Você está na página 1de 5

Racional, mas nem tanto

Quem?
Richard H. Thaler (East Orange, Nova Jérsei, 12 de setembro de 1945) [1] é
um economista que estuda economia comportamental e finanças, com
interesse especial em psicologia da tomada de decisões.[2]
Em 9 de outubro de 2017 foi distinguido com o Prémio de Ciências Económicas
em Memória de Alfred Nobel, "por suas contribuições para a economia
comportamental", unindo análises de tomadas de decisão econômica à
pressupostos da psicologia, ao explorar como as consequências da limitação
da racionalidade, de preferências sociais e da falta de autocontrole afetam as
decisões individuais, assim como o mercado financeiro.[3]
Ao lado de Cass Sunstein, Richard Thaler é um dos criadores do conceito de
"nudges".[4]

A ECONOMIA CLÁSSICA E O HOMOECONOMICUS

“Um problema importante na teoria econômica tradicional é que os


economistas descartam qualquer fator que não influenciaria o pensamento de
uma pessoa racional. Mas infelizmente para a teoria, muitos fatores
considerados irrelevantes importam. Os economistas criaram um problema
para eles mesmos ao insistir em criaturas míticas conhecidas como homo
economicus. Eu prefiro chamá-los de ´Econs` – seres altamente inteligentes
capazes de fazer os cálculos mais complexos e totalmente sem emoções.
Pense no Spock de Star Trek. Um Econ não compraria uma porção maior do
que quer que seja que ele irá jantar na terça-feira porque estava com fome no
domingo enquanto fazia as compras. A fome no domingo não deveria ser
relevante para a escolha do tamanho da sua refeição na terça-feira. Um Econ
também não continuaria comendo após estar satisfeito na terça-feira só porque
já pagou pela comida. Para um Econ, o preço pago em um item no passado
não é relevante para a decisão de quanto comer hoje. Um Econ não esperaria
ganhar um presente no dia em que, por acaso, nasceu ou se casou. Qual a
diferença de uma data arbitrária? Na realidade, os Econs ficariam perplexos
com a própria ideia de presentes, pois saberiam que dinheiro é o melhor
presente possível, já que permite que a pessoa que recebe compre o que lhe é
mais eficiente”. THALER
3 PONTOS SOBRE A TEORIA DE THALER

RACIONALIDADE LIMITADA A base da teoria de Thaler mostra que não é


razoável pressupor que, antes de cada decisão, os humanos levem em conta
todos os fatores envolvidos e as consequências de longo prazo. O economista
criou o conceito de “contabilidade mental”, que descreve como as pessoas
“organizam, formulam e avaliam” decisões financeiras, nas palavras da
Academia Sueca. Para Thaler, as pessoas tendem a simplificar os raciocínios,
dividindo os gastos em gavetas diferentes. É mais fácil, por exemplo, pensar
cada um dos muitos gastos. Analisando assim, não se têm uma boa noção do
todo e fica mais difícil avaliar as consequências daquele gasto. A teoria pode
ser usada, por exemplo, para explicar as compras em prestações — só se
pensa no valor da parcela. Ou então para mostrar por que as pessoas veem
menos problema em ter vários pequenos gastos que acabam comprometendo
o orçamento no fim do mês. A Academia dá outro exemplo de como a
racionalidade é limitada: as pessoas estão dispostas a fazer sacrifícios por um
desconto de R$ 100 em um produto que custa R$ 1.000, mas não se ele custa
R$ 10.000. O ganho econômico, nos dois casos, seria o mesmo, mas o
primeiro parece mais vantajoso para a maioria das pessoas.
O JUSTO O conceito de preço justo está atrelado ao modo como as pessoas
estão dispostas a gastar seu dinheiro, não apenas ao desejo de obter alguma
vantagem econômica. Thaler conduziu experimentos que mostram que as
pessoas estão dispostas a pagar mais para manter acordos que considerem
justos ou a punir quem quebre regras e promova a injustiça. Os preços
normalmente são afetados por oferta e demanda, mas nem sempre os
consumidores lidam bem com isso. Um vendedor de guarda-chuvas que
aumente o preço durante a tempestade tende a ser malvisto pelo comprador,
que pode querer boicotá-lo em outras situações. Outro exemplo de como o
conceito de justiça afeta as decisões está no mercado de trabalho. É mais fácil
que trabalhadores aceitem aumento de salários abaixo da inflação do que
redução no valor bruto — mesmo que a perda real seja a mesma nos dois
casos.
TENTAÇÕES DE CURTO PRAZO É difícil resistir ao canto da sereia, contava
Homero em “A Odisseia” há quase três mil anos. O dilema dos marinheiros,
que precisavam tapar os ouvidos ou, como o protagonista Ulisses, se amarrar
ao barco para não caírem na tentação é, segundo Thaler, um bom exemplo de
como as decisões de consumo são tomadas. As tentações de curto prazo
dificultam a compreensão do bem-estar futuro. O dilema existe porque há uma
tensão interna em cada um: entre o planejador, que pensa o longo prazo, e a
parte que deseja benefícios imediatos. Para driblar esse dilema conhecido há
milênios, Thaler propõe que as próprias pessoas criem regras que limitem as
ações imediatistas, eliminando gastos no curto prazo. Em outros casos, pode
ser um problema de política pública o planejamento do futuro das pessoas. Ele
concluiu, por outro lado, que as pessoas são mais propensas a correr risco no
longo prazo. Assim, querem investimentos de baixo risco no presente, mas
ficam tentadas a assumir riscos maiores quando veem a possibilidade de
ganho no futuro. Aqui acontece o inverso do canto da sereia. Lá, os ganhos no
curto prazo são mais valorizados. Mas quando se trata de possibilidade de
perda, ela é menos preocupante no futuro que no presente.
Jogo do ditador
Imagine que alguém é convidado a participar de um jogo em que escolherá se
um determinado valor, digamos, R$ 100, será dividido entre si e outra pessoa.
No entanto, será o outro que escolherá com quanto cada um ficará. E caberá à
primeira bater o martelo se o dinheiro será dividido como o segundo escolheu
ou se ninguém receberá nada. Testes mostram que, quando o segundo
escolhe ficar com 80% do valor, deixando só 20% para o outro, a primeira
pessoa decide que nenhum ficará com nada, abrindo mão de sua fatia para
punir o aproveitador. É mais um teste que confronta a teoria clássica, que diz
que as pessoas preferem sempre ganhar algum dinheiro do que não ter
nenhum dinheiro.

O Efeito Dotação

O Efeito Dotação ou Efeito de Posse (Endowment Effect) consiste em valorizar


mais um determinado bem quando ele está em sua posse do que quando não
o tem. Um exemplo seria por quanto você estaria disposto a vender o ingresso
que você comprou para o show de sua banda favorita e o quanto você estaria
disposto a pagar para comprar o mesmo ingresso, caso não o tivesse. Os
estudos empíricos mostram que o valor que você estaria disposto a pagar é
bem menor do que o valor que você aceitaria para vender o seu ingresso.

Um empurrãozinho
Nudge
Outro ponto importante da pesquisa de Richard Thaler é o chamado nudge.
Sem tradução em português, ele é definido muitas vezes como um empurrão
ou um gatilho para influenciar a decisão de um consumidor. Depois de descrito,
esse mecanismo passou a ser usado em políticas públicas.

A ideia básica é que nós tomamos decisões diferentes, dependendo da forma


como a questão é apresentada. Seu conselho, então, para que as pessoas
tomem decisões melhores é usar a inércia a favor das boas políticas públicas.
Assim, países em que as pessoas decidem se querem doar seus órgãos após
a morte têm taxa de doação muito baixa; mas países em que as pessoas
podem optar por não doar seus órgãos após a morte têm taxa de doação alta.

Um governo pode estimular a poupança se, em vez de colocar um plano de


aposentadoria à disposição dos cidadãos, os inscrever automaticamente e
deixá-los se retirar do plano, caso queiram.

Bibliografia

http://www.ufrgs.br/secom/ciencia/irracionalidade-e-comportamento-no-nobel-
de-economia/

https://www.nexojornal.com.br/expresso/2017/10/09/O-que-deu-a-Richard-
Thaler-o-Nobel-de-economia-em-2017

https://exame.abril.com.br/economia/a-irracionalidade-racional-do-nobel-
richard-thaler/

http://diariogaucho.clicrbs.com.br/rs/dia-a-dia/noticia/2017/10/6-situacoes-para-
entender-as-teorias-do-nobel-de-economia-9946105.html

Você também pode gostar