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A ANGÚSTIA DO PSICOLOGO NO SETTING TERAPÊUTICO

OU
A ANGÚSTIA DO PSICOLOGO NA DINÂMICA DE ATENDIMENTO

Ciclana da Silva¹
Fulana de Oliveira²
Orientador: Felipe Stiebler Leite Villela³

Resumo: A díade supervisão e angústia atuam em conjunto no desenvolvimento dos


finalistas de curso e ao mesmo tempo iniciantes da carreira de psicólogo. Os alunos de
psicologia desde o primeiro ano já experimentam a angústia de serem aqueles que tudo
resolverão, quando na verdade no decorrer da aprendizagem aliada a supervisão, é que
entenderão o sentido de que ser psicólogo, que não se resume em somente em dar conta do
outro, mas sim de si também. Saber lidar com as próprias angústias é algo benéfico, pois no
processo acadêmico aliado a uma supervisão produtiva, o aluno irá encontrar a abordagem que
mais lhe faz sentido. A escolha da psicologia clínica com orientação fenomenológica, se
fundamenta em um tipo de clínica centrada na pessoa articulando dimensões biopsicossociais
e espirituais, ontologicamente voltada para a compreensão de si e do mundo, oferecendo ao
estagiário-terapeuta uma ótima ferramenta para lidar com a angústia dele e do outro.
Palavras-chave: Angústia, Supervisão, Alunos, Fenomenológica.

Abstract: dehb
Key words:

(1) Graduada em Psicologia pela UNISAL.


(2) Graduada em Psicologia pela UNISAL.
(3) Psicólogo pela PUC-SP, Mestre em filosofia pela PUC-SP e Doutor em Psicologia Clínica pela
USP. Professor e Supervisor do curso de Psicologia do Centro Universitário Salesiano de São
Paulo, UNISAL/ Lorena. Experiência e estudos na abordagem fenomenológico-existencial.
Atualmente tem como foco principal de pesquisa a relação entre a experiência literária e a
clínica psicológica.
1 INTRODUÇÃO
Finalistas de um curso e iniciantes de uma carreira, os alunos-psicólogos partem do
princípio de que a preparação para atuar na profissão advém de uma carreira vem sendo
construída através da formação acadêmica, onde a garantia de formar um profissional capaz se
faz pela transmissão de uma base teórico-prática. Essa base é mesclada por meio de uma teoria
que é vista durante todo o período letivo, e uma prática que geralmente inicia-se a partir segundo
ano (3º ou 4º semestre) de curso.
Os métodos desenvolvidos ao longo da Academia geralmente são os geradores de
angústia, o que é inerente, pois é natural que existam lacunas frequentemente apresentadas pelos
alunos nos estágios e nas primeiras experiências de iniciação à profissão, justamente pelo fato
de que estão vivenciando a mudança do meio, e a transição interna, visto que a mescla dos
conteúdos a prática profissional, não é simples como parece.
São os sentimentos de angústia desenvolvidos pelo aluno, que é um psicólogo em
construção que farão com que este consiga avançar de forma correta e convicta no seu percurso
profissional, pois esse sentimento atua como um combustível no desenrolar do percurso
acadêmico.
No decorrer da Academia, nota-se que a angustia aumenta devido ao desejo de se sentir
bem com o que é realizado, e ao mesmo tempo a satisfação profissional de atuar em algo que
faz sentido para o aluno, e é nesse ponto que a angustia se mostra positiva, pois ela age de forma
a incentivar a caminhada.
E este caminho por sua vez, deve ser direcionado por uma supervisão que seja clara e
coerente e que principalmente ocorra identificação entre o educando e o educador, no sentido
de que a empatia servirá como auxiliar no desenvolvimento da auto percepção por parte do
aluno, levando-o a perceber que o psicólogo não terá solução para tudo e não resolverá todos
os problemas, mas sim acompanhará o desenvolvimento do cliente, clareando aquilo que para
ele parece obscuro, apontando que a tradução da vida será feita por ele mesmo, e ele, psicólogo
em construção será apenas um facilitador.

2 A ANGUSTIA EM SUA POSITIVIDADE


Partindo da formação do psicólogo que se inicia desde o primeiro ano de faculdade, é
notável a reflexão acerca da ansiedade, que se coloca desde a primeira disciplina aprendida,
onde o desejo maior é absorver tudo que é proposto, com o intuito de captar conceitos e
entrelinhas
Ao mesmo tempo que, o mundo misterioso do outro transparece, e com ele surge a
angústia de não ser bom o suficiente para captar todos os sinais que são inerentes ao ser humano,
surge o medo de não estar pronto para enxergar com os olhos do outro.
Inclusive, com o passar dos anos essa angústia vai tomando uma forma temida, pois o
pensamento que mais se evidencia nesse momento é o de não ser bom o suficiente para lidar
com toda complexidade que habita o indivíduo.
O fato é que essa angústia atua como combustível, pois é por meio dela que a curiosidade
de querer saber mais é preservada, o desejo de se obter conhecimento como algo positivo é uma
boa forma de expressão.
De acordo com Kierkegaard (1968, apud SANTOS 2011); “a angústia está ligada ao
nada, ao vazio, favorecendo neste estado o sujeito que é pura possibilidade, ainda não está
determinado.”
Esse olhar abre o leque para o ser em desenvolvimento, onde a lapidação é algo que se
faz diariamente, e é nessa rotina diária que a angústia se torna uma ferramenta que agrega valor
a edificação da aprendizagem, onde o não saber resolver, não é um problema, mas sim uma
movimentação que gera reflexões, que por sua vez acendem o interesse no desconhecido.
Segundo Kierkegaard (1968, apud SANTOS 2011) a angústia é a vertigem da liberdade.
O indivíduo sente ao mesmo tempo uma repulsa e uma atração. Essa repulsa e atração citada,
se relaciona diretamente com a angustia atuada pelos alunos, ao perceberem que a academia
está no fim e ao mesmo tempo o desejo do término curso, assim como outras situações tais
como, a aproximação do horário de chegada do cliente chegar e ao mesmo tempo o pensamento
de que seria bom se ele faltasse.
Toda essa ambiguidade de sentimento é algo bom, pois é fundamental na maturação do
profissional em desenvolvimento, é exatamente nesse ponto que reside a positividade da
angústia, ela promove a interação com o mundo e nos torna tão semelhantes quanto os clientes
atendidos, tirando, portanto, a ideia de onipotência e onisciência que o psicólogo deve ter.
De acordo com Heidegger em Ser e Tempo (1998, apud SANTOS 2011):
“na angustia a pre-sença se dispõe frente ao nada da possível impossibilidade
de sua existência”. A angústia nunca anuncia o perigo, mas é provocado por
um existente determinado. Assim, o angustiado não sabe de onde lhe vem a
angústia. O que ele sabe é que ela não lhe vem de um objeto determinado. A
angústia, é pois, o seu estar-no-mundo. ”

A explanação de Heidegger confirma inclusive o processo de individuação do ser


humano que se manifesta desde o nascimento, e a cada momento de transições e mudanças
ocorridas, a angustia se posta mais visível principalmente aos olhos daquele que vive o
sentimento, pelo simples fato dela ser inerente a vida e propulsora das tomadas de decisão,
reflexão dos fatos e da vida.

É importante refletir inclusive que o peso da responsabilidade de atuar como psicólogo


é um dos temperos do atendimento, e se pensarmos que o tempero é utilizado para dar sabor,
realmente faz sentido, pois é isso que a escuta deve ser, uma recepção sinestésica de paladar,
olfato, todos os sentidos, onde o ouvir com atenção é absorção dos mais variados sentimentos,
sendo necessário sermos sinestésicos para entender inclusive que o corpo fala, assim como o
silencio também e que a angústia faz parte.

3 A FUNÇÃO DA SUPERVISÃO NA CLÍNICA-ESCOLA


A supervisão na Clínica-Escola, tem por objetivo promover o crescimento pessoal e
técnico de estagiários-terapeutas iniciantes, pois a utilização dessa ferramenta pressupõe uma
aprendizagem compartilhada na qual cada participante é promotor de seu próprio crescimento
e dos demais.
Participar da supervisão exige respeito por parte dos alunos e do professor quanto às
diferenças e crenças nos talentos que podem brotar de cada iniciante amedrontado, tímido em
seus posicionamentos e com uma confiança ainda muito singela em si mesmo. Significa
inclusive abrir o espaço para que os alunos se coloquem e também possam ensinar ao supervisor
a arte de ser paciente, de acreditar sem ver resultados imediatos e de abster-se de induzi-los a
um modelo de terapeuta já pronto, o que é uma característica que se mostra muito coerente com
a abordagem fenomenológica.
A utilização dessa abordagem na supervisão tem o intuito de transmitir ensinamentos
básicos, mas, principalmente, fazer com que cada indivíduo que ali compartilha, olhe para
dentro dele e para a relação estabelecida com seu cliente, assim como o vínculo desenvolvido
com o seu supervisor.
Na supervisão, a dinâmica em grupo tem como característica inserir o psicólogo em
formação em um mundo de relações reais e presentes onde ele pode avaliar-se, espelhar-se e se
encontrar com o outro.
Nessa dinâmica de atendimento, o supervisor transmite ao aluno, que o terapeuta se
torna a pessoa facilitadora do processo de descoberta e criação de seu cliente:
Existe em todo organismo, em qualquer nível, em fluxo subjacente de
movimento para uma realização construtora de suas potencialidades
intrínsecas. Há no homem uma tendência natural para o desenvolvimento
completo. O termo mais frequentemente usado para isso é o de tendência de
realização, que está presente em todos os organismos vivos. (Rogers, 1978, p.
17)

Todas as dinâmicas vividas em supervisão, tem o intuito de diminuir a angústia que já


faz parte do processo, pois são realizados estudos de texto, discussão dos mesmos, somada à
reflexão frente aos casos clínicos apresentados, com o objetivo de avaliação e desenvolvimento
do papel de terapeuta, e com isso o aluno é levado a refletir sobre suas habilidades, limitações,
auto-imagem, relações dentro do grupo de supervisão e ao mesmo tempo a evolução do seu
processo de crescimento pessoal.

De um ponto de vista geral, a supervisão atua na mescla entre teoria e prática,


promovendo aos psicólogos em construção, a oportunidade de partilhar com o supervisor e os
outros alunos, seus casos clínicos promotores de angústias.

4 FENOMENOLOGIA COMO FERRAMENTA

dehb

5 DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Na fase final do curso, é esperado do aluno de Psicologia que ele esteja pronto para fazer
uma avaliação realista do que conseguiu realizar, do seu potencial a desenvolver e do caminho
que ainda precisa percorrer.
Diversos são os questionamentos acerca da formação, pois a escolha da abordagem, a
angustia de não ser bom o suficiente para atuar na profissão e inclusive a relação estabelecida
entre supervisor e aluno são fatores relevantes na estruturação de um indivíduo que mesmo com
medo e ansioso, se sinta capaz, pois a relação estabelecida não possuía apenas uma direção, isto
é, no sentido do supervisor, mas sim, de todos os colegas que ali participavam das conversas,
dos compartilhamentos.
O supervisor em sim, possui um papel fundamental na formação do futuro psicólogo,
pois ele que segura na mão para a realização dos primeiros passos, por isso é de fundamental
importância que um bom vínculo seja estabelecido, assim ao mesmo tempo que a escolha da
abordagem fará sentido, a empatia com o professor também ocorrerá paralelamente.

REFERENCIAS
ALBUQUERQUE, Kelly Cristina Costa; YANO, Luciane Patrícia. Psicologia
existencial humanista-fenomenológica: o atendimento clínico.

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MORATO, H. T. P. Refletindo sobre supervisão. Psicol. cienc. prof., Brasília, v. 9, n.


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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-
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em 25 Out. 2017. http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98931989000100011.

PERES, Rodrigo Sanches; SANTOS, Manoel Antônio dos; COELHO, Heidi Miriam
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Pontifícia Universidade Católica de Campinas, v. 20, n. 3, p. 47-57, 2003. Disponível em:
<http://hdl.handle.net/11449/29057>.

ROGERS, C. R. (1978). Sobre o poder pessoal. (W.M.A. Pentedo, Trad.) São Paulo:
Martins Fontes. (Trabalho original publicado em 1977).

SANTOS, P. C. (2011). A atualidade do conceito de angústia de kierkegaard. Revista


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TAVORA, Mônica Teles. Um modelo de supervisão clínica na formação do estudante


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XIMENES, Celina Maria Aragão. Reflexões acerca da atitude psicoterapêutica em


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