
,
rias imperiais.. Em nosso Kodo, o Rio de
Janeiro transferiu a primazia erooômica
e aculêmica para São Paulo e a sede do
go"UuO feder.al pan B raSl1ia, lUas sem se
privar da hegemooja ...olÍllaeo raI. O Rio
é um mundo em si rTU!$17U} e, pomo10,
uma arroa que os espíritos li�ICS podem
aw,mjrooOVl oproprlomundo. Macba-.
loogedeserchata, podc·
se chamar o imperial de coraÇio do
Brasil, o que correspon daiola Mosrou. e
a Paulo imperialista de cahcça do
-
(X"S, o que coiles:poo. dena
. a
bUlgo. Como o DosIoieriki do Rio de
Janeiro, Machado /Oi impemdw:l ao en­
caoto de qualquer "Palácio de CrisraI".12
Falemos primeiro do mundo de Ma­
cbado, de seu teatro humano. ° Suas
hislórias focalizam com piCciS'O uma ca·
fitada de grupos em ascensão: banqu�
ros, comerciantes, fuZ(ndeinlS, prolissi"
 •
2lI

na for...,
dor ubíquo, que sjenh61jça da iuminaçí<' das r
1l'2C• DOa
ohOlle
de
•• t l ' lt l �
-

'Ui doOlja ca

pela violência fia;a e moral. Os

ajrjcam P'v±ado poiljLle, apcsudonl\­
gue

que
oonGa'l9l de tudo que t moliv.lção h...
-di que 05 eso)láSlÍC05
Yiam a "Rita COliJO ro�
.
lI__filO pcClmmoso e 030 roaMIO pra:ur-
-

em que já ou sc:xa do apit;dismo. Jgwn'."MÇll &c.. o poder

mmo a p:lI2 o pi6piio poJí'ico ajo ua Ui.'! força modeIadora a

minaçãodocp..eumsi Ifil*! de ...iugança Smilec sdJ,� a icnov.lÇão da pasooaljcta

. . .
mqihK....a
. I� de, Inu nos pteceiros oomportunen tljs
Nc:sIc: \IORUSO, a nova burguesia que da Teoria do medolhiio machadiana
16
cha""! a a'enção de Macbac10 nijo é lQlIC'-­ (1881).
b burguesia aGilu;a.iv.a de ftpfz.tc, Dic..
o Rio de Janeiro de Machado t a�
Banão
iOit;vlo mm a Kakania vienense de Ro­
boI Musi, mos com uma dif<-icoÇL A
- -.
vaogtn'di W"omse moVJ3 cnlMA's à teSaor ,-
Sua asc(nOO deronenão da orpoizaçío
-

têncfa focal à modemidade e, ao mesmo

intenciooal da pusona1jcbde,llt;tS da vi�
:ncaac:aaa por um golpe 0010 ou
Uícjto da fortuna 5''35 regns rompona­
de
um pro&e&oroupad,bWo, e o SIIrgillW:n.
10 de um plano de vida aulÔoomo. inde-
1<ndc:nse de infiuêoebc
rio'f1' pode proYOCat
lClOpo, pronvwia refolmulaçócs pionei­
ras na psimlngia, nas artes, oa li'eM.ah'ta,
na filoso6a., na mÍlsica e na lingftí qica
Para Machado, poiém, a possibilidade de
quca modemizaçio vÍfsse a ser "ior.em;
1Cn<h" no Rio dej2neiro era um", sombra
luaÍ5 j(iII(Ma do que: em V.en.a, e o prog.
OÓSfim de enpj:hlwlltot cbdos 05 sinais
"Uer"'$" aa dC530Qltldoc. Por' tSSOf
. • • • •

. QC
..!t
_
tas!
dirigiu seus dardos crl1iros COIltra apró­
A sociedode Wb102 de Moch.do p:ue­ pria mo(/em/dade. icscrv:mdo Inla­
ce fsa:$'jc:I e ele a aborda OOUM) um ;;
• 103' a soc.,<bde que a
lista, nunca oomo um terapeutil. Son acolheria. Assim, embora icpudnsse o
 212 [IT� HISTÓRJ(� - 1995/16

romantismo ("a grande musa moribunda espelho distorcido, a D/vlna comédia.

,
que gerou a nova gernção ,17), ele lam­ Compreende-se esse mundo não por
bém não queria convelSa com o naturn­ seus antecedentes, elementos e forç-as,
Iismo e o positivismo.18 Na verrlade, Ma- mas pelos principios mor:lÍS que discri­
. chado tinha em parte ..mio ao afirmar minam o bem e o m:tI em toda a sua
que nada eslava "acontecen do". Hoje em graduação. A ve rsão de Dante é uma
dia, ainda ch amamos o Brasil de econo­ sucessão monótona e repetitiva de pará­
aUClmenle dependente; o país ainda bolas que exemplifiCam o desígniO de
tenta incorporar inovações leQlológicas; Deus, um p6s-vida em que as :tImas per­
o republicanismo ainda é problemático; dem toda iniciativa. Aquelas que cheg;tm
e, quando pensamos nas masS::Js, a escra· ao inferno, cuja única bagagem é o cum­
vidão ainda não foi abolida. Tudo isto primento absoluto da paixão, voam an­
ajuda a explicar por que Machado, com siosamente rumo à sua punição.21
sua imagin ação questionadorn, sua visão
O Inferno deixou uma impressão du­
helerodoxa e sua fortaleza inlelectu:tl,
rndourn em Machado. Ele cita IJ.Ulte 24
tomou-se um pilar do eslabl/sbment vezes, sem contar as referências diretas
como funcionário minislerial e fundador
ou indirelaS.22 São 19 as cilações do In­
de uma academia de letras franc6fi1a. 19
ferno (ele chegou mesmo a Ir:lduzir o
O essenci:tl não é se Machado foi um Canto XXV) , e o leitor sente-se tcn lado a
conserv.tdor, ou um jornalista ntinucio­ especubr se, ao seu toque, o Rio de
SO, ou um espectador irônico, mas que Janeiro não se Ir:lnsformaem um Inferno
ele leve sua própria visão cocrenle do completo. No entanto, com apenas um
espetáculo. Não dispondo de elementos inferno a divina comédia desaparece. A
para uma inlerprelação dialética do pro­ religião seadariza-se; a linha entre o
cesso soci..ll, ele via as estruturas sociais mundo e o pós-vida se dissolve; o arre­
como controladas por sentimentos e pai­ pendimento cristão toma-se mero re­
xões de indivíduos. Daí, seu L1Sánio pe­ morso; e o demônio, exorc.iz;J.do pela
las Ir:ljelÓrias individuaís - suas motiva­ ciência, reaparece na pseudociência, no
ções psíquicas e os mecanismos ocultos espiritismo e nas curas mil1grosas.
da :tIma.
Os palamares em cireuJo do inferno
A vida nessa sociedade faz com que as
pareceil� remodelados por Dali na p�is.1.
pe ssoas percam o controle de seu desti- .
gem urbana SUH',dt<;1a do Rio deJaneiro.
no, adotem máscaras e deformem os im­
Faz-se necessário um guia, o Conselheiro
pulsos mais nobres. Nos romances da
Aires, não para ajudar a SUpOrL"lC o peso
maturidade de Machado, os problemas
esmagador da PalaVr:l (Virgílio como a
sociais cedem di:U\1e da lUla "no inlerior
R:tz:io e Beatriz como O Amor), mas para
do co rnção humano, onde reside sua
indicar os mistérios e ambigüidades e,
causa última - o ódio, a crueldade, a
como um diplomata que não toma parti­
cobiÇ! e a indiferença do amor pro.
do, a1en.1r gen tilmente con Ir:l as explica­
prio".20 Esle reino não oferece nicho
ções f:lceis neste reino de a1 0ri:1S enga­
para o homem do subterrâneo de Dos­ en
nosas e idenucbdes veladas.
toievski, porque nem apresenta a intro­
missão do cientismo e do utililarismo Por tadas (Wls referências, insinuações
como implacável nem comporta insinua­ e perspectivas oscil1n tes,lr:lIa-se no fundo
ções de redenção apoc:tlíptica. O que de um mundo fragmenlado a que fulla a
pe rmanece é uma moralidade (no senti­ força unificadorn do amor. Mesmo assim,
do telr:tl) vasla e cheia de compartimen­ e até mesmo sem uma Beatriz, uma Oor
tos que evoca, como que por meio de um sempre viceja na lapela do Conselheiro.
 AS aOAll[S "PEIIFtWS· COlO AlDIAS UlTUüIS
Amérlc. Latin., 1830·1930.
d •• dd.d.. patrícia. às cld.d ..
burguesas
As mensagens cifradas de Machado de
Assis, vagamente sugestiY.lS para os blll -
sileiros contemporâneos, levaram déca-
das para atrair uma ooterle internacional
Foi necessãrio que a roda da mudança do
mundo girasse em sua direção. Nesse
meio tempo, dispomos de proY.lS menos
enigmáticas dos atrilOS da modemizlção
nas sociedades umanas Iatino-america-
nas. José Luis Romero fornece uma rica
amostcagem desSlS provas em seu livro
sobre "cidades e idéias" btino-america-
nas, que abrange cinco séculos e já con-
quislOu seu lugar ao lado dos estudos
europeus ciT3dos acima.24 Sãode interes-
se aqui os capítulos sobre as "cidades
patricias"(1830-1880) e as "cidades bur-
guesas" (1880-1930).
.
As cidades patricias do periodo p6s-in-
dependência cresceram menos rapida-
mente do que seus blnterlonds em uma
época em que as populações nacionais
eram consideravelmente "ruralizldas".
Depois das rupturas provocadas pela
guerra e do desmanTelamenlO das buco-
crncias coloniais, o poder foi reconstruí-
do sobre bases preferencialmente des-
centraJiz:Jdas e rurais. Este foi o apogeu
lógico, ainda que aparentemente anár-
quico, dos caudilhos regionais. Sem ex-
ponações lucrativas e a necessidade con-
comiL�nte de empresariado e finanças
modernas, as cidades maiores assumi-
ram o papel "de parasiw" que Miguel
25
Samper atribuiu a Bogotá em 1867.
Nesse ambiente de passividade, em uma
época em que as cid.. des ocidcolais, da
Europa e da América do Norte, oesciam
rapidamente com a onda da industriali-
zação e do comércio, OS viajantes ficavam
inlrigados com a coexislênciagenernlizl-
da de traços crioulos e estrangeiros, que
pareciam anunciar uma eUte enamorada
213
da moda fr.mcesa e classes populares
destinadas, ou condenadas, ao uso de
roupas, comidas e anefuos locais. O me­
dlo pelo, colhido no meio das duas, elll
uma fusão infeliz. Ainda assim, a divisão
elll compUcada A atração da classe supe­
rior pelo estilo e o disrurso europeus elll
temperada pelo OIgulho da linhagem,
por uma ordem herdada de deferência,
e pelo apego sentimental às origens re­
gionais. Por outro lado, lo crio/lo não elll
um etbos inteiramente nativo, pois os
únicos nativos do Novo Mundo eram OS
amerindios, que não tinham deixado
ma".,.s em HaY.llla, no Rio de Janeiro ou
em Buenos Aires. Além disso, "nativo"
implica "aul.eIlticidade", como no na,...
rodn/cbestvo russo; e autenticidade im-
pUca uma base para a aUlO-eXpressão e
reconstrução. Todavia, mesmo na Guate-
mal. e no Equador a cultura amerin(lia
não poderia, para além de vagas simpa­
tias, ser IOmada seriamente como plata-
forma para a reabilitação social Do pon10
.
de vista cosmopoUT3no, a cultura amerin­
dia não era mais nativa do que as culturas
de origem africaoa ou ibérica. E para
complicar ainda 1T1ais, os imigrantes Í1a-
Ii.oos ou sírios podiam temperar O criol-
Itsmo das classes populares. O que sigoi-
fica dÍ7er que uma fusão plebéia de ele-
menlOS ex6genos talvez Casse mais au-
lêntica do que a cultura senhorial das
eUtes tradicionais.
O caso latino-americano não era igual
ao da Europa ocidental, na qual as cultu-
ras nacionais podiam ser tranqüilamente
assumidas. Nem elll o mesmo da Rússia,
onde eslavóllios travavam baTalha com
ocidentalizldores para afirmar uma cuI-
tura indígena mais aulênlica e mais ver-
dadeiramente cristã do que a cultulll
usurpadora. Tampouco tinha a ver com
o dos japoneses, que criaram um Institu­
10 para O Estudo dos Uvros B:\maros (o
germe da Universidode de Tóquio), com
o objetim de albiuar o que era minima­
mente requerido do exótico Ocidente
 -

paI2� aulOp�.� da sociOOade l0-

cal. NaAUL'Wa I;uaoa, O� IObár-
baro oão

uma volta do para- ginou que a C!ohoção csaiw:soe DO desdo.

oos oam brsUeJJ n"io<iwMckts, sose

2plicav.a q.. pade tj....-.t... 1 FORça do
sfodo XIX. Em seu çA'ado ....n: a 000- e
napokônim de nyrnaJifhde
que 56 ganhou bça rm 1870,
de modo que a cid>de
do sul (Ida
ip......1eS,
ámjdos.

o
Um pat15 de 1840 re-
que
ção ÍDCU!a enuc seu blnlerland e as

OI _"li •
'livaknae c: aOO:-Rtal1Omou4 YUJ-
çi<> al••
--
aCCl.a
",-, a «'IOS •.,...
' If'n
de ""a '\'I5lO
D(M:np
-

ingênua. ou m;aJjc0Q. da cidade pre&en­

,

sÍ'lSl através dos c:6os do ""ira OOscr.

",..tor - que: não p3,'Cc{m abundar na

lradiçio

11m
(1845) da

1847, "'" que: fiU

Pas.., cnÓ'l2 ffficjclc,arque F·rn«b de puguobS d(-••didot" sob«:
O ccnáÓO que Vali dn01e de si19 Porque

, -
t 0- S'ÓO um ediljcjo para
..
i.a espaohola.A " a..u
..lZ1Ç2º nao .nus
.. · - "
(j)Iiillf') as
Dle P1H{((U um rcfIe-
, -
"li'! � � de acS0C'2çao alOp(T.I- a PU na ap3nXC
tiva que na CIKDO'"<h bOto nas 00"''''.
njd=edrs urbanas "polO nas (DIhlIOW­ -
,_ a
..... _-.�
nn.u
-�_� �
._ 030 con
.
"... ::.... ­ fi..
da fronreir:a dos Emdos diohcão? Como as freiras de um (X)iIJ,'.CG-

.....hes"? Por que: (iÔ51C um dcp6sào de


gado; quando a gente tem muitas cabe-
Em Bueoos Aires, cidade maior e mais
ooslUopoli13, o dualismo da Caracas de
Daniel Mendoza e,'ilh.çou-sc; embora
sem enconlraCum desfixi", nos paradig­
mas�lucion:írios daépoca.SuvcrfrilJ..
d__"te, o poema gaúcho Fausto, de Esta..
nidao dei Campo (1834-1880), oom o
sublÍrulo de "Impa.sões do gaúcho
Anastasio d Pol1o sobre a aprfçeotaçio
deo'a ópe1'a", pode paico'v um fvrácio
na linha oostumbrlsta de Mendoz;. 30
Trata-se, politu. de um eocootro 1U3is
denso e compL':0 entre /o crú:J1Jo e uma
importação culrural erudila O poem.
inspirou--se 02 estréia em Buenos Aires,
em 24 de agosto de 1866, do FtnlSto de
Gounod, encenadoem Paris pela primei­
ra 'o elD 1859. Fala de um C1ipira que
assôslÍU à ópera e alguns dias mais aarde
a ruuT3 para um amigo da melhor 1ll3Dei­
ra que pôde CDlendê-la.
Quando rdlclimos sobre ....e oontra­
ponto eolre o ingênuo e o cosmopolita­
no, surgem oomplicações. Primeiro, ape­
sar de usar o idioma ooloquial, dei Cam­
po tia um intdecUI31 udxlOo-com sim­
parias populares, é claro inspirado em
-
um' lradição óladin a da Iiterarura gaú­
cha. Segundo, desde a inauguração do
TealrO ColÓll em 1857 oom lA travtaJa,
dei Campo vinha alimenmndo a idéia de
oon lr3smr o histriôniro do paloo oom os
sentimentos da plaléia. Terceiro, a InIeI­
Ifgmtsia argentina oonhecja r.l7D3>e1-
mente Ix111 oFausto de Goethe (Eslcoon
Echevenía, inldeC1loal da ''Geração de
1837", j:í se apropriara de seus lemas) e
eSlava bastante pleparada para avaliar a
versão de Gounod. QuarIo, o prOlagnnis­
la analfubelo de deI C'mpo fuz um re blO
da ópera que exigiria oom
21S
o line.o jraJiaoQ ou com a tradução �
paoholapublbd! aotesdaapuseotação
no jomalEJNaclcP!al. Fmal11M'"te, o pró­
prio (umpalsano, não um
aulêtlliro), chamado de ARam
sia eI PoIIo (Frango), aa uma 1<SpQ'"
nlÍrjca a Arderto d GaIIo (Galo), nbção
ji salÍlin de umpoeta gaúcho mais ao ...
go, Rit.rio AscaSlIDi (1807-1875). Anas..
. - é uma 0-_
Ir nao' .- ell""ema'X'a evid
1Ufi.1.U. <n-
_ .
liro FallslO da Ir.Idiçío e da lenda aos
Fallstos ponmtooos e .intelcdlla1izados
de Madowe e Goelhe, ao Faus'O do con­
sumidor burguês de Goun od, e de wlta
ao F.UIgto popular de EsranidaodelDO),.
po. Todavia, O elo final não completa o
circuiJo, porquedelCampoaaumpoeta
urbano e não um poeIa do po>u. Além
disso, O públioo argentino eSlava 0011$­
.
ciente de que, se Goelhe
FalIsto, Gounod vutg;.imlCl G()C1be. O
texto de de! Campo iC,,(la que de "SOU
o Iibrclo e seu próprio lroYador para
conduzir um diálogo rum seus
An's13sjo de Euo :wmln da degrndação
de Goelhe esoolhendoas mais
vulneráveis do IibrelO. O FaIlSIO de
Goethe, que fuz um esforço úlâniro para
tr.lns((nder Sf"lIS limites, é icd·rzido pelo
libretista de Gounod a uma criablra de
apetiteSSCDs"ais 31 Del Campo O if1rain
ainda 1113i5:
Dfjo que nada podia
00
.. Ia amcfa que est"dfó
que él a una rubfa queria
pero que a élla ruhla rUJ.
Looge de ser "ma obra •
o Fausto de dei Campo é uma brinadei­
ra elabor:)(Ja, permeada de bUliRs, cuJ·os
pelSOllagCDS paisanos são inlerloculO­
res de um cénacIe Iiler:írio: a narralÍva de
216 ESTUDOS HlSTÓ�(OS -Im/li
uma narrativa, um jogo dentro de um
jogo, uma relJexijQ sobre o drama-ópera
de Goelhe-Counod, conforme fora re­
presenlado na feonteita longínqua da ci­
dade modema que era Buenos Aires.
Anderson Imbert o chama de galeria de
espelhosdislOlccdores, com "transmuta­
ções e duplicaçôcs, simetrias e contras­
tes, cruzamentos e paralelas".32 E nós
somos levados a perguntar: se um poeta
argentino pode satiriZlr deIkadamente o
m,'U goslO da ópera francesa, o que acon­
tece com a construção cenlrO-periferia?
Será que os argentinos são paroquiais
por consuntircm Goelhe e Gounod ou
será que os parisienses são paroqu iais
por não consumirem Estanislao deI Cam­
po? Como um proft:ta, dei Campo mos­
trou ter m,lis agilid1de e vis.'io múltipla
do que a capacidade de seu contemporá­
neoJosé Hemández, autor do épico Mar­
Ifn FIeIlV, para tratar e dar forma a um
conjunlO de questões. Nesse sentido, ele
foi o precursor de Jorge Luis Borges e
Julio Con:lzlf mais que de IUcardo Güei­
raldes e Eduardo Mallea.
Se detectamos um lampejo modernis­
ta no olhar de deI Campo, é que ele
sincopa as categorias de José Luis Rome­
co, esticando um fio conector do alto do
periodo "patricio" à conclusão moder­
nista dos anos "burgueses". 1510 não im­
plica ingratidão para com a robusta an­
daimaria de Romeco, uma vez que a sin­
copação exige uma estrutura de susten­
tação. Aceita·se fucilmente a caracteriza­
ção de Romeco da era burguesa como o
período de haussm.1nniz:,ç'".lO da gran
aldea, como o auge doei senorpresiden­
te ou do caudilho da belle époque. Qual­
quer amostragem de suas pinceladas
produz um quadro convincente. Ele es­
creve sobre as sociedades urbanas que
tinham começado a se distinguir das ci­
dades patriarcais do interior, controL�das
ainda por aristoc racjas vigorosas e bom"
gêneas, uma "democracia de fidllgos".
Sociologicamente, porém, as estruturas
de clien telismo familiar em grande parte
se mantiveram, contra as instituiçôcs ra­
cionalizadas, que visavam objetivos espe­
cificas. Ao mesmo tempo, as elites urba­
nas começuam a absorver grupos da
c1as'i(! média e de imigrantes e a partilhar
do elbos febril da especulação e do auto­
engrandecimento. Isso significou um
afroux:unenw dos Iaços fumilia,es e das
antigas associações, exemplificado na
substituição dos eventos religiosos por
teatros, clubes e esportes.
Os romances naturnlistas forneceram
uma pawlogia (lessa sociedade quase­
burguesa com relalOS de chicana finan­
ceira, de arrivismo e ostcntação social, de
suicídio, de prostituição, e os poetas e
ensaístas parnasianos - quaisquer que
tenham sido as apreensões quanlO ao
materialismo e à opres.são social que pos­
sam ter exprimido - serviram ao gosw
refinado dos poderosos contra a vulgari­
dade e o arcaismo das m"ssas. Para com­
pensar o afro"'mmenlO dos laços f:un.il1�­
res, as novas oligarquias juraram recupe­
rar o caráter patricio e excluir, reprimir
ou pacificar os deserdad os. Politicamen­
te, a era do popu1ismo, ou a sua forma
manipulada de "CPS1rismo democráti-­
co", estava à mão. Aos grupos situados
além dos limites do mundo evolucioná­
rio e europei:z:Jdo - como os indios dos
pampas argen tinos. os camponescs de
Sonora e Yucatán ou os chamad os funá­
ticos do interior brasileiro só restava a
-
eliminação. Os intelectuais urbanos rati­
ficaram essas campanhas assegurando
seus leiwres do caráter inalO ou ambien­
talmente adquirido das deficiências dos
povos não-europeus.
Certas características da pawlogio bur­
guesa de Romero aplicam-se às cidades
da Europa ocident.I
l
obsCUlte: como aprendemos com São
 AS 00.(1)[\ "PER�tRlC4l' mIO .\lUAS cu.TUiAJ\
Petersburgo e Viena, e como é \'isível no
Rio de janeiro de Machado de Assis, não
se pode dizer que a periferia reOita o
centro. Uma imagem espelhada não telll
raJúmale autônoma além da reversão
gratuita de direita e esquerda. A cidade
periférica não é mirnética, mas responde
a uma lógica interna. Paris podia inspirar
parcialmente, mas não podia in'icntar a
biperconsciência do bomem do subter­
râneo de Oostoievski, ou a psi. cm:llise de
freud, ou as paclbolas dan tescas de Ma­
chado de Assis. Se os latino-americanos
do f1n-de-sikle se preocuparam com o
arcaísmo e a entropia, isto se deveu, po­
delitOS supor, ao fuo de eles não enxer­
garem promessas redentoras de origeul
popu1are nativa nem poderem antecipar
com cerre711 como suas sociedades urba­
nas modernas reprod uziriam uma dinâ­
mica da mudança.
Após a virada do século e dUra0 te as
dé<adas que encerraram a jcbde burguesa
de Romero, esses Impedimentos a uma
prlse de começU'"am a deslll�
ronar. Isto aconteceu quando a própria
EUlOp� col'elimentou a crise de nervos
associad, com a tecüllmção, a mercuto­
aiz:u;io, a alienação e o desenCldeamento
da violência, e conceihI3IiZ:!l1:! no moder­
nismo, nas contradições neomarxistas, na
decadência splengeriana e nas invasões
freudianas do inconsd<:i1 te. A prlse de
consciena latino-americana precisava
«p'amen tedes" dissoluçãodas rattona­
/es evolucionária e mdiorista A Europa
ofeteria ago... patologias tanto quanto
modelos. O desencantunento weberiano
no centro lançou as bases para a "milita­
ção nas bordas. Como suas insinuações
brotun da sociologia política, a transição
que Homero posntia das cid,ules burgue­
sas para as cidades "massifll'3d;')s" por 'VOl­
ta de 1930 deixa escapar o signillaulo do
.
modernismo Iatio o. Por isso
mesmo, sua análise é essencial paIll o
entendimento do que chamamos de "sin­
copação" da resposta Ialino-americana.
217
Como nem a América Latina nem o
modemismo são monolíticos, a campa·
ração de algumas poucas arenas urbanas,
por mais esquemática que seja, pode aju­
dar a particularizar e a aprofundar nossa
compreensão daprlse de consclence mo­
dernista da década de 1920.33 O ponto
de partida óbvio é São Paulo, uma flores­
cente capital financeilll e teUiológica que
Cora catapultada de séculos de vida exí­
gua e espartana paIll se tomar o cen tro
industrial mais atu alizado do continente.
Forças econômicas invisíveis, rn.'1is que
movimentos políticos comunitários, ha­
viam produzido a transformação. Em
uma cidade cujos traços coloniais haviam
desaparecido, cujas ruas Coram inunda­
das por ilali:mos, sirios e japoneses, cujo
céu foi perfurado da noite para o dia por
chaminés, a im.'lginação livre Coi desafia-
•
da não a entender mas a ver, náo a expU·
car mas a apreender. foi pedido um ato
de cognft;ão. Em Paulicéla desvairada
(1922), seu primeiro livro de poemas da
maturidade, Mârio de Andrade (1893-
1945), o "papa" do modernismo paulis­
ta, foi descaradamente lírico em relação
a São Paulo. O poema de abertura chama
a cidade de "comoçío de minha vida".
Mesmo com a sua identidade histórica
apagada pelo comércio e pela indúslria,
São Paulo podia ainda ser vista em anti­
gos termos carnavalescos que transporta­
vam o observador para uma Cesta arlequi­
naI de cinza e ouro, cinzas e dinheiro,
arrependimento e voracidade. O mundo
do poeta não e ... um mundo que ele
decompusera, como um imagista ou sue·
realista poderia ter feito, nem um mundo
que se decompusera ou perdera seu cen­
tro. Tratava-se antes de um mistério que
se autopropunba, estimuIando-o a evo­
.car a figura do polichinelo que simboli­
zava o mito antigo e o ser solitário, a Cesta
e a tristeza, a 10ucUlll e a s:Jbedoria. A
tradição cuhural e a raciona1izaçio im�
sitiva fun dirarn-se !Ia poesia de Mário de
paulo .industrial
A Il...·
"'JS � da dt''''da de 1920, há

Buenos Aires C o IIonaso.

O oolllplell",010 de Borges é JIob<'1O
Alil (1900- 1944), filho de imigraoleS da

IOOU ta010 na culnIra de ca'nrf do ta0go de seu " illpO e lugar, espcdClf'3il__nte
oa ruJtwa aqt!des IirniIeS dmliO des quais se mo­
10&. Mais que outras cidades 'adoo-a.......
vll__ntava.37 No entlDlO, bi 60 intensa
i
ficaoa', &IC!I<» Aires (X"upartjlbava do
etboE do """,CIuKIIVl de traoSC:fndeu o nanlralj$llM) par.a che­
ocjdcotll, de modo que os gar, 00i"1O Borges, ao domínkl do pata-
mlms da e da cultura uginoaje

ou

' -
j({lXl d
lue«(ra contra IÇ'oenlle5"la $'tl'2
.

çãoe os .,"010 que pro«5SJ O cas:unen­

história. Um amhienae primitivo de
&o é a dásW:! frllSl'nção que a
moosuos, SC;f{ns e magnetns que mn-
•

à rorina elerna As siurlrias asslISlaol2S

o
fundei" as bússolas dos navios CX)C'-isre
de Blake COQMmioam o mundo de ArlL
oom a babanera do primeõro (eal'!io e
Apmqinua que vai para casa ao encooliO

de<asa que (cecioe o DWido se pinla

entidade psíquica rom um ....
•
QllíscjQM), oa qual "nada do que -dSlDI se
ILij dissipado C rodas as f,aws anteriolcs
aDIeS dele chegar. O filho de imigraoleS
tQj a nov.a poúria ao aoeiMr os ideais dos
pais, luas trai esses ideais ao aceitar a
pálria. Poc 1Oda5 as narrativas de Alil
rone o tema da traição, assim oomo pela
o"rula popular do tango e do salnete.
Alil boça. assim, uma ponte en\re Bue­
nosAircs ea alienaçãodOSloieviskianado
hOIiKm udpoo no Ocidente. Seus para­
doolJS e bbirinros, originados das yjtbs
dacm:Se, junta,,",Ilte oom os de Borges,
das fronteiras da epistemolo-
 21'

DO numo" o ttv'idolal das G ,crd>cns,

b,ipOlldo o.sto. -. A
No conin
ihI
h dojs JWW'1m caMah para aprlsle de
11 . . . .

da de 1920. Um t a Ckhde do
'Im m.lO do de 00solescI'ruia cakidc!JCÓ.
11m pica., no '1"411, scguado a (lllUM;O do
Manljesto romunfsta. "'udo quct ""'ido
d I 00 u". Sc o ...Jajealln co.....
do de dcw:r de: espaOtar 'boIS panllDa das ..... 11 ... ' •• -.

notíriac", O outro f. Uh,!. capital de 11m

de
nto. Aqui, O
.1; -an. o
".
-

, ... . , "'

··-' ''
pr'I'I �g

nae puboiu;ãn de .""s hdaoças? Todas as

do Per" dos anos

"' .. .

au'
" '',
tiro NjooI." I (1825-185S).
paa m'moç"

�_ .ís"
nesse 2mbkoac
a muito
a de �bCihaD Bc....30, que iotapuu a _ ... .. ... - , � de
"atalh1a da "�wlilj1adc" na
pnS*jll" da E"copJ WIü n=firafociae pa' . . " .

a
Janeiro de Nrlxlo de Assh, Ihais per­
mksho
ai". Na R/íccu, a modc...khde bi ioau-
a tenfio cn� a a'raç20 pela
c l.
"Wlõmia c poIí,jc:a c a smnçá<> de que:
....
220 ESIUOO1 HISTÓijeOl - 199sn l
ses sociais, para a liberação espontânea
das forças sociais e psíquicas reprimidas.
Foi lá que o homem do suhterrâneo de
Dostoie ..ki parou de se insinuar como
uma enguia entre os pedesues e levan­
tou-se para bater em cheio contra o ofi­
cia1 aristoccltico.
A pactir da perspectiva Nevsk.i e dos
buJevares de HaUSSOl.'UlR, Bennan mos-.
lrÓi seu contraste entre o modernismo
do subdesenvolvimento e o modernismo
das ruas parisienses. Por maior que fosse
seu desprew pelo "p rogresso ", Baude­
laire sentia-se parte de urna turba que
poderia se mobili",r para afirmar seus
direilDS: "Ele pode sentir-se como um
estranho no universo, mas está em asa
como homem e como cidadão nas ruas
de Paris." Em São Petersburgo, nem as
forças de produção ainda tinham sido
implan tadas nem os oprimidos partilha­
vam de urna tradição defratemilé. Daí,
o significado da manifestação de rua in­
dividual e a necessidade de invenrarurna
cultura política subterr.inea ex n/h/lo.
Este solo exótico instilou no modernis­
mo "urna incandescênci... desesperada
que o modernismo ociden tal, lão mais à
vontade em seu mundo, raramente p0-
derá esperar alcançar". DostoievslU ensi­
nava que, quando os homens do subter­
cineo afirmassem suas próprias abstra­
çôes e intençôes, a espiritual iluminação
de rua de São Petersburgo ganharia um
novo brilho. Isto na verdade começou a
acontecer em 1905.
Berman sugere que a América útina,
na expressão de Octavio Paz, também
eslá "condenada à modcrnid
..de" e agora
abriga as conCronL"çôes que ele explora
em São Petersburgo. Natur.wnente, a
Américaútina é urna hmília de países de
difeieote5 Tr.ljelÓrias, e nela não se pode
identificar com certem uma única São
Petersburgo. Por certo aceitamos implici­
tamente que aprise de conscience russa
da década de 1860 repercutiu aqui na
década de 1920, quando Mariátcgui, em
Lima, traçou um diagnóstico doméstico
revolucionário comparável ao de Tcher­
nishevski, ou quando Roberto Artt desco­
briu o homem do subterrâneo em Bue­
nos Aires Mas isto não quer di7er que os
.
paí= em desenvolvimento repetem os
estágios uns dos outros: eles não o fuzem,
assim como não imitam os dos países
desenvolvidos. Afinal de contas, os sábios
mexicanos estavam projetando Galileu e
Gotssendi em sua capital ortOgonal antes
mesmo de São Petersburgo ser apenas
um lampejo no olhar de seu fundador. A
resposta latino-americana à moderniza­
ção foi ao mesmo tempo mais dócil e
mais recalcitrante do que a da Rússia,
como inferimos de Machado de Assis.
Aí está a questão. Se a perspectiva
NevslU precedeu os bulevaces de Paris de
urna geração e a haussmanni",ção do Rio
de Janeiro se fez urna geração depois
deles, esta última parece urna nota de
rodapé, um reJJexo. A "perspectiva Nevs­
lU" de Machado de Assis não foi a avenida
Central, que só foi na cidade nos
anos fin:ús de sua vida, mas a rua do
Ouvidor, uma rua de dez quadras, estrei­
ta e tradicional, que se tomou a vitrine
dos aaavios europeus e o ponto de en­
contro das elites. Aqui o escravo bêbado
ocasional ou a mulaaa insinuante eram
intrusos, párias. Era rn."lis um ambiente
que confirmava o status quo do que,
como a perspectiva N cvsk.i, o suspendia.
O professor primário da cidade do inte­
rior de Machado de Assis guardou da rua
do Ouvidor a lembrança duradoura de
ter visto um negro sendo levado para a
40
forca. Mactinez Estrada traçou conclu­
são semelhante para a CalIe Florida, a
grande rua comercial de Buenos Aires .
Como a do Ouvidor, era uma rua antiga,
sendo em 1823 a única da cidade com
pavimentação de pedra. A Calle Florida
não é urna inserção confronaacional de
modernidade. Suas vitrines expõem mer­
cadorias "acima de nossos meios e fora
de nosso destino"; dentro de sua grande
 AS OOAD[S "P[iIFt�[A\- COIlO AROOI CUlTURAIS 221

ficção, "todos se enganam a si mesmos do Ocidente deverá finalmente dar aten­

sem objetivo"; a Calle Florida cria ilusões' ção a eles e a seus sucessores.
e não agenda.41 Os "redistas fmtástiros" não são ne·
cessariamente atraídos, como Baudel.i­
Muitos hislDriadores, talvez dese.pe­
te, Dostoievski e Freud, para temas da
rados diante da multiplicidade da Améri­
vida urbana, porque es'ão annados com
ca úlÍna e impacien tes com sua resis­
a recalcitrincia da mesma forma que com
tência seletiva aos
axiomas da moderni­
a ruptura. Ainda assim, a metrópole ine­
zação, acatam uma interpretação que fiz
vi Lavelmente incendeia a imaginação,
da região o rabo do cachorro do capita­ _
nao menos que a aldeia onírica, o árido
lismo internacional. O envolvimento
in teriar brasileiro ou a fron teira am:\ZÔ­
econômico com O exterior period.i7;J. seu
nica. A tenl:ulva de identificar espaços
tratamento e, para onde quer que olhem,
urbanos emblemiticos na América útina
do século XVI ao xx. detcct:lm a comer­
contemporlnea ab'y;tr1a o escopo deste
cialização inexorável dos laços humanos
artigo. Mas pode-se supor que eles não
e a transformação de castas em classes.
são os equivalentes dos bulevares pari­
Nossas testemu nhas internas, porém, su­
sienses ou da perspectiva Nevski, e que
gerem que o mbo do cachono abanou
com firmeza Os estopins urnanos de suas ambigüidades são mais an tigas do
que as do RingSlr.Js.se de Viena. Mais que
mudanças foram menos identificáveis,
arenas de conllilD e lr.Jnscendência, eles
ou menos porten IDSOS, do que em Sio
seriam arenas de acomodação e resistên­
Petersburgo ou Viena, e a América úlÍna
cia sob a sombm da autoridade onipre­
de oOlem nio prodllziu nenhum Dos­
sente mas nio onipotente. Revelari.�m
toievski ou Freud para virar o espelho na
uma combinação inconsLwte de pers­
direção da modernidwe ocidenL-.I. Mas
pectivas, com o mais moderno e ociden­
os artisL-.s modernisL-.s da década de
tal por Vl"7eS aparecendo gaslD pelo ma­
1920 e os romancisL-.s a partir da década
nuseio e com o mais venerável, e até
de 1950 criam novas visões e levantam
mesmo o mais exótico, freqüentemente
questões atuais. Ees desafClm a eficíci3
evidenciando a "razão vital" de Ortega. O
do tempo evolucionário. Questionam se
mal mais ameaçador aqui poderiam ·ser
os traumas e o molde formador do pas­
os p«:Jdos mortais danteseos do Rio de
sado são canceláveis. Os romancistas
Janeiro de Machado de Assis, e não ne­
exortam de milhares de maneiras a Amé­
ces.ariamente a desumanização da "se­
rica úlÍna a esL-.belecer fronteiras à ra­
miperiferia" de K:úka, embora a esperan­
cionalização e ao desencanto. O moder­
ça de salvação talvez brilhe mais na reli­
nismo é, de muitts maneiras, coerente
giosidade dos grupos ou nos vesúgios da
com o seu "realismo fantástico", e Gera·
história sempre presente do que na retó­
via Paz afumou que, sem as energias
rica populisla e na prosa da sociologia
criticas modemisL-.s, a América L1tina cti­
emptnca.
, .

ria no cesarismo frenético ou na força

opressom da burocracia. Mas, à medida
que o "jogo final" pós-modernista de
Samuel Beckett avulta no horizonte, os
camin hos cultul".lis passam a divergir
mais acen tuadamen te. O malicioso p..iI­
marote, O astuto Anastasio eI Pollo e o
irônico homem do establ/sbment que foi
Cada país, cada regiio da América ú­
tina certamente possui ",cnas desse tipo.
Se IOssemos procurar as mais amplamen­
te expres.ivas, poderiamos esperar en­
contrá-Ias na Afro.América, o cintucio
carnavalesco que se estende das Antilhas
ao Brasil, onde as sociedades e as culturas

Machado de Assis acabam revelando-se, sio menos segmentadas do que na Indo­

nio esquisilDS, mas proféticos. O resto América e menos bloquead-.s do que nas
m
-
=nca. Basta
jX!lInr no T.opican". fih Havana, de Ca­
biela Inbn� "o calxart MAIS &bllloso
do l\fUNOO", ou 00prodigiosn
à batida e à da guoracha de
Macho CallucbO: NA YWh é unra rois:a
fenomenal; para fialle ou� u:1s,
remo quer que wxê baboo:. Os dois
C'SCIÍ1Ofes enudaçzm um "()dcL,.�" de
IltJU gostO, roc.irtil2do, pl1!1C1l5ioso, e
. '
un ta cuIbJra esIridente, seOUCOIiKUQI...
-",
.
?;Ida, maliciosa, de origcos afn>.iI",<o-
poder popular, mídia eLebÔOica a ritmos
lJibais As lâmpadas de "..gnésio nvxter­
oNa. substituem 05 bials de g;is bruxu­
teaoleS de Machado de As!;, apenas para
prod,qjr os dics da clmea, angulados e
jofioi.amnue reproduaívcis, que irão
capw seu quadro daoleSCO.
e espiJ"tJ, sente.se agora o refluxo dos
IiKDOS il;.;xlja.incb. o observ.Idor pode
fazer diretamente o recooh ecil.h1110 das
praos do Rio de janeiro. Desde 05 dos
de Machado de Assis (que pensava que
Copacabana, ,� por IÚnd ao centro
do Rio em 1892, oferecia um Iug;u agra­
dáw:l e excêntrico p.3r.! Ullti1 casa em um
mundo de areia c lIur� e desdc a décP­
da de 1920 (anos do Copacabana Pabce
Holel, um pedaço dislanle da Côle d'A-
mr, cup perSL'1"WÇ"O milo DVlOUmeo.to
. -
hislóriro dos anos de ouro do Rio de
janeiro está hoje em debale), os políLicos
ampLiatam ronsidera>'CJmenIe as prnos
em uma estra1égia populista de padftM
çío. Ainda .ssim as praos cariocas reiC ..
CIda5 como pão.c<irco não são aqudas
expuiali(nbdas como lC3tro. Aqui náo se
CO(l)llba ncm a an(giUM"rHação e a bo-
bod e da "RMera"
na tendi., pteklêuria
na
1OIer1oriJ i eai_v da
ninrb e ducb3mpboa do tiuebol e das
esc:ohs de SJmIn A seguir, 1em início a
leoaa inwsão de banhistas de tocbs as
.
lUnst
a idosos muglDaK
s
,"
• .
Os grupos socbis e élDicos se aOVJDtmm,
tjcaCiwnte CK,JOS'DS SI'bd:ituem su tilmen-
te as bKiarquns dos ambitiltes de uaM
lho pela deu__ntlc hierarquia corporal.
Generais do &trcÍlO podem ser turislas
dames podem ser
flTandes
plusliol';)s A l31'de, o futebol e o YÕlei
rouoom brgos tiohos de arei! aos m.
nhims e liqueE nTm as batidas fulUmb5
de pistão dos COUed01CS eu. unt) coreo.
grafia IJibaI Sob as ondas huutm3S e de
g;uis ">lidos de cor-de-branja que lim­
pam a praja, dos >'Cndedolcs de comida
C! bebida cobendo remo moscas na areia
e dos ubíqu05 moIeqiJCS ou pÍVCIes aleD·
lOS a bolsas ou IOOlhas que em algum
momcnto deixem de ser vigiacbs. AI:J cair
da noile, ch cg.am as prostitutas, 'anlO
ClIlplifg;unsgcnm que be,lscam tneiosde
dar de comcr a aiJnÇa5 $Cm pai, quanlO
pro6ssionais astutlS carnes de habilido­
sa' picslidigilaÇÓCS com 05 relógios e as
candr:lS iccheadas dos clkntes. Depois
que cscurece, acólilOS invisíKis arendlecimo
velas a deuses dCSOOleci lh dos, em ofe­
reodas feiras com MchaÇ! barata ou com
uawSS3s brias de boa remida e champa­
nhe. O refluxo bUIINOO obtcie seu triun�
fo cOlÍdbno e se roncenua em sua onda

.
gqpnresca 20ual par.il OS nhl31$
" de I;eni_
. . -
OSDIO,' ' ' 1 :-' muita-
1"3çao esup� ' sc..'·nos
, .
e dissolulO.lS de dasses, de que p:utid­
p>m milhões de pcS'OOs 112 noite do
&..en �se bem oporquê<bspiC"""
r;oesn-"", do anuop6'ogo conin a interpreM
ção de Copacah1oa, a "utopia wbJoa",
mmo /OCUS de aljenaç1o '" A reifica..
" ".
Çio, a indiw:hmç1o e o COlSU mjslllo fS
lijo longe de 100.... o l� de aDlips
JD()I'3lidades, asscxi3çôes e Ohl3is Diao·
te desse espetículo. ao li;smo tempo
modeiUo e atemporal, Baudebire e, sim,
até 11___5[DO DosIoicvski, patC('C1II esqui-
silOS. E nós >is/umb rnfDOS fronlcir:ls n�
Y.IS, ou recé:Jn.icnovadas, da nosSl hisl{)..
rb comum.
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U.Antõnioda Silv.a Pr:Ido(l� 1929) Ct:l
11m l'iajaote p:llIlisa e fuwro Ulipn::drio c
(sudista quando QKJU Londres uo 1862 o -
ficaram nnra";lb,dos ('Oin O P,;alicio deCris�
O � não aCD.'ICtlll 0)111 a butguc:sia inglesa.
mas O m55C\ difuU1Ct"ilW'ille do builciro. O
. .
_'_
VIU (DIUO wn 3Ul L_'_ de õoIIlU
1lA.aJI < �.-U t20o rt'
u
.
,s mo
C fDC'100'"'0. !)",dI E. Lc:ví, Af amOIa I'Y...
do (Sõo P.ullo, 1977), p. 14().1; M:usbaII Bu­
m2o. AlI tbal ls sdld mdu Inlo aJr; lhe t:"f'l""'
rlence of mod",,1/y (Ncw YorIc, 1982), p.
236-248. Traduçio Ix.siIei,.. de Cados Felipe
Moi.... c Ara Maria L lori:ltli: rudo que i
I'6lIdo thimancha no ar. a aventura. da �
demitiaM (Sõo ""uIo, 1982).
13. Minha sinopse de+<: mnilo a R.1ymun­
do Faoro, Machado de Assú- a pirâmide e o
/T
a"..." (Sõo p,uIo, 1974).
15. M;acb,do de Assis, "'EvoIuçio", «i!i
Obra compklo (4' cd. Rio deJ:mci.ró, 1979),
YOI. n. p. 703-8.
16. Macb;J<k:) de � Wfeoóa do mma­
Ib;o", ao Obra compIela, op. cit, >Oi. n. p.
253-95. Enudanto. o avnpcAI,Imm CO afetho
foi um antídOUl sanptt pi(:5cru:e par, O fcw·
224 ESTIIXlS HISTÓRJ(OS - Im/ll
malismo e • pomposidade brasileir:ls, Quan­
do o telefone chegou à Viena., "as cham3das
limitavam-se a 10 minutos. dos quais pelo
menos seis eram t.ornados poc deliáasos ara­
bescos proux:obrcs" (Monon, op, cil, p, 38),
É dificiJ im'giJUr que isso pudesse .contecel'
no Rio de Janeiro, onde blagucs e congr:>ça­
mm.tQ5 suavizaram o advento da mexiaILÍda­
de, rejuvenescendo, dessa forma., as bicr.lC­
quias locais,
17, "A nova gemção" (1879), em Machado
de Assi� Obra rompkla, op, cil" mI, lII, p,
810,
18. Oickens, Thadcc'ay, B:dnc e Flaubc:tl
est:lv.un nas CSt:lntes de Machado de Assis,
mas Zola não, O que ele tinha de D:uwin e
Spencer forneceu-lhe m:ueriaJ p3I'3 a "HlUl\.õr
niw", ClÇooda sobre o positivismo an Memó­
riaspdslumas de Brás Cubas (1881) e Qufn..
ros Borba (1891), Jean Michel Massa, "LI
bibliothl:que de Machado de Assis", Jlevtsla
do Livro, vol, 6 (1961), 19S-238
19, R Ma�ãesJúnior, Machado de AssIs
público (2' ed" Rio de Janeiro,
1970),
20, Helen Cald-u. Machado de Assis, lhe
Braz/llan masler mui bis noveis (1lerkeley,
1970), p, 67,
21, George Sanlay:m:l. "Dante", em 1bree
pbllosopblcalpoets (Cambridge, 1945), p, 73-
135; Mark Van Oocen, "The Divine Comedy" ,
a.. 1be nobel volce (New Yori<, 1946), p,
172-230,
22, Edoaedo Bizzacri, "Machado de Assis e
Dante", em O meu Dante, Instituto Cultural
•
ltalo-Brasileiro, C,demo 5 (São Paulo, 1965),
p. 131-44. Ver também Mário de Andrade,
"Machado de Assis", em Aspectos do Ilteratu·
ra brasileira (4' ed" São Paulo, 1972), p,
89-108; Jean Michel Massa, "LI présence de
Dante dans l'ocuvre de Machado de Assis",
tt..desluso-bréstliennes, v, 11 (1966), p, 168-
76; Cald-u. op, cil, passim; e Luís da Cõm;u:o
Cascudo, Dante AJlgbferl e a tradlçãc popu­
lar no Brasil (Pocto Alegre. 1963),
23. Va"'''':, eJacó (1904) e MelnorlaJ de
Aires (1908),
24, José lA!is Romao, Latlnoamérlca: las
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lWperin Dongbi faz uma análise do li vro em
"José Lllis Romao ysu lugaren la historiogra-
.. argentina", Desarollo Erolm
r ld lco, mI, 20
(1980), 271-4,
25, Miguel S:unper, La mlserla de Bogotá
y alTos esaltos (Bogo� 1969), Ver também
Tulio Halperin Dongbi, Historio rontempo­
ranea de An .él/ca latina (2' ed" Madri,
1970), cap, 3,
26, Manus B. J=.Japan mui Its world,
lwo allt"""s o/cbange (Princeton, 1980), p,
38, 44-5,
27. Eugen Weba, hasants Into Frencb­
men, lhe modern/mlton o/ rural France,
187()'1914 (Stanford, 1976),
28. Donúngo F, Sarmiento, U/e In the Ar­
gent/ne Jlepubl/c In the days o/ the Iyrants
(New Yori<, 1961) e Travels In the Unlted
States In 1817, tr.Iduzido pasa o inglês por
Michael A. RockJand (Princeton, 1970),
29, Antologfa de rost!<mhrtstas vene;:n/a­
nos dei sI[io XIX (Caracas, 1964), p, 92·107,
30, Usei • edição de Fausto de Horacio
Jorge &0:0, com prólogo de Jorge Luis Bor­
ges (Buenos Aires, 1969). O estudo critico de
Enrique Andason 1mbert, Anállsls de "Falls­
lo" (Buenos Aires. 1968) foi útil,
31. N:lAlemanha, . 6pern de Gounod nem
sequer é cham3da Faust, mas Margarelbe.
32, Imbert. op, cil, p, 32,
33, O bolanço apresentldo nCSIa pane do
artigo resume r.lpidamente parte de outro
ensaio em andamento.
34, Jorge Luis Borges, Obras completas
(Buenos Air� 1974), p, 81, O poet:l posu:­
riormente mudou o adjetivo do útulo de "mi­
tológiCl" pó1l2 "nútica".
35, Sigmund Freud, ClvIl1zatwII mui i/5
dlsron/ellts (New York, 1961), p, 17, Tradu­
çãobrasileira, o maJ-estarllQ c/vüimçiio (Rio
de Janeiro, 1974),
36, Jorge Luis Borges, "AutobiographicaJ
essay" , em 1be AJepb mui otber S/orles 1933-
1969 (Ncw York, 1971), p, 155, A versão de
Fervor. . an Obras. . (l i-52) esú muito revis­
, .
ta em relação ao original.
37, St:lSyS GOSt:lU� Buenos AIres y Arlt,
DostalevskJ, Martinez Estrado y Escalabrlnl
Orttz(Madri, 1977); Diana Guerrero,Roherlo
Arll, el habllante JOlllarlo (Buenos Aires,
1972); David Malda..ky, las atsts en la nar­
rativa de lInberlo Arll (Buenos Aires, 1968),
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38. M:lr.iball Berman, Tudo que é sólido
desmancha no ar: a aventura da modelnl­
dade, Op. ciL
39. Ver tunbém Eugcne Lunn, Mar.x1sm &
,noderntsm (Berkeley, 1982).
40. Jdfrey D. Necde1l, "1be origins ollhe
•
Carioca BcUe Epoque" (dissertação pua
Ph.D, Stanfoed Univasity, 1982), p. 381-6;
Miécio Táti, "Ouvidoc, a sedutota", an O
mundo de Machado de Assis (Rio deJanciro,
1961), p. lIH4; Macb:ulo de Assis, QlIlncas
Borba, C1p. 47, em Obras completas, op. ciL,
vol l.
41. Ezequiel Martinez futr.lda, )(.ray ofthe
Pampa, uaduzido para o inglês por A1ain
S"kllicki (AUSlin, 1971), p. 248-53 (primeira
publiClção em 1933).
42. G. C,b,= Infante, Tbree trapped 11·
gers, tr.Jduzido para o inglês por Oonald Goro.
ncr e Suz:mne Jill l.evene (New Yorl<, 1978);
Luis Rafael Sáncbez, Macho Camacbo 's beaJ,
225
tr.Iduzido para o inglês por Gregory Rabos..
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(Recebido parapubllcat;do em
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Rlchard M. Morse, bislOriadoe n"""amo­
ricano, é aUID< de O espelho de Próspero:
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Companhia das I..etras, 1988) e A volta de
M elubanaima: cinco estudos solenes e uma
br/nradelra séria (São Paulo, Companhia das
Letras, 1990).