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As Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC): uma maneira de


interdisciplinarizar as áreas de conhecimento
Edna Correia Sales de Souza1
Resumo
Este artigo tem o título que já indica o caminho da minha reflexão. Ele foi formulado no
intuito de excitar as reflexões em torno dos desafios que vêm sendo colocados pela educação,
tendo em vista a necessidade de uma reforma na “ensinagem” dos conteúdos de maneira a
praticar a interdisciplinaridade nas diversas áreas de conhecimento. Mas, como fazer isso sem
o apoio das novas tecnologias? Portanto, utilizaremos os princípios do pensamento de
Vygotsky e as características da Linguagem Logo2, o que poderíamos entender como
instrumentalizar, ou seja, a arte de pensar inteligente. No interior desta reflexão, o território
do Projeto Político Pedagógico e a formação do educador necessitam ser percorrido e
repensado permanentemente, na busca efetiva das transformações tecnológicas requeridas
para uma educação do futuro.

Palavras - chaves: Linguagem Logo, interdisciplinaridade e tecnologia.

1. Introdução
“O mundo e a vida nada mais são do que uma grande teia de relações e conexões, e
o ser humano um fio particular dessa teia”. Maria Cândida Moraes

Muito se tem discutido, recentemente, acerca da automação, das Novas Tecnologias


Educacionais e a predominância do caráter computacional sobre o caráter educacional. Isso
sem contar que o educador como elemento intermediário nesta grande teia de relações, como
cita Moraes na epigrafe acima, deve está intermediando todo o processo. Ele deve percorrer
entre a escola e a sociedade pós-moderna, deve por instância ter o domínio da linguagem

1 Graduada em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Bahia – FEBA. Pós-graduada em Psicopedagogia em Desenvolvimento de Recursos Humanos

– CEPOM. Pós-graduada em Metodologia do Ensino Superior e em Supervisão Escolar – UCAM. Atua como Coordenadora Pedagógica do Ensino Médio
Instituição Particular, leciona Filosofia e Sociologia para o Ensino Médio em uma Instituição Pública – ESTADO, e leciona na REDE MUNICIPAL DO
SALVADOR.

2 Para Parpert e segundo a filosofia Logo, “o aprendizado acontece através do processo de a criança inteligente ‘ensinar’ o computador burro, ao invés de

o computador inteligente ensinar a criança burra”.


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audiovisual, Linguagem Logo - criada por Seymour Papert3 - e usá-la como meio de criação e
aprendizagem junto ao aprendiz.

Mas, o que vem a ser Linguagem Logo? Logo é, ao mesmo tempo, uma linguagem de
programação de alto nível, uma metodologia de ensino e uma filosofia educacional, veja a
tríade que analisaremos dentro deste tema: “linguagem, metodologia e filosofia”. O qual
propõe o uso do computador como ferramenta no processo educacional, permitindo que as
pessoas dominem conceitos mais profundos de Matemática, Ciências, Linguagem e em muitas
outras áreas do conhecimento. (PAPERT, 1985). A grande questão agora é utilizar esta tríade
de maneira à interdisciplinarizar às informações nas áreas de conhecimento, sem que haja
choques ou ruptura no processo de construção da aprendizagem.

LINGUAGEM
LOGO

LINGUAGEM METODOLOGIA FILOSOFIA

Figura 1 - Edna Correia

2. Organizando as idéias
A partir dessas constatações preliminares, a título de organização didática nos estruturamos
em três partes. A primeira fundamenta-se na idéia de que os sistemas escolares terão de
escolher entre dois paradigmas de funcionamento: um paradigma do controle dogmático e um
paradigma do desenvolvimento da qualidade de aprendizagem interdisciplinar. Aqui estando
presente a Linguagem Logo, como uma ferramenta de estruturação para este processo de
mudança interdisciplinar.

Na segunda parte, argumenta-se que a formação do educador é, ao mesmo tempo,


indispensável, difícil e contestável. Resultado: as novas modalidades de formação continuada
poderão e deverão incorporar-se as Tecnologias e Informação e Comunicação, sem para isso
obstinar-se em algo estático. A terceira parte propõe que as TIC estejam a serviço
principalmente da gestão dos saberes, tanto na questão profissional quanto no que tange a
transformação da escola em uma organização de aprendizagem.
3 Seymour Papert, do MIT (Massachusets Institute of Technology – Cambridge) a grande referência mundial no uso do computador nos processos de

aprendizagem apresenta o Logo que, mais do que uma linguagem de programação, é uma filosofia que, utilizando também os recursos computacionais,
torna possível uma nova concepção de ensino.
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2.1 Paradigmas educacionais emergentes - Paradigma interdisciplinar


A temática abordada proporá uma analise necessárias para um choque nos paradigmas
educacionais, bem como subsídios e ferramentas para o estudo da atuação do educador e a
interdisciplinaridade das áreas de conhecimento, de maneira a tornar o ato de aprender mais
prazeroso. Mantendo assim uma relação dialógica e de parceria na mediação do processo –
ensino – aprendizagem (PEA) do alunado. ‘O paradigma interdisciplinar’ terá como
finalidade desenvolver uma sala de aula onde todos se encaixam num todo maior, ocorrendo o
envolvimento expresso através do respeito e da responsabilidade cidadã.

Este é o espírito de uma sala de aula interdisciplinar: Onde “todos se tornam parceiros! Mas,
parceiros de quê? Da produção e construção de um conhecimento para uma escola melhor,
produtora de pessoas mais felizes (...). A obrigação é alternada pela satisfação, a arrogância
pela humildade, a solidão por cooperação, a especialização por generalidade, o grupo
homogêneo pelo heterogêneo, a reprodução pelo questionamento (...). Em síntese, numa sala
de aula interdisciplinar há ritual de encontro – no início, no meio e no fim” (FAZENDA,
1991).

Em conseqüência disso, pretende-se com uma fundamentação teórica baseada nos aspectos
que perpassam a construção do projeto político pedagógico, analisar, discutir e repensar o
planejamento educacional bem como modos de utilizar os aplicativos e ferramentas da
informática através de uma proposta real e contextualizada. Uma Proposta de Intervenção
Pluridisciplinar, citando aqui WERNECK (1993). Trata-se, ainda, de um processo que
envolverá diversas reflexões centradas “na ação, sobre - a - ação, e sobre-a-reflexão-na-ação”
dos educadores.

Nessa abordagem não pode deixar de citar a titulo de complementação do pensamento:


Savianni, que se destaca entre os críticos do computador na educação, apesar de afirmar a
importância “de se apropriar dos instrumentos teóricos e práticos necessários ao
equacionamento dos problemas detectados na prática social”. Mas, não iremos nos atentar
aos críticos do uso do computador e sim desenvolver um processo de reflexão na prática e
sobre a prática de projetos cooperativos. Analisar as propostas dos ambientes de
aprendizagem, assim como a busca de novos caminhos que revelem uma ruptura com as
práticas tradicionais, a quebra do paradigma atuante para que avancem em direção a uma ação
pedagógica interdisciplinar voltada para a aprendizagem do aluno-sujeito. Segundo a filosofia
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Logo: “o computador é uma ferramenta ‘burra’ que podem ser ‘ensinado’ pela criança
inteligente”. É baseada nessa proposta e fundamentada em Papert que reforça a necessidade
de inverter no papel e na atuação do computador que ao invés de um mero veículo de
informação para os alunos, o computador passa a ser uma ferramenta com a qual se podem
formalizar os seus conhecimentos intuitivos.

Dado o exposto, a intenção é romper a inércia dos professores diante dos desafios
contemporâneos, e como requisito básico para a atuação pedagógica faz-se necessário o uso
das TIC. As mesmas quando usadas na educação, podem provocar e mesmo exigir
movimentos e atuações conjuntas de alunos e professores para uma finalidade comum. A
inércia dos dois elementos chaves – professor e aluno – passará de uma fase para outra, é
claro se acontecer o encaminhamento deste processo voltado para uma educação inovadora de
estrutura cidadã. Essas tecnologias podem ser (e cada vez mais são) iniciadores de
movimentos. Portanto, são pontos de partida no processo educacional que fundamentará toda
a caminhada, pensando assim sabemos que são as energias que alteram o estado de inércia. É
necessário que o objetivo central e a metodologia sejam sempre abertos com a visão voltada
para o futuro.

Segundo FAZENDA (1998): “um olhar interdisciplinar atento recupera a magia das práticas,
a essência de seus movimentos,... Exercitar uma forma interdisciplinar de teorizar e praticar
educação demanda, antes de qualquer coisa, o exercício de uma atitude ambígua.”

O ser humano vive entre a confusão e o conhecer, aqui a aprendizagem nasce dos movimentos
contidos justamente nas dúvidas, nos conflitos, ambigüidades, nas perguntas/respostas, nas
certezas/incertezas que são vivenciadas a todo o momento na solução e alternativas de
problemas rotineiros. Para o individuo é necessário ao seu desenvolvimento superar, assumir,
atuar e principalmente agir nessa imprecisão do ser. A ambigüidade esta para o ser humano
assim como a interdisciplinaridade, a partir do momento em que ele esta entre a ‘cruz e a
espada’ do conhecimento, neste momento ocorre um desequilíbrio para que haja a
reestruturação do conhecimento que ele tanto busca. Partindo destas palavras antagônicas:
ambigüidade x interdisciplinaridade é que se processa a construção do conhecimento, a
dúvida e a buscar do saber, agora um saber contextualizado e interdisciplinar.
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A interdisciplinaridade em educação surge da necessidade de articular teoria e prática,


procurando ultrapassar a busca do controle social e da regularidade dos acontecimentos. Desta
forma o sujeito se questionado sobre o tema interdisciplinaridade apontaria como sendo metas
a atingir, formas de atuar e não apenas um sistema organizado de disciplinas. É preciso
compreender que este processo vai muito além da sistematização das disciplinas, na verdade é
percorrer um caminho do já feito para um novo, de modo a realizar um percurso do real para o
possível.

Com isso, salienta-se que exigem muito dos submergidos em educação, principalmente
professor-aluno, visto que a articulação do conhecimento perpassará pela comparabilidade das
disciplinas, ou seja, o que cada área do conhecimento produz e como atua. Outro ponto
necessário a salientar é sobre as metas e o percurso do real para o possível, sendo necessária
uma reflexão conjunta na superação dos problemas surgidos, ou seja, analise coletivamente de
ambientes problemáticos comuns. As grandes diferenças entre as relações professor - aluno e
os métodos de aquisição de conhecimento de um para outro, também influenciará no processo
interdisciplinar, principalmente no uso das TIC, onde as diferenças de gerações são muitas
vezes objeto de aguda clivagem ideológica. Mas quando se examina todo o quadro, existe
certa uniformidade na textura suas relações professor-aluno, em termos daquilo que fazem,
mais do que daquilo que dizem e mais nitidamente, ainda, em se tratando de mudança de
comportamento, as semelhanças são surpreendentes. De uma maneira ou de outra todos
buscam pela mudança, pelo novo. É nesta crença que fundamentará e se concretizará o
percurso do real para o possível.

As semelhanças mais importantes, em termos educacionais, e que serão necessárias, são


facilmente observáveis: os sujeitos devem possuir uma base de valores ampla, complexa,
altamente integrada e na maioria das vezes tecnologicamente avançada, como fruto da
contemporaneidade. É ainda semelhança entre educando e educador, como parte principal da
atividade educacional, aquela embasada na apropriação do saber e na influência cooperativa
sobre os meios de tal atividade, com isso buscando estabelecer uma conjuntura de
aprendizagem inovadora.

Todavia, a relação professor-aluno do passado corresponde de longe a maior parte do produto


a ser explorado no universo educacional para o paradigma interdisciplinar e cujo ensinar
constitui uma área relativamente pequena da atividade de aprendizagem propriamente dita.
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No que se refere ao último aspecto (aprendizagem propriamente dita) é verdade que no


capitalismo possuem ainda um "setor público" às vezes resumido, por meio do qual o Estado
possui e administra a sua maneira. Em geral, mas não exclusivamente, do tipo “passivo” e
continuando a atender as classes dominantes e que é de enorme importância para a nossa
analise. Além disso, o Estado desempenha um crescente papel econômico através da
regulamentação, do controle, coordenação, "planejamento", e assim por diante.
Simultaneamente o Estado é o maior consumidor do "setor privado", em uma questão até
contraditória e algumas das maiores instituições de ensino não poderiam sobreviver no setor
privado sem o consumo estatal e sem subsídios e benefícios por ele dispensados. Quanto a
este aspecto, necessário se torna uma intervenção consciente, dentro do livre árbitro, para a
mudança do quadro da educação no país.

Tal intervenção nos aspectos educativos não constitui nada de novo na história da educação,
ao contrário, as intervenções aqui presidiram o seu nascimento ou pelo menos guia e auxilia
os seus primeiros passos. Esta situação se da não apenas em casos tão óbvios como o
manuseio do computador em sala de aula como suporte, mas também o conhecimento e
utilização crítica e questionadora de todos os outros recursos tecnológicos. Aspecto esse que
jamais deixou de ser de importância vital nas atividades escolares, mesmo no país mais
apegado ao tradicionalismo e a um rígido individualismo.

Não obstante, a escala e a difusão da intervenção na escola através de um Projeto Pedagógico


contemporâneo são hoje necessidades incomensuravelmente maiores do que em qualquer
outra época e sem dúvida alguma continuará a crescer. A LDB 9394/96, no artigo 12
normatiza e oferece total autonomia na construção da identidade de uma nova escola, quando
cita no inciso I: “elaborar e executar sua proposta pedagógica”. O destaque é apenas para
reforçar o sentido ideológico da palavra “sua”, no documento original não aparece o destaque.
Então o momento é este! E o mesmo se aplica para “a ampla rede de serviços sociais, em
relação aos quais tanto a Escola e o Estado devem assumiu responsabilidade direta ou indireta
na transformação social.” MILIBAND (1972).

As novas tecnologias da informação que permeiam a sociedade como um todo, desafiam a


escola e a possibilidade do seu uso adequado na educação dependendo essencialmente da
formação docente. Marisa Sampaio e Lígia Leite chamam a atenção para o seguinte aspecto:
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“preparo do professor que deverá atuar em ambientes informatizados de aprendizagem. A formação


adequada dos professores para o trato com as novas tecnologias da informação é uma urgência e um
desafio principalmente às universidades, por suas licenciaturas. Pensar sobre essa (formação do
educador) e outras questões de ordem metodológica é um desafio lançado aos próprios professores que
constroem, no seu dia-a-dia, a educação do próximo milênio”.

2.2 Logo: computadores e educação, um breve histórico


Papert compartilha das mesmas idéias gerais de Piaget, segundo ele acredita que a “presença
do computador deve ter efeitos fundamentais no desenvolvimento intelectual do que aqueles
efeitos produzidos por outras tecnologias, como a televisão e até mesmo a imprensa”. Ainda
para Papert ele “supõe que o computador pode concretizar (personalizar o formal). Sob este
prima, o computador não é somente mais um instrumento educacional poderoso”. O
computador aqui assume um papel importante na construção do conhecimento, visto que a
aprendizagem somente ocorria pela forma tradicional do “cuspe e giz”, agora as distâncias
não existem mais, a aldeia global ficou pequena para a troca de experiência no processo de
ensino e aprendizagem. Segundo Piaget, refere-se ao computador como “o único meio que
nos permite transpor os obstáculos de passagem de uma fase para outra”.

Ao articular todos esses conceitos, Papert propôs inicialmente chamada por ele de
“Linguagem de Programação Logo” que depois veio a se constituir a concepção
construcionista, suas idéias foram usadas em outros ambientes computacionais para além do
Logo. O uso do computador na concepção de Papert (construcionista) foi sugerido por ele no
período de 1985-1994, um período onde existiam outras idéias contrárias dos pensadores da
sociedade contemporânea, contudo as idéias foram inter-relacionadas, chegando à construção
de novos conhecimentos através dos pensadores da época como, por exemplo: Dewey, Paulo
Freire, Piaget e Vigotsky.

Com os exemplos dos pensadores, onde as idéias devem se relaciona se complementando


entre si, sentiu-se a necessidade então de unir forças, ou seja, buscar nas tecnologias de
Informação e Comunicação – TIC formas de interdisciplinarizar as áreas de conhecimento. É
refletindo e analisando as estruturas educacionais e as possibilidades de implantação de
projetos de intervenção e mudança nas escolas que chegaremos a um denominador comum, de
forma a balar as estruturas atualmente.
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Cabe, pois, a comunidade escolar adotar o computador como uma ferramenta de trabalho tão
importante quanto o livro didático, através dos softwares educativos. Buscando também nas
políticas educacionais, subsídios para o apoio de tais projetos, como é o caso dos Parâmetros
Curriculares Nacionais, que traz em seu âmbito ideação de mudança e de quebra de
paradigmas.

Dentre os inúmeros conceitos inovadores da educação, a comunicação e as tecnologias estão


entrelaçadas. É o fato que a idéia de rede como representação do conhecimento traz um
reforço muito significativo para a compreensão das teorias articuladas em sala de aula e para
outras interconexões que se estabelecerão adiante. O “Domínio” do Computador e das Novas
Tecnologias de Informação a benefício da educação fascinam a todos, apesar disso verifica-se
que, a qualidade dos professores atuantes é aventureira, eles tentam e quando não conseguem
retornam a sua práxis rotineira. Compete ressaltar que não só o computador entra no rol das
novas tecnologias, como erroneamente é pensado pela maioria dos educadores, segundo a
professora Edith Litwin4 lembra também do “papel desempenhado na educação por outras
tecnologias como o rádio e televisão na sala de aula”. A música e as imagens quando bem
direcionada abre os caminhos do imaginário e da criatividade do aprendiz, sem contar as
vantagens de uma aula dinâmica e prazerosa para os dois lados. Levando-se em consideração
que a partir do momento onde o professor alcançou o seu objetivo proposto - construção do
conhecimento - inevitavelmente o aprendiz também chegara com mais disposição as suas
metas.

Partindo do pressuposto de que o educador é constantemente um aprendiz, que deve estar


sempre lendo e refletindo sobre sua práxis pedagógica, depurando-a e refazendo seu
conhecimento, é que percebemos a verdadeira necessidade de analise do tema abordado. O
educador aprendiz deve volta-se as descobertas como mesmo entusiasmo de quando era
aluno. Citando Freire, somos eternos aprendizes!

2.3 Formação do educador frentes as mudanças


São tantas as mudanças que estão ocorrendo na sociedade e em ‘velocidade da luz’ que torna
difícil acompanhá-las ou até mesmo fazer parte desta mutação, por isso a necessidade de
aperfeiçoamento e capacitação em sua área de trabalho. Em conseqüência disso, vê-se, a todo
instante profissionais de educação em busca de aprimoramento no programa de “formação
4 Professora de Tecnologia Educativa da Faculdade de Filosofia e Letras da Universidade de Buenos Aires
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continuada” com seus próprios recursos econômicos, embora muitas destas instituições de
ensino mostram-se dissociadas do contexto de atuação nas áreas de conhecimento do
educador que a procura. Não obstante a finalidade primeira do aperfeiçoamento do educador
deverá ser de qualificar profissionais em alto nível, capazes de produzir conhecimentos
aprofundados na realidade social e educacional, a partir da inserção da interdisciplinaridade e
de novas tecnologias na educação básica e superior. Além destes objetivos também devem
constar a informação e discussão em torno dos papéis que as novas tecnologias poderão
desempenhar no contexto educacional, extrapolando as questões da didática, dos métodos de
ensino e dos conteúdos curriculares, proporcionando uma transposição na área educacional.

Tendo em vista que o princípio educacional e as competências dos professores devem estar
atrelados e para que ao invés dos cursos Normal Superior – Licenciaturas, difundidos pelo
país em função da demanda e solicitação da LDB, preparem professores não dogmático ou
conformista e sim formadores com o espírito de pesquisa e ousadia intelectual.
PERRENOUD (2002). Então as chamadas ‘competências para ensinar no século XXI’ título
do livro de Perrenoud, para que ocorra é preciso uma superação no que diz respeito à
formação do educador, seja a continuada ou a inicial. Superação com escolhas ideológicas, no
sentido de repensar essa formação de acordo com o modelo de sociedade que estamos
inseridos, bem como o objetivo da escola e o papel e atuação do professor. Mas, que professor
quer formar? Conformista ou questionador? Tudo dependerá das ideologias embutidos na
instituição escolar, ou melhor, dizendo ideologias dos sistemas educacionais, contudo e
partindo do tema do artigo o professor do século XXI, deve perpassar por novos modelos e
novos conceitos, onde o foco esta na aprendizagem, no professor, nos recursos tecnológicos
disponíveis. Enfim segundo Tom Peters: “O foco não é mais a satisfação do aluno, mas o
sucesso do aluno”. E para alcançar o sucesso deste aluno, o professor tem que está bem
aparelhado e com suporte técnico e educacional.

Aqui merece citar os sete saberes fundamentais que a escola teria como missão de ensinar,
proposto por Edgar Morin:
As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão.
Os princípios de um conhecimento pertinente.
A condição humana.
A identidade terrestre.
O confronto com as incertezas.
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A compreensão.
A ética do gênero humano.

Acredita-se que o professor dominando os setes saberes de Morin, tanto no sentido de


apreender e de ensinar esses saberes, o idealismo do autor não ficará apenas no papel,
tornado-se concreto a busca do real pelo possível.

“Onde os saberes são considerados como um sistema complexo, aberto e flexível, que inter-
relaciona conceitos, idéias e teorias”. MORIN (1996). “A aprendizagem é aberta a novas
interconexões propiciadas por relações de parceria e reciprocidade”. FAZENDA (1994).
Neste caso a aprendizagem esta em movimento contínuo de construção e reconstrução! E para
que o professor tenha condições de criar espaço de ensino aprendizagem que possam garantir
essa circulação de conhecimento, é preciso reestruturar seu processo de formação, ou seja,
rever as políticas educacionais que trata desta formação, de modo a assumir a característica de
continuidade. Buscando em Maria Cândida Moraes5, reflexões sobre o educador frente às
inovações pedagógicas, a autora em seu livro: O paradigma educacional emergente, discute
referenciais teóricos na busca de um novo paradigma para a educação neste fim de milênio.

Então porque não implementar no espaço da escola um ‘Plano de Ação Interdisciplinar’


buscando um novo paradigma na educação? Costuma-se falar em interdisciplinaridade como
se ela fosse um trabalho envolvendo várias disciplinas (português, matemática, geografia,
história, ciências... Em torno de um projeto. Na verdade, é algo muito mais complicado: existe
interdisciplinaridade quando se trata de mutação de atitude, onde há dialógica, formação de
parcerias, que se constitui exatamente no debate, na especificidade das ações de equipes que
querem alcançar um denominador comum, que participam em posições diferentes, no entanto
participantes de um mesmo grupo dedicado a atingir uma única meta.

Para implementar no espaço da escola Plano de Ação Interdisciplinar torna-se necessário


mostrar através do discurso intelectual e acadêmico um currículo integrado (não de
conceituações fechadas) e de contextualização com a realidade da vida que não acontecem de
modo compartimentado, mas interligado. Para tanto é necessário à quebra de uma estrutura

5 Maria Cândida Moraes, Mestre em Tecnologia Educacional pelo INPE e Doutora em Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, é

professora do Programa de Pós-graduação em Educação (Currículo) da PUC/SP. Foi coordenadora do Proinfo - Programa Nacional de Informática
Educativa do MEC, lança a idéia de uma nova escola onde o conhecimento é produto de uma constante construção, das interações e de enriquecimentos
mútuos de alunos e professores.
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secular: o positivismo, que deixou como legado influências fortes na nossa cultura e na nossa
educação, onde tudo era estudado em compartimentos fechados, perpassando ai o “currículo
oculto”. Pensar em interdisciplinarizar quebrando as estruturas enraizadas e tradicionais da
educação sem aliar-se as TIC cairia em um discurso vazio e não obteremos um produto em
aprendizagem satisfatório. Os dois tópicos unidos serão os responsáveis pelo novo, mudança
de enfoque na educação.

Vem de Martha Kohl (1996) uma instigante pergunta, que nos desafia a assumir de forma
mais responsável o compromisso inadiável com a questão da relação escola e as TIC: “Como
fica o lugar da escola, como instituição privilegiada na promoção do desenvolvimento do
sujeito nas sociedades letradas de hoje, com a marcante presença dos meios de comunicação
de massa e o crescente desenvolvimento da informática?”

Levando-se em consideração esses aspectos questionados por Martha Kohl, estudiosa de


Vigotsky e, portanto, das inter-relações entre pensamento, linguagem e desenvolvimento e
também da criação de disciplinas e áreas precisas de conhecimento. Percebe-se que tais
aspectos trouxeram para a ciência e para a tecnologia uma enorme possibilidade de progresso.
Agora que apresentadas a benfeitoria da ‘tecnologia interdisciplinar’, é preciso traçar as linhas
mestras da praticidade deste processo. Provavelmente, não haverá uma verdadeira evolução
enquanto as desavenças cognitivas entre a formação do educador contemporâneo e as TIC não
forem analisadas, levadas em conta, enfim, minimizadas a fim de instaurar uma coerência
maior entre o dizer e o fazer. Como escrevem BASCIA & HARGREAVES (2001):

(...) os esforços das reformas mais criativas são sistematicamente minados pela lógica do controle
político, que leva a uma padronização, regulação e inflexibilidade excessivas e acaba dificultando o
engajamento intelectual e emocional dos professores e impedindo que se tornem os principais agentes
políticos da mudança.

Pela observação dos pontos analisados: a formação do educador, bem como a relação
professor-aluno, a importância da interdisciplinaridade passando pelas TIC, entende-se que
apenas a construção de laboratórios de informática sem a adoção de certas experiências,
baseadas em um conjunto de pressupostos pedagógicos condizentes com a comunidade
escolar é um flagrante equívoco. Aliás, o que se pretende é viabilizar a adoção de exemplares
de informatização nas escolas em que o professor regular (aquele que ministra as disciplinas
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curriculares) atue verdadeiramente. Não obstante, sua atuação deve ser em parceria com as
áreas de conhecimento. É através dos ambientes educacionais e de cooperação que se
processa essa parceria e não com um profissional específico, capaz de “cuidar” apenas das
máquinas do laboratório de informática, onde se é ‘ensinado’ apenas o uso das ferramentas
sem nenhuma fundamentação teórica e crítica, ficando o uso pelo uso. (eis aí o grande
equívoco!)

A idéia equivocada de que o computador e o software resolverão os problemas educativos


ainda permanecem no sistema educacional e para confirmar isso, basta lançar um olhar sobre
a forma como vem ocorrendo à inserção de computadores em escolas privadas. A preparação
propiciada aos professores freqüentemente ocorre através de rápidos treinamentos. Outras
vezes, a instituição contrata instrutores para ministrar aulas de Informática aos alunos, sem
preocupação com a integração do computador ao processo pedagógico e deixando os
professores alheios aos acontecimentos. Desconhecendo melhores opções, na maioria das
vezes, as escolas restringem o uso do computador a práticas delimitadas e específicas, ou
ministram aulas de Informática na tentativa de tornar o aluno um usuário competente na
realização de seus trabalhos. Desconsideram-se os elementos fundamentais para que um
projeto inovador tenha sucesso na sala de aula: o professor – aluno – contexto.

PROFESSOR ALUNO

CONTEXTO
HISTÓRICO

Figura 2 - Edna Correia

Para que a Tecnologia de Informação e Comunicação (TIC) possam significar o estímulo


capaz de provocar a inovação, e, com ela, a superação de importantes enigmas educacionais
tem de identificar onde ela pode apresentar possibilidades verdadeiramente novas. Mais uma
vez, não é o laboratório de informática em si que causa tais desacertos; afinal, muitas escolas
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que possuem computadores em laboratório desenvolvem experiências de utilizá-los não


apenas como uma ferramenta, mas em projetos e em outras atividades integradas com o
currículo.

Os três termos aqui discutidos: Interdisciplinaridade – Novas tecnologias – Formação de


Professores abarca o grande desafio que constitui as mudanças necessárias no
desenvolvimento dos professores do século XXI, em outras palavras, um modelo de professor
voltado para o aluno que se integra à Sociedade do Conhecimento, na Era da Informação.

3. Considerações Finais
Sabe-se que a escola atual não consegue fazer com que os alunos gostem de estudar e nem
conectem os seus estudos à prática ou às habilidades que ele gostaria de ter. Para enxergar
uma escola do futuro ou elaborar cenários prospectivos para a educação em nível
interdisciplinar, há necessidade de reconhecer que o educador ainda está em formação com
uma base enraizada no tradicionalismo. Entretanto espera-se que as universidades
proporcionem o conhecimento disciplinar, multidisciplinar e interdisciplinar que continuarão
a ser ampliados e cultivados na práxis pedagógica de cada professor formado dentro nesta
filosofia interdisciplinar.

4. Referências Bibliográficas

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INFORMÁTICA EDUCATIVA NO BRASIL. Uma História Vivida, Algumas Lições Aprendidas.


Disponível em: <http://www.edutecnet.com.br/edmcand.htm>
Acessado em: 20 de dez. de 2006

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